JORNAL DA ALERJ A S S E M B L E I A L E G I S L AT I VA DO E STA DO DO RIO DE JA N E IRO Ano XVI – N° 337 – Novembro de 2018
Estátua de João Cândido, o Almirante Negro, monumento em homenagem ao líder da Revolta da Chibata (1910), na Praça XV, Centro do Rio
História de luta e resistência Lei estadual cria Circuito Histórico e Arqueológico da Pequena África com 23 pontos que são parte do legado deixado no Rio pelos negros escravizados PÁGINAS 4 a 7
Thiago Lontra
Exposição fotográfica “Crônica de uma cidade amada”, do fotógrafo Luis Teixeira Mendes, está em cartaz no Salão Nobre do Palácio Tiradentes. A mostra reúne 60 fotografias da cidade do Rio. Nelas, o artista faz uma leitura do cotidiano urbano de uma maneira misteriosa e peculiar. Exposição Crônica de uma cidade amada \ Palácio Tiradentes: Rua Primeiro de Março, s/ nº- Praça XV – Centro (Acesso a cadeirantes pela Rua D. Manuel) \ Até 30 de novembro de 2019 \ De seg. a sábado, das 10h às 17h Domingos e feriados, das 12 às 17h
Redes Sociais
Alerj pelo interior S ymone Munay Cris Isidoro/Mapa de Cultura
Destino de nobres visitantes
À *As mensagens postadas nas redes sociais são publicadas sem edição de conteúdo.
Expediente
Presidente - Jorge Picciani 1º Vice-presidente - Wagner Montes 2º Vice-presidente - André Ceciliano (presidente em exercício) 3º Vice-presidente- Jânio Mendes 4º Vice-presidente - Marcus Vinícius 1º Secretário - Geraldo Pudim 2º Secretário - Samuel Malafaia 3º Secretário - Átila Nunes 4º Secretário - Pedro Augusto 1o Vogal - Carlos Macedo 2 o Vogal - Zito 3º Vogal - Renato Cozzolino 4º Vogal - Bebeto
JORNAL DA ALERJ Publicação mensal da Subdiretoria-Geral de Comunicação Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
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Jornalista responsável: Célia Abend (MTB 16811) Editor: André Coelho Coordenação: Daniela Matta e Jorge Ramos Equipe: Buanna Rosa, Camilla Pontes, Fátima Albuquerque, Gustavo Natario, Hélio Lopes, Isabela Cabral, Leon Lucius, Márcia Manga, Octacílio Barbosa, Tainah Vieira, Thiago Lontra, Symone Munay e Vanessa Schumacker Edição de Arte: Daniel Tiriba Editor de Fotografia: Rafael Wallace Secretária da Redação: Regina Torres Estagiários: Audryn Karolyne, David Barbosa, Julia Passos (foto) e Luan Damasceno Impressão: Imprensa Oficial Tiragem: 1,4 mil exemplares Telefones: (21) 2588-1404 / 1383 Rua Primeiro de Março s/nº, sala 406 Palácio Tiradentes - Centro Rio de Janeiro/RJ - CEP 20.010-090 Site: www.alerj.rj.gov.br Email: dcs@alerj.rj.gov.br Twitter: @alerj Facebook: @AssembleiaRJ Instagram: @instalerj Foto de capa: Thiago Lontra
s margens do Rio Paraíba do Sul, a cidade de São Fidélis, no Norte Fluminense, tem muito mais a revelar aos seus visitantes do que a beleza da vegetação e da fauna nativas. Seu deslumbre passa também por uma visita nobre e recorrente no passado: Dom Pedro II. Em cinco ocasiões, a comitiva de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon – imperador do Brasil de 1831 até sua deposição em 1889 – esteve na cidade. Em abril de 1847, na companhia da imperatriz Thereza Cristina Maria de Bourbon, o nobre se hospeda no solar da praça principal, hoje Museu Histórico Solar do Barão de Vila Flor. Em 1875, o imperador retorna à cidade com a mulher, o Conde d'Eu e a princesa Isabel. Pela terceira vez, em 1878, voltando de Campos dos Goytracazes onde haviam inaugurado a Usina de Barcelos, Dom Pedro II e sua mulher passam mais uma vez por São Fidélis. A quarta visita ocorre 23 de junho 1883, quando "sua majestade", de novo, se hospeda com seus familiares no solar da praça principal. Por fim, três dias depois, quando retorna de Campos, o imperador pernoita novamente no solar. No dia seguinte ele segue de carruagem para a Corte, no Rio de Janeiro.
TV Alerj
Aula de democracia Iniciativa da TV Alerj inspira estudo de constituições em escolas
Rafael Wallace
As reportagens produzidas pela equipe da televisão da Casa serão exibidas em sala de aula como material complementar
H Buanna R osa
á 194 anos, a primeira Constituição foi instituída no Brasil. De lá pra cá, esse conjunto de normas que rege o Estado já foi modificado oito vezes. Apesar da idade centenária e das diversas alterações ao longo do tempo, esta iniciativa democrática não é conhecida por muitos estudantes. Para mudar esse cenário, a Secretaria de Estado de Educação vai incluir nas aulas de História da rede pública o estudo das constituições do Brasil, desde 1824. O novo conteúdo entra em vigor no ano letivo de 2019. A iniciativa partiu da TV Alerj que exibiu em outubro uma série com sete programas sobre a história das constituições. O projeto foi criado para comemorar os 30 anos do documento aprovado em 1988. “Na fase de produção conversamos com instâncias do Executivo, incluindo o secretário de Estado de Educação, Wagner Victer, que gostou da ideia e decidiu implementar o conteúdo nas escolas. As reportagens serão exibidas em sala de aula como material complementar”, afirmou a coordenadora do projeto na TV Alerj, jornalista Iara Cruz. Um dos episódios conta os bastidores da Constituição que vigora até hoje. “Conversamos com deputados constituintes como Paulo Ramos (PDT),
e outras figuras importantes do cenário legislativo. Queríamos trazer casos curiosos e aproximar o telespectador desse documento que é a base dos direitos e deveres que vigora no nosso país”, afirmou Iara. Ela também explicou que além das aulas em classe, os alunos vão participar de rodas de conversa. As primeiras ocorreram no início de novembro nos jardins do Palácio do Catete, com o debate dos temas "Gênero x Constituição" e "Cidadania e Direitos Humanos". O plenário da Casa também recebeu uma roda de conversa sobre "Diversidades". “Vamos trazer para esse espaço, alunos, historiadores, políticos e profissionais de comunicação da Casa para discutir o tema. Essas conversas serão gravadas e veiculadas pela TV Alerj”, contou a coordenadora. Todo o material foi produzido por uma equipe de repórteres, cinegrafistas, editores artístico e gráfico e historiador. “Sem eles, esta iniciativa não seria possível. Todos se esforçaram e trabalharam durante meses para que esse produto chegasse à casa do telespectador e agora na sala de aula. O apoio do diretor da TV Alerj, Jackson Emerick, também foi importante para que a ideia saísse do papel e fosse para as telas”, concluiu Iara.
Curiosidade de cada constituição brasileira 1824 - Constituição outorgada, inspirada em ideais liberais vindos da Europa. 1891 - Constituição promulgada e a primeira da República, inspirada na constituição norte-americana de 1887, trouxe um rol de direitos individuais. 1934 - Constituição promulgada, que introduziu direitos sociais, como o direito trabalhista e o voto das mulheres. 1937 - Constituição da Ditadura do Estado Novo. Foi outorgada, fruto de um golpe de estado e ficou conhecida como "A Polaca". Concentrava o poder nas mãos do presidente e violou direitos fundamentais. 1946 - Constituição promulgada, que marcou a volta da democracia. Possibilitou o aumento no número de eleitores no país e tornou o voto obrigatório. 1967 - Constituição "semi-promulgada" na ditadura militar, com direitos individuais reprimidos. Incorporou os Atos Institucionais que fortaleceram a autoridade presidencial. 1969 - Constituição outorgada ainda na ditadura militar. Editou a Emenda nº 1 da Constituição de 1967, incorporando o AI-5. 1988 - Constituição Cidadã. Promulgada em prol da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social, do Brasil.
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Capa Foto: Julia Passos
Fundado em 1938, o Museu do Negro possui cerca de cem ítens como grilhões, estandartes e documentos históricos
Memória e reconhecimento
Leis aprovadas pelo Parlamento fluminense contribuem para a valorização e defesa dos direitos da população negra na sociedade
O Camilla Pontes
e I sabela
Cabral
mês de novembro é marcado pela comemoração do Dia da Consciência Negra, no dia 20, em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do quilombo que virou símbolo da resistência contra o regime escravagista. Em 2018, a abolição da escravatura, concretizada com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, completou 130 anos. O Rio de Janeiro foi um dos locais que mais recebeu negros escravizados: cerca de 2,5 milhões entre os séculos XVI e XVIII, trazidos para trabalharem na construção da cidade, nos engenhos de açúcar e no comércio, entre outras atividades. A história da capital fluminense 4
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se mistura com a da escravidão no Brasil. Em diversos locais é possível ver e aprender sobre o povo que ajudou a construir a cidade, como no Monumento a Zumbi dos Palmares, na Av. Presidente Vargas, e no Monumento a João Cândido, conhecido como o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, ocorrida em 1910: um motim de marinheiros, majoritariamente negros escravos recém-libertos, contra os castigos corporais aplicados por oficiais brancos da elite da Marinha. Em sua edição 333, o Jornal da Alerj já havia abordado a Lei 7.741/17 que declarou o Cais do Valongo Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do Rio. No último dia 20 de setembro,
com o objetivo de valorizar, preservar e incentivar a elaboração de políticas públicas, a Lei 8.105/18 foi sancionada criando o Circuito Histórico e Arqueológico da Pequena África com 23 pontos que são parte do legado deixado pelos negros escravizados. Veja o mapa nas páginas 6 e 7. Os autores da norma, deputados Wanderson Nogueira (PSol) e Waldeck Carneiro (PT), afirmam que a lei também prevê a ampliação do circuito para outros destinos, incluindo o interior do estado. “O texto é fruto de uma parceria com o Instituto Pretos Novos, principalmente por conta do abandono desses locais. É fundamental para trazer à tona a triste memória da história bra-
Além das heranças físicas, a diáspora africana para o Brasil também formou a cultura, através, por exemplo, da culinária, das religiões e dos idiomas. Diáspora é a dispersão de um povo em consequência de perseguição ou através do uso da força. O Iorubá, ou Yorùbá, é um idioma originário das tribos que se localizavam onde atualmente são os países da Nigéria e do Congo e é falado também em Benim, Togo e Serra Leoa. No Brasil, o Iorubá é falado pelos praticantes das religiões de matrizes africanas, como a Umbanda e o Candomblé, que, segundo o censo de 2010 do IBGE, reúnem cerca de 1,1 milhão de pessoas. No Estado do Rio de Janeiro, esse número foi estimado em 283 mil. Como forma de reconhecer a importância e preservar a língua, a Lei 8.085/18 declarou o Iorubá como Patrimônio Imaterial do Estado do Rio. O autor é o deputado Átila Nunes (MDB), que diz que o idioma preenche todos os requisitos necessários para ser reconhecido como patrimônio: é um elemento de transmissão de culsileira com relação aos povos africanos. Para lembrar, não cometer os mesmos erros do passado e saber o que de fato aconteceu. Isso não pode ficar debaixo da terra”, ressaltou Wanderson. Waldeck explica que o circuito se insere no conceito de museu de território, que são unidades representativas de uma localidade específica, podendo ser vasta e com ligações e conexões com a comunidade e outras instituições. “A lei propõe o desafio para que os museus se desenvolvam como sistemas complexos de comunicação e instrumentos de mediação, possibilitando a transformação do patrimônio em herança cultural também a céu aberto”, afirmou Waldeck. Um lugar de passado e futuro O Museu do Negro, fundado em 1938, está inserido no Circuito Histórico. Um lugar ainda pouco conhecido pelos cariocas, mas que conta com muitos visitantes estrangeiros. No total, o espaço recebe entre 300 e 400 visitantes por mês. O museu está localizado na região central da cidade, na Rua Uruguaiana, dentro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito dos Homens Pretos, fundada em 1640 por uma irmandade de
tura; referência identitária de grupos sociais existentes no país; relevante para a história e memória; referência cultural estadual e brasileira e a sua preservação será importante no combate ao preconceito e à intolerância religiosa. “A lei é importante para que seja feita uma reparação histórica, para reconhecimento cultural, preservação da identidade de um relevante grupo social, combate ao preconceito e à intolerância religiosa”, afirmou. O babalaô Ivanir dos Santos considera que a iniciativa fortalece os processos de luta antirracista e de combate à intolerância religiosa no Brasil. “Infelizmente ainda vivemos em um país preconceituoso, que estruturaliza todas as relações (políticas, sociais e culturais) com base no racismo científico. Assim, as iniciativas do Legislativo proporcionam uma maior valorização das nossas culturas e religiosidades bem como rompem com anos de silenciamento e ‘coisificação’ das nossas práticas culturais”, afirmou Ivanir que também é professor. negros alforriados e escravizados. Diretor do museu, o historiador Ricardo Passos diz que ali não é um lugar de sofrimento, como é a história da escravidão, mas sim um espaço vivo que une presente, passado e futuro. “Aqui é um museu físico e espiritual, de ancestralidade e também de contemporaneidade. Desde 2011, criamos programas para tornar a instituição itinerante, com visitas a escolas, palestras, debates e orientação bibliográfica. Os estudantes vêm até o museu e nós vamos até eles também”, contou. O acervo é composto por cerca de cem itens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como grilhões – usados para aprisionar os escravizados –, estandartes que pertenceram a abolicionistas e documentos históricos. Outras 80 peças que compõem o acervo são quadros, fotografias, móveis, objetos religiosos, além de dez mil livros, alguns raros. Em 1967, parte do acervo foi destruída durante um incêndio e a igreja e o museu ficaram dois anos fechados para obras de reconstrução, sendo reabertos em 1969. “Dom João já esteve aqui, a carta do Dia do Fico
Divulgação
Patrimônio cultural: fala sagrada
Infelizmente ainda vivemos em um país preconceituoso, que estruturaliza todas as relações com base no racismo científico. Ivanir dos Santos Babalaô
foi escrita aqui e os abolicionistas lutaram contra a escravidão aqui”, contou Passos. O historiador avalia com satisfação a nova lei, pois ela permitirá que as instituições protegidas pela norma possam arrecadar recursos para sua manutenção e revitalização. O Museu do Negro ficou fechado por dez anos – entre 2001 e 2011 – por conta de desentendimentos da antiga gestão. O acervo ficou sem manutenção, o que prejudicou a conservação de alguns itens. O local precisa de obras de revitalização, pois há salas fechadas por conta do mau estado da estrutura. “Amigos ajudam a sustentar o museu, que não tem fins lucrativos. Tenho parcerias com as secretarias de Cultura, mas elas não têm verba. Então essa lei vai nos permitir abrir portas e cofres para captarmos recursos com entidades que incentivam este setor”, explicou. Em nota, a Secretaria de Estado de Cultura afirmou que ainda não tem nenhuma ação concreta a fazer por conta da nova lei e que elaborou parecer técnico favorável ao texto, por estar de acordo com as avaliações da Superintendência de Cultura e Território. Novembro de 2018
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Capa
Circuito Histórico e Arqueológico da Pequena África
AQUARIO
Veja no mapa abaixo os 23 pontos da cidade que são parte do legado deixado pelos negros escravizados como a Rua da Alfândega, o Quilombo Pedra do Sal e a Praça dos Estivadores 1 Centro Cultural José
9 Praça dos Estivadores
18 Museu do Negro
2 Instituto de Pesquisa e
10 Jardim Suspenso do Valongo Rua Barão de Tefé, 79
19 Igreja de Nossa Senhora
Bonifácio Rua Pedro Ernesto, 80
Memória Pretos Novos Rua Pedro Ernesto, 32-34
3 Local da Revolta da Vacina Praça da Harmonia
4 Monumento em homenagem aos africanos de origem muçulmana Av. Rodrigues Alves com Rua Antônio Lage
5 Casa do Nascimento de Machado de Assis Ladeira do Livramento, 77
6 Cais do Valongo
Av. Barão de Tefé, s/n
7 Docas Dom Pedro II Av. Barão de Tefé, 71
11 Quilombo Pedra do Sal Rua Argemiro Bulcão
12 Largo São Francisco da Prainha
1
da Candelária Rua Pio X, s/n
20 Casa França-Brasil
Rua Visconde de Itaboraí, 78
21 Rua da Alfândega
13 Morro da Conceição
22 Rua da Quitanda
14 Igreja de São Jorge (São
23 Rua do Rosário
15 Igreja de Santo Elesbão e
Acesse o mapa e veja mais informaçõe sobre cada ponto http://j.mp/mapaPequenaAfrica
16 Matriz de Santa Rita
Ou aponte o leitor de QR Code de seu celular
Gonçalo Garcia) Rua da Alfândega, 382 Santa Ephigênia Rua da Alfândega, 219
Largo de Santa Rita, s/n
17 Igreja de Nossa Senhora
8 Rua Barão de São Félix
Alerj
Rua Uruguaiana, 77
Barcas -Praça XV
da Lampadosa Av. Passos, 13
Trem - Central do Brasil
Metrô
VLT
Violência contra negros ainda atormenta o Rio A violência no Brasil atinge de forma desproporcional a população negra. A taxa de homicídios de pretos e pardos em 2016 foi duas vezes maior que a de não negros – 40,2 contra 16 a cada 100 mil habitantes. No período de uma década, entre 2006 e 2016, enquanto a violência letal contra brancos, amarelos e indígenas diminuiu em 6,8%, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. Os dados são do Atlas da Violência 2018, formulado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). “Os índices de violência contra pessoas negras no país revelam o racismo estrutural da sociedade brasileira”, afirmou o advogado Marcelo Dias (foto), dirigente nacional do Movimento Negro Unificado e ex-presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ. Para Dias, é necessária uma mudança de concepções dentro das instituições. 6
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Divulgação
“Essa violência é fruto de uma visão racista de que o jovem pobre e negro é um marginal. É um racismo institucional presente principalmente nas forças de segurança do Brasil”, argumentou. No estado que registra números maiores que a média nacional, a taxa de homicídios de negros foi de 47,6%
em 2016 e a de não negros, 20,5%. Mas o racismo não se manifesta apenas na violência física, ele pode também ser verbal, psicológico e moral. Segundo o jurista, a legislação precisa de alterações para endurecer as penalidades daqueles que cometem crimes do tipo. “Xingar uma pessoa de macaca não é uma injúria racial. É racismo. Tem que ser um crime inafiançável e o dano moral agravado. Não adianta a pessoa pagar uma fiança pequena e continuar em liberdade”, defendeu. O advogado relembrou alguns casos atendidos pela Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ, como o de um fotógrafo preso por policiais militares que duvidaram que sua câmera pertencia a ele. “Nós interviemos e conseguimos provar que os PMs tinham cometido abuso racista”, disse. Em outra situação, um cartório se recusou a registrar uma criança negra filha de um africano
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MUSEU DO AMANHÃ
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NO BRASIL (a cada 100 mil habitantes)
40,2 assassinatos de negros
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assassinatos de não negros
com uma brasileira com seu nome de origem africana. Além disso, Dias ressalta o papel da educação: “É a principal linha de combate. Precisamos mostrar que este é um país multirracial e pluriétnico que deve cultivar uma cultura de valorização da diversidade”, argumentou. As mulheres negras são um grupo ainda mais vulnerável. Elas foram vítimas de homicídio com 71% mais frequência que mulheres brancas, amarelas e indígenas, entre 2006 e 2016. Com esse cenário em vista, foi aprovada na Alerj a criação do Dia Marielle Franco Contra o Genocídio da Mulher Negra. A data homenageia a vereadora do Rio assassinada em março. “Sabemos que
NO RIO (a cada 100 mil habitantes)
47,6 assassinatos de negros
muitas mulheres negras são mortas, não conseguem receber atendimento em hospitais e têm dificuldades na hora do parto. O Estado precisa ter uma visão especial. Marielle era uma mulher negra que sempre lutou pelo segmento”, afirmou a autora da Lei 8.054/18, deputada Enfermeira Rejane (PCdoB). A desigualdade racial também se manifesta na intolerância religiosa. Praticantes de religiões de matriz africana frequentemente são alvos de ataques. Para Dias, trata-se de racismo religioso. Em setembro, foi aprovado na Alerj e sancionado pelo governo o Estatuto da Liberdade Religiosa (Lei 8.113/18), que estabelece medidas para combater discriminações e desigualdades reli-
20,5
assassinatos de não negros
giosas. Segundo a norma, todo cidadão tem direito de seguir qualquer religião e manifestar seus credos e doutrinas, inclusive nenhuma, por todos os meios legais - exceto quando violar os direitos humanos. Já o poder público estadual é laico e não pode demonstrar preferência ou afinidade por qualquer religião. O deputado Átila Nunes (MDB), autor da lei, afirma que ela promove o debate e a busca de soluções. “O respeito entre as diversas crenças deve ser o objetivo maior daqueles que defendem a verdadeira democracia, onde o respeito às diferenças religiosas seja cumprido pela sociedade, mantendo-se o Estado laico para resolver de forma imparcial todas as questões”, avaliou. Novembro de 2018
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O maior inimigo da natureza
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Octacílio Barbosa
Meio Ambiente
Leis aprovadas na Alerj têm como objetivo reduzir o consumo de plástico, material que representa cerca de 90% de todo o lixo que polui os mares
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Audryn K arolyne
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Luan Dasmaceno
acolas. Canudos. Produtos de beleza. Apesar de divergirem completamente no que diz respeito ao seu uso, todos têm em comum a mesma matéria-prima: o plástico. De acordo com os últimos dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de oito milhões de toneladas de lixo plástico chegam aos oceanos todo ano. Aproximadamente, 90% de todo o lixo flutuando no mar é plástico e, até 2050, os oceanos terão mais desses acúmulos que peixes e 99% das aves marinhas terão ingerido o material. No Brasil, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, cerca de 80% desse material acaba em aterros e lixões, não sendo reaproveitado e levando décadas para se decompor. Com o objetivo de superar esse obstáculo que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou as leis 8.090/18 e 8.006/18, do deputado Carlos Minc (PSB), ambas visando reduzir o consumo do plástico de forma nociva, através da abolição, respectivamente, das microesferas de plástico (usadas em cosméticos, pastas de dente e, até mesmo, em garrafas de água) e sacolas plásticas distribuídas em mercados. Além disso, também tramita na Casa o projeto de lei 4.200/18, do parlamentar Marcus Vinicius (PTB). Semelhante à lei da cidade do Rio de Janeiro, o texto do projeto determina a proibição de canudos e copos que não sejam feitos de material biodegradável, em qualquer estabelecimento comercial. Mas essa já é uma luta que vem de muito antes do ano de 2018. Fundado em 1986, mesmo ano em que surge a Fundação SOS Mata Atlântica, nasce o Instituto Onda Azul, organização voltada, entre muitos aspectos, para a educação ambiental. De acordo com André Esteves, secretário executivo da ONG, as leis encorajam o cidadão comum
André Esteves, do Instituto Onda Azul, aposta na Educação Ambiental a buscar conhecimento e adequação sobre pautas que são uma preocupação global, trazendo essas questões para o cotidiano. Em suas palavras: “pensar globalmente, agir localmente”. Com o intuito de reduzir a poluição e os impactos ao meio ambiente, além de influenciar a futura geração a estar atenta à causa, a ONG promove oficinas como a Ecomoda e o Funkverde que ensina, respectivamente, a produção de roupas e instrumentos com materiais recicláveis. Para André, esse tipo de trabalho é de extrema importância para estimular o cidadão a se perguntar: “O que posso fazer? Como agir localmente?”. Nesse sentido, o instituto se dedica à defesa do meio ambiente estimulando o desenvolvimento sustentável por meio de ações de Educação Ambiental que, segundo Esteves, “é o nosso DNA”. Para eles, leis como essas que foram propostas pelos deputados da Casa são muito importantes para o ambiente, mas desde que não estejam dissociadas de uma consciência coletiva. A instituição também é responsável pelo projeto “Mangue Vivo”, que restaurou o manguezal da cidade de Magé, afetado pelo vazamento de óleo na Baía de Guanabara em 2000. De acordo com Esteves, ao entrar nos manguezais, os responsáveis pela restauração da área encontraram não apenas os resíduos de óleo, mas também muito plástico proveniente de um descarte mal realizado. “A relação do Onda Azul com o plástico é de acompanhamento”, explicou. “No caso do Projeto do Mangue, como ele é descartado e como chega, para reduzir e reciclar o que lá é encontrado”, disse, esclarecendo que não basta apenas restaurar se não houver um trabalho de educação da população para que esse tipo de descarte não volte a acontecer.
Divulgação
Julia Passos
Mangues recebem grande quantidade de plástico descartado
Existem cerca de 51 trilhões de partículas de plástico nos oceanos Apesar destas iniciativas da Alerj visarem a sustentabilidade, elas tratam de tipos de plásticos diferentes que causam danos em diferentes graus ao meio ambiente. No caso das microesferas plásticas, que são utilizadas na indústria de cosméticos, sob a forma de micropartículas na composição, por exemplo, de cremes e pastas de dente, seu impacto é inversamente proporcional ao seu tamanho. No ano passado, um relatório apresentado durante a Cúpula Global dos Oceanos da revista The Economist, em Bali, apontou que cerca de 51 trilhões dessas partículas estejam flutuando nos oceanos ameaçando a vida marítima. O número é 500 vezes maior do que as estrelas em nossa galáxia. De acordo com o pesquisador do Instituto de Macromoléculas e do Núcleo de Excelência em Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Thiago Santiago, elas são as que mais preocupam. O material, classificado como uma espécie de microplástico, é difícil de ser detectado e pode ser confundido pelos animais com alimentos, de forma a causar grande impacto na cadeia alimentar. “Além disso, ao comer o peixe que já tenha engolido essas microesferas plásticas, aturalmente os seres humanos acabam ingerindo também”, explicou Thiago. As microesferas podem, até mesmo, matar os animais marinhos. “Os peixes, as tartarugas
e os golfinhos não conseguem distingui-las do plâncton e, com isso, se entopem, se asfixiam e morrem”, justificou Carlos Minc, autor da proposta. O deputado ainda considera que a iniciativa do Estado do Rio significa um avanço enorme para o Brasil. “O Rio vai dar o exemplo e, seguramente, outros estados, que já me pediram a lei, inclusive, vão acompanhar”, garantiu. Segundo o parlamentar Marcus Vinícius, o plástico dos canudinhos pode ter o mesmo destino que o das microesferas. Assim como Minc, ele acredita que seja importante o Rio de Janeiro dar o exemplo. “Nossa expectativa é que possamos mobilizar também os outros estados do Brasil”, justificou. Já o problema das sacolas plásticas é o contrário. As de maior tamanho podem fazer com que os animais engasguem e morram asfixiados ao confundi-las com alimentos. Além disso, Thiago explica que sua espessura fina pode fazer com que ela também se torne um microplástico. “Há forte tendência que esse material acabe se tornando também um microplástico no processo de fragmentação dessa sacola”, disse. No entanto, Minc ressalta que sua lei proíbe justamente esse tipo de plástico. “Não estamos proibindo sacolas plásticas, mas as que são descartáveis, aquelas fininhas e ruins, que entopem o meio ambiente”, afirmou.
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Educação
Qual é a su Lei estadual estimula que escolas públicas orientem os alunos com palestras e outras ações para ajudar na escolha das profissões
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Camilla Pontes
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David Barbosa
edicina, Jornalismo ou Matemática? Como uma pessoa escolhe tão cedo uma profissão que vai exercer ao longo da vida? A adolescência é fase de questionamentos e indecisões. Entre tantas dúvidas, a que mais costuma assombrar os jovens que estão no Ensino Médio é sobre qual carreira seguir após a escola. Pensando em prestar auxílio nesse momento de incerteza da vida dos alunos da rede pública, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou a Lei 8.106/18, que determina a realização de atividades de orientação vocacional nas instituições de ensino. De autoria do deputado Benedito Alves (PRB), o texto determina que as escolas realizem ações como palestras, exposições e debates com profissionais das áreas. O objetivo é informar e esclarecer 10
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o jovem sobre diferentes carreiras. “A realização dessas atividades será de extrema importância, pois evitará que o aluno ingresse em um curso superior e posteriormente desista por entender que a profissão não era o que ele esperava. Os jovens se deparam com uma variedade de profissões no mercado de trabalho, mas não possuem informações e conhecimento suficientes para decidir por um caminho profissional, em que encontrem realização pessoal, financeira e social”, explicou o autor. No Ciep 390 (Chão de Estrelas), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a iniciativa foi recebida com comemoração. A instituição já possui projetos de esclarecimento sobre carreiras com os estudantes, como o Ciclo de Orientação Vocacional, que foi realizado em outubro e reuniu ex-alunos e docentes para conversar com as turmas do Ensino Médio
sobre seu futuro profissional. “O evento foi pensado principalmente por conta da dificuldade que esses jovens têm de acesso à informação sobre carreiras e vocações. Eu mesma não tive orientação vocacional quando estava na escola, então sei como é importante eles receberem um aconselhamento de quem já está no mercado ou na universidade”, contou a professora de Português Fátima Gomes, 48 anos, uma das idealizadoras do projeto. Dividida entre cursar Psicologia ou Enfermagem, a aluna do 2º ano do Ensino Médio, Maria Júlia Oliveira, de 18 anos, conta que recorreu a testes de aptidão on-line para tentar se decidir. “Já pensei em várias carreiras, mas cuidar de pessoas é o que mais me atrai. Fiz um teste gratuito na internet e o resultado apontou essa área mesmo. Estou mais inclinada para a Psicologia, mas ainda não tenho certeza”, relatou.
Foto: Octacílio Barbosa
Escolas devem fazer palestras, exposições e debates com profissionais de diferentes áreas de atuação
ua vocação? Embora possam auxiliar os estudantes em dúvida, os testes on-line não têm a mesma credibilidade da orientação presencial, como explica a psicóloga Margarida Abreu: “O questionário disponível na internet não é 100% confiável. No consultório, o profissional utiliza técnicas próprias a partir de informações a respeito da carreira e das dúvidas e conflitos que o jovem tenha a respeito do seu futuro”. Para Margarida, a cobrança social e familiar é a principal causa da incerteza dos alunos do Ensino Médio na hora de decidir qual caminho seguir. “A família e a sociedade querem que eles escolham ‘certo’ de primeira e que sigam uma carreira que lhes dê retorno financeiro. Isso confunde a cabeça dos adolescentes e eles podem acabar fazendo escolhas infelizes”, afirmou. Instituições já atuam O Centro Integrado Empresa-Escola (CIEE) realiza há mais de 20 anos encontros com estudantes com idade a partir de 14 anos sobre orientação vocacional. O evento é gratuito e compreende inventários de habilidades e interesses feitos pelos jovens, atividades para promover a reflexão e o autoconhecimento, além
de trazer dados sobre o mercado de trabalho. Por meio de sua assessoria, o CIEE informou que, ao término do processo, o material produzido pelo jovem é avaliado e ele recebe um feedback individual. “Geralmente as avaliações são positivas. As pessoas saem felizes, menos angustiadas, mais seguras sobre as escolhas e com um norte para as decisões”, disse. Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) afirmou que suas unidades já realizam atividades destinadas à orientação profissional junto aos alunos do Ensino Médio, por meio de palestras, feiras e visitas às universidades conforme o planejamento pedagógico de cada escola. A rede estadual de ensino também oferece educação profissional de modo integrado e articulado aos jovens, por meio de parcerias público-privadas. Para a professora de Ciências Mariane Rodrigues, as ações são fundamentais para garantir que alunos de baixa renda, em especial, não desistam dos estudos após o Ensino Médio. “É difícil eles terem um apoio em casa nessa parte profissional, porque muitas vezes a única realidade que eles têm é trabalhar
para se manter”, comentou. “Ver outras pessoas como eles, que começaram na escola pública, conquistando espaço nas universidades e no mercado de trabalho pode ser um incentivo para eles não desistirem.” O estudante de Publicidade da Universidade Federal Fluminense (UFF), Leonardo Almeida, de 19 anos, conta que fez por duas vezes o teste vocacional, ao entrar no Ensino Médio e quando estava no último ano. “Minhas opções iniciais eram Medicina e Teatro. Nada a ver uma com a outra, mas eram as duas carreiras que eu pensava”, lembrou. Leonardo conta que respondeu a um questionário com perguntas variadas e conversou com o profissional responsável pelo teste. “O resultado foi dado pelo sistema, indicando a porcentagem de afinidade com algumas áreas”, explicou. O futuro publicitário se diz satisfeito com a resposta que teve e com o curso escolhido: já faz estágio na área e se sente realizado ao ver seus trabalhos tendo visibilidade. “O curso de Publicidade é incrível e superou todas as minhas expectativas. Estou muito realizado em ver trabalhos meus sendo veiculados, é realmente muito gratificante.” Novembro de 2018
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Medalha Tiradentes
TRADIÇÃO DE RAIZ Academia Brasileira de Literatura de Cordel recebe comenda Octacílio Barbosa
Comenda é reconhecimento da importância do trabalho de resgate e de manutenção desta manifestação cultural
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Fátima A lbuquerque
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Vanessa S chumacker
eclamo aqui meu cordel de raiz peninsular/ não farei um escarcéu se alguém quiser discordar/ certo é que muitos sinais vieram tempos atrás/ podemos verificar/ já nos Salmos de Davi/ na Comédia de Dante/ em Shakespeare eu li/ Camões que a gente cante/ e aqui para darmos uns salves/ Rogacianos/ Castro Alves/ Gonçalves Dias/ bastante", recitou o compositor e cantor Moraes Moreira pouco antes da cerimônia de entrega da Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pelo Legislativo fluminense, à Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) no último dia 07 de novembro, na Sala Cecília Meireles. A comenda foi entregue pelo autor da proposta, o presidente em exercício da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, deputado André Ceciliano (PT), ao presidente da ABLC, Gonçalo Ferreira, cordelista e fundador da instituição que celebra 30 anos de fundação. “O cordel é uma das mais importantes manifestações da inteligência artística brasileira”, afirmou Gonçalo. Diretor cultural da associação, Moraes Moreira destacou a influência do gênero na sua obra. “O meu universo poético e musical se abriu com o cordel”, afirmou. André Ceciliano disse que a medalha é o reconhecimento da importância do trabalho de resgate e de manutenção desta manifestação cultural feito pela academia. "É um pedaço da cultura nordestina no nosso estado. O Rio é formado por
muitos nordestinos que fugiram da seca e tentaram a vida aqui, especialmente na Baixada Fluminense. A conservação desta cultura é fundamental", afirmou o deputado, lembrando que a homenagem à ABLC teve aprovação unânime na Alerj.“O cordel tem uma história fantástica, remonta ao Renascimento, e chega aqui com os portugueses. Para quem gosta de música, que vive cultura e literatura, a entrega deste prêmio é um momento especial. É um privilégio para nós”, afirmou. A Medalha Tiradentes vem somar-se a outras iniciativas que consagram o reconhecimento do gênero. O cordel foi declarado pelo Iphan como Patrimônio Imaterial Brasileiro e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Portugal, incluiu no currículo o estudo sobre a manifestação. De tradição oral, o cordel aborda de forma bem-humorada, por meio de rimas e métricas de improviso em linguagem popular sobre temas do cotidiano. O nome cordel tem origem na forma como os folhetos eram vendidos, pendurados em cordões ou barbantes. Outra peculiaridade são as capas com xilogravuras. Com sede no Rio, em Santa Teresa, a ABLC reúne 40 expoentes deste gênero. Como na Academia Brasileira de Letras (ABL), as cadeiras têm patronos cordelistas, considerados imortais. Para ingressar é necessário que o lugar esteja vago por morte ou desistência. A instituição tem mais de 13 mil títulos e conta ainda com 27 cordeltecas, bibliotecas de literatura de cordel, com acervo disponível ao público em várias cidades.