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Colheita inovadora na Serra fluminense

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FOTOCRÔNICA

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TEXTO EDUARDO SCHMALTER FOTO OCTACÍLIO BARBOSA

Quase escondida em Pedro do Rio, no limite entre Petrópolis e Paraíba do Sul, a Vinícola Inconfidência cultiva 22 mil parreiras de uvas europeias tintas e brancas. Depois de dez anos de investimento em pesquisa e aprimoramento do cultivo e elaboração, em 2019 passou a comercializar as primeiras garrafas. Iniciativas pioneiras como esta estão no radar do Fórum da Alerj de Desenvolvimento do Rio , que leva o apoio do Parlamento fluminense a ações de empreendedorismo e inovação na economia.

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No início de junho, o Fórum promoveu um encontro entre integrantes da Federação das Indústrias do Estado (Firjan), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ministério da Agricultura, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Pesagro-Rio), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater-RJ) com produtores de uvas viníferas. A secretária-geral do Fórum, Geiza Rocha, explica que a ideia é estreitar as relações entre produtores e esferas reguladoras, técnicos e gestores públicos para identificar o potencial e os desafios desta atividade.

“A exemplo do sucesso na produção de lúpulo para cerveja, os produtores de uva e vinho do estado começam a trilhar um caminho promissor e queremos acompanhar. A ideia é aproximar esses temas do Parlamento, que pode atuar criando leis que incentivem esta cadeia produtiva que inclui o turismo rural”, conta.

Embora a produção da Inconfidência ainda seja restrita, o cultivo de uvas viníferas vem crescendo no Rio de Janeiro, que é o segundo maior mercado consumidor da bebida no país. Atualmente, há 22 propriedades cultivando e colhendo mais de 70 mil toneladas da fruta ao ano. Segundo a Secretaria de Estado de Agricultura, são 34 hectares plantados, equivalente a 38 campos de futebol. Em 2016, eram apenas sete hectares, o que indica que o plantio praticamente dobrou a cada ano.

O desenvolvimento de um projeto embrionário envolve expectativas, frustrações, dedicação e o desejo de crescimento. Mas o poder público também tem a sua contribuição a dar, como explica o proprietário da Vinícola Inconfidência, Daniel Aranha. ANDRÉ Gonçalves é o agônomo responsável técnico pela Vinícola Inconfidência

Vinícola inicia produção no estado do Rio, onde há 22 propriedades cultivando uvas viníferas. Fórum da Alerj apoia agricultores no diálogo com o poder público

DANIEL Aranha, da Vinícola Inconfidência, celebra boa aceitação dos vinhos

“Para implantar um vinhedo é importante saber de adubação, correção do solo e nutrientes necessários. Essa análise precisa ter uma resposta rápida. Hoje nós fazemos esses estudos fora do Rio de Janeiro, em estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Precisamos de laboratórios mais próximos, dentro do nosso estado”, sugere.

Há desafios estruturais na produção, mas existe também um grande potencial a ser explorado. Segundo Rogério Dardeau, escritor e professor da Associação Brasileira de Sommeliers no estado (ABS-Rio), o Rio de Janeiro é o segundo estado que mais consome vinho no país. Aproximadamente 80% do que consumimos é importado. O estado que mais se destaca na produção é o Rio Grande do Sul e a pandemia abriu mais espaço para os rótulos nacionais, favorecendo a atividade.

“O consumo de vinho aumentou. Soma-se a isso a alta do dólar, que estimula a produção nacional. Com as restrições, os produtores vêm se lançando corajosamente no e-commerce”, explica o especialista.

Em Areal, município da Região Serrana do estado que abriga duas vinícolas, o prefeito Gutinho Fernandes vê potencial turístico.

“Temos um movimento de vanguarda sendo criado aqui, com novos mercados surgindo para escoar essa produção, além das grandes possibilidades para o turismo”, comenta.

O professor e pesquisador Maurício Arouca, da Fazenda Boa Vista, localizada no município, explica que o investimento exige planejamento. “A uva pode ser um catalisador para desenvolver um projeto regional sustentável. Acredito que o ideal é ter 70% da produção voltada para a uva de mesa, para produzir suco. Os outros 30% podem ser voltados ao vinho. É mais seguro para o pequeno agricultor, pois a uva vinífera é muito delicada, traz um risco muito grande. É preciso apostar primeiro na produção do vinhedo, antes do vinho, embora seja grande a vontade de produzir vinho logo”, orienta.

VINHO COM QUALIDADE RECONHECIDA A safra de 2019 da vinícola Inconfidência recebeu o selo “grand gold”, segunda maior premiação do concurso “Wines of Brazil Awards 2020”, na variedade de uva syrah, um vinho tinto. Já o vinho branco da uva sauvignon blanc recebeu a quarta maior premiação.

A vinícola tem seis hectares de uva plantados, com 23 mil pés de videira e nove diferentes variedades de uva. A expectativa é plantar mais 15 mil pés e, a longo prazo, alavancar a região como polo produtor.

“Começamos em 2010, temos uma curta história. Saber que nosso produto foi avaliado por especialistas, às cegas, e teve um ótimo resultado, diante de tantos produtos de qualidade, é um grande estímulo", diz. LÚPULO DO RIO FAZ SUCESSO Assim como o vinho, o lúpulo, matéria-prima para a fabricação de cervejas artesanais, não é tradicionalmente cultivado no Rio de Janeiro, e nem se imaginava ser possível fazer colheitas com qualidade, por conta de questões climáticas. Mas, a força de vontade dos produtores, aliada à tecnologia e à inovação, fizeram do lúpulo fluminense um caso de sucesso.

A produtora Tereza Yoshiko, do viveiro Ninkasi, em Petrópolis, foi pioneira no ramo. Apesar de ainda ser novidade no estado, os resultados já mostram que é possível colher um lúpulo de qualidade, que chega fresco às cervejarias do Rio de Janeiro. No viveiro são produzidas 30 espécies, que despertam interesse internacional. No evento Mondial de La Bière, realizado no Canadá, 60 produtores de cerveja se inscreveram para testar o lúpulo fluminense.

Hoje, o estado possui 62 cervejarias registradas no Ministério da Agricultura, e 20 mil mudas de lúpulo plantadas. O Brasil possui uma produção anual de aproximadamente 14 bilhões de litros de cerveja, e se destaca como o terceiro maior produtor da bebida no mundo, sendo o lúpulo um dos seus ingredientes básicos, e o mais caro utilizado nessa produção. Atualmente, o país importa cerca de quatro mil toneladas por ano.

Recentemente, a Alerj aprovou a Lei 8.580/19, de autoria do deputado Luiz Paulo (Cidadania), que declarou Teresópolis a Capital do Lúpulo e do Cervejeiro Artesanal. Já a Lei 7.954/18 criou o Polo Cervejeiro Artesanal da Região do município de Nova Friburgo, abrangendo municípios vizinhos, como Duas Barras, Bom Jardim e São Sebastião do Alto.

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