NĂšMERO
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abril o de 2018
Era uma vez...
Editorial
Nesta nossa edição de Primavera apresentamos, na primeira página, uma das muitas leituras que foram sendo feitas pela turma de Artes de 10º ano, da conhecida história do Capuchinho Vermelho. É esse o fio condutor de grande parte das ilustrações que integram este número. Trata -se de um conjunto de produções artísticas que podem encontrar-se pela escola ao longo das últimas semanas. Aliás, o aparecimento das “figurações”, se assim se pode chamar-lhes, do capuchinho e do lobo mau veio solucionar um mistério que durava já há pelo menos uma semana: estava uma mesa posta perto da entrada dos alunos, que não se entendia bem para que serviria. Só uma semana depois, apareceu, ao primeiro tempo de segunda-feira, a representação das personagens do conto. Acompanham, ainda, esta edição, alguns trabalhos ainda expostos na escola no contexto da ilustração, pela turma de Artes de 12º ano, do poema “Ah, um soneto”, de Álvaro de Campos. Lembramos, também, Saramago, em dois trabalhos que comentam o discurso do escritor. Um dos nossos poetas publica dois textos, “Engano” e “Mãos”. Noticiamos, pela voz de alunos de 7º ano, a participação de um encarregado de educação numa aula de Francês. O mesmo encarregado de educação partilhou connosco uma reflexão sobre a escola e o projeto educativo com que termina este número. Aproveitamos para voltar a lembrar a comunidade educativa de que este nosso Jornalsemnome existe para dar voz a todos. Esperamos, por isso, a sua participação.
Colaboradores Ana Santos João Barbeiro Marília Bação Nuno Santos Ricardo B. Rui Ermitão 10º ano —Artes Visuais 12º ano—Artes Visuais 7ºE
Equipa responsável Alexandra Cabral Miguel Teixeira Paula Barros
Coordenação
Logotipos André e Joana
Alexandra Cabral
jornalsemnome@gmail.com
Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos da Escola Secundária du Bocage http://apesbocage.blogspot.pt/ https://sites.google.com/site/apesbocage/ Novo email da associação 2
poesia
Engano... Da minha fenda ocular nasce um olhar coberto de azul salgado, onde gaivotas Gritam Por Socorro!... E naufragam... Descendo lentamente com a maré, percorrem meu tato facial, E, no fundo, apenas amargura é o sabor da água... Afinal o sal é um Engano...
Ricardo B.
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Poesia
Mãos Eu ando sobre O abismo profundo. E Esta brisa É Quem me sustenta, É Quem me conforta. A sua base tem feridas cristãs, mas ainda assim me elevo: O seu muro é ultrapassado. E tudo graças à Tua Brisa Que eu atento respiro. Não me deixes cair em Tentação! Eu preciso de subir... Ricardo B.
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Lembrando Saramago
O DISCURSO DE JOSÉ SARAMAGO
Dia 7 de dezembro de 1998, José Saramago, ao ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, pronuncia um discurso que estaria destinado a causar alguma polémica. Neste, o autor passa em revista a sua vida e a sua obra, contrariando o foco da maioria dos discursos do género, isto é, as inspirações literárias do respetivo autor. Saramago inicia o seu discurso com uma dedicatória aos seus avós maternos, Jerónimo e Josefa, que, em Azinhaga, lhe proporcionaram tantas vivências e memórias que serviriam de combustível para as suas futuras narrativas. A sua inspiração nasceu ali, debaixo da figueira, tendo ao lado o avô Jerónimo, que “era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras.” Foi assim que tudo começou, numa tentativa de “transformar as pessoas comuns que eles haviam sido em personagens literárias”, preservando assim as recordações que deles tinha, traçou, sem o perceber, o caminho por onde as personagens que viesse a inventar, as efetivamente literárias, iriam fabricar e trazer-lhe os materiais e as ferramentas que, finalmente, acabariam por fazer de si a pessoa em que hoje se reconhece: criador, assim como aprendiz daqueles a que chama os seus “mestres da vida”, estas personagens às quais faz referência à medida que vai citando os seus vários romances, cronologicamente e interligando-os entre si, como se cada um fosse consequência do anterior. O que José Saramago homenageia é, nada mais nada menos do que a verdadeira fonte da criação literária de qualquer escritor. Não as histórias de outros, os livros ou as palavras de outros, mas as suas próprias histórias, os seus livros e palavras, fazendo entender que a verdadeira génese de um escritor está no seu passado, nas suas memórias e raízes e que este se vai construindo e evoluindo em conjunto com as suas próprias criações. Um discurso agradável que envolve tanto quem o ouve como quem o lê e que faz acreditar que qualquer um, literato ou não, pode ser um grande contador de histórias, o esperado no nobel português.
Ana Santos
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Relembrando Saramago
O DISCURSO DE JOSÉ SARAMAGO
No ano de 1998, dia 7 de fevereiro, José Saramago recebeu o prémio Nobel da Literatura. Saramago discursou e marcou a diferença em relação a todos os escritores eleitos anteriormente. O autor no seu longo discurso começou por apresentar a sua humilde história de infância. Deixou-nos a sua marca ao contar a história do seu avô Jerónimo Melrinho e da sua avó Josefa Caixinha, ambas pessoas que não sabiam ler nem escrever. Saramago tem uma adoração especial pelo seu avô. Ele ia com o pequeno futuro escritor para debaixo da figueira onde lhe contava histórias até este adormecer. Mesmo para quem não é admirador da obra de Saramago é impossível ficar indiferente à sua história de vida e à importância que dá as suas raízes humildes. Após contar a sua história de vida, o autor fala-nos dos seus livros, das personagens que criou e de toda a história que as envolvem. Desta forma, incentiva todos os que ainda não conhecem a sua obra literária a lê-la. Durante o seu discurso, não podemos deixar de reparar que Saramago se refere a si próprio como um jovem “aprendiz” pois todas as personagens literárias que criou ensinaram-lhe algo importante para a sua carreira literária. Como ele era uma pessoa modesta, as personagens que criava nos seus romances eram, então, os seus grandes mestres uma vez que considerava que nunca teria todo o conhecimento em seu poder. Apesar do seu discurso ser longo o autor conseguiu retratar a sua vida e a história das obras mais importantes de forma cativante. Por fim, durante o seu discurso entendemos que Saramago era uma pessoa fora de série por ter começado tarde a sua carreira literária cheia de altos e baixos e ter obtido um dos maiores prémios da literatura.
João Barbeiro
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Escola e comunidade
VISITE DU PRÉSIDENT DIRECTEUR GÉNÉRAL DE Gfi Portugal
Le 27 février 2018, la classe 7º E a reçu la visite du Président Directeur Général
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(PDG) de l’entreprise Gfi Portugal. L’entreprise Gfi est une entreprise de services informatiques française qui emploie plus de 600 personnes au Portugal. Son PDG au Portugal, monsieur Nuno Santos, fait partie du Conseil Général (Conselho Geral) de notre école et est aussi le père d’un élève de la classe, Miguel Santos. Sa présentation a été faite en français et en portugais. Il a démontré l’importance d’être un bon élève pour entrer dans de bonnes universités et avoir de bonnes opportunités de travail et, par conséquent, de bonnes conditions de vie. Il a insisté sur l’importance des études et l’apprentissage de toutes les matières pour la vie future. Monsieur Nuno Santos a aussi démontré l’importance du français dans l’économie portugaise parce que la France est le deuxième investisseur au Portugal. Il a parlé de l’importance du Président de la République Française, monsieur Emmanuel Macron, dans le contexte politique actuel. Nous avons attentivement écouté monsieur Nuno Santos mais nous n’avons pas tout compris de ce qui a été dit en français parce que c’était notre première exposition directe et « authentique » en français. En résumé : étudier est fondamental et toutes les matières sont importantes parce qu’un jour elles nous seront utiles. 1
Président Directeur Général (PDG) signifie "CEO" ou, en portugais " Diretor Geral"
7ºE
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A escola
“Let us think of education as the means of developing our greatest abilities, because in each of us there is a private hope and dream which, fuilfilled, can be translated into benefit for everyone and greater strength of the nation.” John F. Kennedy O projeto, a identidade da Escola Secundária du Bocage é, parece-me, a de um saber integrado, que mobiliza todos – alunos, famílias e comunidade – para uma formação que vai para além da transferência de saberes formais, curriculares, necessários para o cumprimento das metas oficiais dos vários níveis de ensino. Neste “para além” estão as artes e o desporto, honrando bem as práticas das melhores escolas no que diz respeito á relevância destas componentes para o tal saber integrado, completo. E se concordamos que as artes e o desporto são dimensões essenciais da formação, devemos perguntar-nos regularmente se, enquanto escola, o que fazemos, fazemos bem a respeito desta articulação? De facto, sabemos da existência do ensino articulado da música com o Conservatório Regional de Setúbal e com a Academia Luísa Todi. Sabemos também da proximidade da escola ao Vitória Futebol Clube e da forte atividade do desporto escolar. Mas provavelmente podemos fazer mais, ainda mais. A respiração destas frentes e a convocação de outras que apontem no mesmo sentido é fundamental para uma experiência escolar completa, única, irrepetível para todos os que a vivem connosco, aqui na Bocage. Será também isto viver a autenticidade e condição diferente do projeto educativo desta escola. Vivemos num tempo em que o debate e a colaboração são, por um lado, mais fáceis e, por outro, mais necessários. Não abdiquemos de o fazer, para que sintamos que a educação que aqui se oferece seria certamente uma referência para a reflexão de Kennedy. Nuno Santos
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