ANDREA LEVY - Psicóloga
Desde os primórdios da humanidade, o corpo era visto como um atributo necessário à sobrevivência.
O homem primitivo precisava de uma intensa participação corporal, essencialmente pelo predomínio da linguagem gestual como principal meio de expressão.
O povo grego instituiu as competições esportivas como meio da celebração das qualidades corporais.
A presença corporal doutrinava o exercício do poder: o êxito nos torneios esportivos exercia enorme fascínio social e o vencedor era reconhecido como um elemento superior daquela sociedade.
A moral cristã tolhia qualquer tipo de prática corporal que visasse o culto do corpo. A concepção dualística (corpo e alma) foi retomada e reacendeu a visão do corpo corrupto e pecaminoso, considerada empecilho ao desenvolvimento da alma. Nas artes plásticas ficava evidente a projeção do “corpo coberto”.
No Renascimento as ações humanas passaram a ser guiadas pelo método científico. O corpo, agora sob um olhar “cientificista”, serviu de objeto de estudos e experiências. A disciplina e o controle corporais eram preceitos básicos. A arte renascentista celebrou abertamente o corpo e a beleza física. A mulher, antes ligada ao pecado, reapareceu, seminua e deslumbrante, em obras como O Nascimento de Vênus, tela de Sandro Boticelli pintada em 1485.
Na lógica de produção capitalista o corpo mostrouse tanto oprimido, quanto manipulável. Era percebido como uma “máquina” de acúmulo de capital. Os movimentos corporais passaram a ser regidos por uma nova forma de poder: o poder disciplinar.
Corpos adequados
e dentro dos padrões da época = VENCEDORES.
Esta percepção do próprio corpo sofre a influência de
três fatores que juntos compõem a imagem corporal: o fisiológico ▪ Possibilidades e limites do corpo ▪ Herança genética
o psicológico ▪ saúde mental ▪ Aceitação de limites do corpo
o social ▪ Sociedade ▪ contexto histórico
Cada pessoa elabora a seu modo a imagem
de seu próprio corpo, acentuando ou modificando as diferentes partes em função dos mecanismos de sua personalidade e de todas as suas vivências passadas e presentes, incluindo os movimentos do corpo.
Essa
lógica mercadológica atua com mecanismos semelhantes em nossas carências mais profundas, o horror à morte, o medo da velhice e da impotência.
A saúde mental é tão importante quanto a saúde
física e não podem ser dissociadas; O sofrimento psíquico é SIM fator de indicação de
procedimentos estéticos;
Nós, profissionais de saúde, precisamos criar
suporte a estes pacientes, diminuindo a ênfase em soluções rápidas que assumem que o indivíduo, isoladamente, seja capaz de responder às complexas questões associadas ao corpo e criar intervenções práticas, acessíveis, sustentáveis, e trabalhar para combater estereótipos inalcançáveis de beleza.