Controle de Qualidade em Processos Agrícolas Mecanizados

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AS RAÍZES PROFUNDAS DA PRODUÇÃO ENXUTA - LEAN PRODUCTION: DOS PRIMÓRDIOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL AOS DIAS DE HOJE. UMA HISTÓRIA DE PIONEIRISMO, EXPERIMENTAÇÃO, FRACASSOS E SUCESSOS Marcos Milan A revolução industrial tem as suas origens nos idos de 1700 na Inglaterra com a indústria têxtil. A atividade processava principalmente o algodão, matéria-prima vinda das colônias, e a água dos rios fornecia a energia necessária para o acionamento das máquinas. Ao longo dos anos, os aperfeiçoamentos introduzidos nas máquinas fizeram da Inglaterra a maior produtora de tecidos à base da fibra do algodão. Nessa mesma época, tem início um processo de grandes modificações na agricultura inglesa, com a incorporação de novos sistemas agrícolas, uso de fertilizantes, novas culturas e a invenção de máquinas e implementos tais como o cultivador mecânico e a semeadora mecânica em linhas, tendo como fonte de potência a tração animal. Como decorrência desses avanços constatou-se que, se em 1700, oitenta por cento da população inglesa dependia da terra para sobreviver, cem anos depois esse valor cairia para quarenta por cento. A população deixava o campo e se concentrava nas cidades à procura de uma oportunidade de trabalho, que a incipiente indústria proporcionava. A economia baseada na terra, mão de obra de baixa especialização, dependente da agricultura e mercados com pouca integração geográfica, começa a se transformar em uma economia fundamentada no capital, na menor dependência da agricultura, na mão de obra especializada e em mercados integrados geograficamente. Um ponto crucial para a aceleração das mudanças foi o aperfeiçoamento do motor a vapor pelo inventor escocês James Watt. Historicamente, a primeira experiência empregando o vapor como fonte de potência foi a máquina térmica de Heron, eolípila, na Alexandria, Egito, no século I. Ao longo do tempo, foram desenvolvidos outros motores com esse mesmo este princípio, mas as restrições no funcionamento faziam com que as aplicações fossem bem limitadas. Em 1765, Watt apresentou um protótipo de motor a vapor que era um aperfeiçoamento de um modelo aplicado, com várias restrições, no bombeamento de água nas minas de carvão. O protótipo era mais eficiente e prático. Anos mais tarde, Watt introduziu um dispositivo para transformar o movimento retilíneo alternativo em movimento circular, expandindo a sua utilização, inclusive para o acionamento das máquinas na indústria têxtil. Em 1778 patenteou o regulador centrífugo, permitindo, com isso, controlar a velocidade do motor e ampliando as possibilidades de uso. Esses aperfeiçoamentos tornaram possível o desenvolvimento da locomotiva a vapor, máquina que revolucionou o transporte. O motor a vapor, que utilizava como fonte de energia o carvão mineral e a madeira, começa a substituir a energia humana, dos animais, hidráulica e eólica empregadas até então. Sendo mais barato e eficiente, ele impulsiona as indústrias em número e tamanho, o comércio e, consequentemente, a concorrência. A demanda por mão de obra se acentua nas novas fábricas, surgindo novos desafios referentes ao recrutamento, treinamento e motivação das pessoas para um ambiente inédito. A administração passa a ser vista como o quarto fator de produção, somando-se à terra, mão de obra e capital, esse último como fator principal (WREN, 2005), (KREIS, 2017).

O óleo de pedra Na década de 1850, quando o mundo passava por modificações profundas tanto na economia como pelo aumento da população, um grupo de investidores solicitou a um professor de química da Universidade de Yale a análise de um líquido escuro e viscoso, proveniente do oeste da Pensilvânia, EUA. O líquido, conhecido como “rock oil, óleo de pedra”, ou “óleo de Sêneca”, denominação em referência a uma tribo de índios da região, brotava naturalmente à superfície e era recolhido manualmente. Ao “óleo de pedra” era atribuído o poder de cura, sendo usado para aliviar desde dor de dente a ferimentos em animais. O grupo de investidores sabia que o líquido era inflamável, mas havia dúvidas se poderia ser empregado para a iluminação artificial, que era um problema sério devido aos custos da gordura, animal ou vegetal, e do gás de carvão. Um líquido derivado da terebintina apresentava-se como uma opção mais barata, mas com a desvantagem de ser altamente inflamável. A resposta dada pelo professor foi que o “óleo de pedra”, quando submetido a diversos níveis de ebulição, gerava vários subprodutos e, dentre eles, havia um de alta qualidade para ser empregado na iluminação, mais tarde denominado de querosene. Uma etapa havia sido vencida, mas ainda existia um problema 112


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