Revista Ponto & Virgula - 2021 Edição 54 Janeiro Fevereiro Março

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Jan/Fev/Mar 2021 Ano 9 | Edição 54 R$10,00

PONT & VÍR ULA

MARIA HELENA ZEOTTI Meu versejar são expansões da minha voz e do meu olhar modelados pela poesia


2  Revista Ponto & Vírgula  Janeiro/Fevereiro/Março 2021


ÍNDICE JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2021

EDITORIAL

2021 chegou e a Pandemia Corona Vírus continua assombrando o mundo inteiro! Mortes e mais mortes são anunciadas todos os dias. No Brasil, políticos situacionistas e oposicionistas, digladiam-se. Felizmente, apesar de todas as discussões, vacinas de várias partes do mundo, começam a chegar e milhões de pessoas recebem a primeira dose. A esperança renasce. Poetas, escritores e artistas, continuam alimentando almas famintas, através de sua Arte! E é pensando nessas pessoas tão especiais que, nesta edição, selecionamos uma delas, como Destaque e Capa de nossa Revista! A Educadora e Poeta, Maria Helena Zeotti! Maria Helena é formada em Biologia, Pedagogia, Psicopedagogia, Direito Educacional e especialização em Gestão Educacional pela USP (Universidade de São Paulo). Na Educação, já foi professora, orientadora educacional, diretora de escola e supervisora de ensino. Ainda em labuta, trabalha na Secretaria Municipal de Educação de Franca com a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e organiza seu primeiro livro com poemas em Português e Francês, ilustrados com suas fotografias. Nas páginas seguintes conhecerá um pouquinho mais dessa grande Educadora. Parabéns, Maria Helena, pelo belíssimo trabalho que desempenha em prol da Educação e Cultura. A você nosso carinho, respeito e admiração. A todos, uma boa viagem pelas páginas da nossa “Ponto & Vírgula” !

Foto: Natan Ferraro

Pág. 1 Capa: Maria Helena Zeotti Pág. 2 Publicidade Pág. 3 Índice, Editorial e Expediente Págs. 4 - 6 Matéria de Capa Pág. 7 O Intruso - Antônio Carlos Augusto Gama Pág. 8 Homenagem às mulheres - Adriano Pelá A história do Tango em Ribeirão Preto - Adriana C. M. Risau Pág. 9 Poetas em Destaque Pág. 10 Elegância Gris - Ely Vieitez Lisboa Pág. 11 Cantinho Literário de Bridon e Arlete Pág. 12 Fazenda dos Ventos Uivantes - José Antônio de Azevedo Pág. 13 Calçamento de pedra, ladeira acentuada - Perce Polegatto Gosto de Provocações - Fernando de O. Cláudio Pág. 14 Poetas Inesquecíveis Pág. 15 Noturno da Rua Estácio – Sérgio Roxo da Fonseca Pág. 16 Carta para Ike - Ithamar Vugman Mini poemas Pág. 17 Poetas em Destaque Pág. 18 O tiro pela culatra - Francisco A. Moura Duarte Pág. 19 Primavera Zen - Raul Ramos Neves de Abreu Em destaque - Carla Barizza Pág. 20 Elegante, Sábia, Feliz e Audaz - Fernanda R. Mesquita Pág. 21 Foi assim... - Irene Coimbra Pág. 22-23 Publicidade Pág. 20 Foto em Destaque

Irene Coimbra | Editora

EXPEDIENTE Direção Geral: Irene Coimbra de Oliveira Cláudio - irene.pontoevirgula@gmail.com Edição: Ponto & Vírgula Editora e Promotora de Eventos | Diagramação: Aline Cláudio Impressão: Ribergráfica - A Cor da Qualidade | Foto de Capa e Matéria: Fellipe França Anuncie na Revista Ponto & Vírgula. Associe sua marca à Educação e Cultura! Mídias: Impressa, Digital e Audiovisual. Publicidade e Venda: Irene – (16) 3626-5573 / WhatsApp: (16) 98104-0032 Tiragem: 1 mil exemplares Janeiro/Fevereiro/Março 2021 Revista Ponto & Vírgula 3

Os artigos assinados são de responsabilidade do autor. A opinião da revista é expressa em editorial.


Foto: Fellipe França

MARIA HELENA ZEOTTI

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aria Helena Zeotti, nascida em Ribeirão Preto, com alma cosmopolita, filha de pai descendente de imigrantes italianos e mãe lituana, desde a infância encantada com os livros e as viagens por eles proporcionadas, tornou-se educadora. Com as asas preparadas, distanciou-se de sua cidade natal para exercer sua profissão em outros cenários, São José dos Campos, Franca, sempre no desejo pelo novo, o desconhecido. Mantém o vínculo com Ribeirão Preto onde permanece seu mais valioso tesouro, sua família! Na educação foi professora, orientadora educacional, diretora de escola e supervisora de ensino. Ainda em labuta, trabalha na Secretaria Municipal de Educação de Franca. Apaixonada pelo idioma e pela cultura francesa , “je ne sais pas pourquoi” e pela fotografia, além da literatura, em especial, a brasileira busca, no momento atual, contemplar a fotografia , a literatura e o idioma francês em forma de arte, de expressão da mais profunda essência do seu ser, por meio de “escrituras”. Acredita que a fotografia e a escrita podem despertar olhares adormecidos para acontecimentos e paisagens às pessoas que vivem distraídas e assim, provocar sorrisos nos lábios e nos olhos, um retorno à infância, quando o mundo nos fascinava e tínhamos coragem suficiente para desfiar a realidade! 4  Revista Ponto & Vírgula  Janeiro/Fevereiro/Março 2021

Poemas e fotos a seguir pela autora Sedução Na madrugada, um poeta por uma linda folha se encantou e sussurrou-lhe poemas de amor. A folha de saia rodada, delicada, vestida de Amor pelas palavras do poeta enamorou-se. Suave mistério amoroso entre eles floresceu. Então, sem refletir, a folha ao seu encontro atirou-se e a este amor se acorrentou. Esqueceu-se que era ele um sonhador. Que as palavras voam com o sopro. E o poeta por outras folhas se apaixonou. Hoje a folha vive triste. As sombras desse Amor em seu limbo estão marcadas. Sua linda saia rodada começou escurecer. E o poeta? Aonde anda? Ninguém sabe onde sonha.


Tapete Bordado De Folhas Da semente que se plantou, em silenciosa suavidade, a árvore foi desenhada. De surpreendente estilo, ambicioso, quis ela a vida fascinar, com paisagem incorpórea. Pediu ajuda ao Sol que manifestasse a sua Luz para seu feito realizar. Em sua intensa ânsia de criar, com os sensíveis elementos naturais, uma poesia bordada pela sombra projetada. Alinhavou cada detalhe com folhas e galhos solares, modelou contornos nítidos sem palavras escritas e nem ditas. Desejando ardentemente, às pessoas sem coragem, novamente se encantarem sobre um tapete decorado. No entanto, nada alentaria sem uma visão recriada que enxergasse em outros ângulos o lirismo de uma brisa enlevada! A outra face da Lua Em noites de Lua Cheia, quando a Lua feminina despe-se do véu que a oculta, pode-se ver com clareza a intensa luz do luar. Passo horas a pensar nos segredos que há na vida. São mistérios que não tem fim. Na Natureza esquecida, a vida passa despercebida. Ninguém se atreve a perguntar que magia tem a Lua a esconder de todos nós. Rogo à Lua Encantadora que me torne confidente libertando-me da cruel incerteza de sua pura inteireza . Revela-me Oh, Bela Iluminada, o que está a acoitar a outra face da Lua?

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O Movimento e a Onda

Le Mouvement et la Vague

O movimento e a onda não se cansam de dançar coreografias tão sensuais, de leveza e fluidez, que bailarinas tentam imitar. De requintada elegância as ondas me trazem à lembrança as cantigas de ninar. Ou estarão mantras a entoar? O que não se pode negar é a musicalidade de sonoridade ondulatória que sentimos no ar. Um poema musical! Não se sabe explicar o ritmo que a onda traz, repetindo as cadências de outras ondas atrás. Ainda que a onda ande em lugares bem distantes, sempre deixará rastros da sinuosidade que traz consigo. O movimento e a onda são parceiros inseparáveis. Se ele a abandonar, onda não será jamais!

Le mouvement et la vague ne se lassent pas de danser des chorégraphies si sensuelles de légèreté et de fluidité. Danseuses d'une élégance raffinée. Les vagues me rappellent les chansons à bercer. Sont-elles des mantras à chanter? Ce qu'on ne peut nier c’est la musique le son ondulatoire on le sent dans l’air Un poème musical! On ne sait pas l’expliquer ce rythme que la vague apporte en répétant les cadences d’autres vagues en arrière. Bien que la vague marche dans des endroits très éloignés elle laissera toujours les traces de sa sinuosité. Mouvement et vague sont partenaires inséparables. S’il l’abandonne la vague ne sera jamais !

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Por Antônio Carlos Augusto Gama

Foto: Bell Gama

O INTRUSO

O

lhou para trás por simples força do Deu-lhe roupas e sapatos novos, confortáveis. hábito. Não sabia se para lhe ser agradável ou porque É claro que ele estava lá, caminhando a tinham os mesmos gostos, discretamente e com cerca de dois passos dele, meio de lado. Mancava satisfação estampada no rosto o velho o acompaligeiramente da perna direita. nhava em tudo. Lia, ouvia música, tomava vinho ou Jamais se esqueceria de como tudo começou. conhaque, fumava, assistia aos filmes e ao futebol Passava de uma hora da madrugada quando na televisão, ia às livrarias e até mesmo à redação percebeu que ficara sem cigarros e, apesar do ho- do jornal em que trabalhava, onde passava algumas rário, resolveu sair para comprar. Na volta, ao atra- poucas horas um ou dois dias por semana, já que vessar a Ponte dos Passos Perdidos, vislumbrou o costumava remeter por e-mail as matérias e os homenzinho sentado na murada, de costas para o artigos que escrevia. rio. A princípio não lhe deu maior atenção, até enCom a mesma discrição, o velho desaparecia trever que girava o corpo e passava as pernas para quando ele levava alguma mulher para casa. o outro lado. Pressentiu que iria se jogar e num Reaparecia depois, sem que nunca soubesse impulso saltou à frente, agarrouonde se enfiava. -o como pôde e o puxou para o Embora estivesse sempre "De repente começou a chão. Caíram ambos, o velhote chover, e sem coragem de por perto, ninguém parecia por cima. deixá-lo sozinho naquele lu- notar a presença do velho. Era Quando se levantaram o vecomo se dissolvesse ou se ingar, fez com que o seguisse e lho disse algumas frases confusas tegrasse ao ambiente, com aro levou para casa, onde lhe de que somente conseguiu entes de camaleão. tender palavras soltas: sozinho, serviu um sanduíche e um No início chegou a pensar filhos, Clarice... se o velho não seria um fantascopo de leite." De repente começou a choma ou uma alucinação. Estaria ver, e sem coragem de deixá-lo sozinho naquele ficando maluco ou perturbado? lugar, fez com que o seguisse e o levou para casa, Mas à medida que o tempo passava a dúvida foi onde lhe serviu um sanduíche e um copo de leite. esmaecendo e assossegou. Disse-lhe que podia dormir ali naquela noite e E assim sossegado, quase sem se dar conta, que o velho sorriu agradecido, os olhos úmidos. chegou a mais um aniversário. No dia seguinte, um sábado, acordou mais tarde Presenteou-se com um régio jantar no seu rescom o cheiro bom do café. Foi até a cozinha e en- taurante preferido, tomou um vinho caro e fumou controu a mesa posta, com tudo que mais gostava, um cubano, o velho acompanhando-o. o pão fresco, a manteiga, o queijo, o mel, o mamão Foi deitar-se quando raiava o dia e ao despertar, já partido ao meio, a xícara grande, o jornal. De pé, por volta de uma hora da tarde, não viu o velho, ao lado, o velho esboçava um sorriso tímido. mas isso não o surpreendeu. E o velho foi ficando, tornando-se parte da sua Abriu a porta do armário e lá estavam as rourotina. pas do velho. Pouco falava, apenas alguns monossílabos, muPodia vesti-las agora. xoxos, gestos e meneios de cabeça. O suficiente para se entenderem. *** Janeiro/Fevereiro/Março 2021 Revista Ponto & Vírgula 7


Homenagem às mulheres Mulher

Adriano Roberto Pelá Só você pode gestar uma vida. Só você pode ser mãe em um olhar. Só você pode preencher o vazio da vida de um homem, dando-lhe filhos. Só você pode, com um sorriso, desarmar uma tragédia. Só você pode, com um carinho, demover ódios e rancores. Só você pode amar infinitamente e perdoar sempre. Chore, poderosa mulher! Seu choro também é sua marca, sua maneira de renovar-se e reiniciar a trajetória, carregando consigo os afetos conquistados. SORRIA! A trilha que percorre é permeada por suas características inatas: a ternura, meiguice, fortaleza e Amor. Uma homenagem do Poeta Adriano Pelá, a todas as mulheres.

Você sabia? A história do Tango em Ribeirão Preto Por Adriana Cyrino de Mello Risau

Natural da cidade de Itápolis/SP, a professora Adriana Cyrino de Mello Risau, introduziu, em 1987, o curso de danças em Ribeirão Preto e região. Almejando aprofundar seus conhecimentos acerca do tango, em 1988 viajou para Buenos Aires, Argentina, onde frequentou, durante um ano, cursos de Tango, com os renomados professores, Efrain Orneñez e Gustavo Naveira (do filme “Lesson de Tango). Nesse período conheceu Juan José Risau, seu atual parceiro, com o qual iniciou o ensino do ritmo portenho em Ribeirão Preto e região. Em 1995 criaram o Dia do Tango, em Ribeirão Preto, homenageando o compositor brasileiro Alfredo Le Pera. Contato: (16) 98211-818 8  Revista Ponto & Vírgula  Janeiro/Fevereiro/Março 2021


Poetisas em Destaque Fátima Monteiro

Fernanda Mesquita

Marly Marchetti

Cláudia Biagini

Um novo olhar

Instante fugaz

Fátima Monteiro

Fernanda R. Mesquita

Tudo agora é mais bonito lá fora! Não há despedida, não há chegada. Controlaram nossos passos. Sobra o tempo que era escasso. O silêncio incomoda. Mentes cansadas. Somos casulos, vulcões adormecidos, sonhos contidos, botões de rosas à espera da ordem para desabrocharem!

E porque a hora é cansaço, o passo é pensativo e a estrada é lenta. A natureza, num sublime saber, dedilha nas cordas do vento, secando o suor e acalmando as veias do homem e do animal, que em silêncio e de passo pensativo, pela estrada lenta, vivem os detalhes do retorno ao lar, como quem agarra a vida na hora do descanso... É o instante fugaz entre a labuta cumprida e a que está por cumprir.

Dia da Mulher

Os Flamboyants

Marly Marchetti

Cláudia Andréa Biagini

Sempre brilhante e sábia rege com maestria a orquestração da vida. Conduz com galhardia as tarefas impostas no dia a dia. Na tristeza ou alegria, escancara o coração, com gestos de emoção. Forte e determinada a todos protege e ampara. O mundo não seria mundo. O ser não seria o ser. A vida não teria vida, sem a presença dela. Esta é a homenagem que faço a todas no dia oito de março. Não é uma data qualquer, é dia dela... MULHER!!!

Desfilam nas cidades com a sua graça, enfeitando jardins, parques e praças. Sua presença é deveras marcante com suas copas lindas e exuberantes. As suas flores vermelho intenso e seus troncos tortuosos e densos, oferecem a mais bela paisagem para quem estiver de passagem. Sua beleza tem um quê de realeza. Seu real nome é de origem francesa, mas é no nosso Brasil, azul verdejante, que exibem sua beleza estonteante!

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ELEGÂNCIA GRIS Por Ely Vieitez Lisboa

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inha mãe era a mulher mais vaidosa que já conheci. Gostava de andar bem vestida, bem penteada, até dentro de casa. Unhas bem feitas, cabelos impecáveis. Como eu tinha o hábito de comprar tecidos bonitos, desenhar modelos para a costureira, ela avisava, quando eu trazia os cortes de seda para casa: Não quero pano de velhas. Escolhia os mais alegres e coloridos. Isto com mais de oitenta anos. Morreu aos noventa e quatro, sempre pintando os cabelos, usando belas cores de roupas. Com um apetite voraz, era preciso regular as guloseimas perto dela. Uma vez o médico receitou que ela bebesse uísque com mel, para tosse. Posso beber vários cálices? - perguntou ela... Aos oitenta anos, fez um implante de dentes. Preocupada, na sala de espera, eu pensava no seu sofrimento. Após várias horas, o dentista veio até mim. Estava com um avental coberto de sangue. Onde está minha mãe, perguntei horrorizada! Na toalete, refazendo a maquiagem, respondeu ele, sorrindo. Ela morreu com noventa e quatro anos e no féretro, devidamente bem vestida, maquiada, estava linda, comme il faut. Não herdei essas boas qualidades, de minha mãe. Elegância, só nas festas e nos Saraus. Apenas algo eu não abria mão: ter os cabelos sempre bem pintados, impecáveis. Às vezes os brancos safados começavam a aparecer e embora meu Jugurta, gentilmente dissesse que estavam lindos, eu pintava-os de um negro total, como eram na minha juventude. Algo, no entanto, aconteceu, recentemente. Com a perda de meu marido, infeliz, deixei de pintar meus cabelos. De repente, senti-me uma bruxa, com os cabelos brancos, mesclados de preto. Um dia, achei-me tão horrível, que chamei a amiga que sempre cuidou de meus cabelos. Ela os cortou bem curtos, deixando só os brancos. Ao olhar no espelho, assustei-me. Era outra mulher. Envelhecera dez anos! Aos poucos, no entanto, fui me acostumando. E foi a prima atenta, que ao ouvir minha confissão, disse: Você aderiu à elegância gris? É moda atualmente. Ficar livre da obsessão da tintura. Lembrei-me então dos cabelos lindos de Mirna e de Gizelda, totalmente brancos. Mirna chegou a elogiar minha foto de cara nova, dizendo que eu até parecia mais jovem... Vivendo se aprende. As mulheres são notáveis! Batizam as tragédias com nomes elegantes e aceitam as desgraças. Hoje sou adepta da elegância gris...

Três heroínas adeptas da Elegância Gris!

Dumara P. Jacintho

Nely Cyrino de Mello

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Marlene B. Cerviglieri


CANTINHO LITERÁRIO Por JC

Bridon & Arlete Trentini Studio Cine Foto Mary

Ternura do Olhar JC Bridon

Dia de Poesia Arlete Trentini dos Santos

Ah! o amor, esse sentimento que perambula pelas noites enluaradas, pelos céus estrelados por mares sem fim, alardeando o pranto chorado!

Hoje é dia da poesia! Ame, respire, cante. Encante! Hoje é dia de poesia!

Busca navegar por entrelaçados caminhos tentando, no apagar dos sentimentos, trazer a luz da esperança aos corações apaixonados.

Hoje é dia de poesia! Abra seu coração, use a imaginação fale por inspiração.

Sente, dentro de si, a ternura do olhar, a meiguice dos lábios que, sedentos de amor, deixam-se levar por trilhas que conduzem ao sabor de doces beijos.

Não deixe passar em branco esta boa ocasião. Faça versos, brinque em rimas. Cante, encante ou desafine. O importante é participar.

Faz de mim, de ti e de todos nós prisioneiros de uma paixão alucinante que vagueia pelos Universos sem fim na busca incessante de eternizar o amor.

*** 21 de março - Dia Mundial da Poesia

Foto: Diego PH

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Por José Antônio de Azevedo

Foto: Natan Ferraro

FAZENDA DOS VENTOS UIVANTES

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ansado da mesmice na cidade grande e, pelos compromissos com a profissão, a religião, a família, a sociedade, e a comunidade, Zé Baiano resolveu, no último fim de semana, passar três dias em ambiente completamente oposto ao da sua vivência urbana. Para isso, convidou a família, fez os preparativos para livrar-se do sol quente, dos ventos uivantes, dos mosquitos picantes, e tudo que fosse necessário para o conforto. Também não se esqueceu dos aprestos e ideias para ter inspiração, a fim de dar prosseguimento à escrita do seu Juventude Acumulada. O local é do tipo ideal. Natureza viva, paisagens deslumbrantes, quietude, clima agradável, enfim, uma fazenda propícia para o descanso e agradável para a vista. [...] Logo ao chegar à Pousada Fazenda dos Ventos Uivantes, deparou-se com a justificativa do nome. Era noite escura e os ventos do leste pareciam prenunciar tempestade, apesar do céu despido de nuvens. Atravessavam as fendas da porta e janelas, provocando zunido ululante, sons de meter medo naquele ermo de mundo noturno. [...] As velhas lembranças invadiram todo o ser de Zé Baiano, agora acompanhado pela família, a verificar uma porteira na entrada da fazenda fechando o cercado da sede; outra porteira ao lado de uma velha e retorcida paineira. Na saída da sede, entrando no piquete dos bezerros, estava lá a terceira, para o acesso ao curral onde há a ordenha. [...] Na porteira da entrada, a música por título “Abre a Porteira” recordou a estrofe “Abre a porteira que eu quero entrar, pois aqui tem o que eu não tenho lá”. Na segunda, com moirão bem largo, estava gravada, com ferro em brasa, a moda raiz de Raul Torres e Florêncio, “Mourão da Porteira”, com a seguinte estrofe “Lá no mourão esquerdo da ´porteira, onde encontrei você pra despedir, é uma lembrança minha derradeira, foi um versinho que nele escrevi”. Na porteira de saída, a música de Lourenço e Lourival, com título “Velha Porteira” , recorda com saudade a infância com este trecho final: “Porteira, na realidade, você é a saudade do tempo da infância que não volta mais” . Trechos do livro “O Coração infarta quando chega a ingratidão” Págs. 107 e 109

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Calçamentos de pedra, ladeira acentuada... Por Perce Polegatto

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alçamentos de pedra, ladeira acentuada, minha mãe levando-me pela mão: é apenas o caminho de volta. Mas, aos seis anos, tudo é fascinante em qualquer caminho. O papagaio habita a casa junto à quitanda: há uma argola de ferro para suas acrobacias e caixotes de maçã sobre os quais ele ama passear. Silencioso e pouco alegre, ele me atrai. Mamãe explica que é uma ave muito velha.Talvez viva assim infeliz por não poder morrer. Por não saber morrer quando deseja. Em um dos filmes mágicos que me serviram à infância, um artista pintava paisagens no chão da praça. Pincéis amarrados a varetas, tinta ordinária e panos imundos, estendia um boné aos que passavam, e assim ganhava a vida. Essa praça era o caminho de uma garçonete a quem dedicava suas precárias maravilhas, sabendo que ela lhe admirava o talento, mantendo com ele uma discreta relação, entre breves e simpáticos diálogos. Certa vez, enquanto ele lhe mostrava novas criações, começou a chover, e todos assistiram desconsolados à dissolução das paisagens, tornadas borrões de tinta. A moça então lhe diz, solidária: “Oh, Pierre... A chuva desmanchou teus lindos desenhos.”. Ele move os ombros, não sem alguma tristeza. “Não tem importância. Faço outros.” Nossos nomes eram parecidos, e isso me fazia menos sozinho: o que mais eu queria, como ele, era desenhar. Rever o que já existe é um trabalho infinito. A lembrança do papagaio triste é de uma rara e profunda sinceridade. Em meu íntimo, ele passeia ainda sobre os engradados de maçãs sua humildade, seu silêncio. Imaginei pintar o caminho de pedras, o papagaio solitário. Mas lembram-me a ladeira, o portão de casa? Reconheço as mãos de minha mãe ou o caminho de volta? Posso recordar com pincéis o que tanto foi meu, o que ainda incomoda e encanta como aos seis anos de agora? Pareceu-me rever a jovem do filme, desta vez dirigindo-se a mim: “Oh, Pierre... O tempo desmanchou teus lindos desenhos...”. E não a consolo. Nem lhe respondo. Da coletânea “Lisette Maris em seu endereço de inverno”

Gosto de Provocações Por Fernando de Oliveira Cláudio

Não sou o Abujamra mas gosto de provocações. Desde que não machuque o outro. Minhas provocações sempre são direcionadas para tirar o outro da zona de conforto ou despertá-lo de um sono profundo. Não nasci para fazer mais do menos e ficar vendo a banda tocar enquanto falta um instrumento no coreto que pede semifusas. Sei que é necessário valorizar a pausa, mas também sei que a análise do conjunto é importante para entender a intensidade do compasso. Se você leu e não entendeu, não se preocupe, não tem problema, existem coisas que não precisam fazer sentido, talvez o escrito acima seja simplesmente um andante alegreto non sense que passará batido. Ninguém precisa entender ou gostar de música para ter sensibilidade. Mas se você não tem sensibilidade com o próximo e não faz nada para ajudar o seu semelhante, em tempos sombrios, e só defende o isolamento porque está preocupado com aqueles que são seus e importantes para você, aí sim, existe um problema que precisa ser resolvido, principalmente se for onde os umbigos prevalecem. Janeiro/Fevereiro/Março 2021 Revista Ponto & Vírgula 13


Poetas Inesquecíveis Poema

Não importa

Alvim Alvino Barbosa

Antônio Ventura

As águas batem de manso na praia do meu silêncio, deixando conchas vazias, espumas cheias de sonhos. Gaivotas passam de leve singrando o mar infinito com mensagem cor de neve para a minha solidão. Um navio cor de lua aportou no meu silêncio com imagens suicidas dos sonhos desencontrados. Mas volta o vento da noite e voltam as águas do mar arrastando pelas praias as vozes do meu silêncio.

Não importa se você vai escrever um grande poema um poema mais ou menos um poema ruim. O que importa é escrever e nascer como nascem as árvores cada uma com suas raízes seus galhos e folhas das mais diversas. O que importa é rebentar o broto que quer nascer, subir e ver o sol e ser cada poema sua própria forma e raízes e folhas e sol. * 06/06/1948 † 29/06/2017

* 07/12/1935 † 01/06/2007

Lamento

Eles foram tudo para mim

Wilson Salgado

Maria Therezinha Berardo Sabioni

As pálpebras já cansadas não mais disfarçam o cintilar das lágrimas. A face não regateia sulcos, nem os lábios, comissuras. Os neurônios sucateados já não retêm memórias, único bem que resta a quem já desfalece no presente. Potencialidades?... Todas perdidas no vazio de batalhas inócuas. Minha vida passou e eu não cruzei com ela. Meu futuro chegou! Eu não!

Sei que um dia, lentamente, fecharei meus olhos cansados e minha alma voará, livremente, onde, em verdes bosques, descansarei e serei livre eternamente, ouvindo o vento e os pássaros no bosque. Recordarei, com saudade, os amores que na Terra deixei: meus filhos, netas, neto familiares e amigos. Se não fui tudo para eles eles foram tudo para mim.

* 14/12/1928 † 18/01/2021 14  Revista Ponto & Vírgula  Janeiro/Fevereiro/Março 2021

* 28/09/1929 † 19/01/2021


Em Destaque

Foto: Divulgação

Noturno da Rua do Estácio Sérgio Roxo da Fonseca Luz que acende, luz que apaga, brincando de pique no ventre da noite, acende um cigarro, apaga uma vida, no silêncio esquisito da Rua do Estácio. Mulher magra, mulher pintada, lábios sangrentos, costas de fora, de pernas de fora , de braços que chamam, correndo do homem, fugindo da chuva. Mas chuva não molha na Rua do Estácio. Chuva miúda, chuva serena, chuva que para na altura do poste, refratando murmúrios, ocultando sons, com medo, talvez, de chegar junto ao chão. Mas chuva não chega na Rua do Estácio. Gente escondendo nos cantos da noite, escapando da luz, fugindo das sombras, cortando os olhos, mordendo os lábios, que esperam sorrir, que querem chorar. Mas a chuva não chora na Rua do Estácio. Abre a janela, cerra a cortina, acenando de longe, cantando a canção, penetrando no éter, varando a chuva, desvendando a noite, procurando o dia. Mas o dia não chega na Rua do Estádio.

Sérgio Roxo da Fonseca, nasceu e se formou no Rio de Janeiro, mas foi criado em Ribeirão Preto. No início de sua carreira, durante muito tempo, morou em Jardinópolis onde foi promotor e juiz. Depois foi promovido para Sertãozinho, Ribeirão Preto e São Paulo. É um dos advogados mais brilhantes e influentes em Ribeirão Preto. Pós-graduado no Direito Público atuando também nessa área, sua relação com a Educação sempre foi e continua sendo muito grande. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras, o que muito a engrandece. Ocupa a Cadeira No. 7. *** "Morei durante um ano, na Rua Machado Coelho que ligava o Mangue com a Rua do Estácio/RJ. Três quarteirões. Um lugar muito triste. Eram os dias e as noites de 1960. Nas imediações (cem metros) ficava, de um lado a Penitenciária, do outro lado a zona da mais baixa prostituição. Muitos ratos pelas ruas. Pessoas tristes e solitárias. Para cima do Largo iniciava-se a Paulo de Frontin e o início da Tijuca. O Noel Rosa e outros se notabilizaram nas imediações com suas músicas. Nos dias de hoje ali foi assassinada a Vereadora Marielle e seu motorista. Tentei transformar em versos o panorama noturno do local numa noite com um chuvisco em torno da luz do poste. Talvez a única luz que andava por ali.“ SRF

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Carta para Ike

Por Ithamar Vugman

Q

uerido Luiz Henrique. Conhecemo-nos há bastante tempo. Década e meia. Desde o início de meu namoro com Rosa Maria, sua mãe. Cordial é nosso convívio. Ausentes estão as tradicionais crises enteado-padrasto. Ambos contemos nossos impulsos mais primitivos. Ciúmes infantis. Ano passado nossos encontros, esporádicos, tornam-se regulares. Culpa da pandemia. Necessito de auxílio em meu trabalho no computador. Tenho severa deficiência visual. Convido-o para me auxiliar. Cuidadoso, você se protege contra o vírus maldito. Reduzido é o risco de contaminação. Você aceita meu convite. Comparece semanalmente. Às quartas feiras. Revisa com cuidado e competência meus textos. Publica-os na mídia.Torno-me instagramático convicto. Sua colaboração vai muito além do computador. Amoroso, facilita a vida de um casal de idosos. A pandemia dificulta ainda mais nossa vida. Faz pequenos consertos domésticos, compras, leva-nos a visitas médicas. Um fac totum. Inesperada é a consequência de nossa colaboração. O contato regular nos aproxima. Transforma profundamente a natureza de nossa relação. Não mais somos padrasto e enteado. Somos amigos. Estabelecemos uma relação de afeto. Livre é nossa conversa. Mostramo-nos um para o outro. Falamos de sentimentos. Vir a nosso apartamento lhe dá alegria. Um momento de tranquilidade. Nosso convívio alivia suas tensões.Vê em mim um modelo de pai. Suas palavras me emocionam. Têm profundo significado para mim. Significo algo para você. Nonagenário, prossigo em meu longo e difícil aprendizado. Aprendo. Estabeleço contato de mente. De alma. Estabeleço vínculos afetivos. Significo algo para algumas poucas pessoas. Continuo minha caminhada com determinação Saboreio a vida até o fim, com risos e lágrimas. ***

Mini Poemas

Poema do Acaso Cecilia Figueiredo

Esquadro Níura Rocha

Desalento Conceição Lima

A curva do rio A linha horizontal da Boqueirinha O ângulo da chuva A circunferência da manga madura As pirâmides das palmeirinhas Em Deus está o conforto e a lição de geometria.

A alegria me deprime, a calma me irrita, a segurança me cansa, a liberdade me oprime. Você me deixou, completamente, fora de esquadro!

Metade da vida vivi ferida... A outra metade, ferindo... E entre a dor e o desamor, esvaiu-se-me o tempo... e a FELICIDADE.

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Poetas em Destaque Maria L. M. Graton

Alceu Bigato

Lúcia Maria F. Tasso

Idemar de Souza

Pérola Rara

O Nada Aparece

Maria Luzia Misuraca Graton

Alceu Bigato

A mulher é pérola rara há tempos incrustada. Desvendou o mar dos sentimentos, suportou agruras e tormentos. Hoje está mais preparada. Quantas vezes, maltratada, escrava de desejos e aparências, seguiu exigências e normas. Viveu experiências, conquistou espaço. Agora está mais acordada. Mulher! Amor, resignação! Desvencilhou-se dos grilhões. Seu âmago aflora na emoção. Caíram-se as algemas... Deixa dizer o seu coração!

O mais importante dos hospitais não é a beleza física do prédio, mas a equipe formada por bons profissionais, inclusive os responsáveis pela reposição dos remédios. E todos os pacientes atendidos como iguais, sem preconceito de cor: branca, amarela, preta ou parda. Certamente todos protegidos por mentores espirituais. Enquanto a enfermeira dá plantão, o anjo dá guarda. Milagre existe: Não como conto de fadas. Não é preciso exibir a Bíblia. Silêncio também é prece. Tudo foi feito do nada, mas o nada aparece.

Mulher

Nossas Vidas – VI

Lúcia Maria Feitosa Tasso

Idemar de Souza

Doce e frágil criatura é a mulher! Tão serena, tão singela, carrega no ventre a força e a capacidade de fazer o que quer. Algumas desfilam airosas, outras cabisbaixas e pensativas, mas todas conscientes de se saber mulher. Delicada flor da feminilidade! Paira sobre o coração de todos, dando vida, luz e felicidade!

Pobrezinha borboleta... que tormento! Quase sem vida e sem socorro, ela jazia e me fitando, de sobrolho, requeria que a livrasse do horror desse momento. Com o desvelo que a tragédia me exigia, estendi as minhas mãos à coitadinha esvaída, moribunda e... em ruina uma asinha. Servi-lhe mel, de que ela faminta, se nutria; dei sobrevida à sua asa e ela, já tagarelando, delatou-me o malfeitor: um ser mal e... luzidio. Hum... foi o meu gato, imaginei. a hipótese vingou! Recomendei que se agasalhasse... estava frio! Perguntou onde se guardava o mel e me beijou. Sorriu-me, jurou cuidar-se e radiosa se foi... cantarolando! Janeiro/Fevereiro/Março 2021 Revista Ponto & Vírgula 17


Por Francisco A. Moura Duarte

“O tiro pela culatra”, o quarto livro de Anní- até mesmo uma linha circular, e bal Augusto Gama, lançado pela FUNPEC-Editora, no fim repete o início, num labié a reunião de alguns de seus contos que, efetiva- rinto em que todos se movem mente, contam uma estória. Há neles uma intriga, para permanecer no mesmo lugar. A maioria dos contos são narrados na primeira ainda que breve, e personagens definidos. O gênero veio adquirindo tantos aspectos que chegou pessoa do singular. O sujeito que os viveu se apala textos em que só há uma atmosfera e, nos quais, pa, e isto pode dar, talvez, a impressão de maior nada é narrado. Não vai nisso nenhuma reprovação veracidade, o que torna as estórias ainda mais à evolução pela qual passou o gênero; nem se pode inexplicáveis. As coisas cotidianas, os fatos aparentemente pretender que o conto de hoje seja o de Maupassant, de Machado de Assis, ou dos autores de talhe comuns, verdadeiramente nunca o são. Porque, clássico, com um fio que se desenrola no começo, quando se abre uma porta, nunca o que está lá ao meio e ao fim. O baralhamento do tempo será fora, as casas, as ruas, as árvores, se são as mesmas, mesmo próprio do conto; nele surpreendem-se os jamais são as mesmas. A estória breve, de poucas páginas, é própria personagens num fragmento de sua existência em que estariam contidos no passado, o presente e também da nossa época, acabados os romances o futuro. E, define-os. Na atualidade, a sucessão e fluviais de quinhentas, mil páginas, ou mais, em vários volumes. Quando não fasa comunicação instantânea dos acontecimentos, no espaço e "De outra parte, o autor cina, o conto pelo menos logo no tempo, num ritmo vertiginotemperou os seus textos acaba, e podemos ir cuidar da vida, sem perda de tempo. so, tornam o homem ainda mais com alguma ironia e humor. De outra parte, o autor perplexo. Mas isto não significa Porque arrastamos, com temperou os seus textos com que não se devem ordená-los, nossa sombra, o lado ridícu- alguma ironia e humor. Porque para compreendê-los. Os protagonistas das narra- lo, o lado ridículo, cômico, de arrastamos, com nossa sombra, tivas do autor são geralmente todos nós, que nos julgamos o lado ridículo, o lado ridículo, da classe média. Dela, que se excepcionais, e não somos." cômico, de todos nós, que nos julgamos excepcionais, e não sovê deslocada por toda sorte mos. E o que nos salva é o hude aventuras e desventuras e já não se acha em nenhum lugar, mas em todos, e se mor. Até mesmo o humor negro. Afinal somos tosurpreende num mundo de espantos que não é o dos pobres diabos atormentados por diabos ainda seu. Por isso mesmo, essa mais pobres. De qualquer maneira, os contos estão aí e pagente está confusa, o que se reflete nas indagações rece-nos que não destoam dos outros livros do sem respostas com que, autor, publicados por esta editora: Manual para não raro, ao final dos con- Aprendiz de Fantasma, A Volta de Simão Bacamartos, tudo pode ser e não te e Cinquenta Anos Falando Sozinho. *** ser. E fica a cargo do leitor achar sua própria resposta, Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte, docente ou nenhuma. Daí também alguns textos em que se aposentado da Faculdade de Medicina da USP/Ribeirão Preto, e fundador da FUNPEC/RP (Fundação de incorre no fantástico ou Pesquisas Científicas de Ribeirão Preto) no absurdo. Haveria neles 18  Revista Ponto & Vírgula  Janeiro/Fevereiro/Março 2021

Foto: Guilherme Oliveira

O TIRO PELA CULATRA


Poema em Destaque Primavera Zen Raul Ramos Neves de Abreu

Foto: Masaaki Komori

Se não bastassem as flores, ainda haveria o jardim. Se não bastassem as cores, ainda haveria raios de sol. Se não bastasse o orvalho, ainda haveria uma linda manhã. Se não bastasse o seu doce olhar, ainda haveria o seu grande amor ! A Primavera chegou, toda em flor, tão suave, tão gentil, e você... Que bom! Você também pra mim chegou! Se não bastasse toda a beleza desta Primavera, docemente ocupando espaço em minh'alma, Ah, meu Deus, ainda existiria esse seu lindo sorriso, tomando conta de todo meu ser!

Em Destaque Carla Barizza Apaixonada pela arte de criar, Carla é designer gráfica numa Universidade Pública. Estendeu seus sonhos pessoais a produção autoral. Como escritora, tem contos premiados e publicados em concursos, onde o feminino emerge em personagens cativantes como Anita, Rose,Vilma e outras mulheres mergulhadas em reflexões leves e engraçadas ou intensas e comoventes. Como fotógrafa, transforma suas imagens em poesia, e já recebeu um prêmio de artista destaque. www.carlabarizzacontos.wordpress.com Instagram @carlabarizza.foto.arte Janeiro/Fevereiro/Março 2021 Revista Ponto & Vírgula 19


ELEGANTE, SÁBIA, FELIZ E AUDAZ

Aniversário da Revista Ponto & Vírgula, Janeiro de 2021 Janeiro de 2021. Nove anos! Muita maturidade para um ser tão novo! — pensou Irene, descansando o corpo, servo da sua teimosia em não delegar esforços. Cruzou o olhar com ela e aconchegou-a junto ao peito, como se de um filho recém-nascido se tratasse. Fechou os olhos e sentiu-a: “Audaz! Encantava-a o seu destemor em aventurar-se para tão longe de quem lhe dedicava tamanho amor. Recusava a estagnação e atrevia-se viajante sem fronteiras. Sentiu o seu sábio espírito inspirado a mergulhar fundo em mãos solitárias, que abriam as entranhas a cirurgias alheias. Completava-se pela fartura sem desperdícios.Tão linda! A edição esmerada de toque macio, em papel couché, toda colorida e capa personalizada, pulsava de orgulho. Tão grandes os seus tesouros literários quer em prosa ou verso! Quão doce, a sua ambição! Pedia-lhe, desde o seu primeiro minuto de vida, delicadamente, mas firme, para lhe abrir outras portas. A sua consecutiva convicção permitiu-lhe entradas gloriosas em universidades, faculdades, escolas estaduais, municipais e particulares, consultórios médicos, escritórios, feiras do livro, televisão e a realizar magníficos saraus onde, como estrela, empenhava-se em realçar o brilho dos autores, convicta que sem eles, não existiria. Quase noite. Irene perpetuou o último abraço ao seu rebento. Ribeirão Preto, cidade ímpar, aconchegando mais de setecentos mil habitantes, deixava-se descansar sob a luz da silenciosa lua, que lhe iluminava o rosto através da janela. Sorriu, enquanto afagava a sua menina. Relembrou que quando ofereceu ao mundo a sua primeira cria, muitos duvidaram da vitória do projeto. Indiferente aos descrentes, dedicou-se à procriação de mais e mais. Inspirou, sorriu. Contagiava-a a felicidade da aniversariante. Ambas pressentiam que para além da atual apatia por palavras que coagissem a pensar, existia um mundo farto de pousos disponíveis, abertos aos sentimentos borbulhantes dos que viviam com ânsia de escrever. Finalmente ganhou coragem. Empacotou-a e escreveu o endereço do destinatário. Dentro do pacote, a sua criação pulsava; sabia-se tentação acolhedora ao individuo que necessita abrir janelas no seu lar espiritual. Elegantemente viajaria, provocando uma ressurreição literária, quando o leitor se espelhasse com o escritor. Experimentaria o êxtase quando este se concedesse par do autor, numa dança inspirada por acertos e desacertos do coração, refúgios e abismos do espírito. Levantou-se. Achegou-se à janela. Com o olhar delineou a paisagem noturna da cidade, fechou a mão direita como quem segura um copo, elevou-a e brindou: - À resistência! Debateu-se um pouco com o cansaço. Ajudou-a a réstia de frescura que saiu do pacote, pousado sobre a mesa. Derrotada a fadiga agarrou-se à audácia com que criara a última que partia. A vontade de continuar, ganhou primazia. A imagem do próximo número ampliou-se e vislumbrou o luzeiro aceso, por inúmeros e lindos lugares, despertando seres à leitura. Ela, continuaria ali, de mangas arregaçadas, vencendo ventos imprevisíveis.

*Fernanda R. Mesquita vive no Canadá. É poeta e contista. http://laosdepoesia.blogspot.com/ http://pontoevirguladivulgando.blogspot.com/ 20  Revista Ponto & Vírgula  Janeiro/Fevereiro/Março 2021

Foto: ?????

Por Fernanda R. Mesquita


FOI ASSIM...

Por Irene Coimbra

T

udo começou quando, em 2004, minha cos, artistas envolvidos com Eduamiga Gilda Cintra, diretora da Rádio cação e Cultura, decidi que esse Comunitária Educativa FM, em Ribeirão seria meu desafio. ImediatamenPreto, convidou-me a participar de seu programa te, parti para sua produção e dei-lhe o nome de “Músicas e Mensagens”. Aceitei o convite e fui! “Ponto & Vírgula” e logo ele foi para o ar! Encantei-me o programa e ela então perguntouEm 2012, me veio a ideia de lançar uma Antolo-me se estava disposta a trabalhar como voluntária gia onde pudesse envolver todos os meus amigos e ter um programa, só meu, com duas horas de escritores e poetas. Convidei vários deles e assim duração, três vezes por semana. Entusiasmada dis- foi lançada a primeira “Antologia Ponto & Vírgula se que sim e, no dia seguinte, já começava meu es- – Poesia, Contos e Crônicas”. O número de escritágio ao seu lado. Uma semana depois já dominava tores e poetas foi aumentando e, atualmente estaa técnica da mesa de som, da locução, atendia tele- mos na décima sétima Antologia Ponto & Vírgula! fonemas de ouvintes e lia mensagens de otimismo. Percebendo que, em Ribeirão Preto, não havia “Irene Coimbra, Educativa e você” estava no nenhuma revista que divulgasse escritores e poear! Um programa recheado com músicas clássicas, tas decidi que este seria meu novo desafio e, em orquestradas, românticas, mensagens de otimismo, janeiro de 2013, fundei a Revista “Ponto & Vírgula”, dicas de Português, curiosidades literárias e de ou- com o mesmo objetivo de meu programa no Rátras áreas, além de entrevistas dio e TV. com escritores, poetas, profesMuitos diziam que a revista "[...] decidi que este seria sores, músicos, artistas plásticos não duraria 3 meses! Enganameu novo desafio e, em ja- ram-se! Em janeiro deste ano e outros envolvidos com Educação e Cultura. A audiência do neiro de 2013, fundei a Re- de 2021, a revista completou 9 programa aumentava a cada dia vista “Ponto & Vírgula”, com anos!!! Atualmente, na 54ª edie isso muito me entusiasmava o mesmo objetivo de meu ção, continuo divulgando escrie deixava Gilda entusiasmada programa no Rádio e TV." tores, poetas, músicos, artistas também. Durante seis anos (de plásticos e todos que, de uma 2004 a 2009) trabalhei como maneira ou outra, estão envollocutora voluntária na Rádio Educativa. Foram seis vidos com Educação e Cultura. Continuo na TVRP anos de muito aprendizado e muita alegria. com o programa “Ponto & Vírgula! Em 2008 fui convidada a coordenar, durante 10 Sinto-me plenamente realizada e pronta para dias, o Estande dos Escritores Locais e Regionais novos desafios porque acredito que enquanto esda Feira do Livro de Ribeirão Preto e, nesse perío- tivermos aqui no Planeta Terra não podemos parar. do, consegui unir a Rádio Educativa e a TVRP. Espero que minha história sirva de estímulo Foi uma experiência maravilhosa e voltei a repeti- para muitos! -la na Feira do Livro de 2009! Entrevistei e divulguei centenas de escritores durante os 10 dias da *** Feira. Terminada a Feira, de 2009, Evaldo Jardim, Dire“Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes nem tor da TV, convidou-me a trabalhar, também como te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo, por voluntária, na TVRP, e deixou-me livre para produonde quer que andares” – Josué 1/9 zir e apresentar o programa que quisesse. Depois de fazer uma pesquisa e ver que não havia nenhum programa que divulgasse escritores, poetas, músiJaneiro/Fevereiro/Março 2021 Revista Ponto & Vírgula 21


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Janeiro/Fevereiro/Março 2021 Revista Ponto & Vírgula 23


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