Vol 2 No 1

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Anpu Direitos de reprodução e publicação cedidos pelo autor a Anima Mystica Revista Digital © 2013


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Índice dos Artigos 7

Conhecendo Anúbis António Almeida

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Inefabilidade Transcendente e a Não-Existência da Equação D Frater Waleed

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Dançando com o Destino Segunda parte da entrevista feita a Maxine Sanders por Karagan Griffith

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Exorcizando a simbologia da Suástica na compreensão do Absoluto Valquíria Valhalladur

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A outra face de Deus: Redescobrindo a Deusa

Valentina Ramos


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Anima Mystica Revista Digital ISSN: 2182-7176

Editores:  Luís Miranda  Eduardo Puente  Valentina Ramos

Neste número colaboraram:

Editorial

 Maria Antónia  Casa do Fauno  PFI-Portugal

O Equinócio chegou e com ele a passagem das trevas para

 Capítulo Rosacruz do

a luz. Os dias estão mais longos e quentes anunciando a

Porto  Fellowship of Isis-

Portugal

chegada da primavera. Os campos florescem e as flores irão cobrir os jardins. É maravilhoso que com este

 Caminho Mágico

preâmbulo venha uma nova edição da Anima Mystica

 Casa Claridade

Revista Digital, a qual tem acompanhado o ciclo da

 Espaço danSer  Grupo Consciencia

Activa

natureza e que hoje se veste para acolher os seus leitores e seguidores. Nesta edição, mais uma vez se reúnem os mistérios que têm acompanhado o homem desde a sua criação e os

Anima Mystica Revista Digital, é uma publicação trimestral dirigida à divulgação e discussão de assuntos relacionados com o misticismo e o mundo esotérico (dentro e fora de Portugal), sob uma perspectiva que se estende desde as nossas raízes ancestrais até aos eventos de expressão pagã dos nossos dias.

deuses se manifestam aos nossos olhos, ansiosos para se apresentarem a todos os que folheiam as páginas da nossa revista. O trabalho divulgação não é apenas obra daqueles que trabalham nela mas sim de todos os colaboradores e leitores que assumiram a árdua tarefa de dar a conhecer a Revista Digital através dos mais variados meios de comunicação (blogs, grupos de discussão, páginas web, etc.)


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Conhecendo Anúbis António Almeida * No meu percurso mágico e místico, Anúbis foi o Deus que se revelou. Foi através de um sonho que se apresentou, na sua forma mais primitiva, ou seja, um lobo de olhar penetrante, majestoso e reservado. Algum tempo depois comecei, nos momentos mais inesperados, a dar comigo a adotar posturas próprias de Anúbis. As sensações que tinha nos meus sonhos eram de um Deus poderoso mas subtil, respeitador da individualidade de cada um, assim como um Deus calmo e parco em palavras, pois o seu olhar consegue transmitir a mensagem apropriada a cada momento. Segundo a história de Plutarco, Anúbis é filho de Néftis e de Osíris. Por temor a Tifão (Set), Néftis esconde a criança logo após o seu nascimento. No entanto Isis encontra-o e cuida dele, alimentando e protegendo-o. Uma vez crescido, Anúbis passa a ser o seu guardião e protetor. Desta forma, Anúbis torna-se o guardião dos deuses da mesma forma que o cão é do homem [1]. Esta função de guardião inclui não só ser guardião dos Deuses mas também guardião do cemitério, das múmias e até das tumbas. A relação entre Anúbis e a morte, assim como a viagem para o submundo, é muito estreita uma vez que Anúbis não é só um deus do submundo, mas é também o guia e protetor do espírito dos mortos [2]. Também era conhecido como o deus do embalsamamento, presidindo às mumificações tendo embalsamado o próprio Osíris [2,3]. Foram atribuídos a Anúbis vários títulos, os quais refletem alguns dos seus atributos [2]: Khenty-Amentiu: “O mais Importante (ou o Chefe, Senhor) dos Ocidentais”, ou, “Senhor do Oeste”. Este título pode ainda ser encontrado como referência a Osíris ressaltando a forte ligação que há entre ambas divindades.

Neb-Ta-Djeser: “O Senhor da Terra Sagrada”, ou seja a Necrópole. Tepy-Dju-Ef – “Aquele que está sobre a sua montanha”, ou “O senhor da Necrópole”, designação que exaltava a sua posição enquanto guardião dos túmulos e condutor dos defuntos nos caminhos traiçoeiros até ao mundo inferior. É muito interessante que uma alusão direta a este título apareça, por exemplo num fragmento de um feitiço grecoegípcio, escrito em papiro, [4]: “Louvado seja Anúbis (...) sobre a sua montanha...”

“A relação entre o Anúbis e a morte assim como a viagem pelo submundo é muito estreita uma vez que Anúbis não é só um deus do submundo, mas é também o guia e protetor do espírito dos mortos .”

Quer o sentido de proteção como aquele de mediador (se calhar por desta sua relação com o submundo) é muito frequente encontrar rituais ou feitiços que exploram esta qualidade. Por exemplo, no PGM VII 319-34 [4] existe um feitiço para se ganhar a visão onde aparece uma invocação dirigida a Anúbis: “Aparece ante mim, Senhor Anúbis, Eu te comando porque eu sou....”, nesta invocação Anúbis é invocado para que assista, ou ajude, a vinda dos Deuses (neste caso Osíris) até o mago. Esta função de mediador é ainda mais aprofundada no PDM XIV 35-37 [4] que

*Sobre o autor: António Almeida é iniciado na Wicca Alexandrina e membro de um Coven em Portugal. No seu percurso místico descobriu Anúbis como o seu Deus pessoal a quem é dedicado. O autor pode ser contactado através do mail da Revista: am.revistadigital@gmail.com


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é também um ritual de adivinhação: “Ou Anúbis, o bom boieiro, leva a luz até mim para me protegeres aqui e agora, (...)”. Você deve trazer os deuses do local de julgamento...”. Neste fragmento ainda se evidencia a função protetora de Anúbis e, de facto, em muitos dos rituais, feitiços e encantamentos que vemos no papiro mágico greco-egípcio Anúbis está presente, quer como o protetor, o mediador ou o poderoso (e até terrível) reforçador de maldições [5] que nos conduz até ao submundo. O nome de Anúbis é de facto de origem grega, o seu nome egípcio é Anpu (embora possa ser encontrado como Anupu, Inpew, entre outras) mas ainda menos conhecido e magicamente explorado é a sua relação com a Deusa Anput, uma deusa conhecida durante a 17ª Dinastia do Alto Egipto ou, para alguns, o aspeto feminino do Anúbis. Para surpresa de muitos, deles provavelmente nasce Kebechet, a deusa do frescor e purificação através da água claramente presente, por exemplo, nos textos das pirâmides [2,3,6]. Com o passar do tempo, aparece uma fusão muito interessante entre Hermes e Anúbis. Embora as circunstâncias históricas desta fusão não sejam muito nítidas [7] o nome de Hermeanúbis aparece já em documentos do período romano. Hermeanubis é descrito como tendo um corpo humano e a cabeça de chacal, com os sagrados caduceus que pertenciam ao deus grego Hermes. O seu nome aparece algumas vezes no papiro mágico greco-egípcio quer de maneira direta ou como uma alusão a Hermes, por exemplo, em PGM IV. 3125-71: “Deixa que ou falcão leve a coroa de Horus; o macaco a coroa de Hermanúbis e deixa que o Íbis leve a coroa de Isis”. Ou também no PGM XXXII. 1-19: “Conjuro-vos, Evângelos, por Anúbis e Hermes e todo o que fica em baixo; atrai e liga (...)”. Na mitologia egípcia, quer Anúbis, quer Thot estão ligados a proteção do Horus na sua luta contra Set. É de esperar então que Hermanúbis venha representar estes processos de diversas maneiras. Por exemplo, encontramo -lo no “Rito de Júpiter” [8], de Aleister Crowley, representando (entre outras muitas coisas) uma dualidade perante Tifão (Set).

Mas isto é ainda evidente no Arcano X de Rider-Waite onde aparece Anúbis (ainda alguns acham que é Hermeanúbis [9]) junto da Roda, num sentido, e o Tifão, no outro, representando novamente o jogo da polaridade e o balanço da fortuna (de facto este Arcano é muito interessante quando é analisado a partir do Rito de Júpiter). Poderíamos falar muito sobre a natureza e trabalho deste poderoso Deus, mas quero finalizar com as palavras do mesmo Deus. Anúbis, de pé na minha frente, com a sua gigante presença, abre a sua obscura boca e oiço umas palavras que penetram na minha alma: “Eu sou o silêncio e a voz no final do caminho”. Notas do Autor: (1)

Adaptado de: Thrice-Greatest Hermes, Vol. 1, by G.R.S. Mead. 1906.

(2)

Pat Remler. Egyptian Mithology A to Z. Third Edition. 2010.

(3)

James P. Allen. The Ancient Egyptian Pyramid Texts. 2005.

(4)

Hans Dieter Betz. The greek magical papyri in translation.Including the demotic spells. 1986.

(5)

Geraldine Pinch. Egyptian Mythology: A Guide to the Gods, Goddesses, and Traditions of Ancient Egypt. 2002.

(6)

Caroline Seawright. Anubis, God of Embalming and Guide and Friend of the Dead. 2012. Consultado em http:// www.thekeep.org/~kunoichi/kunoichi/ themestream/anubis.html.

(7)

Amin Benaissa. Proceedings of the TwentyFifth International Congress of Papyrology. Ann Arbor 2007. American Studies in Papyrology (Ann Arbor 2010) 67–76.

(8)

Crowley

(9)

Jennifer Elaine. Rider Waite Wheel of Fortune and the Great Year. 2011. http:// www.nextiermedia.com/jennifer/tarotcards/ article3.html.


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Inefabilidade Transcendente e a Não-Existência da Equação D * Frater Waleed ** Num artigo publicado, precursor a este trabalho (Frater Waleed, 2012), a Inefabilidade foi examinada para que pudesse ser compreendida pelos estudantes de esoterismo que ainda não tivessem experienciado em primeira mão a “falha das palavras”. Naturalmente, nenhuma tentativa foi feita para descrever aquilo que é inefável, qualquer empreendimento deste tipo ficaria necessária e inevitavelmente aquém da sua meta. Afinal de contas, o que é inefável deve ser incomunicável em termos da palavra escrita ou falada. Em vez de abordar o assunto do incomunicável da mesma forma que o trabalho anterior, que explorou a natureza da inefabilidade em si no que se refere à cognição humana, este foi feito a partir do ponto de vista da filosofia da linguagem, um ramo da filosofia analítica.

“O sujeito da inefabilidade pode parecer um verdadeiro enigma para alguns estudantes de esoterismo.” Usando a sintaxe inglesa como base, e explicando como os argumentos retirados dessa mesma sintaxe podem ser mais amplamente aplicáveis (em relação a outras linguagens e culturas a estas associadas, se não até à humanidade como um todo), o enquadramento para uma série de equações foi definido. Este enquadramento permite a identificação de 3 diferentes níveis de inefabilidade (ou efabilidade, conforme queiramos encarar a ques-

tão). Estes foram referenciados como “inefabilidade relativa”, “efabilidade completa” e “inefabilidade completa”; e associados às Equações A, B e C respetivamente, de acordo com o modelo sintático usado e com as suas bases cognitivas. No entanto, mais para o fim do artigo supra citado, é feita uma alusão ao que poderia ser apelidado de “inefabilidade transcendente”, uma inexpressividade que não apenas supera como é completamente diferente daquelas associadas às equações dadas. É com a inefabilidade transcendente que nos iremos agora ocupar procurando, nas páginas seguintes, explicar o porquê de se chamar “transcendente”, da impossibilidade de se sugerir uma equação D e, essencialmente, o porquê de o que queremos dizer não é que é. Transcendência suprema e o Inefável O sujeito da inefabilidade pode parecer um verdadeiro enigma para alguns estudantes de esoterismo. É compreensível que assim seja. O adjetivo “transcendente” é empregue para o distinguir da inefabilidade do tipo abstrato, no que diz respeito às equações A, B e C e, para começar a aproximar do que poderia ser considerado a “suprainexpressividade”. De certo modo, podemos afirmar que a inexpressividade à qual nos referimos é a apropriada ao próprio Inefável. O substantivo surge aqui com letra maiúscula de forma a dissocia-lo das variantes da inefabilidade relacionadas com as equações acima mencionadas as quais, por comparação,

*Tradução por Luís Miranda **Sobre o autor: Frater Waleed é um proponente ativo do Hermetismo e Neoplatonismo. As suas filiações iniciáticas incluem ser Oficial da Ordo Aurum Solis, importante veiculo para a preservação e transmissão da Tradição Ogdoádica


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nem merecem ser mencionadas. O título do Inefável pode ser usado (por uma questão de conveniência), com referência à doutrina do Uno de Plotino (ver Enn. V.3.13.1-7), ou ao local ocupado pelos desenvolvimentos posteriores dos seus ensinamentos por neoplatônicos como Jâmblico e Proclus (ver Iamb. Myst. I.5; Merlan, 2004, p. 264).

necessária usado a bem deste estudo (se bem que pode ser enganosa se não se tiver cuidado). Deve ser salientado que é uma loucura assumir que o rótulo pode ser aplicado ao modelo sintático de forma a obter uma compreensão adequada de como os processos mentais humanos falham perante o Inefável.

Equação D e o modelo sintático

Assim como nenhum nome pode verdadeiramente ser aplicado ao Uno (Plot. Enn. V.3.13.2-7, VI.9.5.31-32), nenhum rótulo pode ser colocado em relação a ele: uma vez que um rótulo é, na sua essência, um nome. A natureza de um rótulo faz com que este tende a ser descritivo (como é normal nos nomes), e nenhuma forma de descrição verbal ou escrita pode verdadeiramente abordar aquilo que é totalmente inexpressável, ainda mais quando o é de forma transcendente. Mesmo referimo-nos ao inefável como “Uno” não é justificável, exceto por conveniência, uma ver que tal denominação é menos inapropriada que a maior parte dos termos no que diz respeito ao que implica. (Plot. Enn. V.5.6.24-37, VI.9.5.30-46). A futilidade de se aderir a tais rótulos, como “inefabilidade transcendente”, ao se descrever a inexpressividade do Uno deve, portanto, ser destacada. Mas, conforme já foi mencionado, o uso do rótulo é feito baseado na necessidade. Descartá-lo, ou a outra qualquer alternativa (que seria igualmente inapropriada), seria abandonar o assunto.

Apesar de admitir a associação da transcendência incomparável com a Inefabilidade, muitos irão questionar se uma equação será capaz de descrever a falha da cognição humana em dar expressão a esta, ou seja, se uma equação D, semelhante às Equações A, B, e C, pode ser apresentada para a inefabilidade transcendente. Neste ponto será apropriado relembrar o modelo sintático que serviu de base para essas 3 equações. (ver Frater Waleed, 2012, p. 29). O modelo pode ser apresentado como: Adjetivo + Nome = Descrição (i.e., Efabilidade) Em todos os componentes do modelo, pode ser substituída uma variável negativa ou positiva (alterado em conformidade, se necessário), dependendo do tipo de inefabilidade a ser tratada. A variável x indica que o componente em questão é algo familiar com a cognição humana e pode ser definido por ela (ou seja, através de um meio verbal ou escrito). Alternativamente, -x representa a negação da funcionalidade da cognição humana no que diz respeito ao componente envolvido; ou seja, implica que a cognição humana é incapaz de reconhecer e dar expressão (através da linguagem) ao elemento em questão, no que respeita a processos mentais e conceitos familiares. O adjetivo “inefável” e o substantivo “inefabilidade” originam, compreensivelmente, um -x onde apropriado, sempre que aplicado ao modelo acima indicado. À luz deste tratamento do substantivo “inefabilidade”, poderíamos ficar tentados a aplicar o rótulo de “inefabilidade transcendente ” ao modelo sintático acima apresentado. Contudo é aconselhado cautela: o rótulo propriamente dito, conforme empregue neste artigo, não é mais do que uma conveniência

“A natureza de um rótulo faz com que este tende a ser descritivo, e nenhuma forma de descrição verbal ou escrita pode verdadeiramente abordar aquilo que é totalmente inexpressável.” Mais, podemos observar que o próprio termo “transcendente” nega a possibilidade de associação entre a inefabilidade e o familiar. Claro que tal inclui rótulos e nomes. No entanto, a afirmação também pode ser estendida a uma negação de todo o esquema pro-


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posto pelo modelo sintático dado acima. Por enquanto o modelo é composto por componentes e relações expressas em termos de, ou dirigida por, representações familiares à cognição humana. As qualidades transcendentes da inefabilidade com que nos ocupamos mantêm-nos essencialmente separados de qualquer associação com esses componentes e relacionamentos. É inclusive separada da soma total desses componentes e relações, exemplificada pelo modelo sintático como um todo. Tal leva a que seja impossível idealizar uma equação D baseada no modelo, trazendo à luz a inaplicabilidade do modelo à inefabilidade transcendente e, no que diz respeito ao assunto em mãos, descartá-lo por completo. Pensar Diferente: Além do modelo sintético Uma vez que o modelo sintático é obviamente inadequado, pensar de forma diferente, vendo a questão de uma outra perspetiva pode ser o caminho mais prometedor para abordar o tema da inefabilidade transcendente. Ao fazê-lo deixamos para trás os parâmetros do modelo. Pode por isso ser tentador considerar a própria inefabilidade como -x, sem mais nada, desprovida de equação. É a inefabilidade como sujeito e objeto (ou seja, como substantivo), ou removida de toda a designação de relacionamento. Isto parece indicar (como seria apropriado) que o Inefável não é qualquer coisa em particular nem comparável a nada, mas é supremamente transcendente à sua maneira inescrutável. Assim, ao invés do x, que alude ao substantivo comum, qualquer um da miríade de aspetos reconhecíveis do universo com o qual a mente humana é consciente, o -x é usado para indicar uma rejeição a todos esses substantivos e a qualquer tipo de familiaridade (ou seja, o Inefável nada tem haver com aquilo com o qual a humanidade é familiar). No entanto deve ser feita a seguinte objeção no que diz respeito a este uso de uma única variável negativa: que -x é de facto uma representação (ou seja, sem que existam diferenças das variantes verbais e escritas), e uma tentativa de expressar aquilo que, fruto

da sua identificação com o inefável, não pode ser expresso. Assim sendo torna-se evidente que não é aplicável (pode dizer-se mesmo falso) e portanto indigno de ser considerado em relação ao Uno. Dado que o Inefável não pode ser comparado a nada mas está para além de tudo, pode ser feita uma tentativa de referirmo-nos a ela através da "negação" (Schroeder, 1996, pp. 336-337). Isto envolve providenciar intimações negando simultaneamente o que é contrário à sua transcendência, ao invés de afirmar seja o que for pela positiva (Bussanich, 1996, pp. 40-41; Schroeder, 1996, pp. 336337). O próprio Plotinus defendia que o uso de tal negação como uma conveniência na tentativa de transmitir o que não pode ser concebido pela mente humana (Enn. V.3.14). No entanto, a negação ainda está muito aquém da transcendência final e, por extensão, inefabilidade do Uno (Schroeder, 1996, p. 337).

“Isto parece indicar que o Inefável não é qualquer coisa em particular nem comparável a nada, mas é supremamente transcendente à sua maneira inescrutável.” Para aqueles que escolham empregar tal conveniência, o uso da negação pode ser levado até ao ponto de admitir que a Inefabilidade permanece distinta da noção de inefabilidade, e permanece acima até do conceito abstrato do mesmo. Poder-se-á questionar como aquilo que é referido pelo título de inefável pode simultaneamente possuir inefabilidade e ser dissociado da mesma. No entanto, é com este paradoxo (que a negação introduz mas não pode explicar) que é possível alcançar algum reconhecimento da transcendência suprema do Uno. Tal transcendência é ainda mais enfatizada pela negação, ou melhor, pela dissociação de todas as declarações até agora feitas nestas páginas sobre ela. Tal é indicativo da forma através da qual o


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senso comum e a cognição humana quebram perante “O Inefável”.

“Qualquer tentativa de atingir a inefabilidade transcendente que não passe pela Mente Divina está inevitavelmente fadada ao insucesso.” É impossível quer formular equações quer sugerir conceitos. Assim sendo, não iremos pressupor sermos capazes de fazer quaisquer afirmações sobre a inefabilidade, pois nenhuma pode ser feita. Algumas Considerações Nestas considerações, sobre o tema da inefabilidade transcendente, nunca houve qualquer expectativa de que o sucesso seria alcançado ao examinar a natureza exata da cognição humana (e sua falha) em relação à mesma. O Inefável encontra-se para além de tais expetativas; além mesmo de todas as reflexões a esse respeito. É supremamente transcendente, e nada pode ser comparado a ele, nem há qualquer advento de abordá-lo, exceto através do Intelecto ou da Mente Divina (Nous) que existe microcosmicamente como a Centelha Divina na humanidade (Plot. Enn. VI.9.8.16-45, VI.9.9.1-17, VI.9.11.46-48). Admitir isto não implica admitir que o grosso deste estudo foi sem sentido. Pelo contrário, este artigo foi uma parte de um processo através do qual um reconhecimento singular pode ser alcançado. Em outras palavras, o que até agora foi discutido aqui não foi mais do que um prelúdio que conduz à mais essencial das conclusões: que qualquer tentativa de atingir a inefabilidade transcendente

que não passe pela Mente Divina está inevitavelmente fadada ao insucesso. Não pode existir Equação D no que concerne à Inefabilidade. Na realidade, não pode existir qualquer tipo de relação. O Inefável está para além de tais coisas e apresenta-se como um verdadeiro mistério. Mas todas as noções deste tipo caem por terra pois nenhuma pretensão ao mistério pode ser feita para o incomparável que se encontra para lá de toda a afinidade. Assim é o Uno supremo e transcendente, o Bem inacessível da cosmologia Neoplatónica. Bibliografia Bussanich, J. (1996) Plotinus’s metaphysics of the One. In: Gerson, L.P. (ed.) The Cambridge Companion to Plotinus. [Kindle edition]. Cambridge, Cambridge University Press, pp. 38-65. Frater Waleed. (2012) The Subject of Ineffability: Equations for the Student of Esotericism. Anima Mystica Revista Digital. [Online] 1 (2), 28-31. Available from: http://goo.gl/d3F0E [Accessed 15th November 2012]. Iamblichus. (2003) On the Mysteries. Trans. Clarke, E. & Dillon, J. & Hershbell, J. Atlanta, GA, Society of Biblical Literature. Merlan, P. (2004) Neoplatonism. In: Rée, J. & Urmson, J.O. (eds.) The Concise Encyclopedia of Western Philosophy. [Kindle edition] 3rd ed. Oxon, Routledge, pp. 262-265. Plotinus. (1984) Ennead V. Trans. Armstrong, A.H. Loeb Classical Library 444. Cambridge, MA, Harvard University Press. Plotinus. (1988) Ennead VI.6-9. Trans. Armstrong, A.H. Loeb Classical Library 468. Cambridge, MA, Harvard University Press. Schroeder, F.M. (1996) Plotinus and language. In: Gerson, L.P. (ed.) The Cambridge Companion to Plotinus. [Kindle edition]. Cambridge, Cambridge University Press, pp. 336-355.


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FELLOWSHIP OF ISIS PORTUGAL

Mais informações: aqui E-mail: fellowshipofisis.portugal@gmail.com


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Dançando com o Destino Segunda parte da entrevista feita a Maxine Sanders por Karagan Griffith Transcrito e traduzido para português por Maria Antónia

Pela primeira vez em muitos anos, Maxine Sanders fala com Karagan sobre a Bruxaria e sobre o seu ponto de vista acerca do trabalho mágico dos Bruxos.

(Continuação do número anterior de Anima Mystica Revista Digital) (…) Karagan: Retirei (alguns excertos) das suas entradas de Diário no website http://maxinesanders.co.uk., acompanhadas de perguntas. Por isso, vou começar por ler algumas delas e depois vou para as perguntas. Você escreveu «A Arte é tão poderosa, o seu sacerdócio tão jovem, fresco e cheio de Magia entusiástica, o meu coração está a transbordar de alegria por ver como a beleza que prolifera nos círculos da Arte prospera. Tão diferente dos dias em que as crianças ocultas estavam sempre um pouco inquietas pela sua magia ser desprezada, mal falada ou posta à prova por aqueles que sofriam preconceito e intolerância. Claro que há sempre o Ego que será sempre a maldição da Arte.» A pergunta é: Porque é que o Ego é considerado a maldição da Arte? Maxine: Bem, a maior parte dos professores de Magia, e nem todos os professores da Arte são Magos, mas a maioria, ensina o aluno

a desenvolver o seu Ego Mágico. E, há um momento no treino em que, e acontece à maioria, onde o Ego mágico, e a Visão, ficam misturados. Por isso, o Ego mágico sobrepõe-se, porque é mágico e porque é terrivelmente intenso projecta-se na vida diária. As pessoas tornam-se temperamentais e demasiado ruidosas, falam sem experiência, fazem os outros sentirem-se inadequados, ficam ensoberbecidas e egotistas. E, isto é comum. De fato, se o estudante não passar por esse estádio, deveríamos ficar preocupados.

“Há um momento no treino em que, e acontece à maioria, onde o Ego mágico, e a Visão, ficam misturados. Por isso, o Ego mágico sobrepõe-se” E depois ultrapassam essa fase, e saem dela no outro lado e aprendem a diferença, entre quando usar o Ego mágico e quando não usar. Os Egos mágicos são para a Magia e não para a vida quotidiana, e não devem ser impostos às outras pessoas. Agora, a maioria dos estudantes que passa por isso, reconhece que isso os torna pessoas mais fortes, compassivas e honradas. Infelizmente, isso não acontece a todos. Todos nós conhecemos uma Bruxa/o que têm o maior Bastão no círculo «A minha varinha é maior do que a tua e têm

Direitos de Autor do original em video: Karagan Griffith/RedBird/Logios Publishing 2012 ©. Todos os Direitos Reservados. Direitos de autor da Tradução do Inglês para Português e Castelhano: Tradução para Português e Castelhano autorizada à Anima Mystica Revista Digital 2013 © . Todos os Direitos Reservados.


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mais prata do que a tua.» Meu Deus, tudo por um pedaço de galho que você nem precisa. Nós utilizamos Armas e Ferramentas mágicas, mas uma boa Bruxa consegue criar um círculo sem precisar de nada. Karagan: Outra pequena entrada no seu Diário diz: «Anciãos, Iniciados, Bruxas, Sacerdócio da Arte ensinam e certamente deveriam saber que realizar rituais de Cura sem um conhecimento exato acerca da condição do paciente é um ato de compaixão mas também é imprudente. Particularmente quando a doença é extremamente séria. É conhecido que nestas condições o poder levantado pode ser prejudicial.» Por isso, a minha pergunta é: Porque é que estes rituais públicos de cura são tão perigosos? Maxine: Bem, as Bruxas assumem a responsabilidade pelos seus próprios atos, ou pelo menos deveriam. Por isso, porquê levantar todo este poder e depois dizer «Gentil Deusa usa-o como te aprouver». E, desta forma desculpam-se de qualquer responsabilidade ao levantar esse poder e mencionarem o nome da pessoa doente. Eu lembro-me de escrever essa parte em particular, porque o meu filho tinha tido um AVC, bastante grave, que o deixara com danos cerebrais. Mas, na altura ele ainda estava no hospital e tinha várias equipas com ele, ninguém sabia se ele sobrevivia.

“Nós utilizamos Armas e Ferramentas mágicas, mas uma boa Bruxa consegue criar um círculo sem precisar de nada” E, havia uma Bruxa na Cornualha, que estava de visita para uma palestra acerca de Bruxaria. A meio da palestra, ou alguns minutos antes, alguém lhe disse que o filho de Maxine Sanders estava doente e que tinha tido uma hemorragia cerebral. Ela parou muito dramaticamente a meio de uma frase e disse: «Bem, vamos mudar as cadeiras para ficarmos de pé em círculo e levantar poder dirigi-

do ao filho de Maxine Sanders.» E, assim o fizeram, e sabe, eu tinha os meus próprios Curandeiros, que sabiam o quão delicada era a situação.

“Uma pessoa têm de assumir a responsabilidade por levantar poder. Se levantar poder e o dirigir, os resultados são da sua responsabilidade” A saúde do meu filho deteriorou-se muito rapidamente. O poder levantado pelas pessoas estava lá, sem dúvida alguma. Mas, deviam ter tido cuidado e perguntado, deviam saber o que se passa com o paciente, deviam perguntar ao paciente, ou pelo menos, às pessoas próximas do paciente primeiro: se o paciente queria isto; e segundo: se o paciente estava forte o suficiente para receber aquele tipo de energia. Qualquer pessoa que esteja doente, não será tratada da mesma forma pelo mesmo médico, nem pela mesma doença. Por isso, não se deve generalizar. Quando me aproximei daquela pessoa e lhe disse, «Você realmente não devia ter feito isso.» ela respondeu «Oh, mas foi tudo colocado nas mãos da Deusa, Maxine, para ela usar da forma que achasse melhor.» Eu não achei que aquela resposta fosse satisfatória, especialmente, quando o meu filho já tinha estado às portas da morte várias vezes, e estava uma vez mais muito, muito mal. Agora, este é só um exemplo e já o vi tantas vezes onde estas sessões de cura pública acontecem. E são sacerdotes e sacerdotisas iniciados e que deveriam ter sido ensinados acerca da Lei. Não se fazem este tipo de coisas. Uma pessoa tem de assumir a responsabilidade por levantar esse tipo de poder. Se levantar poder e o dirigir, os resultados são da sua responsabilidade. Karagan: Absolutamente, sim. Agora estava a falar de uma nova entrada, estava a falar de novos Iniciados e no texto lê-se «As memórias deles dos rituais de Iniciação irão ficar


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com eles, e no momento da transmissão dos Mistérios, a memória irá ativar o tesouro que é a Arte, para continuar.» Do que é que se lembra acerca da sua própria Iniciação? Maxine: Poder. Quando esse poder foi dirigido, quando passei pelo 2º e 3º Grau. E, quando esse poder foi dirigido para mim E, ainda está comigo, só de falar acerca disso ainda consigo senti-lo. É inesquecível, podia falar sem parar acerca da dança selvática em determinadas alturas e sobre o cantar, as entoações, etc. Mas era sobretudo o poder. Karagan: Têm aqui um outro segmento em que fala acerca do Samhain em 2005, e diz: «Bastante cedo, à noite, o grupo reuniu-se e preparou-se para o ritual, o Sumo Sacerdote e Suma Sacerdotisa não são discutidos previamente. Suspeito que todos viemos preparados para realizar o ritual e depois permitimos que a energia natural da noite determinasse aonde em Alderley Edge e quem celebraria o ritual.» Porque é tão importante esta espontaneidade acerca de quem dirige o círculo? Maxine: Bem, hoje em dia eu trabalho com o Conventículo dos Anciãos, mas penso que naquele momento em particular dissemos que trabalharíamos em Alderley Edge, nós fazemos os oito festivais em Alderley Edge. E, claro que toda a gente que ia era de 2º e 3º grau, eram todos Sumos Sacerdotes e Sumas Sacerdotisas. Por isso eramos todos experientes, quer dizer o mais novo de nós, tinha 50 anos, por isso seguimos o curso natural dos eventos. É como num grupo normal onde não foi estabelecido o Sumo Sacerdote e a Suma Sacerdotisa. Eles não falam acerca do que se vai passar, o ritual desenvolve-se e a partir daí surge a magia. Não existem dois magos iguais, não existem duas noites iguais, não há dois momentos iguais. E por isso, é através da confiança na magia do nosso círculo, no poder do nosso círculo. E quando se têm, 10,12, 18, o número que seja de bruxas num círculo a energia é sempre diferente. Todos estão com um humor diferente, todos estão preparados distintamente. Mas, pelo menos de forma semelhante até 24h antes. Em outras palavras, através da purificação e do jejum. Não, significa passar

fome. Estou a falar de comerem nozes e mel, de terem comida natural e não químicos no sistema. Sabemos de antemão onde o Sumo Sacerdote e a Suma Sacerdotisa se sentam e eles dizem «Primeiro iremos fazer isto e depois faremos aquilo, e depois planeamos este pedaço de magia». Bem, é uma atuação de palco se não for um círculo mágico, e conseguimos sentir a diferença. Essa é uma das razões pelas quais eu não aceito convites para os círculos mágicos de outras pessoas. Tenho pavor do que poderei experienciar. Karagan: Outra coisa acerca da qual as pessoas perguntam, e que também foi reeditado e colocado na Amazon.com à venda é "The Legend of the Witches", que foi publicado em Fevereiro de 1970; - um documentário comentado e dirigido por Malcolm Lee. Lembra-se deste documentário, como foi para si? Há um momento em particular, que é a Iniciação de, não me lembro do seu nome, mas, é muito belo, porque ele passa através de Água e Fogo, e tudo isso, até chegar ao Círculo das Bruxas, no meio do bosque. Lembra -se das filmagens? E, como foi?

“Não existem dois magos iguais, não existem duas noites iguais, não há dois momentos iguais” Maxine: Não, porque fizemos tantos filmes, e realmente não me lembro desse. Lembro-me de ir ver a edição final do filme, no apartamento do Malcolm. E fiquei muito impressionada, ele tinha um estúdio de cinema no próprio apartamento de Chelsea. E foi muito pomposo. Fiquei bastante embriagada no final. Estava a usar um vestido de crochet, roxo, que o Alex fizera para mim. A noite continuou, e fui ficando cada vez mais embriagada. O vestido tinha uma malha solta que ficou presa nalgum lado, nós estávamos a dançar e o vestido ficou bastante curto lá para o final da noite. Nós costumávamos divertirmo-nos muito em algumas destas filmagens. E acho que esse foi dos primeiros filmes do


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Alex - "Legend of the Witches". Mas, presentemente não me lembro dele ...ah, estou lembrar-me agora... Lembro-me de uma das cenas em que ele aparece, era um local em Alderley Edge. Onde fazíamos muitas das nossa Iniciações. E, literalmente, sujeitávamos os nossos Iniciados aos Elementos. E como eles sobreviveram… Bem, acho que tivemos muita sorte, em não ter ninguém morto... (risos) Eu, simplesmente, não sei como é que eles sobreviviam, mas eles conseguiam, eles conseguiam encontrar sempre o seu caminho. Karagan: Em "Firechild" você fala acerca de ser perseguida quando descobriram que era uma bruxa. Este tipo de preconceito, ainda era comum, nos anos 60 e 70?

“Eu queria que as pessoas soubessem que a Arte era uma religião bela, queria que soubessem que poder fazer parte dela era uma experiência de elevação espiritual” Maxine: Eu fui iniciada nos anos 60, e a perseguição continuou até aos anos 80. Hoje, ainda existe. Lembro-me de ir a Atlanta (E.U.A.), e estavam a organizar um evento, não me lembro do nome, mas era para Bruxas e Pagãos, e ao longo da auto-estrada haviam faixas a dizer «Vai-te embora Satanás», «Não permitam a entrada do Diabo na vossa casa». E, ainda continua, mas sempre irá continuar. Costumava ter sentimentos muitos fortes acerca disto, e queria que as pessoas soubessem que eu não estava a comer bebés. Eu queria que as pessoas soubessem que a Arte era uma religião bela, queria que soubessem que poder fazer parte dela era uma experiência de elevação espiritual. Mas a experiência ensinou-me que a Arte não é para toda a gente. Há pessoas por aí que pensam que sim, mas não, a Magia têm os seus perigos. A Bruxaria possui oito caminhos mágicos, independentemente do que as Bruxas modernas possam dizer de que não têm nada a ver

com Magia. Nós temos oito caminhos para a Magia e a prática desses caminhos pode por vezes ser perigosa. Por isso, a Bruxaria não é para toda a gente. É um sacerdócio, e os sacerdotes são homens e mulheres sacerdotes e sacerdotisas, que são formados à parte, eles são diferentes Karagan: Isto leva-me a outra pergunta. Considera-se uma Pagã ou uma Bruxa? Maxine: Bruxa. Suponho que hoje em dia, tenho de aceitar a palavra mais abrangente Pagã- que inclui tudo, e não fico tão indignada como costumava ficar, quando alguém me dizia -«Ah, então você é pagã!» Karagan: Uma das coisas que ouço e vejo muito é pessoas que dizem e fazem coisas muito disparatadas e que dizem, «Eu estou a fazer isto porque a Arte têm de sobreviver, e se não o fizermos a Arte irá morrer.» Qual é o seu comentário acerca deste tipo de afirmações? Maxine: A Humanidade irá sempre querer trabalhar a Arte Mágica, irão sempre haver pessoas que se sentem atraídas pelas Artes Magicas. A Arte irá sobreviver. Mas, está a mudar, existem "velhos do restelo" como eu que dizem, «Esta foi a minha maneira, foi mais pura»… - quando o disserem mantenham as coisas simples. Claro que nunca é simples. Mas hoje em dia, olhamos para alguns rituais e… são muito complexos, e são muitos duros para com os estudantes. E, isto não é acerca de ser duro para com os estudantes, é acerca de trabalhar a Magia e de adorar o nosso Deus e a nossa Deusa. Por isso é que nós aprofundamos e trabalhamos a Magia. Será que a Arte irá sobreviver sem estes sacerdotes e sacerdotisas, sinceros e dedicados, que fazem coisas disparatadas? Claro que sim. A Arte sobreviveria sem que Gardner aparecesse, Sanders aparecesse, sem que qualquer pessoa aparecesse, ela continuaria a ser praticada, é uma prática secreta. Karagan: Acha que a maior parte das Bruxas possui uma apreciação e um entendimento completo acerca do que é a sua História?


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Maxine: Bem, eu não tinha. Por isso, porque haveriam elas de ter?! Eu conheci algumas pessoas que me disseram «Eu pensei que você já tivesse morrido». Porque deveriam elas? O importante, o mais importante na Arte, é aquilo que está a acontecer no seu Círculo, não é no Círculo de outras pessoas, mas no seu Círculo. Karagan: Há aquele tipo de coisas que uma pessoa diz e com que brinca quando se sabe que a pessoa é um Bruxo/a que é saber se é uma Bruxa boa ou uma Bruxa má. Que tipo de Bruxa é você Maxine, uma Bruxa boa ou uma Bruxa má? Maxine: (suspiro) Eu esforço-me muito para ser boa na Arte que pratico, e não sou a melhor, nem de longe. Quero dizer, trabalhei com alguns Sacerdotes e Sacerdotisas que são realmente brilhantes. E, que são completamente naturais nisso. Para mim não foi natural, eu tive de aprender e tive de passar através de vários obstáculos para aprender. Conheço Bruxas melhores do que eu. Mas, se sou má? Tento não ser má. Sei que tenho alguns momentos de malvadez, mas felizmente, espero eu, é no humor e não na realidade.

“O importante, o mais importante na Arte, é aquilo que está a acontecer no seu Círculo”

se se vai ensinar a Arte da Magia deve-se ensinar todas as cores, todos os aspetos. Não adianta ser uma Bruxa Branca e dizer «Sim, eu trato desta Maldição para si», se não se souber o que fez a Maldição, "saber" é algo poderoso por isso sim, eu ensino as Maldições. Eu acho que é mesmo muito, muito, importante aprender as Artes de Amaldiçoar, ensina-nos a conhecer as profundidades de nós mesmos.

“Alex e eu éramos bons a apresentar ou a representar naquele tempo específico, éramos bons a trazê-lo ao mundo” Karagan: Muitos dizem que você e o Alex escreveram o livro "On Witchcraft and Magic", têm alguns livros preferidos sobre Ocultismo? Maxine: Não acho que o Alex e eu tenhamos ensinado alguma coisa, muito menos sobre Bruxaria e Magia, de todo. Éramos bons a apresentar ou a representar naquele tempo específico, éramos bons a trazê-lo ao mundo, onde as pessoas sabiam o que era e que estava a acontecer e aqueles que queriam fazer parte daquilo ou ser iniciados sabiam que estava ali. Nós revelamos as coisas. E eu gosto da Dion Fortune, é a minha autora favorita de longe. Karagan: É verdade que faz consultas de tarot por telefone e que é muito selectiva acerca dos seus clientes?

Karagan: Acredita na Lei Tríplice? Maxine: Sim, quando mais velha fico, mais provas tenho dela. Karagan: A maior parte dos pagãos contemporâneos. E estou a usar o termo pagãos, porque é como disse uma palavra abrangente, por isso, estou a incluir toda a gente, e não apenas Bruxas. A maioria deles (pagãos) condena as Maldições, porque lembra-se de "desde que não prejudiques ninguém", o que pensa acerca das Maldições? Maxine: Eu ensino as Maldições. Acho que,

Maxine: Não, não é verdade. Não uso o tarot há anos. Eu prefiro não o fazer. Não faço consultas com o Tarot, mas costumava fazê-lo. E era quase como uma curva de aprendizagem porque estava a trabalhar com o Tarot em Meditação, com os aspetos meditacionais na minha vida e era uma boa maneira de o usar para adivinhação. Mas, não o faço atualmente, mas tenho clientes. A maior parte dos meus clientes fica comigo durante bastante tempo, e eu faço aconselhamento sobre como ficar rico. (risos) Eu gosto que os meus clientes sejam muito ricos. (risos) Ou aconselho, simplesmente,


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acerca de como sobreviver. Se eles precisam de alguém para os ajudar e lhes dar esperança, essa é uma das minhas funções como sacerdotisa. Se alguém bate à minha porta e precisa de ajuda, o meu trabalho como sacerdotisa é de empoderar essa pessoa. Penso que isso é parte de ser sacerdotisa. Mas sim, eu tenho clientes, mas já não uso o tarot. Karagan: Houve rumores ao longo dos anos acerca do interesse da família real no Oculto, isto é verdade? Maxine: Bem, poderia "dançar" com isso de inúmeras formas, mas prefiro não responder de todo. Pense o que quiser a partir daí. Karagan: (risos) Ok, vou fazer isso. Acha que a Bruxaria ainda é um assunto controverso? Maxine: Humm, é uma pergunta interessante e não sei bem como responder. Onde haveria uma controvérsia? Penso que as pessoas ainda estão interessadas. Não, não acho que haja uma controvérsia, mas posso estar enganada. Depende do lugar onde a pessoa está no Mundo, depende se está num local muito cristão, ou muito religioso, não necessariamente cristão. Mas não, não encontro pessoas assim hoje em dia. Karagan: Agora, porque a Bruxaria é um culto à fertilidade, existe um lugar para homens e mulheres homossexuais, na Arte hoje em dia? Maxine: Bem, o Alex era bissexual, não que eu acredite em "bi" ou "homo", ou o que seja, eu acredito na sexualidade. E nós chegamos a um momento que sabemos qual é a nossa sexualidade. Alguns dos melhores sacerdotes com quem já trabalhei são homossexuais. E, eles parecem lidar com a Magia e ter uma compreensão da Magia mais rápida do que por exemplo um homem "hetero". Mas, não, não penso que isso importe de todo. Karagan: O que pensa acerca da Iniciação do mesmo sexo? Maxine: As Iniciações do mesmo sexo estão bem em outros cultos. Mas não são Iniciações em Bruxaria. Por is-

so, o que penso acerca disso? É-me indiferente. As pessoas fazem aquilo que entendem, desde que não lhe chamem Bruxaria quando fazem Iniciações do mesmo sexo. Karagan: Em 2011, você trabalhou com a Editora Logios para publicar uma nova versão da gravação de "A Witch is Born" contudo houveram algumas mudanças significativas em relação ao original, sobretudo a remoção digital das vozes de Stewart e Janet Farrar, pode falar acerca do porquê da necessidade destas mudanças?

“Alguns dos melhores sacerdotes com quem já trabalhei são homossexuais. E, eles parecem lidar com a Magia e ter uma compreensão da Magia mais rápida do que por exemplo um homem «hetero»” Maxine: Penso que foi uma gravação maravilhosa quando foi feita, foi a primeira do seu género, foi realmente poderosa. E era apropriada àquele momento. Quando ouvimos hoje, parece muito antiquado e realmente é antiquado. Falava acerca de "signposts". Agora uma pessoa pode pesquisar na Internet sobre onde encontrar a "Bruxa local". Há coisas na Internet que tornam as coisas tão fáceis. Já não é tanto acerca dos "signposts", mas sim o que são? Quais são os básicos disso? E uma vez dominados os básicos, o comentário não era relevante aplicado aos dias de hoje. Tudo o que posso fazer é louvar a gravação original, mas há coisas que já não são relevantes hoje. "A Witch is Born" - o título ainda é relevante. Contudo, os comentários no novo CD são muito mais informativos sobre acerca daquilo que se passa nos círculos, do que aquele de há anos atrás. Não se tratou de nada contra o Stewart, de todo, ele fez um trabalho brilhante. Mas já não era para esta época. Karagan: Há algumas pessoas que pensam e acreditam que esta gravação em particular, e


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que este novo CD, é "ultrajante", quer dizer, «como é que se pode revelar coisas que são supostamente uma Iniciação e rituais sagrados da Bruxaria»? «Como é que você se atreve a revelar estas coisas?» Também encontrou a esta mesma reacção aquando da primeira gravação? E o que pensa sobre isto? Maxine: Bem, não acho que revele tudo, de qualquer forma. Eu sei de certas pessoas que iam receber a Iniciação e que se sentavam na casa de banho a ler o livro do Stewart e da Janet Farrar antes do Círculo lhes dizer que trabalhos se iam passar nessa noite. Suponho que as pessoas que ouçam a gravação possam retirar coisas para melhorar o seu próprio círculo e trabalho ritual. Mas, para os não-iniciados, se eles ouvirem, podem copiar mas não sinto preocupações. Se eles copiarem e algo correr mal, bem, é porque não eram dignos da Arte de qualquer forma. Karagan: É fã do trabalho de Stewart? Maxine: Eu adorava o Stewart, eu absolutamente adorava-o. E tínhamos muito boas relações. Se gosto do seu trabalho? Não, não gosto de todo o seu trabalho. Mas achava os primeiros trabalhos excelentes. Os mais modernos, acerca de Bruxaria Progressiva, não são para mim. Serão para muitas pessoas, mas não para mim. Porque eu sou da opinião, e este era um dos desentendimentos que eu e o Stewart tínhamos, eu acredito que a Arte é para "os poucos" e ele era da opinião de que era “para todos”. Mas, não podemos todos ser sacerdotes e sacerdotisas e não podemos estar todos apaixonados pela Arte Mágica.

“Mas, não podemos todos ser sacerdotes e sacerdotisas e não podemos estar todos apaixonados pela Arte Mágica” Karagan: A Janet e o Stewart são os seus mais bem conhecidos estudantes, assim como de Alex. Ele e Janet eram bons estudan-

tes? É engraçado, eu não me lembro assim tanto acerca deles. Eles estiveram…, bem a Janet só esteve lá dez meses aparentemente. Eu sei que ela adorava toda a publicidade, ela sentia-se como um peixe na água. Mas eu não a conhecia muito bem. Conhecia melhor o Stewart, porque ele já estava com o grupo antes da Janet aparecer. De fato, eles conheceram-se no grupo. O Stewart era muito atento, era um bom estudante. Karagan: Você já respondeu a esta pergunta, se ainda praticava Bruxaria hoje em dia, foi uma das perguntas que alguém me fez. «Será que a Maxine ainda está a praticar Bruxaria?» Maxine: (risos) Penso que nunca irei parar. O meu Conventículo, bem não é meu, eu pertenço ao Conventículo dos Anciãos, e como eu disse bem, alguns vão deixando de aparecer, porque vamos todos ficando mais velhos, mas sim claro que continuo a praticar. Karagan: O que é que a Maxine fez para se divertir? Maxine: Bem, quanto mais velha fico, mais me apercebo que não quero voltar para esta vivência mundana, prefiro ir para um sítio feito de som e cor. Sabe, parece ser muito importante para as pessoas mais velhas divertirem-se. Eu divirto-me quando deixo cair um chapéu. (risos) Eu fui abençoada com sentido de humor, fui abençoada com optimismo e sinto que fui abençoada com o gene da felicidade. Por isso, é como digo consigo divertirme todas as manhãs, há sempre riso na minha casa. Mas aquilo que adoro mesmo, suponho que seja caminhar nas colinas, sim é isso. Mas não preciso de ir assim tão longe para me divertir, o riso está sempre perto, é uma bênção. Mas eu não quero estar divertida a toda a hora, não quero fazer apenas coisas para a minha própria satisfação. Esta energia de auto-satisfação pela qual o Mundo está apaixonado agora passa-me ao lado. Karagan: O que diria a alguém que é sincero e está genuinamente interessado em Wicca Tradicional? Maxine: Diria, «oh vai-te embora, vai-te diver-


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tir bocado». Quando diz tradicional eu assumo que está a falar acerca de como eu pratiquei.

am will rise to the top" (1), parece uma contradição mas é o que tenho encontrado. Karagan: Obrigado pela entrevista Maxine.

Karagan: Sim. Maxine: Eu diria e é o que digo às pessoas. É um trabalho muito duro. E hoje em dia as pessoas não têm uma vocação tão forte quanto antes. Querem cada vez menos, querem as coisas de forma mais fácil. Faço Iniciações muito raramente, de fato, não faço Iniciações há anos. Há muitos Conventículos mais jovens que fazem isso e temos jovens Bruxas/os brilhantes que aparecem e que são maravilhosos. Como eles acabam por ser tão brilhantes, por possuir tanto conhecimento e serem tão poderosos eu realmente não sei, porque os Iniciadores eram um disparate. Por isso é só para lhe mostrar que "the cre-

Maxine: Não foi de todo doloroso. (risos) Obrigada.

Nota da tradutora: (1)

Expressão idiomática inglesa que indica que uma pessoa ou ideia de mérito e valor não podem passar despercebidas durante muito tempo, tal como a nata do leite que fica à superfície quando é colocada no chá ou no café.

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Anima Mystica recomenda: “Casa Claridade” O Casa Claridade é um blogue dedicado à "magia" quotidiana. Às pequenas coisas que dão qualidade de vida ou que simplesmente fazem sorrir. De histórias para crianças, a feng shui, plantas e cozinha, a variedade de temas abordados é grande mas centra-se no universo da autora. (Texto extraído de http://www.ionline.pt/ Ler texto completo aqui)

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Projecto “Caminho Mágico” O Caminho Mágico é um site voltado para o Paganismo e Sociedade, com um leque variado de temas que vai desde Sociedade, Feminismo, Vertentes Pagãs, Tradições e Costumes, Festivais, Saúde, Herbalismo e muito, muito mais, disponibilizando aos seus leitores colunas temáticas, um calendário de eventos e de celebrações, das mais diversas vertentes, e uma loja online esotérica com diversos produtos artesanais.

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Exorcizando a simbologia da Suástica na compreensão do Absoluto Valquíria Valhalladur * "O curso tangencial da progressão material e espiritual é em todos os países simbolizado pela cruz suástica, emblema fatal de terror supersticioso para os não-iniciados de todas as épocas; a roda quebra-se perpetuamente e é perpetuamente renovada pela humanidade, que se sacrifica na dor e exulta no prazer; tem sido o segredo inexprimível dos tempos". Rufus E. Moore, em Revista da Inteligência Metafísica (1897)

É chegado o momento de falar abertamente e sem juízos de valor sobre o profundo significado da Suástica. Transformado em emblema maligno, perdeu-se o rasto do real brilho de um dos mais prístinos símbolos da mitologia criativa da Humanidade. A utilização obcecada pela faceta oculta hitleriana espoliou a Suástica do "altar" onde reina o Deus Absoluto. Aliás, terá sido este conteúdo de força, dinamismo e poder que alimentou a soberba do regime Nazi. Lamenta-se a apropriação perversa do simbolismo de um emblema sacrossanto e universal, de cuja essência emana Luz e Sabedoria. Suástica (1) é uma palavra de origem sânscrita que se materializa num símbolo sagrado de boa fortuna, prosperidade e felicidade, e carrega o âmago espiritual de Vishnu, a divindade hindu que simboliza a totalidade e, por isso, encarnando a sustentação, proteção, e manutenção do universo. Vishnu é a ordem cósmica e está presente em cada átomo da criação. A forma pictórica da suástica tem idêntica simbologia aos quatro braços de

Vishnu a espalhar a energia em várias direções, sempre com um propósito construtivo e integrando, para tal, uma colaboração feminina - a deusa Lakshmi é representada aos seus pés. A etimologia de Vishnu vem de "impregnar" e de "penetrar", e habita no interior do núcleo de todas as coisas - vive no coração dos seres vivos. Deus de Todos os Sacrifícios, Vishnu é entidade divina que preside ao Yajna Purusa: Fogo Sacrificial que concede Sabedoria. Vishnu é o iluminador do Mundo.

Suástica serpentiforme encontrada no Castro de Guifões, em Matosinhos

O centro ígneo: Fogo-Princípio Segundo a teoria de Émile-Louis Burnouf (2), autor de Science des Religions, a suástica

* Sobre a autora: Valquíria Valhalladur é pseudónimo de Maria Cristina Ferreira Aguiar, nascida do Porto, e com o qual assina o seu primeiro livro “As Moradas Secretas de Odin”, publicado pela Madras Editora, em 2007, e desta forma deu conhecer os seus estudos em Mitologia Nórdica. A partir deste intróito, desenvolveu os conhecimentos em Posturas Rúnicas (Stadhagaldr) em workshops, e acrescentou mais uma criação, desta feita, “As Máscaras da Grande Deusa”, com a chancela da Zéfiro Editora, em 2011, mas já assinado com o nome de jornalista Cristina Gaia (Anselm Feuerbach, Gaea,1875) Aguiar. A autora pode ser contactada através de seu email: aguiar_cristina@hotmail.com


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seria um objeto em madeira; e no ponto de intercessão da cruz havia uma cavidade onde entrava a ponta de uma outra peça de madeira, Arani, que quando apertada, de modo a criar um movimento de rotação rápido, inflamava-se por fricção. E assim se produzia o fogo sagrado de Agni. Arani é a deusa hindu do Fogo Sexual, o equivalente à runa Ingwaz, cuja essência alude a tudo o que é fértil, de potência latente e criativa, pronta a espoletar. Ingwaz contém a força do Fogo Primal, cujo simbolismo sobreviveu na inglenook, lareira medieval, substituta das fogueiras ao ar livre. A lareira é o centro de vida e união; centro solar que aproxima os seres.

“Suástica é uma palavra de origem sânscrita que se materializa num símbolo sagrado de boa fortuna, prosperidade e felicidade”

O fogo por fricção é o remoto indício da união sexual na produção do fogo original, puro. O elemento ígneo age no âmago de cada coisa: separa as impurezas; alimenta a vontade, desperta o desejo, direcionando a intenção, move a paixão. O centro é onde arde o fogoprincípio, do qual resulta toda a ação criadora. A equação do fogo-vida forma a base do sistema de Paracelso: o fogo é vida e o que tem origem aqui possui o germe de vida. Neste sentido, a destruição pela combustão não é mais do que a manifestação da renovação, um novo estado físico ou ontológico. A suástica simboliza, pois, a ação, a manifestação; o ciclo e o processo de regeneração perpétua. Um dos símbolos mais antigos do mundo de origem ariana, a cruz suástica reproduz a rotação da energia, e assim se movimenta também a Roda da Vida, o vórtice simbólico que, ao girar, desenha no éter uma dupla espiral. René Guénon vê uma relação íntima entre a espiral dupla, a dicotomia yin-yang, e a rotação helicoidal da suástica. "Pode considerarse como sendo a projeção plana dos dois hemisférios do Andrógino, e oferece a imagem do ritmo alternado da evolução e da involu-

ção, do nascimento e da morte (…) são as duas metades do "Ovo do Mundo", e tem o mesmo sentido de rotação da suástica, já que representam a revolução do mundo em torno do seu eixo". O Centro Imutável: a Luz Cósmica A suástica representa a luz concedida pela divindade omnipotente quer seja essa Manu, Buda ou Brama do Oriente, ou Thor ou Zeus do Ocidente. O seu grafismo indica um movimento de rotação em torno de um centro imóvel, onde habita o deus supremo ou se localiza o polo superior. A suástica é o selo que concentra a Inteligência Cósmica da qual emana a Luz Espiritual e formula a Lei que regula os ciclos cósmicos e humanos. É equipolente à noção esotérica da montanha sagrada, ponto de unificação do céu com a Terra, ou seja, o centro do Mundo, o Imutável, e sobre ele brilha a estrela polar – o polo celeste. No monte Hissarlik, terreno da velha Troia, foram recuperados vários espécimes de suásticas na maioria com um buraco no centro, recriando eixos espiralados. Trata-se do ponto onde a criação começou. É, portanto, a origem. Em alguns mitos criacionais, a vida é gerada pela ação do calor, luz ou fogo sobre a água, onde se concentra a matéria não-manifestada. George Dumézil carateriza Heimdall como “o primeiro Deus; o inicial”, o que nasceu no princípio dos Tempos, sendo, por essa razão, um importante arquétipo da Criação. Incluído no panteão nórdico, Heimdall é uma divindade pouco pujante e nem sequer está no topo da hierarquia, no entanto é o arquiteto da Humanidade, o fundador de linhagens e tem uma função escatológica - é ele que alerta os deuses da invasão dos agentes do caos no Ragnarök. Ele está na origem e no fim do Mundo. O seu habitat mitológico em Himinbjorg, montanha celeste, junto à ponte Bifrost, coloca-o no limiar do mundo divino e no limite da Terra - no topo do eixo central para onde aponta, precisamente, Tiwaz. Esta runa

“A suástica simboliza, a ação, a manifestação; o ciclo e o processo de regeneração perpétua.”


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exemplifica, no FUTHARK, a estrela polar, e indica o centro absoluto em torno do qual gira o firmamento, que é o mesmo que o trono de Deus, a essência do Universo, no fundo inspira o triunfo da luminosidade sobre as trevas. A suástica representa o poder sobrenatural do deus Supremo a expandir-se contra os seus inimigos. É uma força poderosa e criadora. Heimdall simboliza este núcleo que brilha no Alto e a através do qual toda a energia flui e ativa a vida orgânica, sendo o mesmo ponto central que anima a Suástica. Heimdall significa “o que ilumina o Mundo” e é descrito como sendo o deus da Luz e do brilho, e compõe o mitologema do fogo e da distinção das classes sociais do hindu Agni (3). O fogo transporta o conceito de pureza e de sagrado pela sua origem na divindade e, infelizmente, foi corrompida pelo contacto com elementos inadequados e ciosos pelo poder. Heimdall e Agni tornaram-se os primeiros sacerdotes e ensinaram ao Homem a organizar-se em comunidade, segundo uma lei hierárquica, e como reunir-se socialmente em torno das lareiras. Bifrost é o arco-íris, "a ponte celeste", símbolo que religa o mundo sensível ao suprassensível. Heimdall é o mediador ou o pontífice, "o construtor de pontes", que nos ajuda a estabelecer comunicação com planos transumanos e ergue a tocha que nos ilumina no trajeto de transição do terrestre para o suprassensível.

Heimdall rege Mannaz, "Humanidade", "Homem", runa que sintetiza os assuntos administrativos, sociais e comunitários; além de indicar a ideia de androginato, numa alusão ao estado original no momento inicial da criação. O laço Yin-Yang volta a aparecer aqui. Na fusão no conflito das polaridades manifesta-se o centro, o poder Absoluto. A ponte completa-se.

Emblema de Cristo, nos encontros dos primeiros cristãos nas catacumbas, de Buda, já que representa a Roda da Lei. Os tibetanos executam rituais com velas recriando a forma de uma cruz suástica, ficando o Lama, "o superior", sentado no seu centro, como que girando simbolicamente em torno do seu centro imutável e que frequentemente representa Agni, deus hindu do Fogo Sagrado. Encontramos suásticas nos podomorfos esculpidos nas rochas a personificar as pegadas santas de Buda pelo mundo, traçando os trilhos do Nobre Caminho Óctuplo do Budismo: a roda do Dharma de oito aros, aludindo à rotatividade do puro potencial de transcendência. No glossário Anglo-Saxão e Escandinavo, aparece como fylfot, a roda dos quatro pés: do norreno fiöl, cheio, e fot, pé, sendo, em alguns casos, insculpida como uma cruz de braços pediformes. A passagem do Omnipotente pelo plano terrestre ficava assim gravada na pedra, de resto, o arquivo natural mais utilizado pelo Homem primitivo, durante a sua dialética em atestar a presença do divino e, muito provavelmente, vivenciar uma metanoia. Roda do Sol: Poder Genésico A suástica, também apelidada de cruz gamada (os braços têm a forma da letra grega, Gama), exprime vitória, e tem o poder genésico e curativo do Sol. O fogo é a face simétrica do Sol no plano material, e possui o mesmo significado do círculo: une, fortalece e resume todo o potencial da fertilidade. O Homem recria nas fogueiras o poder solar e com elas atrai a ação fecundante do luminar sobre os solos. Apolo, deus Sol, carrega sobre o peito a suástica como se encarnasse os atributos do centro do mundo: o coração é o vórtice vital, solar, ígneo, o motor imóvel que faz mover o corpo. Tanto é a figuração da Roda como do Relâmpago. Júpiter e Thor dominam a sua força, aplicando o seu poder nos domínios mundanos. René Lefort des Ylouses (4) fala da suástica como símbolo familiar para Thor, deus do Trovão, e do celta Taranis, por considerar que a roda descreve o trovejar, ou seja a descarga luminosa do relâmpago.


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Símbolo de ressurreição Usada como decoração em cerâmicas, parece mais relevante a presença em urnas mortuárias da Idade do Bronze, como se fosse um agente dinâmico na transição da alma para o Outro Mundo. As inscrições nos vasos de Dipylon, do período pré-Homérico, são ricas em suásticas de forte pendor religioso. Um desses recipientes representa um cortejo fúnebre, cujas rodas do carro simbolizam a roda solar e onde se misturam suásticas, gansos e cisnes, aves, curiosamente, consagradas ao Sol, e também emblemas de transmigração e ressurreição. Se na Trácia detinha as qualidades do dia, então a suástica continha o mesmo poder de ressuscitar do astro luminoso, que regressa sempre à linha nascente do horizonte após o seu ocaso. A mensagem era clara: "Tu Viverás!" A eternidade estava garantida. Os Sami regulam os ciclos da natureza através da rotação aparente da constelação da Ursa Maior em torno de um eixo, com centro na Polaris - a estrela mais brilhante próxima ao centro, quase não se move. A visão espiritual deste povo setentrional enviava os espíritos para a Estrela Polar, porque as "sementes" necessitam também de trevas para germinarem. O centro aqui é o útero da Mãe Cósmica, de cuja gravidez resulta a vida contínua. Quando a "cauda" da Grande Ursa estiver voltada em direção à Terra, os Sami sabem que é chegada a estação da vida: a primavera. Este movimento ilusório é representado pela suástica, ainda hoje estampa da roupa das mulheres Ob-Úgricas. Começa agora a fazer sentido por que a gammadion aparece a associada a Ishtar, Artémis e a Afrodite. Ela é também um símbolo de energia feminina. A Ursa é solidária à mulher, e quando "desce" ao longo da "cauda" da Ursa Maior, é sinal que os deuses nos enviam as forças palingenésicas. Os mações reconheciam no centro da suástica a estrela polar e as

“A suástica continha o mesmo poder de ressuscitar do astro luminoso, que regressa sempre à linha nascente do horizonte após o seu ocaso.”

quatro gamas formam as quatro posições cardeias da Ursa Maior, na rotação aparente que os olhos singelos dos Sami captavam. O facto de aparecer desenhada sobre a vulva de Artémis Nana, da Caldeia, prova tratar-se de um símbolo gerador, de nascimento, que encontramos na saia de Afrodite e em ornamentos de Ishtar e de Artémis. A suástica não é exclusivamente um símbolo masculino, é também feminino e assim dotado da potência fecundante e multiplicativa. É Yin e Yang, ou as serpentes entrelaçadas do caduceu, símbolo do conhecimento.

“A suástica não é exclusivamente um símbolo masculino, é também feminino e assim dotado da potência fecundante e multiplicativa. É Yin e Yang, ou as serpentes entrelaçadas do caduceu, símbolo do conhecimento.”

As portas que abre em direção ao Absoluto tornaram a suástica na chave secreta de vários círculos esotéricos: Novos Templários Pré-Nazis, a Sociedade Tule, Sociedade Teosófica e a Sociedade Vril. Entre o alto e o baixo não há uma separação, mas sim um incessante fluxo e refluxo, ir e vir. É a dinâmica do Imutável. Símbolo de estima de Carlos Magno e de Hitler, ambos empenhados em impor uma nova ordem, um novo comando. A tentativa desmedida e destrutiva de tomar posse do Rei do Mundo, Aquele que não pertence a ninguém. A suástica de Carlos Magno girava no sentido direto astronómico, cósmico, e portanto ligado ao transcendente; a de Hitler, no sentido inverso pretende colocar a infinitude e o sagrado no plano temporal e no profano (matéria), em prol de interesses egocêntricos. Emblema do Conhecimento Universal Esta imagem não é exclusiva a uma cultura, ela tornou-se pansofical e é profusamente encontrada na arte chinesa, indiana, escandina-


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va, da América do Sul e até como motivo decorativo nos castros de Sabroso, Briteiros e de Guifões (esta muito interessante com duas figurações serpentiformes), em Portugal. A suástica foi sobrevivendo como amuleto, talismã e até como marcador de gado, mas a cisão da consciência espiritual como valência cognitiva do ser humano eliminou da memória o sincronismo deste símbolo com a cruz e o círculo no sistema de comunicação com o divino. A mundividência do Homem primitivo deixou-nos um legado pictórico sobre o seu entendimento do Cosmo e criou uma ciência semiótica de conexão com o supraterrestre, ao mesmo tempo, fortaleceu o sentido de coletivo.

ção; embora não lhe seja objetivamente atribuído, Heimdall comporta a mesma pureza do fogo, pela particularidade de ser "brilhante" e porque combate com Loki, o deus do fogo destrutivo, no final dos Tempos. Heimdall apresenta-se com o nome de Rig, e dorme, três noites e em momentos diferentes, no meio de três casais, e assim nasceram os escravos, os agricultores e os nobres. O três é um número da criação. (4)

La Roue, le Swastika et la Spirale comme Symboles du Tornerre te de la Foudre, no boletim de Academie des Inscriptions et Belles-Lettres, nº 2, 1949.

Bibliografia: BACHELARD, Gaston, A Psicanálise do Fogo, Litoral Edições.

Notas da Autora: (1)

(2)

(3)

Su = bom; Va = em todo o lado; Asti = ser; Ka = felicidade. Swastica, em sânscrito, deriva da palavra svasti que significa "boa sorte" ou "tudo está bem". Esta teoria foi considerada pela maioria de académicos, e de alguns de esoteristas como René Guénon, de fantasista, de qualquer forma entendeu pertinente neste contexto. A função mitológica do hindu Agni é idêntica à do escandinavo Heimdall: ambos viajaram longas distâncias, atravessando o mar, com a missão de instruir e dividir a humanidade por categorias funcionais. Agni transmitiu o segredo da criação do fogo por fric-

D'ALVIELLA, Goblet, Migration of Symbols, Kessinger Publishing's. DUMÉZIL, George, Gods of the Ancient Northmen, University of California Press. ELIADE, Mircea, El Mito del Eterno Retorno, Alianza Editorial. GUÉNON, René The Great Triad Sophia Perennis 1964; O Rei do Mundo. Edições 70. HEISKANEN, Irma Dreaming, Bear Spirit, and Finno-Ugric Women's Handicrafts, artigo incluso em Wo(men) and Bears, The Gifts of Nature, Culture and Gender Revisited, editado por Kaarina Kailo.

Próximos eventos da autora no Porto, Tantra Loungue, 13 de abril

Posturas Rúnicas Sobre o curso: A meditação através do uso de posturas psicodinâmicas corporais abre um novo horizonte no contato com as entidades numinosas que se “escondem” num simples símbolo rúnico, cujo significado se manifesta e se expande no subconsciente. O corpo transforma-se no melhor instrumento de captação de energias etéricas com as quais poderemos trabalhar num contexto divinatório e, ao mesmo tempo, ativarmos o processo de autodesenvolvimento. A proposta aqui apresentada visa criar um veículo de revelação dos Mistérios da Natureza a partir de dentro de cada indivíduo, usando para tal os 24 sigilos mágicos do FUTHARK – o sistema de ideogramas utilizado pelos povos antigos de expressão germânica como suporte adivinhatório e de comunicação. Através das experiências individuais, nestes exercícios, vai-se elaborando e enriquecendo um sistema complexo de caracteres de uma linguagem mágica, que se vai incorporando no quotidiano individual. As Runas vão revelando os seus segredos de acordo com as emoções e os sentidos de cada participante.


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Comunicações e Eventos: Portugal Pagão Divulgação do Paganismo em Portugal! Por Um Paganismo Real, Autêntico e Actuante! Página destinada à Divulgação-Partilha de Eventos, Informações, Workshops, Cursos, Revistas, Publicações, Organizações Nacionais e Estrangeiras, Livros, etc. em Portugal!

Consciencia Activa “Para ganhar mais consciência” Grupo de discussão, com documentos em PDF, sobre o despertar da consciência

Eventos da “Casa do Fauno” 31 Março (Dom) - 15h-19h | Inscrições Limitadas Caminhada Herbal: RECONHECIMENTO DE PLANTAS, ÁRVORES E ARBUSTOS MEDICINAIS NA QUINTA DOS LOBOS com FERNANDA BOTELHO A sua Utilização Terapêutica

6 Abril (Sáb) - 15h-18h | Inscrições Limitadas Curso: CURSO DE TEOSOFIA com MADALENA CAVALEIRO & PEDRO TAVARES D’ALMEIDA Espiritualidade e Tradição

7 Abril (Dom) - 15h-19h | Inscrições Limitadas Curso: HERMETISMO, GNOSE E ROSA-CRUZ NO PENSAMENTO OCIDENTAL com RUI FREITAS A Sabedoria do Silêncio

ACTIVIDADES REGULARES Quintas-feiras, 19h-20h | Inscrições Limitadas Aulas: TAI CHI E CHI KUNG com NUNO HENRIQUES Sabia que a antiga arte chinesa do Chi Kung, através das posturas corporais, ajuda a reforçar o sistema imunitário e a afastar as constipações, tão comuns nesta altura do ano? Venha experimentar! A primeira aula é gratuita! + informações aqui

TRILHOS NOCTURNOS DE JIPE - SINTRA ASSOMBRADA Caminhos e Histórias do Outro Mundo com MARIA JOÃO MARTINHO Todos os Sábados (20h-22h / 22h30-00h30) + informações aqui

Informação facilitada por Casa do Fauno Para mais detalhes consulte o site: http://casadofauno.wordpress.com/ © 2012, Zéfiro - Edições e Actividades Culturais | Casa do Fauno | Ishtar - Artes Mágicas


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Eventos do “Espaço danSer” -» Formação de dois novos grupos de Sapateado Americano (iniciação): trabalho aconselhado para ativar e treinar o cérebro. A maior distância a ser percorrida por um impulso nervoso (cérebro – pés) potencia a formação e fortalecimento das sinapses, as ligações que fazem do cérebro uma máquina em constante mutação.

do para o desenvolvimento do nosso caminho espiritual. O curso destina-se a futuros terapeutas de Leitura da Aura, bem como a todos os que desejam fazer este trabalho interior, de reconexão com o seu próprio Espírito. Horário: a definir

Horários: 3ªfeira 19:30h / 5ªfeira 21:30h

-» Constelações Familiares: “A Alma sabe sempre o que fazer para se curar. O Desafio é conseguir silenciar a Mente para poder ouvir...”

-» O projeto „Sementes‟ para mamãs e bebés terá o seu início em Maio. Domingos de Mamãs… Consulte o site para mais informações!

Horário: todo o 4º Domingo de cada mês, a partir das 15h

-» Dança dos Sentidos (formação de novos grupos): “Parta ao encontro da leveza, sinta cada pedacinho do corpo ficar leve e respirar por si... Permita-se Ser no movimento, permita-se… danSer.” YouTube: Ser um danSer Horários: 5ª feira 19:30h, existirão mais horários disponíveis, às 8h e por volta das 13h, em dias a definir

-» "Código Astrológico”: Formação em Astrologia Evolutiva, para aprender a interpretar a estrada da vida:). Estes encontros são para aqueles que gostam de Astrologia, procurando conhecer-se e compreender melhor os que os rodeiam. Horário: Sábado de manhã, datas a definir

-» Curso de Leitura da Aura: A Aura é um campo de energia carregado de múltiplas informações provenientes do nosso Espírito. Todos possuímos a capacidade de “ler” energia, sendo essa capacidade naturalmente mais desenvolvida em algumas pessoas. Este curso é um treino intensivo para o desenvolvimento dessa capacidade inata. Ao desbloquear a intuição e a perceção subtil, constitui uma orientação preciosa para melhor compreendermos quem somos, e para assim também compreender o outro, contribuin-

-» Terapias disponíveis: » Massagem Ayurvédica » Tui-Na » Shiatsu » Auriculoterapia » Cristaloterapia » Relaxamento com Aromaterapia » Reflexologia Mãos e Pés com Aromaterapia e Cristais » Psicoterapia (ansiedade, depressão, disfunções sexuais e alimentares) » Terapia Multidimensional » Consultoria em Feng Shui (deslocação ao próprio local) » Astrologia Evolutiva (Mapa Astral, Carta do Céu) » Leitura da Aura » Tarot » Círculo Xamânico » Círculo de Cura Om


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A outra face de Deus: Redescobrindo a Deusa* Valentina Ramos * Falar sobre a Deusa implica duas questões importantes: falar do que me identifica como mística, na minha ligação com a espiritualidade e o que faz com que partilhe ideias com outras pessoas que, como eu, reconhecem o aspeto feminino do Divino como um elemento necessário para a expressão do Divino individual; mas supõe também fazer uma declaração importante: o aspeto feminino de Deus implica o reconhecimento de uma polaridade na imagem do que para muitas pessoas se coloca como único e indivisível, o conceito de Deus como o Todo. Quando falamos da Deusa, então, referimo-nos a uma das polaridades, reconhecendo que também existe um aspeto masculino; ao mesmo tempo que nos vamos referir à existência de uma Unidade. Por isso, ainda que ao longo do texto estejam presentes várias Deusas, com isto não queremos dizer que a nossa filosofia relacionada com o espiritual esteja dirigida à adoração politeísta, mas sim, que identificamos nos aspetos das Deusas e Deuses uma única identidade que é, ao mesmo tempo homem e mulher, expansão e contração. A figura da Deusa aparece ao longo de várias culturas, em todo o planeta, e o papel da mulher dentro do culto à Deusa esteve em alguns momentos ameaçado, em outros esquecido, mas, felizmente, veio a ser resgatado como um papel dentro da prática mística dentro das novas tendências neo-pagãs. Quando pensamos na mulher que pratica o misticismo, a primeira ideia que vem à mente de muitas pessoas é a da mulher Bruxa, a realizar feitiços e maus-olhados a todos aqueles que se interpõem no seu caminho,

fazendo pactos com o Diabo e entregando-se a atividades consideradas como satânicas. As mulheres eram aquelas que, pela sua condição débil, pela sua falta de controlo de caráter e pelo seu sentimentalismo eram mais vulneráveis a desejar e a fazer o mal. Infelizmente, estas não só eram ideias da época da Inquisição, onde a caça às bruxas começou como uma forma de controlo do paganismo bem como para disseminar o pensamento católico, mas que também se foram repetindo constantemente ao longo da História, por aqueles considerados eruditos e grandes pensadores.

“O aspeto feminino de Deus implica o reconhecimento de uma polaridade na imagem do que para muitas pessoas se coloca como único e indivisível” No entanto, o que aconteceu com aquelas imagens mais antigas onde a mulher no seu papel de sacerdotisa da Deusa aparecia fazendo oferendas e realizando cultos, pelos quais eram reconhecidas e admiradas? Na antiguidade, nos templos romanos e gregos era comum a imagem da sacerdotisa nos templos. No caso de Roma, as sacerdotisas mais conhecidas eram as vestais, as sacerdotisas de Vesta (ou Héstia para os gregos). Estas mulheres eram virgens que tinham a função de guardar o fogo sagrado. Provavel-

*Tradução por Maria Antónia ** Sobre a autora: Valentina Ramos é licenciada em Psicologia, Mestre em Comunicação e estudante de Doutoramento em Psicologia. É iniciada em varias escolas esotéricas e membro da Federação Pagã Internacional, com sede em Portugal desde 2010. A autora pode ser contactada através de seu email: valia.ramos@gmail.com


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mente eram filhas de reis e eram reconhecidas como sagradas pela sua condição, pelo que eram convidadas a determinadas atividades como assistir a jogos. O equivalente das Vestais em Roma eram as sacerdotisas de Deméter, na Grécia. Em Roma não se conheciam outras manifestações do sacerdócio feminino, de fato, existiam muitas Deusas, mas eram os homens que eram reconhecidos como seus sacerdotes. Em especial, o papel da esposa do sacerdote de Juno era tido em alta estima, mas ela não era considerada como sacerdotisa de Juno (1).

“Para muitos dos neopagãos que estão a favor da expansão do culto da Deusa , aquilo que estamos a viver na atualidade é um reconhecimento de uma alternativa de vida que aparece como sucedânea do sistema patriarcal caracterizado por guerras e agressões”

Na Grécia, enquanto parecia natural que as Deusas fossem adoradas por sacerdotisas pelo que a presença destas nos templos era muito mais comum, e não apenas sob a forma de virgens. Os papéis destinados às sacerdotisas podiam variar desde atender ao templo, até desempenhar um papel mais dramático dentro do processo ritualístico. Desta forma, as sacerdotisas de Deméter muitas vezes apareciam sentadas nos tronos como representações da Deusa, enquanto o sacerdote fazia o resto das atividades; no templo de Delfos, era a sacerdotisa quem servia como a voz do oráculo, - eram conhecidas como as Pítias; no templo de Corinto, a sacerdotisa de Poseídon era uma virgem até que tivesse idade para se casar, enquanto no templo de Atena as sacerdotisas inicialmente eram virgens, mas posteriormente foram substituídas por mulheres viúvas. Assim, seguem-se uma série de sacerdotisas na Grécia, que alternavam o seu papel com os sacerdotes e, muitas

vezes complementavam-no, tomando como exemplo as formas de expressão sacerdotal do Egipto. Para muitos dos que atualmente propõem o culto à Deusa como forma de expressão da sua espiritualidade, as origens do culto remontam ao Paleolítico, onde se descobriram as primeiras estátuas representando aspetos femininos, reconhecidas como estátuas de Deusas. As primeiras ideias relacionadas com uma antiga sociedade matriarcal aparecem no século XIX, mas são resgatadas durante a década dos anos 60, com o auge do Movimento Feminista. A arqueóloga Marija Gimbutas volta a este tema propondo a ideia de que a existência destas pequenas estátuas de Deusas indicava um culto ao feminino, e por isso, um forte culto à mulher, com o qual a opção mais lógica a seguir era a da existência de uma sociedade matriarcal. Esta mesma autora explica o passagem do matriarcado ao patriarcado como consequência das guerras que se começaram a desenvolver entre as tribos, onde os homens acabaram por dominar as mulheres, impondo um sistema que chega até aos nossos dias. Para muitos dos neopagãos que estão a favor da expansão do culto da Deusa e, para muitos do Movimento Feminista da década dos anos 60-70, aquilo que estamos a viver na atualidade é uma busca pelas nossas raízes, é um reconhecimento de uma alternativa de vida que aparece como sucedânea do sistema patriarcal caracterizado por guerras e agressões. Esta proposta tem sido uma das mais abordadas e apresentada pelo meio académico. No entanto, há cerca de 20 anos, novos investigadores apareceram tentando reformular a ideia de uma sociedade matriarcal nos seus inícios, por uma outra proposta que permite compreender melhor tanto o fenómeno arqueológico, como o fenómeno místico pelo qual a humanidade passou até aos nossos dias. Em 2000, Cynthia Eller, antropóloga norteamericana, publica um livro com o objetivo de demonstrar que a proposta matriarcal era uma "mentira nobre" que muitos utilizavam, mas que não se justificava que continuasse como forma de explicação de uma necessidade de reconhecimento das mulheres. Para ela, a existência tanto de estátuas femininas como masculinas implica que o culto estivesse, não apenas destinado às mulheres, mas


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também aos homens, de acordo com a função de cada um deles. Deste modo, a sociedade paleolítica estava definida por uma igualdade de papéis mais que por um matriarcado, a qual foi sucedida por uma sociedade onde o papel masculino começou a ser mais reconhecido que o feminino e não por um patriarcado como tal. Nesta era onde predominou o papel masculino, o homem começou a ter uma prevalência sobre a mulher porque os papéis se encontravam desarmonizados e desequilibrados. Por isso, hoje em dia, com o culto à Deusa que começa a aparecer, encontramos mais um reconhecimento na sociedade atual em que vivemos, da necessidade de uma harmonização com o aspeto feminino derivada desta desigualdade de papéis, do que um reconhecimento a um culto matriarcal do passado (2). A mim pessoalmente, a ideia de que o culto da Deusa seja uma necessidade do homem agrada-me. Na realidade, as tradições que reconhecem este culto como a essência da prática, não necessitam procurar no passado remoto argumentos que justifiquem a sua existência. De fato, o homem tem a necessidade de identificar em si mesmo tanto os aspetos relacionados com o comportamento esperado de acordo com o seu sexo, assim como os aspetos relacionados com o comportamento esperado para as pessoas do sexo oposto. Muito antes da sua teoria da "sombra" como aquele elemento do Inconsciente do homem, acerca do qual não quer saber sobre a sua existência mas que forma parte das suas características, Jung propôs a teoria da existência da "Anima" e do “Ânimus" como esses aspetos da psique humana que são opostos ao comportamento esperado de acordo com o género da pessoa (3).

“Tanto nos homens como nas mulheres se verificam ambos, Anima e Ânimus” Uma história relacionada com o descobrimento da Anima é a da aparição de uma voz feminina enquanto Jung meditava depois de ter anotado os seus sonhos, pouco tempo depois de se haver separado de Freud para fazer a

sua vida independente. No início, Jung surpreendeu-se ao reconhecer a voz feminina como uma das suas pacientes, mas, ao mesmo tempo, o conteúdo do que era dito não correspondia a nenhum conhecimento que a sua paciente pudesse ter. Tardou pouco tempo para se dar conta que a voz feminina não era uma voz "externa" mas sim "interna" e reconheceu nessa voz qualidades que não eram aquelas que mais o caracterizavam (pelo menos culturalmente), mas que continuavam a formar parte dele mesmo. Assim, Jung, denominou Anima - do latim "alma" - o aspeto feminino do comportamento masculino, criando uma associação semelhante com o conceito de Ânimus para o aspeto masculino do comportamento feminino.

“Com o culto à Deusa que começa a aparecer, encontramos mais um reconhecimento na sociedade atual em que vivemos, da necessidade de uma harmonização com o aspeto feminino” A Anima então seria caracterizada por uma forte componente emotiva. Um homem com uma Anima “bem canalizada" seria capaz de ser mais criativo que a maioria, pois estaria em contato com os seus sentimentos e saberia expressá-los, como é característico dos artistas, por exemplo; enquanto que uma mulher em contato com o seu Ânimus seria capaz de utilizar mais a Razão, conseguindo controlar e dirigir as atividades próprias e dos demais. Com isto, não quer dizer que a Anima seja exclusiva do homem, pois Jung propõe a ideia de que tanto nos homens como nas mulheres se verificam ambos, Anima e Ânimus. A diferença está em que para os homens o Ânimus se expressa espontaneamente, e o mesmo acontece com a Anima nas mulheres. Segundo Jung, a expressão da Anima no homem, se não estiver bem dirigida, se reconhece como estados de hipersensibilidade e mudanças de humor. No caso, das mulheres com um Ânimus “mal canalizado", se dariam casos


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de excesso de poder e de controlo. Uma das forma de projeção da Anima no homem acontece em relação ao seu cônjugue, pela tendência a procurar no outro as características que se correspondem consigo mesmo, na sua expressão feminina, como forma de complemento. O mesmo aconteceria no caso das mulheres. Apesar da Teoria da Anima e do Ânimus ter servido para que muitas pessoas explicassem determinados comportamentos, sendo mais aplicada à Política (sendo mais atraentes os homens em contacto com a sua Anima, por exemplo, para conseguir mais votos por parte da população geral); autoras como Starhawk reconhecem que isto não satisfaz totalmente a expressão feminina, porque se estaria a considerar que todo o comportamento numa mulher que se possa relacionar com uma forma de conduta culturalmente associada à dos homens seria, então, não uma expressão de elas mesmas, mas sim do aspeto masculino nelas; e eu compartilho desta ideia. Parece-me que o conceito de Anima/ Ânimus de Jung permite explicar o aspeto cultural e a expectativa relacionada com o género que impõe a cultura em que a pessoa se desenvolve, mas é limitativa ao pensar que a única expressão que a mulher pode ter como realmente característica é o que se relaciona com o aspeto emocional do comportamento (4).

“A ideia dos arquétipos femininos relacionados com as várias Deusas permite-nos compreender os vários aspetos que o Feminino divino representa” Jung foi o primeiro a fazer a proposta de três aspetos femininos como arquétipos... (ao que juntamos)...e formas de expressão da Deusa, que podem ser reconhecidas: o arquétipo "Mãe", nas formas de Eva e Maria; o arquétipo "Donzela" na forma de Helena de Tróia e o arquétipo "Anciã" na forma de Sofia, o conhecimento. A ideia dos arquétipos femininos relacionados com as várias Deusas permite-

nos compreender os vários aspetos que o Feminino divino representa. Geralmente, nas propostas encontradas, os aspetos arquetípicos estão vinculados a Deusas gregas, algo que faz sentido de acordo com De Biasi, e que explica no seu livro “The Divine Arcana of the Aurum Solis”. Para De Biasi, foram os gregos os que integraram no seu sistema de culto pagão toda a filosofia hermética e o conhecimento, que reconheciam que existia desde o Antigo Egipto, assim, no culto aos Deuses gregos encontramos, não apenas as representações arquetípicas, mas também um pensamento esotérico e histórico (5). Esta distribuição arquetípica da Deusa em vários aspetos das Deusas gregas (que podem servir como referência para outras Deusas de outras culturas) fez-se uma recompilação delas em seguida: Arquétipos baseados no TRÊS O neopaganismo veio a resgatar o arquétipo da Deusa Tríplice, que já vimos que se manifestou também no pensamento junguiano. Desta forma temos (6): A Donzela: representada em Artemísia, a Caçadora Virgem; A Mãe: representada em Deméter, a mãe que vai em busca da filha (Perséfone) até ao Inframundo para resgatá-la; A Anciã: representada por Hécate, A das Três Caras, a que aponta o caminho a seguir. Arquétipos baseados no QUATRO Este tipo de arquétipos baseia-se na ideia de dois princípios característicos da mulher, o principio elemental e o princípio transformador, encontrando em ambos os princípios elementos negativos e positivos. Deste modo, a Mãe e a Anciã (a Bruxa), são dois pólos opostos do carácter elementar da Deusa, enquanto a Donzela e a Sedutora são dois pólos opostos do princípio transformador (7): A Sedutora: representada por Afrodite, a que cativa pela sua sexualidade;


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Arquétipos baseados no CINCO Esta proposta incorpora um novo arquétipo que para Jung poderia simbolizar a mulher querendo ter um papel de homem, ainda que realmente leve a repensar o conceito de: Ânimus, servindo como uma representação da mulher, uma vez que é reconhecido como uma expressão da Deusa na sua forma de (8): A Guerreira: representada por Atena, que leva a Guerra àqueles que pretendem dominá-la; Não há arquétipos baseados no SEIS, o que nos leva a especular, que provavelmente se deva ao fato de ser geralmente um número associado ao Sol, pelo que é lógico que se tenha reservado este espaço para o Deus. No entanto, não negamos a possibilidade de que mais alguém inclua algum dos arquétipos que vêm a seguir como um complemento do 5.

sico que durante muito tempo deixou de ser reconhecido em práticas baseadas nos sistemas hebraicos: o reconhecimento do elemento Terra (10). Para os estudiosos da Cabála, não será difícil de reconhecer que o elemento Terra não aparece recolhido em nenhum dos textos nem nos nomes hebreus de deus, pois se considerava um elemento demasiado "mundano" para se ter em conta. De Biasi, no seu livro dos Arcanos Divinos comenta sobre a necessidade do reconhecimento da Terra como um elemento mais dentro do pensamento místico. Assim, na procura deste elemento numa tradição esotérica mais antiga que a hebraica - a grega - encontramo -nos, então, com a última proposta da Deusa, completando o resto dos arquétipos já mencionados:

Arquétipos baseados no SETE Aqui incorporam-se dois novos arquétipos (9): A Dona do Lar: representada por Héstia, a Senhora do Fogo Eterno (na cultura egípcia reconhece-se muitas vezes que a palavra Casa também era sinónimo de Templo. Era o caso da Deusa Néftis, a irmã de Ísis, que era conhecida como a Dona do Templo ou a Dona do Lar. Mas sempre, desde a perspetiva da casa/lar/templo, tudo sendo a mesma coisa. Anteriormente, dissemos que as sacerdotisas de Héstia/Véstia em Roma eram chamadas de Vestais. A Poderosa: representada por Hera, a Rainha dos Deuses; Arquétipos baseados no OITO Neste ponto iremos aqui deter-nos por uma razão importante. O número 8 é o número da regeneração, é um número central nas tradições ogdoédricas e por tanto, não vamos encontrar neles mais Deusas do que as já mencionadas, pois no panteão grego não existem muitas Deusas mais. No entanto, a Aurum Solis propõe-nos um resgate ao princípio bá-

Gaia (Anselm Feuerbach, Gaea,1875)


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O princípio criador: Gaia, a Terra. Agora sim, podemos encontrar representações da Deusa não só através das imagens divinas associadas, mas também nos elementos simbólicos que a representam. De acordo com Neumann, existem dois grupos de símbolos associados à Deusa: os símbolos que representam o caráter elemental da Deusa e que se relacionam com a "Forma", e os símbolos que representam o caráter transformador da Deusa e que se relacionam com a "Função". Os símbolos relacionados com a forma são aqueles que expressam as características femininas desde o ponto de vista "físico", sendo equivalentes a partes do corpo tipicamente femininos. Por isso, não é de estranhar que aqui se encontrem símbolos "yónicos" - derivados de yoni/vagina - como as portas, os caldeirões, as profundidades. Por sua vez, os símbolos relacionados com a “função” representam aquilo que distingue a mulher do homem de acordo com a sua capacidade e habilidade no trabalho que se desenvolve dentro e fora do templo. Deste modo, as questões relacionadas com os ciclos, a transformação, a recepção; são elementos que aqueles que reconhecem o princípio feminino seguem e incluem nas suas práticas e adorações. Não é de estranhar, então, que o culto da Deusa reconheça o ciclo solar e o ciclo lunar; assim como que se considere a presença da Sacerdotisa não só como representante da Deusa de acordo com a "forma”, mas também com uma função específica dentro do grupo de acordo com a sua “função”. Na nossa sociedade atual podemos encontrar duas formas de expressão da "Tealogia", considerada como a religião que se baseia no culto à Deusa: uma expressão que se alicerça em crenças pagãs e com uma expressão cristã. O paganismo e o neopaganismo consideram a existência de uma Deusa como aquela expressão da polaridade divina, pelo que aparece como figura individual, com a mesma importância e relevância que outros Deuses que possam estar relacionados na qualidade de consorte, irmão, pai e filho. No entanto, para o cristianismo o culto à Deusa manifesta-se através do culto a Maria.

“Não é de estranhar, então, que o culto da Deusa reconheça o ciclo solar e o ciclo lunar; assim como que se considere a presença da Sacerdotisa não só como representante da Deusa de acordo com a «forma», mas também com uma função específica dentro do grupo de acordo com a sua «função».” Foi o Papa Bonifácio IV o que no ano de 609 decretou o culto a Maria e a todos os santos a partir da conversão de templos pagãos dedicados a Vénus, Júpiter e Marte em Roma, em igrejas cristãs. Desde então, o culto a Maria estendeu-se não só como a Mãe de Jesus, como foi reconhecida nos seus inícios, mas também como a Mãe de Deus, como veio a ser chamada posteriormente. A conversão dos títulos que recebeu Maria na Bíblia por parte da Igreja Católica nas suas versões Grega e Latina foram de "Mãe do Senhor" a "Mãe de Deus", de "serva do Senhor" a "Rainha dos Céus", de "suma favorecida" a "favorecedora". Deste modo, a imagem de Maria tem sido adorada por uma grande parte dos seguidores do cristianismo, especialmente entre os ortodoxos (que utilizam o termo Theotokos/Mãe de Deus), os anglicanos e os católicos; acima da imagem de Cristo. De fato, nas imagens de Maria, o menino Jesus aparece mais como um acessório, enquanto Maria têm um espaço central para o reconhecimento e a adoração. O Papa João Paulo II era um reconhecido devoto de Maria e o Avé Maria é a oração que mais se utiliza, juntamente com o Pai Nosso. Maria é aqui reconhecida como a intermediária entre o humano e o divino (11). Na América Latina reconhece-se o movimento teológico chamado "Marianismo" onde o culto que se faz a Maria é na sua forma de Virgem. Deste modo, a imagem da Virgem aparece muito mais frequentemente que a de outros Santos da Igreja. A forma de adoração


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à Virgem Maria está fortemente enraizada na cultura latina até ao ponto das mulheres imolarem as características de Maria: pureza, castidade e virgindade. Três das maiores aparições reconhecidas pela Igreja de Maria deram-se em Lourdes (França), Fátima (Portugal) e Guadalupe (México) (12). A Deusa encontra-se, então, entre nós, não só na expressão física representada na mulher, não só no culto à natureza e no agradecimento pelas coisas que recebemos e as sementes que plantamos, não só como uma figura sagrada da Igreja. A Deusa é tão sagrada como mundana, é tão católica como pagã, é tão mãe quanto filha, quanto anciã. A Deusa é bela e é feia, é virginal e grotesca. O seu amor é incondicional e imortal, porque Ela esteve desde o início e espera-nos no final do Caminho.

Notas da Autora (1)

http://www.womenpriests.org/related/ hardy.asp

(2)

http://revistagalileu.globo.com/ EditoraGlobo/componentes/article/ edg_article_print/1,3916,938505-17191,00.html

(3)

según C. G. Jung. Ediciones Luciérnaga. Barcelona (4)

Starhawk. La danza en espiral.

(5)

Jean-Louis de Biasi (2011). The Divine Arcana of the Aurum Solis. Using Tarot Talismans for Ritual and Initiation. Llewellyn Publications. Minnesota.

(6)

D. J. Conway (1994). Maiden, Mother and Crone. The Myth and Reality of the Triple Goddess. Llewellyn Publications. Minnesota.

(7)

Erich Neumann (1963). The Great Mother. An analysis of the archetype. Princeton University Press. New Jersey.

(8)

Soror Moonshee, Michael Freedman. The five-fold Goddess.

(9)

http://www.rodademulheres.org.br/pdf/ Ofemininoeseusarquetipos.pdf

(10) Idem ao (5) (11) Philip Schaf (1867). The Rise and Progress of Mariolatry. The contemporary review. Vol IV. Virtue and Co., Londres.

Murray Stein (1998). El mapa del alma

(12) http://www.ewtn.com/faith/teachings/ maryd7.htm

Encontro de Pagãos Este encontro é para todos os interessados na Espiritualidade Pagã, Wicca, Druidismo, Bruxaria, Magia Celta e todos os "caminhos" que celebram o Paganismo. Todos são bem vindos e convidados a participar com opiniões e experiências e para um copo com pessoas que partilham interesses semelhantes. Mais informações em: portopagans@gmail.com ou através da página de Porto Pagans no Facebook

Neste momento encontramo-nos na 3ª Sexta-Feira de cada mês, por volta das 21.30, no Ryan's Irish Pub, na Ribeira do Porto.


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La otra cara de Dios: redescubriendo a la Diosa Autor: Valentina Ramos Língua do texto original: ESPAÑOL Anima Mystica Revista Digital Vol. 2 No 1. pp 30-36 Link para fazer download: http://goo.gl/RFUAb

Transcendent Ineffability and the Non-Existence of Equation D Autor: Frater Waleed Língua do texto original: ENGLISH Anima Mystica Revista Digital Vol. 2 No 1. pp 9-12 Link para fazer download: http://goo.gl/vdOQ1

Curso : Introdução à Cabala A Cabala é um sistema místico-filosófico que trata não só da divindade e sua relação com o homem e a criação, como é também um processo que proporciona mecanismos para organizar e estruturar o pensamento esotérico e a prática mágica. O pensamento cabalístico apresenta várias vertentes, no entanto, o curso centrar-se-á em introduzir vários aspectos teóricos e práticos relativos à tradição esotérica ocidental, sendo a introdução à Cabala Mágica ou Hermética o principal objectivo. O curso é no Capítulo da Ordem Rosacruz AMORC, no Porto Para mais informação pode escrever ao email: am.revistadigital@gmail.com


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Os autores que desejem contribuir para a próxima edição deverão enviar os manuscritos para o endereço de email: am.revistadigital@gmail.com

Os artigos deverão ter uma extensão máxima de cinco páginas (de texto), com letra: Arial 12, espaçamento entre linhas: 1.5, formato: A4, margens: 3 cm, e em formato de Documento de Word (.doc, não .docx). Os artigos em língua portuguesa devem ser escritos preferencialmente segundo as normas do novo acordo ortográfico.


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