Nº 371 Edição Brasil

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ESPECIAL VIAJANTES A NEGÓCIOS

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BRASIL www.americaeconomia.com.br 21 DE JANEIRO, 2008

E D A D ORA

P M E T

S A T R E F O

. s i a i r a s e r p em s a h c n i h c e e p o r i m e e h g r n i u d s e m e s t o v i m t e a u q a i a c r e Crise depr de oportunidades pa coragem. Um mundo

Nº 371

R$ 10




NESTA EDIÇÃO

Nº 371 / 21 DE JANEIRO, 2009 ponto e apresenta cinco sugestões de como os empresários devem enfrentar a crise.

DEBATES 47 Opinião Este ano, a região estará subrrepresentada nos debates de Davos, diz Javier Santiso.

48 I wanna be Obama O novo presidente dos Estados Unidos poderá influir na política da região de formas insuspeitadas.

50 Rasteira social Crise internacional põe em risco o avanço da América Latina na luta contra a pobreza.

52 A grande aposta O governo de Cristina Kirchner usa toda a sua artilharia econômica para sustentar a demanda interna.

O melhor para o executivo que viaja Gadgets imprescindíveis Agenda do ano Tecnologia para não viajar

8 Índice 10 Cartas 12 Memo 13 Pistas 14 Editorial 15 Movimentos 44 Ferramentas 60 Capital Aberto 61 Negócio Fechado 64 Raio X 65 Visões 66 Linha Direta

NEGÓCIOS 35 Temporada de ofertas As empresas com liquidez poderão aproveitar a onda de ativos baratos. 4 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

38 Cancún brasileira A crise econômica coloca os projetos imobiliários do Nordeste brasileiro em risco.

40 Talento local Executivos da região são escalados para liderar multinacionais em seus países.

PMES GLOBAIS 42 Exportações on-line As pequenas empresas ainda aproveitam pouco o potencial da internet para potencializar suas exportações.

46 Opinião Alejandro Ruelas-Gossi vai direto ao

Os fundos mútuos tiveram um 2008 de maus resultados, devido à onda de resgates. Como será 2009?

56 Mercados em reforma Crise e eleições na região podem frear a aprovação de novas regras nos mercados de capitais.

59 Opinião Países latino-americanos com mercados de capitais fortes continuam em pé, diz John Edmunds.

I-BIZ 62 Interfaces A tecnologia de LED, 20 vezes mais eficiente que as lâmpadas convencionais, é uma opção inteligente em defesa da eficiência energética.

63 Para encontrar A empresa argentina Localizar-T desenvolve soluções sob medida com a tecnologia GPS e já chegou até às pistas de esqui.

CAPA: ÁLVARO ARAYA URQUIZA

SEÇÕES

54 Tocaram o fundo? LATINSTOCK

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FINANÇAS


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ENQUETE

VOCÊ ACHA QUE SUA EMPRESA ESTÁ PREPARADA PARA ENFRENTAR A CRISE?

TLCS NA MESA DOS GOVERNOS O ambiente de crise global, aliado à dificuldade de avanços em acordos multilaterais de comércio, como a Rodada de Doha, fará com que a ampliação de tratados bilaterais seja a tendência nos governos da região. Nos últimos anos, uma onda de assinatura de Tratados de Livre Comércio (TLCs) entre países latino-americanos e as principais economias do mundo já varreu o continente, principalmente liderada pelo Chile, e este cenário deve se ampliar. Especialistas explicam a AméricaEconomia.com.br que acordos desse tipo podem funcionar como um instrumento de proteção de crescimento em um ambiente adverso como o que se desenha no médio prazo.

RIQUEZAS DO AQUÍFERO GUARANI Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina acabam de investir US$ 26 milhões no Programa Aquífero Guarani, com ajuda do Banco Mundial. Essa reserva tem grande importância estratégia e ganha agora um plano piloto de estudos conjunto que vai avaliar, entre outros, o impacto da agricultura no Paraguai no aquífero e o uso intenso de suas águas para abastecimento público e industrial em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo.

AINDA NÃO RECEBE? LEIA O QUE ACONTECE NOS PRINCIPAIS SETORES DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS REGIONAIS EM SEU E-MAIL. ASSINE. 6 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

40% NÃO

40% SIM

20% NÃO SEI

QUANDO O FUNDADOR DEVE SAIR? Em artigo para o nosso site, o consultor Pedro Podboi Adachi trata sobre o difícil momento em que o fundador de uma empresa tem que decidir sobre o sucessor. Esta tarefa pode determinar a perpetuidade ou o encerramento dos negócios. O segredo é planejar, com apoio da família e da empresa, além de ter a consciência de se tratar de um processo que consome muito tempo. Leia mais em AmericaEconomia.com.br.



ÍNDICE DE EMPRESAS OS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÁO CITADAS. EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

a-b ABB ..........................................38 Abeceb ......................................52 Accor .........................................46 Ace Tempest..............................13 Acindar......................................35 Aeroméxico ...............................20 Afirma .......................................37 Air France .................................20 Alestra .......................................30 Alpargatas .................................17 Alstom .......................................38 Aman .........................................37 Ambev .......................................16 América Móvil ..........................35 American Airlines .....................21 American Express .....................25 Anhembi....................................25 Anheuser-Busch-Inbev..............16 Aracruz ................................34, 57 Arcor .........................................18 Asarco .......................................35 Aventura Mall ...........................24 Avianca......................................20 Azaléia ......................................34 Bal Harbour...............................24 Banamex....................................25 Banco da Inglaterra ...................62 Banco do Brasil ...................14, 43 Banco do México ......................16 Barcellona Móveis ....................43 BBA ..........................................34 Bienes Turgon ...........................33 Bosch.........................................38 Bradesco....................................16 Brasil Resorts Group .................36 Buenaventura ............................35 c-d Cargill........................................38 Cartier .......................................66 Castiglioni y Tiscorni ................52 Centro Santa Fe .........................24 Cisco ........................................30 Claro....................................18, 25

Coca Cola ..................................41 Colferias ....................................25 Commercial Bank Bermudas ...................16 Computer Toys ..........................44 Correios do Brasil .....................43 Crédito y Caución .....................13 D&S ..........................................13 DBM .........................................38 Delphi........................................33 Dupont.................................18, 38 e-f Ecolatina ...................................52 Electrolux ..................................42 Embraer .....................................14 Entel PCS ..................................25 Enthalpy Chile ..........................31 Everest Re. ................................13 Exante .......................................53 Expo Center Norte ....................25 Falabella ....................................13 Fitch Ratings .............................55 Forexvan....................................16 Forus..........................................34 FundPro.com .............................54 g-h Goodyear ...................................38 Google .......................................63 Grendene ...................................34 Grupo México ...........................35 Gum...........................................66 Heidrick & Struggles ................38 Hogan&Harston ........................34 HP .............................................27 Hra.............................................37 i-k IB Partners.................................35 Intel .....................................18, 30 Intgernet Hotels.com .................17 Investur......................................36 Itacaré capital Partners ..............37 Kentuck Fried Chicken .............66

Korn/Ferry .................................39 l-m LAN ..........................................20 Las Penélope .............................43 Lenovo ......................................27 Lexus .........................................46 Lipack .......................................63 Localizar-T ................................63 Lufthansa...................................20 M&S Consultores......................53 Mall of Americas ......................24 Mastercard.................................25 Mc Donald’s ..............................66 Michael Page .............................38 Mitizi Trading ...........................41 Movistar ....................................25 n-o Nektra Advanced Computing...........................27 Nextel ........................................25 Nokia .........................................25 Office for Visual Interactions..........................62 OI ..............................................25 Olympus ....................................27 Onca Puma ................................35 p-q-r Palm ..........................................27 Panasonic ..................................27 Pão de Açúcar ...........................34 Polycom ....................................31 PricewaterhouseCoopers ...........34 Prince&Cooke ...........................26 Pyramid Research .....................27 Qualcomm .................................18 RGX ..........................................42 Rhodia .......................................38 Ripley ........................................13 Rossia ........................................66 Rouvier y Asociados .................53 s-t-u Sambil .......................................18

Sawgrass Mills ..........................24 Scania ........................................38 Segway ......................................41 Sheraton ...................................25 Shopping Iguatemi ....................24 Siemens ...............................15, 38 Sigdo Koopers ...........................42 Siqueira de Castro Advogados ..........................37 Six Senses .................................37 Somela.......................................42 Sony Ericson .............................25 Soriana ......................................31 Standard & Poor’s .....................34 Stanford Eagle...........................57 Stora Enzo .................................34 Taca ...........................................20 TAM ..........................................20 Tandberg....................................31 Tata ............................................31 Techint.......................................18 Tectoy ........................................18 Telefônica ..................................38 Televisa .....................................35 Tigo ...........................................25 TIM .....................................16, 25 TomTom ....................................63 Toshiba ......................................27 Toyota........................................46 Tozzini Freire Advogados ................................37 Transamérica Expo Center ..................................25 Unilever .....................................38 UPS ...........................................38 v-w-z Vale ...........................................35 Veracel.......................................34 Visa ...........................................25 Vivo ...........................................25 Volkswagen .........................18, 38 Wal-Mart ...................................13 Wong .........................................13 Zap ............................................41

AMÉRICAECONOMIA magazine (USPS #023106) is published biweekly on March, April, May, June, September, October and November, and monthly on January, February, July, August and December in Santiago, Chile by AméricaEconomía. AméricaEconomía is distributed in the United States by DL Distribution Group, 7301 Sw 100 Ct , Miami, FL. 33173-4651 PH: (305) 595-5505. Periodicals Postage paid at Miami, Florida. POSTMASTER: send address changes to DL DISTRIBUTION GROUP 7301 Miami, FL 33173-4651.

8 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2008



CARTAS de 10 anos, o Chile esta modernizando seu poder bélico. O governo peruano deve deixar o lado diplomático e partir para o lado ofensivo, para que não se repita a vergonha da Guerra do Pacifico. (“Peru e Chile tentam aparar arestas diplomáticas”, AméricaEconomia.com.br, 14 de janeiro, 2008) Fredy Garcia, Brasil

Contra a Argentina

Despenalizar o aborto Onde está a evidência para sustentar que os que são contra o aborto são indiferentes aos abortos ilegais? Pelo que sei, muitas das organizações que são contra o aborto trabalham incansavelmente para facilitar os processos de adoção, que é um mecanismo básico para reduzir o número de abortos. (“O efeito ‘cartão vermelho’ de Tabaré”, AméricaEconomia Nº 369, 30 de novembro, 2008) Paradoxalmente, os regimes de adoção costumam ser tão absurdamente exi-

gentes em todos os países da região que parece que seu objetivo fundamental é permitir uma tecnocracia que medra seus gastos ou tornar o aborto mais atrativo para quem padece de “penúrias econômicas”. A verdade é que, quem tenha estudado um pouco a cultura da pobreza saberá que os realmente pobres não abortam.

Acompanho sua revista e as matérias publicadas no site. Sempre acho muito interessante, mas me assombra a forma como aplicam certas perspectivas para analisar as notícias de diferentes países. Por exemplo, as reportagens da revista e as notas do site sobre a Argentina estão frequentemente carregadas de informes negativos. Por acaso a crise não está pegando também os outros países da América Latina? Acho que estão analisando a crise com alta carga de subjetividade, porque em meu país também acontecem coisas boas. Lic. Martín Perdomo Buenos Aires, Argentina

Leonardo Veiga Montevidéu, Uruguai

Apetite bélico?

Na guerra de 1879, o Chile se preparou com 8 anos de antecedência, e hoje, há mais

Com só

um clique, novos serviços da

AméricaEconomia 10 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

México sem água

Impactante a imagem que mostra uma Cidade do México futurista acossada pela

sede e pela seca (“Futuro árido”, AméricaEconomia N° 369, 30 de novembro, 2008). Espero que seja somente um fruto de sua imaginação e que nossas autoridades gestionem o tema da água de forma a evitar uma apocalíptica realidade. Esperanza Fernández Cidade do México, México

Freud e a crise

Parece-me brilhante a comparação, considerando a loucura coletiva em que a sociedade norteamericana esteve imersa, “compra hoje não importa como pague” e de seus líderes “quanto menos regulemos, mais seguro estaremos”. É incrível olhar como os melhores elementos das melhores escolas de negócios do mundo levaram Wall Street à vergonhosa situação atual, tendo todo o planeta olhando com assombro. Incrível também é saber como, enquanto nos Estados Unidos se cozinhava esse problema, ao mesmo tempo nos davam cátedra de como manejar nossas economias, eliminar restrições-chave e deixar outras. Ao parecer, em sua própria casa, não o faziam. Pois bem, América Latina, vale ver o que não se deve fazer. Ricardo Rivadeneira Santiago, Chile

atencionclientes@americaeconomia.com suscribase@americaeconomia.com cartas@americaeconomia.com



MEMO DIRETOR Elías Selman C. VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur DIRETOR EDITORIAL Felipe Aldunate M. EDITOR ADJUNTO Rodrigo Lara DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya Urquiza EDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco, Eduardo Thomson EDITOR BRASIL Dubes Sônego ASSISTENTE DE EDIÇÃO Sérgio Spagnuolo ESCRITÓRIO EDITORIAL BRASIL (55 11) 2589-3157 / 3160 EDITOR MÉXICO Marisol Rueda EDITOR MIAMI Antonio María Delgado EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel Candia REPÓRTERES Arly Faundes (México) CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso •COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino •VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Ricardo Castillo MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz • COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell•Félix Peña •Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso

PECHINCHAS E VIAGENS

LATINSTOCK

DE UM DIA PARA O OUTRO, uma desconhecida empresa mexicana converteu-se em uma empresa global. Pagando apenas US$ 17 milhões, comprou os ativos de uma desesperada empresa norteamericana que lhe vendeu suas fábricas na Austrália, China, Europa, África do Sul e outros mercados globais. Uma verdadeira pechincha. Possivelmente não será o único caso que veremos. Isso é o que nos conta Antonio Delgado, editor de AméricaEconomia em Miami, na história que é tema de capa desta edição. “Há muitas empresas latino-americanas que têm caixa e que estão esperando o momento adequado para se lançar sobre as excelentes oportunidades de compra que o mercado oferece”, diz Antonio. “Mas, para comprar hoje, além da liquidez, é preciso ter valor.” Isso porque não são poucos os que se sentem inibidos frente às atuais condições de mercado e que preferem priorizar a liquidez e esperar antes de abraçar uma oportunidade. Mas a alta volatilidade e a incerteza gerada pela crise externa não mudam um elemento fundamental dos negócios globais: a necessidade de viajar. Para muitos, inclusive, ela aumenta, pois em algumas companhias a busca por reorganizar-se para reduzir custos inclui a necessidade de que muitos executivos tenham que cobrir áreas geográficas maiores. Por isso, nesta edição apresentamos nosso primeiro especial O Melhor da América Latina para o Viajante a Negócios. Através de uma pesquisa com nossos leitores (entre os quais há muitos viajantes frequentes e clientes estrelas de hotéis, rent a car e aeroportos), quisemos saber quais as melhores opções na região no momento de planejar uma viagem de negócios. As respostas estão neste divertido guia para viajantes que poderá servir para seus itinerários regionais neste movediço ano.

Felipe Aldunate M. Diretor Editorial

12 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P.

•ILUSTRADORES Daniela Guglielmetti, Rodrigo Díaz Carrizo REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz COORDENADOR-GERAL Jaime Contreras • •ANALISTA SÊNIOR Pablo Hernández •ANALISTA Daniela González AMÉRICAECONOMIA.COM

•EDITOR ESPANHOL Eduardo Coronado •EDITOR BRASIL Mel Bornstein •REPÓRTERES Marcelo Galli, Marcelo García,

Magdalena Álvarez, Pablo Jamett, Alejandra Clavería

•REDATORES Patricia Zvaighaft, Cora Díaz Cuadrado •TRADUTOR Juan Pardo •WEBMASTER José Fuentes GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río Moreno DIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva DIRETOR DE CIRCULAÇÃO Marcial Delcorto • GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez • BRASIL•HV2 Comercialização de Mídia •DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira •GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves •GERENTES DE NEGÓCIOS Rosangela Bomtempo, Nícolas Cardoso Slamek •GERENTE DE MARKETING Denise Terranova Rua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111São Paulo - SP - Brasil CEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588 ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071 •MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510 • ARGENTINA Claudia Dasso Tel: 5411/4383-8410 - 4383-8416 CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y Miño Tel: 507/271-5327 - 507/66787564 • PERU Patricia Anduaga 511-6107217, María Claudia DíazDulanto 511-6107216 REPRESENTANTES INTERNACIONAIS • ALEMANHA 49211/887-2328 • ESCANDINÁVIA 4755/92-5192 Fax: 92-5190 • ESPANHA 3491/441-6266 Fax: 441-6549 • FRANÇA 331/4143-7057 • ITÁLIA 3902/670-73383 • REINO UNIDO 4420/7538-5811 • SUÍÇA 411/269-7070 REDAÇÕES • SANTIAGO 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO 5255/52542400 • BUENOS AIRES 5411/4383-8410 • MIAMI 305/648-9071 AméricaEconomia é uma publicação quinzenal da Nanbei Ltd. •Impressa na Plural Editora e Gráfica . México, franquia paga. Publicação periódica•Registro PP09-0011 PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

Certificado Licitud de Título Nº 4090 . Certificado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. biweekly publication


SEGUINDO A PISTA VELHINHOS TAMBÉM ANDAM DE TREM

PUBLICAMOS: Supõe-se que outra motivação que levou o governo a estatizar o sistema de pensões foi tomar o controle dos fundos, que reúnem ativos de cerca de US$ 30 bilhões. O que as autoridades querem na realidade, explica a economista Victoria Giarrizo, “é o fluxo de quase US$ 4 bilhões anuais dos contribuintes”. Como “as contas vêm ajustadas em 2009, com isso se evita o default, mas – que ironia – o lavaste”. (“A discórdia da aposentadoria”, AméricaEconomia N°368, 17 de novembro, 2008)

O NOVO: No final de dezembro a presidente da Argentina Cristina Fernández de Kirchner

A PASSO LENTO PUBLICAMOS: Considerado o maior da América Latina, o mercado de resseguros do Brasil desperta depois de quase 70 anos, com perspectivas de chegar aos US$ 2,5 bilhões em 2009, dobrando o volume atual. “Se levarmos em conta que o mercado total no Brasil hoje não chega a 4% do PIB, há muito para desenvolver”, diz Flavio Navarro, diretor geral da Crédito y Caución em São Paulo. (“Foi dada a largada”, AméricaEconomia N° 357, 21 de abril, 2008) O NOVO: Depois de nove meses em ritmo lento, o resseguro (seguro do seguro, para apólices de grandes valores) parece ter ganhado um impulso. Nas últimas semanas de dezembro, mais de dez resseguradoras foram autorizadas a operar no Brasil. Ao todo, 42 companhias estão no País, cinco delas como locais. A expectativa é que esse mercado tenha movimentado mais de R$ 1,6 bilhão em 2008 no Brasil, com expansão de 20%. Mas 2009 será um ano difícil, pois se demandará um número maior de empresas para fechar contratos, devido à maior cautela frente ao risco.

declarou que a Administración Nacional de la Seguridad (Anses) usará ao menos US$ 1 bilhão que até há pouco estava em fundos de pensão privados para financiar a escavação e construção da via subterrânea da ferrovia Sarmiento, que passará sob a cidade de Buenos Aires através de 32,6 km de túneis. A obra foi originalmente orçada com créditos internacionais. Mas a crise internacional afetou o projeto, considerado pela presidente como “provavelmente o mais importante já desenvolvido em Buenos Aires”.

NÃO MAIS “QUASE” PUBLICAMOS: A D&S se tornou conhecida por não cumprir seus planos estratégicos. “Simplesmente cansa que seja a companhia que ‘quase’ se fundiu com o Wal-Mart, que ‘quase’ se fundiu com Falabella, que ‘quase’ se associou com a Ripley, que ‘quase’ comprou a peruana Wong, que quase conseguiu o negócio das farmácias ou que ‘quase’ está em uma etapa de crescimento sustentável e constante”, diz um acadêmico que pediu para não revelar seu nome. (“O fator Ibáñez, AméricaEconomia N°363, 25 de agosto, 2008) O NOVO: Dia 22 de janeiro espera-se que se dê fim a era de incertezas da D&S. È quando será finalizada a Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA) lançada pelo Wal-Mart pela companhia, em uma operação avaliada em mais de US$ 2,66 bilhões. O acordo prevê a venda de até 33,4% dos 63,4% que os irmãos Felipe e Nicolás Ibáñez detêm da companhia. Se bem-sucedida, a operação fará a norte-americana deter 34% do mercado.

TROPA DE ELITE PUBLICAMOS: Claudio Fontes, diretor da Flacso Chile, define o Conselho Sul-Americano de Defesa como “uma iniciativa política, uma tentativa de ser o ator predominante na América do Sul e eliminar qualquer tipo de confrontação entre os países”. (“Pelotão, alto!”, AméricaEconomia N°360, 23 de junho, 2008) O NOVO: O Conselho Sul-Americano de Defesa foi oficialmente criado em dezembro, em encontro da Unasul na Bahia, Brasil. Com a primeira reunião estimada para acontecer até março, espera-se que o conselho, que reúne 12 países, sirva como elemento de distensão diante de impasses entre os países, fomente a cooperação militar regional e a integração das bases industriais de defesa, como destacou na ocasião o ministro de Defesa brasileiro, Nelson Jobim. Analistas também indicam que a aprovação do Conselho possa ser uma resposta à reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, ocorrida em julho. Em dezembro, o governo brasileiro também investiu em novos projetos militares para o País, com a assinatura de acordos de defesa com a França de US$ 12 bilhões que envolvem a compra de helicópteros e transferência tecnológica para construção de submarinos.

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EDITORIAL

ATRÁS DOS RESGATES A

tualmente, multiplicam-se os planos estatais paradinamizar a economia, salvar setores industriais e resgatar empresas em meio à crise. Mas, para que se cumpram os objetivos perseguidos com esses projetos, não basta colocá-los para andar: também é preciso observar como são executados. Olhemos o caso do Brasil, por exemplo, e o conflito surgido entre a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o governo sobre a redução temporária da jornada de trabalho e dos salários em até 25% para enfrentar a crise. Além dos elementos especificamente locais – a notável força tanto da associação de empresários de São Paulo quanto dos recursos da organização sindical –, tem o valor de colocar sobre a mesa um tema importante no contexto atual: quais critérios deveriam ser utilizados para evitar ou moderar ao máximo os danos de um choque externo como o que vivemos? A pergunta é relevante. E está no centro do debate protagonizado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e o ministro do Trabalho do governo Lula, Carlos Lupi. Este último foi muito crítico às empresas, indicando que muitas delas que recebiam ajudas fiscais ao mesmo tempo despediam parte de seus trabalhadores. Skaf respondeu que desejaria ver uma lista de tais companhias e dos benefícios concretos oferecidos a elas, indicando que – por exemplo – os empréstimos do Banco do Brasil, com taxas de mais de 40% ao ano, não podiam ser consideradas um “benefício”. Nesse tipo de conflito, os argumentos que se enfrentam costumam ceder à tentação do maniqueismo. Os sindicatos veem uma desproporção flagrante das ajudas estatais às empresas e bancos em relação às dadas aos trabalhadores em problemas. As empresas, por sua vez, se abismam frente ao pedido do governo de condicionar as ajudas à não-demissão de funcionários, o que

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percebem como um corte intolerável em sua liberdade. Ainda existe outra forma de olhar o fato: passado certo nível, evitar a destruição de companhias e bancos não corresponde a camaradagem, mas a interesse geral, da mesma forma que, passado certo nível, deter o desemprego não supõe distorcer os mercados de trabalho, mas impedir um estrangulamento da demanda. Pouco a pouco, começa a surgir outra análise adicional. Trata-se de uma sobre a necessidade de sustentar “a informação” e “a experiência” que, com o capital e o trabalho, são os pilares do cluster industrial e de serviços. O Brasil pode se dar ao luxo de aceitar a eventual bancarrota da Embraer e das centenas de empresas e profissionais que são seus fornecedores sem comprometer sua industrialização? O Chile deve aceitar o colapso de sua indústria do salmão e o retrocesso de suas zonas austrais a economias de subsistência e de turismo? Não é essencial para a paz social de Medellín que esta continue sendo um pólo de desenvolvimento de integração vertical no universo têxtil? Empregados e empresários não somente produzem a riqueza de um país; costumam ser essa riqueza em si. E, apesar de estar em um sistema dinâmico, parte de seu valor é ser mutante e passível a adaptações. Aceitar passivamente a destruição de muitos de seus setores, fruto de uma crise de solvência da qual não são responsáveis, pode ser desnecessário. Cada sociedade deverá decidir quem e como deverá ajudar temporariamente. O perigo está nos abusos aos quais o sistema se presta, e por isso os critérios de ajuda e a visão que inspiram os subsídios devem ser discutidos abertamente, bem como os montantes e os destinos desses recursos. Isso pode resultar caro e arriscado. Mas é um custo que é preciso pagar se não queremos levar décadas para recriar o capital empresarial, de destrezas e social que custamos conquistar. Q

AFP


MOVIMENTOS

Nunca se sabe

SUBORNOS: SIEMENS AGORA DIZ QUE SÃO DESNECESSÁRIOS LATINSTOCK

PODE parecer mentira. Fica difícil saber a verdade. Quando se trata de corrupção na América Latina, os temas das novelas mexicanas parecem ser mais realidade do que ficção. Mas em uma ocasião se soube a verdade: a Siemens pagou cerca de US$ 1,4 bilhão em subornos para obter contratos em todo o mundo, uma boa parte deles na Argentina, México e Venezuela. O montante parece irreal, mas a própria Siemens admitiu que está correto. O mea culpa, junto com o pagamento de US$ 1,6 bilhão em multas e a inserção de mais regulamentação, é parte dos esforços da companhia para deixar o escândalo para trás. Mas o mais curioso foram os resultados da empresa desde que começou a limpar sua imagem logo com o início da crise, há dois anos. “Desde que melhoramos os processos, nossas receitas aumentaram”, diz Peter Solmssen, integrante do diretório de gerência e conselheiro geral da Siemens AG. “Estamos convencidos de que a história de que é preciso pagar suborno em certos lugares do mundo não é verdade”. Esta afirmação parece ser a mais inverossímil de todas. Estará ele certo? RODRIGO LARA / BUENOS AIRES

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 15


MOVIMENTOS vai

vem

Virada de jogo OS LÍDERES DOS principais times de futebol do Brasil começaram 2009 pouco animados. Isso porque estimam que a crise econômica mundial poderá afetar negativamente a exportação de jogadores, atividade que se transformou em uma grande fonte de receita dos clubes. “A torcida pode não gostar, mas a verdade é que o futebol brasileiro só equilibra suas contas com as transferências ao exterior”, confessou a um jornal local o presidente do São Paulo, PRINCIPAIS IMPORTAJuvenal Juvêncio. Somente DORESDE JOGADORES em 2008 foram “exportados” BRASILEIROS - 2008 1.176 jogadores brasileiros Portugal 209 – frente a 1.085 em 2007, Alemanha 58 quando o valor total tranItália 53 sacionado representou, por Suécia 46 exemplo, 53% da receita do Espanha 34 Japão 32 Corinthians e cerca de 43% 32 da do São Paulo. Já em 2006, Grécia Emirados Árabes 29 foram 851 transações. Se à Uruguai 26 primeira vista esta pode so- China 23 ar uma boa notícia para os EUA 23 torcedores, já que implica a retenção dos craques no País, a novidade também tem um matiz negativo: a desvalorização do real pode dificultar a volta de seus ídolos, que em 2008 retornaram ao Brasil também em número recorde: 659, contra 489 em 2007 e 311 em 2006.

CARLOS TRABUCO CAPPI

Após 10 anos na presidência do Bradesco, Márcio Cypriano (65) vai se aposentar. Em março, seu cargo será ocupado por Luiz Carlos Trabuco Cappi (58), atual presidente da divisão de seguros. Cypriano seguirá no conselho administrativo do banco. O Banco de Pagamentos Internacionais elegeu o atual chefe do Banco do México, Guillermo Ortiz, como novo presidente do conselho administrativo. O economista, que seguirá dirigindo o banco central mexicano, iniciará seu mandato de três anos dia 1 de março, substituindo Jean-Pierre Roth.

RENATO: MENOS JOGADORES TERÃO O MESMO DESTINO?

AP

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

O contador de histórias IGUALMENTE AO ADMINISTRADOR de fundos norte-americano Bernard Madoff, o argentino Eugenio Curatola também tinha a fama de ser um mago das finanças nas cidades de médio porte da próspera “pampa úmida” na Argentina. Um mago, além de tudo, piedoso: por meio de seu blog (http://ecuratola.wordpress.com/) dedicava o tempo livre a reflexões eruditas sobre fragmentos bíblicos e “a palavra de Deus”. Contudo, ao que parece, levar suas considerações à prática era o de menos. Foi detido em 30 de dezembro passado por esquemas fraudulentos comprovados em mais de 167 casos totalizando US$ 33 milhões. É apenas a ponta do iceberg: Curatola supostamente roubou 11 mil clientes, embolsando cerca de US$ 300 milhões. Fez isso através da empresa fantasma Forexvan, nas Ilhas Virgens, utilizando o Commercial Bank das Bermudas (onde chegou a ter US$ 100 milhões), e uma sofisticada montagem de controle de depósitos via internet. O que pode ser visto como algo maravilhosamente cômico (ou sinistro): a última entrada de seu blog, um dia antes de ser preso, analisa o uso da palavra grega kenos na parábola do Evangelho de São Marcos, que descreve um truque que ele mesmo realizava. RODRIGO LARA / BUENOS AIRES

16 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

&

A divisão da SAP no México e América Central já está na lista para enfrentar 2009, sob a liderança de Ali Hamid, ex-vicepresidente de CRM da Oracle. Vicente Garcia, que ocupa o cargo na reforma interina, volta à vice-presidência de contas globais estratégicas. Luca Luciani será o novo presidente da operadora de telefonia móvel TIM Brasil. Assumirá o cargo de Mário Cesar Pereira de Araújo, que encabeçará o conselho administrativo. O presidente executivo, Franco Bernabé, se encarregará temporariamente da área internacional. A companhia de bebidas Ambev, do grupo Anheuser Busch-InBev, terá, a partir de fevereiro, um novo diretor financeiro e de relações com investidores. Nelson Jamel substituirá Graham Staley, que foi designado à vice-presidência de finanças para a Europa Ocidental.


MOVIMENTOS Quartos baratos

FERNANDO CARRASCO CRUCHAGA

É POSSÍVEL QUE EM 2009, por conta da crise, sua empresa o faça viajar menos. Mas quando tiver que viajar, pense no que sairá mais barato. O setor hoteleiro está sentindo os golpes da recessão no mundo desenvolvido e isso pode ser notado nos preços das acomodações. Segundo um índice elaborado pelo portal de reservas de hotéis Internet Hotels.com, pela primeira vez em quatro anos as tarifas começaram a baixar. No primeiro trimestre de 2008, a redução foi de 3% mundialmente e de 5% nos Estados Unidos. O mesmo portal acrescenta que a queda na América Latina foi de 1% e, na região do Caribe, de 4%. Contudo, o mais forte estaria por vir. Joaquín Támez, gerente geral da operação na América Latina do Hotels.com salienta esperar uma baixa entre 5% a 10% nas tarifas de hotéis da região, e em alguns casos poderia chegar a 15%. Para o site, entrentanto, os negócios não vão mal. Suas receitas vêm crescendo a um ritmo entre 50% e 100%. “Mas isso se dá porque os sites estão ganhando mercado frente a outros meios tradicionais de reserva, e não porque o setor esteja crescendo”, comenta Támez. EDUARDO THOMSON / SANTIAGO

BEER: PELA DIFERENCIAÇÃO

Com o pé direito DEPOIS DE FAZER AS Havaianas ganharem popularidade mundial, agora a brasileira Alpargatas quer consolidar sua marca esportiva Topper no caminho da internacionalização, começando por Argentina e Chile. Com a compra da Alpargatas Argentina aprovada em outubro do ano passado (país em que a Topper possui 32% de market share) e uma estratégia multicategoria, com a qual quer trabalhar modelos de maior valor agregado, a empresa quer que a Topper seja a ponta de lança para conquistar 11% do mercado total de tênis de Argentina, Chile e Brasil em 2009 e crescer 16% em receita líquida. “Com um bom posicionamento, em 2010 buscaremos avançar em outros mercados latino-americanos”, diz Fernando Beer, diretor de artigos esportivos da Alpargatas. “Haverá uma coleção global e outras específicas, como para o segmento de rúgbi na Argentina e outra exclusiva para o mercado japonês, por exemplo, onde o tênis Topper passou de artigo esportivo para item de moda, com posicionamento premium”, conta Beer. No Brasil, a Topper quer ampliar o mercado além do futebol, para corrida, tênis, basquete e vôlei.

Alavanca 3D NA ESTEIRA DO LANÇAMENTO de filmes em 3D por Hollywood, foi inaugurada no dia 16, em São Paulo, a primeira sala de cinema Imax do Brasil. Ao todo, existem apenas cerca de 600 salas Imax no mundo. Segundo Luiz Gonzaga de Assis de Luca, autor do livro Cinema Digital: um novo cinema?, as salas 3D voltaram a despertar a atenção porque costumam arrecadar três vezes mais que as tradicionais. Esse fato é particularmente importante num momento em que o cinema de película tende a desaparecer, devido a seu alto custo. A troca de tecnologia, porém, é cara. Os projetores digitais custam até quatro vezes mais que os tradicionais. O lado positivo é que a diferença entre um projetor digital e um digital 3D não é tão grande e compensa a migração direta para o 3D. Segundo de Luca, o número de salas de cinema 3D no Brasil deverá saltar este ano de 28 (de outra tecnologia, chamada DLP Cinema) para entre 70 e 90. A maioria delas bancadas em parceria com shoppings interessados em aumentar o fluxo de clientes. A migração total do mercado para o digital, diz Luca, deve acontecer em cerca de cinco anos. DUBES SÔNEGO / SÃO PAULO

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 17


MOVIMENTOS O shopping da discórdia SER EMPRESÁRIO É também aceitar certos riscos, mas operar sob o manto do Socialismo do Século 21 pode ser equivalente a brincar de roleta russa. Foi isso que a Construtora Sambil descobriu recentemente, após o presidente venezuelano ter passado à frente de um centro comercial que a empresa constrói no bairro La Candelaria, em Caracas, e classificado a obra de “monstruosidade”. “Quem suporta o tráfego ali?”, perguntou Hugo Chávez ao anunciar a decisão. “Vamos expropriar isso e vamos convertê-lo em uma clínica ou em uma universidade.” A decisão representa um duro golpe para os donos do negócio, que haviam obtido as permissões adequadas antes de iniciar a construção do luxuoso edifício, de seus pisos e 273 locações. Mas também é vista como uma nova ameaça para todo o empresariado venezuelano que opera sob um clima cada vez mais hostil. “É uma patada no traseiro do capital privado”, diz Nelson Maldonado, presidente do Conselho Nacional do Comércio. “Não dá para entender uma medida deste tipo, que viola as normas e agride um setor tão importante.”

Contra a pirataria AS REDES 3G ENCONTRAM novas fontes para o fluxo de caixa. Pelo menos no Brasil, onde a Tectoy anunciou que, no primeiro trimestre de 2009, introduzirá seu console, uma plataforma para jogos PS2 equipada com uma placa 3G Qualcomm, empresa que também participa do projeto. Fernand Fischer, CEO da Tectoy, disse que o empreendimento constitui “uma nova forma de comercialização” que ajudará a combater a pirataria na indústria. A empresa venderá o console com seis jogos incorporados e intransferíveis, mas desta vez oferecerá um catálogo extra com mais de 50 títulos próprios que deverão ser comprados através do Zeebonet 3G, uma VNP sobre a rede 3G Claro do Brasil. Ali, o usuário comprará Zcréditos através de vários meios de pagamento. Os créditos são consumidos à medida que o uso é registrado. Agora, as expectativas da Tectoy seguem o ritmo do crescimento da banda larga móvel, que segundo a Qualcomm não vai parar em 2009. Contudo, a vovó precisa ter um pouco mais de seguranças antes de sair dando presentes.

TECTOY: LUTA CONTRA OS PIRATAS

ANTONIO MARÍA DELGADO / MIAMI JUAN PABLO DALMASSO / BUENOS AIRES

Operação retorno

TURJANSKI: DE VOLTA

18 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

EM DEZEMBRO, a presidente Cristina Kirchner apresentou Adrián Turjanski, o cientista repatriado número 600, e anunciou que o governo fará com que sejam muitos mais. Desde seu início, em 2001, o programa Rede de Argentinos Pesquisadores e Cientistas no Exterior (Raízes) conseguiu obter uma base de dados de 4,5 mil dos 7 mil cientistas e técnicos dispersos no exterior. E, deles, 605 regressaram ao país

JUAN PABLO DALMASSO / BUENOS AIRES

para reforçar projetos como a primeira vaca clonada da América Latina. Agora, o programa tem status de lei e concentra um amplo leque de instrumentos que vão desde subsídios para a mudança (que inclui passagens, e mais US$ 1,5 mil para custos), até fomentos especiais para pesquisas que incluam argentinos no exterior, além de convocar empresas como Intel, Techint, Arcor, Dupont e Volkswagen para re-

crutar argentinos fora do país. “Isso facilita o acesso a profissionais com experiência internacional, algo escasso no meio local”, observa Sonia Pedemonte, encarregada de recursos humanos do centro de desenvolvimento da Intel em Córdoba. “Para o profissional, é a oportunidade de definir uma situação pessoal com um projeto concreto, no nosso caso, com todo o respaldo da Intel”, acrescentou.


ESPECIAL

VIAJANTES 2009

LATINSTOCK

As companhias aéreas favoritas pág. 20 Os melhores hotéis pág. 22 Os carros mais cobiçados pág. 23 O que fazer no tempo livre pág. 24 Os gadgets prediletos pág. 26 Os principais eventos do ano pág. 28 As tecnologias para “não viajar” pág. 30

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 19


N N

N

N

N

11th Annual Conference on

Latin America Private Equity Stability or turmoil? Choosing the right opportunities in the region February 11th-12th 2009 Ritz-Carlton • Coconut Grove, Florida No developing region is immune to the fallout from global market turmoil, the international credit crunch and the looming international recession. But Latin America and Latin American private equity may be poised to weather the global financial storms with greater opportunity for growth by being nimble and smart. Understanding what's happening on the ground right now is key. That's why attending this year's Latin America Private Equity Forum is crucial. We've assembled some of the top minds in the region who will reveal strategies to help you safeguard your portfolios while positioning them for growth. Join Economist Conferences as we explore the opportunities for limited partners and PE investors in the current climate. Key issues include:

Strategies to raise funds in a turbulent global financial market How investment opportunities in the region are—and are not—buffeted by the global credit crunch and stock markets’ meltdown The impact of US and Latin American regulatory change on regional investments and what it means for your operations Country break-down of where the best opportunities lie for LPs and GPs and how you can capitalise now and plan for the future

The Forum provides ample opportunity to meet some of the region's most experienced private equity investors, fund managers, multilaterals and advisers including:

Martín E Escobari

Martín E Escobari

Beatriz Nofal, Ph.D

Mauricio Cárdenas

Julio Andrés Torres

Pedro Pablo Kuczynski

Alberto Camões

Managing Director, Advent International

Beatriz Nofal, Ph.D

President, Agencia Nacional de Desarrollo de Inversiones (Prosperar)

Mauricio Cárdenas

Senior Fellow and Director, Latin American Initiative, Brookings Institution; President, Latin American and Caribbean Economic Association

Julio Andrés Torres

Managing Partner, Nexus Banca de Inversión S.A. and Former Director, Public Credit and the Treasury, Government of Colombia

Pedro Pablo Kuczynski

Senior Advisor, The Rohatyn Group and Former Prime Minister, Government of Perú

Alberto Camões

Managing Partner, Stratus Group

To book your place, or to obtain more information, please contact: Rosemary DiDomizio • Economist Conferences • Tel: (1.212) 554-0627 E-mail: americas_customerservice@economist.com • Web: www.economistconferences.com For sponsorship opportunities: Joe Parsons, Manager, Integrated Sales • The Economist • Tel: (1 212) 541 0536 E-mail: joeparsons@economist.com Lead sponsor:


ESPECIAL

VIAJANTES 2009

LATINSTOCK

D

uas horas de espera no aeroporto. Seis horas de vôo. Um táxi que se perde no caminho ao hotel. Todas as noites, os mesmos canais de TV a cabo. Todas as manhãs, o mesmo omelete. Internet que não funciona. O telefone celular que não se conecta com a rede local… Sabemos que as viagens de negócios são muito menos glamurosas do que muitos pensam. E, de um sinal de sucesso na carreira profissional, estas podem se transformar em um problema que desincentiva o profissional a continuar abraçando responsabilidades em sua organização. Mas nem sempre tem que ser assim. Tomar as decisões corretas e planejar um itinerário pode ajudar a transformar esse compromisso em uma experiência prazerosa, ao reconectá-lo ao espírito original de uma viagem: conhecer e abrir a mente ao mundo. O seguinte estudo é dedicado aos viajantes a negócios da América Latina. Aos latinoamericanos e aos que nos vêm visitar. Através de uma pesquisa on-line respondida por 1.422 executivos de toda a América Latina, descobrimos alguns de seus hábitos e suas preferências na hora de viajar. Desde a frequência com que planejam fazê-lo em 2009, os países que mais visitarão, as redes de hotéis preferidas, bem como o drinque predileto para fechar a jornada e relaxar. Um novo projeto de AméricaEconomia voltado a nossos leitores para ajudar a aliviar sua vida em um dos aspectos mais duros da globalização: a viagem de negócios. Q

Que hotel reservar em São Paulo? Qual é a melhor classe executiva para voar à América Central? Os leitores de AméricaEconomia lhe ajudam a programar a próxima viagem EXPECTATIVAS PARA 2009

Apesar de tudo, executivos continuarão na fila de embarque FONTE: AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE

19%

MENORES QUE EM 2008

IGUAL A 2008

44%

MAIOR QUE EM 2008

37%

00%

05%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 21


ESPECIAL

VIAJANTES 2009

As três companhias aéreas preferidas dos executivos que voam pela A. Latina

As companhias aéreas preferidas dos executivos da A. Latina de acordo à classe

Classe Executiva 1

LAN

2

TAM LUFTHANSA

3

1 2 3

5 6 7 8 9 10

38,0% LAN

1 2 3

A melhor executiva segundo...

4

1

Classe Econômica

Argentinos Brasileiros Chilenos Colomb. Equator. Mexicanos Peruanos Uruguaios Venezue. Centro-am.

27,7% 33,1% 62,8% 23,5% 58,3% 33,1% 48,3% 37,3% 17,1% 21,7%

LAN TAM LAN AVIANCA LAN AEROMÉXICO LAN LAN LAN TACA

1

LAN

20,7

2

AEROMÉXICO

11,4

3

TAM

9,2

Qual tem o melhor cardápio? 1

LAN

17,9

2

AIR FRANCE

11,4

3

TAM

3

22 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

2 3 4 5 6 7 8 9 10

Argentinos Brasileiros Chilenos Colomb. Equator. Mexicanos Peruanos Uruguaios Venezue. Centro-am.

44,6% 28,6% 62,3% 47,1% 51,7% 31,6% 54,4% 33,3% 19,5% 35,0%

LAN TAM LAN AVIANCA LAN AEROMÉXICO LAN LAN LAN TACA

• 30,1% dos mexicanos acham que voarão menos em 2009.

TAM

AEROMÉXICO

1

• 51,5% dos colombianos esperam voar mais este ano.

23,8%

15,2%

A melhor econômica segundo ...

• 54,1% dos brasileiros esperam voar mais em 2009 do que em 2008.

Qual é a companhia mais pontual?

2

LAN TAM AEROMÉXICO

9,1

Qual tem a melhor carta de bebidas? 1

LAN

16,2

2

AIR FRANCE

11,1

3

AEROMÉXICO

9,1

6,7

6,0

México

Brasil

O número médio de viagens que executivos de ambos os países esperam realizar (são os que vencem em número de viagens)

Os Estados Unidos serão o

principal destino dos viajantes a negócios da América Latina durante 2009. Os chilenos e bolivianos viajarão mais à Argentina. Os argentinos viajarão mais ao

Brasil.


ESPECIAL

VIAJANTES 2009 • 43% dos chilenos e 45% dos equatorianos acham que viajarão mais em 2009 do que em 2008. • 19,3% dos argentinos e 19,6% dos uruguaios acham que viajarão menos que em 2008. Juntamente aos mexicanos, são os mais pessimistas. • Apenas 9,8% dos executivos venezuelanos acham que viajarão menos a negócios em 2009. São os mais otimistas.

Decolar, voar, aterrissar e esperar. Toda viagem de negócios começa e termina no aeroporto e em um avião. Aqui estão as preferências dos executivos latino-americanos na hora de embarcar.

Qual tem a melhor atenção a bordo? 1

LAN

19,6

2

TAM

15,5

3

AEROMÉXICO

7,4

Qual tem o melhor website? 1

AMERICAN

16,9

2

LAN

15,4

3

TAM

9,6

Quais são os melhores aeroportos da América Latina?

Qual tem o melhor programa de milhagem? 1

AMERICAN

18,2

2

TAM

15,0

3

LAN

12,1

23 19 %

Miami

1

Inter. de Miami (Miami)

2

Com. Arturo Merino Benítez (Stgo.)

%

Panamá

Os aeroportos com melhor Duty Free da região

27 20 %

Miami

%

Santiago

Os aeroportos mais eficientes da região

3

Jorge Chávez (Lima)

Os aeroportos do Brasil, México e da Argentina aparecem nos últimos lugares na maioria das categorias consultadas.

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 23


ESPECIAL

VIAJANTES 2009

As redes de hotéis preferidas pelos executivos da A. Latina

Qual é a rede internacional que tem os/ as melhores... ...business centers?

...salas de conferência?

1

MARRIOTT

15,6

1

INTERCONTINENTAL

17,2

2

HILTON

15,4

2

HILTON

16,1

3

INTERCONTINENTAL

15,0

3

MARRIOTT

13,0

...academias?

1 HILTON

2

INTERCONTINENTAL

3 MARRIOTT

4 SHERATON

24 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

...restaurantes?

1

HILTON

15,2

1

INTERCONTINENTAL

16,0

2

MARRIOTT

14,9

2

HILTON

14,6

3

INTERCONTINENTAL

14,4

3

MARRIOTT

10,9

• As redes de hotéis que oferecem a melhor variedade de serviços, segundo os viajantes latino-americanos, são: 1. InterContinental (15,8%); 2. Marriott (15,4%); e 3. Hilton (15,2%).

A melhor suíte presidencial

Preferência por nacionalidade Argentinos Academia Hyatt Restaurante Hilton Web Sheraton Brasileiros Academia Hilton Restaurante Hilton Web Hilton-Marriott Chilenos Academia Sheraton Restaurante Ritz Carlton Web Sheraton Colombianos Academia Hilton-InterContinental Restaurante Marriott Web Hilton Mexicanos Academia InterContinental Restaurante InterContinental Web InterContinental Peruanos Academia Marriott Restaurante Marriott Web Marriott Centro-americanos Academia InterContinental Restaurante InterContinental Web InterContinental

20,0% 19,3% 16,9% 15,0% 18,8% 15,0%

13,4% HILTON

13,2%

17,4% 23,7% 20,8%

RITZ CARLTON

14,7% 16,2% 17,6%

10,8 %

20,3% 24,8% 20,3%

INTERCONTINENTAL

28,9% 25,0% 29,8% 30,1% 35,0% 26,0%

Um executivo que viaja passa mais tempo em hotéis que em sua casa de praia. Quando o hotel se converte em casa, vale a pena ser exigente.


ESPECIAL

VIAJANTES 2009 Marca preferida por país

A marca de carros mais adequada para o CEO

Argentina

AUDI

33,7%

Bolívia

BMW

28,3%

Brasil

M.BENZ

23,3%

Chile

AUDI

20,8%

Colômbia

AUDI

25,0%

Equador

M.BENZ

21,7%

México

M.BENZ

26,3%

Peru

M.BENZ

33,4%

Uruguai

AUDI

29,4%

Venezuela M.BENZ Am. Central

1 MERCEDES-BENZ

24,8%

2

BMW

19,1%

M.BENZ

A cidade com melhor serviço de táxi

21,8% MIAMI

20,2%

29,3%

BUENOS AIRES

25,2%

20,1% SANTIAGO

Movimento na cidade. Grande parte do sucesso de uma viagem de negócios pode depender da forma em que nos movemos: da velocidade, da precisão, sem deixar o conforto de lado.

3 AUDI

15,6% Qual é a melhor agência de aluguel de carros da região, com melhor oferta de preços e maior variedade de modelos? 1

HERTZ

2

AVIS

3

BUDGET

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 25


ESPECIAL

VIAJANTES 2009 Os melhores drinques

1

2

CAIPIRINHA

TEQUILA MARGARITA

Qual é a melhor cidade para um after office? 1

BUENOS AIRES

21,9

2

SÃO PAULO

16,8

3

MIAMI

16,8

4

C. DE MÉXICO

8,2

5

R. DE JANEIRO

6,2

3 PISCO SOUR

4

CUBA LIBRE

5

PIÑA COLADA

A chave para sobreviver a um intenso ritmo de viagens é equilibrar as atividades. Assim, averigue de antemão as ofertas culturais e de entretenimento oferecidas pela cidade que visitará, especialmente aquelas com mais alternativas para quando a jornada de trabalho termina.

Bal Harbour (Miami)

O shopping mais sofisticado 10,7

Bal Harbour (Miami) Iguatemi (S.Paulo)

9,1

Aventura Mall (Miami)

6,7

Antara Polanco (C. México)

5,4

Cidade Jardim (S.Paulo)

4,7

O melhor evento de moda Iguatemí (S.Paulo)

O shopping que tem tudo o que você busca

São Paulo Fashion Week

35,6

Buenos Aires Fashion Week

15,1

Colombia Moda

15,0

Miami Fashion Week

14,5

9,5

Fashion Week Miami Beach

8,6

Aventura Mall (Miami)

9,2

Mercedes-Benz Fashion Week Miami

6,6

Sawgrass Mills (Miami)

7,8

Fashion Week México

2,7

Mall of Americas (Miami)

6,8

Santiago Fashion Week

1,9

Centro Santa Fe (C. Méx.)

6,2

Iguatemi (S.Paulo)

26 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009


ESPECIAL

VIAJANTES 2009 Qual é a operadora celular preferida pelos executivos da A. Latina?*

83,5 81,1 37,5 MOVISTAR

CLARO

TIM

27,0 13,1 13,0 NEXTEL

ENTEL PCS

9,8

VIVO

7,4

OI

TIGO

*As cifras não refletem porcentagens, mas pontos baseados em diferentes indicadores.

A melhor sala de eventos 1 Banamex (C. México)

18,6

2 Anhembi (S.Paulo)

13,0

3 Transamérica Expo Center (S.Paulo)

12,7

Qual é a operadora celular que oferece o/a melhor.. ...preço?

...cobertura?

...roaming?

5,7

1

CLARO

28,0

1

MOVISTAR

30,0

1

MOVISTAR

5 Colferias (Bogotá)

5,5

2

MOVISTAR

24,0

2

CLARO

27,0

2

CLARO

26,0

NEXTEL

12,0

3

TIM

13,0

3

TIM

14,0

6 Expo Center Norte (S.Paulo)

4,4

3

4 Sheraton Centro Histórico (C.M.)

Melhor celular para viajantes a negócios

A mais bem-equipada 1 Banamex (C. México)

20,8

2 Transamérica Expo Center (S.Paulo)

13,4

1

BLACKBERRY

55,9

3 Anhembi (S.Paulo)

12,2

2

IPHONE

14,0

3

NOKIA

12,8

4

HTC

5,0

5

SONY-ERIC.

3,6

A mais funcional 1 Banamex (C. México)

16,6

2 Anhembi (S.Paulo)

12,7

3 Transamérica Expo Center (S.Paulo)

12,3

30,0

O Blackberry é o celular preferido pelos executivos que viajam de todos os países contatados.

A mais impresionante 1 Banamex (C. México)

19,4

2 Transamérica Expo Center (S.Paulo)

13,1

3 Anhembi (S.Paulo)

11,9

Metodologia Realizou-se uma pesquisa on-line aos leitores de América Economía entre os dias 15 e 19 de dezembro de 2008. A mostra obtida foi de 1.422 executivos em toda a América Latina. A mostra foi ponderada por população, PIB e número de passageiros aéreos.

O melhor cartão Preferência (%) por país de crédito 61,4 Argentina Visa 1 2 3

VISA A. EXPRESS MASTERCARD

Brasil

57,1

Visa

Chile

45,9

Visa

Colômbia

47,1

Visa

México

52,6

American Express

Peru

75,6

Visa

A. Central

68,3

Visa

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 27


ESPECIAL

Escritório de bolso

VIAJANTES 2009

F

Marisol Rueda. Cidade do México

uncionalidade e leveza são os elementos fundamentais que um viajante a negócios busca em um aparelho eletrônico. A cultura da mobilidade demanda o uso de dispositivos cada vez mais portáteis, que permitam realizar as funções que uma pessoa desenvolve em seu escritório e facilitar sua vida. Entre elas, viajar. Vários analistas opinam que a nuvem da internet é uma das melhores opções para reduzir a o peso da bagagem e, ao mesmo tempo, ter acesso à informação necessária em qualquer parte do mundo. Depois de consultar especialistas no assunto, formulamos uma proposta com dez dos melhores aparelhos móveis para o viajante a negócios. A escolha se fundamenta na avaliação de qualidades como leveza, mobilidade e funcionalidade. Afinal de contas, “quanto menos dispositivos – melhores e mais úteis –, melhor”, oria argentina Prince & Cooke. “É É uma questão de pes sso. o. Q diz Alejandro Prince, presidente da consultoria peso.”

1

9

28 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

4 3

8


ESPECIAL

VIAJANTES 2009

7

1 iPhone 3G. Uma das grandes vantagens do ícone dos telefones inteligentes é sua tela. Com o toque de dois dedos, permite aproximar ou afastar a informação ao navegar na internet. Segundo a Pyramid Research, o aceso às aplicações de dados é fácil. Inclui telefone, saída para TV, reprodutor de MP3 e de vídeo, GPS, navegador, correio eletrônico e chat. mas sua câmara tem apenas 2.0 megapixels, sem zoom óptico, flash nem autofoco. Tampouco grava vídeo. 2 Blackberry Bold. É um dos telefones inteligentes preferidos pelos executivos, graças à alta definição de sua tela, as cores vivas e seu teclado QWERTY. Tem um dos melhores push e-mail, serviço que sincroniza o correio eletrônico com o do escritório. O ruim é que é maior que os outros.

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3 Palm Treo Pro. Tem uma tela tátil com uma grande quantidade de cores e teclado QWERTY e suporta cartões de até 32 GB. A câmara é de somente 2 megapixels. Contar com correio eletrônico é imprescindível. “E o mais relevante é que não se requer um software intermediário ou servidor adicional”, diz José Ignacio Gallego, diretor geral da Palm México. 4 HP 2133 Mini Note. Pode ser o melhor equipamento de backup para um viajante. Pesa 1,1 kg e conta com a tecnologia 3D DriveGuard. “Quando se fecha a tela, o disco rígido deixa de funcionar, de forma que a informação não fica em risco no caso de movimentos ou quedas”, explica Carlos Jaime Aranda, gerente de produto da divisão de equipamentos de uso pessoal para o setor empresarial de mobilidade da HP México.

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2 6

5 Lenovo Thinkpad X300. É o computador portátil mais leve de sua classe, e talvez por isso custe cerca de US$ 2,1 mil. “É uma tremenda máquina”, diz Sebastián R. Wain, presidente da empresa de soluções informáticas Nektra Advanced Computing. Pesa apenas 1,08 kg, possui tela LED e câmara para videoconferências. 6 Olympus Stylus 1050 SW. Suporta temperaturas de até -10ºC, 3 metros de profundiade na água e quedas de alturas de até 1 metro. Tem 10,1 megapixels, é leve e conta com o sistema Tap Control, que com um simples golpe na parte superior ou nas laterais pode ativar o flash ou determinar os parâmetros para obter a melhor fotografia. 7 Panasonic Lumix DMC-FZ28. Com 10,1 megapixels, automaticamente faz uma compensação quando detecta contraluz. “Não é ultraportátil, mas garante uma boa qualidade fotográfica”, explica Wain, da Nektra Advanced Computing. Grava em alta definição a 30 quadros por segundo e conta com tecnologias como detecção de rostos, exposição inteligente e AF Trackings. 8 Kingston PEN DTI/8GB.“Um USB é o melhor amigo do homem”, garante Prince, da Prince & Cooke. O Kingston de 8 GB é do tamanho de uma navalha de bolso, funciona praticamente com qualquer aparelho que tenha entrada USB. A conexão USB está protegida dentro do corpo do produto para que o viajante não se preocupe em perder a tampa. 9 Play Station portátil. Pesa somente 189 gramas e sua tela LCD de 4,3” é de alta resolução. Pode-se assistir a vídeos, guardar música e revisar e-mails. Tem 64 MB de memória principal e compatibilidade com WiFi, que se usa para jogos, atualizações ou descarga de conteúdos. 10 HD externo Toshiba 320 GB. Cabem filmes, séries, músicas, software e se pode usar como backup para as fotografias e os vídeos da viagem. “É pequeno e utiliza USB como fonte de energia, por isso se pode usar mesmo com o notebook fora da tomada”, diz Wain, da Nektra.

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 29


ESPECIAL

VIAJANTES 2009

AGENDA DO

ANO Para que tenha anotados alguns dos principais eventos da região (Veja a lista completa em www.americaeconomia.com.br)

FEVEREIRO Sexta-feira 13

>> 12ª EXPO INTERNACIONAL NATURISTA ANIPRON

Terça-feira 24

>> EXPO COMM MÉXICO Centro Banamex Cidade do México, México www.expocomm.com.mx

>> BUENOS AIRES FASHION WEEK

Sexta-feira 6

>> MIAMI INTERNACIONAL FILM FESTIVAL Miami, Estados Unidos

www.miamifilmfestival.com

>> FENATEC/FEIMACO/ ITMEX 2009

WEF: em busca de uma saída para a crise

Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.anhembi.com.br

Terça-feira 17

>> CONFERÊNCIA DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO DO IDC São Paulo, Brasil

www.idclatin.com/events/event. asp?ctr=bra&id=100

>> RIO 9

World Climate & Energy Event Rio de Janeiro, Brasil www.rio9.com

Domingo 22

Quinta-feira 26

>> EXPO ECONOMIA DE ENERGIA Cintermex Monterrey, México

>> 2° ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE ECONOMIA DE ENERGIA

www.expoahorroenergia.com

www.elaee.org

http://www.iadb.org/am/2009/ index.cfm?lang=es

Hotel Sheraton Santiago Santiago, Chile

>> REUNIÃO ANUAL BID Plaza Mayor Medellín, Colômbia

Segunda-feira 23

>> XXII CONGRESSO INTERNACIONAL DE GASTRONOMIA, HOSPITALIDADE E TURISMO.

Terça-feira 31

www.anhembi.com.br

www.terrapinn.com/2009/nocs/

São Paulo, Brasil

Terça-feira 24

>> 8° CONFERÊNCIA MUNDIAL DE COBRE

>> 9TH ANNUAL FIBA AML COMPLIANCE CONFERENCE

Quarta-feira 4

Rio Sheraton Rio de Janeiro, Brasil

www.antimoneylaundering-fiba. com

www.expotransporte.com.ar

World Trade Center Cidade do México, México www.anipron.org.mx

Segunda-feira 16

>> GSMA MOBILE WORLD CONGRESS

La Rural Buenos Aires, Argentina www.baf.com.ar

MARÇO

La Fira Barcelona, Espanha

Domingo 1

www.mobileworldcongress.com

www.futureenergy.com.br

Miami, Flórida

>> SOUTH BEACH WINE & FOOD FESTIVAL Miami Beach, Estados Unidos www.sobewineandfoodfest.com

>> FUTURE ENERGY

>> EXPO TRANSPORTE La Rural Buenos Aires, Argentina Quinta-feira 5

>> FEIRA INTERNACIONAL DE FRANQUIAS World Trade Center Cidade do México, México www.fif.com.mx

30 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

Parque Anhembi São Paulo, Brasil

>> 15TH LATIN OIL WEEK 2009 http://www.petro21.com

>> FEICON 2009- FERIA INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO Parque Anhembi São Paulo, Brasil www.feicon.com.br

>> WORLD NATIONAL OIL COMPANIES CONGRESS The Tower Londres, Reino Unido

Grand Hyatt Santiago, Chile

http://crugroup.com

ABRIL

>> FEIRA INTERNACIONAL DE AUTOPEÇAS, EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.anhembi.com.br

>> LAAD – LATIN AMERICA AERO & DEFENSE Riocentro Rio de Janeiro, Brasil www.laadexpo.com/

Terça-feira 21

>> EXPO JÓIA

Expo Guadalajara Guadalajara, México www.expojoya.com.mx

Quinta-feira 23

>> FEIRA INTERNACIONAL DO LIVRO DE BUENOS AIRES 2009 La Rural Buenos Aires, Argentina www.el-libro.org.ar

Segunda-feira 27

>> WORLD ECONOMIC FORUM LATIN AMERICA

>> INFRASTRUCTURE INVESTMENT WORLD AMERICAS 2009

http://www.weforum.org/en/ events/WorldEconomicForumonLatinAmerica2009/index.htm

http://www.terrapinn.com/2009/ IIAA/

Terça-feira 14

Rio de Janeiro, Brasil

Bridgewaters Nova York, Estados Unidos


ESPECIAL

VIAJANTES 2009 >> CONGRESSO DE TECNOLOGIA DA ÁGUA Cintermex Monterrey, México

www.cintermex.com.mx

MAIO Segunda-feira 4

>> BRASIL PLAST 2009 Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.brasilplast.com.br

Sexta-feira 8

JUNHO Segunda-feira 1

>> FEIRA INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA ELÉTRICA, ENERGIA E AUTOMAÇÃO Parque Anhembi São Paulo, Brasil www.fiee.com.br

Terça-feira 2

>> ALIMENTOS MÉXICO Centro Banamex Cidade do México, México

>> CIO SUMMIT- IDC

www.alimentaria-mexico.com

www.idc.com

Terça-feira 9

>> CONFERÊNCIA INTERNACIONAL ETHOS 2009

Parque Anhembi São Paulo, Brasil

Buenos Aires, Argentina

Parque Anhembi São Paulo, Brasil www.ethos.org.br

Quinta-feira 14

>> 2A EXPOSIÇÃO LATINO-AMERICANA DE JOGOS DE AZAR Centro Banamex Cidade do México, México www.expoazar.com

Segunda-feira 18

>> FEIMAFE 2009 – FEIRA INTERNACIONAL DE MÁQUINAS Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.feimafe.com.br

>> AMBIENTAL EXPO 2009 Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.anhembi.com.br

>> ABIQUIM

>> THE INDUSTRIAL FAIR FOR THE AMERICAS Jockey Convention Center Lima, Peru

http://www.thaiscorp.com/feriaamericas/site/contenido_en.htm

>> EXPOCHINA

World Trade Center Cidade do México, México www.expochinamexico.com

Segunda-feira 29

>> FEIRA INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA TÊXTIL Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.anhembi.com.br

>> SALÃO DO TURISMO Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.salao.turismo.gov.br/

São Paulo, Brasil

Terça-feira 13

www.salaoabimovel.com.br

SETEMBRO >> LAS AMERICAS SECURITY WORLD

Plaza Mayor Medellín, Colômbia

www.gnvcolombia.com

>> BIOFUELSUMMIT

www.lasamericassecurityworld. com

www.apec2009.org

Centro Banamex Cidade do México, México www.concretolatinoamerica. com.mx

>> FISPAL TECNOLOGÍA 2009 Parque Anhembi São Paulo, Brasil www.fispal.com

>> ALIMENTOS MERCOSUL

>> XIII CONGRESSO FLORESTAL MUNDIAL

www.alimentariaexpo.com.ar

www.larural.com.ar

La Rural Buenos Aires, Argentina

InterContinental Hotel Tequendama Bogotá, Colômbia

http://coa.counciloftheamericas. org/calevent.php?id=215

La Rural Buenos Aires, Argentina

Segunda-feira 26

>> FENATRAN 2009 SALÃO INTERNACIONAL DO TRANSPORTE

Bens de capital: produtividade em pauta

Parque Anhembi São Paulo, Brasil www.fenatran.com.br

NOVEMBRO Sábado 14

JULHO Quinta 9

>> VINITECH AMÉRICA LATINA Espaço Riesco Santiago, Chile www.vinitech.cl

>> 41° FEIRA INTERNACIONAL DE CALÇADO Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.feirafrancal.com.br

>> 2009 LATIN AMERICAN CITIES CONFERENCE

Cingapura

Segunda-feira 19

Terça-feira 8

www.biofuelsummit.info/es/

>> CONCRETO LATINOAMÉRICA

Quarta-feira 14

>> APEC SINGAPUR

Golden Center Buenos Aires, Argentina

Terça-feira 16

Transamérica Expo Center São Paulo, Brasil

Centro Banamex Fespa, México

Quarta-feira 10

>> EXPO GNV COLÔMBIA

>> FUTURECOM

www.futurecom2009.com.br

Terça-feira 1

www.abiquim.org.br

Quarta-feira 17 Quinta-feira 21

Quinta-feira 25

AGOSTO Segunda-feira 17

>> SALÃO INTERNACIONAL DE VENDAS E EXPORTAÇÕES DE MÓVEIS Parque Anhembi

Quinta-feira 10

>> BIENAL DO LIVRO DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro, Brasil

www.bienaldolivro.com.br/

Sexta-feira 25

>> COSMOPROF COSMÉTICA 2009 FEIRA INTERNACIONAL DA BELEZA Parque Anhembi São Paulo, Brasil

www.anhembi.com.br

>> FEIRA INTERNACIONAL DE TURISMO DA AMÉRICA LATINA La Rural Buenos Aires, Argentina www.fit.org.ar/

Domingo 15

>> XLIII ASSEMBLÉIA ANUAL DA FEDERAÇÃO LATINO-AMERICANA DE BANCOS Miami, Estados Unidos http://www.felaban.com

OUTUBRO Sábado 28 Terça-feira 6

>> CONGRESSO MUNDIAL DE GÁS 2009 La Rural Buenos Aires, Argentina www.larural.com.ar

>> FEIRA INTERNACIONAL DO LIVRO DE GUADALAJARA Guadalajara, México www.fil.com.mx

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 31


ESPECIAL

VIAJANTES 2009

P

Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

ara a Intel, a eficiência não se concentra apenas na fabricação de microchips cada vez menores. Com 23% de sua força de trabalho viajando ao menos uma vez ao ano, desde a sua origem a companhia norte-americana de TI conta com uma divisão dedicada a administrar viagens. E investiu em tecnologia para fortalecer a comunicação à distância e reduzir custos. Sua aposta mais recente é a telepresença, um passo à frente das videoconferências. Funciona sob tecnologia IP em tempo real e com áudio e imagem de alta definição. A imagem é projetada em duas ou três telas que permitem ver as pessoas em tamanho real, acompanhar o movimento de suas mãos e inclusive olhá-las diretamente nos olhos. Além de uma tela, a telepresença é uma sala adaptada para reuniões à distância com pessoas em outra sala igual. Podem-se compartilhar a mesma mesa e apresentações, que são vistas em ambas as salas. “E se pode colaborar em tempo real”, diz o mexicano Raúl Pérez Vásquez, gerente para América Latina de programas de viagens da Intel. Somente nos EUA, este ano a companhia espera instalar dez salas de telepresença. Graças à nova tecnologia, a Intel espera reduzir entre 15% e 20% o número de viagens de executivos ainda em 2009. Além disso, a empresa conta com uma política de viagens detalhada e um sistema on-line que permite aos trabalhadores avaliar as possibilidades de usar a tecnologia ao invés de viajar. “O retorno do investimento no longo prazo também inclui as horas de trabalho de executivos desperdiçadas nos traslados e os riscos de segurança”, acrescenta Vásquez. 32 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

Em épocas de crise, um dos itens que mais tendem a ser cortados no orçamento das empresas são as viagens. Mas já existem diversas tecnologias que ajudam a eliminar as distâncias e aumentar a produtividade Assim como a Intel, outras empresas apostam nas tecnologias de comunicação virtual para reduzir os custos com viagens corporativas e ao mesmo tempo aumentar a eficiência e produtividade em suas gestões. A empresa mexicana de telecomunicações Alestra é outra pioneira no uso da telepresença na América Latina e já começou a oferecer o serviço a seus clientes dentro de pacotes de comunicação unificada, que ainda incluem linhas telefônicas IP e salas de videoconferência. Com escritórios em Monterrey e Cidade do México, eles estão experimentando as vantagens dessa tecnologia através de uma aliança com a Cisco. Com isso, em 2010 espera economizar 18% no orçamento de viagens e reduzir em duas semanas o período para tomada de decisões.

Segundo Ricardo Hinojosa, diretor de serviços de redes e serviços integrais da Alestra, “quando são quatro pessoas ou mais, se usa a videoconferência. A telepresença é usada somente para reuniões do conselho, eventos particulares e decisões importantes”. Mas, segundo o executivo, nem sempre é possível eli-


ESPECIAL

VIAJANTES 2009 minar os encontros pessoais. “Temos muitos clientes que estão instalando esse sistema na Europa, mas não vão eliminar as viagens, apenas reduzi-las”, diz. Segundo a Alestra, o custo de instalar a estrutura para a telepresença pode chegar a US$ 350 mil, incluindo as salas com paredes unificadas, microfones especiais, iluminação, telas, câmaras e a mesa. Há uma alternativa mais econômica em que o cliente pode alugar a sala de acordo à sua necessidade, o que lhe pode custar entre US$ 3 mil e US$ 12 mil. A globalização obriga cada vez mais a comunicação entre países, mas muitas empresas buscam adotar opções tecnológicas mais baratas. A companhia Enthalpy Chile, em Santiago, é um bom exemplo. Composta por capitais chilenos e australianos, tem na comunicação à distância um elemento fundamental para seu desenvolvimento. “Primeiro tínhamos a telefonia IP com custo zero. Como depois necessitamos mostrar dados na tela, buscamos acrescentar a transmissão de imagens e dados”, diz Carlos Reich, gerente de administração e finanças da Enthalpy Chile. Para isso, adotam videoconferências com tecnologia da Polycom, através da qual se reúnem diariamente com executivos australianos. E, apesar de a teleconferência ter se convertido em um plus para as reuniões, esta ganhou ainda mais destaque na hora de programas de capacitação. Para desenvolver seus projetos, a empresa necessita treinar seu pessoal com os técnicos da Austrália. Além disso, está usando esse serviço para o projeto Quéchua, que administra no Peru. “Usamos a videoconferência para evitar viagens e fazer reuniões à distância entre eles e a empresa de engenharia que nos apóia”, conta. Segundo Reich, ainda que a implementação das salas de videoconferência demandem um investimento importante, o custo operacional é nulo, porque já tinham internet banda larga. A sala de reuniões conta com dois aparelhos de TV, um para ver os sócios e outro para as informações. “A qualidade não é de alta definição, mas não precisamos de outra por enquanto, pois funciona bem e é instantânea”, acrescenta, afirmando que na companhia também usam outras tecnologias como a GoToMeeting, para fazer trabalhos colaborativos por internet. Na Polycom – empresa que traba-

lha com comunicação à distância –, também se busca economizar usando a tecnologia. Vinte e cinco por cento de seus empregados trabalham de casa. O brasileiro Pierre Rodríguez, diretor de operações e marketing da Polycom para América Latina e o Caribe, por exemplo, tem o escritório montado em sua casa no Rio de Janeiro, apesar da filial brasileira estar em São Paulo. “Por algum motivo, a distância tira a produtividade da companhia”, diz Rodríguez. “O coração da empresa é desenvolver soluções que eliminem esse problema.” Para a

fazer a capacitação ao vivo”, conta Jorge Nava, subdirector de suporte técnico da TI da Soriana. E ainda que o começo não tenha sido fácil tanto para os capacitadores quanto para os empregados, segundo Nava, a naturalidade foi sendo adquirida aos poucos, nos primeiros dois anos. Hoje contam com estúdios centrais de TV equipados Olhos nos e sedes com aparelhos de olhos: com a TV e câmaras telepresença, é para receber

Polycom, as empresas latino-americanas estão cada vez mais conscientes disso e seu mercado tem crescido 31% ao ano nos últimos cinco anos. Segundo Rodríguez, a economia em custo de viagens pode chegar a 30% com o uso de videoconferências. Quanto a economias qualitativas, o lucro se reflete em ser mais ágil, treinar os empregados para que produzam mais e inclusive lançar um produto de forma mais rápida. A rede de centros comerciais Soriana, no México, também tira proveito das videoconferências – providas pela empresa Tandberg – para fortalecer a capacitação. Com sede principal em Monterrey e mais de 80 mil empregados em todo o país, era necessário buscar uma forma de treiná-los sem ter que movê-los. “Em 2002 começamos com um projeto para

e enviar imagens. “No início, os empurrávamos para que fossem às videoconferências, mas hoje já vão sozinhos”, diz Nava. Trata-se de um sem-fim de ferramentas virtuais que, em seu conjunto, são uma peça fundamental para as companhias globais. E, além de ajudar à redução dos custos de viagem, é uma excelente forma de melhorar a produtividade à distância. Apesar de ainda serem poucos os exemplos de uso na América Latina, tudo indica que a tecnologia se massificará nos próximos anos. Há muitas empresas que estão à frente desse mercado, como a Cisco e a índia Tata, que já lançaram as primeiras salas públicas de telepresença nos EUA e na Índia, respectivamente. E não há melhor exemplo de trabalho a longa distância do que esse. Q

possível ver o interlocutor em tamanho real.

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 33


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Jose Paim de Andrade Junior CEO & Founder MaxCap Real Estate Investment Advisors

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Where Brazilian real estate investors and developers do business Francisco de Ausgustinis Investment Manager Real Estate, Fundação CESP

Eduardo Machado Managing Director The Carlyle Group

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NEGÓCIOS F&A

E D A D A OR

P M TE

S A T R E F O s a r i e d a d r e v ando i r c o ã t s e s em iva t g a a r g o e c n e s o a c r i i e onôm uem tiver dinh c e s a v i t a t c As expe pechinchas para q io María Delgado, Miami A nton

onheça o caso da Bienes Turgon. Trata-se de uma ignota empresa de Monterrey, no norte do México, que depois de desembolsar apenas US$ 17 milhões transformou-se em uma das principais fabricantes de escapamentos do mundo, com fábricas na Europa, África do Sul, Índia, Estados Unidos, Austrália e China. Isso depois de adquirir, na segunda semana de janeiro, toda a unidade de sistemas de escape da Delphi,

C

gigante norteamericana cujas vendas, não informadas oficialmente, chegaram a cerca de US$ 294 milhões em 2007, segundo fontes relacionadas à empresa. Os mexicanos não estão preocupados que o ativo comprado esteja relacionado a uma indústria como a automobilística, que sofre uma séria contração global, nem que a própria Delphi esteja atravessando um delicado processo de quebra. “Rapida-

mente nos convertemos em uma multinacional. Em uma economia pujante, não existiriam oportunidades como essa”, diz José De Nigris, diretor comercial de uma das unidades da empresa mexicana vinculada à transação. “Os preços dos ativos já têm descontados os resultados ruins de 2008 e as más expectativas para 2009, e podemos aproveitar isso se temos dinheiro.” A operação realizada pela Bienes Turgon é o exemplo de

uma tendência crescente na indústria das fusões e aquisições (F&A): a busca de ativos baratos, golpeados pela crise, para crescer e consolidar negócios. Parte dessa tendência já foi vislumbrada no final de 2008. Durante o quarto trimestre do ano, registraram-se 348 operações de F&A, 5% mais que em 2007, segundo o sistema de informações Dealwatch. O interessante é que o valor médio dos múltiplos dessas operações (valor da compra

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 35


NEGÓCIOS F&A panorama mundial. O que as empresas buscam é sobreviver e ficar em boa forma frente a um contexto muito volátil e muito hostil”, diz. E também há o caso de empresas que já ampliaram

dir a produção – não quer dizer que a empresa esteja cega para algo atraente que passe diante dos olhos. Schmitt afirma que a Grendene está consciente de que a crise poderá gerar boas oportunidades de investimento,

AFP

dividido pelo lucro antes de descontar impostos e juros do ativo adquirido) caiu 47%. Trata-se de um buyers market ideal, mas do qual só podem participar as companhias com abundante liquidez e escassos compromissos de dívida, pois as linhas de financiamento já estão cortadas. De fato, a necessidade de dinheiro é o que tem feito com que o telefone do advogado Miguel Zaldivar não toque com a mesma frequência de antes. Este sócio do escritório Hogan & Hartson, de Miami, manteve um ritmo acelerado de trabalho ao longo de 2008, concretizando multimilionários acordos de fusões e aquisições de seus inúmeros clientes na América Latina. Mas logo chegou novembro e o financiamento encolheu. “Hoje não há financiamento. No setor de petróleo, ninguém sabe o que vai acontecer. Em petroquímica, os financiamentos estão todos parados. No setor agroindustrial está tudo parado. No elétrico, apesar de não se tratar de uma commodity, as pessoas estão esperando para ver o que acontece”, diz Zaldivar. É que o surgimento de tentadoras ofertas não fez com que os compradores se lançassem como loucos para agarrá-las. Sergio Fuentes, diretor da Standard & Poor’s, afirma que, frente à virulência com que a crise está deteriorando o clima de negócios na América Latina, a atenção de muitas empresas se volta sobretudo a buscar como proteger-se, em vez de fixar-se em como continuar crescendo. “Temos um tema de financiamento que mudou em todo o mundo. Por outro lado, há o tema da forte desvalorização das moedas frente ao dólar, a queda no preço das commodities. E além disso enfrentamos muita incerteza sobre o que vai acontecer no

Galeazzi, do Pão de Açúcar, prepara sua equipe para caçar oportunidades. sua capacidade de produção nos últimos anos e por isso não sente necessidade de adquirir outras companhias. Exemplo disso é a fabricante brasileira de calçados Grendene, que em 2007 adquiriu uma fatia da Azaléia e fechou 2008 com lucro recorde. “Deveremos chegar a 156 milhões de sandálias vendidas em 2008”, diz o diretor de relações com os investidores Francisco Schmitt, que agrega que a empresa poderia passar dois ou três anos sem pensar em grandes investimentos para aumentar a produção. “Os investimentos serão somente de manutenção.” Mas estar casado com um conceito – neste caso, o de não investir por enquanto em expan-

36 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

e “se surgir algo interessante, vamos avaliá-lo”, afirma. Já o Pão de Açúcar apresentou uma postura mais agressiva. O gigante supermercadista brasileiro tem US$ 600 milhões em caixa e montou uma equipe especializada dentro de sua organização para estudar fusões e aquisições, além de contratar a consultoria PricewatherhouseCoopers e o banco de investimentos BBA. O objetivo é aproveitar as oportunidades que surgem com a crise. “Ao montar esse esquema, nos organizamos para fazer aquisições de forma estruturada e menos impetuosa”, diz Claudio Galeazzi, presidente do Grupo Pão de Açúcar à mídia local. “Nas últimas semanas, o

diálogo com as empresas tem sido mais fácil e os preços se mostram mais atraentes.” Além de supermercados, a empresa está à caça de negócios como redes de farmácias e postos de gasolina. Essa mesma estratégia é seguida pelo chileno Alfonso Swett. O diretor executivo da Forus, especializada na representação de marcas de roupa vendidas diretamente em suas lojas, manteve uma administração financeira conservadora durante os últimos cinco anos, o que lhe permitiu juntar US$ 25 milhões em caixa e abrir uma linha de crédito de US$ 14 milhões que destinará à compra de empresas para entrar em nichos em que hoje não está presente. “O número de aquisições não está definido, já que dependerá do tamanho de cada negócio e das oportunidades que se apresentem”, diz Swett. “Queremos entrar em 2009 observando e reagindo rapidamente.” O setor varejista poderá ser um nos quais haverá mais ofertas na América Latina, além de outros que foram golpeados pela crise. No México, por exemplo, vislumbram-se oportunidades de compra em companhias do setor automobilístico, de bens duráveis, em empresas vinculadas à produção ou venda de produtos de luxo e inclusive no segmento imobiliário. Além disso, haverá boas oportunidades em empresas sob pressão financeira. De olho nas dificuldades enfrentadas pela Aracruz, que perdeu mais de US$ 2,1 bilhões em operações com derivativos, a Stora Enso, por exemplo, teria tentado estabelecer negociações para aumentar sua participação na Veracel, joint-venture entre os dois grupos – a Aracruz negou a informação em fato relevante. Porém, não obteve sucesso.


FIQUE DE OLHO A crise econômica internacional oferece uma longa lista de motivos para manter a cautela. Ao revisar as cifras, entretanto, surgem alguns nomes que, sim, contam com a invejada liquidez – e, aparentemente, com apetite – para continuar crescendo. VALE O auge das commodities deixou a gigante brasileira da mineração com um colchão repleto de dinheiro. Segundo os executivos da companhia, suas reservas em dinheiro somam mais de US$ 15,3 bilhões e a empresa ainda conta com uma linha de crédito de longo prazo de mais de US$ 11 bilhões que poderia ser usada em novas aquisições. Não obstante, a Vale declarou que não tem pressa em gastar esse dinheiro. Recentemente a companhia realizou algumas aquisições pequenas, incluindo a compra de ações da Onça Puma e de alguns ativos de carvão na Colômbia. mas isso é visto mais como um processo para unir cabos soltos, e não constitui uma aquisição significativa para a empresa. Em setembro de 2008 a Vale registrava liquidez corrente de 3,2 (ou seja, seus ativos de curto prazo superavam em 3,2 vezes seus passivos no curto prazo). BUENAVENTURA O maior produtor de metais preciosos do Peru afirmou estar atento às oportunidades de compra no momento em que os preços dos metais têm registrado queda. A empresa conta com mais de US$ 390 milhões em reservas líquidas e estaria particularmente interessada em companhias com boa situação financeira que lhe ajuda a fortalecer seus livros sob a atual conjuntura. Representantes da Buenaventura afirmaram estar mantendo conversas com alguns bancos de investimento, mas até o momento não encontrou nenhum alvo com o perfil que busca. A empresa, que registrou faturamento de US$ 823,7 milhões em 2008, indicava uma liquidez corrente de 3,2 em setembro de 2008. ACINDAR Esta é outra companhia com um saudável quadro financeiro. A empresa, que não cumpriu suas obrigações durante a crise

“Algumas companhias que incorreram em operações de financiamento em 2008 e não eram vistas inicialmente como agressivas, com as atuais condições de mercado passaram a ser”, diz Zaldivar, de Miami. “Muitas dessas empresas se verão obrigadas a reestruturar-se, e como parte desse processo haverá um bom número delas que considerará prudente desfazer-se de parte de seus ativos.” Não obstante, as oportunidades são apenas para valentes. Em um cenário de volatilidade como o atual, muitas companhias optarão por manter-se afastadas de qualquer situação de compra devido a dúvidas sobre a qualidade do fluxo de caixa da empresa a ser comprada, diz Eduardo Uribe, diretor-

gerente de Corporate Rating Latin America para a Standard & Poor’s. “Considero mais provável que muitas dessas empresas optem por intervir no crescimento orgânico em vez de realizar alguma aquisição”, diz Uribe. “Teria que ser uma oportunidade muito boa em termos de preço, e que por outro lado o montante requerido não impactasse muito seu perfil financeiro ou seu balanço em termos de estrutura de capital e liquidez.” Segundo Uribe, na verdade as empresas estão focadas em reduzir custos. “Na maioria dos casos, o que vemos são muitas empresas que estão reduzindo seu gasto ao mínimo para preservar a liquidez, reduzir a dívida na medida do possível e realmente consoli-

econômica na Argentina, aproveitou o auge dos últimos dois anos para saldar suas dívidas e já realizou alguns investimentos para expandir sua capacidade, mas não de forma significativa. No fim do ano passado a Acindar contava com quase US$ 400 milhões e uma relação de 3,2 em liquidez corrente. GRUPO MÉXICO A empresa, com mais de US$ 2,76 bilhões em caixa, já quis comprar a mineradora norte-americana Asarco, mas agora afirma já não estar mais interessada. Seus acionistas, a família Larrea, fizeram algumas aquisições fora do setor de mineração, mas a título pessoal. A empresa, que faturou US$ 6,58 bilhões em 2008, registrava em setembro do ano passado liquidez corrente de 4 e uma relação dívida líquida/ patrimônio líquido de 16,4. TELEVISA A Televisa esteve realizando algumas aquisições nos últimos anos e, devido à sua boa situação financeira, poderia manterse assim nos próximos meses. A empresa conta com mais de US$ 3,03 bilhões em seu poder, montante que a converte em uma das companhias com maior disponibilidade de dinheiro no México. Em 2008 o faturamento da empresa foi de US$ 4,18 bilhões e, em setembro desse ano, registrava uma liquidez corrente de 5,2. Sua relação dívida líquida/patrimônio líquido era de 0,00 no mesmo mês. AMERICA MÓVIL A América Móvil esteve muito ativa em operações de F&A no passado e os analistas acham que poderá continuar ativa no futuro, ainda que em menor proporção. A empresa vinculada ao magnata mexicano Carlos Slim conta com mais de US$ 1,1 bilhão para fazê-lo, mas indicava uma liquidez corrente de 0,7 em setembro de 2008.

dar sua posição de negócios enquanto esperam a volta de condições mais benignas no mercado.” Gianni Casanova, sócio do banco de investimentos IB Partners, em São Paulo, concorda. Ele explica que, em uma crise de solvência como a que estamos atravessando, as empresas estão mais focadas em sua posição de caixa, o que as faz reduzir custos, avaliar quais contratos podem cancelar, a qual fornecedor atrasar o pagamento, e isso tem um efeito cascata sobre a liquidez e a solvência de outras empresas. E esse sentimento permanecerá nos próximos meses, ao menos até que a incerteza não diminua. “Este é um momento difícil para tomar decisões... É complexo hoje prever um

panorama para os próximos três, quatro ou cinco anos”, afirma Fuentes, da S&P. “E é preciso ter costas largas e uma posição competitiva muito forte, pois não sabemos até onde o slowdown econômico vai chegar, não sabemos qual será o fundo da crise.” Mas, para outros, como os mexicanos da Bienes Turgon, sair às compras é uma forma barata de reduzir essa incerteza. “Consolidar é reduzir risco, especialmente nesta indústria que costuma operar muito alavancada”, diz De Nigris. “Hoje, para muitos, a única forma de subsistir é integrando-se a uma empresa que tenha dinheiro.” Q Com Felipe Aldunate e Eduardo Thomson, Santiago

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LATINSTOCK

NEGÓCIOS IMOBILIÁRIO

CANCÚN BRASILEIRA EM CRISE Investimentos das indústrias imobiliária e do turismo no litoral do Nordeste brasileiro sofrem com a crise econômica mundial e com entraves sociais e ambientais Dubes Sônego, São Paulo

O

cenário econômico para o litoral de alguns dos estados mais pobres do Nordeste brasileiro, há dois anos, era o mais promissor possível. Levando-se em conta apenas empreendimentos na costa do Ceará, Rio Grande do Norte e Alagoas, a soma dos investimentos superava os R$ 10 bilhões em condomínios de casas para segunda residência e complexos turísticos, com ho-

téis, resorts, marinas e campos de golfe, entre outros atrativos. Os investidores envolvidos, a maioria europeus, só não contavam com a quantidade de obstáculos ambientais e sociais que enfrentariam. Nem com a crise financeira mundial, que, além de tudo, poderá afastar potenciais compradores de imóveis de veraneio e turistas estrangeiros abonados. Um dos exemplos mais

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eloqüentes do que acontece no Nordeste é o do fundo norueguês Brasil Resorts Group. Há dois anos, ele era o maior fundo escandinavo na região, reunindo cerca de 20 investidores, com cerca de R$ 60 milhões em terrenos comprados. Na época, o grupo já havia adquirido terras e 18 imóveis, num total de 1,2 milhão de metros quadrados, e investido R$ 15 milhões em três empreendimentos, com o objetivo de atrair compradores e veranistas de países como Noruega, Suécia e Dinamarca. Com a crise econômica, porém, o cenário ficou nebuloso. “Desfizemo-nos de parte de nosso portfólio de terras há alguns meses e, agora, o comprador perdeu os recursos que usaria para pagar por elas”, afirma Morten Skarra, executivo do Brasil Resorts Group. O pior, porém, são as expectativas negativas. Skarra

diz que a indisponibilidade internacional de recursos deverá travar a compra de terras e o desenvolvimento dos empreendimentos, a menos que a companhia encontre novos investidores com dinheiro na mão. Algo que considera “improvável”. “Não estamos iniciando construções, nem ofertando imóveis. Em vez disso, estamos reduzindo nosso portfólio de terras. Isso, é claro, também em função da falta de compradores para residências de veraneio no Brasil”, diz. Não bastasse o mercado em baixa, Skarra ainda atribui a desaceleração a “muita corrupção, imprevisibilidade e instabilidade dos serviços e autoridades públicas”. Outro projeto que passa por momento de incerteza mercadológica é o do complexo turístico Pontal de Camaragibe, localizado no município de Passo de Camaragibe, no Norte de Alagoas. É o maior em execução no estado. Apesar de Luiz Otavio Gomes, secretário de Desenvolvimento Econômico de Alagoas manter o discurso otimista e afirmar que não houve suspensão de projetos, José Romeu Ferraz Neto, diretor-presidente da Investtur, empresa à frente do empreendimento, é mais


cauteloso. E confirma que lançamentos marcados para o final de 2008 foram adiados. “Mas continuamos a trabalhar no projeto e na capacitação de pessoal”, diz o executivo. “Vamos ver como se dará a recuperação da economia.” Idealizado para atender turistas nacionais e estrangeiros, o Pontal de Camaragibe tem orçamento de R$ 420 milhões, divididos entre a construção de três hotéis – dois da tailandesa Six Senses e outro da Investtur Brasil – e 165 casas de veraneio, num terreno de 158 hectares. E a expectativa inicial era a de que o complexo hoteleiro pudesse iniciar as operações no final de 2010. “O que está acontecendo atinge diretamente toda a economia. E também o setor imobiliário, que não é prioritário”, diz Ferraz Neto. Mas, ao menos dois dos hotéis, garante o secretário Gomes, deverão começar a ser construídos até abril. Isso porque, dentro do mar de incertezas, algumas iniciativas resistem. “Nem todos os fundos foram afetados. E os que não foram estão ávidos pelo Nordeste brasileiro”, diz Gomes, justificando as expectativas positivas. Dois grandes projetos no estado que, segundo ele, não dão sinais de fragilidade são um do grupo asiático de resorts Aman, em parceria com empresários locais, e o condomínio de luxo, com 50 casas e 40 leitos hoteleiros, padrão seis estrelas, em Coruripe, capitaneado pelo fundo de investimentos Itacaré Capital Partners. Este com investimento estimado em R$ 100 milhões, em três anos.

LENTAMENTE Entretanto, mesmo que existam sobreviventes da crise dispostos a investir, nem todos pretendem fazê-lo antes da poeira baixar. Segundo Fernando Fernandes,

secretário de turismo do Rio Grande do Norte, o baque sobre o sistema financeiro veio no momento em que grandes projetos se encontravam em fase de montagem da arquitetura financeira. No estado, diz, os três maiores projetos são de investidores espanhóis, mercado onde a crise é intensa. “Nenhum está parado, mas estão sendo tocados em velocidade bem reduzida”, afirma o secretário. “E isso deverá implicar em atraso de pelo menos um ano.” Pode não parecer muito, mas bastará para interromper de forma brusca as perspectiva de crescimento de empresas de outros elos do setor imobiliário. De acordo com Fernandes, “existia grande expectativa de construtoras e fornecedores de materiais de construção com as obras.” Em valor geral de venda (VGV), estimativa de preço de comercialização de um imóvel, os projetos programados para o estado chegam a R$ 3 bilhões, algo significativo para um PIB estadual por volta de R$ 20 bilhões. “O que nos deixa esperançosos é que os empreendedores continuam a vir ao estado trazendo potenciais investidores”, diz. Quando estiverem prontos, os projetos em andamento aumentarão de cerca de 40 mil para 120 mil o número de leitos no estado, considerando casas de segunda residência, hotéis e resorts. Hoje, Natal, a capital, conta com 26 mil leitos. A expectativa de geração de empregos com as obras é de cerca de 8 mil vagas. E de outros cerca de 20 mil postos fixos, para operação dos complexos turísticos. Porém, como diz Hugo Filardis, sócio do Siqueira de Castro Advogados, que assessora grupos de investidores portugueses e espanhóis, o momento é de retração e os

investimentos aguardam a normalização do mercado externo. “Os já iniciados vão continuar, até porque foram investidas altas somas. Mas, a perspectiva é a de aguardar”, diz o advogado, que, apesar de

Tremembé. Motivo pelo qual as obras estão paradas. Antes de passar às mãos do grupo Afirma, no ano passado, a Cancun brasileira também viu seu idealizador, Juan Ripoll Mari, empresário espanhol

Antes se compravam terrenos para estocar. Agora, só com garantia de retorno. tudo, mantém o otimismo. “O Brasil, entre os emergentes, é dos mais sólidos. Livre de conflitos religiosos, democrático e forte economicamente.” Porém, nem todos os problemas que limitam o desenvolvimento dos projetos que prometem revigorar a cara turística da costa brasileira estão relacionados à crise financeira mundial. O maior deles, batizado Cidade Turística Nova Atlântida e também conhecido como a “Cancún brasileira”, está parado há cerca de quatro anos, devido a uma disputa com o Ministério Público Federal (MPF). “Não falta dinheiro. O grupo Afirma (de origem espanhola e responsável pelo empreendimento) reavaliou seus investimentos no mundo. Mas o Brasil foi colocado como prioridade”, diz Rodrigo Azevedo, diretor da HRA, consultoria que representa a Afirma no Brasil. Orçado em mais de R$ 10 bilhões, a “Cancun brasileira” promete ser um complexo turístico com 13 hotéis, 14 resorts, seis condomínios residenciais e três campos de golfe, na costa do Ceará. No entanto, há a suspeita de que os 3,1 mil hectares em que é prevista a construção façam parte de uma reserva indígena

residente no Rio de Janeiro, ser acusado de lavagem de dinheiro e crime organizado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda. Para evitar surpresas desagradáveis, alguns investidores aproveitam a redução no ritmo dos negócios para avaliar com mais calma as oportunidades. É o que diz Rossana Fernandes Duarte, sócia da área de negócios imobiliários do escritório TozziniFreire Advogados, que representa clientes estrangeiros com interesses na Bahia e em Pernambuco. “Um deles pediu para olhar com mais calma a documentação de posse”, diz a advogada. “Antes, compravase para deixar os terrenos em estoque. Agora, só se realmente há chance de retorno.” Enquanto a situação internacional não se normaliza, o jeito talvez seja voltar a buscar na região alternativas para reduzir o impacto da crise. Como o português Paulo Pereira, gerente geral dos hotéis Village Beach e Village Dunas, no Rio Grande do Norte. Com a expectativa de queda de até 20% no fluxo de estrangeiros no estado, Pereira decidiu focar esforços nos mercados brasileiro e argentino. Menos ricos, mas mais assíduos. Q

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NEGÓCIOS CARREIRA NADIR MORENO: pioneira à frente da UPS no Brasil

PENSAR GLOBAL, CONTRATANDO LOCALMENTE Cresce participação de executivos nativos em filiais de transnacionais no Brasil e na América Latina Dubes Sônego, São Paulo

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A

trajetória profissional de Nadir Moreno, presidente da UPS no Brasil, é emblemática de um movimento cada vez mais comum em filiais brasileiras de companhias transnacionais. Formada em Direito, a executiva iniciou sua carreira na empresa praticamente quando esta desembarcou no Brasil, há pouco mais de 15 anos. Desde então, foi galgando postos até que, em 2007, depois de uma breve experiência no escritório de Miami, foi convidada a ser a primeira brasileira a assumir a presidência da UPS no Brasil. Não existem pesquisas específicas sobre o assunto, mas diretores de grandes consultorias especializadas na contratação e gestão de talentos são unânimes ao afirmar que o percentual de executivos expatriados em filiais de companhias estrangeiras na região vem diminuindo significativamente nos últimos anos. Um movimento que tem raízes em fatores que vão da diferença de custos de contratação à melhora da qualificação dos executivos locais. Em recente declaração a AméricaEconomia, Cláudio Garcia, presidente da DBM Brasil, afirmou que em muitas das empresas alemãs com as quais sua companhia trabalha, a participação de expatriados no quadro de executivos diminuiu de 20% para 2% em menos de uma década. “É preciso considerar o alto custo financeiro e social da expatriação, não apenas para o executivo, mas para toda a sua família”, afirmou Garcia, lembrando ainda o alto risco de uma nãoadaptação cultural. Em linha semelhante, Marcelo De Lucca, diretor da divisão América Latina da Michael Page, afirma: “pelo menos metade dos executivos expatriados no Brasil voltou, por

indicação da matriz, sobretudo nos últimos dois anos”. O próprio caso da UPS é exemplar. E Nadir não foi a única brasileira a ganhar espaço dentro da hierarquia na filial no País. “Há dez anos, tínhamos 15 executivos expatriados”, diz a presidente da unidade brasileira. “Em 2006 e 2007, eram de dois a cinco. Hoje, não há nenhum.” Segundo Darcio Crespi, sócio diretor da Heidrick & Struggles no Brasil, “mesmo em posições como a diretoria financeira, tradicionalmente ocupada por estrangeiros, hoje eles são mais raros. E, quando vêm de fora, já não vêm necessariamente do país da matriz.” É uma tendência que Silvia Ester Jacoby, gerente de transferências internacionais de pessoal da Bosch para a América Latina excetuando-se o México, costuma acompanhar nas reuniões mensais do Grupo de Administração de Expatriados (Gadex). Fundado no final de 1992 por Rhodia, Cargill e Gessy Lever (hoje, Unilever), o Gadex congrega atualmente representantes de 33 companhias nacionais e estrangeiras, que mantém políticas e estruturas de administração de expatriados no Brasil. Entre essas empresas estão nomes como ABB, Alstom, Dupont, Goodyear, Siemens, Telefônica, Volkswagen e Scania. “Todos sentem a tendência de redução da participação de estrangeiros”, afirma. Na Bosch, que também participa do grupo, levandose em consideração todos os níveis hierárquicos, do trainee ao presidente, houve aumento em números absolutos de estrangeiros trabalhando na filial brasileira, diz Silvia Jacoby. Mas a diferença entre o volume de brasileiros enviados para fora e a queda na importação


de talentos dá uma boa idéia da tendência atual. Segundo ela, há dez anos, havia cerca de 20 estrangeiros da empresa no Brasil, e cinco brasileiros lá fora. Hoje, são 128 brasileiros no exterior e 55 estrangeiros no Brasil ou em processo de expatriação. “De início, foram mandadas timidamente algumas levas de brasileiros para treinamento na matriz, na Alemanha”, conta ela. “Com o tempo, percebeu-se que os executivos brasileiros tinham potencial”, diz Silvia Jacoby. E, com isso, mais e mais executivos locais começaram a ser treinados para substituir expatriados. Neste sentido, Crespi, da Heidrick & Struggles, concorda com a tese da globalização. E acrescenta outro ponto relevante: o crescimento da América Latina, que tornou a competição nos mercados internos da região mais acirrada e aumentou a importância do conhecimento das peculiaridades de cada mercado. “Sem dúvida, a maior exposição internacional das empresas foi criando um conjunto de executivos que poderiam trabalhar em qualquer lugar do mundo. Com a vantagem de conhecerem o mercado e a cultura locais”, afirma o consultor. Segundo Nadir Moreno, a decisão da UPS foi tomada com base em fatores como o momento histórico da empresa no Brasil e uma série de análises que mostravam que, trazendo um executivo de fora, por mais que este conhecesse a cultura da empresa, dificilmente conheceria a cultura local. “Em média, são necessários dois anos de adaptação”, diz a executiva, acrescentando que, além disso, a expatriação é uma opção mais cara. “Os custos chegam a ser 60% maiores.” Entre os encargos envolvidos em uma expatriação, é preciso considerar a busca

por escola para os filhos do executivo; os custos da mudança de móveis e de outros pertences; o gerenciamento ou a compra de um imóvel e o pagamento de uma empresa contábil para cuidar da questão fiscal no país de origem e no de destino, entre outras coisas. “Independente disso, porém, inicialmente, quando estabelece uma operação em um novo país, o normal é a empresa exportar um executivo. A diferença de

patriado sabe que está dentro de um circuito de carreira, que irá voltar dentro de um determinado período. E dificilmente aceitará propostas do mercado para sair”, concorda Crespi, da Heidrick. Outro caso em que a expatriação compensa, diz Nadir Moreno, é quando não há no país de destino pessoas com a competência necessária para desenvolver o projeto que se deseja. Uma vez formada a

Silvia Jacoby: com o tempo, a matriz percebeu que brasileiros tinham potencial. preço é compensada pelo grau de confiança”, diz ela.

ÀS VEZES COMPENSA Para De Lucca, devido ao grau de importância estratégica que têm, os cargos ainda ocupados com maior freqüência por expatriados são a presidência e a diretoria financeira. “O fato de novas tecnologias terem facilitado a comunicação tem importância menor nesse processo de redução do percentual de executivos estrangeiros em filiais brasileiras de transnacionais. O fator confiabilidade é mais importante”, afirma o consultor. “Um executivo ex-

mão-de-obra local, contudo, é possível usar profissionais locais. “A qualificação do mercado melhorou”, diz. Tanto que agora, segundo a executiva, em muitos casos são executivos brasileiros que estão implantando projetos em outros países da América Latina, da mesma forma que estrangeiros fizeram aqui antes. A própria Nadir Moreno recebeu, em 2003, a gerência das áreas jurídica e de recursos humanos da empresa na América Latina, em sua escalada na carreira. E adaptou a vários países da região as diretrizes culturais da UPS na gestão de pessoal.

O fato de existir maior abertura em filiais brasileiras e latino-americanas de multinacionais para executivos nativos é uma boa notícia principalmente para um grupo específico: o de executivos que fizeram carreira lá fora e decidiram voltar. Segundo Jairo Okret, diretor da Korn/ Ferry International no Brasil, isso têm acontecido com maior freqüência há pouco mais de um ano. “Tornou-se comum executivos nos procurarem para conversar sobre a situação no Brasil; se é uma hora conveniente para voltar; se existe a possibilidade de colocação no mercado brasileiro”, conta. A razão de volta, diz o consultor, é sempre uma mistura de motivos pessoais, como o amor pelo país, com a percepção de que existem oportunidades reais e imediatas de se fazer uma carreira de sucesso no Brasil. “As pessoas estão percebendo que existe a possibilidade de fazer coisas interessantes, de ter crescimento de carreira e ser economicamente bemrecompensado”, diz. Agora, com a derrocada da economia internacional, em especial nos mercados dos EUA e da Europa, existe a possibilidade de que este movimento se intensifique. De Lucca, da Michael Page, diz acreditar que muitos executivos brasileiros que estão lá fora, observando o cenário macro, podem querer voltar, caso tenham aqui interesses pessoais. E, não apenas executivos brasileiros, mas também originários de outros países da região, notórios pela qualidade de seus gestores, como Chile, México e Argentina. Seria um fator a mais a contribuir para a nacionalização dos quadros de gestão das filiais brasileiras e latino-americanas de grandes companhias transnacionais. Q

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Exemplo disso é a fabricante de bijuterias argentina Las Penélope. Criada em 2001 pela irmã e pela mãe de Francisco J. Ferrari Inchauspe, a empresa abriu o caminho à exportação quase por acaso. “Conhecíamos pessoas com contatos em Milão, Berlim, Londres, e nossos primeiros representantes acabaram sendo amigos dos amigos”, conta Inchauspe, sócio da empresa. O investimento no site, nesse caso, veio tornar a comunicação com representantes e novos compradores internacionais mais fácil e dinâmica. “Antes tínhamos que imprimir e enviar catálogos, única forma de os clientes conhecerem as coleções, e ficava caríssimo. Desde 2007, colocamos tudo na web, onde os interessados escolhem o que querem e cotizam suas compras no atacado”, conta. Hoje, das cerca de mil peças de design próprio fabricadas por mês, entre 30% e 40% vão para fora da Argentina.

CREDIBILIDADE “No Brasil, podemos pensar que temos condições atípicas, já que o próprio e-commerce é mais desenvolvido”, diz Gerson Rolim, diretor executivo da Câmara e-Net, indicando que 20% do comércio eletrônico realizado no País em 2008, cerca de R$ 1,7 bilhão, foi de pequenas e médias empresas. “Mas, claro, quando se trata de vendas entre empresas de países diferentes, é preciso gerar tranquilidade ao comprador, que muitas vezes não conhece a contraparte com a qual está negociando”, afirma. Para conseguir atrair clientes externos através da web com um aval de segurança, Rolim destaca duas iniciativas nacionais de apoio aos pequenos exportadores: o Correios Net

DIRETO DO BLOG

A OPINIÃO DOS INTERNAUTAS

“Considero que (as travas para potencializar exportações através da internet) são várias: falta de capacitação em TI, legislação inadequada e reorientação da estrutura organizacional para dar suporte a essas práticas.” Jorge Núñez, México “Não será possível utilizar a internet como ferramenta para impulsionar as vendas externas e internas se não se dão as condições econômicas e facilitem a sua utilização. No Chile, ainda temos regiões sem esta possibilidade.” Gustavo Alarcón, Chile “Fomentar a educação em tecnologia, o uso e aproveitamento de ferramentas da web, e contar com um guia para o desenvolvimento de negócios on-line é primordial.” Carlos López, México Participe: http://blogs.americaeconomia.com/pymes/

Shop – shopping eletrônico dos Correios onde várias empresas montam sua loja virtual, com a garantia logística da empresa – e o Balcão de Comércio Exterior do Banco do Brasil (BB), usado por PMEs clientes do banco com um limite de crédito aprovado. Lançado em 2003, o serviço do BB permite, entre outras coisas, que o exportador peça pagamento antecipado do importador com custódia da remessa financeira condicionada ao recebimento da mercadoria pelo comprador. Todo o pedido é processado on-line, no valor máximo de US$ 50 mil por transação, e o sistema dá até 96 horas para que o exportador aceite um pedido. Para dar flexibilidade de negociação, o serviço ainda permite o envio de ofertas diferenciadas do preço publicado no site a até três importadores. “Hoje temos cadastrados 7,2 mil exportadores e 4,1 mil importadores, e em 2008 fechamos cerca de 1,1 mil transações, por US$ 6 milhões”, conta João Paulo

Poppi, gerente executivo da área de comércio exterior do Banco do Brasil. “Projetos como o Balcão do BB são bons para gerar novos contatos”, afirma Rafael de Nadal Milani, gerente de exportação da empresa Barcellona Móveis, de Lagoa Vermelha, Rio Grande do Sul. Com o forte da produção concentrado em hacks e mesas de computador, a empresa exporta desde 2003 graças, inicialmente, aos contatos realizados em feiras nacionais. “Hoje já atendemos a 39 países, sobretudo na América do Sul, Central e África”, conta Milani. A empresa não realiza transações on-line, mas devido ao aumento dos contatos feitos pela internet, em novembro de 2008 remodelou totalmente o site da empresa. “Buscamos uma linguagem mais fácil, manter um canal aberto para assistência técnica e vendas com pessoal trilíngue, que tem como meta atender as solicitações em um prazo máximo de 48 horas, e buscamos atualizar o conte-

údo do site a cada 15 dias”, diz Milani. Para estimular que mais empresas invistam no potencial da internet para impulsionar suas exportações, a brasileira Câmara e-Net assinou em junho do ano passado um convênio com a União Européia de três anos e verba de 7 milhões de euros para desenvolver um programa chamado Mercosul Digital. “A idéia é estudar formas de aproximar a infraestrutura dos países – como quanto à certificação digital e logística – para potencializar a exportação entre os membros do bloco”, conta Rolim. “Além de verificar a possibilidade de replicar a iniciativa do Banco do Brasil nos outros países em que o banco esteja.” E para os pequenos empreendedores que já pensam melhorar sua apresentação na web, Diego Frediani, da RGX, é claro: “não se preocupem tanto em transferir meios de pagamento para seu site. O que a maioria das empresas precisa é despertar o interesse de seus clientes”. Para isso, indica os passos básicos que devem ser seguidos: - apresente informações e antecedentes da empresa, ao menos em dois idiomas; - forneça informações técnicas sobre os produtos e dados relacionados ao processo de exportação, com uma descrição didática, deixando claro prazos de entrega e a logística reversa em caso de problemas; - garanta atenção e assistência técnica on-line, com resposta rápida e na língua nativa do cliente; - desenvolva boletins eletrônicos, renovação periódica de conteúdo, e material promocional que se possa adequar a novos mercados. E bom trabalho! Q

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PMES GLOBAIS Exemplo disso é a fabricante de bijuterias argentina Las Penélope. Criada em 2001 pela irmã e pela mãe de Francisco J. Ferrari Inchauspe, a empresa abriu o caminho à exportação quase por acaso. “Conhecíamos pessoas com contatos em Milão, Berlim, Londres, e nossos primeiros representantes acabaram sendo amigos dos amigos”, conta Inchauspe, sócio da empresa. O investimento no site, nesse caso, veio tornar a comunicação com representantes e novos compradores internacionais mais fácil e dinâmica. “Antes tínhamos que imprimir e enviar catálogos, única forma de os clientes conhecerem as coleções, e ficava caríssimo. Desde 2007, colocamos tudo na web, onde os interessados escolhem o que querem e cotizam suas compras no atacado”, conta. Hoje, das cerca de mil peças de design próprio fabricadas por mês, entre 30% e 40% vão para fora da Argentina.

CREDIBILIDADE “No Brasil, podemos pensar que temos condições atípicas, já que o próprio e-commerce é mais desenvolvido”, diz Gerson Rolim, diretor executivo da Câmara e-Net, indicando que 20% do comércio eletrônico realizado no País em 2008, cerca de R$ 1,7 bilhão, foi de pequenas e médias empresas. “Mas, claro, quando se trata de vendas entre empresas de países diferentes, é preciso gerar tranquilidade ao comprador, que muitas vezes não conhece a contraparte com a qual está negociando”, afirma. Para conseguir atrair clientes externos através da web com um aval de segurança, Rolim destaca duas iniciativas nacionais de apoio aos pequenos exportadores: o Correios Net

DIRETO DO BLOG

A OPINIÃO DOS INTERNAUTAS

“Considero que (as travas para potencializar exportações através da internet) são várias: falta de capacitação em TI, legislação inadequada e reorientação da estrutura organizacional para dar suporte a essas práticas.” Jorge Núñez, México “Não será possível utilizar a internet como ferramenta para impulsionar as vendas externas e internas se não se dão as condições econômicas e facilitem a sua utilização. No Chile, ainda temos regiões sem esta possibilidade.” Gustavo Alarcón, Chile “Fomentar a educação em tecnologia, o uso e aproveitamento de ferramentas da web, e contar com um guia para o desenvolvimento de negócios on-line é primordial.” Carlos López, México Participe: http://blogs.americaeconomia.com/pymes/

Shop – shopping eletrônico dos Correios onde várias empresas montam sua loja virtual, com a garantia logística da empresa – e o Balcão de Comércio Exterior do Banco do Brasil (BB), usado por PMEs clientes do banco com um limite de crédito aprovado. Lançado em 2003, o serviço do BB permite, entre outras coisas, que o exportador peça pagamento antecipado do importador com custódia da remessa financeira condicionada ao recebimento da mercadoria pelo comprador. Todo o pedido é processado on-line, no valor máximo de US$ 50 mil por transação, e o sistema dá até 96 horas para que o exportador aceite um pedido. Para dar flexibilidade de negociação, o serviço ainda permite o envio de ofertas diferenciadas do preço publicado no site a até três importadores. “Hoje temos cadastrados 7,2 mil exportadores e 4,1 mil importadores, e em 2008 fechamos cerca de 1,1 mil transações, por US$ 6 milhões”, conta João Paulo

Poppi, gerente executivo da área de comércio exterior do Banco do Brasil. “Projetos como o Balcão do BB são bons para gerar novos contatos”, afirma Rafael de Nadal Milani, gerente de exportação da empresa Barcellona Móveis, de Lagoa Vermelha, Rio Grande do Sul. Com o forte da produção concentrado em hacks e mesas de computador, a empresa exporta desde 2003 graças, inicialmente, aos contatos realizados em feiras nacionais. “Hoje já atendemos a 39 países, sobretudo na América do Sul, Central e África”, conta Milani. A empresa não realiza transações on-line, mas com o aumento dos contatos feitos pela internet, em novembro de 2008 remodelou totalmente o site da empresa. “Buscamos uma linguagem mais fácil, manter um canal aberto para assistência técnica e vendas com pessoal trilíngue, que tem como meta atender as solicitações em um prazo máximo de 48 horas, e buscamos atualizar o conteúdo do site a cada 15

dias”, diz Milani. Para estimular que mais empresas invistam no potencial da internet para impulsionar suas exportações, a brasileira Câmara e-Net assinou em junho do ano passado um convênio com a União Européia de três anos e verba de 7 milhões de euros para desenvolver um programa chamado Mercosul Digital. “A idéia é estudar formas de aproximar a infraestrutura dos países – como quanto à certificação digital e logística – para potencializar a exportação entre os membros do bloco”, conta Rolim. “Além de verificar a possibilidade de replicar a iniciativa do Banco do Brasil nos outros países do bloco em que o banco esteja.” E para os pequenos empreendedores que já pensam melhorar sua apresentação na web, Diego Frediani, da RGX, é claro: “não se preocupem tanto em transferir meios de pagamento para seu site. O que a maioria das empresas precisa é despertar o interesse de seus clientes”. Para isso, indica os passos básicos que devem ser seguidos: - apresente informações e antecedentes da empresa, ao menos em dois idiomas; - forneça informações técnicas sobre os produtos e dados relacionados ao processo de exportação, com uma descrição didática, deixando claro prazos de entrega e a logística reversa em caso de problemas; - garanta atenção e assistência técnica on-line, com resposta rápida e na língua nativa do cliente; - desenvolva boletins eletrônicos, renovação periódica de conteúdo, e material promocional que se possa adequar a novos mercados. E bom trabalho! Q

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PMES GLOBAIS [FERRAMENTAS] Cenário volátil: hora de controlar despesas

Guia contra a incerteza Calderón: energia mais barata

FORÇA PARA REAGIR O começo do ano marcou o anúncio por governos latino-americanos de alguns pacotes anticíclicos para conter os efeitos da crise econômica que não deixaram as Pmes de lado. No Chile, o programa de reativação da economia divulgado pela presidente Michelle Bachelet, que totaliza US$ 4 bilhões, inclui medidas como a eliminação temporária do imposto “de timbres e estampillas”, que encarece o crédito, e a redução de 15% dos pagamentos provisionais mensais pagos pelas Pmes sob o conceito de imposto de renda. O pacote também inclui uma iniciativa – que depende de aprovação do Congresso – que considera um subsídio para a contratação de jovens entre 18 e 24 anos. A ajuda seria equivalente a 20% de sua remuneração, e de 10% para o empresário que o contrate. Já no México, a série de medidas anunciadas por Calderón contempla a redução de tarifas de energia; a determinação de que 20% das compras realizadas pelo Governo sejam contratadas entre Pmes; a criação de um fideicomisso de US$ 374 milhões para impulsionar as Pmes e o incremento do financiamento às empresas. O que você acha dessas medidas? O que acredita que deveria ser feito em seu país para apoiar a atividade das Pmes? Deixe sua opinião em nosso blog: http://blogs.americaeconomia.com/pymes/ 44 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

No final de dezembro, o Sebrae lançou um documento com orientações gerais para que os pequenos empreendedores possam superar o período de incerteza e desaceleração da economia com menos dificuldades. Alguns dos alertas feitos pelo Sebrae: - Pmes que vendem ao consumidor final – controlar despesas e receitas e reforçar esforço de vendas. - Pmes que vendem para grandes empresas – acompanhar o desempenho dos setores de seus clientes e evitar depender de apenas um ou dois grandes clientes. - Pmes exportadoras: informar-se sobre a evolução da crise nos países para onde vende e diversificar mercados, seja no âmbito interno ou externo. - Pmes importadoras: avaliar vantagem e possibilidade de substituir por produtos nacionais. Se não, ter controle absoluto das despesas e receitas, e fazer promoções para atrair clientes. www.sebraesp.com.br

NOVA CARA O pulo do gato do negócio de Daniele Costa e Flavia Dallalana foi levar sua escola de informática até onde os alunos estavam: terceirizando as aulas nos colégios. Com o aumento da demanda, decidiram estruturar um modelo de franquias para expandir o negócio, lançado há dois anos. Dessa forma, a Computer Toys já chegou a 50 escolas e creches da cidade com operações próprias, além de 15 franqueadas, atendendo a mais de 10 mil crianças. As empresárias estão otimistas para 2009, quando esperam vender mais dez franquias. Otimismo exagerado? Para as empresárias, não. Afinal, em épocas em que se deve evitar o risco ao máximo, contar com uma marca já testada no mercado é mais fácil. www.computertoys.com.br


Entrepreneur Choice Awards Problemas de financiamiento. Burocracia excesiva. Falta de redes de apoyo. Lo sabemos: crear empresas es un tarea complicada en América Latina. Pero no es imposible. Así los demuestran casos de alto potencial en toda la región, emprendedores que han sabido sortear obstáculos y avanzar hacia el éxito empresarial. Y queremos darlos a conocer. Por ello, AméricaEconomía junto a la red de emprendedores FirstTuesday Americas y Endeavor presentan el primer concurso latinoamericano de emprendimientos: el Entrepreneur Choice Awards (ECA). Por medio de un panel de expertos de toda América Latina y la votación del público a través de internet, ECA seleccionará a los nuevos negocios que destaquen por su potencial de crecimiento e internacionalización.

Para participar, visita www.americaeconomia.com/eca, lee las condiciones y registra tu empresa.


NEGÓCIOS OPINIÃO

Alejandro Ruelas-Gossi

Cinco tarefas para tempos de crise VAMOS DIRETO AO PONTO. Na difícil conjuntura atual, as empresas podem cair em três diferentes armadilhas: a da deflação (caem preços de venda e a demanda), a da dívida (maior custo de financiamento) e a da falta de liquidez – que se vê impulsionada pelas duas anteriores. Não obstante, a armadilha mais importante é a tentação de ter reações anoréxicas frente à crise, ou seja, reduções de custo sem cuidado e sem inteligência às quais as empresas tendem em períodos como este e que simplesmente terminam debilitando nossas organizações em tempos que necessitamos ser mais fortes. Essa não é uma boa forma de reagir. Quando há um incêndio, não se espera que os indivíduos exerçam seus papéis, mas que executem certas tarefas – usar extintores, buscar água, salvar documentos, esvaziar as vias de escape – de forma a controlar o fogo. Durante um incêndio, ninguém está pensando em exercer sua função tradicional. Na crise, acontece o mesmo: trata-se de realizar tarefas, não de cumprir papéis. Podemos identificar cinco áreas nas quais as empresas têm que focar suas tarefas em tempos de crise: 1. Portfólio de produtos: Os booms econômicos e as recessões geram o mesmo efeito nos portfólios de produtos, mas em direções opostas. Nos últimos anos de expansão econômica, vimos como o crescimento do poder de consumo da classe média latinoamericana permitiu que essa começasse a comprar produtos tradicionalmente chamados de luxo, impulsionando um incremento na oferta de alta sofisticação. Em tempos de crise, há oportunidades para os produtos e serviços que, ao contrário, apontam aos segmentos amplos e massivos. A francesa Accor, uma das grandes redes de hotéis do planeta, nasceu justamente em um período de desaceleração econômica, no início dos anos 90. Até então, os hotéis na Europa eram tão caros que só atendiam a milionários ou esbanjadores, ou tão ruins que até caminhoneiros preferiam dormir em seu próprio veículo. O conceito dos hotéis Ibis surgiu nesse contexto, graças a uma reformulação na curva de valor. Não se tratou de tornar o caro mais barato. Simplesmente foram eliminadas as características do serviço hoteleiro que não eram valorizadas pelo segmento emergente devido a sua preocupação pela liquidez e privile46 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

giadas as características que esse novo público valorizava. 2. Segmentos-alvo: Em tempos de crise, uma das prioridades é conseguir dinheiro de forma rápida e constante. Para isso, é importante realizar uma cuidadosa discriminação de mercados e clientes, e priorizar aqueles setores industriais com menor impacto durante a recessão. Neste caso, serão os setores que se verão beneficiados pelo incremento no gasto em infraestrutura, por exemplo, priorizando aqueles clientes que foram disciplinados com seus pagamentos. 3. Descobrindo geografias: É preciso ser imaginativo também nos mercados geográficos aos quais se pode chegar, privilegiando aqueles menos tocados com a crise. É bom aprofundar a presença nos mercados que a empresa tem como emergentes e explorar aqueles em que está totalmente ausente. Hoje já é possível identificar os mercados que economizaram no tempo de vacas gordas e que estão em melhores condições para enfrentar a crise. 4. A conquista de volume: Isso é chave e um claro exemplo de que, em época de crise, os papéis não importam tanto quanto as tarefas. No início dos anos 90, uma empresa de autopeças mexicana transferiu funcionários dos departamentos de recursos humanos e finanças ao departamento de vendas. Treinaram-os e os enviaram a mercados nos quais não tinham forte presença. Graças a isso, sobreviveram à crise e, anos depois, a companhia foi comprada por um preço premium por uma companhia global, em cuja lista de clientes figuram Lexus e Toyota. Os volumes de venda são ainda mais importantes em tempos de crise e, portanto, não só é necessário acompanhá-los por dias ou semanas, mas por horas. 5. Valor percebido: Em tempos de crise, é importante buscar novas formas de criar valor. Uma forma de fazê-lo é deixar para trás a visão de que as empresas são um conjunto de atividades que estão entrelaçadas em uma rede de valor. Isso limita a visão e esconde as oportunidades de criar valor que há em buscar novas relações e formas de trabalhar com clientes e fornecedores. Em um mundo cada vez mais caótico e com cenários mais incertos, muitos dos bons gerentes passarão mais tempo orquestrando essas relações com empresas externas e buscando novas formas de criar valor do que analisando seus próprios processos internos. Exemplo de tudo isso é o que fez uma construtora peruana durante a crise que seguiu-se depois da explosão da bolha pontocom em 2000. A companhia identificou o segmento mais amplo da população que podia aspirar a uma casa, estimando que poderia dedicar US$ 30 ao mês em dividendo hipotecário. Pediu a um arquiteto que projetasse uma casa que pudesse ser financiada com esse valor e convenceu fornecedores de materiais e o banco para começar o negócio. No final, quando se recebiam os créditos, cada dólar era repartido em função dos centavos que cada um tivesse aportado. Na crise, não há dinheiro para investir, mas sim atores dispostos a ser orquestrados em volta de uma engenhosa proposta de valor, para o segmento e o mercado adequados. Q Diretor do The Strategy Orchestration Action-Tank. Adolfo Ibañez School of Management, Miami, FL USA.


DEBATES PANORÂMICA

Javier Santiso

América Latina em Davos 2009 NO FINAL DE JANEIRO e início de fevereiro uma pequena estação de esqui dos Alpes suíços, Davos, se converte em algo como o centro do mundo. Às suas cúpulas migram grandes nomes do mundo empresarial, dos meios ou da política internacional. Para alguns, o Fórum Econômico Mundial é uma grande feira de vaidades. Para outros, um encontro excepcional e único por conseguir reunir em alguns dias a maior concentração de presidentes e conselheiros delegados do mundo junto aos principais chefes de Estado e de governo. Nos corredores do evento se pode cruzar com Bill Gates, George Soros ou Tony Blair, que estiveram presentes em edições anteriores. A realidade de Davos provavelmente se encontra entre esses dois extremos. O certo é que a edição de 2009 apresenta-se como excepcional, coincidindo com a maior crise econômica e financeira experimentada desde o início do século passado. Esperam-se em Davos mais de 40 chefes de Estado e 2,5 mil líderes empresariais, políticos e acadêmicos. Como nos anos anteriores, os empresários (70% do total), predominarão. Estarão representadas um total de 90 nacionalidades. Os líderes procedentes dos Estados Unidos serão a maioria (643), à frente dos ingleses (275), suíços (187) e franceses (89), os quatro países com maior número de representantes. Uma análise detalhada desses viajantes aponta os ganhadores e perdedores da globalização. Com a exceção de uma boa representação sul-africana, o continente, como em anos anteriores, estará praticamente ausente do encontro. Participarão um total de 38 líderes procedentes da África do Sul, sete do Egito, oito da Nigéria, dois do Quênia e um para Moçambique, Gana e Tunísia. Ou seja, apenas 60 pessoas de todo o continente, menos que o total da representação da Índia (75 líderes, sem contar os indianos que lideram empresas globais como Arcelor Mittal ou Pepsico ou os que estão em outros países). Ainda mais surpreendente é a relativamente escassa representação da América Latina, sendo inclusive menor

que a representação africana. Os latinoamericanos têm uma participação relativamente inferior a seu tamanho e peso. Este é o caso do Brasil, com apenas 12 líderes, e o México, com 14. A estes se somam outros 22 latinoamericanos (Argentina, Venezuela, Bolívia, Chile e Peru são as outras nacionalidades representadas). Chama a atenção que um país como a Colômbia não tenha nenhum representante procedente de Bogotá. Argentina e Chile, com oito líderes cada, possuem uma quota comparável à do Paquistão (7), Egito e Nigéria (oito cada), Espanha e Dinamarca (dez cada), mas inferior à do Kuwait (11), por exemplo. O caso da América Latina chama ainda mais a atenção se considerarmos que, com a exceção de Brasil e México, os dois gigantes regionais, as demais grandes economias emergentes terão representações muito mais nutridas. O Brasil, com um peso no PIB mundial aproximando-se dos 3%, tem uma representação duas vezes inferior à da Turquia, cujo peso no PIB mundial (1,4%) é menos da metade do brasileiro. Isso sem falar na Índia, que domina as representações procedentes das grandes economias emergentes, com seus 75 membros. Esta comitiva supera de longe às de Rússia (46), da já mencionada África do Sul (38), da China (35), Turquia (26), Arábia Saudita (22), Emirados Árabes (21) e da Coréia do Sul (18). Claramente nem todas as nações estão representadas de acordo ao seu peso econômico ou à importância de suas empresas em nível global. Já mencionamos isso no caso da América Latina. Também se poderia argumentar que a representação procedente da China não está alinhada ao peso internacional desse país. Sua representação é duas vezes inferior à da Índia e entretanto o peso da China no PIB mundial (11%) é mais que o dobro da primeira (4,5%). Provavelmente, o mais interessante de Davos não está nas sessões e conferências, mas na capacidade desse evento de convocar e concentrar em um grupo de dias toda uma série de líderes que fazem e desfazem a agenda das relações globais, tanto econômicas quanto políticas. Desse ponto de vista, Davos é um lugar de encontros – de networking, como diriam os anglo-saxões – excepcional. Também é uma ocasião única para tomar o pulso dos temas mundiais. Em 2008, os fundos soberanos e as multinacionais emergentes (sobretudo as da Índia, China e Rússia) dominaram os debates. Em 2009, certamente o foco estará na crise e em como sair dela. Todos esses são temas de grande relevância para as economias latinoamericanas. Esperamos que em 2010 não só tenhamos saído da crise como também que a América Latina esteja mais presente em Davos, mais de acordo com o tamanho alcançado por suas empresas e suas economias ao longo de uma década (quase) feliz, que esperemos que se repita uma vez superada a atual crise. Q Economista-chefe e diretor-adjunto do Centro de Desenvolvimento da OCDE.

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DEBATES POLÍTICA

FOTOGRAFIA EDITADA POR AMÉRICAECONOMIA

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Bachelet: “Eu fui a Obama do Chile”

OS PODERES SECRETOS DE OBAMA

O recém-eleito presidente dos EUA pode influenciar a região de formas insuspeitadas Rodrigo Lara Serrano

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a política, os ganhadores levam tudo, incluindo o desejo de clonar a eles próprios. Frente aos resultados das últimas eleições nos Estados Unidos, foi no cauteloso cenário político chileno que começaram as comparações “sou igual a Obama”, agora espalhadas pela região. “O que vou dizer pode soar ridículo, mas creio que fui a Obama do Chile”, comentou há pouco tempo a presidente Michelle Bachelet. E Lula respondeu que sua própria eleição como presidente, dado seu passado metalúrgico, “foi igual a eleger um negro nos EUA”. O evento excepcional atribuído à vitória de Obama certamente incentiva tanto a direta quanto a esquerda a tentar temperar o molho político imitando o discurso, as técnicas eleitorais, a oratória e até o estilo de vestir do primeiro presidente negro dos EUA. A América Latina, com sua escassa capacidade de gerar agendas e figuras políticas originais, está em primeiro lugar na lista de tais imitadores. No Chile, é compreensível a avidez por colocar-se ao lado de Obama, já que neste ano haverá eleições presidenciais e todos buscam estar à cobiçada sombra de seu triunfo e suas expectativas. E não é a primeira vez que o país do Cone Sul apresenta políticos com referências externas. O atual senador socialista Jaime Gazmuri viveu quase toda sua carreira jovem com o estigma de ser chamado “o Robert Kennedy chileno”. Já no começo do século 20, Arturo Alessandri Palma, além de ter sido conhecido como “Leão de Tarapacá”, também foi apelidado de “Lênin chileno”, por sua oratória colérica e o medo gerado na população frente

a suas reformas sociais. O fato de Bachelet buscar identificação com Obama não tem nada de ridículo para o sociólogo Eugenio Tironi, da consultoria de comunicações Tironi e Associados. “Obama reintroduziu um sentido utópico na política. Isso é abundante na América Latina, exceto em países como o Chile, que segue mais conservador, mais racional, mais frio”, diz. Neste sentido, a figura de Bachelet, argumenta Tironi, se compara com a de Obama, “porque eleger uma mulher com sua história de vida e com o tipo de promessa feita – o lema era ‘Estou com você’ – foi muito parecido, mas com tom mais feminino, mais afetivo, mais amável”. No Brasil, o analista de temas internacionais PauloEdgar Almeida Resende, da Universidade Católica de São Paulo, discorda. “Um ‘Obama chileno’ teria que ser um outsider das elites partidárias”, e Bachelet foi militante socialista desde a juventude. Resende questiona se nas próximas eleições “poderia o país andino eleger um presidente de origem indígena? Um trabalhador? Eu vejo isso como muito improvável dado o conservadorismo predominante do eleitorado”. E no Brasil? Quais efeitos podem derivar-se deste aspecto imitador? Eventualmente, será expresso o desejo de que uma pessoa de pele negra possa ser presidente? Almeida Resende não acha que isto seja possível. “Nos Estados Unidos, a economia mais dinâmica incorporou o negro norte-americano no mercado de trabalho de maior qualificação, o que levou a uma auto-imagem mais positiva do que a existente no negro no Brasil”. E, “frente às dis-


Um Obama para o Brasil? Não, obrigado acesso do político de pele negra - vale destacar que a genética moderna demonstra que as “raças” não existem na espécie humana, e sim características externas diferenciais - à Casa Branca abriu o debate sobre o que acontece em países como Cuba, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela e Brasil, onde o preconceito da pigmentação bloqueou o acesso de “negros” ao cargo executivo mais alto da nação. O Brasil não poderia ser o próximo país onde se veria tal evento? Além de outros

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argumentos (ver nota principal), existe um dado a considerar: o país já teve experiências de negros em cargos executivos que não foram bem-sucedidas ou simplesmente foram eclipsadas. Destaca-se o caso de Celso Pitta, político com pós-graduação em Leeds e Harvard, que foi eleito prefeito de São Paulo em 1997 (tendo como padrinho o polêmico e então influente Paulo Maluf), e afastado do posto por denúncias de corrupção. Um mau exemplo. Também, o de outra política, Benedita da Silva. Nascida em

uma favela carioca, chegou a ser a primeira mulher negra governadora, quando em 2002 ocupou esse cargo no Rio de Janeiro, depois que o titular do posto, Anthony Garotinho, renunciou para se candidatar à Presidência da República. Com um governo marcado por crise financeira, Benedita tentou reeleger-se, em vão. Por coisas do poder, a candidata petista teve, entre outros fatores em contra, que abdicar do apoio declarado de Lula, que no segundo turno das eleições necessitou da ajuda dos

concorrentes de Benedita para garantir a sua própria eleição presidencial. São apenas duas experiências que, por distintos motivos, podem não provocar boas lembranças no eleitor brasileiro. À medida que o nível socioeconômico dos “negros” melhore, e cresça sua participação percentual no Executivo e no Legislativo, poderemos ter a esperança de contar outros políticos de alto nível e capacidade, condições que também costumam escassear entre os “brancos” da América Latina.

criminações, o negro brasileiro se mostrou menos exigente, menos combativo”.

eficaz. A página da comunidade virtual Facebook do atual ocupante da Casa Branca, quando era candidato, chegou a ter 3,6 milhões de “amigos”.

que conseguiu acumular mais de 250 mil amigos no site de relacionamento. Obama ainda representa outra, e inesperada, fonte de influência. Tanto estética como

uma referência positiva que, certamente, não acaba na condição de companheira chique, de muitas jóias e roupas da alta costura”. Além de tudo o que foi

RECOMPOR A HEGEMONIA No México, tampouco parece que o “obamismo” possa alçar vôo dentro da política. Pelo menos não nos grandes partidos. Erick Fernández, pesquisador e especialista em política internacional da Universidade Iberoamericana, destaca que Obama chegou ao poder com um discurso focado na juventude e nas minorias, mas não parece provável que algo assim aconteça no país. Contudo, prevê, “vamos viver uma estratégia midiática tanto nacional como mundial na qual o grande objetivo é recompor a hegemonia norteamericana em distintos terrenos”. E, para isso, a capacidade de encantamento e sofisticação de Barack Obama não será algo menor. Mas o “obamismo” não se reduz a buscar uma figura ou processo político semelhante ao presidente dos EUA. Também estão inclusas novas formas de propaganda, busca de fundos e manipulação de imagem. E é aí que sua influência poderia ser mais

O “obamismo” inclui novas formas de propaganda, busca de fundos e manejo de imagem. Obama envia mensagens de texto (SMS) e usa o YouTube. “O uso da web 2.0 vai ser uma das tendências que aparecerão para ficar”, aponta o chileno Tironi. A questão é se os políticos, neste caso do Chile, saberão usar estes recursos de maneira decisiva. Até agora, Sebastián Piñera, candidato da oposição, foi quem mais se esforçou para posicionar-se no Facebook. Possui mais de 61 mil seguidores. Em contrapartida, o pré-candidato oficial, Eduardo Frei, tem cerca de 3,6 mil. Ambos são superados pelo excêntrico empresário Leonardo Farkas, que foi sondado como possível candidato e logo desistiu, mas

de estilo de vida. Não se trata de seu alfaiate nem de seus professores de oratória latina, mas sim da esposa, Michelle. Ela também marca uma mudança. É a primeira esposa presidencial bem-sucedida por direito próprio, alheia à política (ao contrário de Hilary Clinton) e com possibilidade de um encanto sedutor oriundo de uma personalidade tão educada como moderna (semelhante à Jacqueline Kennedy). “Uma profissional independente, com relevância própria, Michelle Obama pode influenciar no estilo das primeiras damas da América Latina”, diz Almeida Resende. Para ele, “as primeiras damas da região tem em Michelle

dito, talvez a influência mais benéfica que Obama poderá estender sobre os políticos da região corresponda a outros elementos. O primeiro, que é possível reconciliar a paixão por melhorar as coisas, aceitando um debate vigoroso, amplo e aberto dentro do governo. Isto é, reconhecer que as decisões “técnicas” ocorrem dentro de um contexto emocional no qual é preciso, sim, arriscar. E, por fim, que a decência, embora seja difícil, pode ser apaixonante. Q Com Soledad Gómez (Santiago), Marisol Rueda (Cidade do México) e Dubes Sônego (São Paulo).

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DEBATES PROGRAMAS SOCIAIS

AFP

Refeitórios sociais: esperança de ganhar mais recursos

EFEITO MISÉRIA

Crise internacional põe em risco o avanço da América Latina na luta contra a desigualdade social Marisol Rueda, Cidade do México

Agora comemos menos.” Em Santa Ana Batha, uma pequena comunidade localizada no estado mexicano de Hidalgo, os únicos ruídos que se escutam são os das bicicletas passando pelas ruas de terra e a voz de María Isabel García, 19 anos, que repete: “agora comemos menos”. A afirmação se dá em uma pequena localidade na qual nada se sabe dos mecanismos da crise econômica global, apenas do efeito provocado por ela. Maria Isabel, que mora com dois irmãos e a mãe,

compõe a camada social que será mais afetada pela turbulência internacional: os 253 milhões de latinoamericanos vivendo na pobreza. “Embora não tenhamos números precisos, pode-se esperar que essa onda de redução da pobreza de detenha, em termos de porcentagem, o que aumenta a pobreza e a indigência”, prevê Martín Hopenhayn, diretor da Divisão de Desenvolvimento Social da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL). A estagnação de postos de

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trabalho e a deterioração da renda nos setores mais vulneráveis serão os principais fatores do retrocesso esperado no combate à pobreza. E os danos não serão iguais para todos: países que recebem remessas e nos quais os preços dos alimentos subiram acentuadamente sofrerão mais. Para Maria Isabel, esse cenário surgiu no início de 2008. As vendas da horta improvisada e de uma pequena criação de cabras de sua mãe caíram bastante. E seu pai, que trabalha com construção nos Estados Unidos, suspendeu o envio de dinheiro. “Muita gente deixou de ter trabalho, passou a comprar menos e todos estão voltando dos EUA”, diz Maria Isabel sobre os imigrantes da pequena comunidade. A família da jovem se mantém com os US$ 250 mensais que a mãe ganha na venda de verduras e cabras e de US$ 60 bimestrais vindos do programa de renda Opor-

tunidades, patrocinado pelo governo mexicano. Por mês, ela, a mãe e os dois irmãos – de 6 e 11 anos – vivem com US$ 310. “Menos que isso nos colocaria em uma situação muito cruel”, lamenta. Em 2007, na América Latina, 34,1% da população (184 milhões de pessoas) viviam na pobreza, e 12,6% (68 milhões), na pobreza extrema. Contudo, em 2008, o índice de pobreza caiu quase 1 ponto percentual, com 182 milhões de indivíduos pobres, enquanto na pobreza extrema o número aumentou para 71 milhões. A região teve um desempenho melhor entre 2002 e 2007 graças ao crescimento econômico e à melhora do mercado de trabalho, que diminuiu o número de pobres em 9,9% e de pobres extremos em 6,8%. Porém, hoje a região corre o risco de perder estes avanços. Os aumentos nos preços dos alimentos e dos com-


bustíveis registrados desde o começo de 2007 tiveram forte impacto nos pobres da região. “A renda é a mesma, mas os preços subiram bastante”, diz Maria Isabel. Perante esta situação, a Cepal recomendou aos governos latino-americanos melhorar o funcionamento do mercado de trabalho e reforçar a assistência social a grupos vulneráveis, utilizando cestas básicas, pensões de emergência e programas de emprego, entre outros. O mesmo recomenda o Banco Mundial. “É prioritário que haja uma estratégia para enfrentar a recessão e coordenar todos os programas”, diz Gladys López, economista sênior da entidade. “Não há outra opção: ou se coordena e se enfrenta a situação, ou o problema vai piorar”, antecipa. Ao contrário de outras crises, contudo, desta vez a América Latina possui melhores fundamentos macroeconômicos e mais reservas. “Uma vantagem é que alguns países têm programas em andamento há algum tempo, e assim não haverá um custo operacional elevado”, explica Hopenhayn. É o caso dos programas Oportunidades, no México, e Bolsa Família, no Brasil. Ambos são líderes em transferência de renda na região. O primeiro atende a 25 milhões de mexicanos que vivem na pobreza extrema, e o segundo abrange um total de 45 milhões de brasileiros na pobreza e pobreza extrema.

REALIZAÇÕES EM PERIGO Entre 2002 e 2006, o México tinha conseguido avançar na redução da pobreza, moderando as cifras a 20,8 milhões de pobres extremos e 21,9 milhões de pobres. Mas no final de 2008 as condições eram outras. “Calculamos que os pobres ex-

tremos subiram a 24,5 milhões devido ao aumento de preço dos alimentos básicos”, explica Neftalí Salvador Escobedo, coordenador do programa Oportunidades. No Brasil, o panorama é parecido. No final de 2007, o País concentrava 31% dos pobres da América Latina e

PIB (4,5% ao ano) e piso do salário legal (4,8% anual)”, explicou Waldir Quadros, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas. “A maioria das pessoas deixou a miséria e passou à pobreza, mas não ascendeu à classe média ou à classe média-alta.”

Dilema recorrente: continuar os estudos ou trabalhar? 26% dos pobres extremos da região. No período 2004-2008, os brasileiros avançaram na redução da pobreza graças ao crescimento da economia, ao aumento real do salário mínimo e às políticas de transferência de renda. “Entre 2004 e 2007, encontramos a combinação mais virtuosa entre expansão do

Os governos do Brasil e do México anunciaram um aumento no orçamento dos dois programas para 2009. O Oportunidades passará de US$ 4,5 bilhões a US$ 4,7 bilhões no ano, e atingirá 26 milhões de mexicanos. O Bolsa Família subirá de US$ 4,5 bilhões a US$ 4,8 bilhões no período. “Mesmo que

haja uma queda na arrecadação, o governo não cortará projetos sociais, mesmo que precise se endividar”, explica Márcia Flaire Pedroza, professora do departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ambos os programas funcionam de maneira pragmática. Os titulares contemplados podem perder benefícios se tirarem seus filhos da escola ou deixarem de cumprir certos compromissos, como ir a consultas médicas de caráter preventivo ou receber instruções de autocuidado para a saúde, entre outros. O programa mexicano concede apoio fixo, como o alimentar, que alcança US$ 30 por bimestre, e o energético, que é de US$ 8,5 pelo mesmo período. Também estão inclusos auxílios escolares, cujo total depende da grade escolar e vai de US$ 20, na educação primária, até US$ 129, no ensino médio superior. No caso do Bolsa Família, os valores dependem do perfil de renda e da composição familiar, e vão desde US$ 8 a US$ 76 mensais. Apesar do bom foco dos programas, alguns analistas acreditam que, conforme a economia real vá resistindo mais à crise, há o risco de que para muitas famílias seja mais rentável colocar os filhos para trabalhar do que deixá-los na escola em troca de ajuda financeira. “Se isso acontecer, possivelmente teríamos que reajustar o auxílio concedido”, diz Escobedo, do Oportunidades. Talvez a crise seja menos amarga se for aproveitada como uma oportunidade para implantar políticas mais efetivas de redução à pobreza. Q Com Dubes Sônego, São Paulo

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DEBATES POLÍTICA

TODA A CARNE À CHURRASQUEIRA

O governo de Cristina Kirchner usa sua artilharia econômica para sustentar a demanda interna e, de quebra, evitar uma derrota nas eleições parlamentares de outubro Rodrigo Lara Serrano, Buenos Aires

A

saída de uma situação difícil raramente é fácil. Mas, como disse o humorista francês Sempé, quando é, tudo se complica. Neste 2009, a Argentina enfrenta um desafio: convencer-se a si mesma primeiro e, em seguida, ao mundo, de que não se encontra em uma situação particularmente catastrófica. Ou sim? Segundo o relatório Perspectivas Econômicas Mundiais 2009, do Banco Mundial, o país exportará, em volumes, 0,7% menos que em 2008 e importará 4%

menos. Mas, se comparadas às de outros países, as cifras não são tão ruins. No Brasil, as quedas previstas são de 2,5% e 6,8%, respectivamente. Se observado o ruir do preço das commodities, a variação 2007/2008 do produto mais emblemático de exportação riopratense, a soja, foi de 18,9% negativos, bem menor que a de outras commodities, como o petróleo cru (- 51,9%), principal produto de exportação da Venezuela, do Equador e México, ou do cobre chileno (-56,5%), no mesmo período.

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Contudo, dentro da Argentina, economistas e consultores seguem, de modo geral, vestidos de luto. Na consultoria Abeceb, por exemplo, a análise é de que a situação no primeiro semestre será suficientemente dura para que o crescimento do PIB se reduza a 1,5% e as exportações caiam 10%. Outras, como a Ecolatina, falam de 0%, enquanto a consultoria Castiglioni y Tiscorni prevê (-1,5%) de impacto no PIB. Com tais previsões, o governo lançou durante todo o mês de dezembro uma cata-

rata de anúncios. Entre eles, um pacote de obras públicas de quase US$ 33 bilhões, benefícios fiscais, acentuado decréscimo nas taxas de licenças para serviços públicos, um plano de financiamento para a compra de automóveis zero-quilômetro (US$ 900 milhões), pagamento extra – apenas uma vez – a aposentados, moratórias fiscais e um pacote de incentivos à declaração de capitais até então sonegados. Como se fosse pouco, nos primeiros dias de janeiro o governo anunciou que ne-

AFP

Furuto em jogo: um voto de confiança?


gocia uma troca de dívida com os bancos locais de 40% dos chamados Empréstimos Garantidos, PG na sigla em espanhol, com a qual postergará o pagamento de US$ 5,6 bilhões entre este ano e 2011 (US$ 2,8 bilhões em 2009). E que coordena outra troca, por mais modestos US$ 2 bilhões (os títulos Boden 2012 e PG), com investidores estrangeiros. Essa atividade se justifica. Com vencimentos de dívida de US$ 19,8 bilhões no ano que começa, há quem preveja que as reservas do Banco Central possam cair a US$ 30 bilhões (dos atuais US$ 46 bilhões), se a escassez de dólares por um colapso exportador grave obrigá-lo a usá-las. Daí a uma desvalorização violenta, a distância é de poucos passos. Carlos Melconián, titular da M&S Consultores, estima que “a US$ 30 bilhões, em função do pagamento da dívida, (as reservas) não caem”, mas cairão dependendo de como os atores econômicos fizerem uso delas. Neste caso, sim, ocorreria uma fuga em direção ao dólar. Para ele, situada no meio “de uma forte desaceleração criada por ela mesma”, a economia local depende, “nesta ordem, do preço das commodities, do comércio mundial e de liquidez: a melhora de Wall Street ajuda um décimo; a melhora da soja representa nove décimos”. Entretanto, a confiança é fundamental. Por isso, o governo está certo ao tratar de sustentar a demanda interna. O consumo privado representa 65% do PIB. O economista Aldo Abram, diretor da Exante, crítico da atual administração, reconhece que “as pessoas precisam

acreditar que o governo está se ocupando de moderar o impacto da crise”, em função do que “sempre será positivo que mostre certa iniciativa de execução” para abrandar expectativas. Outra coisa, argumenta, “é seu impacto real”. Para ele, “são positivas as medidas relacionadas à reforma tributária, à redução de retenções e de alguns impostos”. Também concorda “que haja menos transferências para subsídios de preços e que esses fundos sejam destinados a obras públicas”. Mas afirma que não lhe agradam os créditos setoriais. “Seu impacto será nulo. Implicam em tirar dinheiro de um bolso para colocar em outro”, diz. Por outro lado, “tampouco a moratória terá grande sucesso”. Ao invés disso, a respeito da

perderão efeito”. Resultado? “A recessão real não chegará à Argentina antes do final do ano. E “esta combinação fará com que 2010 e 2011 sejam muito ruins”.

DILEMA DIGNO DE HAMLET Existe, aparte da saúde da economia global, outro elemento altamente volátil que pode definir parte essencial das expectativas e como a crise poderá ser enfrentada: o resultado das eleições legislativas do próximo mês de outubro. Para o analista político Ricardo Rouvier, da Rouvier y Associados, a crise é o terceiro ator que altera a dinâmica entre o governo e a oposição. “A crise tem realmente uma dimensão que desconhecemos: uns economistas dizem uma coisa. Outros, outra”. Mas, e aqui

O ponto é que Cristina Kirchner já tem bastante claro que seus eleitores e candidatos serão derrotados na cidade de Buenos Aires e nas províncias poderosas de Córdoba e Santa Fé. Da mesma forma que na igualmente importante Mendoza. Por isso, para ela, é absolutamente necessário triunfar na maior e mais populosa província, a de Buenos Aires (que não inclui a capital). “Se triunfar lá, será primeira minoria, com 35% ou 36%. Não perderá poder legislativo.” Se não conseguir vencer, abre-se um caminho incerto: “qualquer derrota será muito difícil de suportar”. Ironicamente, a vitória com que a oposição quer conter um governo que classifica como “hegemônico”, em seus epítetos mais suaves, poderia derivar de uma virtual

O governo deve decidir se opta por dizer “não se preocupem” ou apresentar a crise como muito importante e grave. polêmica decisão que permite a legalização de capitais antes sonegados, afirma que “é provável que haja, e bastante, porque é possível deixar o dinheiro no exterior”. O desacordo com esta medida é de outra ordem. “É extremamente imoral”, diz. Mas, diferentemente dos outros economistas, ele acha que haverá um momento de recuperação na economia mundial “nos próximos sete ou oito meses e é preciso que as medidas tenham efeito favorável até lá”. O que acontecerá é que “haverá uma sensação de que já tocamos o fundo, mas não será verdade: as políticas que o Fed está aplicando nos EUA têm impacto moderado no curto prazo, mas depois

surge algo inesperado, “a crise tem uma representação. Quero dizer, o que ela simboliza na cabeça de cada um de nós”. Quem souber manejá-la melhor obterá votos decisivos. Para o especialista, então, o governo deve decidir se opta pela “tentação de tomar o caminho de um padre frente a seus filhos - ‘não há o que temer, não se preocupem’-”, ou por “apresentar a crise como muito importante e grave. E organizar táticas políticas para reunir toda a sociedade para enfrentá-la”. As duas opções têm riscos e vantagens. Optar por uma ou por outra pode ser a central para pavimentar o caminho do triunfo ou o do fracasso nos comícios que estão por vir.

semiparalisia em um momento econômico muito crítico. Preferirão os eleitores não debilitar o governo, ou verão como um ato de confiança suspender ou dificultar seu controle sobre o parlamento? Enquanto isso, a sorte sopra, outra vez, a seu favor. O preço da soja subiu cerca de 26% em um mês e poderá chegar a US$ 380 a tonelada. Isso significa US$ 1 bilhão extra em impostos em um ano de apertos. Quanto ao futuro, alguns seguem acreditando que “a Argentina está condenada ao sucesso”, enquanto outros, como Melconián, ponderam: “2010/2011? Em uma economia semanal, como a em que vivemos, é uma pergunta para o século que vêm”. Q

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 53


SOB SUSPEITA

A crise impulsionou resgates e uma reestruturação dos fundos mútuos na região em 2008. E 2009 não será fácil Soledad Gómez, Santiago

A rentabilidade obtida no passado não é garantia de rentabilidades futuras. Os valores das cotas de fundos mútuos são variáveis.” Esta afirmação, divulgada por motivos

regulatórios em toda publicidade de fundos mútuos no Chile, parece ter entrado por um ouvido de muitos investidores e saído por outro, particularmente quando o mercado subia como espuma. Muita gente pensou que o que subiu poderia continuar subindo. Basta ver como mudaram os comerciais de empresas de fundos mútuos para entender como se deu a reviravolta e quão terrível foi 2008 para investidores e gestoras: já não

se fala da bonança de investir e sim do nada “esperto” movimento de resgatar dinheiro em momentos como este. A queda no valor dos ativos após anos de alta, combinada com o aumento das taxas de juros, pintou um quadro obscuro para o desempenho das carteiras dos fundos mútuos latinoamericanos durante o ano passado. Contudo, ainda que seja difícil de acreditar, a região teve melhor desempenho que muitas outras. “O comportamento da indústria de fundos na região foi bastante bom, considerando todo o contexto”, diz Guillermo Mezzoni, analista de estudos do portal FundPro. com, que acompanha uma série de fundos mútuos na América Latina.

SACO FURADO: perdas de patrimônio afastaram investidores

54 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

De toda forma, o setor não ficou ileso e deverá trabalhar duro em 2009 para manter a confiança de quem ainda não liquidou suas posições, recuperar os investidores perdidos e retomar o ritmo de crescimento. Veremos maiores taxas de crescimento nos fundos mais conservadores, mesmo quando os preços dos ativos sugerirem oportunidades para investir em renda variável. Os investidores seguem receosos de assumir qualquer nível de risco, ainda que este resulte em ganhos mais atraentes no longo prazo. No Peru, apesar do bom desempenho econômico, os fundos mútuos perderam 35,7% do patrimônio desde o fim de 2007, embora já em dezembro tenham começado a melhorar timidamente. A volatilidade do mercado, e em maior medida, os investidores apavorados, levaram à debandada de mais de US$ 960 milhões. As sociedades, que em novembro de 2007 administravam US$ 3,67 bilhões, registraram patrimônio de US$ 2,7 bilhões no mesmo mês de 2008. De acordo com a presidente da Comissão Nacional Supervisora de Empresas e Valores (Conasev), Nahil Hirsh, esta baixa se deve à taxa de 86% de resgates de cotistas, e apenas 14% de desvalorização real das carteiras. “Os fundos mútuos que mostraram maior volatilidade durante os primeiros meses do ano foram os mistos e os variáveis”, que, a partir daí, começaram a sentir as retiradas no primeiro semestre. Pior ainda foi a segunda metade do ano. Apenas em outubro, quando a crise gerou uma verdadeira queda nas ações do setor de mineração, quase 40 mil investidores debandaram. No total, de

RODRIGO DÍAZ CARRIZO

FINANÇAS INVESTIMENTOS


acordo com Hirsh, o setor perdeu 73 mil participantes entre o fim de 2005 e 15 de dezembro de 2008. Segundo Mezzoni, do FundPro.com, a indústria peruana, cujo tamanho ainda é relativamente pequeno, lançou uma série de fundos exclusivos de ações quando a bolsa local chegou ao pico, entre 2005 e 2006, sem muito mais a ganhar. “Os investidores desarmaram suas posições para se proteger, e vai demorar muito tempo para que recuperem a confiança, porque o que ocorreu foi comprar na alta e vender na baixa. Será difícil convencê-los de que existem outras possibilidades de ganhos.”

zzoni vai além: “a recuperação pode vir da revalorização dos preços”. Acontece que a queda vista nos mercados não é motivo para se refugiar em uma trincheira financeira e se resignar com os baixos ganhos dos depósitos de longo prazo. Tudo depende dos objetivos do investidor e da assessoria recebida. Para Mónica Cavallini, gerente geral da Associação de Administradoras de Fundos Mútuos do Chile (AAFM), “se estamos falando de pessoas jovens com horizontes de investimento de longo prazo, hoje há alternativas muito boas para instrumentos de renda

COERÊNCIA

FUNDOS MÚTUOS NA AMÉRICA LATINA

Mas claro que há. E é nisso que aposta o setor de fundos no Brasil e no Chile. Talvez por maior disciplina ou informação, os investidores foram mais coerentes. Luiz Felipe Andrade, da comissão de administração de recursos de terceiros da Associação Nacional dos Bancos de Investimento do Brasil (Anbid), ilustra bem isso, dizendo que em 2008 houve resgates de cerca de 6% do patrimônio administrado, com saques concentrados nos agressivos fundos multimercado. No fim de 2007, a indústria administrava um patrimônio de R$ 1,7 bilhão, cifra que, em 4 de dezembro último, havia sido reduzida a R$ 1,14 bilhão. “Observados os números, a indústria teve um desempenho bastante bom se comparado ao resto da economia”, insiste. E pode-se dizer que é verdade, dado que a bolsa local fechou o ano com queda superior a 40%. Andrade, cauteloso e sem citar números, aposta que o segmento continuará forte em 2009, graças ao crescimento do país. Mas Guillermo Me-

um crescimento de 10% no patrimônio e no número de investidores neste ano.

MAIS RESERVADA Uma indústria pouco exposta foi a mexicana. Mezzoni explica que “cerca de 85% da indústria estão investidos em instrumentos de dívida de curto e médio prazos do mercado interno”. O fraco desenvolvimento do setor atuou como um escudo frente ao descalabro dos mercados, segundo o especialista. “Sim, vimos resgates em fundos de ações e do mercado internacional, mas por motivos distintos não vimos grande perda de patrimônio”.

FONTE: WWW.FUNDPRO.COM

PAÍS

PATRIMÔNIO LÍQ. EM US$ MILHÕES

PARTICIPANTES

2007

2008

Brasil

582.886

424.206

10.970.498

México

77.276

59.999

1.878.901

Chile

24.450

17.641

1.097.459

Argentina

6.788

3.752

180.000

Peru

4.331

2.702

199.160

Os dados de Brasil e México correspondem a Nov/2008

variável”. A AAFM projetava fechar o ano com crescimento de 15%, mas em julho, quando havia superado esta meta, começou a sentir fortemente os efeitos do cenário internacional. O patrimônio administrado foi reduzido em 5%. Mesmo assim, o número de participantes aumentou 0,5%. Da mesma forma que em toda a região, cresceu a atratividade dos fundos de renda fixa, como sempre acontece em momentos nos quais os investidores adotam um perfil conservador. Os números, segundo Cavallini, começaram a subir e a AAFM projeta

Onde definitivamente o prazo para qualquer tipo de recuperação parece ter aumentado além do imaginável é na Argentina. Fora da natureza dos fundos mútuos, o setor argentino está dominado por ações institucionais, o que levou a uma queda espetacular quando, no fim de outubro, foram repatriados mais de US$ 3 bilhões das AFJPs investidas em fundos de outros países do Mercosul, após uma resolução conjunta do Banco Central, da Comissão Nacional de Valores e da Superintendência de AFJP. “No total, a cifra representava cerca de 40% do mercado de fundos

comuns de investimento”, explica Eduardo D’Orazio, analista da Fitch Ratings. A redução do patrimônio administrado pelo setor de fundos entre dezembro de 2007 e outubro de 2008, expressa em dólares, foi de 55,14%. Ao final de 2008, esse patrimônio era de US$ 3,7 bilhões, após ter fechado 2007 com quase US$ 7 bilhões em suas carteiras. “A perspectiva do setor é negativa. Há fundos que ainda não foram obrigados a repatriar, mas pode ser que sejam no curto prazo, porque agora o investidor é o Estado”, diz D’Orazio. Desde que foram nacionalizadas as AFJPs, a indústria de fundos mútuos se encontra em um intenso lobby para conquistar a Administração Nacional de Seguridade Social, a qual assumiu o controle dos ativos das AFJPs, e manteve em suas carteiras o investidor estatal. Em uma crise, quando os perigos são vistos em cada esquina, é impensável que as pessoas não precisem fazer resgates. Por isso, as administradoras estão fortalecendo a assessoria para minimizar as perdas de seus cotistas. Como indica o vicepresidente de uma empresa de fundos que não quis ser identificado, “nosso negócio é gerar rentabilidade aos clientes, mas o essencial é mantê-los informados”. Mezzoni, do FundPro.com, sabe bem disso. “As perdas de patrimônio, no geral, são revertidas antes das perdas de confiança”, afirma. A recuperação está estreitamente ligada ao desempenho de cada país: os que continuam crescendo, seguirão tendo pessoas com capacidade de investir. Mas tudo dependerá da assessoria que será entregue e o nível de confiança dos investidores. Q

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 55


TORMENTA INCONVENIENTE

Diversos projetos de reforma do mercado de capitais na América Latina podem naufragar em 2009 Eduardo Thomson, Santiago

À

s vezes não há o que fazer. Durante grande parte de 2008, discutiu-se na Colômbia a importante reforma financeira, que introduziria, entre outras coisas, a possibilidade de que os fundos de pensão pudessem oferecer “multifundos” a seus clientes, como foi feito primeiramente no Chile e no Peru. Estes fundos teriam exposição distinta a mercados de renda fixa e variável, mas, no final, a crise mundial fez

com que o governo colocasse o projeto no congelador. De certa forma, foi um golpe de sorte, porque “por ter um só fundo com menor exposição à renda variável, levou ao acúmulo de seis e tanto por cento de rentabilidade”, explica Pedro Flecha, presidente da Associação de AFP do Peru. Em contrapartida, no Chile e no Peru os fundos que investem em ações sofrerão fortes perdas.

56 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

A crise financeira e econômica está tendo efeitos em vários projetos de reformas muito necessárias para aprofundar os mercados de capitais da região, como a mencionada reforma financeira colombiana, o projeto MK3 no Chile e o Plano Diretor do Mercado de Capitais no Brasil. Além disso, devem vir outras distrações além da crise, como processos eleitorais. O projeto colombiano, que

também inclui a criação de uma defesa de clientes de entidades financeiras, foi congelado na segunda metade de 2008, após ter recebido aprovação das comissões conjuntas da Câmara dos Representantes e do Senado. Mesmo faltando apenas a aprovação em plenário, foi colocado em stand by, segundo versões oficiais, para buscar sugestões da ultima cúpula do G20 em Washington e melhorar o projeto. Contudo,

RODRIGO DÍAS CARRIZO

FINANÇAS REFORMAS


como não pode ser aprovado antes do fim do calendário letivo legislativo, terá que esperar pelo menos até março para sua discussão. “E há outros temas que seguramente seguirão tomando a atenção do governo e do Congresso, como a reforma que permitiria a reeleição pela terceira vez de Álvaro Uribe como presidente”, comenta Edgar Jiménez, chefe de análises da casa de investimentos colombiana Stanford Eagle.

CAMINHO CERTO “Não é uma reforma estrutural enorme”, explica Jiménez, “mas sim uma reforma no caminho correto. E à medida que não apareçam eventualidades importantes no governo ou no legislativo... não deve passar da metade do ano”. No Brasil, o Plano Diretor é uma iniciativa que une esforços do setor privado e público e que tenta identificar reformas para aprofundar os mercados de capitais. A primeira versão vem de 2002 e foi a semente que levou o País a se converter em um peso pesado das finanças na região. O famoso Novo Mercado, modernizou a bolsa e fez com que o número de ofertas iniciais de ações subisse de uma, em 2002, a 64 em 2007, e elevou a capitalização do mercado acionário brasileiro de US$ 180 bilhões a US$ 1,12 trilhão no mesmo período de tempo. A nova versão do Plano Diretor, lançada em 2008 por um conselho executivo do qual participam 19 entidades públicas e privadas, identifica outras áreas que devem ser melhoradas. Entre as propostas estão algumas que requerem aprovação do Congresso, como a reforma para diminuir a carga tributária das operações no mercado

de capitais e outra de reforma de previsão. Outras propostas poderão ser implantadas por meio de decretos ou decisões executivas. Neste grupo encontram-se iniciativas no campo da governança corporativa – uma das poucas que surgiram como resposta à crise –, como incentivar as empresas a incorporar métodos de administração de riscos, a exemplo do que já fazem as empresas financeiras, e assim evitar casos de companhia como a Aracruz, que foi prejudicada pela exposição em derivativos financeiros. O Plano Diretor também menciona a redução dos custos de capital para as empresas e o estímulo à formação de market makers, ou seja, intermediários no mercado que

as eleições presidenciais de 2010 que dominarão a agenda política do próximo ano. Outro país que enfrenta um cenário de eleições e crises é o Chile, o qual poderá prejudicar a aprovação de um importante pacote de reformas conhecido como o MK3. Alejandro Micco, coordenador de mercados de capitais do Ministério da Fazenda, ressalta que outros projetos de reforma, como uma lei de câmaras de compensação para transações financeiras e uma lei de governança corporativa, serão aprovados no começo de 2009. O MK3 busca, segundo Micco, facilitar que investidores estrangeiros possam investir no país, aumentando a liquidez e profundidade do mercado. Entre suas medidas

ca”, diz. “E em um ano de eleição, pode haver grupos que busquem dividendos políticos ao bloquear o projeto, culpando o grupo contrário de obstrucionista”. No Peru estão sendo vistos avanços no aprofundamento dos mercados de capitais, ainda que não haja grandes reformas que englobem distintos aspectos atualmente em discussão no poder legislativo. Pedro Flecha, da associação AFP, explica que no fim de 2008 a Superintendência de Bancos e Seguros permitiu que as AFPs invistam agora em fundos de investimento, em fundos mútuos, em swaps e forwards. Também é estudado permitir que elas invistam em maior número de ações locais. “De 330 ações listadas na bolsa local,

A discussão de temas políticos ou processos eleitorais também poderá adiar mudanças. se comprometem de antemão a fazer contraparte em operações de certos instrumentos, para assim garantir a liquidez do mercado; e uma iniciativa de educação financeira. “Alguns dos projetos serão aprovados no próximo ano e outros seguramente o serão mais para frente; dependerá da complexidade e do momento político”, afirma Alfredo Moraes, presidente da Associação Nacional de Instituições do Mercado Financeiro do Brasil, a Andima. “O importante é que não se trata apenas de um pacote que requer aprovação total no Congresso, e sim de distintas iniciativas necessárias no mercado”. Este ponto não é menos considerado do que

específicas estão a criação da exchange traded funds, o ETF, e extensão da isenção do imposto sobre ganhos de capital a mais investidores institucionais de fora e a um número maior de instrumentos – agora isso só é permitido para certas ações. Micco acrescenta que a proposta deve entrar no Congresso no primeiro semestre de 2009 e que a crise não deve ser um freio, e sim um catalisador para sua aprovação. Contudo, para o deputado do partido de oposição UDI, Rodrigo Álvarez, membro da Comissão da Fazenda da Câmara, a aprovação do projeto será difícil de acontecer em 2009. “Entrou no caminho uma não tão pequena crise econômi-

apenas umas 30 cumprem as condições necessárias para que possamos comprá-las”, explica. O que está claro é que a América Latina requer a aprovação destes novos projetos o quanto antes. Um mercado de capitais firme e profundo é um componente indispensável de uma economia sadia e em crescimento, e em uma região na qual os principais atores são e seguirão sendo os investidores institucionais como as AFP – que por seu papel social requerem que todos os passos que possam tomar sejam claramente delimitados e definidos. Sem a vontade dos órgãos regulatórios dos mercados de capitais, o mercado será mais fechado. Q

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 57


MOVISTAR OPEN

VIÑA DEL MAR, CHILE

31 DE JAN A 8 DE FEV, 2009

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FINANÇAS OPINIÃO

John C. Edmunds

Solidez bruta COSTUMAVA SER FÁCIL CLASSIFICAR as estratégias econômicas dos países latinoamericanos: ou eram neoliberais ou eram populistas. Essas velhas descrições eram suficientemente acertadas para os debates em coquetéis ou conversas nos corredores do poder em Washington. Mas para as pessoas que fazem negócios na região, estas velhas etiquetas se transformaram em mera distração, já que muitos países implementaram estratégias que não são fáceis de classificar em nenhuma dessas duas categorias. Costa Rica, Panamá, Peru e Colômbia estão suportando a crise financeira dos EUA bastante bem. Os empresários nestes países estão genuinamente surpreendidos que suas economias não tenham colapsado e tratam de fazer duas coisas ao mesmo tempo: preparar-se para a profunda recessão ou depressão que alguns acham que chegará, e aproveitar as oportunidades de crescimento que têm à mão. Suas taxas de crescimento são quase inacreditáveis. A economia panamenha cresceu 12,1% no segundo trimestre de 2008, mais que muitas economias asiáticas e possivelmente acima da China. Mas muitos empresários e homens de negócios panamenhos acham que esse crescimento foi desmedido, e portanto estão nervosos. Obviamente, as cifras mais recentes não são tão alentadoras, por isso fazem ajustes dia a dia e reagem às oportunidades mais próximas que surgem. A queda nos preços das matérias-primas chegou, mas não com tanto dano quanto antes porque os sistemas financeiros dos principais países latinoamericanos não colapsaram. Ao contrário, suportaram o pânico. É uma conquista impressionante porque o pânico de setembro e novembro de 2008 foi igual ou mais severo que os de 1974, 1982, 1990, 1994, 1998 e 2001. Como antes, desta vez os investidores estrangeiros fugiram dos mercados emergentes, vendendo ações e bônus indistintamente dos méritos individuais de cada instrumento. Não obstante, a debandada não foi suficientemente grande para motivar um efeito dominó na região. O mercado russo parou, mas os latinoamericanos continuaram funcionando. Os câmbios registraram uma volatilidade de louco, mas os bancos centrais tinham abundantes reservas e atuaram com prudência. Estes meses turbulentos provêem a resposta à antiga pergunta que esteve no centro do debate na região durante as

últimas três décadas: seguir ou não um plano de crescimento impulsionado pelo desenvolvimento dos mercados de capitais. O Chile o fez e se converteu no processo no país mais rico da região. Mas os céticos nunca quiseram adotar o modelo chileno plenamente. Viam-no como imprudente e criticavam que seus esforços não estiveram concentrados em impulsionar as manufaturas. Diziam que criava intencionalmente uma bolha em seu mercado acionário e que cedo ou tarde colapsaria. Os céticos diziam que o modelo de crescimento apropriado era o da Costa Rica, a partir do desenvolvimento e exportação de produtos tecnológicos. Essa estratégia era mais prudente e viável, além de que não levaria ao colapso. O modelo panamenho também contava com o apoio dos céticos, ainda que não no mesmo grau porque se concentrava nos serviços. O panamá se converteu em um ponto nevrálgico dos serviços marítimos e o coordenador logístico do comércio na região. A cidade de Colón, na costa Atlântica, despertou de sua modorra e atravessou um boom de construção de novos armazéns. O setor bancário panamenho vibra com a crescente atividade, mas o país decidiu não desenvolver seu mercado de capitais. Seu mercado de ações é pequeno e quase irrelevante para o crescimento apoiado nos mercados de capitais. O Panamá pode ter evitado uma bolha acionária, mas talvez não a imobiliária. Assim, a resposta se torna evidente. É seguro para os países latinoamericanos enfatizar o crescimento e desenvolvimento de seus mercados de capitais locais e reduzir a preponderância dos bancos comerciais como recoletores e distribuidores de capital. A estratégia de desenvolvimento de mercados de capitais também requer instituições sofisticadas e uma cuidadosa implementação para entregar seus benefícios conhecidos. O temor era de que esses benefícios desapareceriam e que as economias que usam os créditos como combustível cairiam no buraco da miséria. Os últimos meses demonstraram que, quando a crise chegou, os países com mercados de capitais grandes e sofisticados não sofreram mais que aqueles países que dependem dos bancos comerciais para financiar seu crescimento. Vários demonstraram que podem criar mercados grandes e sofisticados e colher os benefícios. Não sofrem mais que aqueles países que se concentraram em estratégias de crescimento centradas na produção e que negaram a si mesmos os benefícios de contar com um mercado de capitais funcional. Q

O desenvolvimento de mercados de capitais requer instituições sofisticadas e uma cuidadosa implementação.

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e co-autor de Wealth by Association.

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 59


CAPITAL ABERTO ethomson@americaeconomia.com

NINGUÉM SE SALVA

Quando se trata de crises financeiras e bancárias, os dados históricos são iguais para todos A FRANÇA TEM as honrarias. Entre os anos 1500 e 1800, o país europeu caiu oito vezes em default de sua dívida soberana, mas desde então não voltou a dar o chamado calote nos pagamentos. De acordo com um recente estudo econômico, a França seria um exemplo aos países “formados” em crise de dívida soberana, juntamente com Áustria e Espanha. Ou seja, são os que aprenderam a evitar esta situação de forma recorrente (Alô, Equador: tome nota disso). Entretanto, o mesmo estudo, publicado pelos acadêmicos Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard, e Carmen Reinhart, da Universidade de Maryland, ressalta que, quando se trata de crises bancárias e financeiras, aprender com o passado é algo praticamente impossível. Eles analisaram dados

de crises históricas desde 1800 até agora e descobriram que a incidência de crises financeiras e bancárias em países desenvolvidos e emergentes é muito parecida. De fato, é particularmente alta em centros financeiros como Estados Unidos, Reino Unido e na já mencionada França. Além disso, existem notórios paralelos tanto quantitativos quanto qualitativos no período que antecede a crise (normalmente marcado por bolhas imobiliárias e acionárias) e no período após a crise (marcado por uma forte concentração de receita tributária dos governos e um significativo aumento no gasto fiscal). A dívida dos governos cresce 86% nos três anos imediatamente subsequentes ao de uma crise bancária, muito acima dos valores anunciados em pacotes de resgate. E os preços reais das casas em

geral caem durante os quatro anos ou mais seguintes à crise, tanto em mercados desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Assim sendo, dos 66 países estudados por Rogoff e Reinhart, somente Portugal, Áustria, Holanda e Bélgica conseguiram evitar as crises bancárias entre 1945 e 2007. Contudo, em 2008, três destes quatro países anunciaram enormes processos de resgate de seus sistemas bancários. Ou seja, os países mais ricos não são “especiais” frente aos menos ricos. Todos sofrem. A última turbulência fez com que ficasse no passado a noção entre economistas e analista de que crises financeiras “graves” estão relegadas aos “voláteis” mercados emergentes. Enfim, já não podem nos culpar de nada. Q Eduardo Thomson

E GIRA, GIRA

Proporção de países com crises bancárias entre 1900 e 2008, ponderada por participação no PIB mundial. FONTE: ESTUDO DE ROGOFF E REINHART

A PRIMEIRA CRISE FINANCEIRA DO SÉCULO 21

A GRANDE DEPRESSÃO

45

PORCENTAGEM DE PAÍSES

40

MERCADOS EMERGENTES, JAPÃO, PAÍSES NÓRDICOS E ESTADOS UNIDOS.

35 30 GUERRA MUNDIAL

25 20 15

PÂNICO DE 1907

10 5 0 1900

1909

1918

1927

1936

60 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

1945

1954

1963

1972

1981

1990

1999

2008

CENÁRIO EXTREMO Quais seriam os países que teriam que levar a cabo uma contração importante de suas importações ou receber financiamento de emergência em um cenário de completa escassez de fluxos internacionais de financiamento em 2009? O cenário é extremo. Equivaleria a trancar completamente a porta de entrada de fluxos, o que, até

CHILE EM DÉBITO PAÍS Argentina Brasil Chile Colômbia Equador México Peru

CÁLCULO RESERVAS* 20,4 91,1 -11,9 4,1 2,4 11,7 13,9

FONTE: CREDIT SUISSE * Diferença entre reservas em dólares e necessidade de financiamento externo em 2009 (inclui obrigações de curto prazo) – em bilhões de US$)

agora, é tido como improvável. Mas, segundo um recente relatório do Credit Suisse, esses países seriam Hungria, Polônia, África do Sul, Ucrânia, Turquia e Chile. Dos seis, o Chile é o quarto com mais necessidade de financiamento externo em relação ao PIB, com 20% projetados pelo banco de investimento para 2009, a maior taxa entre os países latinoamericanos estudados. Outro país da região, o Peru, também estaria na lista de Estados com forte déficit em conta corrente ou grandes obrigações de dívida no próximo ano, mas que enfrenta o ano de 2009 com elevadas reservas em moedas estrangeiras, o que reduziria a necessidade de uma contração de importações ou de buscar financiamento de emergência.


NEGÓCIO FECHADO MAN: ESTRÉIA NO BRASIL

>> BANCO VOTORANTIM O Banco do Brasil, até pouco tempo atrás o maior do País, confirmou a compra de 50% do capital social do Banco Votorantim por aproximadamente R$ 1,2 bilhão. Também foram adquiridos 49,99% do capital votante da instituição por R$ 3 bilhões. O BB foi recentemente ultrapassado em tamanho após o anúncio da fusão do Itaú com o Unibanco, e, mesmo com a compra do Votorantim, o sétimo maior do país, não voltará ao primeiro lugar. >> ANAGRA A empresa chilena de fertilizantes fechou acordo de fusão com a Soquimich Comercial, filial da empresa produtora de nutrientes, lítio e iodo SQM. O montante do acordo não foi informado, e o processo deve ser aprovado pela autoridade antimonopólio do Chile. >> BRINKS COMPANY A companhia de serviços de segurança aumentou sua presença no Brasil através da compra da SebivalSegurança Bancária Industrial e de Valores, por R$ 50 milhões. O Sebival possui cerca de 3,3 mil funcionários e receita anual de US$ 60 milhões. >> BRIO A distribuidora de combustíveis tornou-se a quinta empresa a fazer

um lançamento de ações na Bolsa de Valores da Colômbia. Segundo o prospecto, foram colocados 180 milhões de ações por um total de US$ 26 milhões. A BRIO possui 160 postos de gasolina no país. >> BTG O Banking & Trading Group, uma empresa de reestruturações criada pelo ex-executivo do UBS Pactual Andrés Esteves, comprou duas redes de distribuição de combustíveis no Brasil: Via Brasil e Aster. Pela Via Brasil, pagará US$ 85 milhões (dos quais US$ 55 milhões são de dívidas) e pelo Aster concordou pagar em ações da fusão Via-Aster. >> CEPSA A petrolífera espanhola anunciou o fechamento de novos contratos de exploração e produção na bacia de Los Llanos na Colômbia, o que exigirá investimento de US$ 50 milhões. No total, a Cepsa opera 17 contratos de prospecção petrolífera no país andino. >> DELPHI CORP Como parte de sua reestruturação para evitar falência, a Delphi decidiu vender sua operação global de produção de tubos de escape à mexicana Bienes Turgon e sua filial Katcon. A operação inclui plantas de produção na Polônia, Austrália, Índia e África do Sul e joint ventures na China e no México.

>> EL PASO A empresa norte-americana de gás natural arrecadou US$ 275 milhões pela venda de ativos, incluindo uma planta de geração elétrica em Porto Velho, Rondônia, por US$ 178 milhões. A venda encerra a saída da El Paso de suas operações de geração no país sulamericano. >> HEIMBACH A produtora de filtros adquiriu 80% das ações da empresa argentina Filtman e da chilena Emisión Cero. Não foi informado o montante das transações. Heimbach registrou em 2007 receitas anuais de US$ 245 milhões. >> MASISA A produtora chilena de conglomerados anunciou a venda de ativos no estado de Santa Catarina à Renova Florestal. Entre os ativos estão uma linha de molduras e uma planta de cogeração de energia.

Além disso, foram incluídos 13,5 mil hectares de ativos florestais. O montante da transação não foi informado, mas a Masisa relatou que as operações deixaram um saldo financeiro antes de impostos de US$ 3,5 milhões. >> SU CASITA A espanhola Caja Madrid anunciou que, devido à crise financeira, suspenderá a compra dos 60% que não possui na Hipotecaria Su Casita “até que os mercados se estabilizem”. A Caja Madrid havia concordado, em 2008, em comprar tal fatia por US$ 342 milhões. >> VALE A mineradora brasileira aumentou sua presença na África após adquirir 50% de algumas filiais da TEAL Exploration & Mining Inc., empresa listada em Toronto e Johanesburgo, por US$ 66 milhões. A TEAL possui projetos em fase de exploração e produção na República Democrática do Congo, Moçambique, Namíbia e Zâmbia.

MAN

O grupo alemão MAN, produtor de caminhões, comprou as operações de produção de ônibus e caminhões da Volkswagen no Brasil. A MAN não informou o montante da transação, mas ressaltou que as operações compradas possuem um enterprise value de US$ 1,6 bilhão. O maior acionista da MAN é a própria Volks.

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 61


INTERFACES A LOUCA VIDA COTIDIANA COM AS MÁQUINAS INTELIGENTES.

PANORAMA NEGRO? UMA LUZ AÍ! E

conomizar massivamente em tempos de recessão é como fazer dieta para emagrecer em um pós-operatório: uma idéia perigosa. Mas se a prescrição convencional pede para gastar, existe uma variedade de gasto especialmente virtuosa: investir agora em algo que nos permitirá economias importantes no futuro. O senso comum indica que os bens que permitem melhorias na eficiência – aproveitáveis ao máximo no boom econômico seguinte – costumam ser escassos, senão estariam sendo aproveitados por todos. Mas isso é um erro. Acontece que nem todas as melhorias de eficiência provêm de melhorias diretas do já existente. Foi o que aconteceu na primeira metade do século 19, quando alguém vinculado ao Banco da Inglaterra, talvez molesto pela grande quantidade de jovens que não se tinham arriscado nas brutais guerras napoleônicas e andavam seduzindo garotas com suas jaquetas estilo militar, tomou uma dessas peças e se pôs a apalpar seus botões. Aquele curioso descobriu que a qualidade da impressão em relevo – típica dos botões militares da época, feitos de metal – era impressionante. Muito melhor que a das moedas. E pensou: por que não usar as máquinas de fabricar botões para acunhar moedas? Os sistemas então vigentes eram suficientemente burdos e falsificar moedas era muito simples. O resultado? O Estado não conseguia controlar o dinheiro em circulação. A aplicação daquela tecnologia nova presente, mas invisível, produziu uma revolução na emissão e circulação monetária do então país mais rico do mundo. O que hoje poderia ser um equivalente a esse “sistema invisível”? E. Fred Schubert e Jong Kyu Kim, professores do Rensselaer Polytechnic Institute e membros do Smart Lighting Center em Troy, Nova York, têm uma resposta simples: olhemos para a luz dos centros comerciais, os LEDs (light-emittingdiode). 62 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

“Instalados em escala global para substituir as fontes de luz convencionais, essas fontes de luz geradas por estados-sólidos representariam benefícios enormes que, em uma década, incluiriam uma economia gigantesca de energia; uma redução substancial das emissões de CO2, forte redução na emissão de poluentes como o óxido de enxofre (que provoca a chuva ácida), mercúrio e urânio, e economias superiores a US$ 1 trilhão”, afirmam os pesquisadores, em um trabalho publicado em dezembro no Optic Express. E não é só. Tal medida economizaria 962 milhões de barris de petróleo e tornaria desnecessárias 280 plantas de energia elétrica. A origem de tudo é tão simples como o caso dos botões e das moedas: um LED é 20 vezes mais eficiente para produzir a mesma quantidade de luz que uma lâmpada convencional. Schubert e Kim não só defendem a substituição massiva (que ainda faria baixar o custo de fabricação), como indicam que há um potencial muito alto de inovações que melhoram esses níveis (como os LEDs ultrafinos, como películas emissoras de luz, por exemplo). E há quem já esteja explorando as possibilidades surpreendentes desse foco. É o caso da empresa Office For Visual Interactions, que ganhou a licitação da cidade de Nova York para substituir sua iluminação pública com um projeto digno do século 21, com um fogo alongado que contém 100 LEDs detrás de um sistema de lentes que permite regular o tipo de luz emitida. A princípio, estes focos oferecerão três tidos de intensidade luminosa: esquina, centro da rua e parque. Os “postes” possuem um design que permitirá mudar os LEDs não apenas à medida que se queimem, mas à medida que a tecnologia melhore. Um grande exemplo de como, em tempos negros de crédito, investir em luz pode ser uma aposta a um futuro mais claro, menos poluente e, sim, mais barato. Porque a energia, no médio prazo, voltará a tornar-se escassa. Q

SOLEDAD TIRAPEGUI

RODRIGO LARA SERRANO


I-BIZ

ALEJANDRO CHASKIELBERG

Marina e Ariel: lutar pelo mercado

Detetives digitais Empresa de localização cria soluções sob medida para pistas de esqui, companhias logísticas e bichos de estimação. Rodrigo Lara

A

inda que hoje em dia pareçamos mais vigiados do que nunca, o mercado de localização de pessoas está em pleno vapor e movimenta negócios dos mais diversificados. “A localização e o GPS são muito mais populares hoje que há três anos”, explica Marina Fórmica que, aos 25 anos, juntamente com seu irmão Ariel, está há dois anos desenvolvendo o empreendimento no qual investiram US$ 30 mil iniciais. A idéia: desenvolver um software de localização sob medida, para negócios como centros de esqui, como o chileno Vale Nevado; empresas de logística ou de recuperação de veículos. As possibilidades são muitas. “Por exemplo, agora estamos desenvolvendo projetos para PDAs e Blackberry nos quais os usuários dispõem de uma aplicação, como se fosse um alerta de SMS, se a pessoa tem que controlar um veículo

ou se o objetivo é evitar que alguém saia de um perímetro determinado”, conta a engenheira de telecomunicações, sócia da Localizar-T. Seu cavalo de batalha original foi o contrário: “um sistema que permite que uma pessoal possa acessar um terminal tipo ATM, no qual ingressa uma senha e localiza, dentro do mapa de uma pista de esqui, onde está um determinado esquiador”. Esse serviço está em operação no Valle Nevado (Chile) e em Cerro Bayo (Neuquén, Argentina). Os equipamentos – que incluem um botão de pânico usado pelo esquiador – pertencem à canadense Lipack, da quais os empresários são representantes. Um dado interessante é que o serviço pode correr sobre mapas do Google Maps. Juntamente com o sistema já reprojetado, a empresa trabalha para que, no caso de Cerro Bayo, seja o celular do esquiador o provedor do sinal

de localização (usando a rede de antenas de celular disponível). Tal sistema também será útil em centros urbanos. “Os lugares com muitas antenas podem substituir medianamente bem o GPS”, diz. Mas, se de GPS se trata, a grande novidade da temporada 2009 será um aparelho que, usado como bracelete, permitirá a saída e recepção do sinal. O interessante é que os serviços são totalmente escaláveis. Podem variar de poucos usuários como pessoas que desejam aplicá-lo em seus bichos de estimação, a frotas massivas de veículos. Com vendas estimadas em US$ 100 mil em 2008, será que a empresa verá seu crescimento reduzido devido ao momento econômico mundial? “Será preciso lutar mais”, afirma Marina. Já que “nos afeta devido aos tempos de tomada de decisão das empresas”. Mesmo assim, ela conta com cartas sob a manga.

“Há alguns meses estamos desenvolvendo um software de gestão vinculado a soluções de fatura eletrônica”. Um freio nas expectativas quanto ao segmento de localização? “De jeito nenhum. A empresa francesa TomTom (de navegadores GPS) está chegando para se instalar na Argentina, o que significa um sinal de que este segmento está crescendo.” A TomTom já opera no Brasil e no começo de dezembro lançou no País seu navegador por satélite para carros particulares TomTom GO 920 que inclui – além de mapas de rota na tela – instruções de voz (inclusive gravadas com a voz do próprio usuário), que pode ser ouvida através do equipamento stereo do carro. Por isso, Marina é otimista. “Esperamos duplicar ou triplicar as vendas. Como empresa, estamos em pleno crescimento”, aposta. Porque, como sempre, saber onde está parado tem o seu preço. Q

21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 63


RAIO X [ESTADOS UNIDOS]

RESGATE DE CONSUMIDORES

Com um novo pacote de US$ 800 bilhões, Obama começa a lutar Rodrigo Lara

NÚMEROS GIGANTES POPULAÇÃO (MILH.) PIB (VAR.%) PIB (MILH. US$) PIB PER CAPITA (US$)

2003

2004

2005

2006

290,9

293,5

296,3

299,1

2,5

3,6

2,9

2,8

10.960.800

11.685.900

12.421.900

13.178.400

37.685

39.812

41.929

44.064

INFLAÇÃO % (DEZ.)

1,90

3,30

3,40

2,50

DESEMPREGO (%)

6,00

5,50

5,10

4,60

SALDO FISCAL (% PIB)

-4,8

-4,4

-3,3

-2,2

CO. COR. SALDO % PIB

-4,8

-5,3

-5,9

-6,0

SALDO COMERCIAL

-496.915

-607.730

-711.567

-753.283

FONTES: FMI, BEA, BLS, UNCTAD . ESTIMATIVAS (E) E PROJEÇÕES (P) AE INTELLIGENCE E FMI

64 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

seguros de saúde e desemprego, ao apoio à educação e a obras de infraestrutura. Setores ligados ao partido Republicano não estão muito dispostos a aprová-lo. E, se isso acontecer, será após vários meses de estudos detalhados. Um de seus principais argumentos é que o País está gastando sem o apoio adequado. Em outras palavras, que os EUA poderiam encaminhar-se a um difícil momento em que não poderão respaldar sua moeda. Mas, como indicam vários economistas, para ter uma crise de tal tipo a economia dos EUA terá que sobreviver até esse momento e, no ritmo em que as coisas vão na América do Norte e no mundo, “isso se parece horrorosamente com o começo de uma segunda Grande Depressão”, como recentemente afirmou Paul Krugman. O problema é que a política monetária se mostrou impotente para deter a recessão, o que voltou a mover uma velha disputa acadêmica sobre o poder de fogo de tal ferramenta. Os EUA tampouco podem esperar muito por um impulso externo via exportações. Segundo o Banco Mundial, as cifras estimadas para a 2007 08e 09p queda de suas exportações (-2,6%) e suas importações (-1,1%) não são 302,0 304,8 307,8 tão desastrosas como as de México, 2,0 0,2 0,8 Canadá, Alemanha e Japão; mas 13.807.500 14.334.034 14.571.382 não se pode dizer o mesmo de seu déficit em conta corrente, estimado 45.725 47.025 47.335 a chegar a 5,8% do PIB (US$ 830 4,1 1,1 0,2 bilhões). Por isso, apesar de que 4,6 6,9 8,2 contar com o apoio da China será -2,7 -4,1 -4,6 importante para manter a confiança nos bônus do Tesouro, a solução -5,3 -4,6 -3,1 à crise está dentro dos EUA. E o -700.258 -690.916 -490.957 tempo corre contra. Q

SOLEDAD TIRAPEGUI

H

á duas notícias sobre o estado da economia dos EUA: uma boa e outra má. A má é que seus indicadores não param de deteriorar-se. E a boa? É que, se de financiamento se trata, ninguém está preocupado com isso. Por enquanto. “Sem respeitar qualquer visão de longo prazo dos fundamentos, os bônus do Tesouro são atualmente a melhor praia para estacionar a liquidez (mundial), com clientes satisfeitos de pagar apenas por estar aí”, resume, com lucidez, Luis Awazu Pereira da Silva, ex-economista-chefe do Ministério de Orçamento do Brasil em recente monografia. Que os investidores apostem que a Casa Branca saberá como solucionar os problemas e que o fará é um voto de confiança nada desprezível, mas poderá não ser suficiente. Como nas guerras e outras atividades humanas massivas dirigidas pelas paixões, as bolhas especulativas e posteriores recessões só se parecem no nome, bem como os efeitos destruidores e a capacidade de negar a realidade que os antecede. Vistas de perto, cada uma delas é singular. Nada disso importaria a ninguém mais que aos historiadores se não derivasse em um dado essencial: as ferramentas para combatê-la podem resultar em pólvora molhada. O presidente Obama atualmente luta para que o Congresso aprove um novo pacote de resgate, desta vez, dos consumidores. Calcula-se que este possa chegar a US$ 775 bilhões. Quarenta por cento desse montante estarão direcionados a cortes de imposto, com US$ 150 bilhões deles distribuídos à razão de US$ 500 por trabalhador ou US$ 1 mil por família. Outros US$ 100 bilhões serão incentivos impositivos para criar trabalho e investir em bens de capital. E o restante se destinará a melhores


VISÕES NOSSO CLONE PELUDO

Especialista em simbologia medieval destaca capítulo tão esquecido quanto apaixonante da História Ocidental: como o urso passou de rei semidivino a bicho de pelúcia

Houve

um tempo – para nós longínquo, mas cronologicamente próximo – no qual teria sido considerado um absurdo, um contrassenso, usar a expressão bear market para significar tempo de derrota e medo. E, ao contrário, bull market como associação a poder, confiança, riqueza e otimismo. Foram dias em que o urso pardo era o monarca dos animais na Europa. Quando reis vikings e godos espalhavam lendas que diziam que em suas linhagens havia, literalmente, um avô ou bisavô ursino. Não se tratava de capricho. Em Roma se costumava colocá-los para enfrentar-se com leões, panteras, touros e venatores (gladiadores acompanhados de cães). Um touro, ou vários, nunca saíram vitoriosos contra ele, segundo os registros. Tampouco os leões. Os humanos, nem sempre, e a duras penas. Fascinados pelos efeitos de tais cascatas de adrenalina, políticos e empresários do império dispunham de ursorum negotiatores, “recrutadores” de ursos, verdadeiros empresários fornecedores que buscavam na Dalmácia (Bálcãs) ou Caledônia (Escócia) bestas particularmente fortes e titânicas. Os “bárbaros” os respeitavam ainda mais. Derrotar ao único outro animal bípede (ou a um javali) era um fato considerado uma prova de iniciação fundamental para que os jovens celtas ou alemães passassem à maioridade. Alguma vitória particularmente inverossímil se convertia em um antecedente relevante para ser eleito rei. Como então esse ser maior que a própria realidade chegou a se converter em um animal torpe, acrobata sobre uma bicicleta em circos, bicho de pelúcia, ou personagem ridículo de desenhos animados? El Oso, historia de un rey destronado (O urso, história de um rei destronado) é a resposta com a qual Michel de Pastoreau explica essa mudança. É um texto particularmente divertido e surpreendente, já que trata não tanto dos ursos reais, mas de como a civilização ocidental os usou de forma diametralmente oposta para expressar seus valores. E também as técnicas postas em marcha pela Igreja Cristã, primeiramente, e logo a Católica, para eliminar todo o respeito e admiração por esse animal, cuja simples presença respeitada era vista como o vestígio subversivo de uma forma de viver que devia ser suprimida. Os capítulos em que se detalha esse processo intencional para favorecer a “decadência” do urso (“o urso

é o diabo”, julgará Santo Agostinho) e a “ascensão” do leão como “rei dos animais” são fascinantes devido à sua semelhança com as campanhas EL OSO, HISTORIA DE UN REY modernas de marketing DESTRONADO político. Michel de Pastoreau Pastoreau destaca Editorial Paidós Ibérica em particular o fato Barcelona 2008 de como se apagaram US$ 37 os aspectos duvidosos e negativos (alguns explícitos nos textos bíblicos) do novo rei, transferindo-os a um “leão mau”, o leopardo (animal mitológico alheio ao leopardo real, “suposto fruto dos amores culpáveis da leoa e o pardus, um animal algo enigmático que às vezes se apresenta como o macho da pantera”). De quebra, já destronado e exilado (com o leopardo e o dragão) à seção dos condenados, o urso rapidamente perderá seu posto de preeminência na Arca de Noé. Ainda assim, durante muitos séculos o urso continuou tendo um status ambíguo quanto aos poderes de sua sexualidade, diz Pastoreau. E da mesma forma que Paris – o príncipe que raptou Helena de Tróia – possuía dotes de sedutor infalíveis, devido principalmente a ter sido alimentado por uma ursa, Orson (o Namelos) – um dos heróis da novela cavalheiresca Valentim e Orson, publicada em 1486 – obterá seu corpo peludo e sua força descomunal através dos mesmos meios, enlouquecendo muitas damas. Com sincera tristeza, o diretor da École des Hautes Études en Sciences Sociales da França termina a trajetória da relação entre homens e ursos destacando que, daquele animal do Paleolítico, o Urso das Cavernas, de 3,5 metros de altura, fonte de terror e admiração de nossos antepassados, chegamos ao símbolo de ternura que nossos filhos abraçam para dormir, como se não pudéssemos nos separar de tais “primos”, nossos clones peludos. Tanto que até Neil Armstrong levou um, de pelúcia, em sua viagem à Lua. Q

Rodrigo Lara Serrano 21 DE JANEIRO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 65


LINHA DIRETA [MOSCOU]

AFP

O CONTRASTE RUSSO Outra vez, o tráfego de sempre. Uma avenida, três pistas e um sem-fim de carros tentando avançar sem sucesso... Já me preparava para escutar o “chingón” que todo chilango expressa em situações como esta, quando o chofer da camioneta que me levava disse algo incompreensível para mim, que soou como “maldiosioski” e que me despertou de minha ainda sonolenta rotina mexicana. Já tinha chegado a Moscou, na Rússia, cujo grande e interminável tráfego se converteu em uma lenta caravana de boas-vindas entre o velho aeroporto da capital e o hotel onde me hospedaria. Lentidão que também me serviu para começar a apreciar a nova Rússia de importantes contrastes. Não é à toa que esta cidade começa a tornar-se conhecida por seu tráfego e pela necessidade de se sair muito mais cedo para conseguir chegar de um lugar a outro na hora certa. Muito ao estilo da Cidade do México e outras grandes cidades, os habitantes de Moscou, como também seus automóveis, estão se multiplicando a taxas que a infraestrutura da cidade não suporta e cujos avanços no plano viário não acompanham tal crescimento na mesma velocidade. Como uma clássica fotografia do centro da cidade, com o passar dos dias pude ver como as pessoas estacionam literalmente onde podem, formando fila dupla em algumas das ruas mais largas ou até deixando seus carros instalados na calçada. Consequências de um país que ainda está se adaptando às novas condições liberais, mas com um passado comunista que ainda segue presente (e saudoso) para muitos. Pelas ruas se cruzam habitantes mais velhos que vivem acompanhados da nostalgia do comunismo e muitos jovens alimentados diariamente pelo McDonald’s ou pelo Kentucky Fried Chicken e que falam inglês, ainda que muitos ainda não o façam com perfeição. E o desfile de contrastes continua. A arquitetura clássica de épocas soviéticas e seus grandes edifícios estilo “blocks” se misturam com alguns centros comerciais que abrigam lojas estrangeiras como a sueca Ikea além de muitos restaurantes chineses, cheios de brilho e luzes. E apesar de se sentir a modernidade e o capitalismo, Moscou continua conservando intacta sua história e mistura perfeitamente a elegância das

66 AMÉRICAECONOMIA / 21 DE JANEIRO, 2009

marcas mundialmente top com construções ancestrais. Minha impressão, no dia seguinte ao de minha chegada, foi ainda mais forte ao conhecer a Praça Vermelha e percorrer o Kremlin, símbolos do poder russo. É como estar em um livro de histórias. Ou em um conto de fadas, quando se está frente à Catedral de São Basílio, clássica igreja com cúpulas cheias de cores. O que um dia foi o berço do império soviético agora é um país cujos jovens se angustiam porque é caríssimo comprar uma casa e os mais velhos têm saudade da época comunista, quando o Estado lhes entregava tudo porque, como me explicava um boliviano que vive em Moscou, “é seu direito”. Os mesmos que não querem que o Mausoléu de Lênin – que mantém o líder revolucionário embalsamado e intacto desde que faleceu, em 1924 – seja transferido desse lugar, por ser o único símbolo ao qual ainda podem se aferrar. Também na Praça Vermelha está o luxuosíssimo centro comercial Gum, onde antigamente estava o mercado popular de Moscou e hoje abriga prestigiadas lojas, como a da Cartier. Puro luxo ao qual muitos russos já têm acesso e outros aspiram ansiosamente a ter. Mas ser global não implica somente novas opções comerciais, mas grandes custos e efeitos dominó como o que hoje acontece com a crise econômica que saiu dos EUA e que não tem deixado ninguém a salvo, tampouco os russos. A construção do conjunto arquitetônico Rossia foi suspendida recentemente, fruto da incerteza financeira internacional, deixando em suspenso os cimentos de um novo símbolo de poder russo: a nova cara da zona comercial de Moscou. Com 118 andares, 612 metros de altura e investimento de US$ 1,3 bilhão, estimava-se que para 2012 seria o edifício mais alto da Europa e um dos mais imponentes do mundo. Um símbolo que buscava fazer com que a Moscou da Praça Vermelha, ainda que sempre presente, se transformasse em passado, em um postal folclórico, deixado em segundo plano sob a sombra da Rússia renascida, potência comercial euroasiática de grandes edifícios, como o Rossia. Seu andamento terá que esperar até que cessem os tremores globais cujo epicentro, desta vez, não está nas terras de Pedro, o Grande. Q Arly Faúndes B.


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