Nº 381 Edição Brasil

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BRASIL

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LATINOS NA BOVESPA

Luciano Coutinho, presidente do BNDES

EXPORTAÇÕES PARA O MÉXICO PETROBRAS NO CHILE

BNDES

AVANÇA

BANCO ESTATAL CRESCE NA AMÉRICA LATINA. FAZ SENTIDO?

No 381 NOV./2009 R$ 10,90

ESPECIAIS: CLÍNICAS MÉDICAS E EDUCAÇÃO EXECUTIVA




32 36 38 40 44 46

26

Portal Cartas Índice de empresas Carta ao leitor Da redação Pistas Negócio fechado Movimentos I-biz Clics & chips Opinião - John Edmunds Linha direta

Negócios Petrobras Planos com etanol no Chile Stefanini Avanço no México Buscapé Capital para expandir

48 51 52 54 58 60

Avianca e Taca Aposta de Efromovich Iveco Caminhões para os Andes Entrevista Jaime Troiano

62 64

Finanças Latinos na Bovespa Mais investidores no Brasil Aposentadoria Previdência para os latinos

72

Seguros Apólices para executivos

Debates Comércio exterior Brasil e México negociam Argentina A salvação está na lavoura Sendero Luminoso Mãos dadas com o tráfico

ESPECIAL Clínicas Turismo médico Oportunidade para a América Latina Os melhores hospitais O primeiro ranking da região

BNDES Crescimento internacional

ESPECIAL Educação Executiva A luta pelos CEOs As escolas que se destacam

62 Ilustração FERNANDO CARRASCO CRUCHAGA

6 13 13 14 15 18 20 21 78 80 81 82

CAPA

Seções

Capa DAVILYM DOURADO/VALOR/FOLHA IMAGEM

NESTA EDIÇÃO

FUNERAL MILITAR NO PERU: COMBATE AO SENDERO LUMINOSO

Foto AGENCIA ANDINA

60

4 AméricaEconomia Novembro, 2009



PORTAL

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A MARCA GLOBAL Publicidade espontânea gerada por estrelas do mundo do entretenimento ao adotarem as sandálias Havaianas contribuiu para a expansão da marca no exterior e solidificou a imagem de artigo de moda desejado, explica Dominique Turpin, professor da escola suíça de negócios IMD. Segundo Turpin, os importadores foram cuidadosos ao adaptar as campanhas de marketing para cada país específico. Na França, o grande momento de exportação de Havaianas ocorreu durante a Copa do Mundo de 1998, mas a marca só deslanchou mesmo quando os importadores franceses começaram a associar a sandália a estilistas famosos como Jean Paul Gaultier e John Galliano, da Dior.

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

LEIA NO PORTAL EDIÇÃO: MARCELO GALLI (MGALLI@AMERICAECONOMIA.COM)

EXPANSÃO REGIONAL A fabricante de cabos Furukawa e a Universidad Del Cono Sur De Las Américas (UCSA) do Paraguai, em Assunção, fecharam uma parceria para oferecer cursos com base nas normas internacionais para profissionais que atuam no mercado de cabeamento. De acordo com a empresa, a iniciativa faz parte da estratégia de internacionalização na região do fabricante de origem japonesa que está no Brasil há 35 anos.

APRENDER NO EXTERIOR Estudos sobre internacionalização apontam que as multinacionais de países emergentes, como as brasileiras, precisam competir de maneira diferente fora dos seus mercados de origem, explica Felipe M. Borini, professor do Mestrado em Gestão Internacional da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).“Isso quer dizer que, em vez de somente levar seu conhecimento da matriz para as subsidiárias, ela precisa aprender com as subsidiárias em um ritmo mais rápido e intenso”, acrescenta. A necessidade deve-se ao fato de as empresas brasileiras estarem atrasadas no processo de internacionalização em relação às companhias de economias desenvolvidas.

PEGADAS DE CARBONO O aquecimento global faz parte das preocupações das maiores empresas do mundo, e a América Latina não é exceção. Por isso, AméricaEconomia quer conhecer as empresas que voluntariamente tomam medidas para reduzir suas emissões de gases que causam o efeito estufa. Sua empresa realiza essa medição? Se a resposta for afirmativa, contate-nos para participar do ranking de empresas latino-americanas que mais contribuem para reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa. ESCREVA PARA CARBONO@AMERICAECONOMIA.COM

6 AméricaEconomia Novembro, 2009








CARTAS NOVA AMÉRICAECONOMIA “É com orgulho que E MAIS: BRASKEM + QUATTOR acompanhamos a reATAQUE À IMPRENSA IMPOSTOS EM ALTA formulação da revista AméricaEconomia, que agora traz um novo visual, mais atraente, e um conteúdo ainda mais relevante para o A RETOMADA segmento empresarial, DO sob a batuta do editor chefe Cláudio Gradilone. A publicação contribui para ampliar o debate ESPECIAL: OS MAIORES BANCOS DA AMÉRICA LATINA em torno do desenvolvimento não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina. Nós, do Itaú Unibanco, parabenizamos esta iniciativa, bastante oportuna e necessária para o fortalecimento da imprensa latino-americana.” BRASIL

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CRÉDITO

No 380 OUT/2009 R$ 10,90

ZECA RUDGE – VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO, ITAÚ UNIBANCO

“Foi com muita satisfação que soubemos que a Spring Editora será, a partir de agora, responsável pelo conteúdo editorial da AméricaEconomia no Brasil. Nossos votos para que ela repita, na área do jornalismo econômico e de negócios, o sucesso conseguido com as revistas Rolling Stone e AeroMagazine.” MARCELO MENA BARRETO, GERENTE DE RELAÇÕES

INSTITUCIONAIS DA CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – CCEE

“Em um momento em que o Brasil amplifica sua inserção econômica na América Latina, é muito bom saber que há no mercado uma publicação que se destina a acompanhar, em detalhe, as iniciativas das empresas, do governo e da concorrência nas diversas facetas da atividade empresarial.” ADALBERTO SAVIOLI – PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL

DAS EMPRESAS DE FINANCIAMENTO E CRÉDITO – ACREFI

“Desejamos cumprimentar a revista AméricaEconomia pelo ranking dos melhores bancos da América Latina, que fornece ao mercado financeiro uma visão abrangente e em profundidade das movimentações no sistema financeiro continental, felizmente cada vez mais integrado a um mercado global e regional.” LUIS SERGIO TAMER – PRESIDENTE DA

TAMER COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Cartas para a redação:

cartas@americaeconomia.com

ÍNDICE DE EMPRESAS Os números referem-se à primeira vez que as empresas são citadas.

Acciones & Valores Adidas Aerogal Aeroméxico Aetna Airbus Albanesi Allianz Alpargatas Amazon Ambev Anglo American Antofagasta Minerals Aon Aracruz Armetec Tec. Robótica Avianca AviancaCargo Backus y Johnston Bancolombia Banif Bombardier Bradesco Dental Bradesco Braskem Buscapé Cammesa Capital Airlines Case CCR Celfin Asset Management Cemex Cerx Chevrolet Citi Colfondos Citigroup Codelco Codensa Colinversiones Conocophilips Consulting House Copa Airlines Cyrela Dior EBX Ecolatina Econsult Editora Globo EDS Eletrobrás Embraer Emgesa Empresa Energía de Bogotá Endesa EPSA Exxon Fiat Furukawa Gas Energy Gas Natural General Motors GOL Grupo Cafetero Grupo Colpatria Grupo Romero Grupo Santo Domingo GVT Helicol High Services Holcim HP Hypermarcas Hyundai IDC

50 21 41 20 63 41 27 53 21, 47 80 20 78 78 53 52 79 40 42 20 20 50 29 20 20 18 38 27 41 44 50 50 20 59 23 20 20, 41 78 20 20 20 22 42 50 6 18 59 32 46 37 22 29, 50 20 20 20 20 32 44 6 32 20 23, 78 20 40 20 20 40 18 41 78 20 37, 80 20 23 24, 38

IMD 6 Inal 20 Inversiones Argos 20 InvestorsTrust 51 Itaú Seguros 53 Itaú Unibanco 50 Iveco 44 29 JBS Friboi Johnson&Johnson 20 Jontex 20 Juan Valdéz 47 78 Kuka Roboter 41 LAN Linzor Capital Partners 20 Lojas Americanas 50 Lojas Renner 50 53 Mapfre MedRetreat 63 MercadoLivre 38 Microsoft Robotics 79 Microsoft 24 Mirs 78 Molymet 78 Moody’s Economy 48 Morgan Stanley 41 Mothiers 20 MRV 50 38 Naspers Nestlé 46 New Holland 44 Nike 21 Nippon Mining & Metals 78 Nissan 23 Nokia 80 Novartis 65 41 OceanAir Odebrecht 18, 27 Odontoprev 20 OGX 18 Oi 18 20 Palmfund Management Pão de Açúcar 50 PDVSA 20 Petrobras 18, 32, 36 PipeWay 79 18 Quattor 80 RIM Rinker 20 Rio Tinto 79 Rossi 50 20 SAB Miller Sadia 52 Saic 44 SAM 41 Santander Investiment 41 Santander 20 Sigdotek 44 Sinergy 40 Souza Barros 50 Stefanini IT Solutions 36 Swift Armour 29 40 Taca Tampa Cargo 42 Telefônica 18 Tito 54 TS Group 64 18 Unipar 18, 50 Vale Varig 42 VarigLog 42 VIP Airlines 41 Vivendi 18 Vivo 80 63 Worldwide Medical Partners

Novembro, 2009 AméricaEconomia 13


CARTA AO LEITOR GIGANTE EM EXPANSÃO www.americaeconomia.com.br

BRASIL

PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação Tatiana Engelbrecht Editor-Chefe Cláudio Gradilone Editora-Executiva Solange Monteiro Diretora de Arte/Projeto Gráfico Janaína Diniz Editor do Site Marcelo Galli Revisão Daltony Nóbrega e Bia Peine Produção Gráfica Eduardo Keppler Infografia Rodrigo Damati COMERCIALIZAÇÃO Gerente de Publicidade Sidney Espósito Executivas de Contas Andrea Vieira - andreavieira@springcom.com.br Priscila Ferreira - priscila@springcom.com.br MARKETING Elisangela Silva, Rafael Borsanelli, Marcia Leonardi ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo Eduardo Colturato Gerente Financeiro Sidney Gironda Pré-impressão First Press Periodicidade Mensal (Novembro de 2009) CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfica Circulação auditada por SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7º andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMIA INTERNACIONAL Diretor Elias Selman Carranza Vice-Presidente Executiva Gloria Landabur C. Diretora Internacional de Marketing Mica Selman Diretor Editorial Felipe Aldunate M. Editor Adjunto Rodrigo Lara Editores Adriana Méndez (Cidade do México), Antonio María Delgado (Miami), Eduardo Thomson (Santiago), Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago), Karen Correa (Guaiaquil) Diretor de Arte Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia Miguel Candia Diretor de Projetos, MBA.americaeconomia.com.br Marcelo Silva Symmes Diretor de Circulação Marcial Delcorto Gerente de Produção Constanza del Río Moreno AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor Jaime Contreras Soria Coordenadora Geral Daniela González Pesquisador Sênior Andrés Almeida Analista Paulina Saavedra

N

esta segunda edição da AméricaEconomia Brasil produzida pela Spring Editora, elegemos como tema de nossa reportagem de capa uma discussão que julgamos fundamental para entender como o Brasil quer se mostrar e interagir com seus vizinhos: o decisivo e imponente papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) na América Latina. Com atuação equivalente à de tradicionais financiadores do desenvolvimento na região, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Andina de Fomento (CAF), o BNDES é hoje determinante para a expansão latino-americana das empresas brasileiras. Apenas para se ter uma ideia da dimensão da cruzada empreendida pela instituição, os projetos aprovados e em análise para exportações na região já somam US$ 15,6 bilhões, e as empresas de capital nacional que prestam serviços aos países latino-americanos receberam US$ 600 milhões nos primeiros oito meses deste ano. Além disso, os desembolsos para a América Latina duplicaram em 2007 e 2008. Que países mais receberam financiamento? Quais são as vantagens e os riscos que o crescimento além das fronteiras pode representar para o Brasil? Poderia a atuação soberana do BNDES inibir o crédito privado? As respostas para essas e muitas outras questões, além da palavra do banco e a opinião de analistas brasileiros e internacionais, estão em nossa reportagem. Neste mês, falamos também sobre o estratégico desembarque da Petrobras no Chile; a colheita recorde de soja na Argentina, que pode representar crescimento de 1,7% para o país; a fusão das companhias aéreas Avianca e TACA; o acordo comercial entre Brasil e México; a volta à cena peruana da organização criminosa Sendero Luminoso; e publicamos os especiais sobre educação executiva e clínicas médicas, elaborados por AméricaEconomia Intelligence. Aproveite a leitura. José Roberto Maluf Publisher

AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital Rodrigo Guaiquil Editor Lino Solis de Ovando Webmaster José Fuentes ESCRITÓRIOS Buenos Aires +5411 4383-8410 Cidade do México +5255 5254-2400 Costa Rica +506 225 6861 Lima +511 610-7272 Miami +305 648-9071 Panamá +507 271 5327 Santiago +562 290-9400 Uruguai +5982 901 9052 Chairman Robert R. Paradise

14 AméricaEconomia Novembro, 2009

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel. 55 11 3038-1493, de 2ª a 6ª feira, das 8 às 20 h E-mail: americaeconomia@acsolucoes.com.br Cartas: Rua Butantã, 500 – 2º andar – CEP 05424-000 – São Paulo/SP Valor da Assinatura Anual: R$ 108,00*, pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora Ltda. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em Real, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigido monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.


DA REDAÇÃO

VISITANTES CONHECEM A NOVA REVISTA E CONCORREM A PASSAGENS AÉREAS

AMÉRICAECONOMIA NO MAXIMÍDIA A AméricaEconomia Brasil foi um dos destaques da 5ª edição do Maximídia, o maior evento do setor de marketing e comunicação da América Latina, realizado em São Paulo, no último mês de outubro. Durante o evento, a Spring Editora fez ações especiais para a divulgação da revista. Profissionais das principais agências de publicidade e dos departamentos de marketing

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das maiores empresas do Brasil que visitaram o estande da Spring foram presenteados com exemplares da primeira edição da AméricaEconomia editada pela Spring Editora. A revista, que chegou às bancas em outubro e teve seu projeto gráfico e editorial reformulado, também sorteou passagens aéreas para diversos destinos turísticos do país.




PISTAS O FIEL DA BALANÇA PUBLICAMOS A união da Braskem com a Quattor representaria a criação de uma Vale do Rio Doce da petroquímica (...). A questão societária deve ser crucial. Ambas têm um sócio em comum – a estatal Petrobras possui 30% do capital votante da Braskem e 40% do da Quattor. Como fortalecer as empresas brasileiras faz parte da estratégia de Brasília, os analistas acreditam que a Petrobras vai se envolver para que o negócio decole. (“A Vale da Petroquímica”, AméricaEconomia Nº 380, outubro, 2009)

Ilustração RODRIGO DÍAZ

O NOVO Apesar de a Petrobras ser o principal elo de união entre a Braskem, controlada pelo grupo Odebrecht, e a Quattor, pelo Unipar, o presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, andou esquivando-se de fazer comentários. “Não comentamos qualquer negociação, mas é sabido que os dois grupos têm problemas societários e financeiros.”

VALE TUDO OURO NEGRO

Foto ABRIL IMAGEM

PUBLICAMOS Em junho, a subsidiária de exploração de petróleo e gás do grupo EBX, do empresário Eike Batista (à esquerda), a OGX, bateu novo recorde no mercado nacional ao concluir uma captação primária de R$ 6,7 bilhões. Detalhe: sem um único barril de óleo extraído, a empresa já tinha recebido uma injeção de US$ 1 bilhão de grandes investidores. (...) E a previsão é de que os primeiros poços da OGX serão furados apenas no segundo semestre de 2009. (“Toque de Midas”, AméricaEconomia Nº 362, agosto, 2008)

O NOVO Em outubro, a OGX finalmente anunciou ter encontrado petróleo em um de seus poços, o OGX1, na parte sul da bacia de Campos, do qual detém 100% de participação. Segundo a empresa, o volume estimado de óleo recuperável do poço está entre 500 milhões e 1,5 bilhão de barris.

SEM COMÉRCIO, SEM EMPREGO PUBLICAMOS Em Honduras, 250 mil metros quadrados de maquiadoras foram esvaziados entre fevereiro e maio. O economista nicaraguense Oscar René lembra que o colapso dos EUA “tem um efeito duplo: o comércio entre países centro-americanos também caiu”. (“Tormenta à Vista”, AméricaEconomia Nº 378, agosto, 2009)

O NOVO Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que os países centro-americanos (com exceção da Guatemala) e a República Dominicana perderão 470 mil empregos este ano devido ao impacto da crise econômica mundial. O relatório também indica que as economias da região deixarão de gerar 290 mil novos empregos.

18 AméricaEconomia Novembro, 2009

PUBLICAMOS A Telefônica está buscando caminhos para competir com o mesmo tipo de oferta integrada que a Oi. O certo é que, independentemente da estratégia escolhida, o crescimento requerido para que a Oi rentabilize suas aquisições levará ao choque direto com os pesos pesados do México e da Espanha, inicialmente no Brasil e, em breve, na América Latina. (“Linha Cruzada”, AméricaEconomia Nº 372, fevereiro, 2009)

O NOVO A filial da espanhola no Brasil mostrou que não quer mais concorrentes em sua área. Em outubro, fez uma oferta pública para comprar a paranaense GVT, com uma oferta por ação 14,3% acima do que a francesa Vivendi tinha negociado pela empresa em setembro, em um investimento total de US$ 6,5 bilhões. Caso a aquisição se concretize – depende da aprovação de acionistas – , o presidente da Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente, afirmou que o modelo de negócio da GVT poderá ser exportado para outros países em que o grupo espanhol tem operação.


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NEGÓCIO FECHADO CEMEX A empresa cimenteira mexicana continua vendendo suas filiais. A transação mais recente foi a venda de ativos na Austrália por US$ 1,7 bilhão para sua concorrente suíça Holcim. Os ativos vendidos eram parte da produtora de cimento australiana Rinker, que havia sido comprada pela Cemex em 2007. A Cemex informou que a venda faz parte de um acordo de renegociação de suas dívidas de US$ 15 bilhões, fechado com seus credores em agosto deste ano. VALOR: US$ 1,7 BILHÃO ________________________________

CONOCOPHILIPS A disputa da empresa petrolífera americana com a concorrente venezuelana PDVSA permanece aquecida. Depois de a Conoco ter anunciado que exerceria uma opção de compra das ações que a PDVSA possui na refinaria texana Merey Sweeny, como parte de um processo contra a Venezuela pela nacionalização dos ativos petrolíferos em 2007, a PDVSA respondeu anunciando que comprou a participação da Conoco em um bloco de gás natural off-shore na plataforma do Delta da Venezuela. VALOR: NÃO REVELADO ________________________________

CITIGROUP O grupo financeiro americano também continua vendendo seus ativos para pagar dívidas. Desta vez, a transação envolveu a empresa colombiana Citi Colfondos, vendida para um consórcio de empresas privadas formado pelo Grupo Colpatria, Linzor Capital Partners do Chile e Palmfund Management, dos Estados Unidos. A Citi Colfondos tem 2,1 milhões de clientes e US$ 5,6 bilhões em ativos sob administração na Colômbia e havia sido adquirida pelo Citi da própria Colpatria em 2006. VALOR: NÃO REVELADO

ENDESA O grupo energético espanhol decidiu vender sua participação de 7,2% na Empresa de Energia de Bogotá (EEB) por US$ 248 milhões. A EEB é controlada pelo município de Bogotá, que possui 81,5% das ações. A venda não significa que a Endesa está deixando a Colômbia, pois ela mantém sua participação na geradora de energia Emgesa e na comercializadora de energia Codensa. A empresa espanhola permanece como a maior geradora de eletricidade da Colômbia. VALOR: US$ 248 MILHÕES

SANTANDER O banco espanhol abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo em um processo pelo qual captou o equivalente a US$ 8 bilhões. Foi a maior Initial Public Offering (IPO) da história do mercado de capitais brasileiro e até agora o maior lançamento em 2009. O Santander informou que usará os recursos para ampliar suas atividades, abrindo 600 novas agências no Brasil. VALOR: US$ 8 BILHÕES

EPSA As colombianas Colinversiones, Inversiones Argos e Bancolombia compraram da espanhola Gas Natural sua participação de 66,1% na Empresa de Energia do Pacífico (EPSA) por US$ 1,1 bilhão. VALOR: US$ 1,1 BILHÃO ________________________________

GOL

A companhia aérea brasileira anunciou um acordo de compartilhamento (code-share) com a mexicana Aeroméxico. Pelo acordo, a companhia mexicana incorporou seu código aos voos oferecidos pela Gol saindo de São Paulo e com destino a seis cidades: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Brasília e Salvador. VALOR: NÃO REVELADO ________________________________

GRUPO ROMERO O Grupo peruano anunciou a venda de sua participação de 30% na cervejaria Ambev Perú para a Monthiers, subsidiária da Ambev no Uruguai, por US$ 16 milhões. A Ambev tem 10% do mercado peruano e, com a aquisição, terá 100% das ações de sua subsidiária no Peru. A líder peruana é a Backus y Johnston, controlada pela SAB Miller. VALOR: US$ 16 MILHÕES ________________________________

HYPERMARCAS A empresa brasileira de bens de consumo anunciou a compra de duas produtoras de preservativos. A Jontex foi adquirida da americana Johnson & Johnson por US$ 101 milhões e a brasileira Indústria Nacional de Artefatos de Látex (Inal), que produz Olla e Lovetex, foi adquirida por US$ 120 milhões. VALOR: US$ 221 MILHÕES

Foto CARLOS DELLA ROCCA

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20 AméricaEconomia Novembro, 2009

ODONTOPREV O banco brasileiro Bradesco informou que vai fundir a Bradesco Dental, sua operação de planos de saúde odontológicos, com a Odontoprev, adquirindo o controle da companhia, com 43,5% das ações. Cerca de 7,5% permanecerão com os atuais controladores da Odontoprev e os 49% restantes permanecerão no mercado. VALOR: US$ 378 MILHÕES


MOVIMENTOS

Foto DIVULGAÇÃO

EVITAR AS BARREIRAS Ganhar musculatura para ampliar sua participação no mercado de artigos esportivos e roupas esporte na América Latina, além de obter sinergias e, de quebra, evitar disputas tarifárias. Tantas vantagens justificaram a decisão da Alpargatas brasileira de comprar a totalidade do capital da Alpargatas argentina, integrando as operações. “Teremos mais vantagens ao integrar as duas empresas”, diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. Com oito fábricas e cerca de 4.000 funcionários, a unidade argentina é forte na produção de denim, o tecido para o jeans, e calçados – foram fabricados 4,6 milhões de pares no primeiro semestre deste ano. A integração societária das duas empresas permitirá, por exemplo, fortalecer algumas de suas linhas de produto, como os itens da marca Topper, que a Alpargatas quer transformar em uma linha regional capaz de concorrer com marcas como Nike e Adidas. Outra vantagem é que as empresas podem se desviar do contencioso tarifário entre Brasil e Argentina, que frequentemente sobe de tom e envolve tecidos e calçados. A incorporação pode livrar a Alpargatas desse problema. “As barreiras não se aplicam às empresas se o saldo de exportação e importação entre as duas unidades for zero”, diz Utsch.

CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO

UTSCH: VANTAGENS NA INTEGRAÇÃO

Novembro, 2009 AméricaEconomia 21


MOVIMENTOS

A UNIÃO POUPA A ENERGIA Os latino-americanos poderiam economizar US$ 1 bilhão em energia elétrica se houvesse maior integração energética na região, segundo um estudo do Comitê Nacional Brasileiro da Comissão de Integração Energética (Cier). “Se as diferentes fontes complementares hoje existentes estivessem conectadas, seria possível postergar investimentos de mais de US$ 9,6 bilhões”, diz Synval Zaidan Gama, superintendente de Operações no Exterior da Eletrobrás e vice-presidente do Comitê. “Levando em conta que a remuneração desse investimento é de 10%, o repasse nas tarifas a ser evitado seria algo como US$ 1 bilhão.” Gama afirma que alguns países já têm iniciativas assim há décadas, “mas temos de pensar em um sistema que considere a região e não seja apenas bilateral”. Segundo ele, esse tipo de projeto levaria investimentos para países como a Guiana, “que tem um potencial de geração hidroelétrica de 7,5 mil MW que hoje é subutilizado, porque o mercado local só demanda 400 MW”.

SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

22 AméricaEconomia Novembro, 2009

SEM MEDO DAS URNAS Um país em crescimento, com juros e dólar sob controle e, principalmente, pouco afetado pelo calendário eleitoral. Essas foram as conclusões dos executivos presentes no Executive Meeting Brasil, realizado entre 4 e 6 de outubro no Guarujá. Promovido pela empresa de relacionamento corporativo Consulting House e com apoio editorial de AméricaEconomia, o encontro reuniu cerca de 100 executivos. Segundo os entrevistados, as perspectivas são positivas. Os prognósticos para 2010 são de um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 4%. Cerca de 93% dos entrevistados disseram achar que o faturamento vai crescer no ano que vem e, melhor do que isso, 77% disseram acreditar que suas empresas vão contratar mais gente em 2010 (veja tabela). O fato mais positivo, porém, aparece nas expectativas em relação à eleição presidencial. Apenas um em cada cinco executivos presentes no evento acredita que o calendário eleitoral poderá prejudicar os negócios em 2010. A grande maioria considera que as eleições terão pouca influência sobre os negócios – sinal de que o amadurecimento institucional do Brasil já é uma realidade. CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO

AS EXPECTATIVAS DOS EXECUTIVOS PIB Juros em 31 de dezembro Dólar em 31 de dezembro

2009

2010

0,4% 8,75% R$ 1,775

4,3% 9,37% R$ 1,793

SIM

O faturamento vai aumentar em 2010

93

%

7

SIM

As contratações vão aumentar em 2010

77 23

% NÃO

As eleições vão atrapalhar em 2010

81

SIM

NÃO

19

%

NÃO


Ilustração AMÉRICAECONOMÍA

MOVIMENTOS CRESCENDO NO RETROVISOR Apesar da crise, as montadoras asiáticas puseram o pé no acelerador no mercado latino-americano, reduzindo a vantagem da General Motors (GM). Diferentemente do que ocorreu com a GM, “as marcas coreanas foram favorecidas pela crise econômica”, diz Iván Silva, assessor da Associação Nacional Automotiva do Chile (Anac). O fenômeno pode ser explicado por flutuações no câmbio e pelos problemas da própria GM. No México, a japonesa Nissan destronou a GM, e a coreana Hyundai está quase alcançando a Chevrolet no Chile, apesar de a divisão da montadora americana ainda ser a líder de mercado. A exceção regional é o Brasil, onde a GM permanece em terceiro lugar, mas conseguiu um aumento de 20% nas vendas.

FERNANDA ARAYA, DE SANTIAGO

INTERNATIONAL PUBLIC TENDER NOTICE

New Shareholder Capitalization or, Sale of 100% of the Shares in Banco de Comercio Banco de Comercio (the “Bank”) is a private commercial bank in Perú with over US$ 290 million in loans as of July 2009, whose existing shareholder La Caja de Pensiones Militar Policial, has decided to either incorporate a new partner or sell the Bank thru an international public tender.

The Bidding Rules (“Bases”) which contains the technical, economic and legal requirements to participate in the International Public Tender, will be available for purchase until de 7thof December 2009 and will be sent by e-mail to the Interested Parties that fulfill the above mentioned requirements.

The Consortium made up by Summa Asesores Financieros S.A. and IM Trust International S.A., as advisors acting on behalf of La Caja de Pensiones Militar Policial invites Peruvian and International Investors to participate in a competitive tender for the incorporation of a new shareholder in Banco de Comercio (the “Project”).

The specific calendar for the reception of proposals, will be included in the Appendix of the Bidding Rules.

The Project allows investors to choose between two alternatives to incorporate themselves into the ownership of Banco de Comercio: i) Incorporation of a new shareholder thru the subscription and payment in cash of a capital increase, that will be equivalent to 60% of the existing total shares of Banco de Comercio. ii) Acquisition of 100% of the shares of Banco de Comercio, to be paid directly and in cash to La Caja de Pensiones Militar Policial. Interested Parties should acquire the Bidding Rules and (i) deposit US$ 1,000 (one thousand United States dollars) in the account number 210020326093 of Banco de Comercio (SWIFT: BDCMPEPL, Correspondent bank: HSBC USA, NYC - SWIFT: MRMDUS33) (ii) send the deposit receipt to procesobcocomercio@summa.com.pe and provide detailed information of the Party: including name or corporate name of the Interested Party, address and RUC (only for Peruvian companies), for purposes of sending the payment receipt; additionally Parties should provide an electronic mail to receive the non disclosure agreement; and, (iii) send a signed copy of the non disclosure agreement to the contact person described below.

Lima - Peru, October 2009

Any additional information about this process may be requested either by e-mail or letter to the following contact: Attention :

Carlos A. García Director del Proyecto Consorcio SUMMA-IM Trust Telephone number : (511) 446-5252 Fax number : (511) 446-7272 Address : Av. José Pardo 513 Oficina 1001 – Miraflores, Lima 18, Perú E-mail : procesobcodecomercio@summa.com.pe


MOVIMENTOS

Ilustração AMÉRICAECONOMÍA

LATINOS CONTRATAM “As contratações não ocorrerão no mesmo ritmo de antes da crise, mas a região é uma fonte de crescimento das vagas.” A avaliação é de Hernán Rincón, presidente da Microsoft América Latina, ao apresentar um informe sobre o impacto da tecnologia da informação (TI) na recuperação da economia. O seminário foi patrocinado pela Microsoft e realizado pela consultoria especializada em informática IDC. Se seus cálculos estiverem corretos, em quatro anos os investimentos latinos em informática crescerão 37%, frente a uma média mundial de 20%. Esse crescimento se traduziria em quase 700 mil novos postos de trabalho vinculados a TI. Mais da metade dessas vagas seriam abertas no Brasil, que concentra, ao lado do México, 75% dessa projeção. “A maioria desses postos absorveria profissionais em novas funções, que serão informatizadas”, diz Rincón. “Profissionais de software e serviços de TI só representariam 30% do total.” O estudo ainda estima a criação de 5.835 novas empresas, a maioria pequenas, dedicadas a captar serviços relacionados a novas implementações. JUAN PABLO DALMASSO, DE BUENOS AIRES

TRABALHO NÃO FALTARÁ Vagas em TI que serão criadas nos próximos quatro anos VAGAS

No mundo América Latina Brasil México Argentina Colômbia Chile Peru Venezuela

5.786.804 697.281 382.245 143.939 53.536 47.994 28.532 20.972 20.063

Participações

CRESCIMENTO

16,2% 27,9% 31,4% 23,5% 22,1% 32,9% 26,4% 35,8% 17,6%

54,8%

12,0% América Latina / mundo

Brasil / América Latina Fonte IDC

O CEO QUER CORTAR CUSTOS A crise financeira de 2008 provocou uma forte mudança no estado de espírito dos Chief Executive Officers (CEOs). No ano passado, a maior preocupação dos principais executivos das companhias era a pressão da competição. Em 2009, o que tira o sono é a recessão. Preocupações como a dificuldade de levantar capital e o temor de que surja uma tecnologia disruptiva em algum ponto da concorrência passaram para segundo plano. Essas são algumas das conclusões de uma pesquisa da consultoria americana Frost & Sullivan, conduzida com mais de 1.000 CEOs nos dois primeiros trimestres do ano e obtida com exclusividade por AméricaEconomia. “A crise fez com que os presidentes de empresa concentrassem seus esforços nos resultados de curto prazo”, diz Brian Dencker, vice-presidente da consultoria. Os principais executivos elegeram o corte de custos como sua primeira prioridade. A Frost & Sullivan vai discutir as estratégias de crescimento das empresas em um seminário no dia 3 de dezembro, em São Paulo. CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO

24 AméricaEconomia Novembro, 2009


PARECE MÁGICA, MAS É SEDEX.


Foto AFP PHOTO/JUAN BARRETO

NEGÓCIOS CAPA

METRÔ DE CARACAS: UMA DAS OBRAS INTERNACIONAIS REALIZADAS POR EMPRESAS BRASILEIRAS E QUE CONTAM COM O APOIO DO BNDES

EXPANSÃO REGIONAL O BNDES está emprestando dinheiro como nunca e quer elevar a inserção das empresas brasileiras na América Latina SOLANGE MONTEIRO E CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO

26 AméricaEconomia Novembro, 2009

Q

uando o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, inaugurou um escritório em Montevidéu em agosto, o ato foi muito mais do que simbólico. A representação do BNDES no país-sede do Mercosul e da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) é o corolário de um esforço recente do banco para ampliar sua relevância no crédito na América Latina. Hoje, o banco de desenvolvimento criado para estimular a economia brasileira, e que conta com recursos direcionados e fartos, tornou-se um dos atores mais relevantes no processo de expansão latino-americana das empresas brasileiras. O recém-adquirido protagonismo vem por meio de comprometimentos financeiros cada vez mais amplos, em sua maioria apoiados pelo Convênio de Crédito Recíproco (CCR) da Aladi, que reúne os bancos centrais da região em um sistema de garantia contra risco de calote dos governos. Para se ter uma ideia de quão profundamente o BNDES está mergulhado em sua nova política, os projetos aprovados e em análise para


exportações na América Latina já somam US$ 15,6 bilhões. Os desembolsos para a região duplicaram em 2007 e 2008 em comparação com os dois anos anteriores, e devem continuar crescendo. Nos primeiros oito meses de 2009, foram desembolsados US$ 600 milhões apenas para o financiamento das empresas de capital nacional que prestam serviços aos países latino-americanos. Durante os 12 meses de 2008, esse valor foi de US$ 650 milhões. Na hipótese de o ritmo dos primeiros meses do ano permanecer inalterado até dezembro, o desembolso será de US$ 900 milhões, um crescimento de 38% em relação a 2008. Essa cifra pode parecer pequena dentro do oceano de cerca de US$ 60 bilhões previstos para serem desembolsados pelo BNDES em 2009. Mesmo assim, o porte do banco estatal brasileiro o coloca em pé de igualdade com tradicionais financiadores do desenvolvimento na América Latina, como

VIZINHOS PREFERIDOS O mapa mostra os países latino-americanos que mais receberam desembolsos do BNDES entre 2007 e 2009

19,9%

REPÚBLICA DOMINICANA

9,8%

VENEZUELA

55,6%

ARGENTINA

10,0%

CHILE

4,7% OUTROS

o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporación Andina de Fomento (CAF). O BID, a mais conhecida e multilateral das instituições que atuam na região, terá um desembolso previsto para este ano de até US$ 16 bilhões. O grosso da atuação do BNDES concentra-se no Brasil, mas seu tamanho é visto com inveja pelos especialistas da região, especialmente na Argentina. O país vizinho recebeu cerca de 60% dos desembolsos internacionais acumulados no primeiro semestre. Exemplo disso é o projeto de ampliação de gasodutos das empresas Albanesi e Cammesa, para o qual foi contratada a construtora Odebrecht. Neles, o BNDES arcará com um financiamento total de US$ 882 milhões.

CARÊNCIA DE RECURSOS O acesso a recursos tão grandes é fundamental para o desenvolvimento argentino, especialmente depois que o país perdeu acesso aos fi nanciamentos internacionais. Depois da renegociação compulsória imposta por Buenos Aires aos credores em 2002, os recursos de fora minguaram. Para compensar essa dificuldade, há pouco o governo Kirchner declarou a intenção de criar sua própria versão do BNDES, ressucitando um banco de desenvolvimento que foi extinto pelo governo Carlos Menem em 1990. O economista argentino Gabriel Basaluzzo, diretor do mestrado em Finanças da Universidade de San Andres, em Buenos Aires, reconhece que ter uma instituição desse tipo é essencial para sanar a grave carência de investimentos em infraestrutura do país, sobretudo a energética. Será uma tarefa árdua. “Não há, na Argentina, nenhuma instituição que tenha tanto dinheiro e tanto conhecimento técnico”, diz Basaluzzo. “Os fundos de pensão têm um patrimônio total de US$ 30 bilhões, a quarta parte dos ativos totais do BNDES.”

PAÍS

PRINCIPAIS OPERAÇÕES

Argentina

Gasodutos Albanesi e Cammesa, bens de capital

República Dominicana

Hidrelétricas Pinalito, Palomino e Las Placetas

Chile

Sistema de ônibus Transantiago e Metrô de Santiago

Venezuela

Hidrelétrica La Vueltosa e Metrô de Caracas

Cuba

Autopista Nacional, bens de capital

El Salvador

Bens de capital

Uruguai Paraguai

Rede de Gás Montevidéu, bens de capital

Equador

Bens de capital

Peru

Bens de capital

México

Bens de capital

Costa Rica

Bens de capital

Honduras

Bens de capital

Bens de capital

Fonte BNDES

Novembro, 2009 AméricaEconomia 27


NEGÓCIOS CAPA

60%

Foto ROOSEWELT PINHEIRO/ABR

dos desembolsos internacionais do banco vão para projetos na Argentina CRISTINA KIRCHNER E LUCIANO COUTINHO: ELA QUER UM BNDES SÓ PARA ELA

A necessidade argentina é um bom retrato da situação financeira latino-americana como um todo. Henrique García, presidente da Corporação Andina de Fomento (CAF), diz que a carência de recursos é intensa na região. A medida tradicional da folga ou do aperto fi nanceiro de um país na hora de pagar seus investimentos é a taxa de poupança, que representa quanto da renda nacional pode ser investido para obter resultados no médio ou no longo prazo. Essa taxa é medida em um percentual do Produto Interno Bruto (PIB). “Para crescer 5% ao ano de forma sustentável, os países da América Latina precisam investir 26% de seu PIB”, diz García. “O problema é que a poupança desses países disponível para investimentos é de apenas 21% do PIB.” Os cinco pontos percentuais que faltam representam de US$ 150 bilhões a US$ 200 bilhões, que têm de vir de empréstimos externos. “Daí a importância do BNDES, cujo tamanho e relevância na região são inquestionáveis”, diz ele. O Brasil também tem fraquezas e necessidades nessa área, pois sua taxa de poupança é inferior às suas necessidades de investimento, como qualquer pessoa que trafegue pelas estradas ou fique retida nos aeroportos pode notar. Segundo

DINHEIRO PARA A AMÉRICA LATINA Desembolsos para a América Latina (em US$ milhões) (a)

490,0

466,0 388,5 331,5 194,6 201,4

2001

2002

222,4

2003

2004

2005

(a) Linhas BNDES-Exim, América Latina e Caribe / (b) Janeiro a Agosto

28 AméricaEconomia Novembro, 2009

2006

2007

Coutinho, no início de 2008 a projeção do percentual do PIB destinado à poupança e aos investimentos era de 20%. No entanto, a crise abateu esses prognósticos. “O grande desafio brasileiro é incentivar a poupança interna de longo prazo. Precisamos estruturar um tratamento tributário favorável a essa poupança e facilitar o funding bancário privado, para não depender estritamente da poupança externa para nossos novos investimentos”, diz ele. Coutinho estima que, para o país crescer 6% ao ano, seria necessário aumentar a taxa de poupança para 25% do PIB. Sustentar o crescimento requer dinheiro, muito dinheiro. As instituições já tradicionais na região reconhecem o impacto da crise e a retração dos mercados fi nanceiros tradicionais, por isso estão em busca dos recursos adicionais que sabem ser necessários. O BID, por exemplo, está em plena corrida por aumento de capital. “Nossa média de aprovações anuais desde 1994 era de US$ 7,5 bilhões, subiu para US$ 11 bilhões em 2008 e poderá chegar aos US$ 16 bilhões em 2009”, diz Koldo Echebarría, gerente-geral de planejamento e estratégia do BID. “No entanto, em 2011 teremos de trabalhar com um máximo de US$ 10 bilhões.” Na tentativa de aumentar a oferta de crédito, os países da América Latina poderão contar em breve com outra instituição financeira de fomento, o Banco do Sul, iniciativa lançada em 2007 pelo 650,7 presidente venezuelano Hugo Chávez e cujo acordo de criação foi assinado em setembro deste ano por 600,0 Venezuela, Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, tendo o Chile como membro observador. “Será uma iniciativa importante para reduzir o desequilíbrio da estrutura financeira dos países da região para projetos de infraestrutura e integração comercial”, diz o economista André Biancarelli, da Unicamp. “O capital inicial de US$ 20 bilhões não é grande, mas será um passo importante, pois fará com que as decisões de projetos binacionais ou plurinacionais no continente americano sejam feitas 2008 2009 (b) num órgão sul-americano e não brasileiro”, afi rma o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES Fonte BNDES e um dos antecessores recentes de Coutinho.


EXPANSÃO DAS EMPRESAS

dificuldade em, por exemplo, fazer aquisições no exterior. Uma das premissas do crescimento de qualquer país é ter corporações capazes de competir. A competitividade depende da expansão, que permite ganhar escala e reduzir custos. É preciso ganhar mercado para produzir e exportar mais. “Se não for assim, companhias brasileiras com alto potencial de crescimento acabam sendo adquiridas por grandes multinacionais”, diz o argentino Basaluzzo. Nos últimos anos, o economista viu essa afi rmação acontecer na prática. Ele acompanhou a marcha das empresas brasileiras que adentraram a Argentina como clientes em

Foto DIVULGAÇÃO

A atuação do banco não se restringe à infraestrutura. Não há um grande negócio fechado no Brasil que não tenha passado, em um momento ou outro, pelos gabinetes da diretoria ou pelos departamentos técnicos do BNDES (veja quadro na página 27). Hoje, essa atuação atravessou as fronteiras nacionais. Sustentar a internacionalização das empresas brasileiras está no topo da agenda de Coutinho, financiando exportações e fornecendo capital abundante para custear aquisições. Esse papel vai ao encontro do de instituições semelhantes em países desenvolvidos. Na acirrada disputa por mercados,

AVIÕES DA EMBRAER: NA PONTA DO LÁPIS, O APOIO DO BNDES É ESSENCIAL PARA AS EXPORTAÇÕES DA EMPRESA BRASILEIRA

ganha não apenas quem tem as melhores tecnologias, produtos e campanhas de marketing. O peso das finanças é decisivo. Um bom exemplo são os aviões da Embraer, que este ano pode ter um terço de suas vendas financiadas pelo BNDES. Seus jatos de médio porte são razoavelmente comparáveis aos de sua principal concorrente, a canadense Bombardier, em termos de qualidade, segurança e desempenho. Os critérios de desempate na hora de os compradores fecharem negócio são o preço e a facilidade de pagamento. A melhor demonstração da importância do BNDES nesse modelo de negócios vem da concorrência: a Bombardier é recorrente em denunciar a Embraer por práticas anticompetitivas na Organização Mundial de Comércio (OMC). Sem o apoio do BNDES, a atuação internacional das empresas brasileiras seria muito menos expressiva do que é hoje. As companhias teriam muito mais

um shopping center. A aquisição da Swift Armour Argentina pela então Friboi em 2005, por exemplo, foi a primeira a receber fi nanciamento do BNDES. A operação contou com empréstimos de US$ 80 milhões, no âmbito de uma linha de internacionalização criada pelo banco em 2002. Outro exemplo é a Odebrecht, cuja atuação vai muito além da Argentina. Basta perguntar a Luiz Antonio Mameri, vicepresidente da construtora para a América Latina e Angola. Uma das maiores empresas do setor no Brasil, há três décadas a Odebrecht vem espalhando seus canteiros de obra pelo mundo, e uma parcela substancial desses esforços – cerca de 20% de toda a carteira internacional – depende do apoio fi nanceiro do BNDES. Hoje são 80 obras fora do Brasil, das quais 30 na América Latina. A região responde por metade dos R$ 17,5 bilhões que representam a operação internacional da

A fatia do PIB que os países latinos têm de investir todos os anos para crescer é

26%

Novembro, 2009 AméricaEconomia 29


NEGÓCIOS CAPA A então Friboi recebeu o primeiro crédito para uma aquisição internacional em 2005

construtora. Algumas de suas maiores obras internacionais estão na Venezuela, como a segunda ponte sobre o rio Orinoco e o metrô de Caracas. Iniciada em meados da década de 90, a construção da ponte sempre teve apoio do BNDES. “Naquele momento, era essencial garantir recursos para a Odebrecht poder investir na Venezuela sem que as obras ficassem no meio do caminho”, diz um ex-ministro do Desenvolvimento, a quem o BNDES já esteve subordinado. “Decisões como esses financiamentos passavam todos os dias pela minha mesa”, diz ele. “Sabíamos que era uma das poucas maneiras de romper as barreiras internacionais para nossas empresas.”

Foto VALTER CAMPANATO ABR

Ou seja, o crescimento da participação brasileira no mercado externo justifica que o BNDES corra riscos maiores do que um banco privado, como ocorre nos países desenvolvidos, onde instituições públicas usam dinheiro do contribuinte para apoiar as empresas nacionais. No entanto, o economista – que já trabalhou no BNDES como funcionário concursado – avalia que há alguns pontos problemáticos no caso brasileiro. O mais grave, diz ele, é a ausência de uma métrica clara e transparente sobre os riscos corridos pelo banco e sua contrapartida, o retorno para a economia brasileira em termos de geração de emprego e crescimento econômico. “Não sabemos o que está acontecendo, sem transparência nem métrica, tanto no BNDES quanto nas demais instituições públicas que fi nanciam a atividade privada”, diz Garcia. Não é uma crítica nova. Em entrevista concedida a AméricaEconomia há mais de dez anos, em novembro de 2008, o ministro da Fazenda Guido Mantega, então economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), reclamava que “a informação sobre financiamento (no caso, para pequenas e médias empresas) é difícil de ser obtida devido à falta de transparência do BNDES”. Para Márcio Garcia, a principal crítica ao discurso do banco hoje é que o BNDES usa a ampliação dos desembolsos como a maior prova da eficiência de sua atuação. Aqui, quantidade não é necessariamente PECUÁRIA BRASILEIRA: EXPANSÃO INTERNACIONAL DOS FRIGORÍFICOS NÃO EXISTIRIA SEM O BANCO qualidade. “Para um banco público O apoio do BNDES tem um efeito multiplicador sobre a ecoque oferece crédito com recursos subsidiados, comemorar o nomia. “Cerca de 60% do que é usado nas obras internacionais aumento de desembolsos é o mesmo que celebrar venda de é produzido no Brasil”, diz Mameri. São máquinas, ferramennotas de R$ 100 por R$ 90.” tas, peças de reposição, aço e lubrificantes. Um número mostra Avaliar o retorno do capital investido é essencial para bem o tamanho desse negócio: entre maio de 2008 e abril de qualquer instituição financeira. No caso do BID, por exemplo, 2009, a obra da Odebrecht justificou a exportação de 145 mil esse assunto está permanentemente sendo analisado. O itens que lotaram 12 mil contêineres. Isso sem contar serviços banco tem ampliado seus desembolsos e está em busca de como consultoria, fretes e seguros. capital para emprestar mais ainda. Esse processo vem sendo acompanhado de uma profunda discussão interna. No fim de MÉTRICAS 2008, depois de mais de dois anos de trabalho, o BID aprovou A importância do BNDES como fi nanciador do desenvolviuma matriz para calcular com mais precisão o impacto de seus mento é inquestionável, mas seu papel na sustentação interinvestimentos, tornar a concessão de empréstimos mais ágil e nacional das empresas brasileiras tem sido alvo de críticas. O melhorar o retorno dos fi nanciamentos. Os técnicos do banco economista Márcio Garcia, professor da PUC do Rio de Janeiro, reconhecem que há um razoável grau de incerteza envolvido afirma que é aceitável que as decisões do banco não considenesse processo. “Há coisas que são fáceis de medir, mas difírem apenas a lógica empresarial, mas também levem em conta ceis de contar”, diz Koldo Echebarría, do BID. “Mesmo assim é uma estratégia de ampliar a importância geopolítica do Brasil. preciso sempre procurar melhorar nossos padrões.”

30 AméricaEconomia Novembro, 2009


PRIMEIRO TIME

O BNDES participou de alguns dos maiores negócios já fechados no Brasil. O quadro mostra os mais recentes EMPRESA

VALOR

OPERAÇÃO

DATA

ALL

R$ 2,15 bilhões

Financiamento para investimentos

Junho de 2009

Aracruz / VCP

R$ 2,4 bilhões

Apoio à VCP na aquisição da Aracruz

Janeiro de 2009

Embraer

US$ 595 milhões

Crédito para compra de 20 aviões - Austral (a)

Março de 2009

Embraer

R$ 253 milhões

Crédito para compra de 4 aviões

Maio de 2009

JBS – Friboi

N.D.

Apoio na associação com a Bertin

Setembro de 2009

OI / Brasil Telecom

R$ 2,57 bilhões

Apoio à reestruturação societária (b)

Maio de 2008

Vale

R$ 7,3 bilhões

Linha de crédito rotativo

Abril de 2008

(a) Empresa vinculada à Aerolineas Argentinas, (b) O Banco do Brasil aportou mais R$ 4,3 bilhões, N.D. = Não Disponível

Nesse aspecto, transparência é fundamental. Aqui, o BNDES não tem tirado a nota máxima. Coutinho afirma que as métricas existem, mas há controvérsias dentro do banco. “Hoje não temos um conjunto de projetos ou metas em foco. Os recursos totais de desembolso do BNDES cresceram absurdamente, o movimento das empresas brasileiras nessa região também, e o que queremos é gerar emprego e divisas ao Brasil”, diz Leonardo Botelho, chefe de um dos departamentos da divisão internacional do Banco, em entrevista a AméricaEconomia. O banco também não comentou quanto o apoio a uma obra na Argentina ou na Venezuela pode representar em termos de exportação de bens e serviços e qual o impacto positivo na economia nacional. São problemas, mas que não chegam a tornar inviável a atuação do BNDES como um todo, pois o financiamento à internacionalização de empresas hoje não chega a 20% do desembolso total. “Apesar do crescimento, os empréstimos externos até hoje representaram um montante limitado – de US$ 5 bilhões em 2008, contra um desembolso total de R$ 92,2 bilhões – de modo que ainda é difícil ver essa linha de ação mais além do que uma atividade complementar”, diz o economista Carlos de Passos, consultor do Banco Mundial e da FGV, em São Paulo.

Fonte BNDES, empresas, analistas de mercado

lembrar que o BNDES existe para suprir uma falha de mercado, e não para tomar o lugar do sistema bancário privado.” Essa crítica, aliás, não é apenas de Garcia. Armínio Fraga, expresidente do Banco Central, comentou em um evento no Rio de Janeiro em maio, que a atuação do BNDES estaria tornando mais difícil a atuação do setor privado no financiamento de longo prazo das empresas. É bom que o Brasil tenha um BNDES que possa servir para financiar as empresas e manter a economia respirando em momentos de crise. A ausência de estruturas semelhantes teve um impacto devastador sobre a Argentina, por exemplo. O grande perigo, diz Garcia, é usar a crise como justificativa para uma expansão descontrolada. “Se tentar financiar tudo, o BNDES só conseguirá piorar as finanças públicas e inibir o fortalecimento do sistema de crédito privado, que já está voltando ao normal e é mais eficiente. Isso oneraria o Estado, que não tem capacidade de fazer isso porque tributa muito, tributa mal e gasta mal.” Coutinho discorda. Ele diz que o BNDES tem tido um papel complementar em relação ao mercado e não tenta substituí-lo. “Sabemos que os bancos privados brasileiros têm dificuldades em conceder empréstimos de longo prazo devido à estrutura de seu funding”, diz ele. “No entanto, não acreditamos que a atuação do BNDES deva expelir os bancos privados do sistema, mas sim permitir a entrada deles.” Coutinho afi rma que, como o BNDES tem sido um dos principais sustentáculos para o estabelecimento do mercado de capitais brasileiro, é sua função estimular um mercado de crédito de longo prazo no Brasil. “O grande desafio para a economia brasileira é poupar mais e investir mais, para que o BNDES concentre-se nos projetos de maturação mais longa e risco mais elevado, o papel típico de um banco de desenvolvimento.”

Os desembolsos internacionais neste ano devem crescer

O TAMANHO DO RISCO

38%

A incerteza em relação às métricas não é um problema apenas da atuação internacional do banco. “Essa não pode ser considerada uma medida de desempenho para um banco de desenvolvimento”, diz Garcia. “Existem metodologias de avaliação muito boas na academia e cabe ao BNDES implementá-las, sobretudo em um momento de expansão.” Para ele, tanto quanto a necessidade de métricas especiais para avaliar o crédito à internacionalização, o BNDES precisa de limites no âmbito doméstico. “Sempre é preciso

Novembro, 2009 AméricaEconomia 31


NEGÓCIOS COMBUSTÍVEIS

ALÉM DA

Foto DIVULGAÇÃO

CORDILHEIRA

SORRISO LARGO: OTIMISMO DO MINISTRO TOKMAN (À ESQUERDA)

Chegada da Petrobras ao Chile pode abrir as portas para a exportação de gás e etanol

M

arcelo Tokman, ministro de Energia do Chile, não escondia o sorriso no fim de agosto. Um ano depois de comprar 230 postos de gasolina da Exxon por US$ 400 milhões, a Petrobras inaugurou o primeiro posto com sua bandeira. A aquisição dos ativos da Exxon garantiulhe 9% de um mercado de US$ 12 bilhões em vendas por ano. É pouco perto dos 65% da líder Copec, mas é um começo. Até agora, os analistas compartilham o otimismo de Tokman. “A Petrobras pode trazer alternativas para suprir a carência energética do Chile”, diz Michelle Labbé, da Econsult, em Santiago. Michelle conta que o Chile tem avançado pouco para reduzir sua vulnerabilidade energética. O primeiro

32 AméricaEconomia Novembro, 2009

SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

susto veio quando a Argentina, que fornece 100% do gás consumido pelo país, cortou o fornecimento em 2002. A situação piorou desde 2004, deixando o Chile à beira de um apagão industrial e muito mais dependente do diesel. A alta no preço do petróleo também feriu as finanças do país, que importa mais de 90% do que consome. “A Petrobras vende biocombustível e pode trazer a diversificação que precisamos, além de novas tecnologias de refi no”, diz Sidney Houston, da Associação de Distribuidores de Combustível do Chile.

MUDANÇA DE FOCO À primeira vista, o Chile não parece um mercado atraente. “A margem bruta dos

postos chega no máximo a 2% e não há leis para combater a informalidade”, diz Houston. “Os postos funcionam mais como arrecadadores de impostos do que como distribuidores de combustíveis.” Além do IVA de 19%, o setor paga uma taxa “provisória” instituída em 1985 para ajudar na reconstrução de ruas depois de um terremoto – e que ainda é cobrada. Onde está a vantagem da Petrobras? Marcus Tavares, diretor da consultoria Gas Energy, lembra que a estatal brasileira poderá ter de gastar US$ 111 bilhões até 2020 para explorar o présal. “Isso vai obrigá-la a reduzir o ritmo da expansão em outros continentes e buscar negócios geograficamente mais próximos”, diz. E essas oportunidades estão no gás e no etanol. “O Chile já chegou a exportar 25 milhões de metros cúbicos por dia”, diz ele. “Não é pouco, é o mesmo que o Brasil compra da Bolívia.” Além do gás do pré-sal, que pode estar disponível em cinco anos, a Petrobras prospecta gás em Camisea, no Peru. Nos últimos anos, o Chile tem investido no gás natural líquido (GNL), com a inauguração de uma planta em Quinteros, perto de Valparaíso, e outra em construção em Mejillones, no norte. Essa última é um consórcio liderado pela estatal Empresa Nacional de Petroleos, no qual a Petrobras negociaria uma participação. Procurada, a Petrobras não respondeu ao pedido de entrevista. No caso do etanol, a expectativa é que governo chileno acelere a regulação que permitiria misturar o produto à gasolina, dando espaço à exportação em grande escala. Os primeiros galões de etanol devem chegar ao Chile ainda este ano, para que a indústria automobilística faça testes. A necessidade chilena deve antecipar uma regulação que a Petrobras quer ver implantada em vários países “São mercados atrasados, que ainda usam chumbo na gasolina”, diz Tavares. Já se verificam algumas conquistas. Em 2010, por exemplo, a Argentina vai misturar 5% de etanol à gasolina. Gota a gota, essas iniciativas vão elevar o fluxo de caixa da Petrobras.


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NEGÓCIOS INFORMÁTICA

FOME DE

COMPRAS

Líder em serviços de TI, a Stefanini tem US$ 50 milhões no caixa para adquirir empresas na América Latina ANNA LÚCIA FRANÇA, DE SÃO PAULO

Foto DIVULGAÇÃO

T

MARCO STEFANINI: GRATIDÃO À CRISE, QUE BARATEOU AS AQUISIÇÕES

36 AméricaEconomia Novembro, 2009

oda vez que o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, liga seu computador, alguns centavos caem na conta de Marco Stefanini. Não, o micro sobre a mesa de Gabrielli não foi invadido por um hacker. A Petrobras é um dos milhares de clientes da Stefanini IT Solutions, maior consultoria brasileira em serviços de tecnologia da informação e que está preparando uma ambiciosa estratégia de expansão na América Latina. Fundada em 1987 em um cômodo da casa de Marco, a empresa hoje é uma das 20 maiores empresas transnacionais brasileiras, segundo um estudo da Fundação Dom Cabral deste ano. A Stefanini faturou R$ 510 milhões em 2008, suas receitas vêm aumentando 42% ao ano e a meta é crescer além das fronteiras nacionais. “Hoje, 22% de nossas receitas vêm do exterior”, diz o fundador. “Nossa meta é que esse percentual chegue a 50% até 2012.” O empresário está disputando um mercado concorrido, mas gigantesco e, o que é melhor, crescente. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), entidade de classe que representa o setor, o faturamento mundial das empresas dos serviços de tecnologia e desenvolvimento de software é de US$ 84 bilhões por ano. As estimativas são de que essa cifra chegue a US$ 150 bilhões em 2012, diz o diretor de marketing e exportação da Brasscom, Ricardo Asse.


PERFIL Stefanini IT Solutions Metade desse apetitoso bolo fica nas mãos de agressivas companhias indianas. Além de contarem com mãode-obra mais barata que a dos países desenvolvidos, elas têm a vantagem de encontrar facilmente trabalhadores que falam inglês, mais aptos para atender o mercado americano, principal consumidor de software. A outra metade deverá ser disputada principalmente por empresas de países emergentes como Brasil, China, Rússia e Filipinas. Caso da Stefanini, que ganha dinheiro adaptando programas de gestão e nasceu concorrendo com gigantes globais da área de serviços de tecnologia, como EDS e HP, entre outras. Para competir com as grandes do setor, a Stefanini tem de oferecer serviços mais adaptados a cada caso. Isso requer proximidade com o cliente e conhecimento do mercado local, o que vem justificando o crescimento alémfronteiras desde o princípio de suas atividades. A primeira unidade fora do Brasil foi aberta em Buenos Aires, em 1996. Seguiram-se escritórios no Chile e no México, inaugurados no ano 2000, e filiais nos Estados Unidos, na Colômbia e no Peru em 2001. As iniciativas internacionais mais recentes foram a abertura, no início deste ano, de uma unidade no México para realizar as adaptações dos programas dos clientes. Hoje, 1.500 dos cerca de 8.000 funcionários da empresa atuam fora do Brasil. A nova unidade mexicana é o primeiro grande centro de desenvolvimento da Stefanini fora do Brasil, e a meta é não só atuar localmente como também atender clientes localizados nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina. “Alguns anos atrás, atuar no México era mais caro do que no Brasil, mas agora ter uma empresa lá é um bom negócio”, diz Marco. Uma das alavancas para o crescimento são as

compras no exterior. “Estamos negociando uma aquisição na É uma das maiores prestadoras de Europa que deve ser anunciada serviços de informática do Brasil até o fim do ano e pretendemos aumentar rapidamente nossa participação no mercado mexiFoi criada em 1987 pelo geólogo cano”, diz o empresário. Marco Stefanini A hora é boa, pois os preços baixaram. “Tenho de agradecer à crise , que facilitou a minha viEmprega 8.000 pessoas, 1.500 da”, brinca Marco. As aquisições fora do Brasil previstas para 2008 não ocorreram devido à turbulência finanFaturou R$ 510 milhões em 2008, ceira. Como resultado da crise, os preços da empresas adequadas à 22% fora do Brasil compra caíram sensivelmente. A Stefanini tem US$ 50 milhões Possui 21 escritórios em 14 países destinados a aquisições fora do País nos próximos meses. A meta é adquirir companhias com Instalou 14 escritórios para adaptar foco em serviços e faturamento software na América Latina acima de US$ 30 milhões. Para Asse, da Brasscom, o foco no México é acertado, prinReservou US$ 50 milhões para cipalmente pela proximidade aquisições na Europa e no México com o mercado americano. “As tecnologias são complementares e há muito espaço para a Fonte: empresa oferta de produtos e serviços”, diz. Asse cita como exemplo o é a posição confortável das empresas setor de transações por meio de cartões brasileiras. “Há grupos muito fortes no de crédito. É um setor muito desenvolPaís, o que reduz a necessidade de buscar vido no Brasil, que conta com diversas clientes lá fora.” soluções que o México não tem. “A troca Segundo a Brasscom, o mercado de conhecimento dessa tecnologia pode brasileiro representa 60% da América ajudar a definir projetos conjuntos.” Latina, seguido pela Argentina e pelo As exportações brasileiras de softMéxico. Em 2008, a indústria brasileira ware deram um salto nos últimos anos, de TI movimentou US$ 59,1 bilhões, inpassando de US$ 800 milhões em 2007 cluindo exportações. Somando-se ainda para US$ 2,2 bilhões em 2008. A meta o setor de comunicações, a cifra atingiu agora é chegar a 2011 com vendas de US$ 139,1 bilhões. Tudo isso coloca o US$ 5 bilhões. Quase 70% disso é obtido Brasil como o oitavo maior mercado de com serviços de TI no mundo. Para Marco Stefanini, o TI, diz Asse. “PodeBrasil tem excelentes possibilidades de mos mudar essa ganhar mais relevância internacional proporção se souse construir marcas fortes, melhorar bermos unir softo inglês de seus profissionais de TI e, o ware e serviços no mais difícil de tudo, reduzir a tributação mesmo pacote.” interna. “Com isso, sairemos na frente A única ameaça porque o brasileiro é muito criativo e reao crescimento solve problemas como ninguém”, diz. das exportações

42%

é o crescimento médio do faturamento desde a fundação

Novembro, 2009 AméricaEconomia 37


NEGÓCIOS INTERNET

ALÉM-FRONTEIRAS BuscaPé quer crescer na América Latina e nos países de língua portuguesa RODRIGO LARA, DE BUENOS AIRES, E SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

O

portal de comércio eletrônico BuscaPé vai usar parte dos US$ 342 milhões recebidos de seu novo sócio, o grupo sulafricano Naspers, para ampliar suas atividades na América Latina e nos países de língua portuguesa. A meta é que, nos próximos cinco anos, pelo menos 50% da receita dos nove sites do grupo venha de países fora do Brasil. Em 2008, esse

maior se um deles for do amigo de um amigo”, diz ele. “Percorremos apenas 2% desse caminho.” Uma das estratégias de Rodrigues para elevar o faturamento é impulsionar o crescimento de sua página de classificados gratuitos, o QueBarato!, o que poderia levar o BuscaPé a concorrer diretamente com o MercadoLivre, uma

consultoria especializada em internet IDC Brasil, o comércio eletrônico tem muito espaço no mercado brasileiro. “O Brasil já é o quinto maior mercado de computadores pessoais no mundo. O brasileiro é um dos que passam mais tempo conectados e é um dos que melhor aceitam os serviços bancários por meios eletrônicos”, diz Roveri.

50%

Foto DIVULGAÇÃO

da receita deve vir de fora do Brasil em cinco anos

RODRIGUES: VALOR MÉDIO DAS COMPRAS VIA INTERNET VEM CRESCENDO

percentual foi de apenas 18%. O Naspers anunciou, no fim de setembro, a compra de 91% das ações do BuscaPé. Além da diversificação geográfica, o BuscaPé quer integrar o comércio eletrônico às redes sociais. “Hoje a percepção de confiança do consumidor é determinante na decisão de compra, é o que chamamos de comércio social”, diz Romero Rodrigues, principal executivo do BuscaPé. “Posso encontrar 700 comentários sobre um produto em um site qualquer, mas o impacto será muito

38 AméricaEconomia Novembro, 2009

das principais ferramentas de comércio eletrônico na América Latina. O executivo diz acreditar que há muitas oportunidades na região. “A América Latina tem 550 milhões de habitantes, e o número de compras feitas pela Internet ainda é muito baixo”, diz. “Um internauta brasileiro compra entre 1,5 e 2 vezes por ano via internet, ao passo que a média americana varia entre 11 e 12 compras anuais.” Seu otimismo é justificado. Segundo Reinaldo Roveri, gerente de pesquisa da

Os consumidores de renda mais baixa que passam a ter acesso fácil às transações online usam os meios eletrônicos para procurar preços, mesmo que a princípio não comprem pela internet. “Isso eleva a eficiência e a velocidade da pesquisa, reduz custos e é uma ferramenta importante”, diz Samuel Carvalho, analista de software do IDC. A expansão geográfica não quer dizer que as oportunidades estejam se esgotando no Brasil. O valor médio unitário das compras subiu, apesar da crise, e chegou a R$ 340 em setembro, um recorde para o mercado brasileiro. As metas de expansão são amplas. “Queremos operar na África, na Ásia, em qualquer país onde se fale português”, diz Rodrigues. Na América Latina, Argentina, México e Chile, nessa ordem, são os países mais importantes para a estratégia de crescimento do conglomerado. “Com os novos recursos, poderemos fazer já o que estávamos esperando para dezembro de 2011.”



NEGÓCIOS AVIAÇÃO

GIGANTE

EM FORMAÇÃO A fusão da Avianca com a Taca mostra o império que o boliviano naturalizado brasileiro Germán Efromovich quer construir

U

m boliviano naturalizado brasileiro deixa seu país, compra uma empresa aérea colombiana para reestruturá-la e fundi-la com uma concorrente salvadorenha e disputar o mercado de transporte aéreo... brasileiro. A trajetória do empresário Germán Efromovich, dono da colombiana Avianca, parece demasiado ilógica para ser verdadeira. Não obstante, uma das grandes opções que se abrem com a fusão de sua companhia com a Taca é de aumentar a presença nas rotas internacionais brasileiras e, eventualmente, entrar no mercado de voos de carga e passageiros no Brasil. A escolha do caminho mais longo é justificável. “O mercado brasileiro é enorme, muito competitivo e difícil. Há

40 AméricaEconomia Novembro, 2009

um excesso de oferta no Brasil hoje, mas há um grande potencial de crescimento da demanda que o torna atraente”, diz Fabio Villegas, presidente da Avianca. Ele será o principal executivo do gigante aéreo que deve ser formado pela fusão da Avianca com a Taca. A crescente importância das rotas ligando o Brasil a diversos pontos na América Latina esteve por trás da criação da nova companhia, que tem dois terços de suas ações nas mãos do grupo Sinergy, de Efromovich, e os outros 33% com os acionistas da Taca. “Até pouco tempo atrás, só havia quatro voos semanais ligando Bogotá ao Rio de Janeiro, em uma rota basicamente turística”, diz Villegas. “Hoje temos um voo diário entre Bogotá e São Paulo, e a maior parte dos passagei-

ros viaja a negócios.” Com a integração da Taca, explica Villegas, a Avianca poderá oferecer aos colombianos mais alternativas de rotas e frequências ao Brasil, por meio do hub (centro de conexões) que a Taca opera em Lima, no Peru. A fusão entre as duas companhias aéreas é atraente por si só. A Taca já havia tentado comprar a Avianca há quatro anos, quando esta foi colocada à venda pelo grupo Santo Domingo e seus sócios do grupo Cafetero. No entanto, o martelo foi batido a favor da Sinergy, que ofereceu US$ 45 milhões e assumiu uma dívida de US$ 300 milhões. Entre os 90 destinos oferecidos por ambas as companhias, apenas 20 se sobrepõem. E só há competição direta em dois deles: as rotas Bogotá-Lima e Bogotá-San José.

Ilustração ALVARO ARAYA URQUIZA

FELIPE ALDUNATE M., DE SANTIAGO


Foto DIVULGAÇÃO

O potencial de complementaridade é alto. O novo grupo aéreo, que inicialmente manterá as duas marcas, consegue oferecer uma cobertura invejável, com hubs em Bogotá, Lima, San Salvador e San José, na Costa Rica. Isso sem contar as oportunidades de buscar sinergias, economias de escala e mais poder de negociação com provedores como a Airbus, que fornece os aviões da Taca e de quem a Avianca tem aumentado suas encomendas. Alguns analistas consideram essas sinergias o principal atrativo da fusão. “As companhias se complementam justamente pelos problemas fi nanceiros que tiveram devido à compra de aviões A320 da Airbus”, diz Nicolai Sebrell, analista da Morgan Stanley em São Paulo. A operação, que ainda depende de aprovação dos órgãos reguladores, não converterá a nova companhia na maior da região. Somadas, ambas as empresas aéreas faturam cerca de US$ 3 bilhões ao ano, abaixo do fatura-

A FROTA DE EFROMOVICH O quadro mostra as companhias aéreas do empresário na América Latina e na África País

Empresa

Rotas

Brasil

Ocean Air

Domésticas, passageiros

VarigLog

Domésticas, carga

Avianca e AviancaCargo

Internacionais, carga e passageiros

SAM

Regionais, passageiros (a)

Tampa Cargo

Regionais, carga

Helicol

Helicópteros, atende indústria petrolífera

El Salvador

Taca

Internacionais, passageiros (b)

Equador

Aerogal

Regionais, carga e passageiros (c)

VIP Airlines

Táxi aéreo

9 3

Capital Airlines

Domésticas e charters, passageiros

4

Colômbia

Nigéria TOTAL

Aviões 14 4 58 ND 4 6 37

139

(a) Em processo de fusão com a Avianca, (b) A fusão depende da aprovação das autoridades reguladoras, (c) Inclui opções de compra de até 40 aeronaves. ND = Não Disponível Fonte Empresa

mento da chilena LAN, que foi de US$ 4,6 bilhões em 2008. A melhor parte da operação do grupo Sinergy é a que virá depois da integração da Taca com a Avianca, bem como as alternativas de crescimento que vão surgir com a consolidação do negócio internacional de transporte de passageiros. “Há opções interessantes, como a de comprar 80% da Aerogal do Equador, e a Avianca comprar a OceanAir”, diz Villegas, CEO da companhia colombiana de propriedade brasileira. “O mais provável é que esses dois negócios ocorram.” No caso da OceanAir, uma pequena companhia que oferece voos domésticos no Brasil, já existem avanços. “A diretoria da Avianca disse que levou executivos colombianos de alto nível ao Brasil que poderiam supervisionar as operações da OceanAir”, afirma Stephen Trent, analis-

ta da área de estudos do Citi, em Nova York. É fato: o presidente da OceanAir é o colombiano Santiago Diago, ex-vicepresidente de operações da Avianca. Isso sem contar que os aviões da OceanAir têm as mesmas cores corporativas da Avianca e que já é sabido que Efromovich quer rebatizar a OceanAir como Avianca Brasil, e só espera a permissão das autoridades brasileiras para isso. Isso tudo faz os números crescerem. “Taca e Avianca têm 129 aviões. Com os operados pela OceanAir, a frota fica em 143 aeronaves controladas pelo grupo Sinergy”, afirma um relatório de Carlos Eduardo Lucato, analista do Santander Investment, de São Paulo, cujo os números diferem dos da Avianca. “Além das vantagens dessa integração, a Ocean Air poderá conquistar passageiros do Brasil para os voos internacionais da Taca e da Avianca.”

Rotas aéreas operadas somam

VILLEGAS: DE OLHO NO ENORME POTENCIAL DO MERCADO BRASILEIRO

90 cidades

Novembro, 2009 AméricaEconomia 41


Foto DIVULGAÇÃO

NEGÓCIOS AVIAÇÃO

EFROMOVICH: SEM MEDO DE LEVANTAR CAPITAL PARA INVESTIR EM EMPRESAS AÉREAS

PLENA CARGA Os planos de Efromovich não se limitam ao transporte de passageiros. Um empresário que fez fortuna servindo a indústrias pesadas como as de petróleo e de energia sabe que há muito dinheiro no transporte de carga. “Essa atividade representa de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões no faturamento do grupo”, diz Villegas. Parte desse fatura-

Faturamento pode chegar a US$

3

bilhões após a fusão 42 AméricaEconomia Novembro, 2009

mento vem por meio da Tampa Cargo, uma linha aérea de carga criada por um consórcio colombiano-holandês e comprada pela Sinergy em 2007. Com a Tampa, a AviancaCargo controla 32% do mercado de carga da Colômbia e já sente a concorrência feroz da LAN. A empresa chilena tem cerca de 12% desse mercado, que é dominado pela exportação de flores para os Estados Unidos. Os avanços vão além da Colômbia. Efromovich, que tem seu irmão José como sócio principal, fez a Sinergy assinar em julho uma opção de controle da VarigLog. A empresa de carga era da Varig, hoje é administrada pela OceanAir e se encontra em processo de recuperação judicial desde março. É por isso que os analistas afirmam que, se bem-sucedida, a integração da Avianca com a Taca não apenas deve preocupar os concorrentes diretos como a panamenha Copa e a chilena LAN,

como também algumas empresas brasileiras. “O grupo Sinergy não se assusta na hora de colocar dinheiro na mesa”, diz Trent, do Citi. “Eles têm demonstrado muita disposição para conseguir o capital necessário para corrigir a rota de suas empresas aéreas.” O melhor exemplo disso vem da própria Avianca, que há cinco anos estava à beira de falir. Com uma boa administração operacional e fi nanceira, Efromovich a transformou em uma companhia saudável e lucrativa, apesar da crise financeira. Por isso, poucos se surpreenderam quando ele – que também tem nacionalidade colombiana – manifestou o interesse de comprar uma fatia da LAN, participando do pacote de aquisições que o empresário Sebastián Piñera poderá colocar à venda se for eleito presidente do Chile. Seja como for, fica claro que a fusão da Avianca com a Taca não é o final da história.



NEGÓCIOS ENTREVISTA

DE OLHO NO

PRIMEIRO Para construir uma marca na América Latina é preciso saber que os consumidores locais são parecidos, diz o consultor Jaime Troiano

Foto ARQUIVO M&M/DIVULGAÇÃO

MUNDO CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO

TROIANO: O CONSUMIDOR LATINO GOSTA DE ESTAR EM DIA COM O QUE ACONTECE LÁ FORA

A

empresa que quiser ter uma marca vencedora na América Latina terá de levar em conta as características da região, e não se pautar por modelos americanos ou europeus. O latino-americano gosta de marcas que são bem-sucedidas no mercado internacional e lida melhor com a sensualidade e com o corpo do que os consumidores de outras regiões. Essas são algumas das conclusões do publicitário, empresário e consultor Jaime Troiano, que publicou recentemente o livro As Marcas no Divã (2009, Editora Globo, 376 páginas, R$ 39,90).

AméricaEconomia Por que é tão difícil atribuir valor a uma marca? Jaime Troiano Os profissionais de finanças e contabilidade costumam ver a marca do ponto de vista das despesas. Para construir uma marca a partir do zero, a empresa tem de investir dinheiro em marketing e publicidade. Isso aparece como despesa nos demonstrativos contábeis, mas o valor da marca criada não aparece no balanço.

AE Marcas são ativos intangíveis? Troiano São, mas não no sentido clássico do termo. Um ativo intangível foi, durante muito tempo, classificado como

46 AméricaEconomia Novembro, 2009

algo cujo valor não poderia ser precisado. Hoje sabemos que o valor de uma marca pode ser medido.

AE Como? Troiano Definir o valor de uma marca, hoje, é saber que percentual ela representa no resultado final da empresa. No caso de companhias que atuam fora dos bens de consumo, o chamado business to business, cerca de 10% a 15% do seu valor total pode depender da marca. No caso da maioria dos bens de consumo, esse percentual chega a 30%. Em produtos aspiracionais e que representam status, como automóveis de luxo, canetas e

relógios, o valor da marca pode chegar a 50% do valor total patrimonial. Sabemos que em alguns itens de luxo o que importa é a marca, pois as características do produto são secundárias.

AE É por isso, no caso dos bens de consumo, que muitas vezes as empresas compram marcas, não operações? Troiano Exatamente. Vejamos, por exemplo, o caso da Nestlé, que comprou a Perrier. A Nestlé, à primeira vista, estava gastando dinheiro para comprar água, mas a Perrier não é apenas água, ela tem toda uma imagem de sofisticação. Isso é insubstituível.



NEGÓCIOS ENTREVISTA

DE OLHO NO

PRIMEIRO Para construir uma marca na América Latina é preciso saber que os consumidores locais são parecidos, diz o consultor Jaime Troiano

Foto ARQUIVO M&M/DIVULGAÇÃO

MUNDO CLÁUDIO GRADILONE, DE SÃO PAULO

TROIANO: O CONSUMIDOR LATINO GOSTA DE ESTAR EM DIA COM O QUE ACONTECE LÁ FORA

A

empresa que quiser ter uma marca vencedora na América Latina terá de levar em conta as características da região, e não se pautar por modelos americanos ou europeus. O latino-americano gosta de marcas que são bem-sucedidas no mercado internacional e lida melhor com a sensualidade e com o corpo do que os consumidores de outras regiões. Essas são algumas das conclusões do publicitário, empresário e consultor Jaime Troiano, que publicou recentemente o livro As Marcas no Divã (2009, Editora Globo, 376 páginas, R$ 39,90).

AméricaEconomia Por que é tão difícil atribuir valor a uma marca? Jaime Troiano Os profissionais de finanças e contabilidade costumam ver a marca do ponto de vista das despesas. Para construir uma marca a partir do zero, a empresa tem de investir dinheiro em marketing e publicidade. Isso aparece como despesa nos demonstrativos contábeis, mas o valor da marca criada não aparece no balanço.

AE Marcas são ativos intangíveis? Troiano São, mas não no sentido clássico do termo. Um ativo intangível foi, durante muito tempo, classificado como

46 AméricaEconomia Novembro, 2009

algo cujo valor não poderia ser precisado. Hoje sabemos que o valor de uma marca pode ser medido.

AE Como? Troiano Definir o valor de uma marca, hoje, é saber que percentual ela representa no resultado final da empresa. No caso de companhias que atuam fora dos bens de consumo, o chamado business to business, cerca de 10% a 15% do seu valor total pode depender da marca. No caso da maioria dos bens de consumo, esse percentual chega a 30%. Em produtos aspiracionais e que representam status, como automóveis de luxo, canetas e

relógios, o valor da marca pode chegar a 50% do valor total patrimonial. Sabemos que em alguns itens de luxo o que importa é a marca, pois as características do produto são secundárias.

AE É por isso, no caso dos bens de consumo, que muitas vezes as empresas compram marcas, não operações? Troiano Exatamente. Vejamos, por exemplo, o caso da Nestlé, que comprou a Perrier. A Nestlé, à primeira vista, estava gastando dinheiro para comprar água, mas a Perrier não é apenas água, ela tem toda uma imagem de sofisticação. Isso é insubstituível.


AE Por quê? Troiano Hoje, os produtos são muito

AE Para a propaganda, como é a nova consumidora?

parecidos entre si. As características técnicas e físicas são muito semelhantes. Basta olhar para o mercado de automóveis. Se você tirar as marcas, é difícil diferenciar os veículos à primeira vista. Como o que diferencia um produto do outro é a capacidade de provocar uma emoção no consumidor, a importância da marca é cada vez maior. Não podemos nos esquecer de que 90% dos produtos lançados são retirados do mercado antes do segundo ano. Isso acontece até mesmo com as extensões de marca, quando não são bem planejadas.

Troiano O comportamento e a posição social da mulher mudaram bastante, e a publicidade reflete isso fielmente. Podemos dizer que a mulher saiu da cozinha. Hoje, 45% do mercado de trabalho pertence às mulheres, o que garantiu à consumidora mais autonomia financeira e poder de decisão.

AE Como essas mudanças se refletiram na publicidade? Troiano Se olharmos a publicidade dos anos 60, vemos que a mulher está ou em uma posição de submissão ao marido

As empresas brasileiras precisam de profissionais que saibam orquestrar esforços para fazer a marca falar com diferentes públicos AE Como está a construção de marcas no Brasil? Troiano Os profissionais estão em um momento de transição. Para fazer um paralelo com a música, podemos dizer que os profissionais brasileiros são excelentes solistas, mas o Brasil tem uma grande falta de orquestradores, que sejam capazes de integrar os diversos esforços da empresa para falar com muitos públicos diferentes ao mesmo tempo.

AE O público mudou? Troiano Não apenas mudou, como também está muito mais específico e com necessidades e desejos muito mais segmentados. Além disso, o consumidor sabe o que quer com mais clareza. Hoje, temos de ver o que motiva, agrada e desestimula o consumidor. O melhor exemplo é a mudança no perfi l da consumidora. Cerca de 75% das decisões de compras são tomadas ou influenciadas pelas mulheres, o que provocou uma forte mudança na propaganda.

ou no papel de mãe. Nos anos 80, ela passou a ser a executiva bem-sucedida e vitoriosa, mas perdeu bastante de sua feminilidade. Já a propaganda atual tenta ver a mulher de maneira mais integrada, atuando bem em vários papéis. Eu costumo dizer que, há alguns anos, a mulher era vista pela publicidade como um pêssego em calda, ou seja, em pedaços. A mãe de família não era a mulher sensual, que também não era a mulher profissional. Hoje, essa consumidora pode ter todos esses atributos – ser bemsucedida profissionalmente, ter fortes relações familiares e também sentir-se bonita e desejada.

AE É possível falar de uma publicidade latino-americana? Troiano Até há pouco tempo não era possível, mas hoje podemos dizer que sim, pois a publicidade está mais consciente de que a mentalidade latinoamericana tem valores únicos, que não valem para outras regiões. Esses fatores

decorrem do clima mais quente, da formação religiosa católica e sincrética e da miscigenação, que são elementos presentes em maior ou menor grau em todos os países da região. Isso faz com que a mentalidade latino-americana tenha características únicas.

AE Quais, por exemplo? Troiano A primeira é o que chamo de “malinchismo”, referente a Malinche, que foi uma índia mexicana, a primeira amante de Hernán Cortez quando ele chegou da Espanha para conquistar o México. Malinche aderiu e absorveu rapidamente a cultura do, na época, Primeiro Mundo. Esse é um traço latinoamericano muito típico, valorizar o que ocorre nos países desenvolvidos. Uma marca que quiser ser bem-sucedida na América Latina tem de mostrar que está em linha com o que acontece lá fora.

AE Como isso afeta as marcas? Troiano Uma decorrência do “malinchismo” é que as marcas, para serem de fato bem-sucedidas na América Latina, têm de mostrar que podem ser bemsucedidas no exterior. Por exemplo, a Alpargatas, com as sandálias Havaianas. O calçado sempre foi um sucesso no Brasil, vendia milhões de unidades todos os anos, mas era considerado um produto popular. Quando celebridades de Hollywood passaram a usar as Havaianas, os brasileiros promoveram os chinelos à categoria de objeto de desejo. O mesmo vale para a rede colombiana Juan Valdez, de pontos de venda de café.

AE Há mais características latinas? Troiano Os latinos têm uma relação com seus corpos muito diferente da dos americanos e europeus. Mesmo se você observar os países latinos da Europa, verá que tudo é muito mais coberto e contido. Na América Latina, as pessoas são mais voluptuosas e sensuais, e uma pessoa pode mostrar o corpo e não ser vulgar. Isso é menos verdade em países como o Chile, por exemplo, mas vale em todos os outros países da região.

Novembro, 2009 AméricaEconomia 47


FINANÇAS BOLSA

DINHEIRO

LATINO

Rentabilidade das empresas e liquidez das ações brasileiras atraem investimentos dos países vizinhos

O

Brasil está no topo da agenda dos investidores latinoamericanos. O volume de recursos da América Latina que ingressou no mercado de capitais brasileiro cresceu exponencialmente em 2009. Esse movimento deverá continuar em 2010, apesar das medidas recentes para conter a entrada de dólares por meio do estabelecimento de uma alíquota de 2% no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos em ações. Não há estatísticas oficiais sobre o dinheiro que chega, mas estimativas dos profissionais de mercado mostram que o Brasil recebeu cerca de US$ 3 bilhões de investidores latino-americanos até meados de outubro de 2009, sem considerar o investimento direto. Hoje, segundo cálculos desses profissionais, quase metade do dinheiro latino-americano investido no exterior vem para o Brasil. O grande atrativo é a combinação entre a rentabilidade das empresas e a liquidez das ações. Tradicionalmente, esses dois elementos vinham estimulando a participação de investidores americanos e europeus. Agora, as qualidades do mercado

48 AméricaEconomia Novembro, 2009

brasileiro também atraem os endinheirados dos países da América Latina. Outro apelo é a segurança: a obtenção do grau de investimento, que possibilita o ingresso de recursos de fundos institucionais. “O Brasil está na rota dos fluxos internacionais de capital, e isso inclui outros países latino-americanos”, diz Alfredo Coutino, diretor para América Latina da Moody’s Economy. O Brasil vem recebendo investimentos estrangeiros de US$ 30 bilhões por ano em média nos últimos três anos. “Com o novo apelo dado pelas perspectivas econômicas e pelo grau de investimento, os fluxos de capital podem aumentar entre 15% e 20% nos próximos anos”, estima Coutino. Os investidores de países vizinhos, em especial México, Chile, Argentina e Venezuela, estão interessados principalmente nos setores de energia e construção civil, bastante fortes em seus países de origem e com boas perspectivas por aqui. O grosso do dinheiro ainda virá de países desenvolvidos, tanto sob a forma de investimento direto quanto de ações, mas o capital latino é o que tem mais possibilidades de crescimento no curto prazo.

Foto ALEXANDRE MARCHETTI/ITAIPU BINACIONAL

ANA BORGES, DE SÃO PAULO


INTEGRAÇÃO DAS BOLSAS

USINA DE ITAIPU: SETOR DE ENERGIA É O PREFERIDO DOS INVESTIDORES LATINO-AMERICANOS

De olho na força da América Latina, a BM&FBovespa está buscando a integração entre os mercados acionários locais. “A ideia é estabelecer uma rede de interconexão entre as bolsas de outros países”, diz João Lauro Amaral, diretor da área internacional da BM&FBovespa. As negociações mais avançadas são as com as bolsas de Santiago, Lima e Bogotá, e devem se materializar a partir de 2010. “Não pretendemos adquirir outras bolsas. As alianças são mais importantes”, diz ele. Estabelecer vínculos fortes com outros mercados latinoamericanos está no topo da agenda de Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa. Pelos acordos que estão sendo negociados, os investidores tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina poderão visualizar o comportamento dos papéis de empresas listadas nas diversas bolsas. Além disso, a BM&FBovespa vai estimular companhias de países vizinhos a captar recursos no mercado brasileiro, por meio do lançamento de Brazilian Depositary Receipts (BDR). “A América Latina é um mercado importante”, disse Pinto, ao anunciar os resultados do primeiro semestre. “Estamos levando propostas de serviços e parcerias , e para cada país há um desenho específico, de acordo com suas necessidades.” O grande atrativo do mercado brasileiro é a alta rentabilidade oferecida pelas ações. Em 2009, até meados de outubro, o Índice Bovespa acumulou uma rentabilidade de mais de 129% em dólares, o segundo melhor desempenho na região, perdendo apenas para a bolsa do Peru (veja quadro). As diferenças a favor do mercado brasileiro são a diversidade dos setores negociados e a maior liquidez, que garante mais facilidade na hora de comprar e vender ações. Segundo Luis Scaglianti, diretor da corretora Banif Securities, a diversificação na bolsa reflete a complexidade e a sofisticação da economia brasileira, apesar da relevância de setores básicos como petróleo e mineração.

HERMANOS AQUI A fatia dos investimentos latinos no Brasil cresce... (Percentual dos investimentos externos latino-americanos no Brasil em % do total estimado)

48

52

95

Recursos para o Brasil

2004

2009

5

Recursos para outros países Fonte Corretoras

129,3

... Seguindo o bom desempenho do Índice Bovespa (Variação % em US$) (a) 66,2 12,6 EUA (Dow Jones)

19,1 EUA (S&P 500)

(a) Acumulado no ano até 12 de outubro

35,6 EUA (Nasdaq)

42,5

48,4

México (IPC)

Venezuela (ICCAS)

Chile (IPSA)

76,6

Colômbia (IGBC)

141,6

81,1

Argentina (Merval) Brasil (Ibovespa)

Peru (IGBVL) Fonte Economática

Novembro, 2009 AméricaEconomia 49


APETITE PELO RISCO

Foto WILSON DIAS/ABR

Os investidores latino-americanos sempre foram tímidos em seus investimentos no Brasil, apesar da proximidade geográfica. Tradicionalmente, a preferência era por papéis americanos e europeus. No entanto, a crise financeira do ano passado mudou esse comportamento. “O interesse dos investidores chilenos no Brasil cresce cada vez mais. No início do ano, o volume era pequeno, mas com a recuperação do mercado a partir de abril, as pessoas físicas também passaram a ver o mercado brasileiro como alternativa de investimento”, diz Simon Rosinsky, gestor do Celfin Asset Management do Chile. Os ativos aplicados nos fundos destinados à América Latina passaram de US$ 250 milhões no início do ano para US$ 600 milhões no fim de setembro. Desse total, mais de 60% foram aplicados no Brasil, algo inédito. O interesse é tanto que o Celfin criou um fundo dedicado apenas a investimentos no Brasil. Lançado no início do ano, o fundo já acumula US$ 60 milhões. O interesse dos investidores latinos pelo Brasil não apenas cresceu, mas também mudou de forma e agora exibe um apetite muito maior pelo risco. As primeiras aplicações destinavam-se ao mercado de renda fi xa, buscando aproveitar as exuberantes taxas de juros brasileiras, seja nos títulos públicos, seja em papéis de renda fixa das empresas. Nos últimos meses, entretanto, o fluxo para investimentos em ações aumentou. Os investidores colombianos e chilenos estão entre os que entraram na participação do Santander, realizada no início de outubro.

EDEMIR PINTO, DA BM&FBOVESPA: FOCO NA AMÉRICA LATINA

50 AméricaEconomia Novembro, 2009

Segundo Mauricio Barreto, vice-presidente de negócios internacionais da corretora colombiana Ações e Valores, o apetite dos investidores latinos cresceu devido à resiliência da economia brasileira em relação à crise internacional. “As economias brasileira e de outros países emergentes foram menos golpeadas do que as dos países desenvolvidos. Por isso, mais investidores vieram para o Brasil”, afirma. Ele explica que, no mercado acionário, a preferência é por papéis de grandes empresas, como Vale, Petrobras e Embraer. “As empresas novas inspiram menos confiança e são menos conhecidas, pois nunca fizeram uma apresentação na Colômbia”, lembra. Segundo Rosinsky, do Chile, parte dos investimentos chilenos já era, há algum tempo, destinada às grandes companhias, como Vale, Itaú Unibanco e Petrobras, mas cresce o interesse por setores ligados à infraestrutura, como a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR). Além disso, as ações do setor imobiliário

Em 2010, o investimento internacional no Brasil pode crescer

20%

também ganham peso por meio de fundos que investem em papéis como MRV, Cyrela e Rossi. O interesse por empresas do setor de consumo, como Lojas Renner, Pão de Açúcar e Americanas também aumentou. No setor financeiro, ganham peso tanto os bancos grandes quanto os médios. “A busca é por ações de empresas de elevado crescimento e que dependem da economia doméstica”, afirma. A Celfin conta com equipe especializada em analisar as companhias brasileiras. O fluxo de investimentos para o Brasil tenderá a crescer se os acordos em negociação pelas bolsas forem fechados. No entanto, os bancos também terão de formar parcerias. “Vamos estimular o acordo entre os intermediários”, ressalta Amaral. Tais parcerias já fazem parte da realidade dos mercados locais. A Banif Securities, ligada ao banco português Banif, atua há tempos junto com o mercado latino-americano e notou um aumento do interesse. “Mais e mais clientes pessoas físicas, corretoras e family offices latinos nos procuram para abrir contas no Brasil”, diz Scaglianti. A busca vem de países como o México, Chile, Argentina e Uruguai. Já a corretora Souza Barros, por exemplo, abriu recentemente um escritório em Miami para atender clientes no Panamá, na Colômbia, no Uruguai, no Equador e no Chile. “O conhecimento deles sobre o Brasil nos surpreendeu, e a demanda por ações é elevada”, diz Carlos Alberto Souza Barros, diretor-presidente da corretora, que já fechou dez parcerias na América Latina. “Temos de deixar de olhar para o próprio umbigo.”


FINANÇAS PENSÕES WILLIAM ZELAYA: DIVERSIFICAR OS INVESTIMENTOS É A MELHOR DEFESA CONTRA A TURBULÊNCIA

EU PAGO

No refluxo da concorrência, a Investors Trust oferece annuities na América Latina ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI

A

o lado de uma tela de plasma, sempre sintonizada na Bloomberg TV ou no canal CNBC, e com uma impressionante vista do último andar do Bank of America Building, no coração financeiro de Miami, o americano William Zelaya, presidente da Investors Trust, explica que as maiores empresas fi nanceiras mundiais estão andando na contramão na América Latina. “Antes de 2001, era muito fácil obter serviços fi nanceiros na região”, diz ele. “No entanto, depois do 11 de setembro e da crise argentina, americanos e europeus reduziram sua atuação na América Latina e nos mercados emergentes.” Zelaya não está reclamando. Ao contrário, ele acha esse movimento ótimo. Foi graças a esse refluxo que ele e o irmão, John Zelaya, puderam criar uma empresa nos Estados Unidos dedicada à venda de annuities na América Latina, com produtos que concorrem com os grandes nomes dessa indústria. Venda do quê? Uma annuity é um produto de previdência privada, desti-

nado a garantir renda para quem deixa de receber salário quando se aposenta, e que representa um compromisso entre a empresa financeira e o cliente. A empresa garante um fluxo constante de pagamentos em troca de um investimento inicial do cliente, que pode ser realizado de uma só vez ou aos poucos, durante um período de capitalização. Há vários tipos de annuities. Uma de suas formas mais conhecidas é a renda vitalícia, em que as empresas de seguros oferecem rendimentos aos clientes quando se aposentam, em troca das economias que eles acumularam ao longo da vida profissional, nos planos de previdência.

A Investors Trust administra US$

500 milhões em annuities

Produto padrão em países desenvolvidos, as annuities sempre tiveram um problema sério na América Latina: a falta de estabilidade nas regras. Um compromisso de longo prazo não combina com inflação elevada, solavancos no câmbio, juros estratosféricos e mudanças de direção da economia. Por isso, com a estabilização das economias, abre-se uma enorme oportunidade nos mercados latino-americanos. O negócio com as annuities pode chegar a dezenas de bilhões de dólares. Segundo o especialista Roberto Rezende Rocha, países com mercados de capital mais sofisticados, como Chile e Brasil, têm maior potencial. O problema, diz Zelaya, é que defender-se das ameaças que ainda pairam sobre os investidores requer cuidados especiais. “Nos mercados emergentes, sempre se busca diversificar a poupança para administrar melhor o risco”, diz Zelaya. “Se você é um médico que vive em Caracas ou um advogado de Buenos Aires, é natural que queira proteger parte de sua poupança de longo prazo aplicando em euros ou dólares, porque não sabe o que pode ocorrer em seu país no futuro”, afirma. Zelaya diz que uma das alternativas para o investidor é optar por aplicações com a chamada “arquitetura aberta”, que oferecem diversas opções, de títulos negociados no mercado à vista a fundos dedicados aos mercados emergentes. “O cliente pode adquirir papéis em qualquer parte do mundo e fazer isso aplicando em um só produto.” É essa flexibilidade que tem permitido à indústria de annuities crescer tanto nos últimos anos. No entanto, diz Zelaya, as companhias grandes estão deixando espaços no mercado. “A retirada das empresas americanas e europeias chegou a tal ponto que elas só trabalham com clientes com patrimônios de US$ 1 milhão e, em alguns casos, US$ 2 milhões”, diz. “Isso cria um grande vazio. E onde há um vazio, há oportunidades.” Novembro, 2009 AméricaEconomia 51


FINANÇAS RISCOS

SEGURO

CONTRA PROCESSOS

Crise financeira e internacionalização das empresas brasileiras aumentam demanda por apólices para executivos ANA BORGES, DE SÃO PAULO

s acionistas da Sadia e da empresa de celulose Aracruz vão demorar para esquecer a crise de 2008. As duas empresas sofreram prejuízos bilionários. Seus gestores fi nanceiros foram pegos desprevenidos pela alta inesperada do dólar no segundo semestre do ano passado. Como resultado, o controle acionário de ambas mudou. Não foi uma transição tranquila. Vários acionistas contestaram os termos das vendas na Justiça e muitos diretores foram proces-

52 AméricaEconomia Novembro, 2009

sados, o que colocou em risco seus patrimônios pessoais. Os processos alertaram os executivos para o fato de que um erro de gestão pode falir uma empresa – e os acionistas não vão aceitar o fato de braços cruzados. A preocupação maior com o patrimônio pessoal elevou a demanda por seguros de responsabilidade civil de executivos. Mais conhecido como apólices para directors & officers, ou D&O, esse tipo de seguro viu sua demanda crescer consideravelmente no ano passado.

No primeiro semestre de 2008, o real se apreciava continuamente em relação ao dólar, o que afetou o caixa de muitas empresas e aguçou a cobiça de algumas. Os especialistas de mercado estimam que, nesse período, pelo menos 300 companhias recorreram aos derivativos cambiais para se protegerem da valorização do real – ou para especular com ela. Quando a tendência se inverteu a partir do terceiro trimestre, o que era proteção virou pesadelo.

Foto RICARDO STUCKERT/PR

O

FESTA DOS JOGOS PANAMERICANOS NO RIO: EXECUTIVOS QUEREM PROTEÇÃO PENSANDO NAS OBRAS PARA A OLIMPÍADA DE 2016


Os prejuízos foram pesadíssimos. No caso da Aracruz, o rombo chegou a US$ 2 bilhões. De 2003 até a crise, o lucro com os derivativos havia somado US$ 350 milhões. O erro estratégico colocou os diretores na mira dos processos dos acionistas, o que deixou outros executivos em alerta. “As empresas contrataram mais apólices D&O ou aumentaram as coberturas existentes”, diz Edson Toguchi, executivo da seguradora Allianz. A crise internacional foi um divisor de águas para o D&O. O mercado tornouse muito mais avesso ao risco e, por isso, os resseguros escassearam. “A crise foi muito profunda, o que retraiu a oferta e elevou os preços”, diz Antonio Trindade, da Itaú Seguros. “Essa situação deve durar dois ou três anos.”

a corretora raramente registrava algum sinistro no passado, mas agora recebe de três a quatro reclamações por mês. Os setores mais afetados são o financeiro e o de telecomunicações. Um dos motivos de o setor financeiro ser alvo de rejeição está relacionado ao fato de que, quando um terceiro entra com um processo, um número maior de executivos é mencionado, o que encarece MAIS SINISTROS a defesa. “No Brasil, ainda há uma boa O aumento dos riscos fez o gasto das avaliação das instituições financeiras, seguradoras com indenizações dispadevido à solidez do sistema, mas como rar. O aumento em 2007 foi de 468%, as contestações abrangem todos os diseguido por 198% em 2008. A estimativa retores estatutários, o seguro fica mais para 2009 é a de que os sinistros atinjam caro”, diz Toguchi, da Allianz. “No caso R$ 15 milhões, um crescimento de 67% das telecomunicações, a sinistralidade é em relação a 2008. “O risco aumentou, elevada demais.” principalmente com as despesas com A demanda mais recente vem do advogados. Ainda há pouca indenização. setor de construção civil, consequência AMÉRICA LATINA Os custos dos processos são elevados”, do crescimento acelerado das empresas O aumento da busca por seguros para diz o diretor de produtos financeiros da e das perspectivas de aumento de neexecutivos brasileiros também vem Aon, Guilherme Mendes. Ele ressalta que gócios por conta dos eventos esportivos crescendo devido à internacioagendados para o Rio de Janeiro. nalização da economia. EmCom as obras da Copa do Mundo presas que operam em países de 2014 e os trabalhos das OlimOs gráficos mostram o crescimento das vendas de seguros do tipo Directors & Officers (D&O) no Brasil e o percentual gasto com indenizações vizinhos estão mais sujeitas a píadas previstos para se encersofrer processos devido ao desrarem em 2016, as construtoras As vendas de apólices crescem... 140,7 conhecimento do mercado e têm investido na tranquilida(Prêmios em R$ milhões) a atitudes protecionistas. Da de jurídica de seus executivos. mesma forma, executivos braObras tão grandes, em geral, sileiros de empresas internaciocolocam seus responsáveis na nais podem ser envolvidos em posição de vítimas de acusações problemas ocorridos nos países de superfaturamento de obras 96,4 93,1 de origem. Outro fator é a disseou má gestão dos processos. As 88,3 84,9 minação das práticas de goverapólices, porém, não cobrem 76,1 nança corporativa nos países acusações do primeiro tipo. latino-americanos. “A América Ter ou não seguro D&O faz 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Latina é a menina dos olhos dos parte da gestão de risco das investidores internacionais”, companhias, mas proporcionar ... E as indenizações também 10,45 diz Octávio Luiz Bromatti, diessa segurança ao alto escalão (Indenizações em % do prêmio) 9,58 retor de Riscos Industriais da ainda não é visto como um diseguradora espanhola Mapfre. ferencial pelos profissionais que Como o D&O é um pré-reatuam no Brasil. “Os executivos quisito para todos estes passos, não descartam uma companhia ao final de 2009 o mercado terá porque ela não oferece o seguacumulado um crescimento de ro”, diz o presidente do Instituto 3,11 85% em seis anos. Em 2004, o Brasileiro de Relações com Involume de prêmios era de R$ 76 vestidores (Ibri), Geraldo Soares. 1,15 0,71 0,60 milhões e, segundo a Aon, deve “O D&O não reduz a responsabiatingir R$ 140 milhões ao final lidade do executivo, porém dá 2004 2005 2006 2007 2008 2009 do terceiro trimestre. A Aon é mais tranquilidade para atuar”, Fonte Susep, Aon Corretora uma das maiores corretoras de ressalta Soares. seguros atuantes no Brasil, com cerca de 30% do mercado de D&O nacional. O único ano em que o mercado não mostrou crescimento foi em 2008, quando o número de sinistros bateu recordes, mas o volume de prêmios caiu 3% em relação a 2007. “O crescimento vai continuar por conta da internacionalização das empresas brasileiras”, diz Trindade.

EM BUSCA DE PROTEÇÃO

Novembro, 2009 AméricaEconomia 53


DEBATES EXPORTAÇÃO

ENGRENAGENS Brasil quer acelerar um acordo comercial com o México, mas tudo indica que o filé mignon vai ficar de fora SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

A

Foto RICARDO AZOURY/ISTOCKPHOTO

EMPERRADAS

té 2008, a empresa brasileira Tito, especializada em logística, via o México como um paraíso. Sua operação de seis anos no país oferecendo serviços de entrega porta a porta e assessoria de comércio exterior registrava crescimentos de 14% ao ano em média. “Em 2009, devido à crise, tivemos 20% de queda no movimento total”, conta Walter Ferreira, gestor de desenvolvimento de negócios da Tito. A opção para a empresa – que já importou uma fábrica inteira do México e também já exportou celulares e peças de reposição brasileiras – foi buscar projetos alternativos. “Estamos prestando serviços para construtoras mexicanas que trabalham na América Central, diversificando nosso raio de ação”, diz Ferreira. Nem só de diversificação vive Ferreira, porém. O executivo se entusiasma com a possível ampliação da lista de produtos que são negociados entre Brasil e México com tarifas de importação e exportação mais baixas, as chamadas preferências tarifárias. Os dois países assinaram dois acordos de complementação econômica em 2002, o ACE 53 e o ACE 55, específico para o setor automotivo. O primeiro acordo, que engloba 796 produtos, poderá ser estendido ou substituído por um tratado comercial. Mais do que mera burocracia diplomática, a mudança de termos faz toda a diferença.

54 AméricaEconomia Novembro, 2009

As negociações que começaram no fi m de outubro podem facilitar as exportações do agronegócio brasileiro para o México e, em contrapartida, ajudar a competitiva indústria petroquímica mexicana a vender seus produtos por aqui, só para ficar em alguns exemplos. “As negociações podem envolver empresas metalúrgicas, de autopeças e varejistas”, diz Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O sonho de exportadores experientes como Fonseca e de empresários visionários como Ferreira é poder levar produtos agroindustriais, eletroeletrônicos, têxteis, plásticos, farmacêuticos ao México sem enfrentar as pesadas barreiras comerciais entre os dois países. Apesar de o comércio bilateral ter mais que duplicado depois dos ACEs – de US$ 2,9 bilhões em 2002 para US$ 7,4 bilhões em 2008 –, ainda é pouco diversificado e muito tímido quando se trata das duas maiores economias latino-americanas. “Nem o México nem o Brasil entenderam a importância de ampliar os acordos fechados em 2002, porque o intercâmbio comercial sempre esteve muito concentrado em fi liais de empresas multinacionais nos dois países, e essa corrente não foi ameaçada”, diz Jorge Navarrete, embaixador do México no Brasil de 1997 a 2000.


Tarifas de importação vão cair à metade até 2013, chegando a

6,1%

MONTADORA BRASILEIRA: O SEGMENTO AUTOMOTIVO É O MAIS IMPORTANTE NO COMÉRCIO ENTRE BRASIL E MÉXICO

Hoje, porém, do posto de pesquisador da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), Navarrete observa a urgência de seu país para diversificar a pauta comercial. Afinal, apesar de ter se tornado um especialista em negociações de acordos comerciais, o México ainda concentra 90% de seu comércio exterior com os Estados Unidos. “Mesmo antes da crise, notava-se que todo o crescimento que o Nafta poderia trazer – com os Estados Unidos, já que com o Canadá não avançamos – já tinha sido explorado e se estava estagnando”, diz o ex-embaixador. Com os dois países figurando entre os mais castigados pela crise, o México trata agora de buscar oxigênio novo em outros territórios. “Se conseguirmos reduzir essa concentração de comércio para 75%, já seria um passo importante. E, na região, não há nenhum parceiro melhor que o Brasil.”

SEM RECEIO Sem avançar em negociações comerciais de peso nos últimos anos, o governo brasileiro também lançou uma corrente próacordo. Ao visitar o Brasil em agosto, o presidente mexicano, Felipe Calderón, ratificou o compromisso de reiniciar tais negociações, recebendo o apoio de diversas entidades empresariais. Entre elas estava a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), que assinou um documento conjunto com o Conselho

Empresarial Mexicano de Comércio Exterior (Comce), pressionando por um acordo até junho de 2010. Muito se avançou desde as primeiras reclamações contra as “maquiadoras”, unidades mexicanas de empresas dos Estados Unidos que apenas montavam produtos para aproveitar os custos menores nesse país. “No começo da década, tínhamos medo da política de incentivo às maquiadoras e da proposta de abertura comercial com muitos países que o México defendia”, diz Lucia Maduro, da unidade de Negociações Internacionais da CNI. “No entanto, a indústria brasileira ganhou competitividade e em 2007 começamos a retomar esse contato.” Esse ritmo, porém, é considerado lento demais por muitos analistas. “O Brasil quis jogar todas as fichas na OMC e na Rodada de Doha e, com a estagnação desta, agora corre para ressuscitar os acordos bilaterais com o México e a União Européia”, diz Christian Lobauer, professor do Gacint-USP e atual presidente-executivo da Citrus, associação de exportadores brasileiros de suco de laranja.

RITMO LENTO O resultado dessa lentidão se refletiu nos números. Apesar de o Brasil ainda ser superavitário, a diferença na balança comercial entre os países se reduziu fortemente nos últimos três anos (ver gráfico na próxima página), com a importação brasileira crescendo a taxas médias de mais de 50% ao ano, enquanto suas vendas estagnaram. Resultado que, segundo analistas, não é justificado apenas pela crise econômica. Segundo dados da CNI, a participação dos produtos brasileiros no mercado mexicano caiu em 2008, enquanto a fatia chinesa não para de crescer. Em 2002, a presença da China não chegava ao dobro da brasileira; em 2008, foi seis vezes maior. A concorrência em setores menos sensíveis poderá tornarse ainda mais acirrada caso o cronograma da revisão tarifária implementada unilateralmente pelo México no fim do ano passado se cumpra. A iniciativa do país em meio à explosão da crise, recebida com surpresa pelo mercado, contempla 70% dos produtos negociados pelo México. As tarifas de importação dessa lista, que em 2008 estava em 11% e caíram para 9,7% este ano, poderão ser gradualmente reduzidas para 6,1% até 2013. “Por isso, não podemos mais nos atrasar e temos que nos esforçar para chegar a um acordo que envolva ao menos 80% das tarifas substanciais”, diz Lucia. Novembro, 2009 AméricaEconomia 55


A possibilidade de ampliar o acesso ao mercado mexicano anima até quem teria, a princípio, razões para perder o sono com a chegada dos mexicanos. “Tivemos que repensar nosso acordo depois disso, mas ainda assim apoiamos uma proposta, no nosso caso, com proteção, entre outros, à cadeia de poliéster, em que eles são competitivos”, afi rma Renato Endres, gerente de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Para Bernardo Silva, gestor de mercados regionais da agência de promoção de exportações Apex-Brasil, “o melhor seria concentrar-se nos setores sensíveis que mais nos interessam”, referindo-se especialmente ao de carnes. “Dos 70 projetos que temos em andamento hoje, 55 elegeram o México como um dos países-alvo, mas, mesmo assim, o país recebeu apenas 0,9% das exportações dessas empresas em 2008”, afi rma. Aí mora o principal problema: convencer o México a baixar a resistência em setores onde é menos competitivo, como o têxtil, certos segmentos eletroeletrônicos e, sobretudo, o agronegócio, mercado em que os empresários brasileiros querem cravar os dentes com gosto e apetite. “Não persistimos em negociar e até hoje há distorções impressionantes”, diz Christian Lobauer, que até o começo do ano foi diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). “Como é possível que o Brasil, maior exportador mundial de frango, não venda para um país que importa 500 mil toneladas por ano e compra até da Argentina e do Chile?”

3.254 3.230

3.148

(em US$ milhões)

2.281

2.214

1.765

1.176

1.156

958

2009 (a) 0

2000

2001

2002

(a) acumulado de janeiro a agosto

2003

2004

GIANETTI DA FONSECA: NEGOCIAÇÕES SERÃO DURAS

Para ele, ainda que o México demonstre querer ampliar sua corrente de comércio com o Brasil, a possibilidade de negociar um espaço no setor agropecuário é pequena. “O Nafta já exerce muita pressão, pois o México depende, entre outros, do trigo e do milho americanos e não deve querer abrir seu mercado para outro gigante competitivo”, diz Lobauer. “Até poderemos conseguir ampliar a lista de produtos comercializados, mas não haverá espaço para um acordo ambicioso, pois uma coisa é vontade política e outra é relevância econômica.”

CETICISMO

BALANÇA DESFAVORÁVEL Saldo comercial do Brasil com o México vem piorando ano a ano

Foto ANTONIO CRUZ/ABR

DEBATES EXPORTAÇÃO

2005

2006

2007

2008

-57

Fonte Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

56 AméricaEconomia Novembro, 2009

“Infelizmente, o México está estancado, não sabemos quando poderá se recuperar plenamente, e os investimento sempre se movem para países dinâmicos”, diz Navarrete, que tampouco acredita em grandes vantagens para o Brasil em um futuro acordo. “Hoje o Brasil deve estar olhando para a China. Essa iniciativa me parece se basear mais em intenções políticas que em realidades comerciais”, diz. “Ao menos no curto prazo.” Gianetti da Fonseca é mais otimista. “Há boas chances nas negociações, e isso poderá impulsionar inclusive a atividade das empresas brasileiras que já estão instaladas no México”, diz, lembrando ainda a possibilidade de desenvolvimento de novos negócios, como o interesse do governo mexicano pelo etanol. “Ainda que, nesse caso, o país tenha de resolver problemas fundiários antes de iniciar uma produção em larga escala.” Laura, da CNI, também defende o esforço para chegar a um acordo, apesar das dificuldades. “Há muito o que liberar. Os 796 produtos contemplados no primeiro ACE não representam sequer 10% dos produtos que podem ser negociados com o México”, afirma. “Devemos defender a redução tarifária automática dos produtos que não são sensíveis e exigir que os sensíveis estejam contemplados. Afinal, não são todos os produtos do agronegócio ou do setor têxtil que podem ser considerados sensíveis.” Ferreira, da empresa Tito, faz coro. “Não é hora de desmerecer nenhum avanço.”



DEBATES ECONOMIA

A SALVAÇÃO NA

LAVOURA

Uma colheita recorde de soja pode dar novo fôlego à Argentina em 2010, mas há outros problemas de longo prazo no horizonte

Foto SIMIN ZORAN/ISTOCKPHOTO

RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES

PLANTAÇÃO DE SOJA: ÁREA CULTIVADA NA ARGENTINA PODERÁ AUMENTAR EM 19 MILHÕES DE HECTARES

58 AméricaEconomia Novembro, 2009


A

banda chamada Soja Stereo – em alusão ao grupo de rock argentino Soda Stereo, liderado pelo cantor Gustavo Ceratti – é um dos quadros de maior sucesso entre os programas humorísticos da TV argentina atualmente. “Transgênico! Um químico que dá mais rendimento!”, é o refrão pegajoso que virou mania nacional. Para os argentinos, porém, a soja não é piada. Ao contrário, pode ser a salvação para sua economia. Os plantadores esperam colher 79 milhões de toneladas de grãos nesta safra, sendo 53 milhões só de soja. Essa colheita farta, que deverá gerar exportações de US$ 15 bilhões, poderá responder por um crescimento de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Os prognósticos são ainda melhores quando à prosperidade da soja somamse o retorno da Argentina ao mercado de dívida e a rápida recuperação da economia brasileira. Esses três fatores podem fazer o avanço do PIB no ano que vem ser de animadores 5,5%, muito melhores que os anêmicos 2,5% previstos há apenas três meses. Nesse cenário de crescimento, os principais fantasmas que assombram os argentinos se esvaem. Desaparecem os temores de calote da dívida, de problemas fiscais, de fuga de dólares e de desvalorização cambial.

BENDITA CHUVA “A principal notícia econômica é a chuva e seu impacto sobre a próxima colheita”, afi rma o economista Miguel Bein em suas projeções para 2010. “Apesar de a precipitação prevista para 2010 ser menor que a de 2007-2008, deverá chover 37% mais do que em 2009, quando houve uma seca brutal”, escreveu Bein. Segundo ele, há mais razões para o otimismo. O aumento das exportações agrícolas compensará a alta das importações provocada pelo crescimento econômico. “Sem isso, haveria escassez de divisas”, diz. O comércio exterior mais parrudo também “permitirá a recomposição da arrecadação aduaneira no ano que vem, que sofreu queda de 30% em 2008 e poderá crescer 40% em 2010”.

A área cultivada na Argentina só vai crescer na próxima safra devido à expansão da soja, cuja área deverá aumentar em 19 milhões de hectares. “A colheita de 2007 foi a melhor da história, mas a de 2010 vai superá-la em seis milhões de toneladas”, diz Javier Bujan, presidente da Câmara Arbitral de Cereais. “Nas demais culturas haverá estabilidade ou redução da área plantada.” Os produtores rurais ainda se ressentem do conflito com o governo, cuja memória traz incerteza.

INFLAÇÃO No entanto, a pujança da soja e a exportação de automóveis para o Brasil, que está em franca expansão, não podem resolver sozinhos todos os males que afetam a Argentina. Rodrigo Álvarez, economista da Ecolatina, diz estar preocupado com a dinâmica dos mercados internos. “O consumo está muito prejudicado pela inflação, que é de 14%”, diz. “A receita dos excedentes das exportações não vai se transferir diretamente para o consumo e para o mercado, como ocorreu entre 2003 e 2007.” A inflação é uma ameaça que não se dissipa, pois a Argentina continua com diversos problemas estruturais, tanto os relevantes quanto os imperdoáveis – como a necessidade de uma reforma tributária geral –, questões que ninguém parece disposto a enfrentar. Victoria Ghiarrizo, titular do Centro de Economia Regional e Experimental (Cerx), também está no grupo dos cautelosos. “O cenários não é bom, as pessoas continuam controlando gastos, e o governo não tem margem para realizar políticas ativas. Por isso, estou menos otimista que o restante.” A analista também questiona a recuperação da demanda externa. Nos mercados globais, diz ela, há uma conduta de especulação

da qual os operadores gostam. É como uma pessoa que vai ao cassino mesmo sabendo que vai perder na maioria das vezes. “A irracionalidade ainda prevalece”, completa. A soja faz parte desse cassino. Apesar de os preços internacionais terem subido recentemente devido à demanda da China e a questões internas dos Estados Unidos, “os fundamentos do mercado da soja são de baixa”, diz Buján. “Parte da alta está relacionada aos fundos que apostaram nas commodities.” A soja é usada para apostas muito arriscadas, que incluem combinações entre ela, o dólar, o euro e o petróleo. “Hoje, o que se vê nesse mercado é um eletrocardiograma. Não são as especulações de longo prazo, como as de outros tempos”, diz Buján. Mesmo com essas ressalvas, o prognóstico de Bein é de uma melhora consistente na economia. “Nosso cenário básico é um crescimento de 4,2%, com 15,5% de inflação. Isso se não houver abertura ao crédito externo”, diz ele. Na caso de haver essa abertura, o economista estima que o crescimento pode ser de até 6%, mas com 17% de inflação.” No entanto, há outros problemas que despontam no horizonte. A atual capacidade ociosa permitirá sustentar a recuperação por 15 ou 18 meses sem a necessidade de investimentos relevantes. E depois? “Na Argentina, a questão institucional é terrível. Isso gera permanentes crises de confiança” diz Victoria. “Além disso, se o país não defender uma reforma tributária, não haverá estratégia viável para nada.” Segundo a analista, “aqui a propensão a sonegar é tão alta que, quando se oferece a possibilidade de sonegar dois pesos que sejam, todos o fazem”, diz ela. E, o que é pior, sentem-se orgulhosos disso.

Isoladamente, a soja pode trazer um crescimento do PIB de

1,7%

Novembro, 2009 AméricaEconomia 59


DEBATES NARCOTRÁFICO

SÓCIOS NO

CRIME

Remanescentes do Sendero Luminoso prosperam na economia ilegal – e crescente – da coca CECILIA NIEZEN, DE LIMA

FUNERAL MILITAR NO PERU: REPRESSÃO ARMADA É APENAS UMA DAS FACETAS DO COMBATE AO NARCOTRÁFICO

O

s mortos-vivos não aparecem apenas nos filmes de Hollywood. O Sendero Luminoso, grupo guerrilheiro de inspiração maoísta que semeou o terror no Peru nos anos 80 e 90 e foi o responsável por milhares de mortes, já não é mais o cadáver que os peruanos imaginavam ter enterrado. No entanto, o Sendero que ressurgiu da tumba é, se possível, pior que sua encarnação anterior. Se antes os radicais saíam do seio de universidades, hoje seus remanescentes se aliaram ao narcotráfico e recrutam sua massa entre os pobres das áreas rurais que dependem do cultivo da coca. O

60 AméricaEconomia Novembro, 2009

novo Sendero mostra que o Peru continua em dívida com a integração e com o desenvolvimento das regiões mais pobres do país. O ressurgimento do Sendero é uma preocupação que vem se intensificando diariamente nos últimos 15 meses. O grupo já assassinou mais de 40 policiais e militares em sucessivas emboscadas na região do vale dos Rios Apurímac e Ene, conhecida como Vrae. Trata-se de uma área montanhosa de difícil acesso, coberta de bosques e o principal centro de produção da folha de coca no Peru. Paralelamente a esse

ressurgimento, os assassinatos por acerto de contas de narcotraficantes em diferentes cidades do país passaram a ser cada vez mais frequentes. Apesar de os dois tipos de violência responderem a lógicas e interesses diferentes, os especialistas concordam em dizer que hoje o Sendero Luminoso e o narcotráfico trabalham mais próximos do que nunca. Fabián Novak, ex-viceministro do Ministério de Defesa do Peru, diz que o crescimento dessa aliança poderia “levar o país a um cenário como o das Farc na Colômbia”, caso não sejam adotadas políticas adequadas.


Fotos AGENCIA ANDINA

ALÁN GARCIA, PRESIDENTE DO PERU: PEDIDOS DE PACIÊNCIA

O sociólogo Jaime Antezana, especialista em segurança interna e narcotráfico, concorda. “Diferentemente dos anos 80, quando o Sendero se relacionava com o tráfico oferecendo apenas segurança à atividade e a seus líderes, hoje o grupo é um ator presente em vários elos da cadeia de produção da coca”, diz. “Inclusive, pode ter se convertido em mais uma empresa do narcotráfico.” Para ele, as autoridades poderiam estar perdendo o controle da situação, e as consequências seriam funestas. “O narcotráfico está gerando um processo de crime organizado muito mais sofisticado do que os que conhecemos.” O presidente Alán Garcia vem pedindo paciência e declarou que os últimos ataques na região do Vrae não representam “nem a décima, nem a centésima parte do que o país viveu na década de 80”. Mesmo assim, os especialistas advertem que o potencial de violência é grande. A economia baseada no cultivo da folha de coca e na produção de cocaína gera uma rede de corrupção que pode corroer as frágeis instituições democráticas peruanas. Em termos econômicos, diz Novak, a lavagem anual de dinheiro é de aproximadamente US$ 5,7 bilhões, valor equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Peru. Para o advogado e especialista em segurança nacional Rubén Vargas, não se pode subestimar o Sendero. “Essa organização nunca foi derrotada militarmente, e sua estrutura militar permaneceu intacta, mesmo que a cúpula dirigente esteja na cadeia desde 1992”, afirma.

Os prováveis 300 homens que operam no Vrae são dissidentes do líder Abigael Guzmán, preso em 1992 e condenado à prisão perpétua, e de sua política de recolhimento das tropas, e defendem a continuidade da luta armada. Violento e fortemente armado, o Sendero Luminoso atual adotou uma estratégia diferente do confronto com a população nos anos 80. Agora, o grupo quer aproximar-se dos camponeses e ganhar sua confiança, por exemplo, “defendendo” os agricultores dos planos do governo de erradicação do cultivo da folha de coca. Se acrescentarmos a esse coquetel um Estado ausente – cifras oficiais indicam 70% de pobreza na zona do Vrae – o potencial de explosão aumenta. Lorenzo Castillo, gerente da Junta Nacional do Café, lamenta que o Estado não tenha uma estratégia de desenvolvimento social para melhorar a vida dos habitantes do Vrae. Castillo conhece bem o problema, pois a Junta representa 44 organizações de cafeicultores, que somam mais de 40 mil famílias produtoras. “A miséria”, diz ele, “é uma forma de alentar a economia ilícita.” Os cafeicultores peruanos, que são milhares de pequenos agricultores, têm conseguido se manter de pé, apesar da situação difícil. Em 2008, as exportações alcançaram US$ 650 milhões. Na região do Vrae, onde o cultivo de café ocupa 10 mil hectares e

emprega 5 mil cafeicultores, a produção estancou por falta de investimento na renovação das plantações. O senso comum diz que, se o governo cortar o oxigênio do narcotráfico, os senderistas também vão morrer asfixiados. A realidade, porém, é bem diferente. A área cultivada com coca cresce sem parar no Peru. Segundo cifras oficiais, o cultivo cresceu de 53,7 mil hectares em 2007 para 56,1 mil hectares em 2008. O ex-vice-ministro Novak faz um cálculo que, se confirmado, aumentará ainda mais as razões para a preocupação. Segundo ele, há regiões onde a economia agrária dedicada ao cultivo de coca – não para sua industrialização em produtos ou mercados ilícitos, mas para o fornecimento ao narcotráfico – representa 28% da economia agrária de Cusco, 47% da de Huánuco e 70% da de Ayacucho. “Isso mostra como está se desenhando não uma simples atividade ilegal, mas toda uma cadeia produtiva bem articulada.” Qual seria a alternativa? Segundo Novak, a solução tem de ser integral. Há a repressão: presença policial e militar, controle da venda de insumos químicos e o ataque à lavagem de dinheiro nos níveis mais altos da rede. Há as campanhas antidrogas. E, principalmente, as autoridades peruanas precisam apostar no desenvolvimento econômico e social na região do Vrae. O Sendero, diz Antezana, não crescerá como cresceu nos anos 80, nas universidades ou entre os estudantes radicalizados. Hoje, ele pode crescer nos vales onde os jovens vão trabalhar como pistoleiros ou como pisadores de coca. “O renascer do Sendero virá na proporção direta das necessidades econômicas das pessoas”, diz Antezana. Mau augúrio.

Lavagem de dinheiro equivale a

6%

do PIB peruano

Novembro, 2009 AméricaEconomia 61


ESPECIAL CLÍNICAS

TURISMO

MÉDICO

A medicina latino-americana surge como paliativo frente à crise do sistema de saúde dos Estados Unidos ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI

V

es Gitchev ainda não tinha se formado em Medicina quando chegou à conclusão de que exercer sua profissão nos Estados Unidos não era um bom negócio. Os custos da prática médica eram muito altos. A remuneração paga pelas grandes seguradoras era muito baixa. Essa combinação significaria muitos anos de trabalho até conquistar o estilo de vida com que sonhava ao começar a estudar Medicina. Por isso, apesar dos esforços para se formar, Gitchev hoje não atende nenhum paciente em seu escritório em Miami. Seu trabalho é levar uma multidão deles para serem consultados por doutores na América Latina. A concorrência é enorme. Nos Estados Unidos, há centenas de empresas e profissionais dedicados ao que se pode chamar de turismo médico. Essa atividade é jovem, mas vem crescendo rapidamente e promete movimentar dezenas de bilhões de dólares em pouco tempo – boa parte deles na América Latina. Gitchev, búlgaro que fez sua residência em Atlanta e na República Dominicana, afirma que os hospitais latino-americanos e de outras regiões podem ser a cura para um mal crônico do sistema de saúde americano, os custos elevados e sempre crescentes, especialmente para os pacientes que não têm plano de saúde. Eles são obrigados a pagar do próprio bolso por tratamentos que podem ser feitos na América Latina a preços até 80% menores. “Começamos a identificar essa tendência como uma alternativa individual para a profunda crise do sistema de saúde nos Estados Unidos. O turismo médico pode não ser uma solução no longo prazo, mas serve como um paliativo, pois permite que pessoas sem acesso a cuidados médicos neste país recebam tratamento”, diz Gitchev, diretor-executivo do Worl-

62 AméricaEconomia Novembro, 2009


dwide Medical Partners, uma das muitas empresas que surgiram nos Estados Unidos e que são conhecidas como “facilitadoras” do turismo médico. Renee-Marie Stephano, presidente da Associação de Turismo Médico dos Estados Unidos, diz que mais de 1,6 milhão de norte-americanos viajarão ao exterior em 2010 para se tratar de alguma doença. “A maioria deve ir para a América Latina,” diz. Isso é só o começo do que pode ser um negócio gigantesco. Segundo cálculos da associação, o turismo médico deve crescer exponencialmente na próxima década. “Cerca de 23 milhões de norte-americanos viajarão ao exterior para se tratar até 2017, gastando cerca US$ 79,5 bilhões por ano, metade na América Latina”, diz Jonathan Edelheit, presidente-executivo da associação. Uma fatia vai para as empresas “facilitadoras”, que servem de intermediárias entre o paciente, o hospital e o médico adequado para atender suas necessidades. Patrick Marsek, diretor geral da MedRetreat, afirma que empresas como a sua têm de garantir que os médicos e hospitais escolhidos sejam capazes de atender às necessidades específicas dos pacientes, muitos dos quais mostram uma inicial e compreensível resistência a viajar para fora do Primeiro Mundo para cuidar de sua saúde. As resistências desaparecem, porém, quando o facilitador demonstra ter feito a pesquisa correta dos diferentes centros para comprovar a qualidade do serviço e dos médicos. Marsek decidiu apostar nesse negócio exatamente por descobrir que havia serviços médicos de alta qualidade no exterior – e candidatos a usálos. “Vi um nicho de mercado, pois os babyboomers estavam envelhecendo e teriam necessidade de cuidados médicos”, diz ele. “O número de pessoas sem seguro-saúde ou com uma cobertura médica inadequada estava crescendo.” Em seus poucos anos de atividade, Marsek viu o número de pessoas sem seguro-saúde crescer de 40 milhões para 48 milhões. “Esses pacientes teriam de cuidar de diversos detalhes, então por que não montar uma empresa que lhes permita fazer isso de forma segura?” Os detalhes são não só o tratamento médico, mas as reservas de passagens de avião e de quartos de hotel e a compra de medicamentos, além de outros insumos que o paciente precisar. Em troca, a empresa fica com uma fatia do custo total a ser pago pelo paciente.

Os hospitais latino-americanos logo perceberam essa oportunidade de negócio. Isabella Stump, porta-voz do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, afirma que o hospital recebe cerca de mil pacientes do exterior todos os anos, muitos deles brasileiros que moram nos Estados Unidos. “O número de pacientes do exterior tem aumentado bastante nos últimos anos, especialmente no caso de procedimentos estéticos”, diz Stump. “O aumento dos preços nos Estados Unidos faz muitos pacientes buscarem centros capazes de realizá-los com qualidade e por valores muito mais baixos.” As perspectivas são tão boas que o hospital está se preparando para fazer mais negócios. O Oswaldo Cruz já começou a construir um novo edifício, com inauguração prevista para 2014, e também está se preparando para receber a certificação do organismo fiscalizador desse serviço nos Estados Unidos, o Joint Commission International, e se filiando à Associação de Turismo Médico dos Estados Unidos. Os procedimentos administrativos estão sendo aperfeiçoados, e o hospital está recrutando pessoal bilíngue para atender à nova clientela. Nem todos são tão confiantes. As grandes seguradoras americanas têm se mostrado resistentes em oferecer apólices que cubram os gastos de uma viagem ao exterior, caso da seguradora Aetna, por exemplo. Christine Erb, porta-voz da empresa, diz que a Aetna só tem um programa piloto com uma companhia que oferece a opção de realizar certos tratamentos ortopédicos fora do país. A causa dessa resistência é o temor sobre o que ocorreria se houvesse algum problema durante o procedimento, já que os médicos da região, em geral, não têm seguros que os protejam contra processos. Nos Estados Unidos, essa cobertura é obrigatória. Seu preço elevado, que pode variar entre US$ 150 mil e US$ 200 mil por ano para cada médico, é um dos motores que alimentam a atual crise do sistema de saúde do país e bloqueia o acesso de milhões de pessoas aos cuidados médicos. Também é um dos motivos que levam as pessoas a procurar tratamentos na América Latina, diz Gitchev. “Como pagam caro pelos seguros, os médicos têm de atender de 30 a 50 pacientes por dia para cobrir seus custos. E se o paciente só pode ter uma ou duas consultas antes de se submeter a uma cirurgia, o que pensar da qualidade do serviço?”

1,6

milhão de americanos viajarão para se tratar em 2010

Novembro, 2009 AméricaEconomia 63


ESPECIAL CLÍNICAS Pela primeira vez, clínicas e hospitais da América Latina nos apresentam detalhes de sua gestão. O resultado? Sua qualidade está em perfeita saúde ANDRÉS ALMEIDA FARGA, DE SANTIAGO

N

CHECK UP NA

SAÚDE 64 AméricaEconomia Novembro, 2009

as salas de embarque dos aeroportos norteamericanos é cada vez mais frequente a presença de um novo tipo de viajante: aquele que vai para outro país em busca de um tratamento médico que seja diferente dos que são oferecidos nos Estados Unidos, ou seja, caiba em seu bolso. Muitos percorrem milhares de quilômetros até hospitais e clínicas na Ásia e na Europa Oriental. A América Latina ainda não se tornou um destino preferencial. As grandes clínicas e hospitais da região ainda não têm atraído muitos pacientes, tanto dos Estados Unidos quanto do resto do mundo, mas as perspectivas são boas. Um dos motivos é o desconhecimento. Ainda se sabe muito pouco sobre os centros médicos da região. Quando se fala em saúde na América Latina, as imagens que vêm à mente de muitas pessoas no Primeiro Mundo são dengue ou malária, não instituições de alto padrão. Por isso, AméricaEconomía Intelligence impôs-se o desafio de conhecer melhor os grandes hospitais da região e seus pontos fortes em gestão, qualidade do corpo médico e serviços aos pacientes. O resultado desse esforço está em suas mãos. Durante meses, trabalhamos com um comitê de especialistas (ver página 71) para desenvolver uma metodologia que permitisse avaliar a qualidade dos centros médicos, especificamente aqueles que se classificam como polivalentes – que atendem várias especialidades médicas – ou de alta complexidade. O primeiro passo foi reunir informações fornecidas pelos Ministérios da Saúde de dez países latinos e por outras instituições internacionais. Cerca de 180 hospitais e clínicas de toda a região foram convidados a participar. Muitos se recusaram a fazer parte da pesquisa, especialmente os do México, devido à epidemia de gripe do tipo A (H1N1).


DE OLHO NO DNA

% de instituições que possuem departamentos de genética Fonte AméricaEconomía Intelligence

Públicos

58

% Privados

34 8

Universitários

O grupo que aceitou participar, porém, fez valer nosso esforço. As clínicas abriram suas portas e conversaram detalhadamente com nossos pesquisadores. Com isso, chegamos à lista das 20 que apresentaram os melhores resultados, lideradas pelo Hospital Albert Einstein, de São Paulo, e seguido pela Clínica Alemana, de Santiago do Chile, em uma relação que inclui hospitais e clínicas privados, universitários e públicos de Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, México, Uruguai e Venezuela. Cada instituição foi avaliada sob diferentes aspectos. O primeiro foi a segurança hospitalar, definida como a capacidade da instituição de minimizar os riscos. Para medi-la, foram solicitados indicadores como infecção hospitalar. O índice médio entre os hospitais certificados por instituições importantes, como a International Joint Commission ou a International Society for Quality in Health Care, é de 5,2%. A segurança não se mede só por resultados. Também são relevantes os processos para diminuir riscos. Por isso, também se avaliou a existência de procedimentos como registros, gestão e transparência de informações médicas e percepção dos pacientes (como as pesquisas de satisfação), aplicação sistemática de boas práticas e disponibilidade de profissionais nos turnos de emergências. Ainda se observou a presença e a frequência de reuniões dos Comitês de Ética, já que tais entidades são responsáveis por zelar pela dignidade dos pacientes. O segundo aspecto analisado para cada hospital foi o fator humano. Muitos pacientes escolhem o médico antes do hospital, pois reconhecem a importância do profissional no atendimento de saúde que receberão. Foi por essa razão que AméricaEconomía

Intelligence considerou a formação dos médicos a variável mais importante. Contrariando as previsões, essa informação não estava prontamente disponível na maioria dos hospitais e clínicas. Em muitos casos, foi impossível obter as informações acadêmicas e as especializações dos médicos fi xos. A falta de conhecimento sobre as pessoas que trabalham em uma instituição complexa como os hospitais é uma deficiência geral detectada neste estudo. Isso não significa que os hospitais e as clínicas da América Latina não conheçam seus médicos, mas que a investigação se limita a um padrão mínimo de comprovação de estudo no momento da contratação, sem acompanhamento posterior. O estudo demonstrou que 91,4% dos médicos dos 20 melhores da região têm ao menos uma especialização; 32,4% têm, além da especialização, uma habilidade específica em sua área; e apenas 1,9% tem duas ou mais habilidades específicas. Além disso, 9% dos médicos com habilidades específicas estudaram em renomadas universidades ou centros nos Estados Unidos e na Europa; aqueles que têm duas habilidades específicas somaram 15,7%, e 84% no caso dos que têm três especialidades.

O TAMANHO IMPORTA À medida que um hospital ou uma clínica amplia sua quantidade de pacientes, operações, especialidades e quantidade de exames, ou então inclui unidades como pronto socorro ou neonatologia, sua operação se torna mais complexa. Em termos práticos, isso significa que o hospital precisa redobrar seus esforços

SEMPRE DE PLANTÃO

Enfermeiras disponíveis por leito

4,5

H. SÍRIO-LIBANÊS (BR) H. ALBERT EINSTEIN (BR)

4,3 4,1

P. METROPOLITANA (VE) C. ALEMANA (CL)

3,2

H. MÉDICA SUR (MX)

2,9

SANATORIO AMERICANO (UY)

2,7

H. NOVE DE JULHO (BR)

2,6

H. UNIVERSITARIO AUSTRAL (AR)

2,5

H. ALEMÃO OSWALDO CRUZ (BR)

2,5

H. ALEMÁN (AR)

2,4

Fonte AméricaEconomía Intelligence

0

1

2

3

4

5

Novembro, 2009 AméricaEconomia 65


ESPECIAL CLÍNICAS Ano de Fundação

Principal Certificação Internacional

PI%***

Nº Altas

Médicos

RK 09

Hospital ou clínica

País

Cidade

Tipo de Hospital

1

HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

.br

São Paulo

Privado

1971

JCI

6.000

8*

18.400* 86.000

2

CLÍNICA ALEMANA

.cl

Santiago

Privado

1905

JCI

671

33,2

23.713

3

HOSPITAL DAS CLÍNICAS

.br

São Paulo

Universitário

1944

ISO

1.400

61,3*

86.000* 352.000

4

HOSPITAL UNIVERSITARIO AUSTRAL

.ar

Buenos Aires

Universitário

2000

JCI

528

39,39

8.057

5

HOSPITAL CLÍNICA BÍBLICA

.cr

San José

Privado

1929

JCI

170

68,82

8.841** 26.907

6

HOSPITAL PABLO TOBÓN URIBE

.co

Medellín

Privado

1970

ISQUA

271

52,77

11.293

51.023

7

HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ

.br

São Paulo

Privado

1897

JCI

52

3,85

17.038

72.000

8

SANATORIO AMERICANO

.uy

Montevidéu

Privado

1944

282

95,39

7.572

8.083

Construídos

129.343 20.000

9

HOSPITAL ALEMÁN

.ar

Buenos Aires

Privado

1867

JCI

514

100,00 12.732

28.000

10

HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS

.br

São Paulo

Privado

1921

JCI

2.755

5,08

14.524

99.990

11

HOSPITAL CLÍNICO U. DE CHILE

.cl

Santiago

Universitário

1952

587

43,95

24.542

55.420

12

HOSPITAL DEL TRABAJADOR

.cl

Santiago

Privado

1971

ISO

170

40,59

8.534

53.840

13

HOSP. UNIVERSITARIO SAN IGNACIO

.co

Bogotá

Universitário

1944

267

73,41

21.470

28.000

14

HOSPITAL MEDICASUR

.mx

C. do México

Privado

1983

ISO

900

20,00

15.542

90.418

15

HOSP. SÃO VICENTE DE PAULO

.br

Rio de Janeiro

Privado

1968

JCI

357

96,36

4.415** 26.503

16

FUNDACIÓN VALLE DEL LILI

.co

Cali

Universitário

1982

ISQUA

269

88,48

14.399

17

CLÍNICA DEL OCCIDENTE

.co

Bogotá

Privado

1982

ISQUA

182

20,34

11.588

1.100

18

POLICLÍNICA METROPOLITANA

.ve

Caracas

Privado

1970

219

12.463

56.000

19

HOSP. GENERAL DE MEDELLÍN

.co

Medellín

Público

1949

ISQUA

205

66,30

17.399

42.789

20

HOSP. SAN RAFAEL DE ALAJUELA

.cr

San José

Público

1883

130

77,86

15.278

39.375

43.600

IJC = International Joint Commission / ISO = International Organization for Standardization / ISQUA = International Society for Quality in Health Care

para manter seus padrões gerais de qualidade. Por isso, este estudo incluiu o aspecto Capacidade, que permite ponderar a complexidade dessas instituições. Se uma clínica consegue manter um bom nível com maior complexidade, seus processos são melhores que a média. Também se mediu a capacidade de atendimento dos hospitais, calculando as relações entre a quantidade de médicos e pacientes ambulatoriais, e entre enfermeiras e pacientes ambulatoriais. Foi incluída ainda uma série de serviços extras oferecidos pelos hospitais – em geral sua hotelaria –, que representam a capacidade de gerar conforto aos pacientes e acompanhantes, fator igualmente importante no turismo médico. Outra dimensão fundamental da qualidade hospitalar é a gestão do conhecimento. As fronteiras da medicina avançam velozmente, o que obriga hospitais e clínicas a se atualizarem constantemente. Não apenas isso: muitos dos avanços médicos, tanto no que se refere a diagnósticos quanto a tratamentos,

66 AméricaEconomia Novembro, 2009

nascem nos hospitais. Esse aspecto avalia as contribuições do conhecimento de cada hospital ou clínica (de acordo com o critério de papers ISI - Institute for Scientific Information), bem como a existência de ferramentas e meios de difusão e atualização de conhecimentos para seu pessoal. Por exemplo, consultou-se a quantidade de títulos e assinaturas de revistas especializadas nas bibliotecas dos hospitais. Nos 20 melhores hospitais e clínicas, a média de títulos por biblioteca é de 1.664 e a de assinaturas é de 1.022. Não é o padrão. Inúmeros hospitais não têm bibliotecas nem ferramentas de atualização de conhecimentos. Alguns sequer oferecem e-mail ou internet para seus profissionais, usando provedores gratuitos, como Hotmail, Gmail ou Yahoo.

A SAÚDE TEM PREÇO, SIM Observou-se também a eficiência hospitalar, que é a adequação correta entre o custo de um atendimento médico e sua qualidade. Isso é um grande problema, demonstrado em casos como o de uma paciente que


Nº Leitos 2008

Ocupação de Leitos

Segurança

Capital Humano

Capacidade

Gestão do Conhecimento

Eficiência

Prestígio

Índice de qualidade

Página na Internet (www.)

RK 09

500

80%

96,7

88,8

66,1

64,7

58,2

100,0

82,5

einstein.br

1

317

72%

78,7

99,4

48,1

54,5

68,6

85,6

75,6

alemana.cl

2

2.177

80%

55,5

82,9

81,4

79,7

56,4

78,2

74,0

hcnet.usp.br

3

109

89%

54,6

77,4

43,0

58,1

52,5

66,6

61,1

hospitalaustral.edu.ar

4

110

55%

76,4

80,3

36,1

3,8

88,6

66,6

60,2

hospitalclinicabiblica.com

5

286

88%

77,0

58,4

46,8

41,0

48,8

66,6

59,3

hptu.org.co

6

273

80%

70,9

48,3

41,5

55,0

57,5

67,8

58,9

hospitalalemao.org.br

7

148

69%

58,0

84,9

26,1

45,0

57,9

63,0

58,3

americano.com.uy

8

160

80%

69,5

90,0

35,7

29,3

29,6

51,8

56,5

hospitalaleman.com

9

292

83%

65,3

54,0

65,5

28,7

30,9

55,5

53,9

hospitalsiriolibanes.org.br

10

607

64%

55,2

64,4

38,7

57,5

65,5

29,1

53,6

redclinica.cl

11

222

75%

58,0

72,9

32,8

55,3

70,0

17,6

53,2

hts.cl

12

301

92%

56,9

52,2

42,0

69,3

66,6

27,8

53,1

husi.org.co

13

170

65%

54,3

62,0

36,6

45,8

80,0

33,3

52,7

medicasur.com.mx

14

114

82%

79,4

66,5

38,9

30,6

43,7

8,3

49,3

hsvp.org.br

15

295

91%

61,5

43,2

41,4

47,9

34,2

36,1

47,0

valledelili.org.co

16

158

89%

66,5

50,5

39,1

3,8

100,0

12,4

45,3

clinicadeloccidente.com

17

136

79%

46,4

56,1

36,4

14,2

57,3

49,9

44,6

policlinicametropolitana.com.ve 18

418

91%

53,9

51,7

20,9

40,2

87,4

9,7

44,1

hgm.gov.co

19

238

90%

51,3

67,4

32,7

30,1

49,9

7,3

42,6

ccss.sa.cr

20

* Dados estimados por AméricaEconomía Intelligence / ** Altas cirúrgicas / *** Período Integral (mais de seis horas diárias)

chegou a uma clínica chilena com dor de cabeça e, após tratamentos que custaram mais de US$ 3 mil, recebeu a recomendação de voltar para casa e tomar uma aspirina, sem qualquer recomendação adicional do médico que a atendeu. Não é fácil medir eficiência. O problema está na dificuldade do setor médico em gerar padrões que permitam estabelecer uma correlação aceitável entre a racionalização de recursos e a qualidade mínima exigida no atendimento médico. Por isso, foram usadas variáveis muito básicas que, embora não permitam diferenciar a complexidade dos casos atendidos em cada hospital, ao menos fornecem números globais. Os custos médios por paciente ambulatorial entre as 20 instituições deste ranking é de US$ 1.900. A taxa de ocupação de leitos é de 79,5% e a média anual de cirurgias por sala é 1.213. Foram incluídos também indicadores de desenvolvimento digital e implementação de boas práticas de gestão. Os hospitais e clínicas – pelo menos os privados – também são empresas. Nesse sentido, foram obti-

dos dados financeiros que permitem uma avaliação de sua rentabilidade. A rentabilidade patrimonial média (ROE) dos 20 hospitais deste ranking é de 13,5%, enquanto a rentabilidade sobre ativos (ROA) é de 6,8%. A última dimensão usada foi a percepção de qualidade e a reputação das instituições, medida por meio de uma pesquisa aplicada a 700 médicos de todos os países onde foi realizada a pesquisa, que opinaram sobre a qualidade de 180 instituições que compõem o sistema terciário de atendimento de saúde e foram incluídas na pré-seleção. Chile, Brasil e Argentina foram os de maior destaque. Da ponderação do fator nacional e regional, mais o “fator país”, surgiu o indicador de prestígio deste ranking, que definiu o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, como o 1º colocado, seguido pela Clínica Alemana, de Santiago, o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, ambos na capital paulista. Também obtiveram altas pontuações o Hospital Universitario Novembro, 2009 AméricaEconomia 67


ESPECIAL CLÍNICAS CUIDANDO DO CORAÇÃO

SÓ PARA ELAS

Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)

Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)

% de cirurgias cardiovasculares do total de intervenções cirúrgicas

% de cirurgias ginecológicas do total de intervenções cirúrgicas

H. NOVE DE JULHO (BR)

18,2

H. PASTEUR (BR)

12,6

C. INDISA (CL)

24,0

C. RICARDO PALMA (PE)

14,6

C. LEÓN XIII (CO)

28,9

H. GENERAL DE MEDELLÍN (CO)

20,3

SANATORIO AMERICANO (UY)

10,9

H. SAN RAFAEL DE ALAJUELA (CR)

18,0

6,4

C. INDISA (CL)

17,7

H. BANDEIRANTES (BR)

6,3

P. METROPOLITANA (VE)

16,4

H. BRASÍLIA (BR)

6,1

C. BÍBLICA (CR)

16,1

H. SAN JUAN DE DIOS (CL)

F. VALLE DEL LILI (CO)

5,2

C. ALEMANA TEMUCO (CL)

0

12,3

H. CLÍNICO U. DE CHILE (CL)

3,4

H. CLÍNICAS CARACAS (VE)

15,9

C. INTERNACIONAL (PE)

4,7

H. DE CLÍNICAS CARACAS (VE) 5

10

15

20

25

10,7 0

Austral, de Buenos Aires; a Clínica Bíblica de San José, da Costa Rica; e o Hospital Pablo Tobón Uribe, da Colômbia. Também receberam altas pontuações clínicas e hospitais que não puderam participar. Foi o caso do Hospital Italiano e da Fundación Favarolo, ambos na Argentina, assim como e da Clínica Las Condes, de Santiago, que desfrutam de uma sólida reputação em seus países e na região.

O EIXO BRASIL - CHILE - COLÔMBIA Os países em que a pesquisa despertou mais entusiasmo são os que têm melhores processos de certificação. O Brasil está um passo à frente. Seus melhores hospitais foram acreditados pela Joint Commission International (JCI), uma entidade exigente que certifica, em nível mundial, a segurança e a gestão. Nove dos melhores hospitais e clínicas deste ranking têm

5

10

SINAPSES A TODO VAPOR

Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)

Fonte AméricaEconomía Intelligence (considera 33 hospitais da amostra)

66,5

H. DEL TRABAJADOR (CL) 46,4

5,7

38,4

C. INDISA (CL)

5,6

H. PASTEUR (BR)

37,9

H. NOVE DE JULHO (BR)

5,5

F. VALLE DEL LILI (CO)

23,8

4,9

H. UNIVERSITARIO SAN IGNACIO (CO)

21,9

H. UNIVERSITARIO SAN IGNACIO (CO)

4,3

H. GENERAL DE MEDELLÍN (CO)

21,2

SANATORIO AMERICANO (UY)

4,2

H. BANDEIRANTES (BR)

4,2

C. RICARDO PALMA (PE)

17,5

H. BRASÍLIA (BR)

4,1

H. UNIVERSITARIO AUSTRAL (AR)

16,4

H. CLÍNICO U. DE CHILE (CL)

19,9

0

10

20

30

68 AméricaEconomia Novembro, 2009

30

8,3

H. PASTEUR (BR) H. GENERAL DE MEDELLÍN (CO)

H. ALEMÁN (AR)

F. VALLE DEL LILI (CO)

25

% de neurocirurgias no total de intervenções cirúrgicas

% de cirurgias ortopédicas no total de intervenções cirúrgicas

H. ALEMÃO OSWALDO CRUZ (BR)

20

esse selo, inclusive o número 1, o Hospital Albert Einstein, que conta com a certificação JCI desde 1999, sendo a primeira instituição a recebê-la fora dos Estados Unidos e da Europa. No Chile, destacam-se a Clínica Alemana (2º), que exibe a JCI há pouco tempo, o Hospital Clínico de la Universidad de Chile (11º) e o Hospital del Trabajador (12º). Parte da motivação das entidades hospitalares chilenas nasce do processo de certificação nacional pelo qual está passando todo o setor público e parte do privado. A necessidade de certificação obrigou os hospitais a divulgar seus dados e muitos tiveram de levantá-los pela primeira vez. O caso da Colômbia é semelhante. O país se encontra em pleno processo nacional de certificação, e percebe-se nele uma ansiedade em comparar dados e comemorar vitórias. Daí os bons lugares alcança-

SEM TEMER AS QUEDAS

SANATORIO AMERICANO (UY)

15

40

50

60

70

80

3,8 0

2

4

6

8

10


O FATOR PAÍS

Nota média do sistema de saúde de cada país segundo médicos da América Latina Fonte AméricaEconomía Intelligence

VENEZUELA

5,72 5,48

PERU

CUBA

6,21 6,20

URUGUAI

COSTA RICA

AMÉRICA LATINA

6,91 6,74 6,55

COLÔMBIA

ARGENTINA

7,36 7,21

MÉXICO

BRASIL

7,90 7,88

CHILE

dos por três hospitais colombianos: o Hospital Pablo Tobón Uribe (6º), o Hospital Universitario San Ignacio (13º) e a Fundación Valle del Lili (16º). Guardadas as devidas proporções, também se destacaram Costa Rica e Uruguai, países pequenos e, consequentemente, com poucos hospitais e clínicas animados a participar, mas com grande potencial de estabelecer nomes como operadores de qualidade internacional. A Costa Rica já o fez, em particular através da Clínica Bíblica (5º). O Uruguai pode consegui-lo através do desenvolvimento de entidades como o Sanatorio Americano (8º). Casos à parte são o colombiano Hospital General de Medellín (19º) e o costarriquenho Hospital de Alajuela (20º), os únicos hospitais públicos incluídos neste ranking. Eles se destacam por terem aceitado ser comparados com o setor privado e com os hospitais universitários, que reconhecidamente têm objetivos diferentes e, portanto, modos de gestão orientados à eficiência sob outros parâmetros. Apesar disso, exibiram indicadores melhores do que várias entidades privadas que não alcançaram o grupo dos 20 primeiros colocados no ranking.


ESPECIAL CLÍNICAS BRASIL: DOMÍNIO PAULISTANO

Pesquisa com médicos brasileiros sobre prestígio dos hospitais em seu país

HOSPITAL OU CLÍNICA

%

1

Hospital Alemão Oswaldo Cruz

25,1

2

Hospital Albert Einstein

21,1

3

Hospital Sírio- Libanês

16,5

4

Hospital São Luiz

8,2

5

Hospital das Clínicas São Paulo

4,4 Fonte AméricaEconomía Intelligence

CHILE: PRIVADOS VERSUS UNIVERSITÁRIOS

Pesquisa com médicos chilenos sobre prestígio dos hospitais em seu país

HOSPITAL OU CLÍNICA

%

1

Clínica Alemana

26,7

2

Hospital Clínico UC

18,2

3

Clínica Las Condes

17,7

4

Clínica Indisa

10,6

5

Hospital U. de Chile

A GRIPE A(H1N1) E CUBA A participação foi escassa no México e na Argentina, não pela ausência de boas clínicas, mas porque a medição foi realizada em plena crise da gripe A(H1N1), que levou esses centros ao colapso. Apesar disso, o Hospital Medicasur (14º), do México; o Hospital Universitario Austral (4º) e o Hospital Alemán de Buenos Aires (9º), ambos da Argentina, se predispuseram a participar. Um caso à parte é o de Cuba. O país é famoso pela qualidade de seus médicos e hospitais, e buscamos incluir ao menos uma das instituições mais reconhecidas, o Hermanos Amejeiras. Mas o entusiasmo foi extinto pelo Ministério da Saúde, que ordenou que o hospital não participasse, decisão que esperamos seja revogada até a próxima edição deste estudo. Estes são os primeiros resultados de uma pesquisa inédita, em um setor que ainda está aprendendo a divulgar seus procedimentos. Algo fundamental para os que buscam abrir-se para o mundo. Metodologia disponível em www.americaeconomia.com

7,8 Fonte AméricaEconomía Intelligence

OS ELEMENTOS DA QUALIDADE

Os itens mais relevantes na avaliação dos hospitais, segundo os médicos da América Latina Fonte AméricaEconomía Intelligence (nota máxima = 10)

HOSPITAL OU CLÍNICA

%

1

Hospital Universitario Austral

25,2

2

Hospital Italiano de Buenos Aires

23,4

Limpeza e higiene Equipe médica altamente capacitada Desenvolvimento e aplicação de boas práticas Garantia dos direitos do paciente Excelência profissional da equipe de apoio médico

3

Hospital Alemán

18,3

Tecnologia médica

4

Hospital Británico de Buenos Aires

13,1

Ampla variedade de especialidades médicas

8,91

5

Hospital Universitario Dr. René Favaloro

7,5

Infraestrutura

8,90

Satisfação dos pacientes

8,85

ARGENTINA: COMUNIDADES E UNIVERSIDADES Pesquisa com médicos argentinos sobre prestígio dos hospitais em seu país

9,24 9,24 9,09 9,09 9,04 8,94

Fonte AméricaEconomía Intelligence

Controle de intercorrências Exames de qualidade no próprio hospital

COLÔMBIA: NEM SÓ EM BOGOTÁ

Pesquisa com médicos colombianos sobre prestígio dos hospitais em seu país

HOSPITAL OU CLÍNICA

%

1

Hospital Pablo Tobón Uribe

21,9

2

Fundación Santa Fé de Bogotá

16,2

3

Fundación Valle del Lili

11,9

4

Fundación Hospitalaria San Vicente de Paul

9,7

5

Hospital Universitario San Ignacio

8,8 Fonte AméricaEconomía Intelligence

70 AméricaEconomia Novembro, 2009

8,84 8,70

Eficiência na administração do hospital

8,61

Certificações nacionais

8,47

Existência e funcionamento de comitês de ética Relações do hospital com redes de apoio clínico Certificações internacionais Pesquisa e geração de conhecimento Hotelaria

8,27 8,21 8,15 8,00 7,95


A VOZ DOS ESPECIALISTAS Para desenvolver a metodologia e a estratégia de análise que deu base a este especial, a equipe de AméricaEconomía Intelligence contou com um grupo de profissionais em gestão e qualidade hospitalar. Veja aqui o que esse grupo - do qual ainda participaram Gonzalo Vecina, da Universidade de São Paulo, e Rafael González, da Universidade Nacional Autônoma do México - tem a dizer sobre os desafios deste estudo.

ANA MARIA MALIK FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS “O primeiro passo para uma visão integrada de um sistema de saúde é a possibilidade de estabelecer comparações entre as unidades que o compõem. Claro que aqui não se trata do sistema de saúde como um todo, mas de hospitais tidos como referência em alguns países. Neste momento, não se consegue dispor de comparações definitivas. No entanto, o conhecimento desses dados oferece pistas sobre qual o caminho a ser seguido e cria pontes para o diálogo. Saber se os hospitais são comparáveis e o que os torna únicos ajuda a ter uma visão de conjunto. A América Latina é muito grande e heterogênea, mas tem aspectos que a unem. Como membro de algumas associações latinas, posso dizer o quanto nos enriquece dispor de uma visão de conjunto, tanto para ver semelhanças como diferenças.”

GABRIEL BASTÍAS UNIVERSIDADE CATÓLICA DO CHILE “Entre as metodologias utilizadas para monitorar o desempenho hospitalar, temos a construção de uma lista classificatória dos hospitais. No entanto, é necessário ter certa cautela em sua aplicação, pois as listas classificatórias não permitem identificar as causas de determinados comportamentos, trazendo consigo apenas uma evidência parcial para a melhoria do desempenho. Há também controvérsias na área técnica e na gerencial. A discussão gira em torno de saber se os dados disponíveis permitem comparações, se é possível realizar ajustes adequados em função da gravidade dos atendimentos, se os números comprometidos são suficientes para tirar conclusões e se os dados são adequadamente controlados pelas características dos pacientes. As reais diferenças de gravidade dos casos são difíceis de medir e alguns estudos de-

monstraram que ajustes mais rigorosos dos dados poderiam produzir mudanças significativas em tais listas de classificação.”

RODOLFO QUIRÓS UNIVERSIDADE CATÓLICA ARGENTINA “Ultimamente, vem ganhando importância o conceito de segurança no atendimento ao paciente, sendo que os esforços da OMS e da Comissão Conjunta Internacional têm sido gerar protocolos de segurança para reduzir a ocorrência de eventos adversos. Esse monitoramento requer, ainda, a possibilidade de que sejam estabelecidas comparações válidas entre os indicadores, tanto com padrões locais como internacionais. No entanto, é difícil desenvolver comparações amplamente validadas, já que muitas variáveis poderão representar elementos determinantes dos resultados observados. Não basta apenas compreender que a gravidade dos pacientes pode variar de uma instituição para outra (as instituições de maior complexidade costumam dar mais atenção aos pacientes mais graves). É preciso entender que os indicadores podem mostrar piores resultados nas instituições de maior complexidade, sem que isso signifique pior atendimento. Para evitar cair nesse tipo de contradição, poderíamos prescindir inicialmente da comparação de resultados, para avançarmos na comparação dos processos. Nesse sentido, é possível que melhores processos possam garantir melhores resultados. O futuro caminha nessa direção, com foco na análise e na melhora contínua dos processos, mais do que nos próprios resultados”.

MARCOS VERGARA UNIVERSIDADE DO CHILE “Em matéria de gestão de organizações, a comparação é salutar. Conhecer e compartilhar melhores práticas é um requisito indispensável para um bom comportamento

empresarial em ambientes competitivos. Os hospitais não são exceção, embora sua trajetória no mundo da gestão seja recente e tenha se limitado a importar o desenvolvido nos últimos 60 anos. No entanto, quando comparamos hospitais devemos adotar certas precauções. O consumo de serviços hospitalares representa um risco não existente em outras atividades. Um hospital atende três clientes: o paciente, o médico e as seguradoras. A ingerência do Estado na gestão dos hospitais tem sido mais importante do que em outras áreas, configurando ambientes pouco competitivos. E, por último, a influência das indústrias farmacêutica e de tecnologia, cujo aparato de marketing instala na mente do consumidor – e na dos médicos– padrões através dos quais os serviços são avaliados.”

GERMÁN GONZÁLEZ UNIVERSIDADE DE ANTIOQUIA “Não devemos confundir saúde com não estar doente. A saúde é entendida hoje como um estado influenciado pela biologia humana, pelo meio ambiente, pelo estilo de vida, pelas condutas de saúde, bem como pelos sistemas de assistência sanitária. Portanto, devemos reconhecer as grandes limitações a que estamos sujeitos, dada a diversidade dos contextos. Neste estudo, buscou-se oferecer uma visão de instituições hospitalares que apresentem alto nível de complexidade, mas que ainda não constituem uma amostra representativa do contexto geral dos países latinoamericanos. O que se pretendeu foi dar início a um processo que permita fomentar a qualidade do atendimento hospitalar na América Latina, esperando que, com o tempo, possamos transformá-lo em um instrumento para incrementar um atendimento humanizado de boa qualidade, com o melhor pessoal e com a tecnologia mais econômica disponível.” Novembro, 2009 AméricaEconomia 71


ESPECIAL EDUCAÇÃO EXECUTIVA

CEOs PELOS A LUTA

DANIELA GONZÁLEZ E EVELYN QUEZADA, DE SANTIAGO

As escolas de negócios buscam levar seus programas de educação executiva ao topo do organograma empresarial

O

bserve o presidente de sua empresa. Você pode achar que ele não tem mais nada a aprender. E ele talvez ache que não tem tempo para frequentar uma sala de aula entre tantas reuniões, apresentações da diretoria, trabalho de campo e partidas de golfe. Nem todos os CEOs, ou Chief Executive Officers, pensam assim. Pergunte, por exemplo, a Patricio Lira, diretor do TS Group, o que ele pensa do Programa Internacional de Diretoria (Piad), da Universidade Adolfo Ibáñez, no Chile. “O Piad permitiu que eu me relacionasse e compartilhasse experiências com executivos e culturas empresariais locais, nacionais e internacionais, e ampliasse nossa rede de contatos.” Como Lira, há um crescente grupo de executivos no topo do organograma voltando às aulas. Atendêlos não é uma tarefa fácil para as escolas de negócios.

Os CEOs são um público exigente, que busca o que há de mais inovador e avançado em matéria de conhecimento. Os programas de diretoria tornaram-se um dos espaços mais competitivos entre aqueles que aspiram formar executivos. E é um dos segmentos que mais crescem: há três anos, apenas 12,5% das escolas tinham programas dedicados à diretoria das empresas. Hoje são 18,2%. Essa é uma das conclusões desta nova edição do ranking de Educação Executiva, elaborado pela AméricaEconomía Intelligence todos os anos para orientar as empresas que investem muito dinheiro na formação de seus quadros gerenciais. Este ano, o primeiro lugar ficou pela primeira vez com uma universidade chilena, a Adolfo Ibáñez, que confirmou a escalada que vinha realizando. Supera por pouco

O QUE A DIRETORIA BUSCA?

O QUE OS GERENTES BUSCAM?

Percentual de cursos, por áreas, dirigidos a esse grupo

Percentual de cursos, por áreas, dirigidos a esse grupo Estratégia

Fonte AméricaEconomía Intelligence

Fonte AméricaEconomía Intelligence

Finanças

Estratégia

31,1

16,5

15,5 Liderança

16,9

% Finanças

8,6

2,6 3,6

7,8 7,6

Marketing Recursos Humanos

Outras áreas

11,1

5,9

5,1

Empreendimento Operações

Inovação Economia

72 AméricaEconomia Novembro, 2009

Liderança

Marketing

14,8

Outras áreas

9,3

%

3,6

Empreendimento

3,7

12,3 5,5 10,7 Recursos Humanos

8,2 Operações

Economia Inovação


O QUE OS PROFISSIONAIS BUSCAM?

PESQUISANDO PREÇOS?

Percentual de cursos, por áreas, dirigidos a esse grupo

Valores em US$, por segmento/hora

Fonte AméricaEconomía Intelligence

Fonte AméricaEconomía Intelligence

14,7

11,7

%

2,6 2,9 4,1

13,3 Liderança

4.839

16,1

15,1

Estratégia

Valor máximo Valor médio Valor mínimo

Finanças

Marketing

10,9 Recursos Humanos

8,6

2.762

Outras áreas

2.561

Economia Empreendimento

Inovação Operações

a brasileira Fundação Dom Cabral, que subiu do 4º lugar em 2008 para o 2º este ano. As escolas são avaliadas por quatro critérios (veja quadro à página 76). Durante a pesquisa, grande parte das escolas informou que seus principais esforços visavam criar cursos para executivos. O desafio está em abordar as empresas de forma estratégica, dando ênfase a temas como liderança, desenvolvimento de novos negócios, empreendimento e inovação. A tradicional IAE Business School, da Argentina, mostra isso. “Trata-se de um processo de crescimento pessoal que estimula novas ações para guiar a mudança”, diz José María Corrales, diretor de Formação de Executivos. Tudo aponta para a formação de diretores com novas capacidades de gestão. Nesse sentido, o papel dos professores é fundamental. Na faculdade Kellogg, da Northwestern University (EUA), que registra um dos maiores índices de participação de executivos em suas aulas, os cursos dedicados a esse segmento são ministrados por membros sênior de seu corpo docente. “Esses programas são importantes porque garantem mudanças, já que a diretoria é quem lidera esse processo e as transfere ao ambiente de trabalho”, afi rma Rafael Carrasco, diretor do Centro de Educação Executiva da Universidade Adolfo Ibáñez. “Hoje é preciso influenciar não apenas em conhecimentos e habilidades, mas também em atitudes. É um processo que deve ser muito bem planejado e que depende da habilidade de nossos professores em serem considerados referências, e não apenas fontes de informação”, destaca Percy Marquina, diretor de Educação Executiva da Centrum, no Peru.

1.110

811 330

269 Alta Direção

Gerência

977

749 170 Profissionais

517

129

Operações

DESDE O INTERIOR A autonomia e a personalização dos programas é outro ponto de destaque. As escolas pesquisadas mostram grande preocupação em atender às necessidades das empresas. Para elas, a etapa de diagnóstico é primordial, já que é a essência de uma universidade corporativa: alinhar totalmente o aprendizado aos objetivos da organização. Para a argentina IAE, o importante é “ser uma parceira estratégica das empresas: procuramos criar os programas sob medida, tendo em mente que existe uma nova realidade”, assinala José María Corrales. A forte concorrência que existe na região no mercado de educação corporativa é o principal desafio a ser enfrentado pelas escolas. A ênfase está em oferecer um produto diferenciado. “Para acertar na configuração de um programa, é muito importante conhecer bem a empresa cliente, as melhores práticas de seu setor e as tendências do mercado no qual atua”, afirma Josep Valor, vice-reitor adjunto do Iese, escola de negócios da Universidade de Navarra, na Espanha. “Conseguir bom entendimento, tanto da realidade da empresa quanto dos participantes do programa, e os objetivos específicos buscados no curso, permitem realizar uma atividade de sucesso do ponto de vista da empresa”, afirma Patricio Donoso, diretor do Centro de Desenvolvimento Diretivo da Escola de Administração da PUC no Chile. Os programas de universidades corporativas também exigem que escolas diferentes se alinhem. Este é o caso do Advanced Management Program, desenvolvido para a farmacêutica suíça Novartis, no qual a coordenação acadêmica fica a cargo da norteNovembro, 2009 AméricaEconomia 73


ESPECIAL EDUCAÇÃO EXECUTIVA

RK 09

RK 08

Escola

País

1

2

U. ADOLFO IBÁÑEZ

.cl

Cobertura de clientes

Robustez da oferta

Empresas

**Percentual de cursos

*Nº Clientes Nº Programas Pequenas Médias Grandes

62

213

0,0%

7,4%

92,6%

Índice

94,3

AD

GER

PRO

OP

23,6

40,8

29,3

6,4

2

4

FDC

.br

156

440

2,0%

3,3%

94,7%

92,1

24,8

48,2

19,7

7,3

3

1

IAE U. AUSTRAL

.ar

486

251

44,9%

24,4%

30,7%

100,0

18,8

54,3

19,7

7,2

4

8

PUC CHILE

.cl

80

172

5,1%

17,9%

76,9%

80,9

21,4

50,0

20,6

7,9

5

9

U. DE SAN ANDRÉS

.ar

75

94

0,0%

20,5%

79,5%

86,6

23,0

46,6

21,1

9,3

6

3

ITAM

.mx

124

486

5,4%

20,3%

74,3%

93,8

14,3

75,3

8,1

2,3

7

7

INSTITUTO DE EMPRESA

.es

72

183

0,0%

55,3%

44,7%

74,2

17,1

37,9

40,3

4,7

8

13

KELLOGG

.us

10

401

0,0%

0,0%

100,0% 76,8

29,3

45,7

16,4

8,6

9

16

U. TORCUATO DI TELLA

.ar

55

43

1,8%

62,5%

35,7%

77,6

19,4

51,2

21,7

7,8

10

10

ESADE

.es

25

57

4,0%

8,0%

88,0%

85,0

24,8

47,3

18,6

9,3

11

5

UNIANDES

.co

27

175

0,0%

20,0%

80,0%

77,2

22,0

62,4

10,7

4,9

12

19

ESIC

.es

39

649

0,0%

12,8%

87,2%

83,5

21,1

52,2

22,7

4,0

13

12

IESE

.es

53

329

2,4%

11,9%

85,7%

61,6

35,8

44,0

12,8

7,4

14

14

CENTRUM

.pe

149

1.238

22,0%

23,4%

54,6%

59,2

17,0

53,8

28,2

1,1

15

15

IBMEC SP

.br

29

180

10,3%

0,0%

89,7%

82,8

21,6

48,3

21,6

8,6

16

6

IESA

. ve

28

597

3,4%

37,9%

58,6%

65,5

13,4

48,8

31,9

5,9

17

18

U. DEL PACÍFICO

.pe

70

168

0,0%

0,0%

100,0% 75,2

37,9

29,2

27,7

5,1

18

11

ESAN

.pe

256

928

13,8%

50,4%

35,8%

71,3

6,0

33,9

58,6

1,5

19

21

ADEN

.ar

69

435

10,4%

50,7%

38,8%

53,3

11,6

57,9

27,7

2,8

20

U. ANÁHUAC NORTE

.mx

15

90

18,2%

27,3%

54,5%

54,9

24,6

50,0

17,5

7,9

21

17

U. DEL DESARROLLO

.cl

41

171

13,8%

55,2%

31,0%

52,5

12,8

26,9

55,9

4,4

22

22

IDE

.ec

20

69

5,0%

45,0%

50,0%

54,7

16,0

39,1

38,5

6,4

23

U. DEL ROSARIO

.co

12

205

85,9%

7,0%

7,0%

50,1

25,0

43,1

25,0

6,9

24

23

IEDE

.cl

37

73

5,4%

13,5%

81,1%

50,5

31,1

44,5

16,0

8,4

25

26

U. AMERICANA

.py

11

11

N.D.

N.D.

N.D.

44,2

23,0

46,9

19,5

10,6

26

U. SAN FRANCISCO

.ec

7

25

16,7%

50,0%

33,3%

44,3

20,5

47,9

22,2

9,4

* Nº de clientes declarados em relação ao tempo de relacionamento com a escola. **AD = Alta Diretoria; GER = Gerência; PRO = Profissionais e OP = Operacionais

americana FIU, enquanto os módulos para a América Latina ficam a cargo da UAI, do Chile; do Itam, no México; e da Uniandes, na Colômbia; entre outras. Para enfrentar um cenário comercial em mutação, essa oferta internacional também se diversifica. Exemplo disso é o programa Brics on Brics, desenvolvido pela Fundação Dom Cabral (FDC) juntamente com a School of Management da Fudan University (China), a Indian School of Business (Índia) e a Moscow School of Management – Skoljovo (Rússia), para apresentar aos executivos as particularidades dessas economias que, juntas, representam 40% do crescimento econômico mundial. “A relevância de um programa como esse vai ao encontro de uma necessidade de também fortaceler

74 AméricaEconomia Novembro, 2009

a própria rede internacional de nossa escola”, diz Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da FDC e diretor executivo do recém-criado Conselho Consultivo Internacional, do qual fazem parte presidentes e CEOs de empresas como o Grupo Los Grobo (Argentina), Rio Tinto (Austrália) e a Odebrecht (Brasil). As escolas desenvolveram metodologias inovadoras, que englobam cada uma das etapas do ciclo de gestão de formação de executivos, como no caso da chilena Adolfo Ibáñez que, com seu ciclo de diagnóstico, concepção, realização e avaliação, conseguiu o primeiro lugar no ranking, também em função de sua internacionalização, que aos poucos se consolida no campus de Miami.


Cobertura de clientes

Robustez da oferta Qualidade de convênios

Alianças

Índice de Redes Internacionais

PONTUAÇÃO FINAL

RK 09

71,2

95,2

100,0

93,6

1

Média Alta

79,9

45,5

UNICON

65,2

87,8

2

Média Baixa

74,3

42,3

UNICON

67,1

86,8

3

32,6

Média Baixa

100,0

100,0

SUMAQ, UNICON

84,4

86,6

4

93,3

31,0

Baixa

68,8

71,4

SUMAQ, UNICON

81,8

85,9

5

84,5

34,5

Média Baixa

69,7

52,1

UNICON

79,4

85,7

6

75,3

40,8

Média Alta

80,8

31,7

SUMAQ, UNICON

99,9

80,4

7

100,0

84,0

Média Baixa

84,3

71,4

UNICON

52,0

79,6

8

81,5

32,3

Média Baixa

85,3

89,6

77,0

79,4

9

86,9

40,4

Média Baixa

62,7

47,6

UNICON

57,9

77,9

10

84,2

36,0

Baixa

71,7

55,6

SUMAQ, UNICON

69,6

77,2

11

88,1

34,1

Alta

85,8

23,8

28,9

74,2

12

94,9

82,2

Alta

98,7

39,3

UNICON

55,6

74,1

13

81,4

40,2

Média Alta

79,6

71,4

86,5

73,3

14

76,6

52,6

Média Baixa

75,5

63,5

45,7

72,8

15

80,7

61,1

Média Baixa

74,3

60,4

SUMAQ, UNICON

73,7

72,5

16

79,1

11,1

Baixa

63,1

23,8

56,1

71,3

17

65,1

15,8

Alta

82,9

42,6

74,1

71,2

18

74,1

11,9

Média Alta

81,7

65,5

84,1

68,5

19

N.D

59,5

65,6

20

Índice oferta

% Prof Ph.D.

Experiência

95,9

39,0

Baixa

99,7

22,8

86,5

50,0

91,1

Índice de Professores

81,2

12,2

Média Baixa

73,4

64,8

22,1

Média Baixa

73,1

47,6

61,3

60,0

21

61,2

12,0

Média Baixa

71,9

59,5

38,3

55,1

22

74,1

14,0

Baixa

55,1

47,6

29,3

53,6

23

60,0

26,2

Média Baixa

63,2

23,8

25,0

49,5

24

71,9

21,1

Média Baixa

67,3

N.D.

1,0

46,2

25

58,3

22,2

Baixa

52,9

N.D.

1,0

40,7

26

As variáveis tabuladas são representativas apenas de cada dimensão e não são as únicas que compõem cada índice.

Além de precisarem se adaptar ao nível de sofisticação de seus clientes, as escolas tiveram outros desafios significativos durante 2009. Muitas reconheceram que neste ano sofreram redução nos orçamentos de capacitação por parte das empresas. Apesar disso, existem áreas estratégicas dentro das corporações que não são deixadas de lado nem durante períodos de crise, como finanças e tributação, de acordo com Mónica Sacristán, diretora de Desenvolvimento Executivo da mexicana Itam. Quem tem números mais animadores é a FDC, pois até o momento apresenta lucro em seus balanços, principalmente em função do aumento de seus programas abertos no exterior. Segundo Arruda, do

Núcleo de Inovação, a internacionalização é o resultado de um pensamento estratégico maturado há anos e que, segundo ele, não existe na maioria das escolas brasileiras. “Esse esforço envolveu desde um forte trabalho de marca, que resultou até na mudança do logotipo da escola, a um processo de aproximação com instituições e empresas estrangeiras”, afirma. Outra aposta que ajudou na hora da crise foi a do centro Idea da Universidade Anáhuac Norte, no México, que abordou novos projetos de ordem governamental, tanto em âmbito municipal quanto federal, o que lhe permitiu ser a estreia mais importante nesta versão 2009 do ranking, no 20º lugar, seguida pela incorporação da colombiana Universidade del Rosario, Novembro, 2009 AméricaEconomia 75


ESPECIAL EDUCAÇÃO EXECUTIVA na 23ª colocação, e pela Universidade San Francisco de Quito, do Equador, na 26ª. Com essas estratégias, as escolas de negócios não apenas contornaram as dificuldades de um ano difícil na área de capacitação executiva, mas também atingiram um grau de sofisticação à altura de seus clientes mais importantes, o que permitiu que elas oferecessem com segurança cursos voltados às posições mais altas no organograma empresarial. No fim das contas, a experiência adquirida em seus programas corporativos lhes possibilita identificar com grande precisão aquilo que seus clientes precisam, fazendo com que as demandas dos CEOs da região sejam atendidas.

Índice de qualidade de professores visitantes

100 63,8 56,3 56,3 44,0 40,2 39,9 38,9 37,5 37,5 80

100

JOGO DE GRANDES

COBERTURA TOTAL

Fonte AméricaEconomía Intelligence

32 Grandes

32

29

25 18

Pequenas

ESAN

21,1

9

12

ANÁHUAC NORTE

%

IESE

27,4

Nº de países

Nº de cidades

51,5

Médias

Nº de cidades e países em que as universidades mantêm programas fora de suas sedes

14

CENTRUM

Distribuição de clientes, segundo tamanho

17

14

13

8

7

11

13

10

13 5

7 6

IESA

60

U. ADOLFO IBÁNEZ

40

IAE U. AUSTRAL

20

FDC

0

ADEN

U. DE SAN ANDRÉS U. TORCUATO DI TELLA ANÁHUAC NORTE UDESA FDC IE IDE UNIANDES ESIC KELLOGG

ESADE

SEM SAIR DA EMPRESA

COMO FAZEMOS O RANKING DE EDUCAÇÃO EXECUTIVA A edição 2009 do Ranking de Educação Executiva da AméricaEconomía Intelligence avalia quatro dimensões principais:

Cobertura de clientes (40%): Mede o tamanho das empresas que contratam os programas por seu volume de vendas, dividindoas em pequenas, médias ou grandes. A integridade dos clientes refere-se à relação harmônica entre o tamanho destes. O índice de fidelidade avalia os 10% de empresas clientes mais antigas, de acordo com a antiguidade do centro de desenvolvimento executivo. A variável de crescimento refere-se à porcentagem de novos clientes no total de programas oferecidos no último ano. Robustez da oferta (30%): A amplitude mede a distribuição de cursos direcionados à diretoria, gerência, profissionais e operações, voltados ao topo do organograma. A customização dos programas mede a proporção de programas abertos, fechados e universidades corporativas, bonificando os mais customizados. O índice de personalização procura as salas de aula com menor número de alu-

nos, enquanto o índice de inovação faz uma revisão das técnicas pedagógicas aplicadas pelas escolas em sala de aula. Rede internacional (20%): Define-se pela qualidade das universidades com as quais as escolas têm convênios para programas de educação executiva, além do volume de operações realizadas fora das sedes, o número de países e cidades que cobrem, sua inclusão nas alianças de educação executiva mais importantes (Sumaq e Unicon), e o número de representantes no exterior. Professores (10%): A dimensão do professorado está composta pela qualidade do corpo docente próprio, medido segundo seu último grau acadêmico. A qualidade do faculty visitante foi medida segundo o prestígio da universidade no qual o grau foi obtido. Além disso, premiou-se a experiência em anos do corpo docente, em suas dimensões acadêmica, empresarial e em consultoria.

Os resultados de cada dimensão foram ponderados por seu respectivo fator em uma equação linear que resulta na pontuação que determina a posição de cada escola. Todas as informações vêm de respostas dos participantes a um questionário enviado em agosto de 2009.

76 AméricaEconomia Novembro, 2009


Leo Burnett Brasil


I-BIZ

A MARCHA DOS

ROBÔS

Desenvolvimentos em robótica prometem um futuro de ficção científica na América Latina JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA

Foto MIGUEL CANDIA

E

78 AméricaEconomia Novembro, 2009

m 2002, o chileno Hugo Salamanca, gerente-geral da empresa de serviços para o setor de mineração High Services, tinha uma proposta de risco para a Codelco, maior companhia de cobre do mundo: incorporar tecnologia robótica em suas explorações. Apesar de já haverem passado 40 anos desde que o primeiro robô começasse a trabalhar na linha de produção da General Motors, centros de excelência do setor de mineração – como Carnegie Mellon – mal haviam começado a testar seus primeiros protótipos. Para a Codelco, seria quase como partir do zero. No entanto, a companhia chilena aceitou a aposta. Em 2007, na mina Radomiro Tomic, a 1.700 quilômetros de Santiago e 3.000 metros acima do nível do mar, um braço semiautomático, semelhante ao das fábricas automotivas, tapava e limpava um forno em que a temperatura chega a 1.500 graus Celsius. Os operários, agora mais seguros, supervisionam a operação à distância. Entusiasmados com o primeiro resultado e decididos a acelerar o projeto, ambas as empresas decidiram formar a Mining Industry Robotic Solutions (Mirs), negócio formado pela High Services (com 53% de participação), Codelco (36%) e as japonesas Nippon Mining & Metals e Kuka Roboter (com 9% e 2%, respectivamente). O objetivo inicial era realizar 50 projetos em dois anos, com investimentos de US$ 11 milhões, sendo 20% aportados pela Corfo, órgão estatal de fomento. Se tudo saísse como o previsto, esses desembolsos retornariam rapidamente, já que a redução de custo estimada era de 30%. As previsões se confirmaram. Hoje a Mirs acumula mais de 26 patentes internacionais e trabalha não apenas na automatização da produção da Codelco, como já começou a desenvolver projetos para o restante da indústria de mineração, por meio de acordos com empresas como Anglo American, Antofagasta Minerals e Molymet. “A robótica chegou para ficar e, em poucos anos, será tão familiar na mineração como é em outras indústrias hoje”, diz Edgar Happke, gerente-geral da empresa. EDGARD HAPPKE, DA MIRS: A ROBÓTICA VEIO PARA FICAR


ROBÔ AMBIENTAL HÍBRIDO: PERFEITO PARA FISCALIZAR OLEODUTOS

Até agora o mercado mundial parece indicar que os chilenos tomaram a decisão certa no momento certo. Do outro lado do Pacífico, a gigante australiana Rio Tinto investiu US$ 21 milhões em centros de estudos na Universidade de Sidney e agora pretende inaugurar uma mina teste operada por robôs. Nesta, furadeiras automatizadas farão furos, nos quais outra máquina vai inserir explosivos. Carregadores e caminhões robóticos vão extrair e carregar o minério, que será transportado ao longo de centenas de quilômetros por trens sem maquinista até portos no litoral. O objetivo da Rio Tinto é triplicar a produção até 2016 sem a necessidade de empregar mais gente – o setor de mineração australiano sofre uma constante escassez de mão de obra –, além de conseguir eficiência semelhante à esperada pela Codelco.

ROBÔS ÀS ORDENS Os robôs estão se multiplicando em novos segmentos. Segundo a World Robotics, organização dos fabricantes com sede em Frankfurt, o segmento de robótica industrial fechou 2008 movimentando US$ 6,2 bilhões. Mesmo de origem mais recente, os sistemas robóticos de serviços representaram negocios de US$ 11 bilhões. É possível notar a chegada de robôs de baixo custo em atividades domésticas e educação, passando por brinquedos e aspiradores de pó que poderiam ser comprados em qualquer loja de departamentos. “É um mercado emergente que nos lembra o nascimento dos PCs, migrando das grandes aplicações industriais para o uso pessoal e orientado a serviços”, diz Stathis Papaefstathiou, gerente da Microsoft Robotics, divisão criada há três anos pela gigante de Redmond. Por que tanta efervescência? A resposta é simples: redução dos custos de processamento. Em 1990, o equipamento necessário para processar um milhão de instruções por segundo (Mips) custava US$ 1.000. Hoje, esse dinheiro compraria mil Mips. E em 2015, os mesmos mil dólares comprarão um milhão de Mips, segundo um artigo publicado por Hans Moravec, pesquisador do Instituto de Robótica de Carnegie Mellon. Para colocar esses números em perspectiva, os atuais robôs indus-

Foto FELIPE VECCHIO

Foto DIVULGAÇÃO

triais usam 100 Mips ou menos. Ou seja, com esse aumento de capacidade de processamento, pode-se incorporar autonomia para que os equipamentos operem em terrenos cada vez mais acidentados. “A boa notícia é que, nos últimos seis anos, foi possível ver um grande salto desse setor na América Latina, que foi migrando da universidade para as empresas”, diz o brasileiro Antonio Roberto Lins, diretor executivo da Armetec Tecnología Robótica, que está entre as líderes do setor na região. Nascida em 2004 a partir de uma tese universitária e incubada pela Universidade de Fortaleza, a Armetec desenvolveu o Saci, robô de combate a incêndios com capacidade de disparar 7,2 mil litros de água por minuto a uma distância de 60 metros, o que permite que os bombeiros se posicionem a 180 metros do fogo. Depois, como parte dos estudos para a criação de um robô de defesa, surgiu a Mulata. O robô tem capacidade para transmitir vídeos bidirecionalmente e se comunicar com as pessoas, e passou a ser usado para treinamentos à distância em medicina. A partir do Saci, a empresa atraiu capital para o desenvolvimento de outro robô, o Caipora, que é um carro autônomo com dois minirrobôs de observação para ações em áreas de risco. Além da área de defesa, os oleodutos têm se mostrado um campo fértil para a aplicação da robótica. Com o objetivo de controlar os dutos que atravessam o Amazonas sem expor a equipe a riscos, a Petrobras desenvolveu o Chico Mendes, um veículo anfíbio de inspeção para todo terreno, que pode andar até entre árvores. Outro exemplo brasileiro é o da carioca PipeWay, que desenvolveu um sistema robotizado para o controle e limpeza de dutos. Esses projetos poderão tornarse competitivos? Para Roberto Lins, pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo, a chave está em aproveitar ao máximo os componentes já existentes em outras indústrias para então focar no desenvolvimento da inteligência do robô. Para quem olha de fora, no entanto, a única certeza é de que, locais ou importados, os robôs já vêm marchando em ROBÔ MULATA, DA ARMTEC: ENSINANDO MEDICINA nossa direção.

Novembro, 2009 AméricaEconomia 79


CLICS & CHIPS SEGURANÇA MÓVEL O celular Nokia N97 vem com um sistema de bloqueio remoto. É possível bloquear o acesso às suas funções em caso de roubo ou perda apenas enviando uma mensagem SMS para o número. O modelo também é o primeiro aparelho da marca a ser equipado com um teclado físico com tela personalizável sensível ao toque, e as lentes da câmera, de 5 megapixels, são as mesmas usadas em máquinas profissionais (Carl Zeiss). O valor do aparelho, sem subsídio da operadora, é de R$ 2.399,00.

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SEM CHEIRO DE LIVRO NOVO Criado pela Amazon, o leitor eletrônico de documentos Kindle finalmente é liberado para consumidores brasileiros, e as encomendas podem ser feitas no site da livraria virtual. A novidade é mais fina do que um lápis comum, e em sua tela é possível ler jornais e livros. Também é possível fazer anotações no texto usando um teclado que acompanha o leitor. Preço sob consulta.

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OPINIÃO

PELA VIA

EXPRESSA

JOHN C. EDMUNDS é doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e coautor de Wealth by Association

A

s estimativas eram pessimistas no início de 2009. Os especialistas advertiam que a crise fi nanceira poderia golpear as economias latino-americanas e que a recuperação seria longa e lenta. Em abril, eles reafi rmaram que o crescimento da região este ano seria fortemente negativo. No entanto, tudo mudou no início de outubro. Como explicar a rapidez dessa recuperação? A explicação está na maneira como os países têm lidado com o capital. Os prognósticos de uma recuperação demorada fizeram supor que as empresas e as pessoas obteriam empréstimos da mesma forma que no passado, ou seja, junto aos bancos comerciais. Essa ideia antiquada ainda era alimentada por muita gente. Os presságios eram de um cenário em que os bancos enfrentariam mais empréstimos de liquidação duvidosa, o que tornaria o crédito mais escasso. E, consequentemente, a recuperação chegaria a passos de tartaruga devido à falta de financiamento. O que vemos hoje é surpreendente. As empresas conseguiram crédito com a emissão de bônus. Aproveitaram o surgimento de mercados notoriamente dinâmicos em vários países da América Latina nos últimos anos. Os pessimistas erraram ao prever que os mercados locais se paralisariam, tal como os bancos, e permaneceriam nessa condição até que a crise terminasse. O que não se considerou é que esse ponto de vista ignora um fator-chave. Os bancos comerciais – diferentemente dos fundos de investimento e de pensões – têm imperfeições em seu desenho, o

34 AméricaEconomia Novembro, 2009

que cria um risco moral de diferentes características. Esses defeitos são descobertos apenas quando as coisas vão mal, e novas vulnerabilidades emergem a cada crise. Por isso, a solução tem sido impor uma regulamentação cada vez mais rígida e restritiva. O elemento surpresa foi a rapidez com que os investidores aproveitaram a oportunidade para comprar bônus a baixo preço devido ao pânico. Os títulos de muitas empresas da América Latina foram bastante procurados. Se os investidores em títulos tivessem colocado seu dinheiro nos bancos, sua disposição para correr riscos seria neutralizada pela cautela dessas instituições. Os dados indicam claramente o que aconteceu. Como se esperava, entre janeiro e março de 2009 os bancos comerciais do Brasil cortaram o crédito para o setor privado e depois registraram alta de 2,9% em relação ao começo do ano. Esse aumento é de somente 1,3% do PIB, contrastando com o que ocorreu entre 2005 e 2008, quando o aumento no crédito bancário foi de 25% ao ano. É um percentual excessivamente tímido para impulsionar uma recuperação econômica forte. As emissões privadas de bônus nesse período somaram R$ 24,58 bilhões (cerca de U$ 14 bilhões), montante representativo se considerarmos o tamanho do mercado de bônus,

equivalente a 0,9% do PIB. Essa é uma contribuição enorme que os especialistas não levaram em conta. No Brasil, o mercado de bônus reativou-se muito mais rapidamente que o crédito dos bancos comerciais Os preços desses bônus subiram, o que deu forças à recuperação incipiente da atividade econômica. Hoje as empresas privadas conseguem dinheiro mais depressa que antes. E, ao mesmo tempo, as taxas de juros, historicamente altas, caíram. O crescimento desse mercado reduziu o custo dos empréstimos para as empresas. Os bancos comerciais têm de cobrar altas taxas de juros nos créditos para compensar seu papel como provedores de liquidez e para pagar os custos de supervisão. Os f u ndos mút uos não en f renta m custos tão elevados, e por isso não é necessário cobrar margens tão altas. As estatísticas agregadas da América Latina indicam um novo modelo. O valor dos títulos de dívida privada em 2008 equivalia a 15,5% do PIB da região. Em comparação, em 2005 a cifra era de 11,3%. E o papel dos mercados de bônus continuará pesando no futuro. A dívida privada continuará subindo até se aproximar da média mundial, de 80,75% em 2005 e 80,1% em 2008. E esse aumento no crescimento econômico certamente será outra agradável surpresa.

O crescimento das emissões de bônus na América Latina compensou a postura mais cautelosa dos bancos

Novembro, 2009 AméricaEconomia 81


Foto AP

LINHA DIRETA FAVELA EM NOAUKCHOTT: SOLUÇÕES PARA OS PROBLEMAS AINDA DEMORAM

e os desastres ambientais, apesar de produzir apenas 4% das emissões de gases que provocam o aquecimento global. Os 34 países africanos e seus 900 milhões de habitantes necessitam de financiamentos e tecnologia para impedir os desastres, mas os fóruns que discutem as mudanças climáticas e que antecipam a Conferência COP 15, em Copenhague, em dezembro, ainda estão longe de apresentar medidas para a África. Os mais afetados, os africanos são os menos ouvidos. O organizador do evento, Sidi Elmoctar CheiVERÔNICA GOYZUETA, DE NOAUKCHOTT (MAURITÂNIA) guer, presidente da Rede Africana de Jornalistas Ambientais (Anej), insistiu que a América Latina deveria apoiar s portas do plenário do moderno Palácio de Convenções que a África seja mais escutada. Cheiguer aposta em um de Noaukchott, Mauritânia, abriram-se, e os delegados intermovimento de jornalistas para chamar a atenção do mundo. nacionais ocuparam seus lugares em um simpósio internacio“Temos de unir jornalistas e negociadores para construir uma nal da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças estratégia de comunicação”, disse ele, várias vezes. climáticas. Os assentos reservados à Argentina e ao México O estancamento das discussões que chegam a Copeestavam vazios. Os latino-americanos eram três: dois brasileinhague e não trazem grandes novidades para substituir e ros e eu, uma jornalista peruana que vive no Brasil. revitalizar o Protocolo de Kyoto pode ser uma sentença de Nossa minidelegação de emergência foi convidada de morte para africanos, asiáticos e latino-americanos. Os países última hora para que a ausência latino-americana não fosse desenvolvidos são pouco ambiciosos em suas propostas de total em um evento pelo diálogo Sul-Sul. Recebemos nossas redução da emissão de gases. Suas metas de corte oscilam passagens num domingo de manhã e viajamos na mesma entre 17% e 23%, bem menos que os 40% propostos pelo Painel noite. Como boa latino-americana ignorante de África, corri ao Intergovernamental de Mudança Climática. Esse percentual Google para saber algo sobre Noaukchott, capital da Mauritâé o necessário para impedir que o aquecimento global supere nia – começando por sua localização no mapa. Minha pressa dois graus Celsius. A África tem poucas propostas. A mais e minha ignorância me fizeram colocar minissaias na mala interessante e audaz é a de Abdoulaye Wade, presidente do para ir a um país muçulmano. Sem comentários. Senegal, de criar uma muralha verde de 15 quilômetros de Não sabemos nada sobre a África, um continente que largura e sobre 7 mil quilômetros de deserto na faixa sul do esteve unido fisicamente à América, que fez parte de nossas Saara, para proteger o continente do avanço da areia. entranhas, deu origem à grande parte de nossos compatriotas A própria Nouakchott é uma das vítimas do deserto. e hoje está às nossas costas. Para chegar à África inalcançável Fundada há 52 anos, é uma cidade que cresceu de maneira de nossa imaginação basta cruzar o Atlântico. São apenas seis explosiva após sua transformação em capital, nos anos 60, horas e meia de avião entre São Paulo e Dakar. É mais rápido quando secas causaram uma migração maciça. Há carência e menos cansativo do que ir a Nova York. de infraestrutura básica, coleta de lixo e transporte público, A vergonha da minha pobreza geográfica e cultural chesem falar no progressivo esgotamento das fontes de água pogou ao auge quando um delegado mauritano desenhou na tável. O desgoverno é evidente. Quem pode desfi la em velhos areia um perfeito mapa da América do Sul, incluiu todos os Mercedes movidos a diesel, quase sempre batidos e sujos, e seus países e, para culminar, traçou nele a rota que Che Gueexibe seus celulares. Estes últimos são vendidos em mercavara fez quando jovem, montado em sua motocicleta. dos precários, nos quais se misturam com roupas e carnes O simpósio de Nouakchott tenta chamar nossa atenção de carneiro penduradas, entre as quais passeiam moscas. Os para um insistente pedido de ajuda africano e procura uma celulares descartados formam um tapete sobre a areia, como resposta para o desinteresse e para a ignorância aos quais estatuetas de uma religião tecno, e jamais terão um fim ecocondenamos a África. O continente africano é o que mais lógico. Nouakchott é tudo o que não devemos ser – e muito do sofre – e sofrerá no futuro – com as as mudanças climáticas que podemos ajudar a solucionar.

O GRITO DA

ÁFRICA

A

82 AméricaEconomia Novembro, 2009


© 2009 FedEx.

Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor. Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo, colocando assim, o futuro do continente em boas mãos.

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