Nº 384 Edição Brasil

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Nº 384 Fevereiro/2010

BRASIL

www.americaeconomia.com.br

CARNAVAL FESTA BILIONÁRIA TELEFÔNICA APRENDENDO COM OS ERROS

DÉCADA DOS TRILHOS

RECUPERAÇÃO DOS EUA EXCESSO DE OTIMISMO?

DÉCADA DOS TRILHOS AméricaEconomia

OS PLANOS DE EMPRESAS E DO GOVERNO PARA RESGATAR O PROTAGONISMO DAS FERROVIAS NO BRASIL

Nº 384 FEV./2010 R$ 8,90

ESPECIAL: VIAGENS A NEGÓCIOS NA AMÉRICA LATINA AE 384 CAPA.indd 1

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NESTA EDIÇÃO Seções 8 9 10 10 12 13 34 38 52 58 76 77 78 81 82

Portal Carta ao Leitor Cartas Índice de Empresas Pistas Negócio Fechado Visão Verde Movimentos Opinião – Susan Kaufman

28

Raio X Capital Aberto

ESPECIAL Viagens a negócios

Opinião – John C. Edmunds

Exército silencioso Mercado de turismo a negócios cresce velozmente

I-biz Clics & Chips Linha Direta

Negócios

22 26 28 32 36

1

Telefônica O desafio da banda larga Entrevista Antonio Roberto Cortes, da MAN Latin America

60 65

O melhor da América Latina Viajantes votam em seus serviços e destinos prediletos

Finanças

72 74

Jogo das diferenças Exchange traded funds estão na moda Entrevista João Albino Winkelmann, do Bradesco

Carnaval A festa bilionária Sede de compra Cervejas encerram época das grandes fusões Pegadas ambientais Empresários neutralizam eventos corporativos

2

14 20

CAPA A década da ferrovia no Brasil Entrevista: Bernardo Hees, da ALL

Debates Haiti O flagelo de um país Recuperação dos EUA Otimismo exagerado? Chile elege Piñera A política internacional do novo presidente México e a democracia Uma luta centenária pelo direito de reeleição

Foto de capa: Daniel K. Trevisan

Fotos: 1 - iStockphoto; 2 - Arquivo ANTF

44 48 54 56

4 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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PORTAL

www.americaeconomia.com.br CAMIL COMPRA MAIOR EMPRESA DE ARROZ DO CHILE A gaúcha Camil anunciou em dezembro a compra da chilena Tucapel, maior empresa de beneficiamento de arroz do Chile, negócio que faz parte da sua estratégia de internacionalização na América do Sul. O valor da aquisição não foi divulgado. A Tucapel tem mais de 50% de participação no mercado chileno e faturamento

anual de US$ 70 milhões, além de estar presente em mais de 80% do varejo no país. A demanda interna do mercado chileno é de 200 mil toneladas de arroz por ano, segundo a Camil. Com a aquisição, a empresa brasileira passa a operar (além do país) no Uruguai e Chile, com capacidade de produção de 1,8 milhão de toneladas de grãos e faturamento total estimado em R$ 1,7 bilhão para 2010. Em 2007, a Camil adquiriu a uruguaia Saman, também líder naquele país, com 50% de participação no mercado de arroz uruguaio, sendo que 91% da produção estão direcionados à exportação.

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LEIA NO PORTAL EDIÇÃO: AINÁ VIETRO (MGALLI@AMERICAECONOMIA.COM)

EXISTE SEGURANÇA JURÍDICA, ATUALMENTE, PARA INVESTIR NA ARGENTINA? SIM 18%

NÃO 82%

COPA AQUECE MERCADO DE TELEVISORES A produção de televisores de display de cristal líquido (LCD) crescerá até 70% no Brasil em 2010, por causa da realização da Copa da África do Sul e da preocupação dos consumidores com a conta de energia elétrica, segundo a LG Display. A empresa projeta que a venda de aparelhos será de 5,5 milhões de unidades, em 2010.

CARREFOUR ANUNCIA INVESTIMENTO DE R$ 2,5 BI PARA 2010/2011 Terceira maior operação do Grupo Carrefour no mundo, o Carrefour Brasil continua como um dos principais focos de investimento da rede francesa. Para os próximos dois anos (2010 e 2011), a rede anuncia investimentos de R$ 2,5 bilhões, maior aporte já realizado pela rede no país destinado à expansão orgânica. Os investimentos serão feitos na inauguração de novas lojas, unidades de serviço e aumento da cadeia de distribuição. A estratégia deve fortalecer a atuação da rede nacionalmente, que já engloba 18 estados, e a consolidação da presença nas regiões Norte e Nordeste, onde a empresa inaugurou, apenas em 2009, sete unidades. Entre os planos para a região Norte, está a inauguração de um novo Centro de Distribuição, ainda no primeiro trimestre de 2010. A rede também ingressa no mercado de comércio eletrônico, no primeiro semestre deste ano. No último trimestre de 2009, o Carrefour Brasil registrou crescimento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2008. No ano, a operação brasileira acumulou um crescimento de 14%, apresentando resultados positivos em todos os trimestres.

8 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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CARTA AO LEITOR

NAÇÃO AGONIZANTE BRASIL www.americaeconomia.com.br PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação Tatiana Engelbrecht Editora Executiva Solange Monteiro Diretora de Arte/Projeto Gráfico Janaína Diniz Repórteres Graziele Dal-Bó e Roberta Pregnaca Revisão Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica Eduardo Keppler Infografia Rodrigo Damati Colaboradores Ainá Vietro (site) e Andre Carvalho (assistente de arte) COMERCIALIZAÇÃO Gerente de Publicidade Sidney Espósito Executivos de Contas Andrea Vieira – andreavieira@springcom.com.br Nagibe Adaime – nagibe@springcom.com.br MARKETING Elisangela Silva, Rafael Borsanelli, Marcia Leonardi ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo Eduardo Colturato Gerente Financeiro Edison Arduino Pré-impressão First Press Periodicidade Mensal (Fevereiro de 2010) CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfica Circulação auditada por SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7º andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMIA INTERNACIONAL Diretor Elias Selman Carranza Vice-Presidente Executiva Gloria Landabur C. Diretora Internacional de Marketing Mica Selman Diretor Editorial Felipe Aldunate M. Editor Adjunto Rodrigo Lara Editores Adriana Méndez (Cidade do México), Antonio María Delgado (Miami), Eduardo Thomson (Santiago), Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago), Karen Correa (Guaiaquil) Diretor de Arte Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia Miguel Candia Diretor de Circulação Marcial Delcorto Gerente de Produção Constanza del Río Moreno AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor Jaime Contreras Soria Coordenadora Geral Daniela González Pesquisador Sênior Andrés Almeida Analista Paulina Saavedra AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital Rodrigo Guaiquil Editor Lino Solis de Ovando Webmaster José Fuentes ESCRITÓRIOS Buenos Aires +5411 4383-8410 Cidade do México +5255 5254-2400 Costa Rica +506 225 6861 Lima +511 610-7272 Miami +305 648-9071 Panamá +507 271 5327 Santiago +562 290-9400 Uruguai +5982 901 9052

Chairman Robert R. Paradise

N

o dia 7 de janeiro, o jornalista chileno Carlos Saldibia retornou a Santiago, depois de uma jornada de 15 dias no Haiti, onde produziu uma reportagem para AméricaEconomia Brasil sobre a situação do país, considerado o mais pobre do ocidente. A precariedade das instituições, a miséria da população e a omissão do Estado, que justifica sua falta de ação dizendo-se um país “ocupado” pelas tropas estrangeiras, desde o princípio, eram o foco da reportagem de Saldibia. O que não poderíamos imaginar é que, apenas cinco dias depois do retorno do jornalista ao Chile, um terremoto de proporções gigantescas destruiria a capital haitiana, Porto Príncipe, fazendo Saldibia subir novamente no avião. O desastre pode ter provocado a morte de até 200 mil pessoas, segundo estimativas mais recentes. Além da destruição que comoveu o mundo, o abalo sísmico deixou uma certeza: a de que o flagelo humanitário que assola o país está ainda mais longe de ser resolvido. Em “De Novo, Mas Não do Zero”, o jornalista faz uma análise da dimensão da tragédia e da atuação da missão de estabilização da ONU no país, liderada pelo Brasil, e discute de que forma a força de paz poderá facilitar o caminho da reconstrução. O início do que promete ser a década de ouro para o setor ferroviário brasileiro é o tema de nossa reportagem de capa. Depois de décadas de abandono, o governo e a iniciativa privada mobilizam-se para buscar soluções para o gargalo da malha ferroviária. Até 2015, o investimento público prometido para o setor é de R$ 74 bilhões. Em um movimento ainda mais ambicioso, outros R$ 150 bilhões devem ser aplicados, até 2023, em projetos de ampliação da malha ferroviária, por meio do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT). O fato é que, se todas essas promessas se transformarem em realidade, finalmente, veremos o setor dar um salto significativo, beneficiando inúmeros setores de nossa economia. Os riscos que ainda assombram a economia norte-americana; a expectativa internacional acerca do governo do novo presidente do Chile, o empresário Sebastían Piñera; o potencial de geração de negócios do Carnaval brasileiro; e o especial sobre as melhores cidades para viagens a negócios na América Latina são outros assuntos desta edição. Aproveite a leitura. Tatiana Engelbrecht Diretora de Redação

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel. 55 11 3038-1493, de 2ª a 6ª feira, das 8h às 20h. E-mail: americaeconomia@acsolucoes.com.br Cartas: Rua Butantã, 500 – 2º andar – CEP 05424-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 182,00 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora Ltda. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigido monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque, nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

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ÍNDICE DE EMPRESAS

CARTAS OLHO NO BRASIL Parabéns pela matéria de capa sobre o governo Lula (“O Brasil depois de Lula”, AméricaEconomia N° 383, janeiro, 2010). É uma análise objetiva sobre a situação brasileira que muitos se esqueceram de fazer, em meio ao fervor e otimismo que sacode essa potência sul-americana. É pouco provável que o Brasil cumpra essas expectativas, pois acho que elas não estão alinhadas ao potencial real do país, dados seus déficits em infraestrutura, segurança jurídica e sistema tributário.

ALFREDO HÄRR – MIAMI, EUA

GRATA SURPRESA

Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas. 1884

67

Dell

Miami Conv. Center

66

AB Inbev

33

Diálogo Interamericano 55

Microsoft

79

Acer

71

Diners

71

Modelo

33

Aliante

31

Discover

71

Molson-Coors

32

ALL

20

Eccaplan

36

Movistar

25

Alps

12

ECP

35

MRS Logística

17

Ambev

31

El Cardenal

67

Multi

12

Enron

76

Nestlé

40

50

Nokia

71 31

América Móvil

13, 77

71, 81

American Express

71

Euro Pacific Capital

Andrés Carne de Res

67

Eurom. Internacional 33, 41

Nova Schin

Anhembi

66

Femsa

32

NYSE Arca

Anheuser-Busch

32

Ferronorte

20

Oi

Antarctica

31

Ferrovial

13

Omni Fruits

40

Apple

71

Florida Ice & Farm

33

Orica

42

Astrid & Gastón

67

Fortaleza del Real Felipe 66

Packard Bell

71

Azul

67

Four Seasons

66

Parque Arauco

13

Banamex

66

Fundação Bradesco

79

PDVSA

42

Banco Rendimento

40

GE

19

Petrobras

31

Barton G

67

GJP Hotéis e Resorts

13

Petrópolis

33

Blackrock

73

Google

81

Primo Schincariol

33

Grand Hyatt

66

Regional

33

BM&FBovespa

21, 73

72 23, 78

Gostei muito da matéria sobre o desempenho do mercado de ações da América Latina (“Quer diversificar? Atenção às bolsas”, AméricaEconomia N˚ 382, dezembro, 2009). Como não acompanho esse mercado com detalhes, não imaginava uma valorização tão alta como a da Bolsa de Lima, que vocês disseram ser de 132%. Guardadas as proporções em relação à nossa BM&FBovespa, é bom saber desse salto de nossos vizinhos. LAÉRCIO GONÇALVES – SÃO

Bradesco

74

Gurovic y Asociados

25

Research in Motion

41

Brahma

31

GVT

23

Restaurante Rafael

67

BrandAnalytics

31

Hack Consultoria

37

SabMiller

32

Brasil Telecom

23

Heineken

32

Scania

26

Bresler

40

HSBC

42

Scottish & Newcastle

32

Cablemás

12

IHS Global Insight

61

Scotwork Brasil

43

Cablevisión

12

Ilos

16

Skill

Camargo Corrêa

13

Intel

79

Sony

Carlyle Group

13

Intelig

23

SOS Computadores

12

Casapiedra

66

Interbolsa

73

Standard & Poor’s

49

CCU do Chile

33

Intercontinental

66

Sucre

67

PAULO, BRASIL

Ceagesp

39

ISA

13

SulAmérica

66

Cuau. Moctezuma

32

Itaú

31

Telefônica

Cervejaria Dominicana 33

Just-Drinks

33

Telmex

Cervejaria Polar

33

La Rural

66

The Ritz Carlton

66

Cintra

13

LAN Chile

55

TIM

23

Cisco

79

León Jimeno

33

Toschiba

71

Cisneros

33

Liguria

67

Transamer. Expo Center 66

Climatempo

39

Log. Intermodal (Log-In) 15

TV Chilevisión

55

CNBC

76

Lucent

23

TX Consultoria

62

CNEC Engenharia

13

Luksic

33

Tyco

76

Coinvalores

23

Mac

71

Unilever

40

Colferias

66

Magna

71

Vale

19

Compaq

71

MAN Latin América

26

Vésper

Compass Group

73

Mandarin Oriental

66

Visa

Copacabana Palace

66

Mappin

13

Vivendi

23

Cosan

19

Marabraz

13

Volkswagen

26

Couroecol

34

Mastercard

71

Volvo

26

Curtidora Francana

35

McKinsey Institute

79

WebJet

13

CVC Brasil

13

Megacable

12

Wizard

D.O.M.

67

Mendoza

33

World Trade Center

Delano

66

Mercedes-Benz

QUESTÃO DE VALORES Sobre a matéria “Mau hábito” (AméricaEconomia N˚ 383, janeiro, 2010), do estancamento da luta contra a corrupção na América Latina, considero que as lideranças empresariais deveriam estimular a criação de um conselho nacional para definir os valores mais importantes que se deve fomentar nos órgãos de governo, universidades e empresas, que devem ser divulgados por meio de campanhas. A melhor receita para construir uma sociedade melhor é semear e fomentar valores para reverter a corrupção, a criminalidade e a injustiça que há em nossos países.

RAMÓN BÉJAR – CIDADE DO MÉXICO - MÉXICO Cartas para a redação:

cartas@americaeconomia.com

13, 26

WorleyParsons

12 71, 81

23 12, 13

23 40, 71

12 38, 66 13

10 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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PISTAS MENOS É MAIS PUBLICAMOS É bom que o Brasil tenha um BNDES que possa manter a economia respirando em momentos de crise. O grande perigo, diz Márcio Garcia, da PUC-RJ, é usar a crise como justificativa para uma expansão descontrolada. (“Expansão Regional”, AméricaEconomia No 381, novembro, 2009) O NOVO Esse temor parece não se confirmar. A projeção preliminar de desembolsos do BNDES para 2010 é de R$ 126 bilhões – cerca de R$ 11 bilhões a menos que em 2009, quando registrou aumento de 49% nos desembolsos, ainda que esse montante esteja bem acima do de 2008, de R$ 92 bilhões.

CERCO AO MONOPÓLIO PUBLICAMOS

As operadoras decidiram enfrentar Slim. Enquanto a Telmex não tem autorização para oferecer TV a cabo, Cablevisión, Cablevisión Monterrey e Cablemás uniram-se à Megacable para oferecer triple play. (“Sob a Sombra de Slim”, AméricaEconomia No 377, julho, 2009)

O NOVO

A comissão federal de telecomunicações do México está analisando a aplicação de normas que poderiam desagregar a rede da Telmex. A empresa de Carlos Slim, que domina o setor de telecomunicações do país, já foi aos tribunais para apresentar seu repúdio à iniciativa e não descartou ir à Corte Suprema de Justiça.

1

PUBLICAMOS

A diferença de taxas gera negócios rentáveis para aqueles que podem comprar pela taxa oficial e vender no mercado paralelo. Um sistema do qual participam corretoras, bancos e até o governo, aumentando o risco sistemático da indústria financeira venezuelana. (“Entre o Dólar e o Bolívar”, AméricaEconomia No 382, dezembro, 2009)

O NOVO

O presidente venezuelano Hugo Chávez anunciou em janeiro a desvalorização do bolívar forte, estabelecendo dois tipos de câmbio: o primeiro, fixado em 2,6 bolívares, englobará as importações essenciais, como produtos alimentícios e de saúde; o outro, apelidado de dólar petróleo, foi fixado em 4,30 bolívares e será aplicado em setores como os de telecomunicações e automotivo.

PUBLICAMOS Em janeiro, a escola de idiomas Wizard abrirá sua primeira unidade na China. Em 2009, a Wizard expandiu sua rede para o México e para a Colômbia. “Em 2010, também esperamos negociar franquias na América Central”, diz Carlos Martins, presidente da empresa. (“Para Chinês Ler”, AméricaEconomia No 382, dezembro, 2009) O NOVO

Martins mostra que não quer crescer só no exterior. O grupo Multi, controlador das escolas de idiomas Wizard, Skills e Alps, anunciou em janeiro a compra da SOS Educação Profissional, que administra a SOS Computadores. Com a compra, o faturamento do Multi deverá ser de R$ 1,35 bilhão este ano.

2

Fotos: 1 - Latinstock/editado por América Economía; 2 - iStockphoto

DOIS BOLÍVARES

EXPANSÃO MÁGICA

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NEGÓCIO FECHADO

PARQUE ARAUCO A operadora de centros comerciais concordou em vender sua participação de 30% no operador e grupo de desenvolvimento de centros comerciais argentino Alto Palermo para seu sócio Irsa por US$ 126 milhões. A venda permitirá ao Parque Arauco concentrar suas operações no Chile, Colômbia e Peru. VALOR: US$ 126 MILHÕES

MERCEDES-BENZ

A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 1,2 bilhão para a Mercedes-Benz expandir a capacidade de produção de sua unidade em São Bernardo do Campo (SP), desenvolver motores adequados à nova legislação ambiental e novos modelos de caminhões leves e médios. Os recursos também serão destinados à modernização do centro de distribuição de peças em Campinas (SP) e a investimentos sociais e ambientais. VALOR: R$ 1,2 BILHÃO

AMÉRICA MÓVIL A gigante mexicana de telefonia celular América Móvil, do magnata Carlos Slim (foto), lançou uma oferta de cerca de US$ 21 bilhões para integrar suas empresas Telmex e Telmex Internacional, em um esforço para ampliar seus serviços. Se for exitosa, a operação permitirá à América Móvil oferecer serviços integrados de telecomunicações nos 18 países em que opera.

VALOR: US$ 21 BILHÕES

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

MARABRAZ A marca de lojas de móveis adquiriu os direitos da rede de departamentos Mappin, que faliu em 1999, por R$ 5 milhões, em um leilão judicial. O Mappin funcionava como um magazine, vendendo desde calçados até móveis. Ainda está em estudo se o nome, o foco de negócio e o público-alvo continuarão

os mesmos. Outra tentativa de venda da marca aconteceu em 2007, mas sem sucesso, por falta de interessados. VALOR: R$ 5 MILHÕES

CARLYLE O grupo internacional de private equity Carlyle Group anunciou a compra de 63,6% do controle da CVC Brasil. O fundador da empresa, Guilherme Paulus, continuará sendo o presidente do Conselho e permanecerá com participação no restante do capital da companhia. A transação envolveu a operadora de viagens, incluindo a operação de cruzeiros marítimos. As outras empresas controladas por Paulus, WebJet e a GJP Hotéis e Resorts, não fizeram parte do acordo. VALOR: NÃO REVELADO

WORLEYPARSONS O grupo australiano fechou um acordo para adquirir a CNEC Engenharia, da Camargo Corrêa, por R$ 170 milhões. A CNEC atua na prestação de serviços de consultoria, no gerenciamento de projetos e em soluções de engenharia, tem cerca de 700 funcionários e conta com escritórios no Brasil, Argentina e Peru. VALOR: R$ 170 MILHÕES

CINTRA A divisão da espanhola Ferrovial que opera estradas concordou em vender 60% de sua filial chilena para a colombiana ISA por 209 milhões de euros, segundo estimativas do mercado. O grupo ISA também terá a opção de comprar os 40% restantes da companhia, que opera 907 quilômetros de estradas no Chile. VALOR: 209 MILHÕES DE EUROS

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NEGÓCIOS CAPA

A DÉCADA DA FERROVIA

Governo e empresários mobilizam-se para concretizar a – até agora – lenta melhoria da malha férrea brasileira MÁRCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO

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A

té há pouco tempo, falar em transporte ferroviário do total, commodities agrícolas, carvão mineral, combustíno Brasil era sinônimo de discussões, defesas e veis e derivados de petróleo e álcool, setores com alto potenpolêmicas que não desembarcavam em nenhuma cial e grandes exportadores. estação. Mas, agora, ao menos aparentemente, isso ficou para E adiar ainda mais a ampliação da malha é sinônimo de trás. O governo enfi m prometeu ouvir as concessionárias, prejuízo. Segundo pesquisa divulgada pela Logística Interainda no primeiro semestre de 2010, para tentar resolver de modal (Log-In), o custo rodoviário deixa de ser competitivo vez os gargalos existentes na atual malha ferroviária. Além quando a distância supera os 400 km. Acima disso, transpordisso, prevê injetar, por meio do Programa de Aceleração do tar por trem pode custar 30% menos. Sem contar a eficiência. Crescimento (PAC), R$ 74 bilhões em projetos de expansão da Enquanto um caminhão transporta, em média, o máximo de linha férrea, até 2015. 35 toneladas, apenas um vagão pode transportar 130 tonelaSe tal movimento se concretizar, 2011 poderá ser o início das, e há companhias como a Vale, que tem composições que de uma das décadas mais prósperas para o setor. De acordo chegam a 320 vagões. com o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), até ESTIMATIVAS DIFUSAS 2023, as políticas públicas referentes ao tema implicam inSe os planos entrarem nos trilhos, até 2015, a malha férrea vestimentos de R$ 150 bilhões. Ou seja, mais da metade dos deverá corresponder a 35 mil km, um bom avanço, se comR$ 290 bilhões previstos para todo o transporte brasileiro, que parados aos atuais 28 mil km, mas ainda aquém do que busca, como futuro eficiente e competitivo, a intermodalidarepresentava na década de 60, com seus 38 mil km de trilhos de. “O quadro de reversão já começou, e nós devemos deixar entrecortando o Brasil. “As ferrovias foram deixadas de lado prontos projetos e estudos ambientais para os próximos e, por isso, não acompanharam o ritmo de crescimento do governos”, afi rma o secretário-executivo do Ministério dos país”, admite Passos. Transportes, Paulo Sérgio Passos. Hoje em dia, já são mais de 17 mil km em estudo e em Dessa forma, as ferrovias brasileiras voltariam a ser o andamento, mas a própria assessoria de comunicação do principal caminho do transporte de cargas no Brasil, represenMinistério dos Transportes admite que é difícil chegar a um tando 35% do total, ante 30% do rodoviário, em uma tentativa número fechado. Isso porque todos os projetos são discutidos de provocar sinergia entre os diferentes tipos de transporte. Hoje, as rodovias correspondem a 58% do total de cargas transportadas, enquanto a malha ferroviária registra apenas 21%. (km de via por 1.000 km² de área territorial) Além de a malha ferroviária ser pequena – 28 mil ÁREA RODOVIAS km –, há o agravante de (milhões de km) PAVIMENTADAS FERROVIAS DUTOVIAS HIDROVIAS ela ser subutilizada. Segundo a Agência Nacional BRASIL 8,5 25,0 3,5 2,3 1,6 de Transportes Terrestres CHINA 9,3 169,0 8,3 6,2 11,8 (ATTT), apenas 10% das ferrovias, ou 3 mil km, são ÍNDIA 3,0 528,0 21,3 7,7 4,9 plenamente ocupados; 7 mil km são usados abaixo RÚSSIA 17,0 44,0 5,1 14,5 6,0 da capacidade; e 18 mil km EUA 9,1 460,0 24,7 86,6 4,5 são subutilizados. Passos admite que, CANADÁ 9,0 46,0 5,1 10,8 0,1 em termos ferroviários, é preciso recuperar o temFontes World FactBook e Banco Mundial. Pesquisa do Instituto ILOS - 2009. po perdido, uma vez que o país levou muitos anos também em âmbito estadual, e, de acordo com as necessidapara investir em infraestrutura. “Olhamos para a frente e des dos estados, alguns trechos são incluídos nas discussões. percebemos que o Brasil terá de investir em ritmo acelerado, Mas os projetos só têm andamento quando transformados já que imaginamos um crescimento médio de 5% ao ano, e em medidas provisórias e em leis. O certo é que, desse monesses projetos têm relação direta com a condição próspera do tante, as obras de cerca de 5 mil km já estão sendo executapaís”, enfatiza. E não é para menos. As principais mercadorias das, ou deverão ser licitadas nos próximos meses. transportadas por trem são minério de ferro, com quase 75%

Foto: Arquivo ANTF

COMPARAÇÃO DA DENSIDADE DAS MALHAS

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NEGÓCIOS CAPA Algumas, como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, projetada para percorrer 1.490 km de Figueirópolis, no Tocantins, até o porto de Ilhéus, na Bahia, estão sendo viabilizadas pelo PAC. O investimento previsto é de R$ 6 bilhões. Seus primeiros 500 km de extensão devem ser concluídos no primeiro semestre de 2012. E Passos admite que já existem grupos empresariais interessados, como a Bahia Mineração e o Grupo Gerdau. No entanto, há desconfiança de alguns especialistas do setor. Paulo Fleury, CEO do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS), ainda tem dúvidas sobre a viabilidade dessa ferrovia. “O projeto é incipiente, porque esse estudo não está concluído.”

RODRIGO VILAÇA, DA ANTF: PLANEJAMENTO ALINHADO AO TRANSPORTE DE MERCADORIAS

PRIVATIZAÇÃO E GARGALOS

ITAQUI

PECÉM

SUAPE

PROJETOS EM ANDAMENTO 5.680 KM

ILHÉUS

VITÓRIA

Açailândia a Palmas: 720 km

RIO/SEPETIBA

Palmas a Estrela D’Oeste: 1.480 km

SANTOS PARANAGUÁ/S. F. DO SUL

Oeste-Leste BA: 1.490 km Transnordestina: 1.728 km Alto Araguaia a Rondonópolis: 262 km

RIO GRANDE Fonte Dados ANTT

ITAQUI

PROJETOS EM ESTUDO 3.687 KM

PECÉM

SUAPE CHILE/ ARGENTINA/ PARAGUAI

ILHÉUS

Vilhena (RO) a Uruaçú (GO): 1.227 km

VITÓRIA

Sta. Fé do Sul (SP) a Porto Murtinho (MS): 750 km Eliseu Martins (PI) a Estreito (MA): 460 km Cascavel (PR) a Maracajú (MS): 500 km

RIO/SEPETIBA SANTOS PARANAGUÁ/S. F. DO SUL

Ferrovia do Oeste Catarinense (SC): 500 km Litorânea (SC): 250 km

RIO GRANDE

Fonte Dados ANTT

Outros projetos da linha férrea para transporte de cargas têm à frente as concessionárias que participaram do processo de desestatização, ainda na década de 1990. “O planejamento do governo está levando as indústrias a pensar nos investimentos mais alinhados ao transporte de mercadorias”, comenta o diretor-executivo da Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça. Para que o futuro seja realmente promissor, a associação aponta fatores que integram a agenda estratégica do setor e precisam ser cumpridos, divididos em quatro grupos: institucional, voltado à regulamentação, à segurança e à boa comunicação entre governo e concessionárias; sustentabilidade, que agrega os estudos ambientais dos trechos, tecnologia e capital humano; tributário; e de infraestrutura, que se refere à expansão da malha, intermodalidade e eliminação dos gargalos, um dos principais problemas apontados pelo setor privado. O modal ferroviário ainda é voltado mais para o transporte de grãos e minérios, que são produtos não-perecíveis, e de baixo valor agregado. Um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em novembro de 2009, revela o resultado de uma pesquisa realizada com mais de 20 empresários de setores produtivos considerados usuários potenciais – mas não efetivos – do transporte férreo. Eles apontaram os seguintes problemas para não utilizar as ferrovias: 65% deles alegaram a indisponibilidade de rotas; 58%, a falta de flexibilidade das operações ferroviárias; 50%, a baixa velocidade; 48%, os custos; e 34%, a indisponibilidade de vagões.

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Processo de desestatização: 1996 a 1999 11 malhas concedidas à iniciativa privada Transnordestina / Logística EFVM / Estrada de Ferro Vitória a Minas EFC / Estrada de Ferro Carajás FCA / Ferrovia Centro -Atlântica ALL / América Latina Logística / Malha Sul

TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGAS BRASILEIRO

Fotos: Divulgação

Malhas ferroviárias operadas pela iniciativa privada: 28.314 km

Ainda existem outros problemas de déficit em termos de infraestrutura. A malha ferroviária brasileira é antiga, tem problemas de traçado e raios fechados, o que diminui a velocidade dos trens. Quem aponta tais debilidades é o próprio secretário-executivo do Ministério dos Transportes. “Enquanto a média de velocidade é de 50 km/h, em alguns momentos, os trens chegam a 15 km/h”, complementa Fleury, do Instituto ILOS. Por esse estudo, o Ipea conclui que são necessárias 141 obras de infraestrutura para melhorar a eficiência operacional e de competitividade do setor. Mas não é só por causa do percurso dos trilhos. Entre os principais problemas apontados pela ANTF que causam diminuição na velocidade dos trens, estão as invasões de faixa de domínio. Ou seja, fa-

ALL / América Latina Logística / Malha Norte ALL / América Latina Logística / Malha Oeste ALL / América Latina Logística / Malha Paulista FTC / Ferrovia Tereza Cristina MRS / Logística Trecho da Norte Sul

Com a atuação do governo federal, pode-se atingir 35 mil km de malha ferroviária, em 2015.

mílias que não respeitam a distância mínima entre a construção de suas casas e a passagem do trem. Ao todo, são 200 mil, provenientes de 434 áreas invadidas, que precisam ser removidas, além de 12,4 mil passagens de nível dentro das cidades, que devem ser desativadas, pois também causam lentidão para esse meio de transporte. A MRS Logística teve sucesso, há dois anos, quando fez um acordo com a Prefeitura do Rio de Janeiro, o Ministério dos Transportes e o Ministério das Cidades. Eles removeram 450 famílias que moravam na margem de segurança da linha do trem, na favela do Arará. A negociação, iniciada em 2001, resultou num investimento total de R$ 31 milhões, dos quais R$ 6 milhões vieram da MRS, R$ 5 milhões do Ministério dos Transportes e R$ 20 milhões da Prefeitura. Vilaça, da ANTF, está otimista quanto à solução dos gargalos referentes à infra-estrutura. Isso porque, ainda no primeiro semestre, ANTF e associadas, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) apresentarão ao governo propostas para a solução desses problemas. “Isso tamFevereiro, 2010 AméricaEconomia 17

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NEGÓCIOS CAPA bém servirá como um dos componentes para eventual repactuação dos atuais contratos de concessão”, explica Vilaça, da ANTF. Com base nesse encontro poderão ser traçadas novas metas, além de alternativas ainda mais participativas da iniciativa privada, tanto econômica como socialmente. “Depois de uma análise bem detalhada ao longo desses 12 anos de concessão da linha férrea, estamos olhando a nova década com excelentes perspectivas e queremos transformá-la em uma malha competitiva, integrada, com foco no cliente, trazendo segurança e estabilidade jurídica para atrair capital externo”, revela o executivo.

PLANTAÇÃO DE CANA DA COSAN E MINERAÇÃO DA VALE: FORTE INVESTIMENTO NO MODAL FERROVIÁRIO PARA ESCOAR A PRODUÇÃO

AS CONCESSÕES Em 1997, quando a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi extinta, ela apresentava prejuízos acumulados ao longo de três anos, no valor de R$ 2,2 bilhões. De lá até 2008, o setor gerou um saldo positivo para as contas públicas de R$ 9,9 bilhões, referentes à arrecadação de impostos, arrendamento, concessão e Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide). De 1997 a 2008, segundo a associação, os investimentos privados totalizaram R$ 18,8 bilhões, a produtividade ferroviária medida por tonelada transportada por quilômetro útil (TKU) teve um crescimento de 95,1%, e o volume de cargas transportadas aumentou 81,5%, chegando a 459,7 milhões de toneladas. No mesmo período, o governo federal investiu R$ 1,0 bilhão. Entre as principais ferrovias, estão a Transnordestina, cujas obras do novo projeto – que a transformou na nova Transnordestina – estão sendo viabilizadas com recursos do PAC e coordenada pelo Ministério dos Transportes. São 1.728 km, saindo de Eliseu Martins, no Piauí, até os portos de

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Fotos: 1 - Divulgação; 2 - Luiz Claudio Marigo; 3 - Agência Vale

Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. O investimento previsto é de R$ 5,2 bilhões, e as obras estão em ritmo adequado, segundo balanço divulgado pelo PAC. Boa parte deve ser concluída até o fim deste ano. Mas o governo admite estar revendo prazos para a conclusão de todo o trecho. Um exemplo de projeto privado em fase avançada é o da antiga Estrada de Ferro Carajás, cuja concessão foi adquirida pela Vale e que foi transformada no trecho norte da Ferrovia Norte-Sul. O antigo trecho de 200 km, que ligava Porto Franco a Açailândia, ambos no Maranhão, já opera, desde dezembro, até Colinas do Tocantins, completando 452 km de extensão. O trecho norte, cujo total é de 720 km, vai até Palmas e deve ser concluído no primeiro semestre deste ano, com investimento de R$ 1,63 bilhão. Além de contribuir para fomentar o agronegócio, o investimento da Vale criará uma logística competitiva para grãos (soja, arroz e milho), carnes (suíno, bovinos e aves), combustíveis (álcool, biodiesel, diesel e gasolina) e fertilizantes. A ferrovia contribuirá, também, para o desenvolvimento portuário, decorrente do crescimento da movimentação de produtos para exportação. O trecho sul prevê a construção de 1.535 km, de Palmas até Estrela do Oeste, em São Paulo, com injeção de capital da ordem de R$ 6,5 bilhões. Apenas em 2010, a Vale investirá em logística o equivalente a US$ 2,6 bilhões, para suportar o plano de expansão de minério de ferro. Outro exemplo da necessidade e do potencial das ferrovias brasileiras veio da Cosan, que, neste ano, fechou um contrato de compra de 50 locomotivas da GE. O anúncio foi feito pelo presidente mundial da GE, Jeffrey Immelt, em visita ao Brasil, em janeiro. Na ocasião, Immelt também garantiu o investimento, neste ano, de US$ 12 milhões para a ampliação da GE Transportation em Contagem, Minas Gerais. A MRS Logística está em período de silêncio desde que o atual presidente, o engenheiro Eduardo Parente, assumiu, após a saída de Júlio Fontana Neto, que ocupava o

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cargo fazia uma década. Mas o relatório referente ao terceiro trimestre de 2009 revela que a companhia está em um momento promissor. Somente em setembro, teve um recorde mensal histórico de produção, com 13,2 milhões de toneladas transportadas, principalmente de minério de ferro e produtos siderúrgicos. A MRS terminou o trimestre com um caixa de R$ 71,3 milhões e ebitda de 53,3% no trimestre. O consolidado do ano não foi fechado Bem menor, mas de suma importância, por causa de projetos futuros, a Ferrovia Tereza Cristina mantém-se isolada, de Imbituba, em Santa Catarina, até a região carbonífera/cerâmica e metal-mecânica, passando por 12 municípios catarinenses. Ela atende, principalmente, o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, transportando carvão. Em 2009, foram 2,9 milhões de toneladas transportadas. Mas os olhos do setor estão voltados a ela por causa do projeto da Ferrovia Litorânea, que prevê um trecho de 235 km, entre Imbituba e Araquari, também em Santa Catarina. “Em agosto, o DNIT contratou empresas para fazer o estudo ambiental, a fim de viabilizar a obra”, revela o gerente de Divisão Comercial, Carlos Augusto Menezes. Segundo ele, os estudos e a licença ambiental devem ser entregues até o primeiro semestre de 2011. Menezes revela, também, que as obras devem consumir um total de R$ 17,5 milhões. O governo ainda não confirma os detalhes, mas coloca nos estudos do PAC esse projeto. “Dessa forma, ficaremos ligados à rede nacional, e a região terá muito a ganhar com isso”, admite o gerente da Ferrovia Tereza Cristina. Assim, se de fato o governo atual e o futuro abraçarem o compromisso, junto da iniciativa privada de executar esses projetos, o Brasil tem tudo para entrar nos trilhos e ganhar posições no ranking da competitividade mundial.

9,9

bilhões de reais foi o quanto o setor movimentou de 1997 a 2008

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NEGÓCIOS ENTREVISTA

A ORDEM É

CRESCER

MARCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO FOTO: ROBERTA DABDAB

A

ALL é a maior empresa independente de serviços de logística da América Latina. São seis concessionárias, 21,3 mil km de vias – incluindo mais de 8 mil km na Argentina –, 1.095 locomotivas e 700 veículos rodoviários e centros de distribuição e armazenamento. Em 2009, a queda na produção industrial, a redução de 8% da safra agrícola e as fortes chuvas do final do ano impactaram diretamente os resultados da empresa, que teve de se contentar com um aumento de volume transportado aquém do estimado – de 5,8%, para 35.631 milhões de toneladas por quilômetro útil (TKU) –, e uma queda de ebitda de 8,6% no Brasil, para R$ 1,1 bilhão. Mesmo assim, Bernardo Hees (foto), um carioca de 37 anos, radicado em Curitiba, afirma estar otimista para 2010. Em entrevista à AméricaEconomia, Hees comentou as expectativas de investimento para o setor ferroviário brasileiro.

AméricaEconomia Na sua opinião, qual deverá ser o cenário para o setor ferroviário na próxima década? Bernardo Hees O setor deve ter uma curva de crescimento espetacular. Projetamos crescimento de 23% ao ano, sendo que o minério deverá corresponder a metade dessa demanda.

AE Como você avalia a década que passou? Hees Há dez anos, 70% dos ativos encontravam-se não operacionais e os níveis de segurança eram péssimos. Ao longo da década passada, houve investimento junto dos clientes, crescimento em volume de cargas transportadas e uma história que já pode ser considerada de sucesso diante de tanto abandono. Hoje em dia, para cada R$ 1 que a ALL investe, nosso cliente injeta o mesmo valor. Isso é um indicativo de confiança, pois antes ninguém acreditava no setor.

AE Você acha que o fato de as concessionárias precisarem devolver a concessão após um período desestimula os empresários a investir ainda mais no setor? Hees O governo está aberto a discutir a renovação dos prazos. A Ferronorte, por exemplo, ficará sob a guarda do capital privado por 90 anos. As outras têm prazo de 30 anos, renováveis por igual período. Portanto, nas nossas malhas – sem contar a Ferronorte – temos ao menos mais meio século para investir.

AE Com todos os projetos de ampliação, o fato de a malha ferroviária ter trechos administrados por outras concessionárias pode ser um empecilho no futuro? Hees O governo está incentivando as expansões das próprias concessionárias. Uma prova disso é a Ferronorte, que está sob nossa concessão. Em junho de 2009, iniciamos obras que vão

do Alto Araguaia a Rondonópolis, ambos no Mato Grosso, percorrendo uma distância de 260 km. Todo o setor quer crescer e colaborar, para alcançar melhor competitividade. Por isso, acredito em parcerias.

AE Quais são os gargalos preexistentes para a ALL? Hees Em geral, estamos satisfeitos, pois nem a crise financeira mundial nos prejudicou. Mas é claro que não podemos ignorar alguns problemas referentes à infraestrutura. Os principais são as invasões em faixa de domínio e as passagens de nível nas grandes cidades, que são de responsabilidade do governo e, portanto, são problemas sobre os quais não temos autonomia. Mas há uma agenda – elaborada com a Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF) – que será apresentada ao governo ainda no primeiro semestre deste ano.

AE Quais são as perspectivas na Argentina? Hees Fechamos com saldo positivo, mas, em 2009, tivemos a pior safra dos últimos 50 anos e operamos com 30% de nossa capacidade ociosa. Em 2010, queremos retomar o crescimento com a volta do mercado de grãos. Tenho certeza de que qualquer cenário será mais positivo que o do ano passado. Nós acreditamos que a Argentina pode ser, proporcionalmente, ainda mais produtiva do que o Brasil, porque lá não existem morros. Mas desde que a economia ajude e a população também, porque, sempre que há protestos, eles fecham os trilhos do trem. E isso afeta nossa escala de entregas.

AE Quais são os próximos passos da ALL? Hees Continuaremos investindo uma média de R$ 700 milhões por ano no desenvolvimento de novos projetos e na valorização de nosso negócio no médio e longo prazos.

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Continuaremos investindo cerca de R$ 700 milhões por ano em novos projetos e na valorização de nosso negócio

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SEM VER A BANDA PASSAR

Aumento da concorrência no Brasil faz players investirem no mercado de banda larga em 2010 ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

Fotos: iStockphoto

NEGÓCIOS TELECOMUNICAÇÕES

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P

ara muitos brasileiros, o ano de 1998 deveria ficar no esquecimento: com três gols a zero e muita polêmica envolvendo a seleção, a França tirava a Copa do Mundo de nossas mãos. Mas não foram apenas Zidane e Petit que fizeram calar o Brasil nesse ano: milhares de paulistanos viram seus telefones ficarem mudos por causa de uma expansão de fios e cabos para aumentar o número de linhas

telefônicas, resultado da privatização da Telecomunicações de São Paulo (Telesp), repassada para o grupo espanhol Telefônica, porém, sem um gerenciamento adequado. “Os anos de 1997 e 1998 foram de caos,” diz Virgilio Freire, consultor da área de telecomunicações e ex-presidente de empresas no setor no Brasil, como a Vésper e a Lucent. “Os serviços de expansão realizados pela Telefônica foram feitos de maneira apressada e foram mal controlados, causando problemas terríveis para a população.” Mais de dez anos após a compra da Telesp, a operadora espanhola ainda teve de tourear problemas relativos à sua

estratégia de expansão no Brasil. Em 2009, foi a vez do produto de banda larga Speedy. As queixas de consumidores cresciam em volume tão expressivo que fizeram com que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) interviesse na questão, paralisando as vendas da Telefônica por cerca de dois meses – o que também se refletiu na perda de cerca de 148 mil clientes de banda larga da empresa, no terceiro trimestre do ano, em relação ao trimestre anterior. O fato é que a companhia teve de reagir rápido, em um ritmo que não poderá ser abandonado, daqui para frente, caso a empresa não queira perder mercado no Brasil. Isso porque, desde o anúncio da compra da Brasil Telecom pela Oi, no início de 2008, o ritmo de consolidações no setor se intensificou – só em 2009, foram cerca de 23 fusões e aquisições, segundo a KPMG, com destaque para a conclusão do processo de aquisição da Intelig pela TIM –, com novos competidores e uma demanda maior por investimentos para se manter na frente.

PERDA SENTIDA Nessa corrida de consolidação, uma das derrotas mais sentidas para a Telefônica foi a perda da GVT para a francesa Vivendi, no fim do ano passado, em um

GRUPO TELEFÔNICA NO BRASIL E NO MUNDO (dados relativos ao 3o trimestre de 2009)

Mundo (24 países)

Brasil

% BR/mundo

254,5 mil

87,4 mil

34,3%

268,6 milhões

64,1 milhões

23,9%

41,4 milhões

11,3 milhões

27,3%

Clientes telefonia móvel

205,9 milhões

48,8 milhões

23,7%

Clientes dados e Internet*

14,9 milhões

6 milhões

40,3%

Clientes TV paga

2,5 milhões

509 mil

20,4%

Clientes atacado

3,9 milhões

34,6 mil

8,9%

No de empregados Clientes (total de acessos) Clientes telefonia fixa

* Clientes do provedor Terra, Speedy e conexões dedicadas a clientes empresariais.

Fonte Telefônica.

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braço de ferro que durou mais de dois meses. Para analistas, a companhia GVT era vista como um último target relevante do setor já consolidado de telecomunicações, resta ndo agora apenas players de menor porte. “Hoje, olhando para o mercado, você não encontra outra GVT,” diz um analista da corretora Coinvalores. “Quando uma operadora é espelho, como é o caso da GVT, é necessário sair com toda a infraestrutura, desde o início. E ela conseVIRGILIO FREIRE: CRÍTICA AO MODELO DE TERCEIRIZAÇÃO INICIALMENTE ADOTADO PELA TELEFÔNICA guiu, de uma forma muito eficiente, renFrente ao atual cenário, apontam Mesh ou Wi-Fi, com foco, sobretudo, em tabilizar isso, investindo pesado e, ao os analistas, a Telefônica já não pocomunidades verticais, como os conmesmo tempo, entregando resultados. derá mais escorregar quando se trata juntos habitacionais da Cohab. Além disso, seus serviços são muito de credibilidade do produto para os competitivos,” diz. Estratégia diferente ÁGUAS PASSADAS consumidores brasileiros. “Em razão da adotada pela Telefônica no Brasil, Quanto ao episódio Speedy, a Telefôda falta de concorrência, em algumas fonte de grande parte de seus problenica defende já ser coisa do passado. áreas e em muitas mas, segundo ana“Foi realizado um conjunto de ações, regiões, o cliente listas. “Na Telefôde investimentos e de alterações de não tem a opção nica, tudo é terceiprocedimentos, seja na rede ou no atende migração”, afirrizado, o que eu dimento e na comercialização. Temos ma o analista da critico veementea convicção de que todas essas ações Coinvalores. “Mas mente”, diz Freire. colocam a Telefônica em uma posição onde há opções, A GVT atua em extremamente fortalecida para 2010 como a portabi86 cidades de 15 e para poder aproveitar o potencial de lidade numérica estados, além do crescimento desse mercado de forma mostrou, o cliente Distrito Federal, 13 bastante competitiva,” afirma Fernanmigra de uma fordeles nos quais a do Freitas, diretor de Relações Instituma muito forte.” operadora oferece cionais da Telefônica do Brasil. Para fazer frente a todo o seu portfóO fôlego que esse investimento daesse desafio, a Telio de produtos. rá à empresa poderá se ver eclipsado lefônica anunciou que, neste ano, prevê Também tem presença em São Paulo e pela ajuda que o Banco Nacional de Derealizar investimentos da ordem de R$ Rio de Janeiro, mas com oferta apenas senvolvimento Econômico e Social (BN2 bilhões. Uma das novidades previstas ao mercado corporativo. A empresa DES) aprovou para o grupo Oi, de R$ 4,4 pela empresa era a de lançar, até o final fechou o terceiro trimestre de 2009 com bilhões. Os recursos serão destinados de janeiro, uma oferta de banda larga um faturamento de R$ 442,3 milhões, e aos planos de investimento das quatro popular para o estado de São Paulo, R$ 1,2 bilhão no acumulado dos primeiempresas do grupo (Brasil Telecom Fixa por meio de tecnologia sem fio, Wiros nove meses do ano passado.

Fotos: Divulgação

NEGÓCIOS TELECOMUNICAÇÕES

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bilhões de reais é o quanto a Telefônica planeja investir no Brasil, neste ano

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e Brasil Telecom Móvel, Oi Fixa e Oi Móvel) relativos ao período de 2009 a 2011. Mas o grupo pode não ter fôlego para crescer no mercado de banda larga, devido à dívida adquirida com a compra da Brasil Telecom, ocorrida em 2008, de acordo com o analista de telecomunicações Virgilio Freire. “Em minha opinião, a Oi deu um passo maior que as pernas. Agora, está difícil para deglutir essa compra,” diz, indicando que, antes de mais nada, o maior desafio da Telefônica será aprender com seus próprio erros.

ROUPA NOVA JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO DO CHILE

Apostar na América Latina para crescer, no cenário econômico delicado de 2009, foi uma tarefa complexa para a Telefônica, não apenas no Brasil. Um dos principais movimentos da empresa para ajustar seu rumo à retomada econômica na região em 2010 foi impulsionar uma transformação na América Latina, mudando de vez da marca Telefônica para Movistar, sua marca de telefonia móvel. Uma medida extrema e trabalhosa como essa, segundo analistas, tem motivos óbvios: apagar a imagem negativa que o serviço da companhia deixou em muitos países, apresentando-se como um provedor de telecomunicações integrado, com TV paga, Internet e telefonia móvel e fixa. Tal iniciativa teve a partida dada em outubro, começando pelo Chile, com investimento de US$ 11,9 milhões. No Brasil, tal mudança poderia se dar em 2011. Segundo a empresa, a escolha do Chile aconteceu por ser um dos com mais alta penetração de tecnologia, além de ser um mercado menor em tamanho e de mais fácil acompanhamento para um processo inicial de mudança. Além disso, é um dos poucos na região em que a supremacia dos espanhóis sobre a América Móvil, do mexicano Carlos Slim, é clara. “A empresa está indo por

um caminho correto, pois sabe que precisa reunir seus serviços para aumentar a competitividade”, diz Marcelo Melnick, analista da consultoria Gurovic y Asociados, em Santiago. De qualquer forma, para a Telefônica, 2010 já começou com novos percalços na região. Um deles na Argentina – onde a empresa prevê investir US$ 500 milhões este ano –, e onde o governo fixou uma multa de US$ 27,4 milhões para a companhia, por ferir as regras de defesa da concorrência ao não informar ao organismo antitruste a compra de uma parte da Telecom Itália, sua principal concorrente no país. Já na Venezuela, o anúncio de desvalorização do bolívar, que, agora, tem um câmbio diferenciado para serviços taxados de “não essenciais”, como a telefonia, poderá reduzir o faturamento do grupo em mais de 4% e o lucro em cerca de 10%, segundo analistas. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a receita da operação latino-americana da Telefônica representou 39,8% do total do grupo – ante 35,1% da Espanha e 24,1% da Telefônica Europa –, dois pontos percentuais a mais do que em relação ao mesmo período de 2008.

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NEGÓCIOS ENTREVISTA

A TODA MÁQUINA SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO FOTO: KIKO FERRITE

A

ntonio Roberto Cortes esteve à frente da Volkswagen Caminhões por mais de dez anos. Por isso, hoje, como CEO da MAN Latin America, pode afirmar com propriedade que o mercado de caminhões é um bom termômetro da economia brasileira. “Quem compra um caminhão vislumbra utilização, frete, transporte de riqueza”, diz, revelando um otimismo alinhado à retomada do crescimento no país, que se reflete diretamente nos planos da empresa. Em janeiro, a MAN anunciou a volta do terceiro turno da fábrica em Resende (RJ), com a contratação de 700 funcionários. Além disso, a companhia acelera os investimentos para dar início à produção dos primeiros caminhões MAN no Brasil, da categoria extrapesados, com os quais disputará mercado com Volvo, Mercedes-Benz e Scania.

AméricaEconomia A MAN anunciou, em janeiro, o aumento da capacidade de produção da fábrica de Resende. De onde esse aumento de demanda chegará primeiro? Antonio Roberto Cortes Nossa expectativa quanto à retomada da atividade econômica de uma forma plena é grande. Estamos nos preparando para isso. Antes da crise financeira, nós trabalhávamos com três turnos cheios e, agora, estamos retomando a capacidade

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AE Como foi 2009 para a empresa? ARC No geral, as vendas do setor ca-

Em 2007, anunciamos um plano de investimentos de US$ 1 bilhão em cinco anos, e vamos mantê-lo

íram 11%, enquanto nós registramos queda de 9%. Nas exportações, a queda do setor foi de quase 40%, e nós tivemos redução de 30%. Isso ocorreu porque nossos principais países exportadores – Argentina, México e África do Sul – estão sofrendo mais do que nós com essa crise. Hoje, as exportações representam 15% das nossas vendas.

AE No ano passado, a Volkswagen Caminhões foi incorporada pela MAN e se tornou a MAN Latin America. Em que isso mudou o negócio de vocês? ARC Foi importante, pois passamos a participar do nicho de caminhões extrapesados, que concentra de 15% a 20% do mercado de caminhões brasileiro, e que não faz parte do portfólio da Volkswagen. A MAN não tinha presença no Brasil, e o objetivo de chegar aqui, bem como na India, e fazer uma parceria na China é o de que, daqui a cinco anos, 50% dos negócios da MAN estejam fora de Europa.

AE E isso implicou adaptação? ARC Para nós, faz parte da evolução do

de antes da crise, de 72 mil unidades ao ano. Nós já estamos observando uma recuperação forte em construção civil, mineração, logística, transportadores, de produtos de bem de consumo e do setor agrícola. Há o incentivo do governo ao PAC e os projetos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Além disso, o Brasil tem uma peculiaridade que nos deixa mais confortável com essa decisão: hoje, a idade média da frota de caminhões, no Brasil, é de 18 anos. E o ideal seria uma frota de 8 ou 9 anos. Ou seja, os caminhões brasileiros estão duas vezes mais velhos do que deveriam estar. Isso não é economicamente viável, nem para a segurança, nem para os níveis de consumo, nem para o ambiente, pois poluem mais.

negócio. Em 1998, quando começamos, vendíamos 9 mil veículos ao ano e detínhamos de 12% a 15% do mercado; em 2009, vendemos 46 mil e chegamos à liderança, com mais de 30%. E isso só foi conquistado em virtude de quatro pilares. O primeiro é ter produto e, para tanto, temos uma engenharia no Brasil, não usamos uma fórmula importada. O segundo é ter rede que garanta um pós-venda barato e disponibilidade de peças em qualquer lugar. O terceiro foi a construção da fábrica de Resende, com um modelo totalmente inédito de produção, chamado consórcio modular, em que, em invés de nós montarmos um caminhão, quem monta são nossas empresas parceiras. E o quarto pilar é o foco. Com isso, agora, entramos em um mercado novo, com a marca Volks permanecendo onde está. Assumindo que ganharemos em custo, a fabricação aqui também possibilitará a exporta-

ção para a América Latina, mercado sobre o qual somos responsáveis.

AE Qual o investimento para fabricar caminhões e motores MAN no Brasil e qual a previsão de início da produção? ARC Em 2007, anunciamos um plano de investimentos de US$ 1 bilhão em cinco anos, e vamos mantê-lo, redirecionando esse investimento. Agora, estamos acelerando esse processo. Isso significa que, muito provavelmente, entre o final deste ano e o início do ano que vem, já começaremos a fabricação.

AE A MAN tem grande experiência no desenvolvimento de tecnologia para ônibus híbridos usando energia elétrica. Esse seria um modelo viável para o Brasil? ARC Quando você fala em ônibus, você fala em tarifas, em poder aquisitivo. Se conseguíssemos uma tecnologia híbrida com custo baixo, seria interessante. Mas isso ainda vai demorar vários anos, e as prioridades do Brasil são a questão ambiental e a menor dependência do petróleo, e acho que isso está no biodiesel. Hoje, focamos nosso pessoal de pesquisa em desenvolver um motor que rode 100% biodiesel, ou que rode biodiesel o máximo possível, com eficiência.

AE Existe algum fator que poderia ameaçar as estimativas de crescimento da MAN? ARC O governo implementou medidas de incentivo que, na minha opinião, foram excelentes, que passaram por uma isenção do IPI para caminhão e redução do custo financeiro por meio de concessão de empréstimo via BNDES: para o caminhoneiro, a taxa era de 13,5% e caiu para 4,5% ao ano; para o frotista, caiu de 10,0% para 7,5%. Automaticamente, as vendas foram retomadas, e essa eu acho que é a equação do Brasil, de um modo geral. Medidas como essa não deveriam ser feitas somente em momentos emergenciais, mas no longo prazo, para que houvesse uma desoneração geral de impostos e redução da taxa de juros. Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 27

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NEGÓCIOS CARNAVAL

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FESTA PROFISSIONAL 28 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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Só o desfile do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro deve movimentar R$ 1,2 bilhão neste ano, em uma festa que tem muito espaço para crescer VERÓNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO

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magine escolher Nilópolis como destino de suas próximas férias. O pacote de quatro dias inclui hospedagem em um hotel fazenda, banhos nas melhores cachoeiras fluminenses, trilhas no Parque Nacional de Gericinó e visitas à Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis, assistindo a shows de sambistas, conhecendo os processos de confecção de fantasias, conversando com membros da velha guarda e respirando a cultura do Carnaval. Fazer um parque temático do samba pode ser um sacrilégio para tradicionalistas, mas quem estuda e trabalha na área considera um modelo a seguir para desbravar parte do potencial de um mercado que deve movimentar, neste ano, R$ 1,2 bilhão apenas com o desfi le das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

A criação de um parque temático do samba foi uma ideia que surgiu de Sergio Sessim, prefeito de Nilópolis, ao perceber que a Beija Flor é a principal atração e umas das maiores fontes de renda do município. O Bairro de Madureira, por exemplo, é outro local com potencial temático. Ele é o berço de três escolas de samba – a Portela, a Imperatriz Leopoldinense e a Tradição –, e já se está desenhando um projeto para a criação de um sambódromo popular no local, que leva a assinatura do designer austríaco Hans Donner, criador de vinhetas do Carnaval para a Rede Globo, casado com uma das musas da festa. “Precisamos identificar o que existe e aproveitar seu potencial”, diz Luiz Carlos Prestes Filho, principal pesquisador brasileiro da economia do Carnaval.

Autor e coordenador do estudo “A Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval”, Prestes Filho é o primeiro a analisar academicamente os números do Carnaval do Rio. Em 2000, quando iniciou a pesquisa, no Núcleo de Estudos de Economia da Cultura da PUC-Rio, o Carnaval envolvia gastos de R$ 416 milhões. Em 2006, último ano registrado, esse número chegou a R$ 685 milhões e gerou 246,5 mil postos de trabalho por mês, com a mobilização de 470,3 mil trabalhadores. Para este ano, estima-se que a festa movimentará R$ 1,2 bilhão. Esses valores referem-se apenas ao desfi le das escolas de samba do Grupo Especial e não contabilizam trabalhos especializados. Entre eles, há o das artesãs de Barra Mansa, que produzem cerca de 40 milhões de bordados por ano:

Fotos: 1 - iStockphoto; 2 - Pedro Kirilos/Riotur

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1 ACIMA, DESFILE NO SAMBÓDROMO. À DIREITA, PRESTES FILHO COM MEMBROS DA ESCOLA DE SAMBA UNIÃO DO PARQUE CURICICA

52% para as escolas do Rio, 26% para as agremiações paulistas, e o restante para o exterior. O negócio gera cerca de R$ 52 milhões anuais, equivalentes a 4,5% do PIB do município, e vem de uma atividade quase sempre informal, em que a evasão fiscal é recorrente. “Temos de estudar as profissões do Carnaval, o serralheiro, o maquiador etc. Não temos planejamento dessas atividades, que hoje, são muito empíricas”, diz Prestes. “Precisamos pensar quantos operários devem ser preparados para oferecer serviço qualificado, assim como se faz na indústria, mas não temos política de Estado para isso”, diz o pesquisador.

ENORME POTENCIAL O Carnaval tem outros dados e cifras que impressionam, como o da venda de ingressos. Abertas em janeiro, elas registraram o recorde de 32 minutos para esgotar os 12.190 ingressos de arquibancadas especiais e cadeiras individuais, para cada dia de desfi le na Sapucaí. Isso sem contar os camarotes, que somem na mão de cervejarias, bancos e multinacionais. Bem como o patrocínio do tema dos sambas-enredos, negócio que já atraiu até Hugo Chávez. Em 2006, o presidente venezuelano apoiou a escola de samba Vila Isabel, campeã naquele ano, levando o tema Simon Bolívar ao Sambódromo. A ordem dos especialistas e o desejo das autoridades é aproveitar esse sucesso e profissio-

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nalizar o setor, para que ele gere ainda mais recursos. As possibilidades são infi nitas e incluem desde patrocínios, direitos de imagem e de transmissão de TV a novos investimentos em turismo e nas profissões do Carnaval. Contrariamente ao modelo temático, que chama de turismo Cancún, o consultor e escritor de livros de gestão Ricardo Neves diz que é necessário aproveitar as características do Carnaval como um evento espontâneo, que, na sua visão, atrai um turista que busca uma experiência de viagem, e não um modelo pasteurizado. “Há um novo fi lão, que não é o que está na tela da Globo. É o Carnaval do exército das formigas empreendedoras, que deixa para trás um Carnaval pago apenas por grandes patrocinadores, em uma perspectiva que esses patrocinadores não dominam. É o resgate de uma festa

verdadeiramente popular”, diz Neves, que é folião em blocos de rua do Rio. “O Brasil não comercializa, não desenvolve e não aproveita o Carnaval como negócio, como também não faz com o futebol”, diz o consultor Fernando Prestes Maia , que preside o Instituto Pensamento Nacional de Bases Empresariais (IPNBE), uma entidade que tem, entre outros fi ns, a formulação de projetos de longo prazo para o país. Maia vê oportunidades de negócio em áreas alheias ao Carnaval, como alimentação e bebidas, brindes e acessórios, mas também acha que os negócios da festa não precisariam ser sazonais e restritos ao verão. O empresário cita o caso de palestras em que a escola de samba é estudada como modelo de gestão. E quem melhor para dar uma palestra que os próprios membros da escola? – um fi lão que elas ainda não exploram.

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3,1 milhões de reais é o preço da cota de patrocínio, em Salvador

A empresa Aliante, especializada em eventos para executivos, foi uma das que colocaram esse bloco na rua. A ideia não é nova. O economista austríacoamericano Peter Drucker chegou a propor a escola de samba como modelo de planejamento, em uma das suas visitas ao Brasil. O pacote da Aliante “Escola de Samba Corporativa” é oferecido para ensinar tópicos como motivação, gerenciamento de projetos, disciplina e espírito de equipe.

Fotos: 1 - SXC; 2 - Divulgação; 3 - Pedro Kirilos/Riotur

A MARCA DO CARNAVAL De fato, são as empresas as que melhor têm se beneficiado do potencial da festa brasileira. “Quem mais tem aproveitado isso, em termos de marca, é a Brahma, com seu famoso camarote na Sapucaí”, diz Eduardo Tomiya, especialista em marcas e diretor geral da consultoria BrandAnalytics. Mas ela não está só. Para este ano, por exemplo, Nova Schin, Itaú e Petrobras já garantiram seu lugar como patrocinadores oficiais do Carnaval de Salvador, na Bahia, pagando, cada uma cerca de R$ 3,1 milhões. Segundo o Salvador Turismo, órgão do governo baiano, mais de 200 empresas disputam espaço nessa festa. A cervejaria Ambev, dona da Brah ma, considera o Carnaval um dos seus principais investimentos de marketing, junto do futebol e das festas juninas. E o camarote, que já tem 19 anos de Sapucaí, é apenas um ponto na sua rede de investimentos. A empresa venceu, com a marca Antarctica, a licitação da Prefeitura do Rio para ser a patrocinadora oficial do Carnaval de rua da cidade. “É uma prova de como o poder público po-

de dar estrutura ao Carnaval sem tirar a espontaneidade. Com uma licitação, parceiros oferecem a estrutura e ajudam no orçamento público”, diz Thiago Ely, gerente de Plataforma de Eventos da Ambev. A empresa investirá R$ 5 milhões para instalar 4 mil banheiros químicos, pagar as diárias de 500 controladores de trânsito, 80 diárias de UTIs móveis e espalhar sua marca pela cidade, em galhardetes de sinalização, guias de blocos e na decoração da Avenida Rio Branco. A empresa espalha, também, suas marcas nos carnavais de Salvador, Recife e Olinda e não desiste do investimento – ao contrário, cresce 3 ano a ano, mais que a inflação, ou seja, mais de 5%, diz Ely, como única pista. “Como continuamos investindo, pode se presumir que é um bom negócio”, diz o executivo, que tem visto um crescimento na profissionalização do Carnaval. Ely orgulha-se da ousadia que a marca teve há cinco anos, quando levou o DJ FatBoy Slim para um trio elétrico, em Salvador. Para ele, o desafio do Carnaval é ousar. Mas, se as grandes marcas exploram o Carnaval, por que não fazer dele uma grande marca? “Por trás da marca Portela, Beija Flor, Mangueira, há um valor específico. Temos de pensar em propriedade intelectual e Carnaval, garantindo a sustentabilidade deste”, diz o pesquisador, que calculou que, apenas com a passagem das escolas na Sapucaí, cantando dez sambas-enredo, são movimentados R$ 7 milhões em direitos autorais. “A marca do Carnaval precisa ser trabalhada, deixar de ser um calendário. É necessário posicionar o Carnaval do Rio como uma marca forte”, concorda Tomiya, da BrandAnalytics.

Para Prestes Filho, o espaço de crescimento de negócios para o Carnaval se concentra em marcas, patentes, propriedade intelectual e inovação tecnológica, porque áreas como alimentação, serviços e hospedagem chegam a um ponto de estabilidade em que não é mais possível crescer. Na opinião do pesquisador, os latino-americanos não sabem fazer gestão de marca nem de direitos autorais, diferentemente dos países do primeiro mundo, que basearam sua economia nesses quesitos. “A Petrobras é a 9ª empresa do mundo, mas não é uma marca conhecida”, afirma. E existe melhor marca do que aquela sinônimo de alegria e de festa?

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NEGÓCIOS CERVEJA

A MAIS CORTEJADA A venda da Femsa Cerveja à Heineken é um passo decisivo na consolidação do setor na América Latina. Depois, o foco estará nas médias

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osé Antonio Fernández, presidente da mexicana Femsa, diz que foram três os sinais que o fizeram avaliar o futuro da divisão de cervejas da companhia. Todos eles, curiosamente, são megafusões: primeiramente, a da Anheuser-Busch com a Inbev; depois, a da Molson-Coors com a SabMiller; e, a mais recente, a da Scottish & Newcastle com a Heineken.

“A Femsa Cerveja tinha tudo para ser uma companhia mundial, mas não contava com plataforma nem escala”, comenta Fernández. “E achamos que, para crescer, ou você compra, ou se junta, ou vende. Só não pode ficar parado.” Assim, depois de discussões e flertes com vários concorrentes, no começo de janeiro, a Femsa decidiu-se pela holandesa Heineken. Concordou em vender, pelo equivalente a US$ 7,6 bilhões, sua divisão de cervejas – oficialmente chamada Cervejaria Cuauhtémoc Moctezuma, que produz as marcas Tecate, Dos Equis, Bohemia e Sol –, em troca de uma participação de 20% na Heineken. Os mexicanos tornaram-se, assim, o segundo maior acionista da holandesa, depois da própria família Heineken. A Femsa ficou livre de dívidas, e com tempo e dinheiro para se dedicar a duas outras áreas: à expansão de sua rede de lojas de conveniência Oxxo e à engarrafadora Coca-Cola Femsa. “Além disso, esse acordo nos permite continuar na indústria da cerveja, porque vemos valor nela”, comenta Fernández. Essa venda põe um ponto final à era das grandes operações na indústria cervejeira latino-americana, já que os jogadores de peso independentes desapareceram. Daqui para a frente, serão as companhias de tamanho médio que começarão a sentir a pressão para se associarem a alguma das grandes.

Fotos: Divulgação

EDUARDO THOMSON E FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO

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No caso da Femsa, segundo Fernández, a possibilidade de um melhor posicionamento de mercado tornou a oferta da Heineken ainda mais atraente. “Havia quatro condições para qualquer oferta: a primeira, que o valor fosse atrativo; a segunda, a diversificação da presença geográfica do sócio; a terceira, o potencial de crescimento nos mercados em que se encontra; e a quarta, flexibilidade cultural”, diz. Assim, a associação com a Heineken coube como luva, já que a holandesa conta com presença global, operações com forte potencial de crescimento, como a China e o Sudeste Asiático, e entende a cultura da mexicana, já que é a Heineken USA quem faz a distribuição das marcas Tecate e Dos Equis nos Estados Unidos.

PRATELEIRAS VAZIAS Agora, na América Latina, as grandes oportunidades de compra estão ficando escassas. Por exemplo, para o grupo mexicano Modelo se tornar um alvo, deverá concluir um processo de arbitragem com a AB Inbev sobre a compra da Anheuser-Busch. A AB tem 50,1% da Modelo – ainda que não o controle –, e os donos do Modelo alegam que, em vez de passar à AB Inbev, eles deveriam ter opção para recompra destas ações. Segundo Olly Wehring, editor-chefe do site Just-Drinks, outro motivo pelo qual, em 2010, certamente o mercado estará mais calmo é que nem todas as grandes cervejeiras mundiais contam com muito dinheiro para fazer aquisições. “Elas fizeram grandes compras há pouco tempo e estão ocupadas consolidando o que têm”, comenta. A única grande que contaria com dinheiro abundante em mãos para fazer compras estratégicas é a SabMiller. Na América Latina, o que resta são atores médios. “Mas há bons ativos”, comenta Fernández, da Femsa. Entre as médias cervejeiras potencialmente atraentes, estão as brasileiras Primo Schincariol e Petrópolis, as venezuelanas Cervejaria Polar (do grupo Mendoza) e Regional (do grupo Cisneros), a Cer-

vejaria Nacional Dominicana (do grupo León Jimeno), a CCU do Chile (do grupo Luksic) e a costarriquenha Florida Ice & Farm (da família Lindo Morales), ainda que, nas duas últimas, a Heineken tenha participação minoritária. Os casos da Schincariol e da Petrópolis são particulares, já que estas ocupam o segundo e o terceiro lugares, respectivamente, em participação de mercado no país, segundo dados do Euromonitor Internacional. Contudo, segundo Enio Rodrigues, diretor do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja do Brasil (Sindicerv), Schincariol e Petrópolis arrastam passivos tributários suficientemente

16% é a participação da América Latina no mercado mundial de cerveja complicados para assustar um potencial comprador. “Dificultariam a compra por parte de um ator internacional, já que eles costumam ter regras muito restritas de contabilidade”, comenta Rodrigues. “SabMiller e Heineken fizeram diligências em empresas da região em anos anteriores, mas não chegaram a nenhuma conclusão.” Atores como a Petrópolis têm espaço suficiente para seguir crescendo dentro de seu país. “As fusões e aquisições são simplesmente trocas no jogo de xadrez mundial. Para nós, nada muda. Somos especialistas do mercado brasileiro e seguiremos fazendo o que sabemos fazer”, diz Douglas Costa, gerente de Marketing da empresa. Fora do Brasil, não há muitas oportunidades, ressalta Rodrigues, do Sindicerv. “Em alguns países, poucos atores têm participações tão altas que dificultam a entrada”, comenta. “Não vamos ver outra oportunidade tão atraente como a Femsa nos próximos três anos.”

Um dos países com alto nível de consumo per capita de cerveja na América Latina é a Venezuela, mas Rodrigues, do Sindicerv, duvida que players como SabMiller estejam olhando grupos como a Cervejaria Polar ou Regional no momento, já que a instabilidade não permite fazer grandes investimentos. O mercado latino-americano de cervejas, segundo o Euromonitor, representou 16% do volume mundial em 2008. A mesma empresa acrescenta que a América Latina, junto da região da Ásia-Pacífico, África e do Oriente Médio, será o único mercado regional que manterá ou incrementará sua participação no total de volumes cervejeiros, entre 2008 e 2013. E aí está o ponto positivo para os grandes, como Heineken ou um SabMiller. Com volumes estancados ou em franco declínio na América do Norte e Europa Ocidental, por conta da crise mundial, a região compensa essas baixas. Além de outro fator favorável: a jovem demografia da região, já que se espera que o consumo per capita de cerveja aumente 6,4 litros, entre 2008 e 2013, acrescenta o Euromonitor.

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NEGÓCIOS VISÃO VERDE

CASA CURTIDA Arquiteto do interior de São Paulo fabrica blocos usando retalhos de couro descartados da indústria calçadista GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

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ara quem nasce em Franca, a 400 km da capital paulista, é difícil não estar relacionado direta ou indiretamente com a produção de calçados. A cidade, de cerca de 330 mil habitantes, reúne 760 fábricas de calçados, responsáveis por 25 mil empregos diretos e uma produção anual próxima dos 30 milhões de pares. Nem mesmo o arquiteto Emar Garcia Júnior escapou dessa sina. Primeiro, com projetos relacionados aos escritórios dessas empresas. Depois, com um negócio resultante de uma inquietação: o grande acúmulo de retalhos de couro descartados pelas fábricas de calçados e curtidoras. “Pensava comigo: preciso fazer algo para reverter isso, tornar a produção mais sustentável”, conta Garcia. Há oito anos, ele começou a pesquisar uma forma de reutilizar esse resíduo. O resultado desse estudo foi o desenvolvimento de uma massa que, além do couro, inclui produtos como aglutinantes, bactericidas e catalisadores, com a qual o arquiteto investiu, primeiramente, na criação de peças de design decorativas e que, há quatro meses, transformou-se também na base para a fabricação de blocos para construção civil. “Além de reaproveitar esse material, a secagem dos blocos é feita ao ar livre, evitando a emissão de gases liberados no processo industrial em fornos”, explica. Para garantir matéria-prima, a Courecol, empresa de Garcia, negocia associações com curtidoras e indústrias de calçados. Atualmente, a Couroecol reúne 5 toneladas de retalhos de couro ao mês, com as quais consegue fabricar uma média de 2 mil blo-

empresa recolhe 1 Aretalhos de couro

descartados pelas fábricas de calçados e curtidoras

couro é 2 Omisturado a

outros produtos, como bactericida e catalisador, para formar a massa do bloco

massa seca 3 Anaturalmente em moldes

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Infografia: Rodrigo Damati; Foto: iStockphoto

cos. A doação dos retalhos mostrou-se um negócio vantajoso também para as empresas, já que economizam no descarte desses resíduos em aterros sanitários. “Hoje, nos cobram R$ 76 por tonelada de rejeito. Todos os meses, depositamos entre 5 e 6 toneladas”, diz Ivan Junior de Andrade, diretor da Curtidora Francana, primeira empresa parceira da Couroecol. Segundo Andrade, os custos com aterro sanitário representam, hoje, 3% do faturamento da empresa. Segundo Garcia, o bloco feito com resíduos de couro garante um isolamento acústico e térmico de 40%, “e custa o mesmo que os blocos de concreto, cerca de R$ 1 a unidade”. Para comprovar a eficiência do produto, nos próximos meses, Garcia, com o apoio de quatro empresas doadoras de couro, começará a construir a primeira casa feita com esses blocos, de 48 metros quadrados. “Depois, esperamos começar a associar nossa produção à demanda”, diz. O empresário não revela estimativas de faturamento com o novo produto – em cujo desenvolvimento, conta o empresário, colaboraram técnicos do laboratório Falcão Bauer e da Fundação Vanzolini –, mas afirma que tudo o que entrar no caixa da empresa, no começo, “será reinvestido no projeto”. Entretanto, declara otimismo quanto ao potencial do bloco no mercado de construção de casas populares. “O custo de produção de uma casa com esses blocos cai, em média, 30%”, afirma. “Para se ter uma ideia, um imóvel com 60 metros quadrados, feito com bloco comum, sai por algo entre R$ 18 mil e R$ 20 mil. Já um fabricado com o nosso custará entre R$ 13 mil e R$ 14 mil.” Isso porque, segundo o arquiteto, o bloco de couro pesa menos, reduzindo o custo da fundação. “Enquanto um bloco de concreto pesa até 6 kg, o feito com retalho não ultrapassa os 2,5 kg. E, quanto mais pesada uma construção, mais resistente – e cara – tem de ser a fundação.”

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toneladas de retalhos de couro é a atual capacidade mensal de processamento da Couroecol

Segundo Márcio Morato Galvão, da consultoria ambiental ECP, ideias como a de Garcia ainda são novidade no Brasil, mas seguem uma tendência já bem explorada nos países desenvolvidos. “Nos Estados Unidos, por exemplo, há pelo menos uma década existem os chamados green buildings”, diz, referindo-se a construções que usam materiais produzidos com resíduos e privilegiam os recursos naturais, com mais entradas para a luz do dia, por exemplo. “Aqui no Brasil, esse modelo ainda engatinha.” Para Garcia, entretanto, isso não parece ser problema. “Há um déficit habitacional importante entre os trabalhadores do setor calçadista aqui em Franca”, diz, afirmando que esse nicho é sua prioridade inicial.

os blocos 4 Prontos, são usados na

construção, unidos com cola PVA

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NEGÓCIOS PME

PEGADAS LUCRATIVAS GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

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BELTRAME: AUMENTO DA DEMANDA DE PROJETOS DEPOIS DA CÚPULA DE COPENHAGUE

Jovens empresários paulistas apostam no mercado de compensação de emissões de carbono em eventos

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Brasil tem ganhado papel de destaque na área de eventos. Embora não existam números oficiais, estima-se que mais de 300 mil encontros de todos os tipos aconteçam no país por ano. Os resultados para a economia são incontestáveis. Somente o segmento de grandes feiras movimentou R$ 3,4 bilhões em 2009, segundo a União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe). Mas, ao sentar-se em uma plateia e ouvir a apresentação de um expositor, poucos imaginam as toneladas de dióxido de carbono que se necessitou emitir para possibilitar a realização de tal encontro. Exagero de algum ambientalista fanático? Não. Essa preocupação é tão real que incentivou dois empresários paulistas a investir na neutralização de CO2 em eventos. Há dois anos, Fernando Beltrame e Ricardo Uchoa adicionaram mais esse serviço ao rol de atividades da Eccaplan, consultoria de desenvolvimento sustentável que, entre outros clientes, atende grandes redes varejistas, prestadoras de serviços para eventos e fabricantes de produtos de tecnologia da informação. “Nós somamos tudo o que envolve o evento, como uso de energia elétrica, ar-condicionado, milhas aéreas dos participantes, papel, lixo etc. Aí, fazemos o cálculo de quantas toneladas de carbono isso vai gerar e mostramos alguns projetos ao nosso cliente, para que ele possa escolher”, afi rma Beltrame, explicando que esse cálculo tem como base o GHG Protocol, ferramenta de medição de emissões de gases do efeito estufa. As compensações são feitas

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EVENTOS CORPORATIVOS: NICHO DE MERCADO PROMISSOR

Fotos: 1 - Ney Sarmento; 2 - Piti Reali; 3 - Lais Guadanhim

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

com a compra de créditos de carbono na Bolsa do Clima de Chicago, onde a empresa é registrada. Um dos principais clientes da Eccaplan é o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), que iniciou seu programa de evento neutro em agosto de 2008. “Já compensamos as emissões de 828 toneladas de gás carbônico. Dessa forma, nossos eventos subsidiaram a manutenção de um ano de atividades florestais sustentáveis, numa área equivalente a 210 campos de futebol do tamanho do Maracanã ou a 1,02 Parque do Ibirapuera”, diz Ana Lucia Ventorim, diretora-geral do Lide. A diretora do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), Marina Grossi, lembra que a compensação de carbono ainda não é obrigatória no Brasil, mas representa um mercado promissor. “As metas de redução, embora voluntárias, são compromissos, e sabemos que a maior parte dessas mitigações virá das empresas privadas.” Portanto, anteciparse é um diferencial competitivo para o empresário disposto a desembolsar entre R$ 3 mil e R$ 12 mil ao promover

um evento “neutro”de um dia para um público de até mil pessoas e que não envolva viagens. Do outro lado do balcão, quem desenvolve projetos de neutralização também colhe bons resultados. Principalmente após a Cúpula de Copenhague, que pode não ter surtido o efeito ideal, mas despertou o interesse de empresários pelo tema. “Temos 30 clientes fi xos e, depois do encontro na Dinamarca, mais de 20 empresas nos procuraram, interessadas no trabalho de consultoria ambiental”, conta Beltrame, que não revela o quanto a consultoria fatura anualmente, mas garante que só a parte de eventos é responsável por 60% dos lucros da empresa – que também trabalha com relatórios de sustentabilidade e programas de gerenciamento de emissões de gases do efeito estufa, atendendo a empresas de outros setores.

Uma iniciativa parecida com a da Eccaplan tem sido desenvolvida pela gaúcha Hack Consultoria, de Novo Hamburgo, que existe desde 1992 e participa de projetos como gestão de resíduos, licenciamentos e diagnósticos ambientais. Há cerca de três anos, a Hack, que atende em toda a América Latina, orientando empresas que atuam em segmentos como celulose, alimentício e coureiro-calçadista, resolveu apostar na neutralização das emissões de gases de efeito estufa de encontros corporativos. “A maioria dos trabalhos teve como objetivo promover a compensação e a consciência ambiental”, explica a gerente administrativa Adriana Hack. O processo é parecido ao da Eccaplan, com a diferença de que a gaúcha faz a compensação por meio do plantio de árvores. “Nossa empresa calcula o quanto deve ser neutralizado e repassa as orientações aos responsáveis, monitorando o plantio”, diz Hack. Essa é uma preocupação que os empresários devem ter na hora de escolher um projeto, orienta Grossi. “Não adianta só plantar árvores; é preciso saber se o bioma é o correto e se isso será monitorado. Assim como há muita iniciativa séria, há outras que não são.”

12 mil

reais é quanto pode custar a compensação de um evento

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MOVIMENTOS

HORIZONTE AMPLO Crescer em meio à crise financeira mundial não é para qualquer um. E não estamos falando da China, mas do Qatar, que viu sua economia expandir-se 11%, em 2009, graças à sua forte atuação no mercado de gás natural. Mesmo com essa performance invejável, o governo daquele país tem como plano estratégico diversificar seus negócios e se tornar menos dependente do setor energético, atraindo investimentos de empresas ao redor do mundo, sobretudo nas áreas de serviços e transferência de tecnologia. “Os negócios entre Brasil e Qatar não são tão significativos atualmente”, afirma Chadi Abou Daher, gerente regional do World Trade Center no Qatar. O intercâmbio comercial entre o Brasil e o Qatar, em 2009, foi de apenas US$ 220 milhões, ou 0,08% do total brasileiro. “Isso talvez se deva ao fato de que estão muito longe um do outro”, afirma Daher. Para reduzir essa distância e buscar parcerias, Daher visitou São Paulo no final de janeiro para inaugurar o International Perspectives, uma série de eventos que será promovida pelo WTC em 2010 com o objetivo de reunir executivos e especialistas internacionais para debater perspectivas de negócios e intercâmbios de diversos países.

Foto: iStockphoto

ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

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SER OU NÃO SER O braço de ferro de Martín Redrado pela Presidência do Banco Central não é o único dilema político do governo de Cristina Kirchner. O vice-presidente argentino, Julio Cobos, vem se consolidando como líder da oposição ao próprio governo que representa, com pré-candidatura à Presidência. Cobos ganhou fama ao votar contra o governo, no Senado, quanto à proposta 125, que eleva os impostos às exportações da soja e do milho. Na Argentina, o único papel do vice-presidente é encabeçar o Senado, e ele somente tem direito a voto quando há empate. Agora, o grande debate entre constitucionalistas é se esse voto decisivo pertence a Cobos ou à vontade do governo. Outro candidato à sucessão presidencial, o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, afirma que “Cobos não poderá ficar eternamente como vice-presidente com o rol de interessado nas eleições de 2011”. RODRIGO LARA, DE BUENOS AIRES

MOTORES LIGADOS As estimativas de crescimento do PIB acima de 5% para este ano animam diversos setores da economia brasileira. De acordo com projeções da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o segmento de automóveis e veículos comerciais leves deve comercializar 3,3 milhões unidades em 2010, uma alta de 9,73% em comparação com o ano anterior. Já o setor de caminhões deve negociar 123.885 unidades, um acréscimo de 13,50% em relação a 2009, e o segmento de ônibus deve apresentar crescimento de 11,50%, o equivalente a 25.196 unidades vendidas em 2010. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

Foto: Lilian Uyema

ALÍVIO VERÃO A previsão climática indica uma redução das chuvas nos próximos meses, um sinal de alívio para moradores e comerciantes da capital paulista, que sofrem com enchentes nos períodos mais quentes do ano. “O fato de São Paulo ter tido grandes problemas e chuvas muito acima do normal nos últimos meses não significa que o restante de 2010 será também debaixo d’água,” diz a meteorologista da Climatempo Josélia Pegorim. A expectativa de um volume menor de chuvas é um alívio para empresas como a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). A companhia teve de interromper a comercialização em seu entreposto durante praticamente um dia inteiro em dezembro, causando enormes prejuízos aos comerciantes. Para se ter uma ideia, o entreposto movimenta uma média de R$ 15 milhões diariamente. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

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MOVIMENTOS BOLIVIANOS NA MIRA Depois de lançar um serviço de remessas para estrangeiros que vivem no Brasil, no final de 2009 o Banco Rendimento aumentou a aposta nos imigrantes desbancarizados. O cartão Mi Plata permite ao usuário fazer pagamentos no comércio credenciado à rede Visa Electron e usar a rede PLUS de caixas eletrônicos para realizar saques. Segundo o banco, o foco inicial do cartão é atender à comunidade de bolivianos que vivem em São Paulo – de acordo com o Centro de Apoio ao Imigrante, ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fala-se em 160 mil bolivianos só na capital paulista. “O lançamento do cartão complementa as ações de anistia que estão sendo feitas. Sem dúvida, será um ganho enorme”, diz o cônsul geral da Bolívia em São Paulo, Jaime Valdívia. O banco não cobra taxa para compras; já cada retirada em caixa custa R$ 4,90. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

O SEGREDO ESTÁ NO VERDE Tão verdes como o pistache que se produz no Chile são os lucros da Omni Fruits. Seu dono, Amir Arjmand, chegou ao Chile no ano 2000 e instalou a Omni Fruits com somente quatro funcionários. Hoje, tem uma planta processadora na qual trabalham cerca de 50 pessoas e entre seus clientes estão indústrias como Bresler, Nestlé e Unilever. “O Chile compete com o pistache verde porque há pouca produção no mundo e, aqui, ele tem ótima qualidade”, diz Arjmand. Segundo o empresário, o segredo é que o pistache que se produz no Chile matura dentro da casca, conservando sua cor natural. E, quanto mais intensa ela for, mais gostoso será o fruto. O quilo do pistache, no mercado internacional, custa cerca de US$ 8. EVELYN QUEZADA, DE SANTIAGO

Mesmo que eles ainda convivam com discriminação e piores condições de vida, o relatório “Imigrantes e a Economia”, elaborado por David Dyssegaard, diretor de Pesquisa de Imigração do Fiscal Policy Institute, afirma que os imigrantes – sobretudo os recém-chegados – significam muito para a economia dos EUA. Em Miami, representam 37% dos habitantes e 38% do PIB. “Surpreende-me o que se passa em Nova York”, diz Dyssegaard, indicando que o nível de educação dos imigrantes lá tem aumentado, e estes já não se concentram apenas em trabalhos como limpeza e construção. Exemplo disso é que 54% dos trabalhadores da área de alimentação são imigrantes. No restante das regiões, os resultados indicaram que 24% já ocupam cargos gerenciais e profissionais, e 22% são empresários ou proprietários de negócios. Vale destacar que, do total de estrangeiros que vivem nos EUA, 47% são latino-americanos. CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO

Fotos: Divulgação

MÃOZINHA AO PIB

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VENDAS EM MOVIMENTO

MARÉ DE IANQUES Os turistas norte-americanos ainda não podem viajar diretamente a Cuba, mas isso poderá mudar. Um comitê da Câmara dos Deputados dos EUA discutiu, no final do ano passado, um projeto de lei apresentado pelo governo de Barack Obama que permitiria viajar à ilha, e o Ministério do Turismo cubano realizou uma reunião virtual com executivos de agências de viagens dos EUA. Mesmo que seja improvável que isso aconteça logo, estudo do Euromonitor International indica as vantagens de tal liberação. Dados da Sociedade Norte-americana de Viagens mostram que cerca de 835 mil turistas poderiam visitar a ilha anualmente, além dos 960 mil cubanos que vivem nos EUA PRINCIPAIS e gostariam de DESTINOS TURÍSTICOS visitar seus paNORTE-AMERICANOS rentes. O estudo NO CARIBE ainda aponta (em mil pessoas) 2007 2008 que tais viagens poderiam trazer Porto Rico 1.205 1.184 lucro anual de Bahamas 1.236 1.760 US$ 1,1 bilhão às Jamaica 1.132 1.150 empresas de turismo dos EUA. República Dominicana 1.080 1.091

EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO

Costa Rica

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São muitas as companhias cujas vendas estão estancadas por causa da crise, mas a Research In Motion (RIM), desenvolvedora da tecnologia Blackberry, é excessão. A empresa acaba de divulgar resultados muito acima das expectativas de analistas, e grande parte disso se deve ao rápido crescimento do faturamento da empresa fora dos Estados Unidos. “As operações internacionais estão avançando muito bem”, disse o presidente executivo da companhia, Jim Balsillie, destacando a força de suas operações na Ásia, Europa e América Latina. David Añón, diretor de Mercadotecnia de Canal da empresa para a América Latina, diz que o crescimento de assinantes e de usuários da tecnologia Blackberry na região tem sido muito forte nos últimos tempos, “superando 25% de um trimestre para o outro”. Isso se deve, diz Añón, à inclinação dos jovens por enviar mensagens de texto e à crescente expectativa do consumidor latino-americano de que seus telefones celulares façam muito mais do que somente receber chamadas telefônicas. ANTONIO MA-

RÍA DELGADO / MIAMI

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Fonte Euromonitor International

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MOVIMENTOS EMISSÃO ZERO

APOSTA COMPLICADA Três anos depois de ter se instalado no Equador, a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) faz sua aposta no mercado local de postos de gasolina. Com a inauguração da primeira unidade em Quito, no final de 2009 , a petrolífera busca ganhar espaço em um mercado já saturado. Ernesto Guerra, presidente da Associação de Distribuidores de Derivados de Petróleo de Pichincha, no Equador, conta que os executivos da PDVSA se apresentaram a empresários interessados em investir em novos postos com a marca venezuelana, bem como a donos de postos já existentes para lhes convidar a formar parte da rede PDVSA quando concluírem o contrato com outras redes. Mas não será uma briga fácil. Desde 1995, com a modernização das redes no Equador, o número de postos aumentou 145%, para os atuais 1.090, segundo empresários do setor. A margem de lucro dessa operação é regulada em dez centavos de dólar por galão, que deve ser repartido entre os transportadores, a distribuidora e o posto de gasolina. EVA VALENCIA, DE QUITO

Apesar do recente fracasso da Cúpula de Copenhague, o meio ambiente está cada vez mais presente no coletivo mundial. Na “Pesquisa de Atitudes sobre a Mudança Climática 2009”, produzida pelo HSBC com pessoas de 12 países (incluindo o México e o Brasil), 65% dos entrevistados assinalaram que é importante alcançar um novo acordo internacional para reduzir as emissões poluentes. Além disso, 79% dos entrevistados demonstraram interesse em que se estabeleça um compromisso global para alcançar a meta de reduzir as emissões entre 50% e 80% até o ano de 2050. Os mexicanos foram os que mais defenderam esse compromisso, com 91%; seguidos de Hong Kong, com 84%; e da China, com 82%. Já na Índia esse percentual foi de 75%; no Reino Unido, de 71%; e nos Estados Unidos, mais baixo, de 66%. Apesar do impacto da recessão global, sete entre dez pessoas concordaram que enfrentar as mudanças climáticas é tão importante, ou mais, que apoiar sua economia interna durante a desaceleração. NATALIA VERA, DE LIMA

EXPLOSÃO PETROQUÍMICA A empresa australiana Orica está de olho no Peru para iniciar outro grande projeto petroquímico. Trata-se da planta de nitrato de amônio em San Juan de Marco, na região sul de Ica, que demandará o investimento de US$ 500 milhões. “Forneceremos cerca de 60% da demanda local de nitrato de amônio. Isso totaliza umas 250 mil toneladas ao ano das quais se importa, atualmente, mais de 90%”, diz Robert J. McDonald, gerente geral da Orica Nitratos Peru. Assim, com a construção dessa planta, que se iniciará em 2011, a empresa produzirá 300 mil toneladas anuais de nitrato de amônio, permitindo abandonar a importação desse produto para abastecer o mercado interno. NATALIA VERA, DE LIMA

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© 2009 FedEx.

Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor. Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo, colocando assim, o futuro do continente em boas mãos.

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DEBATES HAITI

DE NOVO, MAS NÃO DO ZERO Não há como prever quando o Haiti poderá se recuperar dos efeitos do terremoto. Mas a coordenação previamente impulsionada pela força de paz da ONU poderá facilitar o caminho

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té a tarde de 12 de janeiro, o Haiti vivia em normalidade relativa, comum ao país. Era um estado comparável a Palestina ou Bagdá. A Polícia Nacional haitiana encontrava-se espalhada por quase todas as esquinas da capital Porto Príncipe com escopetas automáticas de grosso calibre e metralhadoras M-16. Efetivos militares da Minustah (sigla em francês para Missão das Nações Unidas

CARLOS SALDIVIA, DE PORTO PRÍNCIPE COM GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

para Estabilização do Haiti) patrulhavam a região, munidos de coletes antibala, com grupo sanguíneo escrito à vista de todos, capacetes e fuzis. Nos setores de afluência de pessoas, guardas privados da empresa Blackwater observavam cada movimento estranho. Depois do terremoto, porém, cerca de 70% da cidade foi ao solo. A estimativa de mortos, no fim de janeiro, já apontava 1

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um número próximo de 200 mil. Somente construções de rocha do começo do século permaneceram em pé, e uma pequena comunidade que vivia no luxo desapareceu do bairro nobre de Petion Ville. Afinal, o debacle humanitário do país, agora, está ainda mais longe de ser resolvido. “É uma imagem desalentadora”, diz, inconformado, um soldado do Exército brasileiro que não quis se identificar. Há dois anos, é um dos responsáveis por fazer a guarda em Cité Soleil, região mais pobre e violenta do Haiti. Pensava que sua retina já estava vacinada contra cenas de desgraça, pelo convívio diário com tantas imagens de miséria. Mas se enganou. Diante dos efeitos do terremoto, os cerca de 7 mil soldados dos 18 países, que formam a missão, comandada desde seu início pelo Brasil, tiveram de direcionar-se ao resgate de vítimas. Para o brasileiro, naquele momento, os cinco anos da Minustah e os US$ 577 milhões gastos por seu país na missão pareciam ter ruído com a cidade.

Fotos: 1- Agência Brasil; 2 - Carlos Saldibia

DIFÍCIL ANTES, PIOR DEPOIS Visitando alguns pontos da capital haitiana com o soldado, antes do terremoto, podia-se notar que, durante o dia, era possível caminhar normalmente, mas, à noite, o panorama mudava. Os brancos obedeciam a instruções de não circular, e os homens da Missão de Paz respeitavam o toque de recolher às 23h30, monitorados pela política militar noturna da Jordânia e do Brasil. No Haiti, o sol se põe às 17h30 e cada chuva costumava deixar inundações em quase todas as

MOVIMENTO EM RUA DE PORTO PRÍNCIPE (ESQ.) E AÉREA DO HOTEL MONTANA (ACIMA): PREJUÍZOS INCONTÁVEIS

ruas, já que não há pavimento além das avenidas principais. O segmento da areia branca para construção estava em seu auge. Isso explica por que as construções novas eram irregulares e altamente instáveis. Fato que foi alertado, em 28 de dezembro, por Andrea Loi, braço direito do chefe da missão da ONU no país, Hebi Anabi, ambos mortos no terremoto, já que três pequenos tremores de terra sentidos antes do Ano Novo tinham causado nervosismo no quartel-general da ONU. Dos três hotéis antes considerados seguros em Porto Príncipe, Montana, HMG e Le Plaza, apenas o último se manteve em pé, por um motivo lógico: foi construído por engenheiros norte-americanos sobre rocha e com blocos de pedra, o que garantiu que a moradia de diplomatas e militares resistissem, mesmo contíguas ao Palácio do Governo e à Catedral, que não resistiram ao abalo. Em Cite Solei, entretanto, fazer uma visita a pé só era permitido com colete antibalas e capacete. “É como uma favela brasileira”, compara o soldado. Um adolescente se aproxima e lhe pede dinheiro, desafiador, misturando creole, algo de português e inglês, ao que o soldado respondeu: “estamos aqui só para lhe dar segurança”. E ninguém discorda. Há cinco anos, quando a quantidade de mortos por roubo era impossível de determinar e quatro cartéis do narcotráfico Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 45

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DEBATES HAITI acenos de ajuda de todo o globo, os organizadores não tinham tempo de fazer estimativas, nem de ser otimistas: apenas de reagir. Uma semana depois do terremoto, com tropas de reforço desembarcando no país, a ONU ainda não sabia como organizar um sistema de ajuda que garantisse ao menos que água e alimentos chegassem aos mais necessitados. “E vamos ver se essa comoção internacional poderá se converter em uma colaboração efetiva”, questiona um alto oficial chileno da missão. “Antes do terremoto, o país já era a maior reunião de ONGs de direitos humanos e ajuda humanitária que conheci, com mais de 400 delas”, afirma, questionando o valor de uma ação tão fragmentada, sobretudo ao atrair intituições que sequer possuíam registro oficial. “Em contrapartida, há um cemitério de projetos de engenharia, em que os planos do Programa das Nações Unidas para o Desenvol-

SE NÃO FOSSE O TERREMOTO 1 A ÂNSIA DA BUSCA ENTRE OS ESCOMBROS: VÍTIMAS PODEM CHEGAR A 200 MIL

repartiram a capital em setores, tudo era indiscutivelmente pior. Os sequestros foram reduzidos de 327 mensais, em 2004, para cerca de 20 ao ano. “Realmente, a missão liderada pelo Brasil, nesses mais de cinco anos, conseguiu cumprir questões mais relevantes, que são a provisão de estabilidade e de condições mínimas de segurança pública”, diz Antonio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da Universide de Brasília (UnB). Ramalho, que morou em Porto Príncipe entre 2007 e 2008, acha que o Exército do Brasil, nesse sentido, “conseguiu medir o uso da força sem reagir com violência, usando-a dentro das regras de engajamento estabelecidas”, o que se constituiu em um diferencial em relação a militares de outros países. “Era a primeira vez que haitianos viam soldados construírem algo, distribuir alimentos, brincar com crianças.

TEMPO E ORDEM Agora, quem olha para Porto Príncipe, seja pela TV, seja a olho nu, não deixa de refletir sobre o retrocesso que o processo de recuperação implicará ao de estabilização. “Embora o terremoto tenha destruído muita coisa, não se vai sair do zero, pois a Minustah promoveu uma coordenação maior, mais troca de informações, e permitiu ao governo haitiano fazer um projeto. Agora, será preciso revisitá-lo”, diz Ramalho. Para um assessor europeu de Anabi, o maior desafio será a velocidade da recuperação. “Não há dúvida de que tivemos avanços no processo de estabilização, mas, em cinco anos, não tínhamos chegado nem à metade do necessário”, diz. Com o terremoto ainda fresco, e apesar da comoção e dos

O bom desempenho do setor agrícola, entre outros setores, como a indústria maquiladora, fez a economia do Haiti expandir-se em 2009. Estimativa divulgada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) em dezembro indicava um crescimento de 2% no ano passado. Não fosse pelo terremoto, a projeção era de que esse número se repetiria em 2010. Os principais fatores que impulsionaram tal crescimento seriam uma política mais expansiva para estimular a economia e o cenário eleitoral, com eleições legislativas no começo do ano e presidenciais no final. O informe ainda indicava que a taxa média de inflação anual tinha baixado de 14,4% em 2008 para 3,4% em 2009 – por causa da redução dos preços internacionais de alimentos e petróleo. O déficit em conta corrente caiu de 4,6% para 1% no mesmo período, e o investimento estrangeiro direto (IED) tinha aumentado 24% em relação a 2008, ainda que fosse um montante tímido: US$ 37 milhões. O ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, nomeado, em abril de 2009, enviado especial da ONU ao Haiti, buscou impulsionar a atração de IED ao país, promovendo, em outubro, uma visita ao Haiti de cem empresários de 14 países. Entretanto, a destituição, nesse mesmo mês, da primeira-ministra Michele Pierre-Louis, por acusação de malversação de fundos para atender a vítimas dos furacões de 2008, foi considerada um passo atrás nesse esforço. Hoje, ainda não se pode mensurar os desafios para a recuperação econômica do país. Em 2008, quando foi vítima de furacões, o Haiti registrou perdas de US$ 900 milhões, relativas a 15% do PIB, segundo o FMI. Mas isso, frente aos desastres provocados pelo terremoto, parece ser café pequeno.

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Fotos: 1- Agência Brasil; 2, 3, 4, e 5 - Carlos Saldibia

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PORTO PRÍNCIPE ANTES DO TERREMOTO: APESAR DO CERCO MILITAR, PAÎS VIVIA EM RELATIVA NORMALIDADE E CHEGOU A CRESCER 2% EM 2009, SEGUNDO A CEPAL

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15% do PIB do Haiti foi o quanto as perdas pelos furacões de 2008 custaram ao país vimento (PNUD) são uma gota no deserto”, diz, apontando a falta de foco em planos de infraestrutura no país, que pode ter colaborado para a intensidade dos efeitos do terremoto. Ramalho, da UnB, entretanto, defende que será um grande equívoco deixar o calor das emoções contaminar o debate e culpar a ONU e outras instituições pelos déficits de infraestrutura no Haiti. “O fato de o Estado ser tão frágil dificulta que ele cumpra suas responsabilidades, e muita gente olha

para a ONU como se ela tivesse que fazer o que o haitiano não faz”, afirma. Para o brasileiro, entretanto, “a única falha da missão até agora foi deixar-se usar pelo governo haitiano, que se exime de suas responsabilidades, alegando que o país está ocupado. Há décadas as elites do país usam a presença internacional como escudo”, diz. E, se essa distorção existe, neste momento em que a ajuda internacional se fará cada vez mais necessária, será ainda mais complexo corrigi-la. Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 47

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DEBATES ESTADOS UNIDOS

O otimismo ressurge, mas ainda são muitos os riscos que rodeiam a economia norte-americana

F

rank Salvatierra ainda lembra com desgosto o dia que lhe despediram. O jovem executivo de um pequeno banco da Flórida já tinha visto vários de seus colegas serem atingidos pelo rolo compressor da crise. Sabia que lhe poderia acontecer o mesmo, ante a rápida deterioração das

condições de negócios no país. Apesar disso, não conseguiu conter o frio no estômago quando seu chefe colocou a mão sobre seu ombro e o chamou para conversar. Sempre busca ser otimista em situações como esta, mas vendo como a situação estava e a dificuldade com que se deparava para encontrar

Fotos: iStockphoto

DIAGNÓSTICO RESERVADO ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI

um novo trabalho, era difícil manter a esperança, diz Salvatierra. Mas o que ele ainda não imaginava é que essa situação duraria tanto tempo. Salvatierra já está desempregado há quase um ano. Em setembro, quando suas reservas se esgotaram, teve de deixar de pagar a hipoteca, e, agora,

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espera apenas a ordem judicial para sair da casa e ir, junto de sua mulher e dois fi lhos, viver com algum familiar. “É surpreendente como sua situação pode mudar de um dia para outro”, diz. “Passei de almoçar diariamente nos melhores restaurantes da cidade a depender da ajuda do governo para fazer as compras do mês.” O executivo é apenas um dos 3,5 milhões de norte-americanos que perderam seus postos de trabalho em meio ao que se afi rma ter sido a pior crise econômica desde a Grande Depressão. E, mesmo quando a maior economia mundial começa a dar sinais de estar se nivelando, muitos economistas advertem que a recuperação marcha a passo lento e por um caminho repleto de perigos, minando a esperança de Salvatierra de conseguir um emprego no curto prazo. Quão severos são esses riscos? Os economistas não chegam a um acordo sobre o tema. Os mais otimistas acham que, se não houver novas surpresas pela frente, o clima de negócios poderia dar sinais de melhora na segunda metade do ano. Já os pessimistas acham que os EUA estão à beira de um período semelhante à Década Perdida atravessada pelo Japão, e há até os que afirmam que a verdadeira crise ainda nem começou.

de grande porte, ou se se produzir um grande default, talvez no lado das emissões soberanas, isso poderia congelar os mercados financeiros e nos levar de novo à lona. E também existe o risco político, como a possibilidade de um novo conflito no Oriente Médio, uma guerra comercial ou uma intensificação da crise orçamentária em nível estatal nos EUA. Enfi m, qualquer evento que poderia ser assimilado pela economia sob condições normais, mas que agora, dada a sua fragilidade, poderia levar o país de volta a uma recessão. Para Kenneth Goldstein, economista do grupo empresarial The Conference Board, o risco continua aí, apesar de ser menor do que o que enfrentávamos há um ou dois meses. É como um paciente que acaba de sair da sala de cirurgia: apesar de não estar totalmente fora de perigo, a cada dia se reduzem os riscos de que sofra uma recaída. Goldstein acrescenta que as últimas projeções econômicas divulgadas apoiam a teoria de que a tormenta ficou para trás. Esta provocou mais de 15 meses consecutivos de contração econômica, ocasionando perdas patrimoniais estimadas em US$ 11 trilhões, causando o fechamento de milhares de

empresas, incluindo centenas de bancos. Entre os sinais promissores, está o anúncio de números que indicam que o matadouro no mercado de trabalho já começa a decair, além de uma reação do PIB, com crescimento de 2,2% no terceiro trimestre de 2009, de acordo com o último dado anunciado e pequenas amostras de que o consumidor, que, nos últimos dois anos a única coisa que fez foi consumir as próprias unhas, começa a recobrar o ânimo para abrir a carteira. Estima-se que o crescimento do PIB no terceiro trimestre, em parte atribuído ao programa de estímulo implementado pela Casa Branca, tenha sido acompanhado de outro bom percentual para o quarto trimestre, de mais de 3%, segundo prognósticos de alguns economistas, o que permitiria à economia cumprir o requisito informal para declarar o final da recessão. E tais expectativas já levam um significativo número de economistas a pedir que a Casa Branca e o FED, que, nos últimos anos, mantiveram as taxas de juros em níveis baixos, comecem a aplicar freio às medidas de estímulo, temendo a volta da inflação e um excesso de liquidez que fomente a criação

PASSOS DE TARTARUGA David Wyss, chefe dos economistas da Standard & Poor’s, está no grupo dos otimistas. Wyss afirma que o processo de recuperação já começou, mesmo admitindo que este ainda é frágil, avança a passos de tartaruga e que poderia ser eclipsado a qualquer momento por algum evento negativo. Que tipo de evento? Há um grupo óbvio deles, afirma. Um é o preço do petróleo. Um barril a US$ 80 não é grande coisa; já a US$ 150, patamar em que estava há um ano e meio, seria suficiente para nos levar de volta a uma recessão. Outro risco, segundo Wyss, provém do setor financeiro. Se, por exemplo, colapsar outra instituição financeira

3% ou mais de crescimento no quarto trimestre permitiria declarar o fim da recessão nos EUA

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DEBATES ESTADOS UNIDOS

de desemprego nos EUA ainda é um índice alto para justificar qualquer otimismo de outra bolha como a imobiliária, que desatou a crise. Outros, por sua vez, pensam que o governo não deve dar ouvido a essas opiniões. “Isso seria repetir os erros cometidos na Grande Depressão, quando se pensava que tudo já havia terminado e se começou a elevar as taxas de juros, provocando uma recessão mais profunda”, diz Michael Intriligator, professor de Economia da Universidade de Califórnia (Ucla), em Los Angeles. “Apesar de isso ter acontecido há mais de 70 anos, continua sendo um risco.” Paul Krugman compartilha da mesma opinião do professor de Economia. Em uma coluna publicada recentemente, o Prêmio Nobel de Economia advertiu que as recessões costumam registrar breves momentos de recuperação, que acabam sendo apenas ilusões estatísticas, provocadas por uma leve recuperação do nível de estoque. Quando as economias se estancam, explica Krugman, as companhias se encontram com um grande estoque e cortam a produção para poder escoar a quantidade de produtos sem vender. Uma vez que estes se esgotam, as companhias retomam a produção, o que pode se refletir em um forte crescimento do PIB. Infelizmente, o crescimento provocado pela recuperação de um nível adequado de estoque acontece apenas uma vez, salvo se as fontes fundamentais de demanda, como o gasto do consumidor e os investimentos de longo prazo, melhorarem, afirmou Krugman.

BARACK OBAMA: JUNTO DE BEN BERNANKE, DO FED, BUSCA RESTAURAR A CONFIANÇA DO NORTE-AMERICANO

Os economistas também demonstram preocupação com a crise fiscal que a maioria dos estados está sofrendo. Se esta se agravar, as coisas podem se complicar ainda mais, já que os estados se veriam obrigados a aprofundar os cortes na prestação de serviços que oferecem, acentuando o desemprego. Peter David Schiff, presidente da corretora Euro Pacific Capital, acha que a situação, na verdade, é bem pior que a descrita por Intriligator, já que, a esse cenário sensível, ainda é preciso somar o risco da alta dependência do país do financiamento externo e a possibilidade de que os investidores estrangeiros incluindo os de China, Japão e vários outros países percam a confiança na capacidade de pagamento dos EUA.

Foto: Pete Souza

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sumidor, particularmente em um momento em que o desemprego ronda os 10%, ainda não é suficiente para justificar o otimismo do presidente Obama, do presidente do Federal Reserve (FED), Ben Bernanke, e do diretor do Conselho Nacional de Economia, Lawrence Summers. “Eles estão tentando restaurar a confi ança das pessoas, defender seu trabalho, mas, na verdade, nesse sentido a situação está piorando”, diz Intriligator, que prognostica que a recessão poderia durar mais três anos. “Os EUA estão atravessando um processo semelhante ao que o Japão passou durante a denominada Década Perdida, nos anos 1990, quando a economia se desacelerou e se manteve estancada por muitos anos.” Esse tipo de estancamento, em que até se poderia registrar algum crescimento, ainda que ínfi mo, seria fruto da alta taxa de desocupação e do impacto deste sobre a demanda interna, que, por sua vez, alimenta mais de dois terços da economia nacional, característica que diferencia os EUA de países como Índia e China, onde as exportações, e não o consumo interno, são o principal motor da atividade econômica.

LONGO CAMINHO? Intriligator acha que o gasto do con-

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Foto: Hiroko Masuike/Getty Images

“O problema é que grande parte do que consideramos crescimento econômico, neste país, na realidade não o foi”, diz Schiff, que ganhou notoriedade nos EUA por ser um dos poucos economistas a advertir, durante a época de auge, que a economia norte-americana se dirigia a uma crise. “Nós simplesmente gastamos dinheiro que não tínhamos e pedimos muito dinheiro emprestado para fazê-lo. E, eventualmente, tudo isso tem de colapsar, porque não se pode ter uma economia sadia construída sobre esse tipo de consumo.”

COLAPSO MONETÁRIO “Há um limite sobre a quantidade de dinheiro que podemos pedir emprestado, particularmente quando não se pode pagar. Também há um limite sobre

a quantidade de dinheiro que o mundo vai nos emprestar por causa do mesmo motivo, é como uma economia de bolha, é uma economia artificial e o que o governo está tratando de fazer é evitar que esta desinfle; está tratando de soprar mais ar para dentro”, diz Schiff. Nesse cenário, que Schiff acha que poderia acontecer em qualquer momento, nos próximos dois anos, a crise viria por meio de um ataque sobre o dólar. A moeda começaria a se desvalorizar, e o que inicialmente poderia se apresentar como um retrocesso ordenado do dólar, eventualmente se converteria em uma queda desordenada, que conduziria ao pânico e ao colapso financeiro. Dito isso, é preciso ressaltar que, hoje, são poucos os que concordam que os Estados Unidos estão próximos de repe-

ESTÍMULO AO CONSUMO: PEÇA-CHAVE NA RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA

tir a história de Indonésia, Coreia, Hong Kong, Tailândia e Filipinas, durante a crise asiática; muitos ainda mantêm a aposta de que a recuperação econômica finalmente começa a tomar forma. Entretanto, ainda os mais otimistas admitem que mesmo com o melhor dos cenários, o caminho a seguir continuará sendo duro e levará tempo para que a economia consiga eliminar todos os desequilíbrios que conduziram à crise. “Estamos sob observação médica, e temos um longo período de restabelecimento pela frente”, diz Goldstein. “Quando se sofre um problema cardíaco dessa magnitude, não se pode acreditar na possibilidade de jogar tênis dois dias depois.” Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 51

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OPINIÃO

COMÉRCIO NON GRATO

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o que tudo indica, 2010 não é um bom ano, nos Estados Unidos, para se falar de livre-comércio com a América Latina. Em primeiro lugar, as taxas de desemprego continuam muito altas no país, acima de 10%, e o livre-comércio é visto por muitos como redução de postos de trabalho – pelo risco de estimular empresas norte-americanas a se realocar no exterior ou permitir que importações de baixo custo ameacem a sobrevivência dessas. Em segundo lugar, o Partido Democrata, do presidente Barack Obama, é muito dependente do apoio sindical, e essas organizações já deixaram claro que se opõem a novos tratados de livre-comércio. Em terceiro lugar – e talvez mais importante –, está o fato de que 2010 é ano de eleições legislativas. Pesquisas já indicam a possibilidade de os democratas perderem um número significativo de cadeiras, tanto na Câmara quanto no Senado. Isso já começa a ser comprovado. O republicano Scott Brown derrotou a democrata Martha Coakley na eleição especial realizada recentemente, no estado de Massachusetts, para substituir o senador Ted Kennedy, morto no ano passado. Com isso, o partido de Barack Obama perde o domínio no Senado. O crescimento econômico acelerado da China também contribuiu para a intensificação de sentimentos

antilivre-comércio nos EUA. Há uma forte percepção, entre muitos americanos, de que a China concorre de forma desleal na economia global, mantendo sua moeda desvalorizada para inundar o mercado com exportações baratas. Esse coquetel desestimulará o Congresso dos EUA a considerar a aprovação de acordos pendentes com a Colômbia e o Panamá ainda neste ano. Por outro lado, se houvesse uma chance de progredir em direção a um acordo de livre-comércio com o Brasil, maior economia da América Latina, o ponto pacífico de que 2010 será ruim para o comércio perderia validade. O fato é que tampouco o Brasil se mostra favorável a um acordo comercial com os EUA. Ao contrário, demonstrou resistência à criação da Área de Livre-comércio das Américas (Alca), ainda na Presidência de George W. Bush. Mais recentemente, o país tem demonstrado maior interesse em expandir suas relações comerciais com nações como a China, que tirou o lugar dos EUA como mercado mais importante para o Brasil. No entanto, existem alguns sinais de que o país sul-americano pode reavaliar sua posição, principalmente por causa de algumas tendências preocupantes em seu comércio internacional. Dados recentemente divulgados mostraram uma queda preocupante, de 22,2%, nas exportações brasileiras. As vendas externas de produtos manufaturados registraram um declínio ainda maior, de 27,3%. As exportações para os EUA, que têm sido o maior mercado para manufaturados brasileiros, caíram alarmantes 42%. A principal razão para esse declínio foi a recessão nos EUA. Mas o Brasil também foi prejudicado pela valorização de 34% de sua moeda frente ao dólar. Já as vendas do Brasil para a China cresceram 23%. O problema, entretanto, é que a China comprou principalmente minério de ferro e soja, agravando uma tendência à concentração das exportações em commodities. Em 2009, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Exterior, apenas 15% das exportações do Brasil foram de manufaturados com valor agregado, contra 70% de commodities. O secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, prometeu que, em 2010, o país “investirá fortemente nos EUA”. Ele acrescentou que, como parte dessa estratégia, o governo irá considerar um acordo de investimento e de comércio bilateral com o país. Os EUA teriam muito a ganhar ao responder positivamente a qualquer esforço brasileiro nesse sentido. Por exemplo, apesar da queda nas exportações do Brasil para os Estados Unidos no ano passado, este se manteve como a principal fonte de importações do Brasil. Na verdade, o superávit comercial dos EUA com o Brasil aumentou, entre 2008 e 2009, de US$ 1,8 bilhão para US$ 4,4 bilhões. Um progresso em direção a um comércio mais livre entre o Brasil, um dos países mais dinâmicos das economias emergentes, e os EUA, a maior economia de mercado industrializada, promete ser vantajoso para ambos os países, durante estes tempos difíceis.

SUSAN KAUFMAN PURCELL é diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami

Ilustração: Samuel Casal

Um comércio mais livre entre Brasil e EUA promete ser vantajoso

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DEBATES CHILE

NOVO NO BAIRRO Presidente eleito do Chile promete menos política multilateral e mais acordos entre vizinhos JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO

exitosamente na economia global, mas até agora não conquistou relações de confiança com seus três vizinhos. Nos últimos anos, o maior avanço que o Chile conseguiu foi com o Peru. E parece que isso não mudará. O presidente Alan García foi o primeiro mandatário estrangeiro a felicitá-lo pela vitória. As relações comerciais entre as duas nações se intensificaram. Entretanto, a demanda que tramita na Corte Internacional de Haya, lançada pelo Peru, sobre o limite marítimo entre os países – e cuja resolução poderá ser conhecida no final do governo de Piñera –, bem como as eleições presidenciais no país, em 2011, “poderá dar fi m ao discurso de boas intenções e ressuscitar velhas rixas”, diz Rodrigo Álvarez, analista da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso). Quanto à Bolívia, apesar das aparentes diferenças entre Evo Morales e Piñera, “não acho que haverá um rechaço ideológico”, diz Juan Emilio Cheyre, excomandante do Exército do Chile e diretor do Centro de Estudos Internacionais da Universidade Católica. “Ao contrário, a legitimidade, tanto de Morales quanto de Piñera, faz com que ambos tenham poder para articular uma política inteligente”, afirma. Entre os três vizinhos do Chile, entretanto, será a Argentina o país que demandará mais tempo de Piñera. Apesar de ele se sentir politicamente

PIÑERA: POLÍTICA EXTERIOR FOCADA NA RELAÇÃO COM PERU, BOLÍVIA E ARGENTINA

mais próximo de líderes da oposição, como Mauricio Macri, a reativação do diálogo com a Argentina está dentro das prioridades do novo presidente. E a integração energética é um dos primeiros temas da agenda.

MARCAR POSIÇÃO Seja como for seu desempenho com seus vizinhos diretos, o governo de Piñera tampouco poderá esquecer o restante da região. O novo presidente já deixou claro que acha as políticas multilaterais ineficazes e sobrepostas. “O Chile participará, mas não impulsionará organizações como o Unasul”, diz o assessor de Piñera. E, ainda que ele tenha demonstrado ser pragmático e aberto em diferentes aspectos, é possí-

Foto: Miguel Candia

O

primeiro compromisso internacional do empresário Sebastián Piñera como futuro presidente do Chile já está agendado: dia 21 de fevereiro ele participará, a convite da presidente Michelle Bachelet, da cúpula do Grupo do Rio, na Cidade do México. De 2010 a 2012, o Chile deverá assumir a presidência temporária da organização, o que justifica a presença do novo mandatário no evento. Observadores internacionais aguardam com curiosidade o primeiro encontro de Piñera com os líderes latinoamericanos. Dada a atual fragmentação ideológica na América Latina, analistas apostam que este não é o momento mais propício para a reestreia internacional da direita chilena, depois de 52 anos sem ganhar uma eleição presidencial. A equipe de assessores que, desde o ano passado, se dedica a elaborar as linhas da política internacional do governo de Piñera reconhece esse risco e já determinou a estratégia para os próximos quatro anos quando o tema for os países latino-americanos. “O foco central estará nos três países limítrofes: Argentina, Bolívia e Peru”, diz um dos principais assessores internacionais do novo presidente, que pediu para não ser identificado. A aposta de Piñera não deixa de surpreender, já que essa relação é um dos grandes temas pendentes do Chile. Desde a redemocratização, o país demonstrou inserir-se

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QUEM É SEBASTIÁN PIÑERA 60 anos de idade

vel que tome posições agressivas com Chávez e seus aliados. “Na direita chilena, diferentemente da Concertação, não há nenhuma simpatia para com ele”, diz Peter Hakim, presidente do think tank Diálogo Interamericano, em Washington. E ele já demonstrou isso dias depois de ser eleito, ao fazer a primeira crítica pública à forma como Chávez “pratica a democracia e seu modelo econômico”. Paz Milet, professora de Relações Internacionais da Universidade do Chile, lembra, entretanto, que “na prática, Piñera quer ver a região como dois blocos, mas há países que flutuam entre eles”, destacando a importância de “defi nir qual tipo de vínculo ele escolherá ter com o Brasil”. Até agora, não se ouviu muito de Piñera sobre o tema. “O

Brasil é fundamental, não somente por ser um amigo tradicional, mas porque está se transformando em uma potência mundial”, limitou-se a dizer em um evento realizado no final de 2009. “A potência econômica do Brasil é incontestável”, diz Alvarez, da Flacso. “Mas é preciso saber como Piñera quer articular sua posição em relação à política exterior do Brasil, à visão desse gigante sobre pontos conflituosos no mundo, como o papel dos EUA na região”, afirma, indicando que, tanto quanto sua reação a posições extremistas, serão os sinais do governo de Piñera aos passos de países como o Brasil os que contarão na hora de avaliar, num espectro macro, a ação internacional do novo presidente.

Militante do partido Renovação Nacional, ligado à coligação Aliança por Chile, de centro-direita Formado em Economia pela Universidade do Chile; com mestrado e doutorado na Universidade de Harvard, EUA Casado com Cecilia Morel, com quem tem quatro filhos Patrimônio de US$ 1 bilhão, segundo a revista Forbes Acionista do canal de TV Chilevisión, da companhia aérea LAN Chile (participação que prometeu vender antes de tomar posse, em março), e da equipe de futebol Colo Colo Eleito com 51,8% dos votos, em segundo turno disputado com Eduardo Frei, candidato da situação

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DEBATES MÉXICO

Foto: Oriana Elicabe/AFP

DEMOCRACIA À ESPERA Governo de Felipe Calderón apresenta projeto de reforma política com pontos que o país discute há um século DAVID SANTA CRUZ, DA CIDADE DO MÉXICO

E

m 1910, quando as eleições no México eram consideradas decorativas, e o país vivia a ditadura de Porfi rio Díaz, o empresário Francisco I. Madero convocou a população mexicana à luta armada, sob o lema “Nunca mais governos perpétuos e cidadãos oprimidos; sufrágio efetivo, não à reeleição”. Durante décadas, os documentos oficiais do governo levaram a insígnia da não reeleição nos pés de página. Hoje, 100 anos depois, essa herança da Revolução Mexicana é um dos temas mais polêmicos dentro do projeto de reforma política apresentado por Calderón em dezembro passado e que inclui, entre outros pontos (ver quadro), a adoção do sistema de segundo turno para eleições presidenciais. Em linhas

OS 10 PONTOS DA REFORMA POLÍTICA Permitir a reeleição de prefeitos e demais representantes, como chefes de delegações, por até 12 anos.

Permitir a reeleição de parlamentares federais por um período máximo de 12 anos.

Reduzir o número de senadores de 128 para 96 e de deputados federais de 500 para 400.

Aumentar de 2% para 4% o mínimo de votos para que um partido mantenha seu registro.

Criar a figura da “iniciativa cidadã”, para que a sociedade civil proponha projetos de lei.

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gerais, alguns itens buscam levar mais flexibilidade às estruturas de poder do país. Mesmo assim, analistas são unânimes em apontar que tal salto dependerá da maturidade e da visão de longo prazo dos três principais partidos do país, o Partido Revolucionário Institucional (PRI), o da Ação Nacional (PAN) e o da Revolução Democrática (PRD).

PATERNIDADE EM DISPUTA A reforma do Estado e do sistema político do México é um tema de longa data. A série de mudanças e adendos à Constituição de 1917 ainda não garantiu a possibilidade de avançar na construção de maiorias estáveis e dar mais ferramentas de controle ao cidadão. Assim, chegar hoje à reforma significa atravessar um labirinto de egos feridos pelo desgaste do tempo. Como costuma acontecer, não são poucos os que disputam a paternidade de uma criança tão importante. A oposição, por exemplo, considera “pretencioso” atribuir a iniciativa apenas ao presidente Calderón, a quem acusa de descartar todas as análises e sugestões sobre o tema apresentadas anteriormente. A comissão que estudou o projeto recebeu 6.188 propostas de partidos políticos, ONGs e universidades, reunidas em um documento. “Mas a administração de Calderón ignorou nosso trabalho”, diz Alberto Aguilar Iñárritu, que trabalhou como secretário técnico da Comissão Executiva para a Reforma do Estado (Cenca), formada por decreto presidencial em 2007. Seja como for, para o senador Tomas Torres, do PRD, de esquerda, “não se deve ter muitas expectativas de que isso modifique a estrutura de poder no México”, diz, pois “nenhuma reforma será suficiente até que se eliminem as estruturas de poder vigentes – sindicais, de monopólio e meios de comunicação –, criadas durante o governo do PRI”. REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO MEXICANO INCLUI A POSSIBILIDADE DE SEGUNDO TURNO PRESIDENCIAL

Incorporar a candidatura independente para qualquer cargo público que se submeta a eleições.

Fixar segundo turno para eleições presidenciais, se um candidato não tiver mais da metade dos votos.

Permitir que a Suprema Corte de Justiça apresente projetos de lei relacionados à sua competência.

Já Manlio Fabio Beltrones, líder da bancada do PRI no Senado, defendeu que se deveria pensar em modificações no texto, como introduzir a figura do referendo, a revogação do mandato presidencial e a ratificação dos membros do gabinete pelo Senado. Mas o problema apontado por muitos analistas é o de timing. Para o México, hoje, o ponto mais importante é a geração de emprego. Alguns analistas ainda apontam a iniciativa de Calderón como um golpe publicitário, por não ter buscado consenso prévio entre os partidos, além de contar com pontos que concedem mais poder ao Executivo. De qualquer forma, apesar de esses cadeados terem sido impostos no passado para frear o coronelismo e as ditaduras, em 2010, permitir a reeleição evitaria que o futuro político de legisladores e prefeitos dependesse de quem elaborar a lista de candidatos. Alejandro Zapata Perogordo, senador do PAN, acha que, nesse sentido quem mostraria maior resistência é o PRI – partido que em 1933 impôs a não reeleição para legisladores para, dessa forma, poder repartir o poder político e controlar os diversos poderes que o compunham. Hoje, o dissenso dos partidos e uma indiferença da sociedade levariam ao risco de que a esperança inicial gerada pelo projeto se transformasse em uma mera carta de boas intenções com a oposição denunciando que o Governo Federal pretende culpá-la pelo fracasso dessa iniciativa ou levar a medalha de ouro por tal conquista. Ninguém disse que melhorar a democracia seria fácil. Ainda mais se se trata da complexa democracia mexicana.

Permitir ao Poder Executivo apresentar iniciativas de lei prioritárias.

Permitir ao Executivo vetos parciais ou totais em projetos aprovados no Congresso e ao Orçamento.

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RAIO X

SEDE DE RECURSOS Governo de Chávez vive o desafio da queda da arrecadação do petróleo ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI

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Dessa forma, Chávez busca ganhar tempo. Em teoria, seria imprescindível cortar despesas, mas a queda da popularidade do presidente e o clima de campanha eleitoral, com eleições parlamentares no segundo semestre, indicam que a probabilidade de que isso aconteça é baixa. “O governo enfrentará fortes pressões para aumentar o gasto, e não reduzi-lo”, diz Maikel Bello, economista sênior da consultoria venezuelana Ecoanalitica. “As eleições determinarão se o governo garantirá ou não maioria no Congresso.” Ainda há uma terceira opção para o presidente, que envolve um maior endividamento, ferramenta que o governo bolivariano usou amplamente para sobrelevar as pressões fiscais que sofreu em 2009. O endividamento interno cresceu de US$ 10 bilhões em 2008 a US$ 14 bilhões em dezembro de 2009, e analistas estimam que essa tendência continuará em 2010. Não fosse o bastante, o país tenta absorver outra onda de fechamento de bancos. Em janeiro, foram três, que se somam à intervenção, em dezembro, de outros oito bancos pequenos e médios – destes dois foram liquidados e quatro, estatizados, sob alegação de insolvência ou irregularidades na origem dos fundos.

DADOS MACROECONÔMICOS DA VENEZUELA 2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009(e)

25,40

25,90

26,40

27,00

27,50

28,10

28,60

83.442,00

112.800,00

144.128,00

184.251,00

227.753,00

319.443,00

353.469,00

3.285,10

4.353,50

5.453,20

6.834,20

8.281,00

11.388,30

12.354,30

BALANÇO DE CONTA CORRENTE (US$ milhões)

11,80

15,50

25,50

27,20

20,00

39,20

6,40

DESEMPREGO (%)

18,00

15,30

12,20

9,70

8,50

7,40

INFLAÇÃO (%)

27,10

19,20

14,40

17,00

22,50

30,90

28,00

16.747,00

22.647,00

31.708,00

32.712,00

23.702,00

42.100,00

POPULAÇÃO (milhões) PIB (US$ milhões) PIB PER CAPITA (US$)

SALDO COMERCIAL (US$ milhões)

Ilustração: Samuel Casal

US$ 70 o barril, o preço internacional do petróleo ainda se encontra em níveis historicamente altos, mas não o suficiente para saciar o voraz apetite do governo venezuelano, situação que pressagia um difícil cenário fiscal para o presidente Hugo Chávez em 2010. Isso porque o país se encontra em uma grave crise econômica, e o que mais o governo da Venezuela precisaria neste momento “é conter gastos e encontrar uma boa forma de administrar o orçamento com a queda do preço do petróleo”, diz Roberto Sifón Arevalo, analista da Standard & Poor’s. A alternativa escolhida por Chávez, entretanto, foi desvalorizar a moeda, desmembrando-a em duas. Pela cotação oficial, o bolívar forte saltou de 2,15 por dólar para 2,60 para a importação de bens essenciais de consumo. E há o bolívar para a aquisição de bens supérfluos – entre os quais estão automóveis e produtos eletrônicos –, que passou a ser cotado a 4,30 por dólar. A medida da desvalorização favorece diretamente a estatal Petróleo de Venezuela (PDVSA). Estrela de um país que concentra suas exportações no petróleo, a PDVSA é geradora de 95% das divisas que entram na Venezuela, bem como os cofres do Estado, já que a desvalorização reduziria seus custos em bolívares. Tais custos têm registrado altas constantes frente ao forte aumento da inflação no país e à falta de flexibilidade do câmbio oficial.

Fontes FMI, Banco Mundial.

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ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

Mercado de turismo de negócios cresce a passos grandes FABIO STEINBERG, DE SÃO PAULO

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Fotos: iStockphoto

EXÉRCITO SILENCIOSO 1/22/10 1:18 AM


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m exército formado de gente que não se conhece e sequer sabe que atua na mesma causa ocupa em média 70% dos assentos dos aviões e dos quartos de hotéis e movimenta uma cadeia de valor que une mais de 50 segmentos econômicos. Trata-se do setor de viagens de negócios, que em 2008 gerou uma renda estimada em US$ 928 bilhões, dos quais US$ 34 bilhões na América Latina e US$ 20 bilhões somente no Brasil (9º maior mercado mundial), segundo estudo do consultor Ken McGill, da IHS Global Insight. Viajante de negócios é uma expressão que engloba uma variada gama: executivos e estagiários, técnicos, consultores, profissionais liberais e prestadores de serviços, entre outros profissionais. Em comum, todos se locomovem a serviço. Ou seja, o percurso é pago pela empresa – da megacorporação ao micronegócio. Esse grupo poderoso não mobiliza apenas a clássica trilogia agência de viagens/companhia aérea/hotel e respectivos fornecedores – entre telefonia, alimentação, sistemas de reservas e demais prestadores de serviços. Ele também promove um impacto positivo sobre uma vasta rede de itens como aluguel de carros ou táxi; infraestrutura aeroportuária; seguro de saúde e de vida, vestuário e equipamentos de viagem; celulares, notebooks e câmeras fotográficas; serviços de tradução, livros e jornais; cartões de crédito e refeições rápidas; empresas de eventos e lojas duty free etc. Com tanto movimento, não surpreende a acirrada disputa por conquistar viajantes e suas empresas, que querem se defender dos gastos supérfluos. “Viagens de negócios são o terceiro maior custo de uma empresa, logo depois de salários e tecnologia da informação”, diz Francisco Leme, presidente da Favecc, associação que congrega 25 das maiores agências de viagens corporativas brasileiras. Nem sempre foi assim. Quando a economia não era globalizada, a internet restringia-se ao mundo acadêmico e mobilidade nas comunicações era conceito futurista, viajar a trabalho se traduzia num ato elegante e raro, restrito a poucos. A preparação para uma viagem de negócios não passava de rotina relegada às secretárias, que transmitiam os requisitos do chefe à agência, certamente escolhida não por concorrência, como hoje, mas porque provavelmente o gerente era primo da mulher do diretor da empresa. Eram épocas românticas, onde terno e fleuma ajudavam a encarar o esnobismo dos passageiros de primeira classe. Esse modelo não resistiu às pressões de consumidores cansados de pagar por produtos caros como resultado desse tipo de luxo corporativo.

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bilhões de dólares é o quanto as viagens a negócios movimentam no Brasil

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ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS A partir dos anos 70, inicialmente nos Estados Unidos, a popularização das viagens de negócios fez surgir agências especializadas nesse público com necessidades tão diferentes das do viajante de lazer. Aí nasceu o protótipo do que mais tarde ganhou o nome de TMC (travel management company). Na prática, as ex-agências tiveram de se reinventar, diante da nova realidade de custos e agilidade, deixando de lado a intermediação para assumir a função de consultoria. Simples troca de nomenclatura? Não. Entre outros fatores, isso significou também que as então chamadas contas corporativas deixaram de ser remuneradas por comissão, paga pela companhia aérea ou hotel, e passaram a receber fees da empresa compradora. No Brasil de hoje, as não mais de 30 TMCs em um universo de 13 mil agências movimentam quase US$ 5 bilhões, o que representa 90% de toda a renda do segmento de viagens no país. Em paralelo, surgiu uma parafernália de ferramentas gerenciais, acordos operacionais e processos voltados a obter economia de escala e controle sobre despesas.

DE TUDO UM POUCO Além da constelação de atividades envolvidas a partir da hora em que um profissional coloca os pés fora da empresa, hoje, viagem de negócios é um termo genérico, que serve para tudo: reuniões com clientes, convenções, expansão de mercados, treinamento de vendas, atualização de tecnologias, manutenção de equipamentos, entre outros. Na falta de melhor explicação, vamos convencionar que a expressão define qualquer gasto externo realizado por um empregado a serviço da empresa, desde que legítimo. Aqui entra em cena o protagonista que deu agilidade ao processo: o cartão de crédito empresarial, meio de pagamento que aposentou o dinheiro, com inúmeras vantagens como eliminar adiantamentos para viagem, o rastreamento das despesas realizadas e a definição pela empresa de parâmetros de valores e estabelecimentos autorizados. Mas faltou avisar à maioria das empresas da região suas vantagens. “Somente um entre quatro funcionários porta esse tipo de cartão”, afirma o especialista Walter Teixeira, da TX Consultoria. Nesse caleidoscópio de atividades e pagamentos frenéticos em velocidade e vo-

lume, brota, enfim, a carreira já existente em economias maduras e em plena ascensão nas demais partes do mundo: o “travel manager”, ou gestor de viagens. É ele quem administra e controla as políticas da empresa, adaptadas à cultura da empresa e que atendam à adequada relação custo-benefício. Por exemplo, ele define qual a categoria de hotel que a empresa está disposta a reembolsar para alojar um diretor, ou se pode consumir vinho nas refeições. Ou se um funcionário menos graduado está autorizado a comprar um guarda-chuva ao enfrentar um temporal durante a viagem.

25% dos viajantes a negócios têm cartão de crédito empresarial

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EQUILÍBRIO Uma boa gestão de viagens de negócios, segundo especialistas, só traz benefícios. Pela sua importância econômica, poderia ganhar mais atenção das empresas, fornecedores, players e governos. A própria função do gestor é, em geral, restrita às multinacionais. “Democratizando essa atividade, todos só têm a ganhar”, responde Vivianne Martins, presidente da ABGEV, que reúne os gestores de viagens brasileiros, e da Academia de Viagens Corporativas. Ela tem razão. Em primeiro lugar, ganham as empresas. A vasta maioria, em especial as pequenas e médias, ao ignorar os benefícios dessa atividade, deixa de reduzir custos e operar de forma mais produtiva. Além de bons acordos financeiros, essa prática permite um sofisticado controle do desperdício: reembolsos de gastos não efetuados, trechos de bilhetes não voados, hotéis pré-pagos não utilizados, entre outras ações. Em segundo lugar, ganha o viajante, que sai de casa para jornadas quase sempre solitárias, em locais desconhecidos. Ele precisa de informações de qualidade e atualizações sobre as melhores ferramentas de trabalho e quesitos de segurança nos destinos. Terceiro, os fornecedores também lucram. Como nem todos se integraram ao universo de viagens de negócios, deixam de oferecer um serviço à altura das exigências e especificidades dos que viajam a trabalho. Quem melhor entendeu essa questão foram os hotéis que se especializaram em receber profissionais, ao proporcionar condições e conforto térmico e acústico, segurança, higiene e alimentação, espaço adequado para realizar eventos e reuniões, com equipamentos e pessoal treinado. Outro

bom exemplo são ferramentas de produtividade, como o self booking, que permitem ao viajante fazer reservas através do notebook sem abrir mão das regras de viagem da empresa, garantindo economias de até 10%. Para quem quer conhecer melhor o assunto, há instituições voltadas à formação e atualização de profissionais como as da NBTA (National Business Travel Association), com representação no México e no Brasil – este, por meio da ABGEV e complementado pela Academia de Viagens Corporativas. “Com o desenvolvimento das economias e a expansão dos negócios na América Latina, as viagens de negócios estão em pleno crescimento. À medida que o mundo percebe a região como um mercado global competitivo, a NBTA, junto às lideranças da indústria, busca oferecer educação especializada e oportunidades de desenvolvimento profissional para gestores de viagens locais”, afi rma Michael W. McCormick, diretor executivo e COO da NBTA. Além disso, anualmente, NBTA e ABGEV realizam na capital paulista o LACTTE, encontro destinado a profissionais e fornecedores da região. O próximo será realizado no início de fevereiro, e as informações estão em www.abgev.org.br. A iniciativa privada mostra que está fazendo a sua parte. Quanto aos governos, se pretendem estimular essa indústria e a visita de homens de negócios em suas cidades, devem estabelecer condições bastante diferentes das oferecidas ao turista comum. Alguns já entenderam isso, como a São Paulo Turismo. Outros ainda precisam percorrer um longo caminho para perceber que viagens de negócios e de lazer, como água e azeite, não costumam dar boa mistura. Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 63

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ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

O LADO BOM DO TRABALHO AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

* Veja metodologia da pesquisa em www.americaeconomia.com.br

Venezuela

Uruguai

Honduras

Guatemala

Estados Unidos

El Salvador

Equador

Costa Rica

Colômbia

Chile

Brasil

Bolívia

Argentina

0

Peru

100

Das alternativas escolhidas por viajantes a negócios da América Latina, Miami – que sempre incluímos em nossos estudos – por sua sinergia com o mundo dos negócios latino-americanos – se destaca entre as favoritas. Um bom indicador do grau de satisfação que Miami produz como destino é a boa percepção que há a respeito de seu aeroporto. Uma percepção que, certamente, reflete as mudanças em infraestrutura que se encontram em pleno desenvolvimento, fruto de um plano de investimento de mais de US$ 6,2 bilhões (de 2003 a 2011), equivalente em cifra aos investimentos no Canal do Panamá. Contudo, essa preferência poderá se ver afetada pelo retorno de uma cultura aeroportuária de extremo controle. Os diversos itens que incluímos em nossa pesquisa também colocam Santiago e Buenos Aires bem posicionadas em várias categorias, além de um (ainda) tímido mergulho dos executivos de alguns países no universo brasileiro. Além da informação sobre as cidades-destino que foram foco dessa introdução, o especial conta com uma grande quantidade de dados sobre outros aspectos relevantes associados às viagens de Fonte AméricaEconomía Intelligence negócios. Bon voyage! Paraguai

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O TRIUNFO DE MIAMI

Panamá

PARTICIPANTES DA PESQUISA 300

Economía Intelligence apresenta a segunda edição da pesquisa* sobre o melhor da América Latina para o viajante de negócios. Trata-se de uma reunião de preferências expressadas por nossos leitores sobre itens que vão de serviços a passeios. A pesquisa contou com a opinião de 1,3 mil leitores, de 17 países, além da assessoria de especialistas.

México

C

laudia de la Rosa é uma prova concreta de como o estresse de uma viagem a negócios pode fazer alguém perder a cabeça. No final do ano passado, seu chefe saiu atrasado para pegar o avião de Miami para Honduras. Claudia, inconformada, decidiu fazer uma ligação anônima e enviar um e-mail às autoridades do Aeroporto Internacional de Miami, advertindo a existência de uma bomba no voo da American Airlines. Enquanto uma equipe especializada adiava a decolagem para inspecionar a aeronave, a polícia investigava o IP de origem do e-mail, resultando na prisão de Claudia. “O atraso foi por minha culpa, e queria ganhar tempo”, argumentou, em reportagem divulgada na mídia da Flórida. Guardadas as proporções, não são poucos os que enlouquecem quando o assunto são viagens de negócios. Entre troca de hotéis, perdas de malas e horas perdidas em salas de espera, a vida do viajante geralmente é mais complexa do que parece. Por outro lado, só quem dribla esses inconvenientes sabe o lado bom de conhecer pessoas e lugares, colecionar histórias e provar sabores diferentes. Por isso, a América-

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Fortaleza del Real Felipe (Lima)

Transamerica Expo Center (São Paulo)

6

Four Seasons (Cidade do México) Intercontinental Miramar Panamá (C. de Panamá) Grand Hyatt (São Paulo)

8

Delano (Miami)

9

Intercontinental (Buenos Aires)

Mandarin Oriental (Miami)

10

Copacabana Palace (Rio de Janeiro)

Four Seasons (Buenos Aires)

10

3,4 3,3

Centro de Convenções SulAmérica (Rio de Janeiro)

5,8

Colferias (Bogotá)

Grand Hyatt (Santiago)

The Ritz Carlton (Santiago)

12

La Rural (Buenos Aires)

7,0

Anhembi (São Paulo)

0

7,8

World Trade Center (Cidade do México)

8,5

Casapiedra (Santiago)

Banamex (Cidade do México)

Miami Beach Conventions Center (Miami)

ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

ESTADIA MELHOR HOTEL (%)

10

8 5 5 5

0

1 Fonte AméricaEconomía Intelligence

2

30

MELHOR ESPAÇO PARA EVENTOS (%)

25,5

Fonte AméricaEconomía Intelligence

1/22/10 2:16 AM


MELHOR DRINQUE (%) Caipirinha (Rio de Janeiro / São Paulo)

64

Mojito (Miami / Cuba)

48

Tequila (Cidade do México)

41

Pisco sour peruano (Lima) Pisco sour chileno (Santiago)

40 14

Fernet Clásico (Buenos Aires)

10

Canelazo (Quito)

3 4

Seco (Cidade do Panamá)

2

Grappamiel (Montevidéu)

2

Masato (Bogotá)

2

MELHOR RESTAURANTE (%) Astrid & Gastón (Lima)

Fotos: 1 - Alessandro Batistessa; 2 - Wanderlei Celestino/SPTuris; 3 - iStockphoto; 4 - Cássio Vasconcellos

Fonte AméricaEconomía Intelligence

3

27

Andrés Carne de Res (Bogotá)

14

1884 (Buenos Aires)

13

Rafael (Lima)

7

Azul (Miami)

7

Sucre (Buenos Aires)

6

D.O.M. (São Paulo)

5

El Cardenal (Cidade do México)

5

Barton G (Miami)

4

Liguria (Santiago)

4 Fonte AméricaEconomía Intelligence

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 67

AE 384 viagens pesquisa.indd 5

1/22/10 2:16 AM


ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

DESTINO OS MELHORES ANFITRIÕES ESTÃO EM:

(%)

45

Bogotá

29

Rio de Janeiro

23

Lima

17

São Paulo

16

Santiago Buenos Aires

14

Montevidéu

14 13

Cidade do Panamá

12

Cidade do México Quito

9 Fonte AméricaEconomía Intelligence

MELHOR REGIÃO DE NEGÓCIOS

(%)

Puerto Madero (Buenos Aires) 49,6 Brickell (Miami) 45,6 Avenida Paulista (São Paulo) 37,5 El Golf (Santiago) 26,3 Polanco (México) 21,8 San Isidro (Lima) Avenida 100 (Bogotá) Escalante (San José) Las Mercedes (Caracas)

17,0 12,9 3,2 3,1

Fonte AméricaEconomía Intelligence

AE 384 viagens pesquisa.indd 6

1/22/10 2:18 AM


NA AMÉRICA

NO BRASIL

OS EXECUTIVOS CONSIDERAM MELHORES ANFITRIÕES OS HABITANTES DE: Santiago

32,2

Lima

22,0

Bogotá

19,5

Cidade do México Montevidéu

OS CARIOCAS SÃO PREFERIDOS POR: Paraguaios

44,0

Norte-americanos (EUA)

38,5

Peruanos

37,5

Bolivianos

17,8 16,1

Uruguaios

34,9 34,4

%

% NA AMÉRICA

OS PAULISTAS SÃO PREFERIDOS POR: Argentinos

23,2

Peruanos

21,6

Colombianos

21,0

Mexicanos Paraguaios

20,0 20,0

% O percentual toma como base a totalidade de entrevistados da nacionalidade referida, e não o total listado na tabela; todas as respostas são de escolha múltipla

Fonte AméricaEconomía Intelligence

ATRAÇÃO QUE VALE CONHECER (%) Cristo Redentor (Rio de Janeiro)

60

Canal do Panamá (Cidade do Panamá)

55

Bayside Market Place (Miami)

23

Pão de Açúcar (Rio de Janeiro)

22

Obelisco (Buenos Aires) El Ángel de la Independencia (Cidade do México)

14

La Mitad del Mundo (Quito)

13

Monumento do Ipiranga (São Paulo)

Fotos: SXC

19

Edifício Colpatria (Bogotá)

5 3 Fonte AméricaEconomía Intelligence

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 69

AE 384 viagens pesquisa V2.indd 7

1/22/10 7:53:11 PM


ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

EMBARQUE EMBARQUE TRANQUILO

MELHOR AEROPORTO DA AMÉRICA LATINA (%)

*Miami International Airport Miami

30

Arturo Merino Benítez [Pudahuel] Santiago

12

Benito Juárez Cidade do México

12

1

MELHOR ATENÇÃO A BORDO (%) 22

LAN Guarulhos São Paulo

8

Tocumen Cidade do Panamá

7

Jorge Chávez Lima

7

Aeroméxico

Ministro Pistarini [Ezeiza] Buenos Aires

6

Air France

6

Antônio Carlos Jobim [Galeão] Rio de Janeiro

5

Avianca

6

El Dorado Bogotá

3

Lufthansa

6

Carrasco Montevidéu

2

10

Copa

7

Taca

5

Mariscal Sucre Quito

1

American Airlines

5

Juan Santamaría San José

1

Mexicana

5

Simón Bolívar [Maiquetía] Caracas

1

Varig

4

Continental

3

El Alto La Paz

0

Silvio Pettirossi Assunção

0 Fonte AméricaEconomía Intelligence

*Por sua sinergia com o mundo dos negócios latino-americanos, Miami é sempre incluída em nossos estudos.

AE 384 viagens pesquisa.indd 8

14

TAM

Outras

8 Fonte AméricaEconomía Intelligence

*Empresas que voam na América Latina.

1/22/10 2:19 AM


ACESSÓRIOS Diners

1,8% Discover

0,1%

American Express

Visa

Magna

0,2%

23,7%

54,7%

MELHOR CARTÃO DE CRÉDITO PARA EXECUTIVOS EM VIAGEM DE NEGÓCIOS

MasterCard

19,6%

Fonte AméricaEconomía Intelligence

2

1% Apple

MELHOR LINHA DE NOTEBOOKS PARA UMA VIAGEM A NEGÓCIOS HP/Pavilion

1% Mac 2% Sony Vaio 2% Toshiba 2% Packard Bell/Easy Note

43

Dell

6

%

Compaq/Presario

8 9

2

14

Acer/Spire

12 Outros

Lenovo/Thinkpad

Fonte AméricaEconomía Intelligence

Fotos: 1 - Marcio Jumpei; 2 - SXC; 3 e 4 - Divulgação

Blackberry 9000 bold

MELHOR TELEFONE CELULAR PARA UMA VIAGEM A NEGÓCIOS 4

Outros

8

37

15

% 20 I Phone 3Gs

Nokia N97

20 Blackberry Storm

Fonte AméricaEconomía Intelligence

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 71

AE 384 viagens pesquisa.indd 9

1/22/10 2:57 AM


FINANCAS INVESTIMENTOS

JOGO DAS DIFERENÇAS Os exchange traded funds atraem os investidores, mas muitos ainda não identificam seus riscos EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO, COM ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

B

ernard Taradash não quer saber de gás natural. A experiência desse administrador californiano, que trabalha na Oppenheimer Funds e, no ano passado, apostou no gás, não foi das melhores. Comprar gás natural não é algo que qualquer um possa fazer. Mas comprar um exchange traded fund, ou ETF, que replique o preço do gás natural está ao alcance de todos. Esses ETFs são fundos de investimento cotados em bolsa que replicam o desempenho e a composição de índices, commodities e outras canastras de ativos de um ou mais países. Os ETFs são cotados livremente e oferecem alta liquidez: podem ser comprados ou vendidos dentro de uma mesma sessão, diferentemente da maioria dos fundos mútuos e outros fundos. O ETF escolhido por Taradash foi um chamado U.S. Natural Gas Fund, cotado na bolsa eletrônica NYSE Arca. Esse fundo compra contratos futuros de gás natural para entrega no mês posterior. À medida que esses contratos vencem, são vendidos para a compra de outros contratos. Mas ele não contava com o contango. Essa palavra, que mais parece proveniente de filmes de western ou de ação, identifica um fenômeno de mercados financeiros muito específico: quando o preço de um ativo futuro, ou seja, em que sua entrega se pactua para vários meses ou mais de um ano, é superior ao preço do mesmo ativo para entrega imediata, também conhecido como preço spot. É uma anomalia, já que o comum é encontrar preços melhores quando a compra é antecipada. Mensalmente, à medida que os contratos futuros que o ETF de gás natural tinha em sua carteira venciam, era preciso ir ao mercado comprar novos contratos, mas o ETF continuava perdendo dinheiro. De fato, estima-se que, no ano passado,

esse fundo perdeu US$ 1,5 bilhão em valor, segundo estimativas da empresa Morningstar. “Os ETFs, às vezes, não replicam 100% do que se estimava”, comenta Taradash. É uma lição que ele nunca esquecerá, e que todas as pessoas que pensam hoje em investir em ETFs deveriam levar em conta, sobretudo na medida em que sua popularidade aumenta. Nos EUA, por exemplo, eles já chegam a representar entre 25% e 40% do volume diário de transações de ações. Eles oferecem vantagens evidentes, como maior liquidez e menos comissões do que muitos fundos mútuos – ao simplesmente replicar um índice e não tratar de “ganhar” do mercado, economizam o salário de muitos administradores de fundos. Entretanto, nem todos estão conscientes dos riscos envolvidos nesse investimento.

72 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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1/22/10 12:04:42 AM


FESTA LATINA A América Latina não está alheia a essa euforia. Segundo Daniel Gamba, diretor para a América Latina da administradora de fundos Blackrock, dona da marca iShares, maior emissor de ETFs do mundo, esses títulos estão se tornando cada vez mais importantes na região. “No final de 2008, os ETFs da iShares administravam US$ 11 bilhões em ativos provenientes da América Latina”, diz Gamba. “Fechamos 2009 com US$ 17 bilhões, dos quais US$ 3 bi correspondem a novos fluxos de capital.” Os investidores institucionais da região, como administradoras de fundos de pensão (AFPs), estão encantados com os ETFs. As AFPs peruanas participaram ativamente no projeto de um ETF de iShares que replica o índice MSCI Perú. Já a Interbolsa lançou um ETF, em Nova York, que imita o desempenho das 20 principais ações colombianas. E, agora, estão medindo o interesse de bancos privados e investidores

11

bilhões, com 82,17 milhões de cotas em 59.460 transações. O paradoxal é que o ETF iShares MSCI Brazil é um dos maiores do mundo, com US$ 11 bilhões em ativos, mas está listado em Nova York, não no próprio Brasil. “O que falta, aqui, é as pessoas conhecerem o ETF e saberem que ele é uma oportunidade de investir em renda variável, permitindo que se monte uma carteira diversificada, por meio de uma única operação. Isso ainda não é uma coisa familiar para os investidores”, diz Adriana Sanches, gerente de produtos de renda variável da BM&FBovespa. “Daqui para a frente, o nosso trabalho é listar novos ETFs, pois, ao longo de 2010, eu tenho certeza de que serão lançados novos fundos como esse. Temos recebido demanda de bancos para isso”, diz.

bilhões de dólares é quanto o MSCI Brazil tem em ativos

Foto: iStockphoto

A LETRA PEQUENA

qualificados no México, diz Gamba. “Recentemente, fizemos uma lista dupla de 25 iShares, em Santiago do Chile, e em Nova York, como parte de um plano de promoção para atrair clientes da banca privada.” O Vanguard Funds, emissor de ETFs norte-americanos, rival da iShares, também está buscando aumentar sua oferta desses instrumentos para a região. Um porta-voz comentou que eles têm 29 ETFs na Cidade do México e em Nova York, estão estudando listar alguns ETFs deles em Santiago, e já contam com autorização para que as AFPs invistam em 29 deles. Nessa história, o Brasil configura um caso à parte. Por ser um mercado já tão atraente para investidores estrangeiros, registra poucos ETFs domiciliados no país. Na BM&FBovespa, os quatro ETFs disponíveis movimentaram, em 2009, R$ 4,578

Por enquanto, o interesse dos investidores latino-americanos tem se concentrado, principalmente, nos ETFs mais simples, ou seja, que replicam índices acionários. Estes não estão 100% isentos de riscos, já que existe um tracking error (erro de acompanhamento) inerente. Mas o mundo dos ETFs está se tornando complexo, e isso implica riscos mais altos. Como exemplo dessa complexidade, começam a surgir ETFs alavancados, ou seja, que usam compras a crédito para aumentar seus retornos em até três vezes. O problema é que também podem maximizar as perdas. Outro exemplo são os ETFs “inversos”, ou seja, que ganham se o ativo replicado perde valor, e vice-versa. Há ETFs que fazem operações exclusivamente no curto prazo, apostando que o valor das ações que formam sua carteira cairá. E há até ETFs que prometem não replicar um índice como o S&P 500, mas fazer uma administração ativa, com o que pretendem superar o rendimento do mercado. Em resumo, há ETFs para todos os gostos. Jimena Llosa, diretora de Estratégia de Investimento da Compass Group, explica que, ultimamente, os ETFs alavancados têm gerado controvérsias e que os órgãos reguladores, nos Estados Unidos, estão começando a alertar os investidores sobre esses instrumentos. A moral da história, afinal, é: antes de investir em um ETF, vale à pena ler as letras pequenas e entender bem em que, na verdade, se está investindo. Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 73

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FINANCAS PRIVATE BANKING

BENDITA CRISE S

e há um setor que não pode reclamar dos efeitos da crise financeira é o de private banking brasileiro. Enquanto no mundo a fragilidade dos bancos e escândalos como os de Bernie Madoff e Allen Stanford eram motivo de pânico, os bancos brasileiros registraram uma corrida de donos de fortunas em busca de menos risco. “A gente virou cofre”, diz João Albino Winkwelmann, novo diretor do Bradesco Private Banking, em entrevista à AméricaEconomia. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO FOTO: ROBERTA DABDAB

AméricaEconomia Como foi o período de crise para o setor? João Albino Winkwelmann A gente virou cofre. O mundo private não gosta de divulgar números, mas o volume de captação foi três vezes maior que a média usual, e com outra característica: 90% de todas as alocações eram CDBs (Certificado de Depósito Bancário), renda fi xa. Os clientes não queriam ações, não queriam fundo, não queriam multimercado. Só a partir de maio, junho, é que isso começou a passar.

AE Quanto o private do Bradesco cresceu e qual a previsão para 2010? Winkwelmann A gente cresceu muito, próximo de 30%, em 2009. Em 2008, foram 36%. Para 2010, tentaremos repetir 30%, ainda que seja mais difícil. 2008 foi um ano excepcional, com muitas fusões e aquisições, IPOs... Todo dia você abria o jornal e via: família tal vende sua empresa, empresa tal está fazendo um IPO, e isso gerou muito evento de liquidez.

AE O que mudou no cliente private depois da crise? Winkwelmann Hoje, diferentemente do que acontecia no passado, ele questiona mais, quer saber quais os riscos, quer evidências. Outra novidade, trazida até pela maturidade alcançada pelo nosso private, é que agora a gente fala de sucessão a qualquer momento, tempo e

prazo, com qualquer cliente. E envolver a família desde cedo é bom também para nós, pois você cativa. Senão, a tendência natural é o fi lho querer fazer diferente do que o pai fazia, mudando de banco.

AE E o medo já passou por completo? Winkwelmann Agora, já se volta a aplicar em ações. Com juros a 8,75%, o cliente busca a posição no final do mês e vê 0,60% de rendimento. E o brasileiro, que já viveu com altas taxas de inflação e juros, não consegue ficar quieto: aceita mais volatilidade na carteira e abre mão da liquidez. Um exemplo é a atual demanda pelos fundos imobiliários. Neles o dinheiro fica preso por quatro, seis, até oito anos, mas, no final, a promessa de retorno é de 150% a 200% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). O segredo está em diversificar.

AE O que se aprendeu com a crise? Winkwelmann A crise consolidou bancos brasileiros como grandes players no segmento private. Porque nos deu a oportunidade de mostrar o que fazemos para um público que jamais considerou o Bradesco uma opção. Não deixamos nada a desejar, e temos o diferencial de não ser só um private: temos um banco por trás dele, com uma variedade de produtos financeiros. Por isso achamos que vamos crescer 30% em 2010, enquanto a previsão do mercado em geral é de 20%.

74 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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th

22 - 24 March 2010, Sheraton Rio Hotel Rio de Janeiro, Brazil

Latin Upstream Oil & Gas-LNG: JV-Partners & Competitors

6th Latin Petroleum Strategy Briefing

22rd March 2010

16th Latin Upstream

Silver Sponsor

23rd - 24th March 2010

Bronze Sponsor

Venue Sponsor

The Hague Tel: Fax:

+ 31 70 324 6154 + 31 70 324 1741

Johannesburg: Tel: Fax:

+27 11 880 7052 +27 11 880 1798

Rio de Janeiro

Tel: +55 21 2435 5408 Fax: +55 21 2435 5408 Mobile: +55 21 8435 5408

Group Managing Director Babette van Gessel

babette@glopac-partners.com


Sponsors/Exhibition

Sonika Greyvenstein

sonika@glopac-partners.com

Brazilian Representative Virginia de Oliveira

virginia@glopac-partners.com

Registration

Tanya Beddall

tanya@glopac-partners.com

Marketing

Jerry van Gessel

jerry@glopac-partners.com


FINANCAS CAPITAL ABERTO

EM BUSCA DA PRÓXIMA BOLHA O setor imobiliário chinês dá mais sinais de reaquecimento EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO

S

empre que se deixa uma bolha Tulipas”, de 1637, ou a do “Mar do Sul”, financeira para trás, analistas de 1720, não foram causadas por excesdo mundo todo começam a esso de crédito, mas por investidores que pecular qual será a próxima. Uma bocolocaram seu dinheiro em commolha é basicamente um desalinhamento dities ou empresas cujos negócios eles entre as percepções sobre o valor de um praticamente não conheciam. ativo e o valor subjacente apropriado, e E, diz Chovanec, o mercado imobias apostas de muitos economistas são liário chinês é alavancado, mas de forde que o setor imobiliário chinês está ma diferente. Com a crise hipotecária mostrando sinais de tal desconexão. nos EUA, foram os compradores de caJames Chanos, administrador do sas que solicitaram (e receberam) hipohedge fund Kynikos Associates, com sede em Nova York, foi quem disparou o alarme. DESEMPENHO DA BOLSA E DO SETOR IMOBILIÁRIO Chanos, que ficou famoso ao ETF imobiliário na China Índice ações FTSE/Xinhua 25 denunciar irregularidades em empresas como Enron e Tyco 120 International – e obteve lucros ao realizar operações no curto 100 prazo com as ações dessas companhias, apostando que cairiam 80 no futuro –, ganhou as manchetes ao afi rmar que a China 60 entraria em colapso em breve. “É Dubai, mas multiplicado por mil, ou pior”, disse, à rede CNBC. 40 Quem nega a possibilidade de bolha alega que não há exces20 so de crédito hipotecário e que as pessoas, na China, compram bons imóveis à vista. Toda bolha se tecas que depois não poderiam pagar, define pela alavancagem excessiva, arsimplesmente contando que o valor gumentam. Sem crédito excessivo, não das casas continuaria subindo. Depois, há bolha, e se acaba a discussão. esses empréstimos foram revendidos, Mas nem sempre foi assim. Patrick distribuindo o risco por todo o mundo, Chovanec, economista norte-americacom os resultados que já conhecemos. no da Universidade de Tsinghua, em Em contrapartida, muitos chineses Pequim, afirma que algumas bolhas de compram à vista porque, ao ter poucas grandes dimensões, como a “Mania das opções, adquirem casas como reserva

MONTANHA RUSSA NA CHINA

de valor e investimento. Mas as construtoras se endividam. Elas não o fazem diretamente, porque a lei não permite, mas por meio de suas matrizes, que realizam o aporte de capital. E esses níveis de dívida estão crescendo. No caso dos bens com fi ns comerciais, o risco é maior, porque as construtoras buscam ganhar dinheiro com o aluguel. Entretanto, a quantidade de propriedades com fi ns comerciais vazias na China é incrível. Chovanec cita o exemplo de um projeto imobiliário, em Pequim, chamado Pangu Plaza, composto por cinco torres de escritórios e um shopping center construído dois anos antes das Olimpíadas, e que ainda está praticamente vazio. Felizmente, o governo chinês está reagindo e passou a estabelecer restrições mais severas ao crédito hipotecário. Para pessoas que não vivem no país, é relativamente difícil apostar no setor imobiliário chinês. Algumas opções são os exchange traded funds (ETFs) listados em Nova York (veja gráfico). Chovanec não chega a acusar a existência de uma bolha de fato, mas alerta que existem riscos crescentes. Contudo, para que haja esse risco, as pessoas têm de começar a acreditar que essa bolha existe, e as declarações de pessoas como Chanos acabam se convertendo em outro fator de risco. Sinais de uma profecia autocumprida?

76 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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OPINIÃO

PLANO DE ATRAÇÃO O

ano que apenas começou pode ser muito bom para vários países latino-americanos. Os fluxos de capital desempenharão um importante papel ao determinar as taxas de crescimento da atividade econômica. E, certamente, tais fluxos terão impacto dominante sobre os preços dos ativos financeiros, de empresas locais e no mercado imobiliário. Investidores de portfólio em todos os lugares do mundo questionam suas convicções mais arraigadas. A velha diferenciação entre os países industrializados e os países em desenvolvimento, que décadas atrás lhes serviu como bússola, falhou nos últimos dez anos. Os mercados de renda fi xa e variável dos países industrializados registraram perfomance aquém da desejada durante esse período. Já os mercados emergentes, conhecidos por sua volatilidade, passaram a ser mais estáveis e atraentes. Agora, o maior medo dos investidores é acreditar demais da conta na metamorfose dos mercados emergentes. Buscam, ansiosos, por sinais de revitalização das economias industriais. Entretanto, essas economias se mostram cada vez mais velhas. Suas dívidas ameaçam qualquer perspectiva de recuperação rápida. E essa sombra permanente faz os investidores voltar sua atenção a regiões anteriormente inexploradas. Hoje, a América Latina é vista como uma região diversificada e merecedora de uma análise cuidadosa. Evidentemente, o país que os estrangeiros estudam mais de perto é o Brasil. Estão fascinados com ele. Depois, os investidores estrangeiros de portfólio voltam seu radar para o Peru, a Colômbia, o Chile e o México. Eles gostam da Argentina e planejam tirar férias lá, mas hesitam em comprar ações ou bônus do país. Fazem pequenas compras de ações no Peru, aproveitando-se do exchange trade fund (ETF) que está listado na Bolsa de Nova York. Comentam a possibilidade de comprar bônus colombianos, mas não encontram uma maneira fácil de fazê-lo; analisam o mercado do México e, depois, compram algumas ações da América Móvil. Entre os aspectos positivos dos principais mercados financeiros latino-americanos – Brasil, Peru, Colômbia, Chile e México –, os estrangeiros sempre destacam a baixa quantidade de dívida pública como proporção do PIB. Citam, também, a melhoria na proteção dos direitos dos acionistas minoritários e o crescimento da participação local nos mercados de ações e bônus. Suas posições são mais fortes quando uma grande parcela da classe média de um país detém ações e bônus emitidos localmente. Eles também citam a composição etária da população. A taxa de crescimento da população nessas nações tem diminuído; portanto, a proporção de dependência está melhorando.

Ilustração: Samuel Casal

Investidores estrangeiros estão fascinados pelo Brasil

O desafio para esses cinco países é decidir quanto investimento estrangeiro querem atrair. Eles podem permitir o ingresso de investimentos estrangeiros para fortalecer suas moedas e aumentar os preços de ativos. Essa política favorece os titulares de ações e bônus e os proprietários de imóveis, enfraquece os incentivos para a exportação e fortalece os incentivos para a importação, principalmente de bens de consumo de luxo. Ela gera riqueza, mas não empregos. Essa política é arriscada porque a entrada de investimento estrangeiro é notoriamente instável. Os investidores estrangeiros estão muito suscetíveis ao pânico. No fundo, eles sabem como são ignorantes em relação ao que está realmente acontecendo nos países onde seus investimentos estão localizados. Para os investidores locais astutos, o desafio consiste em medir o quanto de dumb money é investido em seus mercados locais, e que o dumb money vai comprar depois. Ondas de dumb money criam oportunidades, mas essas ondas de repente podem virar hostis.

JOHN C. EDMUNDS é doutor em Administração pela Universidade de Harvard, professor do Babson College e coautor de Wealth by Association

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 77

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I-BIZ

INOVAÇÃO BÁSICA Programa desenvolvido no Brasil mostra que buscar o modelo de educação ideal para as gerações futuras é muito mais que garantir um computador por criança JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA

N

a porta do colégio estadual José Leite Lopes, no Rio de Janeiro, há ansiedade e euforia. Com 470 alunos, neste ano a escola deverá receber cerca de 2 mil adolescentes em busca de uma vaga na instituição. O colégio é o resultado bem-sucedido de uma experiência que começou em 2007, quando a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro aceitou o convite do Núcleo Avançado em Educação (Nave), um centro de pesquisas em tecnologia e educação subsidiário da empresa de telefonia Oi, para criar um colégio secundário especializado em tecnologias digitais com certificação em programação multimídia, jogos, e conteúdos para a TV digital. Além disso, o colégio deveria utilizar essas competências para trabalhar o currículo tra-

1

78 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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1/22/10 12:06:56 AM


dicional, por exemplo, aplicando a matemática e a lógica à programação e desenvolvendo conteúdos multimídia para explicar a história ou a geografia. “É evidente que o meio natural destas gerações é o digital. Enquanto nos preocupamos em como manter a atenção dos alunos, eles ficam até nove horas na frente de um videogame sem perder a concentração”, diz Samara Weiner, diretora do Nave. “Além disso, a tecnologia nos permite trabalhar competências, como o desenvolvimento de projetos. Pode-se incentivar o trabalho cooperativo, dando mais autonomia ao aluno frente ao professor”, acrescenta.

respectivamente, tinham a mesma deficiência. A iniciativa da Nave não é a primeira e nem a última em inovação educacional. A Fundação Bradesco começou, em 2004, um processo de troca tecnológica nas 40 escolas de nível primário e médio que atende pelo Brasil. Com o apoio do laboratório de mídia do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT) e de provedores como Intel e Cisco, a Fundação adotou o conceito de um laptop por aluno, “como uma aposta na mobilidade e no trabalho cooperativo”, segundo Nivaldo Marcusso, superintendente e diretor de Inovação da Fundação Bradesco. O programa da Fundação introduziu a robótica nas aulas, como ferramenta pedagógica que ajuda o 2 docente a ditar as matérias tradicionais. Quase todos os alunos das escolas Bradesco alcançaram uma média considerada satisfatória pelo sistema de avaliação de exame da educação básica do Brasil. 60% deles ultrapassaram a média em línguas, e 20%, em matemática, enquanto o planejamento oficial estima que, somente em 2012, 60% dos alunos do país alcançarão essa meta.

Fotos: 1 - Marcos Pinto; 2 - Érico Hiller

MAIS DO QUE HARDWARE E SOFTWARE O detalhe é que a tecnologia não parece ser o ponto primordial nesse processo. “Claro, a excelência é produto da inovação permanente, e nós temos desenvolvido, em todos estes anos, um portfólio de mais de 180 técnicas pedagógicas”, diz Marcusso. Reforçando essa ideia, nos colégios Fontan, na Colômbia, a proposta foi transformar o docente em ESPAÇO NAVE (À ESQ.): PROGRAMA ESTIMULA TRABALHO COOPERATIVO. ACIMA, ALUNOS DA FUNDAÇÃO BRADESCO: MÉDIA ALTA EM AVALIAÇÃO tutor que diagnostica o nível do aluno e confecciona um plano de estudo sob medida. Para isso, oferecem os elementos essenciais da malha curricular até que o aluno A escola ainda não tem uma avaliação oficial, dado ao possa criar um mapa conceitual do tema, aprofundando-se pouco tempo do programa, mas alguns indicadores são signas matérias por sua conta, até conseguir um nível de excenificativos. Apesar de atender comunidades de classe médialência e passar à lição seguinte. baixa e baixa, a escola Nave só registrou a desistência de três “A tecnologia é só um facilitador”, diz Francisco Moisés, alunos. No Rio de Janeiro, o índice de abandono na escola diretor da área de Educação da Microsoft para a América Latisecundária pública é de 55%, e a média brasileira é de 50%, de na. “Além de ser um motivador para os jovens, permite monacordo com um informe da Unesco apresentado em 2010. tar um sistema de serviços comunicacionais, pedagógicos e A Nave também está trabalhando com a Secretaria da burocráticos para o estudante”, afirma. A Microsoft é quem Educação de Pernambuco. E, dependendo do resultado do fornece a plataforma de CRM com a qual os colégios Fontan programa em 2011, o modelo começará a se expandir por estão gerenciando a complicada massa de informação de mais colégios. “A plataforma estará à disposição do sistema seu sistema de educação personalizada, e estruturando seu educacional em geral”, acrescenta Samara. sistema para transferi-lo a terceiros. MUDANÇA NA FORMA Entretanto, todo esse potencial de inovação requer docenPesquisa do McKinsey Global Institute (MGI) com 112 escolas tes competentes, e isso não é fácil de obter. Qual o caminho que se submeteram a reformas educacionais no mundo aponpara chegar a eles? Mudar o status da docência, com bons sata que uma maneira diferente de dar aulas é o único fator que lários iniciais e políticas de recrutamento entre os melhores faz melhorar a qualidade da educação. E, sem dúvida, essa é universitários, capacitação permanente e intercâmbio entre uma dívida pendente na região. O exame internacional em pares, tem dado bons resultados no curto prazo onde tem sido ciências Pisa 2006 registrou que 60% dos estudantes brasileiimplementado, segundo o McKinsey Global Institute. ros e colombianos não alcançavam o nível mínimo aceitável Mas essa será outra transformação radical, para a qual de competências, e 55% e 50% dos argentinos e mexicanos, nosso sistema público de ensino precisa se preparar. Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 79

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CLICS & CHIPS NA DISPUTA O Google entrou na guerra dos smartphones ao lançar o Nexus One, que funciona com o sistema operacional Android. O aparelho, com 11,5 milímetros de espessura e 130 gramas de peso, tem uma tela de 3,7 polegadas sensível a toque e uma câmera fotográfica de 5 megapixels. Embora não esteja disponível para os consumidores brasileiros, o aparelho pode ser adquirido nos Estados Unidos a um valor sugerido de US$ 529.

www.google.com/phone

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FINA ESTAMPA O Vostro V13, da Dell, caracteriza-se pela finura – tem uma espessura de 16,5 mm e pesa a partir de 1,59 kg. Destinado aos pequenos empreendedores e profissionais liberais que precisam de mobilidade e privilegiam o desempenho, o notebook vem com processador Intel Core 2 Solo SU7300, 4 GB de memória, HD de 500 GB ou 250 GB FDE (com criptografia total) e tela LED de 13,3 polegadas. Custa cerca de R$ 2.499.

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www.dell.com.br

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A Sony traz ao mercado a câmera fotográfica Alpha 850, com uma nova geração de sensores CMOS Exmor™ e processadores de imagens BIONZ™. Com 24,6 megapixels e sensor de 35 mm, o equipamento foi projetado para oferecer altíssima qualidade de imagem, e tem uma função para realizar tomadas contínuas de foto em alta velocidade, com imagens de até três quadros por segundo. A Alpha 850 tem preço sugerido de R$ 10 mil.

www.sony.com.br/alpha

Fotos: 1 - Tom Schierlitz; 2 e 3 - Divulgação

OLHA O PASSARINHO

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LIBERTADORES

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ÁFRICA 2010

A Copa já começou

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LINHA DIRETA

XAMÃS METEOROLOGISTAS A

expectativa de ver a chegada do Ano Novo das praias do Rio de Janeiro inebria qualquer turista. Esquemas especiais de trânsito, montagem de cenários, ambulantes amontoados nas ruas para oferecer flores brancas e amarelas; preparativos que se repetem e em si já confundem os incautos. Entretanto, um dos fatores aparentemente impossíveis de programar – além de balas perdidas – é a chuva. E a chegada de 2010 parecia não escapar desse destino: as previsões do tempo davam 90% de certeza de que os 2 milhões de moradores e turistas estimados para a festa em Copacabana teriam de se molhar, a menos que mudassem os planos e decidissem ver a pirotecnia pela TV. Mas chegou a meia-noite, e nada de chuva. Sorte? Não. A razão, segundo a Prefeitura do Rio, veio das mãos do Cacique Cobra Coral, um índio que, garantem seus discípulos, é a reencarnação do físico e astrônomo italiano Galileu Galilei e do lenhador, agricultor e ex-presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln. Isso graças à fundação capitaneada pela médium Adelaide Scritori, responsável por incorporar o Cacique sempre e quando há demandas oficiais. Digo “oficiais” porque a Fundação Cacique Cobra Coral

(FCCC) trabalha com base em convênios firmados com administrações públicas. O fato, na realidade, não é novo. Sempre que a circunstância justifica, as autoridades recorrem à fundação para administrar os imponderáveis climáticos. Em 2007, por exemplo, um subsecretário da Prefeitura de São Paulo solicitou ajuda à médium e às forças da umbanda para deter a chuva durante o desembarque do papa Bento 16 na cidade. E não choveu. Em 2009, notas publicadas no site da FCCC dão conta de que a entidade trabalhou – em Madri e em Copenhague – em um lobby espiritual para que o Brasil ganhasse o direito de hospedar as Olimpíadas de 2016. E nem o senador Arthur Virgílio (PSDB) escapou à tentação. Em novembro, chegou a convocar oficialmente a FCCC a uma audiência da Comissão de Ciência e Tecnologia para pedir seu parecer sobre o apagão ocorrido naquele mês, fato que deixou 50 milhões sem luz elétrica. Por causa da má repercussão da ideia, o pedido foi rápida e gentilmente cancelado. O sincretismo religioso e o misticismo são parte do DNA dos brasileiros e, entre outros, dão vida a algumas das mais ricas manifestações culturais e anímicas do continente. Já a intenção de sincretizar política e religião, entretanto, está longe de resultar em algo bom. Isso porque é inútil buscar motivos sobrenaturais em falhas naturais, humanas. Por exemplo, enquanto, em Copacabana, os abraços eram salpicados de champanhe, na região de Angra dos Reis o excesso de chuva resultou em 52 mortes, fruto de uma urbanização desordenada, que aguçou os efeitos do El Niño. O reflexo do El Niño na região somase a outros eventos não menos sérios na América Latina, como o frio extremo e a morte de crianças na cordilheira peruana, inundações catastróficas nos pampas úmidos argentinos, seca nas planícies da Venezuela. E, enquanto nos bastamos elevando preces aos céus, meteorologistas nos EUA se esmeram em enviar satélites às alturas e termômetros flutuantes aos mares para sondar, minuciosa e incansavelmente a mínima mudança de temperatura, vento e umidade.

Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr com montagem de Andre Carvalho

SOLANGE MONTEIRO, DO RIO DE JANEIRO

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