Nº 386 Abril/2010
PREVIDÊNCIA PRIVADA O DESAFIO DE SER POPULAR
AméricaEconomia
RANKING DAS MULTINACIONAIS LATINO-AMERICANAS
BRASIL
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BRASIL X EUA IMPACTOS DA RETALIAÇÃO CHILE DEPOIS DO TERREMOTO DIFÍCIL RECOMEÇO
JBS APETITE GLOBAL COM ESTRATÉGIA AGRESSIVA DE COMPRAS INTERNACIONAIS NO SETOR DE CARNE, A EMPRESA LIDERA O RANKING DAS MULTINACIONAIS LATINO-AMERICANAS
Nº 386 ABR./2010 R$ 8,90
ESPECIAL: PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS SUSTENTÁVEIS
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NESTA EDIÇÃO
22 40 44 1
Seções Portal Carta ao Leitor Cartas Índice de Empresas Pistas Negócio Fechado Opinião – A Copa e o Pré-Sal Opinião – Corrigir Deficiências Movimentos I-biz I-biz Entrevista – LinkedIn Clics & Chips
28 32 34
Linha Direta
Negócios Minha Casa, Minha Vida A estratégia das construtoras Aviação executiva Mercado brasileiro ganha espaço
ESPECIAL Multilatinas JBS A estratégia da líder
Força regional Empresas consolidam potencial de internacionalização Ranking As multinacionais latino-americanas mais globalizadas
2
54
Travesseiros Duoflex Planos de expansão
54
62 64 68 70 74 76 80
ESPECIAL
Pequenas e médias empresas sustentáveis
Debates
Os Brics Emergentes em alta Retaliação aos EUA Brasil toma a defensiva Argentina sob tensão Governo e oposição em choque Terremoto no Chile O custo da recuperação Narcotráfico Aumenta a produção de coca no Peru
Finanças
Previdência Planos privados mais acessíveis Hedge funds Boas estimativas para 2010
Ilustração de capa: Julio Ramos
Fotos: 1 - Divulgação; 2 - iStockphoto
14 16 18 18 19 20 26 38 48 84 86 88 90
PORTAL
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PARCERIA
A petrolífera britânica BP pagará US$ 7 bilhões à Devon Energy, dos Estados Unidos, para explorar petróleo nas reservas da costa brasileira e do pré-sal e também para ampliar sua presença no Golfo do México. Os ativos da Devon possibilitam participação em dez blocos exploratórios no país. Juntas, BP e Devon formarão também uma joint venture para explorar óleo na província de Alberta, no Canadá. A BP venderá 50% dos direitos que possui nessa reserva à Devon.
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LEIA NO PORTAL EDIÇÃO: AINÁ VIETRO (AVIETRO@AMERICAECONOMIA.COM)
COMBUSTÍVEL BRASILEIRO A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) será, pelo segundo ano consecutivo, a fornecedora oficial de combustível na temporada 2010 da Fórmula Indy, que começou em São Paulo, no dia 14 de março. A Indy utilizará o combustível de cana-de-açúcar inclusive na etapa mais famosa da categoria, as 500 milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos. Ao todo, 16 das 17 corridas do campeonato contarão com o etanol brasileiro. A única prova que ficará de fora é a Iowa Corn Indy 250, que tem acordo separado de patrocínio e utilizará o etanol de milho produzido nos EUA.
ACORDO SUSTENTÁVEL A norte-americana Haworth, fabricante de móveis corporativos e estações de trabalho, desembarcou em São Paulo em busca de parceiros locais para produzir seus móveis. “A ideia para 2010 é lançar de cinco a dez linhas de produtos, entre localizados e importados”, diz Frank Rexach, vice-presidente e gerente-geral da Haworth para as regiões da Ásia Pacífico, Oriente Médio, África e América Latina. Para se associar à empresa, os candidatos brasileiros terão de cumprir algumas premissas, entre elas a de inovar e buscar uma produção sustentável. Com vendas globais que somaram US$ 1,1 bilhão em 2009, a Haworth adota, por exemplo, a produção de peças com bambu, além de trabalhar com matéria-prima reciclada.
A Steel do Brasil anunciou a compra da MHAG, mineradora localizada a 120 km da costa do Rio Grande do Norte. O acordo será fechado por US$ 245 milhões, no caso da aquisição de 70% da empresa, e por US$ 350 milhões, para a compra de 100%. A MHAG já está autorizada a iniciar a primeira fase da instalação da mina, com capacidade para produzir 1,2 milhão de toneladas de minério de ferro por ano. O início dos trabalhos está previsto para 2011.
14 AméricaEconomia Abril, 2010
Foto: BP/Divulgação
MINERADORAS
MELHORAR SUBSTANCIALMENTE DA NOITE PARA O DIA A SEGURANÇA E A PRODUÇÃO DE PETRÓLEO DE UM PAÍS, EM CAMPOS COM MAIS DE 30 ANOS DE EXISTÊNCIA.
ISSO NUNCA FOI FEITO
ANTES
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CARTA AO LEITOR
BRASIL www.americaeconomia.com.br PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação Tatiana Engelbrecht Editora Executiva Solange Monteiro Diretora de Arte/Projeto Gráfico Janaína Diniz Repórteres Graziele Dal-Bó e Roberta Pregnaca Editora do Site Ainá Vietro Revisão Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica Eduardo Keppler Infografia Anna Luiza Aragão Colaborador Andre Carvalho (assistente de arte) COMERCIALIZAÇÃO Gerente de Publicidade Sidney Espósito Executivo de Contas Nagibe Adaime – nagibe@springcom.com.br MARKETING Marcia Leonardi, Elisangela Silva, Rafael Borsanelli ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo Eduardo Colturato Gerente Financeiro Edison Arduino PROJETOS ESPECIAIS Tania Macena CIRCULAÇÃO Gabriela Beraldo Pré-impressão First Press Periodicidade Mensal (Abril de 2010) CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfica Circulação auditada por SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMIA INTERNACIONAL Diretor Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva Gloria Landabur C. Diretora Internacional de Marketing Mica Selman Diretor Editorial Felipe Aldunate M. Editores Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago), Karen Correa (Guaiaquil) Diretor de Arte Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia Miguel Candia Diretor de Circulação Marcial Delcorto Gerente de Produção Constanza del Río Moreno AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor Jaime Contreras Soria Coordenadora Geral Daniela González Pesquisador Sênior Andrés Almeida Analista Paulina Saavedra
O DESAFIO DE PENSAR GLOBALMENTE
E
les não gostam de aparecer em fotografias. Evitam ao máximo dar declarações à imprensa. E estão à frente de uma das empre-
sas brasileiras que mais agressivamente tem se lançado no mercado internacional: a JBS-Friboi. Foram três semanas solicitando entrevistas com executivos do grupo, sem sucesso. Na tarde de fechamento desta edição, fomos orientados pela assessoria de Comunicação a entrar no site da empresa e buscar as informações, já conhecidas pelo mercado, da última apresentação de resultados, da qual participou o presidente do grupo, Joesley Batista. Foi uma ducha de água fria em nossa curiosidade de conhecer e apresentar a você, leitor, mais informações sobre essa empresa que domina o mercado mundial de processamento de proteínas. Nossa alternativa foi recorrer aos atentos observadores do mercado e a uma das mais recentes companhias compradas pela JBS, a norte-americana Pilgrim’s Pride. Talvez por ter uma cultura corporativa diferente, mais em linha com o mundo globalizado, para nossa surpresa, fomos prontamente atendidos pelo executivo Gary Rhodes, vice-presidente de Comunicação Corporativa e Relações com Investidores, que pôde nos contar um pouco das expectativas do negócio a da recuperação do mercado mundial de carnes. Antes mesmo de sabermos que a JBS ocuparia o primeiro lugar no ranking das 60 multinacionais latino-americanas mais globalizadas, segundo a pesquisa da AméricaEconomia Intelligence, a estratégia de compras internacionais da empresa já estava em nossa pauta. É um caso emblemático pela velocidade e dimensão de seu crescimento, e por isso não deixamos de contá-lo. Sobretudo quando se trata de empresas brasileiras, para as quais o processo de internacionalização chegou tão atrasado. O aumento vertiginoso da produção de coca no Peru, o desafio do Chile depois do terremoto e a retaliação brasileira aos Estados Unidos são outros assuntos desta edição. Boa leitura. José Roberto Maluf
AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital Rodrigo Guaiquil Editor Lino Solis de Ovando Webmaster José Fuentes ESCRITÓRIOS Buenos Aires +5411 4383-8410 Cidade do México +5255 5254-2400 Costa Rica +506 225-6861 Lima +511 610-7272 Miami +305 648-9071 Panamá +507 271-5327 Santiago +562 290-9400 Uruguai +5982 901-9052
Chairman Robert R. Paradise
16 AméricaEconomia Abril, 2010
ASSINATURAS Central de Atendimento Tel: 55 11 3038-1493, de 2a a 6a feira, das 8h às 20h. E-mail: americaeconomia@acsolucoes.com.br Cartas: Rua Butantã, 500 – 2o andar – CEP 05424-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 182,00 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigido monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.
Banco do Brasil.
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Parceiro das Grandes Empresas.
il xt R$ 100.000.000,00 BNDES
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US$ 25,000,000.00 BNDES Exim
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US$ 36,679,900.00 BNDES Exim
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US$ 73,200,000.00 Pre-Export & Import Finance
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US$ 30,000,000.00 BNDES Exim
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US$ 81,583,813.77 BNDES Exim
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tacadista aeA jist e r Va cio r é R$ 50.000.000,00 om Capital de Giro
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R$ 30.000.000,00 BNDES PEC
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ntos me a p i qu US$ 43,750,000.00 Pre-Export Finance
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R$ 30.000.000,00 Capital de Giro
R$ 45.000.000,00 Capital de Giro
R$ 50.000.000,00 CDCI – Crédito Direto ao Consumidor com Interveniência
R$ 500.000.000,00 Emissão de Debêntures
R$ 183.000.000,00 Prestação de Fiança
US$ 98,000,000.00 BNDES Exim R$ 85.000.000,00 Capital de Giro
R$ 330.000.000,00 Notas Promissórias
R$ 200.000.000,00 Capital de Giro
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R$ 65.000.000,00 Capital de Giro R$ 110.000.000,00 Capital de Giro
US$ 44,000,000.00 Pre-Export Finance
SAC 0800 729 0722 – Ouvidoria BB 0800 729 5678 – Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088
R$ 124.413.206,09 CDCI – Crédito Direto ao Consumidor com Interveniência
R$ 93.534.525,84 Aquisição de Recebíveis
bb.com.br/corporate
Material de caráter meramente informativo. Operações realizadas em 2009.
US$ 20,000,000.00 Pre-Export Finance
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ÍNDICE DE EMPRESAS
CARTAS DESCASO? O novo presidente do Chile ignora olimpicamente o Brasil, pelo que pude ler nas entrelinhas da matéria publicada por vocês (“Novo no Bairro”, AméricaEconomia No 384, fevereiro, 2010). Ele dá ênfase aos vizinhos, aos EUA, mas não deixa explícito o que quer do Brasil nem de Lula. Isso significa que as relações entre Brasil e Chile já não são importantes? LUIS RODRIGUES – BRASIL
RIQUEZA REGIONAL Interessante o potencial do açaí plantado por nossos colegas brasileiros (“Pérola da Amazônia”, AméricaEconomia No 385, março, 2010). Espero que consigam bons projetos para sua industrialização, para que melhore a condição do povo da região norte do país. KENNY JACK – COLÔMBIA
JOGO LIMPO Para uma forte expansão de marcas, a alternativa é unir-se ou desaparecer, como vocês mostraram em “A Mais Cortejada” (AméricaEconomia No 384, fevereiro, 2010). Isso é válido para cervejas industriais que concorrem mais por preço que por variedade. Entretanto, nós, da Cervecería Primus, não estamos de acordo com a mono ou a oligopolização do mercado, condicionando crédito ou colocando barreiras à livre escolha do consumidor em lugares como restaurantes e bares. Ainda que se diga que, em teoria, não haja práticas monopólicas, elas existem, sim.
Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem. A.R.P. Ambiental
55
Envatrip
20
NineSigma
85
Alcan Embalagens
20
Facilit
20
Novartis
84
Amil
20
Fator
82
Ocean Guardian
50
Arcor
36
Fibria
36
Odebrecht
23
ASL
20
Flextronics
50
Organização Corona
84
Avianca
33
Fonterra
52
Pantanal Linhas Aéreas 33
Babysol
21
Gafisa
24
Petrobras
26
Bairro Novo
23
Goldman Sachs
62
Pilgrim’s Pride
28
Barclays
50
87
PMP
59
Bell
40
Grupo Eco
57
Procter & Gamble
84
Bematech
20
G. Nac. de Chocolates
33
Prospectiva
64
Bertin
28
Gulfstream
43
Quest Investimentos
81
BM&FBovespa
23
Haworth
14
Research In Motion
50
Bombardier
43
Hypermarcas
20
Rio Tinto
33
BP
14
Ibmec
20
Rockdale Beef
29
BR Foods
36
IM Trust
71
Römer y Asociados
69
Bradesco
77, 82
InnoCentive
84
Rossi
23
Brasilprev
77
Inventta
85
Santander Brasil
56
Brava Investimentos 23, 28
Invit
20
Santander Seguros
77
Camargo Corrêa
19
Isa Participações
21
Sapeka
20
Carbery
52
Itap Bemis
20
Setor 3 Consultoria
54
Celco
70
Itaú
77
Softtek
52
Cencosud
20
IUNI
20
Sonda
36
Cessna
40
Jaguar Land Rover
48
Steel do Brasil
14
Chunchino
59
JBS-Friboi
28
Supermercado Família 20
Ciba
84
Kaizen
20
Swift
28
Cimpor
19
King Air
43
Tabacón Grand Spa
58
Citigroup
24
Kroton
20
Taca
33
Click & Grow
88
LAN
33
TAM
33, 40
CME Group
20
Le Fort
71
Tatiara Meat Company 29
Codeme Engenharia
21
Link Investimentos
29
Telemar
Codepar
21
87
The Boston Cons. Group 33
36
Copec
70
Liongate Capital
80
The Capital Group
20
Dassault Falcon
42
Luper
20
Totvs
37
De Smet
52
Marisa
21
Trevisan
55
Deanmark
88
Marisol
21
87
Desire Petroleum
50
Mauá Investimentos
81
Unica
14
RODOLFO ANDREU – MÉXICO
Devon Energy
14
Max Participações
21
Usiminas
21
Dixie Toga
20
Mecânica do Gato
54
Vale
ERRATA:
DKH Investments
81
Mercer
78
Viña De Martino
58
Dow
84
Metform
21
Votorantim
19
Duas Rodas
37
MHAG
14
Walmart
56
Duoflex
44
Moody’s
72
WestLB do Brasil
62
Na seção Pistas da edição de março (AméricaEconomia No 385), publicamos incorretamente o nome do presidente da empresa de saúde Amil, na legenda da foto. O nome correto do empresário é Edson Bueno.
Cartas para a redação:
americaeconomia@springcom.com.br
18 AméricaEconomia Abril, 2010
21, 32
DuPont
84
MRV
24
Xstrata
36
Eli Lilly
84
National Beef
28
York
20
Embraer
41
Natura
Zeal Optics
88
Envaril Plastic
20
Neos
Zurich
50
37, 85 85
PISTAS PIOR QUE O ESPERADO PUBLICAMOS
A US$ 70 o barril, o preço internacional do petróleo ainda está alto, mas não o suficiente pra saciar o apetite do governo venezuelano, situação que pressagia um cenário difícil para Chávez em 2010. (“Sede de Recursos”, AméricaEconomia No 384, fevereiro, 2010)
Fotos: 1 - Adriano Machado/LatinContent/Getty Images; 2 - iStockphoto
O NOVO Ao que tudo indica, nem a desvalorização da moeda salvará Hugo Chávez do aperto. O Banco Central (BC) do país anunciou, em março, que o PIB da Venezuela caiu 3,3%, em 2009, retração além da expectativa do governo, que era de 2,9%. Para o BC venezuelano, a recuperação do preço do petróleo e a expansão do investimento produtivo a partir do segundo semestre não foram suficientes para reverter esse quadro.
SAI DA FRENTE PUBLICAMOS
O fato de a Casa Rosada acertar na escolha de uma economista considerada capaz e eficiente para comandar o Banco Central argentino por si só não garante que o governo chegará a usar os US$ 6,57 bilhões do Fundo do Bicentenário. Na Câmara dos Deputados, a derrota do governo já é dada como certa. (“Braço de Ferro”, AméricaEconomia No 385, março, 2010)
O NOVO
A oposição pensou que ganharia, mas ninguém contava com a astúcia da presidente: na abertura do ano legislativo, Cristina Kirchner (foto) revogou a criação do Fundo, anunciando a publicação de outro decreto para a transferência do mesmo valor a um Fundo do “Desendividamento”. O uso da verba do BC foi bloqueado por uma juíza de primeira instância, que foi ignorada pelo governo.
1
UMA ILHA PUBLICAMOS
“De um lado, temos o G-20 e, do outro, uma tentativa dos EUA e da China de se constituírem no foco de deliberação da agenda mundial. É lastimável que não tenhamos a possibilidade de chegar a um acordo agora.” (Entrevista Paulo Jacques Marcovitch, AméricaEconomia No 382, dezembro, 2010)
O NOVO
China e Índia anunciaram, em março, a adesão ao acordo climático de Copenhague, deixando os EUA isolados. O acordo de Copenhague prevê que os países limitem o aquecimento global a 2 graus em relação aos níveis préindustriais. China lidera o ranking mundial de poluição atmosférica, com 1,92 bilhão de toneladas de CO2 emitidas em 2008. Os EUA ficam em segundo, com 1,54 bilhão de toneladas. 2
SEM BARREIRAS PUBLICAMOS
Para analistas, o avanço das empresas Camargo Corrêa e Votorantim na Cimpor, produtora portuguesa de cimento, pode enfrentar problemas de concorrência e uma possível intervenção do Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica. (“Desejo Pendente”, AméricaEconomia No 385, março, 2010)
O NOVO
O Cade assinou diversos acordos de Preservação de Reversibilidade das Operações, em que Camargo Corrêa, Votorantim, Cimpor e Cimpor Cimentos do Brasil assumiram uma série de obrigações relativas à manutenção de ativos e à proibição de repasse de informações entre si sobre aos mercados brasileiros afetados. O órgão definiu que tais obrigações são válidas e estão em vigor até a análise definitiva dos atos de concentração. Abril, 2010 AméricaEconomia 19
NEGÓCIO FECHADO HYPERMARCAS
AMIL A empresa do setor de assistência médica assinou contrato para adquirir a ASL – Assistência à Saúde Ltda., pelo valor de R$ 8,6 milhões. A ASL está localizada no Rio Grande do Norte e possui uma carteira total de aproximadamente 70 mil beneficiários. De acordo com a Amil, a transação está sujeita à aprovação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). VALOR: R$ 8,6 MILHÕES BEMATECH A empresa do setor de automação comercial receberá financiamento de R$ 30,2 milhões do BNDES para realizar investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), na melhoria de processos e na estrutura de vendas. O projeto ainda prevê a atualização e a ampliação da linha de produtos da Bematech e a modernização da infraestrutura e dos sistemas de gestão empresarial. VALOR: R$ 30,2 MILHÕES CENCOSUD
O grupo varejista chileno fechou um acordo para comprar 100% das ações da rede Supermercado Família, em uma transação avaliada em US$ 33,1 milhões. A rede opera quatro lojas e um centro de distribuição em Fortaleza e
20 AméricaEconomia Abril, 2010
A fabricante de medicamentos Luper foi comprada pela Hypermarcas pelo valor de R$ 52 milhões. Segundo a empresa, as transações vêm ao encontro dos objetivos estratégicos da companhia de adquirir marcas e ativos no setor de produtos de beleza e higiene pessoal, marcando sua entrada no mercado de higiene oral no Brasil.
VALOR FACILIT: R$ 79 MILHÕES VALOR LUPER: R$ 52 MILHÕES VALOR SAPEKA: R$ 225 MILHÕES VALOR YORK: R$ 100 MILHÕES
conta com mais de 1.200 funcionários. VALOR: US$ 33,1 MILHÕES
DIXIE TOGA A fabricante de embalagens adquiriu, por meio da sua controlada Itap Bemis, a Alcan Embalagens, do Brasil, e as empresas argentinas Envaril Plastic Packaging e Envatrip. O valor da compra de 100% das ações da Alcan foi de US$ 104,6 milhões, enquanto para as duas companhias da Argentina foi de US$ 3,9 milhões. As três atuam na fabricação de embalagens de plásticos flexíveis. VALOR ALCAN: US$ 104,6 MILHÕES VALOR ENVARIL E ENVATRIP: US$ 3,9 MILHÕES
CME GROUP A holding norte-americana, que controla, entre outras, a Chicago Mercantile Exchange (CME), fechou um acordo para adquirir 1,9% das ações da Bolsa Mexicana de Valores (BMV), o equivalente a cerca de US$ 17 milhões. VALOR: US$ 17 MILHÕES GRUPO IBMEC Formado por Faculdades Ibmec e Veris Faculdades, o grupo anunciou um aporte de R$ 130 milhões
por parte de fundos de private equity administrados pelo Capital International Inc., integrante do The Capital Group Companies. O montante será aplicado, principalmente, em projetos de ampliação do campus da Faculdade Ibmec/RJ e do Ibmec/BH e na expansão do Ibmec Online, operação de ensino a distância do grupo. VALOR: R$ 130 MILHÕES
KAIZEN A empresa de tecnologia da informação comprou a parte de consultoria e a fábrica de software com foco em SharePoint da Invit, especializada em inovação e engenharia de software. A aquisição faz parte dos planos da Kaizen de alcançar um faturamento de R$ 100 milhões até 2012. O objetivo da companhia, segundo comunicado, é fechar 2010 com um crescimento de 50% na comparação com o ano anterior. O valor da transação não foi revelado. VALOR: NÃO REVELADO
KROTON EDUCACIONAL A empresa adquiriu 72,47% do capital social do IUNI Educacional e a totalidade das ações das subsidiárias da IUNI por R$ 191,7 mi-
Foto: Ayrton Vignola/Folha Imagem/Folhapress
A companhia de bens de consumo comprou quatro empresas, em menos de uma semana, no mês de março. A primeira foi a fabricante de fraldas Sapeka, adquirida por R$ 225 milhões. Depois, vieram as empresas de produtos de higiene pessoal York e Facilit. A York atua na fabricação e distribuição de hastes flexíveis, curativos, absorventes e algodões, e foi comprada por R$ 100 milhões. Já a Facilit, empresa do segmento de higiene bucal que atua na fabricação e distribuição de escovas dentais, fios e fitas dentais e antissépticos bucais foi adquirida por R$ 79 milhões.
2
CLAUDIO BERGAMO: PRESIDENTE DA HYPERMARCAS
lhões. Com a aquisição, a Kroton passará a contar com 40 campi, e atuará em 28 municípios distribuídos em dez estados. VALOR: R$ 191,7 MILHÕES
LOJAS MARISA A rede varejista, por meio de sua subsidiária Marisa S.A., comprou 99,99% do capital social da MAX Participações. O valor da transação foi de R$ 7,4 milhões, a ser corrigido pela variação do IGPM (Índice Geral de Preços de Mercado), publicado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). VALOR: R$ R$ 7,4 MILHÕES
MARISOL
O grupo, com sede em
Santa Catarina, anunciou a compra da totalidade da participação societária na Babysol Comércio do Vestuário. A Marisol já detinha 50% no capital social da Babysol. Segundo a Marisol, a transação para adquirir o controle integral da empresa está em linha com seu objetivo de ampliar a atuação no segmento do vestuário. VALOR: NÃO REVELADO
USIMINAS A siderúrgica fechou um contrato de R$ 129,6 milhões com a Codepar e a Isa Participações, controladoras da Codeme Engenharia e da Metform, para obter participação de 30,7692% no capital de cada companhia. A Codeme
atua no mercado de construção em estruturas de aço. Já a Metform produz e comercializa telhas metálicas, steeldeck e sistemas de cobertura. VALOR: R$ 129,6 MILHÕES
VALE O grupo brasileiro assinou um protocolo de intenções de investimento com o Governo de Minas Gerais, para a implantação e a expansão de minas e usinas de beneficiamento de minério de ferro no estado. Os projetos abrangem sete municípios, e os recursos estão distribuídos em três empreendimentos: a Mina Apolo e as usinas Conceição-Itabiritos e Vargem Grande-Itabiritos. VALOR: R$ 9,4 BILHÕES
Abril, 2010 AméricaEconomia 21
NEGÓCIOS CONSTRUÇÃO
APELO POPULAR O
Brasil tem um déficit habitacional de 5,5 milhões de unidades, 80% relacionadas a famílias com renda de até três salários mínimos. Esses dados, revelados por um estudo do Sindicato da Indústria da
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Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), são um bom indicador do potencial impacto de programas como o Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), lançado pelo governo Lula no início de
2009, com subsídios para o financiamento que envolvem R$ 34 bilhões. Para alguns analistas do mercado, até agora, o resultado do programa deixou a desejar. Segundo dados da Caixa Econômica Federal enviados
Fotos: Divulgação
Programa do governo para estimular o mercado de moradia para a população de baixa renda impulsionou o negócio das construtoras ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
ao Tribunal de Contas da União (TCU), aproximadamente 262 mil moradias foram contratadas ou fi nanciadas pela instituição financeira até o final do ano passado, o que envolveu cerca de R$ 13 bilhões, ou 38% do previsto no programa, e 1.221 unidades concluídas. Mas, se, de um lado, o ritmo de financiamento e entrega é lento – segundo alguns analistas, por causa da adoção de critérios rígidos de aprovação e uma capacidade de atendimento aquém da necessária para o volume de famílias interessadas em participar do programa –, de outro, as construtoras brasileiras aproveitam o momento de otimismo e recuperação para ganhar esse público.
NOVOS CAMINHOS Para atrair a atenção e o bolso dessa fatia da população, algumas companhias investiram em uma linguagem de mercado específica para o Minha Casa, Minha Vida. Esse é caso da construtora e incorporadora Rossi, que conta com uma linha específica para a iniciativa. “Nosso foco é a população com remuneração de três a seis salários mínimos,” afirma Rodrigo Martins, diretor do Segmento Econômico da Rossi. “No segmento econômico da empresa, pretendemos lançar aproximadamente 25 mil unidades, em 2010, em todo o Brasil.” Essa parcela representa de 50% a 55%, aproximadamente, do faturamen-
to da Rossi, diz Martins. Outra construtora que atua no programa Minha Casa, Minha Vida é a Odebrecht Realizações Imobiliárias, por meio da empresa Bairro Novo, que já tinha know-how para construir moradias mais baratas. “No ano passado, que foi o primeiro do programa, encerramos o período com 8,1 mil unidades contratadas dentro da faixa de zero a três salários mínimos e com mais 14 mil unidades contratadas na faixa de três a dez salários mínimos,” diz Roberto Senna, diretor superintendente da Bairro Novo. “A tendência para 2010 é de que a gente iguale ou até mesmo supere esses números.” A participação de projetos para o segmento de baixa renda representa um percentual pequeno no portfólio do Grupo Odebrecht, por ser uma empresa start-up, com operações desde 2007. “Mas a perspectiva é de que haja equilíbrio na expansão. A projeção é de que a baixa renda cresça e que represente relativamente 50% a 60% do portfólio consolidado,” diz o diretor-superintendente. De acordo com analistas, o setor de construção civil é mais suscetível a uma fuga de investidores, se comparado a outros segmentos, em função da carência de informações consolidadas e pelo fato de ser um setor novo na Bolsa de Valores. “Há muita informação negativa no setor, fazendo com que investidores realizem lucros mais pesados a qualquer sinal de instabilidade,” diz um analista da equipe da Brava Investimentos. “Acabou esse problema: o investidor voltou a apostar no setor e, por isso, houve grandes saltos.” Em função de uma retomada da confiança do investidor e, como consequência, de um maior volume de negociações na BMF&Bovespa, muitas construtoras registraram lucratividade nos últimos 12 meses, encerrados em fevereiro de 2010, como é o caso da Gafisa (179,5%), da MRV (283,6%) e da Rossi (336,4%), de acordo com dados da Bolsa de Valores. UMA DAS ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DO EMPREENDIMENTO CAMAÇARI, NA BAHIA, DA BAIRRO NOVO
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NEGÓCIOS CONSTRUÇÃO EMPREENDIMENTO DA ROSSI, NO RIO DE JANEIRO: EMPRESA LANÇOU LINHA ESPECÍFICA PARA ATENDER O PROGRAMA DO GOVERNO
De acordo com a Brava, a valorização dessas empresas não está ligada diretamente ao pacote habitacional, e sim “à retomada de um sentimento mais favorável em renda variável”, fazendo com que investidores apliquem recursos no setor de construção civil, dizem os analistas da empresa.
OUTRO MILHÃO De qualquer forma, o setor comemorou, no fi nal de fevereiro, o anúncio do presidente Lula de uma segunda fase do programa, com o objetivo de construir mais 1 milhão de moradias, cujos detalhes seriam anunciados depois do fechamento desta edição. Exagero, já que os resultados concretos até agora são pequenos? A princípio não, pois o próprio TCU observou, em relação aos resultados de 2009, “que a meta de 1 milhão de casas é relativa ao triênio 2009/2011, e entende-se oportuno continuar acompanhando o ritmo de conclusão das moradias contratadas”. Para a equipe de analistas da Brava Investimentos, desde seu início, o programa teve viés mais político do que econômico e, por isso, favorecerá mais a plataforma governamental do que construtoras ou famílias que buscam uma moradia por meio da iniciativa. “O pacote habitacional foi lançado um ano antes do período eleitoral, justamente para criar corpo e ter uma estratégia de propaganda,” afi rmou um analista. Em relatório divulgado no começo de março, o Citigroup recomendou cautela em relação aos detalhes do programa, sobretudo quanto à qualidade do incentivo e seu prazo de duração. De qualquer forma, ressaltou que o contexto de eleições favorecia o segmento da construção civil. Há consenso, porém, no fato de que, com tamanho déficit, não se pode descartar nenhuma possibilidade de reduzi-lo. “Sem um programa estruturado que viabilize o acesso dessa popu-
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lação de menor renda à sua moradia própria e digna, esse problema não será resolvido”, diz Senna, da empresa Bairro Novo. A principal meta estabelecida
pelo Minha Casa, Minha Vida é a redução do déficit habitacional brasileiro em 14%. E há ainda muito espaço para diminuir esse índice.
Unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida contratadas e concluídas até 30 de dezembro de 2009 Ror orraim aim ai ima
160
34
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2 Total de unidades hab.: 1.221
Fonte: Caixa Econômica Federal
Marcelo Bermúdez | Vice-presidente Sênior | Banco
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OPINIÃO
A COPA E O PRÉ-SAL C
aminhamos para um cenário mundial em que o Brasil é visto como “a bola da vez”. Ao que tudo indica, teremos grandes investidores interessados em participar dos projetos que envolvem a Copa de 2014, as Olimpíadas de 2016 e o pré-sal para as calendas. E o Brasil precisa estar preparado para oferecer modelos autossustentáveis. A maioria desses eventos dependerá de muito investimento. Por exemplo, quem hoje visita o Estádio do Morumbi, na capital paulista, chega rapidamente à conclusão de que o lugar não poderia sediar nenhum jogo da Copa. Ou seja, preparar aquele e outros espaços para esse evento é um desafio que envolverá a União, os estados e os municípios, para gerir várias desapropriações e licitações. No caso do estádio paulista, isso trará uma chance real de reurbanizar a região, que hoje sofre com o congestionamento. Isso para dar apenas um exemplo de quão complexa, e ao mesmo tempo benéfica, poderá ser uma Copa do Mundo com jogos em São Paulo. Um dos maiores projetos é o trembala entre Campinas e Rio de Janeiro. Entretanto, para se concretizar, muitas questões ainda estão em aberto. Entre elas, talvez as mais importantes são o prazo de implantação e a viabilidade econômica. Será quase impossível não utilizar as parcerias público-privadas (PPPs), modelo criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e concluído com estertores por Luiz Inácio Lula da Silva. Isso em um cenário mundial em que, em sua maioria, os trens-bala são deficitários (o Eurostar é um exemplo disso), pois a PPP nada mais é do que a concessão do serviço público não lucrativo, que, aliás, poderia muito bem ter sido regulada por uma lei geral de garantias. Outro exemplo é o novo marco regulatório do pré-sal – sobre o qual me permito uma jocosa alusão às “calendas gregas”, ou o dia que nunca há de vir. Ainda não há consenso sobre esse tema, e um debate ideológico já se estabeleceu. De um lado, investidores estrangeiros defendem que a Petrobras não tenha assento-nato no novo negócio; de outro, o governo alega que apenas a Petrobras e o regime de óleo-lucro podem impedir que se derrube o preço do petróleo para usufruir desse estoque de hidrocarboneto. Seja qual for o texto fi nal da nova lei, a estrutura administrativa brasileira, independentemente do partido político que esteja no poder, não está preparada para modelar os novos negócios.
O ponto convergente entre o pré-sal e a Copa é exatamente essa falta de operacionalidade. O cenário de incertezas afasta os empresários. A maior prova dessa inoperância são as paralisações promovidas pelo TCU (Tribunal de Contas da União), tendo o Governo Federal adotado como estratégia arrostar o Tribunal. Se as Cortes de Contas estão exagerando – e parece que estão –, isso é apenas um detalhe, se comparado à evidente necessidade de uma melhor estruturação dos projetos e licitações. Urge que seja criado um órgão para gerenciar modelos e projetos de forma sistemática. Atualmente, um empresário que tenha um projeto tem de procurar um deputado, que vai de porta em porta fazer chegar o tal “piloto” aos vários escaninhos do poder. Nesse contexto, algumas pessoas se apoderam daquilo que ainda nem foi colocado em licitação, afastando outros potenciais investidores. Desde 1995, a Lei Geral de Concessões diz, em seu artigo 21, que os “estudos, investigações, levantamentos, projetos, obras e despesas ou investimentos já efetuados, vinculados à concessão, de utilidade para a licitação, realizados pelo poder concedente ou com a sua autorização, estarão à disposição dos interessados, devendo o vencedor da licitação ressarcir os dispêndios correspondentes, especificados no edital”. Assim, tanto a iniciativa privada quanto o Governo poderiam buscar um modo de organizar e centralizar os projetos. Uma solução seria criar um “serviço social autônomo”, visando receber e centralizar os projetos da iniciativa privada. Ou, então, que alguma das confederações nacionais reunisse investidores e assistentes técnicos (economistas, engenheiros, advogados etc.) que desejem contribuir ou apresentar projetos (o que poderia ser feito por simples decreto de organização). Permanecendo o cenário atual, entretanto, a catástrofe será inevitável. Em 2010, teremos eleições, e o país estará paralisado. Isso é muito ruim, sobretudo para aqueles que acreditam que bons serviços podem ser prestados nesse setor, com inegáveis benefícios para a sociedade brasileira.
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GEORGHIO ALESSANDRO TOMELIN é advogado, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, consultor do Demarest e Almeida Advogados.
Ilustração: Samuel Casal
O cenário de incertezas afasta os empresários
ESPECIAL MULTILATINAS
SEM DESCANSO Com mais de 30 aquisições nos últimos 15 anos, parte delas no exterior, a JBS-Friboi se torna a gigante multinacional mais globalizada da América Latina
Q
uando, em fevereiro do ano passado, a Justiça norte-americana impediu a compra da empresa National Beef pela JBS-Friboi, muitos analistas apostaram que esse era o sinal de trégua da brasileira naquele país. “Eles chegaram aos Estados Unidos de forma agressiva e inesperada [com a compra da Swift, em 2007], mas não voltarão a comprar nos EUA – no caso de frigoríficos, por questões regulatórias”, disse, na época, Jim Robb, economista e diretor do The Livestock Marketing Information Center (LMIC), à revista AméricaEconomia. O fato com o qual observadores como Robb não contavam era o de que a empresa, que então já era a maior processadora de carne bovina do mundo, aproveitaria a crise para impulsionar seus planos de diversificação com a compra do controle da Pilgrim’s Pride, segunda maior do setor de frango nos EUA, com capacidade diária de abate de 7,2 milhões de unidades. “A crise ajudou ativos para os quais empresas brasileiras olhavam com cobiça a se tornarem viáveis, em uma relação como a da classe média com o carro zero quilômetro,” compara Pedro Kraus, professor de Comércio Exterior da FGV (Fundação Getulio Vargas). Guardadas as proporções, o fato é que o processo de recuperação judicial a que a Pilgrim’s estava submetida facilitou a oferta da brasileira. “Se vivêssemos o padrão da economia de 2004 ou 2005, seria muito mais difícil ver essa sequência de compras”, diz um representante da equi-
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pe de análise da Brava Investimentos, em São Paulo. Hoje, Robb aposta que a JBS–Friboi não vai parar de crescer. “Entretanto, será cada vez mais difícil encontrar pechinchas nos setores de carne e frango”, diz, destacando, ainda, que o ambiente regulatório dos EUA
limitará a empresa de realizar outras grandes compras também no setor de frango. “O que, por outro lado, não a impede de aumentar sua participação no capital da Pilgrim’s”, lembra. Hoje, a JBS detém 64% da norteamericana. Com essa compra, mais a da
Foto: iStockphoto
SOLANGE MONTEIRO E ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
brasileira Bertin, ambas anunciadas em setembro de 2009, a JBS transformouse em uma empresa com faturamento anual de US$ 30 bilhões. Um crescimento vertiginoso, se comparado às vendas de US$ 1,5 bilhão registradas em 2005. E o principal: com a maior parte de sua
capacidade de abate fora do Brasil, o que coloca a companhia no primeiro lugar do ranking AméricaEconomia das multinacionais latino-americanas mais globalizadas (veja ranking à pág. 34). “É uma forte estratégia de longo prazo, focada na diversificação geográfica da produção, que evita as restrições de mercado por embargos, além de gerar ganhos de escala”, diz Rafael Cintra, da Link Investimentos. “A companhia ganhará não apenas com o potencial do mercado e das exportações norte-americanas, quando estes se recuperarem, mas também no mercado asiático, que poderá ser abastecido pelas operações que a JBS está fortalecendo na Austrália”, diz o analista da Brava. Nesse país, a JBS concluiu a compra da processadora de ovinos Tatiara Meat Company, em janeiro, e, em março, através da subsidiária Swift Austrália, fechou um acordo para potencial aquisição da companhia Rockdale Beef, que tem capacidade de abate de 200 mil bois ao ano.
de Comunicação Corporativa e Relações com Investidores da Pilgrim’s, nos EUA. “A indústria de frangos parece dar sinais de melhora. Estamos satisfeitos com o progresso que fizemos, mas está claro que ainda temos muito trabalho pela frente para posicionar a Pilgrim’s pa ra um crescimento sustentado e lucrativo.” Mesmo com baixa perspectiva de recuperação do mercado internacional no curto prazo, a JBS não parece se preocupar com o endividamento gerado por sua estratégia de compras. A aquisição do controle da Pilgrim’s e a incorporação da Bertin engordaram as dívidas da empresa, que fechou 2009 com um montante líquido de R$ 9,4 bilhões e uma relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) de 3,1 vezes. Contatada, a JBS não atendeu ao pedido de entrevista de AméricaEconomia para comentar o assunto. Em conferência de apresentação de resultados, realizada em março, o presidente da empresa, Joesley Batista, demonstrou reconhecer esse fato. “Vamos focar para reduzir essa relação para 2 vezes este ano”, declarou na ocasião, afi rmando que o foco da companhia, em 2010, seria o de reduzir a dívida, gerar caixa e expandir as margens. Em 2009, a empresa fechou
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bilhões de dólares foram as vendas da JBS-Friboi em 2009
QUERIDA NO MERCADO Na Pilgrim’s, o otimismo é presente, ainda que moderado. “Estamos considerando reabrir uma de nossas fábricas ociosas nos Estados Unidos antes do final do ano”, diz Gary Rhodes, vice-presidente
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ESPECIAL MULTILATINAS Produção mundial
de carne bovina em 2009*
Paquistão
Colômbia
África do Sul
Uzbequistão
Nova Zelândia
Japão
1,6
1,3
1,3
1,3
0,9
0,7
0,6
0,6
0,5
Total
Rússia
2,1
Outros
Canadá
2,6
Uruguai
México
0 11,8
8,9
8,0
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
com margem Ebitda de 5,5%; em 2005, era de 11,2%. “O nível da dívida hoje se encontra em um padrão fora do razoável, mas nos parece temporário”, diz Cintra, da Link Corretora. Para o analista da Brava, o que caracterizou a confiança do mercado até hoje foi que “o ritmo de aquisições sempre foi acompanhado por anúncios de captações, o que tranquiliza o investidor”. Até o fechamento desta edição, a empresa havia adiado o lançamento da oferta de ações no Brasil. Anteriormente, a JBS já tinha anunciado a prorrogação da abertura de capital da JBS USA nos Estados Unidos, alegando contexto desfavorável. “Emissões sempre chamam a atenção do mercado para o controle da empresa; em fase de ajuste, talvez seja um ponto positivo”, diz Álvaro Cyrino, da Fundação Dom Cabral. Além de um bom perfi l de dívida, com 63% do total sendo de longo prazo, outro fator inquestionável que influi na tranquilidade do mercado é a ajuda do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aos negócios da empresa, o que também acontece com outras multinacionais brasileiras (veja reportagem à pág. 32). Segundo analistas, o apoio do BNDES, PRODUÇÃO DA PILGRIM’S: OTIMISMO QUANTO À RETOMADA DO MERCADO
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que começou com a primeira aquisição internacional em 2005, da Swift Argentina, já soma pelo menos R$ 7,5 bilhões. No começo do ano, o banco comprou quase a totalidade das debêntures conversíveis em ações da holding JBS USA emitidas pela companhia, com as quais esta arrecadou cerca de US$ 2 bilhões.
0,5
4,9
56,8
*em milhares de toneladas **inclui carne de búfalo
Hoje, o BNDESPar (BNDES Participações) possui 19% da empresa. “O banco está tendo uma ótica de balança comercial: você faz grandes investimentos em poucos grupos. E esses grupos vão ampliar a corrente de comércio do Brasil. É um processo natural”, diz Kraus, da FGV. “É muito mais fácil, sob
Foto: Pilgrim’s Pride
3,2
Austrália
Argentina
5,8
10
Índia **
China
20
União Europeia
30
Brasil
40
Estados Unidos
50
o ponto de vista governamental, você apostar em poucos grupos grandes do que pulverizar esse capital, principalmente entre empresas que não estariam preparadas.” Mas não é uma opção apoiada por todos. A aparente predileção do BNDES pela JBS-Friboi levou o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, a enviar uma carta ao presidente do banco, Luciano Coutinho. Nesta, Salazar diz reconhecer os méritos da JBS, mas argumenta que tal concentração de esforços na companhia está forçando a rendição de frigoríficos, limitando a opção de venda dos criadores. Apesar de confi rmar o envio e o conteúdo da carta, Salazar não quis comentá-la com a AméricaEconomia.
De qualquer forma, mais do que apoio financeiro, a tranquilidade do mercado também parece repousar na confiança no modelo de gestão que a fa m í l ia Batista, controladora da companhia, tem aplicado até agora. “Eles já têm o exemplo de um turnaround bem-sucedido da Swift”, lembra Rafael Cintra, da Link Corretora. “Também já mostraram uma recuperação da margem Ebitda em reais em 2009, e espera-se que até o final do ano se comece a ver o resultado de sinergias da Bertin e da Pilgrim’s”, afirma. Agora, o foco do mercado está, além da nova possível compra da Rockdale Beef, e da preocupação da empresa em investir em distribuição, na possibilidade de a JBS engrossar seu braço de lácteos, através da Vigor.
19%
é a participação acionária do BNDESPar na JBS
TESTE DE RESISTÊNCIA Até hoje, a JBS tem conseguido replicar o método de gestão enxuta conforme seu próprio manual. Na Bertin, por exemplo,
já se pode constatar a redução de níveis hierárquicos, com demissões e realocações. Kraus, da FGV, ressalta importância do momento de reestruturação para evitar o que ele chama de ressaca. “Após a euforia é que podem surgir alguns defeitos residuais desse crescimento.” Para ele, “uma das grandes dificuldades é garantir sinergia a essas diferentes operações”. Kraus acha difícil avaliar o resultado de incorporações em menos de três anos. “Para nós, brasileiros, isso tudo ainda é muito novo. Há empresas na Europa e nos EUA que são internacionais há mais de cem anos, e nós estamos chegando agora no mercado.” No caso da JBS, os analistas apontam que, embora bem-sucedida até o momento, o terreno da diversificação poderá significar novidades no caminho, seja pelo fato de a companhia trabalhar com produtos de maior valor agregado, seja porque suas proporções cada vez mais gigantescas poderão demandar reformulações nesse modelo de gestão mais direta e centralizada. Será que os empresários já cogitam alguma mudança? Quando se trata do hermético núcleo dos Batista, é difícil estimar qual a nova cartada. E, mais ainda, quem será o próximo alvo.
Consumo mundial
Paquistão
de carne bovina em 2009* Japão
1.189
1.232
1.880
México
1.968
Total
Rússia
1.985 Índia**
56.116 2.642
Argentina
5.751 China 7.410 8.310
11.439 outros
Brasil
12.310
União Europeia
EUA Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
*em milhares de toneladas **inclui carne de búfalo
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ESPECIAL MULTILATINAS
MARCAR POSIÇÃO A crise não se impôs no jogo da maioria das multinacionais latino-americanas, que demonstram melhora em seu potencial de internacionalização EQUIPE AMÉRICAECONOMIA
O
ano de 2009 foi de jogadas estratégicas para muitas multinacionais latino-americanas, companhias que, em nossa revista, são chamadas de multilatinas. Mesmo com retração do consumo nas principais economias do mundo, descenso no preço das commodities e cenário geral de pouca liquidez, essas empresas souberam tirar partido e ganhar posições: seja para aproveitar a queda no preço dos ativos de concorrentes estrangeiras
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e sair às compras, seja para ordenar a casa e aproveitar as benesses de um mercado doméstico menos afetado pelo furacão da crise, enquanto a situação mundial não se estabiliza. No Brasil, essa tendência refletiuse das mais diferentes formas. A JBS, número 1 do ranking realizado pelo departamento de pesquisa AméricaEconomía Intelligence, a partir de informações enviadas pelas próprias empresas, é um bom exemplo disso. Ao unir-se com a
Bertin e comprar 64% da norte-americana Pilgrim’s Pride, que se encontrava em recuperação judicial, a JBS reforçou ainda mais sua posição internacional. “As indústrias de alimentos em geral sofreram menos o impacto da crise, e a JBS sabe que está plantando para colher no futuro”, diz o economista Álvaro Cyrino, da Fundação Dom Cabral (FDC). Essa não foi a única direção tomada pelas multinacionais brasileiras. O jogo da Vale, por exemplo, incluiu uma
Foto: 1 - iStockphoto
1
Fotossíntese
As 10 empresas com maior potencial de ampliar seus negócios internacionalmente Potencial de Crescimento internacional
6.000,0
Cemex
PDVSA
77
76
758.3
107,9
78
4.500,0
78
15.138,7
1.566,6
9.115,3
78
15.080,0
68.000,0
Lucro 2009 (em US$ mi)
78
-166,1
20.000
20.547,8
82
644,4
15.342,4
91
15.242,4
40.000
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27.852,4
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5.804,5
100.000
44.242,0
101.948,4
120.000
80.000
Vendas 2009 em (US$ mi)
0 Vale Fonte: AE Intelligence
Petrobrás
Itaú Unibanco
Gerdau
Grupo JBS (Friboi)
Telmex
Andrade Gutierrez
Femsa
tacada que reduziu a força internacioVANTAGEM REGIONAL de escala, já que os mercados latinoNo restante da América Latina, as comnal da concorrência: aproveitou-se da americanos começaram a se recupepanhias também apresentaram bom fragilidade financeira da Rio Tinto e rar mais rapidamente”, diz Gustavo desempenho em um contexto de crise. comprou as operações de minério de Genoni, diretor do programa de MBA Uma das vantagens está no fato de ferro de Corumbá, no Mato Grosso do da Universidad Torcuto di Tella, em que cerca de 60% dos investimentos Sul, pertencentes à mineradora com seBuenos Aires. internacionais dessas empresas estão de no Reino Unido e a outras entidades Um bom exemplo disso vem da Coconcentrados na própria região, o que controladas. Já a TAM, ainda que não lômbia. Com um salto do 54º para o 22º as dotou de uma estabilidade pouco tenha se aventurado no mercado interlugar no ranking, o Grupo Nacional de vista por multinacionais do restante nacional de fusões e aquisições, adquiChocolates registrou números invejádo mundo. “Com sistemas financeiros e riu a Pantanal Linhas Aéreas, que atenveis no ano passado. A empresa cresmercados que resistiram à crise, em gede cidades médias nos estados de São ceu 14,4%, acima da média registrada ral, a maior parte das multilatinas pôde Paulo, Minas Gerais e Paraná. Esse moentre as 60 companhias presentes no se manter operando com economias vimento se antecipa aos de outras mulranking, de 2,4%. tinacionais da região, como LAN e Avianca, que já declararam interesse Reflexo desigual em abordar o mercado Variação da receita líquida por país, entre dez. de 2008 e dez. de 2009 (em %) brasileiro. “Com o bom momento vivido pela 24,4 20 economia brasileira, está claro que, em alguns Colômbia 7,6 10 setores, o maior embate competitivo com as México 2,4 Brasil multinacionais se dará Total 0 no mercado doméstico”, Multilatinas América Peru diz Ignacio Peña, sócio Central Chile Argentina do The Boston Consul-10 -4,7 -7,9 ting Group no Brasil, que -7,0 também estuda o movi-13,2 -20 mento das multinacioFonte: Economática, AE Intelligence (cálculo com base nas empresas que participam do ranking). nais latino-americanas. Abril, 2010 AméricaEconomia 33
ESPECIAL MULTILATINAS
34 AméricaEconomia Abril, 2010
Abril, 2010 AmĂŠricaEconomia 35
ESPECIAL MULTILATINAS
Tirar proveito da situação particular de cada mercado, como câmbio ou taxas de juros mais convenientes, foi uma das vantagens aproveitadas pela empresa, presente em 15 países, a maioria da América do Sul e Central. E há outros exemplos. No caso da chilena Sonda, de TI, a presença no Brasil a dotou de uma força extra, refletida nos resultados: em 2009, 52% dos novos contratos saíram do país. Genoni, da Universidad Torcuto di Tella, também lembra o exemplo da Arcor. “Ela aproveitou o bom contexto econômico do Peru, onde não houve recessão de crédito, para focar sua expansão lá.”
O FATOR BNDES No caso do Brasil, os analistas são unânimes em destacar o apoio do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como condição inegável ao impulso das multinacionais do país, uma ajuda que se verá mais bem refletida no ranking de 2010, quando a análise das companhias Sadia e Aracruz – que sofreram um forte golpe por conta da aposta em derivativos cambiais em 2008 – será substituída pela da BR Foods (resultado da compra da Sadia pela Perdigão) e da Fibria (união de Aracruz e Votorantim Celulose e Papel). Graças ao banco, o que poderia derivar em uma grave crise
de duas grandes companhias acabou se convertendo na criação de duas gigantes. “Para ter uma ideia, os bancos públicos representaram 73% do crédito ao setor privado, em 2009, no Brasil”, lembra a espanhola Lourdes Casanova, especialista do Insead e autora do livro Global Latinas: Latin America’s Emerging Multinationals (Latinas Globais: As Multinacionais Emergentes da América Latina). Lourdes ainda destaca o fato de o BNDES ser o maior acionista de grandes companhias brasileiras, como Telemar e JBS, e que fatos como esses justificam os questionamentos sobre se o país vive um processo de renacionalização do setor privado. “Nem sempre essa opção traz exemplos positivos”, diz, referindo ao fracasso das negociações da Vale pela Xstrata, “atribuído por alguns às pressões do governo, que defendia que a Vale deveria investir mais no país”. Cyrino, do FDC, pondera que não há precedentes na história em que grandes nacionais não tenham sido ajudadas pelo governo de alguma forma. “Isso aconteceu no Japão e nos Estados Unidos. Neste último, considerado o OPERAÇÃO DA VALE NO BRASIL: ESTRATÉGIA DE COMPRAS ENFRAQUECEU A CONCORRÊNCIA
mais liberal de todos, mais de 50% da área de Pesquisa e Desenvolvimento depende de apoio do Estado”, exemplifica. “Além disso, temos dois outros fatores importantes jogando contra: entramos tardiamente no processo de internacionalização e, à contramão das economias mais avançadas, temos dificuldades estruturais que criam desvantagens para as empresas.”
A TAREFA PENDENTE O otimismo quanto ao potencial de internacionalização das empresas brasileiras visto pelos analistas vai além do fator BNDES. “Podemos identificar um processo concreto nas empresas de criar oportunidades no exterior”, diz Peña. “Não importam o setor e o nível de faturamento, vemos apetite e condições de management muito mais adequadas para concretizar um processo de internacionalização a longo prazo.”
Entretanto, para fazer com que essa lista de empresas cresça e se diversifique, os analistas apontam que o grande desafio continua sendo o fator marca. “Hoje, as empresas brasileiras ainda têm um forte problema de branding”, afi rma Luiz Antônio Dib, professor do Coopead-RJ. Cyrino, da FDC, concorda. “Temos múltis voltadas às commodities, e uma segunda onda importante, de empresas como Totvs (área de TI) e Duas Rodas (alimentos). Mas chegar à ponta do consumo é difícil”, afirma. “É só ver o exemplo da Natura, que é paradigmático, pois a empresa levou mais de 15 anos para chegar onde está.” Uma batalha cujo resultado estará refletido nas próximas edições do ranking. Conheça a metodologia do ranking de multilatinas em nosso site: www.americaeconomia.com.br
NATURA: EXEMPLO VITORIOSO DA MARCA BRASIL NO EXTERIOR
OPINIÃO
CORRIGIR DEFICIÊNCIAS
Quando há fracassos, o primeiro culpado apontado é o governo
América Latina abriga 10% da população da Terra e responde por 5% do total do PIB mundial. No entanto, menos de 2,5% das mil maiores empresas do mundo são originárias da região. Muito já se analisou a economia do nosso continente dos pontos de vista macroeconômico e estrutural, mas quase nada se tentou pela ótica de suas empresas e da forma como elas são geridas. Nesse sentido, muito ainda pode ser feito na melhoria do ambiente empresarial e da microeconomia, para que um número muito maior de empresas possa florescer e avançar no mundo globalizado. Questões como a fortíssima influência da família e das amizades, ou a visão de que é sempre possível obter favores por parte dos governos, acabam permeando a forma de gestão em todos os países latino-americanos. Um dos traços mais característicos de nosso modo de gerir empresas, e também um dos mais problemáticos, é que a quase totalidade das grandes empresas latino-americanas tem seu controle acionário nas mãos de um indivíduo ou de uma ou duas famílias. Isso leva a um afrouxamento dos controles sobre os resultados e à ausência de profissionalização da gestão, ou seja, os acionistas, muitas vezes, não cobram resultados porque eles mesmos são os executivos. É comum os donos das empresas não conseguirem separar claramente os limites da empresa dos da família. O contrário ocorre nos Estados Unidos, onde o capital da grande empresa é muito mais pulverizado, e a pressão dos acionistas minoritários por resultados consistentes é muito maior.
38 AméricaEconomia Abril, 2010
Ilustração: Samuel Casal
A
Outra diferença importante na forma de gerir empresas entre Estados Unidos e América Latina, por exemplo, é de ordem fi losófica e está ligada ao papel histórico que as empresas tiveram no desenvolvimento econômico das duas regiões. Nos EUA, empresas e empresários assumiram um papel preponderante, até mesmo no processo de conquista e integração territorial, ao longo dos séculos 18 e 19, como mostram as grandes estradas de ferro, quase todas privadas. Já na América Latina, toda colonização, conquista e integração territorial nos principais países aconteceu sob a égide do Estado, tendo a iniciativa privada se ausentado totalmente. Alguns raros casos de empresários empreendedores, como o Barão de Mauá, foram hostilizados pelos demais empresários da época e até boicotados pelo Império. Essa característica da colonização gerou um aspecto cultural que até hoje perdura, de que o investidor privado latino-americano age se o governo agir antes, ou seja, os empresários latinoamericanos frequentemente optam por entregar ao governo decisões altamente complexas que se referem aos seus próprios negócios. Por outro lado, quando há problemas ou fracassos nas suas empresas, o primeiro culpado a ser apontado é o governo. Ou o fornecedor, os sindicatos de trabalhadores, ou até mesmo o cliente, quando não a natureza; mas nunca a própria empresa e seus acionistas ou executivos. Dessa forma, boa parte dos empresários latino-americanos perde a grande chance de examinar a competitividade de suas companhias. Deixam de perceber que o grande problema que põe em risco a vida de seus negócios é sua própria incapacidade de gerar produtos de qualidade, a preços acessíveis, adequados às necessidades e aos desejos de seus consumidores. O tema “diversidade cultural” tem atraído considerável atenção, nos últimos anos. As grandes empresas internacionais perceberam que, para operar eficazmente em diversos países, é preciso reconhecer que pode ser necessário atuar de forma diferente em cada um deles. O que está faltando é que nós, latino-americanos, nos debrucemos sobre nossas deficiências gerenciais e iniciemos o processo de correção das mesmas. Ou seja, temos de “por o dedo na ferida”; caso contrário, o número de empresas relevantes de nosso continente com projeção internacional só tenderá a diminuir ainda mais.
PAULO ROBERTO FELDMANN é professor da FEA-USP, foi executivo de empresas como Microsoft e Ernst&Young, e é autor do livro Empresas Latino-americanas.
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NEGÓCIOS AVIAÇÃO
CÉU DE BRIGADEIRO Diante da retração nos Estados Unidos e na Europa, o mercado brasileiro de aviação executiva ganha espaço na geografia mundial das vendas
D
epois de muita turbulência e uma aterrissagem forçada no início do ano passado, a aviação executiva brasileira começou 2010 a plenos motores. O país demonstra sua força ao resistir aos solavancos econômicos internacionais e consolida-se como um mercado maduro e promissor para os fabricantes de jatinhos e turboélices, além dos helicópteros. “Para se ter uma ideia, nos próximos três anos, devem ser entregues no Brasil cerca de 70 jatos de longo alcance, os chamados transcontinentais, o que significa um movimento de mais de US$ 2 bilhões”, diz o comandante Francisco Lyra, presidente da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral).
40 AméricaEconomia Abril, 2010
Não por acaso, o país já é apontado como um dos responsáveis pela mudança da geografia das vendas de aeronaves utilizadas em missões de negócio. A retração comercial, nos Estados Unidos e na Europa, fez com que as principais indústrias do setor precisassem se lançar mais agressivamente no mercado global, buscando novos clientes, sobretudo entre os emergentes. Na prática, essa mudança colocou o Brasil, que hoje conta com pelo menos 700 ope-
radores de aviões de até US$ 50 milhões – absorvendo cerca de 90% da demanda da América do Sul –, em uma posição de destaque. “O potencial do país, que tem o maior mercado do mundo, depois dos Estados Unidos, tornou-se um atrativo significativo para os principais fabricantes de aeronaves executivas”, afirma Leonardo Fiuza, diretor de Vendas da TAM Aviação Executiva, representante da Cessna e da Bell no Brasil, durante a última edição da Labace (L at i n A mer i-
90%
da demanda por aviões executivos na América do Sul é do Brasil
Fotos: 1 - iStockphoto; 2 - Hawker Beechcraft Corporation
POR GIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO
1 2 À DIREITA, INTERIOR DO MODELO KING AIR C90GTX, DA HAWKER BEECHCRAFT CORPORATION
ca Business Aviation), a maior feira de aviação executiva da América Latina. “Apenas 130 dos mais de 5,5 mil municípios do país são servidos por linhas aéreas regulares. Isso representa menos de 3%. É natural que o empreendedor precise de aeronaves executivas para fechar seus negócios. Além disso, temos cada vez mais empresas brasileiras expandindo sua atuação para além de nossas fronteiras”, justifica o comandante Francisco Lyra, da Abag. O resultado é uma procura cada vez maior por aviões das mais diversas categorias. Desde os chamados VLJ (Very Light Jet), como o Mustang, da Cessna, e o Phenom 100, da Embraer, que têm preço a partir de US$ 3 milhões, até Abril, 2010 AméricaEconomia 41
NEGÓCIOS AVIAÇÃO
LENTA RETOMADA A crise mundial teve impacto negativo importante na aviação executiva mundial. No Brasil e na América Latina, não foi diferente. Durante o primeiro semestre de 2009, as vendas sofreram um forte revés. Na verdade, uma desaceleração brusca, gerando estagnação e incertezas. Para piorar, os cancelamentos de pedidos se multiplicaram e muitos clientes preferiram prorrogar os prazos de entrega das aeronaves que haviam adquirido, abrindo mão de posições na lista de espera. Contudo, diante da rápida recomposição do mercado brasileiro, o que era crise virou oportunidade. E, logo no começo do segundo semestre, o discurso já era outro. “No Brasil, conseguimos reverter grande parte dos cancelamentos ou adiamentos de nossa carteira de pedidos ocorridos no auge da crise, ao mesmo tempo que fechamos negócios com novos clien-
tes”, revela Rodrigo Pessoa, diretor de Vendas para a América do Sul da Dassault Falcon, que acaba de inaugurar, no aeroporto de Sorocaba, no interior de São Paulo, o primeiro centro próprio de serviços da empresa fora de seus países-sede, Estados Unidos e França. A frota dos jatos de longo alcance da Dassault Falcon no Brasil deve chegar a 40 unidades até 2012. Evidentemente, o crescimento superior a 10% do mercado de aviação executiva experimentado durante o boom econômico de 2007 e 2008 talvez não se repita nos próximos anos, mesmo com as boas perspectivas diante da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpí-
adas do Rio de Janeiro em 2016. Pelas estimativas do setor, o percentual de crescimento deve permanecer com um dígito, como já aconteceu em 2009, que, apesar da crise, fechou com algo em torno de 5% a 6% no avanço dos negócios, segundo se especula. Isso deve acontecer porque a retomada do crescimento em um setor como esse é sempre mais lenta do que a queda. “Seja como for, vamos crescer bem mais do que o PIB [Produto Interno Bruto]”, prevê Lyra. De acordo com cálculos da Embraer, devem ser entregues pelo menos 750 novos jatos executivos na América Latina, nesta próxima década, e o Brasil terá a participação mais importan-
3
Fotos: 3 - Divulgação; 4 - Kathy Almand/Gulfstream Aerospace
os jatos transoceânicos, que não custam menos de US$ 30 milhões. Além, é claro, dos modelos capazes de operar em qualquer pista, tanto as de asfalto quanto as de terra, como é o caso da família de turboélices Beechcraft King Air. Destaque para o novo C90GTx, que começou a ser vendido no país neste início de ano.
Fotos: Divulgação
AS ESTRELAS DO MERCADO
CESSNA MUSTANG
EMBRAER PHENOM 300
DASSAULT FALCON 7X
O Brasil é o maior mercado do Cessna Mustang, depois dos EUA: já são mais de 50 unidades vendidas no país em três anos. O preço básico do VLJ, comercializado pela TAM Aviação Executiva, é de US$ 3 milhões.
A Embraer entregou, no início deste ano, o primeiro Phenom 300, jato executivo de US$ 8,14 milhões que permite voos sem escalas para todas as capitais do país, a partir do Rio de Janeiro. A família ainda conta com o Phenom 100.
Já em operação no país, o Dassault Falcon 7X é um dos jatos intercontinentais mais modernos do mundo. Custa cerca de US$ 40 milhões e voa de São Paulo a Paris sem precisar reabastecer. Até 2011, pelo menos dez empresas brasileiras terão esse avião.
42 AméricaEconomia Abril, 2010
te nessa demanda. O fabricante, que pretende se tornar um dos principais players do mercado de aviação executiva no mundo até 2015, ano em que já terá disponível para os operadores seis diferentes modelos de aeronaves – hoje são quatro –, diz que a região representa quase 15% das vendas totais de jatos da família Phenom e que o Brasil responde por cerca de 70% dessa demanda. Em 2009, a Embraer entregou 93 jatos Phenom 100. A empresa também acaba de inaugurar seu centro de serviços para aeronaves executivas, em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Para o presidente da Abag, o aumento do interesse do país pela aviação executiva tem a ver com uma mudança de cultura dentro das grandes companhias. Francisco Lyra diz que, durante anos, jatinhos e helicópteros foram tidos no Brasil como produtos de luxo, e não ferramentas de trabalho. “Felizmente, isso mudou. Hoje, as empresas sabem que o avião se torna indispensável quando os negócios se expandem”, constata o comandante. Além da flexibilidade e da velocidade da aeronave executiva, a segurança e o bem-estar de quem a utiliza, aliados ao sigilo das informações que por ali circulam, também fazem desse meio de transporte uma opção bastante atraen-
4 NA PÁGINA AO LADO, MODELO DO CESSNA MUSTANG; ACIMA, AERONAVE DA GULFSTREAM COM PELÍCULA DE PROTEÇÃO, EM VOO DE TESTE
te para o mercado. “É possível ir e voltar de Paris no mesmo dia. Ou, então, fazer várias reuniões em diferentes estados e conseguir dormir em casa. E isso com a possibilidade de despachar em voo”, ilustra Lyra. O principal argumento para justificar a aquisição de uma aeronave ou mesmo a contratação de um serviço de táxi aéreo é matemático. Segundo o comandante Lyra, o tempo dos executivos de grandes empresas é valioso demais para ser desperdiçado. “A empresa tem de aproveitar cada minuto de trabalho
de pessoas que ganham 1 milhão de dólares por ano, por exemplo. É uma questão de econometria e produtividade. Em casos como esse, os ganhos ficam evidentes ao se cruzar o custo operacional do avião com a soma dos custos homem/hora a bordo ”, explica o presidente da Abag. “Além disso, é importante que se diga que a aeronave é um ativo da empresa, em geral, com taxas de financiamento bastante atraentes. Ou seja, o custo principal dela não se mede pelo preço, e sim, por sua depreciação, somada às taxas fi xas”.
KING AIR C90GTX
GULFSTREAM G650
BOMBARDIER GLOBAL EXPRESS XRS
Capaz de operar em pistas tanto de asfalto quanto de terra, o C90GTx é o mais novo representante da bem-sucedida família de turboélices King Air. A aeronave está disponível desde o início deste ano, e seu preço nos EUA é de US$ 3,65 milhões.
Com previsão de entrada em serviço em 2012, o jato de ultralongo alcance Gulfstream G650 será o avião civil mais rápido em operação. O modelo custará mais de US$ 60 milhões, consegue voar quase 13 mil quilômetros sem escalas e deve atrair clientes no Brasil.
Principal estrela da Bombardier na última edição da Labace, maior feira de aviação executiva da América Latina, o Global Express XRS, avaliado em US$ 50 milhões, já conta com operadores no Brasil. Até 2012, serão mais de meia dúzia no país.
Abril, 2010 AméricaEconomia 43
NEGÓCIOS PMES
SONO TRANQUILO Depois de crescer 23% em 2009, Duoflex investe em ampliação e avalia a possibilidade de ter a primeira fábrica no exterior SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO FOTOS: ÉRICO HILLER
44 AméricaEconomia Abril, 2010
N
os últimos tempos, a crise tirou o sono de muitos executivos, preocupados em gerar resultados para seus negócios. Esse, entretanto, não é o caso de Marlus Fida, presidente da Duoflex. O motivo de tal tranquilidade, certamente, não está no fato de, hoje, ele liderar uma fábrica de travesseiros ortopédicos, e sim no cenário promissor que o executivo encontrou ao chegar à sede da empresa, em Vinhedo – a cerca de 60 quilômetros de São Paulo –, em novembro: uma produção a todo vapor, com fabricação mensal de 200 mil unidades e vendas que fecharam o ano com 23% de crescimento. “Agora, o desafio é preparar a Duoflex para crescer ainda mais”, diz o executivo, projetando 30% em 2010. Os planos divulgados pela empresa são de ampliar a fábrica, permitindo um aumento da capacidade produtiva de 50%. Mas a recente chegada de Fida e outros executivos, somada à preocupação de modernizar a administração, pode ser um sinal de que o passo planejado pela empresa seja ainda maior. “Não descartamos a possibilidade de, em 2011, ter uma nova planta, quem sabe no exterior”, diz Fida. Segundo ele, isso “representaria ganhos importantes, como economia no transporte de alguns produtos”, referindo-se sobretudo à linha conhecida como Nasa – feita de espuma viscoelástica, responsável por 40% das vendas da Duoflex. Sua principal característica é moldar-se ao contorno do corpo, mas o volume das peças castiga no custo do frete. Atualmente, as vendas externas da empresa giram em torno de 10% do faturamento total. A Duoflex exporta para a América do Sul – somente o Chile representa 30% do total das exportações
–, Canadá, Alemanha e África do Sul. “O câmbio nos castigou muito”, conta Fida. “De qualquer forma, para 2010, queremos ampliar nossas vendas domésticas, principalmente nas regiões Nordeste e Sul, pois ainda há um mercado interno muito grande a ser explorado.”
SORTE E TINO Seja como for, a decisão dos dois criadores da Duoflex, os engenheiros Jaime Daniel Gelernter e Roberto Lobo, de fortalecer a empresa gerencialmente não parece ser equivocada, sobretudo quando se trata de um negócio que, desde o ano 2000, cresce entre 23% e 27% ao ano. “Desde que eles passaram do simples travesseiro de espuma ao ortopédico, não pararam de expandir”, diz Fida. Essa mudança de rota aconteceu graças a uma reação rápida dos sócios a uma oportunidade única, quando outra marca de travesseiros ortopédicos passou a anunciar em um canal de vendas pela TV. “As pessoas se interessavam pelo produto, mas queriam vê-lo, tocálo, e não o encontravam nas lojas e nos hipermercados, pois o canal tinha exclusividade na comercialização”, conta Fida. Assim, as lojas buscaram a Duoflex com essa demanda, e a empresa aceitou o desafio de fabricar o travesseiro ortopédico. “Três meses de pesquisas e testes depois, a Duoflex passou a vender como água, e com a ajuda da propaganda gratuita do concorrente”, brinca. Apesar de ter sido uma oportunidade que, provavelmente, não se repetirá na história da empresa, Fida diz que a Duoflex não parou de pesquisar moldes e fórmulas para continuar diversificando. “A partir do primeiro travesseiro ortopédico, conseguiu-se romper a
barreira dos R$ 9, que era o preço de um travesseiro comum até então, e hoje há mercado para isso”, diz, destacando que a empresa tem produtos que custam de R$ 20 a R$ 200. Atualmente, a Duoflex soma 20 patentes e 12 famílias de travesseiros, que derivam em mais de cem alternativas, para todos os gostos e necessidades. Entre eles, além do travesseiro Nasa, há, por exemplo, modelos
MARCUS FIDA (À ESQUERDA), E A LINHA DE PRODUÇÃO DA EMPRESA: META DE CRESCER 30% EM 2010
de látex, molas e até de altura regulável. Agora, porém, todo o investimento em propaganda e marketing corre por conta da empresa. “Hoje, ele representa cerca de 3% da nossa receita”, diz Fida, destacando a importância do treinamento da força de vendas das lojas que são seus clientes e a manutenção de um serviço de atendimento ao consumidor capacitado, “que informa desde os pontos de venda do produto ao modelo mais adequado para cada pessoa e até dicas de orientação postural”, afirma. Tudo para garantir um bom sono ao consumidor e, por que não, ao executivo também. Abril, 2010 AméricaEconomia 45
Você sai de casa 2 horas antes do horário marcado, pega chega ao prédio, espera o manobrista trocar a bobina foto para o cadastro na portaria, recebe um cartão que autoriza
sua entrada, você agradece, pega o elevador,
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o túnel engarrafado, tenta um caminho alternativo, de papel da maquininha, entra, dá o rg e tira uma não libera sua passagem na catraca. Um segurança que para em 12 andares antes de chegar ao 25º. A aguarda 47. Bebe água, Toma um café. Então a porta imprevisto, mas, na semana que vem, com certeza,
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MOVIMENTOS
PARA POUCOS desenvolvimento econômico, e executivos estão sendo alocados para trabalhar.” As vendas da Jaguar Land Rover na América Latina representam 5% das vendas mundiais da empresa, “e a ambição é de que, em três anos, esse volume chegue aos 10%, puxado pelo potencial do Brasil”, diz o executivo, citando que essa meta é concentrada nas vendas da Land Rover, já que os carros da Jaguar são considerados produtos de nicho. Não é para menos: esse objeto de desejo só está disponível para pessoas dispostas a desembolsar mais de R$ 278 mil reais.
ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
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Foto: 1 - Divulgação
Se a presença de carros de luxo pelas ruas de uma cidade é sinônimo de geração de riqueza, pode-se dizer que essa já está menos concentrada na região Sudeste do que antes. Pelo menos segundo a avaliação da Land Rover, que, recentemente, inaugurou uma concessionária em Cuiabá, para vender modelos que custam a partir de R$ 115 mil, e espera abrir outros pontos em Belém e João Pessoa, ainda em 2010. “Há um crescimento interessante de carros a diesel no Nordeste e Centro-Oeste do Brasil”, diz John Peart, presidente da Jaguar Land Rover para América Latina e Caribe. “São regiões que estão atraindo empresas, onde há forte
MOVIMENTOS CONTRA GOLPES O avanço das multinacionais brasileiras no exterior, sobretudo na América Latina, está impulsionando um novo mercado para as seguradoras: o de cobertura de risco político. A primeira a receber permissão da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para emitir cobertura em papel local foi a Zurich. “Já temos quatro negócios bem encaminhados, e estamos otimistas com o potencial do mercado”, diz Vinicius Jorge, gerente de Linhas Financeiras da companhia no Brasil. Segundo Jorge, o seguro trabalha com três coberturas básicas: expropriação, violência e incompatibilidade de moeda – ou seja, uma desvalorização cambial drástica no país em que a multinacional opera –, que valem tanto para investimentos financeiros quanto produtivos. O limite de cobertura é de US$ 150 milhões. “É um valor importante, que pode ser composto com serviços de resseguro no mercado externo, conforme a necessidade da companhia”, afirma. No mundo, a cobertura de risco político movimenta cerca de US$ 1 bilhão ao ano, segundo a Zurich. “No Brasil, esperamos fechar 2010 com US$ 5 milhões em prêmios”, afirma Jorge. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
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SE NÃO BASTASSE O PETRÓLEO… Há petróleo nas Malvinas? Em breve, a Ocean Guardian, contratada pela britânica Desire Petroleum para instalar sua plataforma, poderá responder. Especula-se a existência de 4 mil a 12 mil barris, o que não é fabuloso, mas pode fazer diferença: a Grã Bretanha, que controla o arquipélago, tem reservas de 3,4 bilhões de barris; já as da Argentina, que reclama a descoberta para si, são de 1,7 bilhão. O assunto ainda resultou em outro problema para o governo argentino, preocupado em fazer um swap de sua dívida externa: o Banco Barclays, encarregado da negociação, é um dos acionistas da Desire. “O ministro da Economia teria de revogar essa autorização”, diz o advogado Ricardo Monner Sans, alegando conflito de interesses. RODRIGO LARA, DE BUENOS AIRES
Jim Balsillie (foto), coexecutivo-chefe da canadense Research In Motion (RIM), afirmou em São Paulo, em meados de março, que vivia sua segunda lua de mel no Brasil. “A primeira foi quando me casei; agora, é pelo início da produção do BlackBerry no país”, disse, no evento de anúncio da parceria da empresa com a Flextronics, que opera em Sorocaba. Será o segundo país latinoamericano a fabricar o aparelho, ao lado do México. Na ocasião, os executivos da RIM não deram informações sobre o volume de produção esperado, mas garantiram estar confiantes com o potencial do mercado sul-americano, que poderia ser abastecido pelo Brasil, além do próprio crescimento do uso dos smartphones no país. “Para se ter uma ideia, enquanto na Argentina a média 3 de envios de SMS é de cem por pessoa ao mês, no Brasil, ainda é de seis”, disse Alex Zago, gerente de Inteligência de Mercado da RIM na América Latina. Segundo ele, enquanto a penetração dos smartphones nos EUA e no Japão é de 30% e 50%, respectivamente, no Brasil, ainda é de 7%. “Este é o país que impulsionou novidades como o Orkut, e, por isso, acho que tem um grande potencial a ser explorado”, afirmou. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
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Fotos: 2 - AP; 3 e 4 - Divulgação
LUA DE MEL
APERTAR OS CINTOS Sem orçamento extra nem aumento de salário. Esse foi o primeiro recado que a ministra da Economia do Peru, Mercedes Aráoz (foto), deu aos seus amigos ministros, logo que ocupou o cargo, em dezembro de 2009. “O presidente Alan García me apoiou, pois acha que o governo tem que entregar o país com as finanças saneadas”, disse à AméricaEconomia. A ministra, que não é filiada ao partido do presidente, também afirmou que uma de suas metas, neste ano, é priorizar projetos de investimento que possam ser cumpridos em 2010. “Às vezes, inflamos a previsão de gastos em muitos projetos e executamos pouco. Agora, queremos mais foco, para manter um tamanho de Estado adequado”, disse, referindo-se ao aumento do gasto estatal, em 2009, para reativar a economia em meio à crise. Para Mercedes, a previsão do crescimento peruano para 2010 é de entre 5,5% e 6%. “Claro que isso dependerá da solução da crise e de outras contingências internacionais, mas tampouco queremos uma economia superaquecida, que gere inflação e o risco de nos endividarmos demais”. FERNANDO CHAVARRÍA LEÓN, DE LIMA
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MOVIMENTOS EXCEÇÃO À REGRA Por causa da crise, em 2009, vender para os EUA foi um mau negócio e operar no Brasil, sucesso garantido, certo? Não necessariamente. A empresa de TI Softtek, fundada no México, em 1982, é um exemplo de que as exceções existem. “No ano passado, nosso faturamento cresceu 20% nos EUA e 35% na Argentina, encolheu 10% na Colômbia e aumentou apenas 5% no Brasil”, conta Francisco Lara (foto), responsável pela empresa na América do Sul e no Caribe. Segundo Lara, os motivos dessa variação diferem em cada país. “Os clientes norte-americanos buscavam eficiência e redução de custo, o que gerou mais demanda; na Argentina, houve crescimento interno e das exportações; já no Brasil, o resultado tímido derivou do estancamento de nossa área SAP, que representa 40% das vendas no país”, diz. Para recuperar fôlego no Brasil e crescer em torno dos 20% em 2010, Lara afirma que a empresa ajustará o foco da operação, dando mais destaque a áreas como suporte e manutenção de aplicativos (AMS, na sigla em inglês) e terceirização de processos de negócios (BPO). “No caso de BPO, já conquistamos dois clientes e estamos prospectando outros dois importantes”, afirma. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO 5
OU VAI, OU COALHA Se é possível tirar etanol do açúcar, por que não tentar com o leite? Essa pergunta inspirou uma pesquisa do Ceprocor, em Córdoba, Argentina. E a resposta foi supreendente: cada 37 metros cúbicos de soro do leite gerou 1 metro cúbico de etanol, quase 1 tonelada de dióxido de carbono para a produção de bebidas carbonatadas e 35 litros de água. Levando isso à grande escala, os pesquisadores afirmam que se pode atender até 51% da demanda insatisfeita da Argentina por etanol. Nada mal. Mas a viabilidade econômica da descoberta ainda é uma incógnita. A neozelandesa Fonterra, a irlandesa Carbery e a americana Dubay, que testam a tecnologia no Panamá e na Colômbia, poderiam dar um sinal favorável. Mas os belgas da De Smet, uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo, jogam água fria. “Quando fizemos nossos cálculos, os números não fecharam, nem aqui, nem na Áustria”, disseram os porta-vozes da empresa em Buenos Aires.
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA 52 AméricaEconomia Abril, 2010
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Pequenas e médias empresas começam a ver a sustentabilidade como parte de seu negócio, mas ainda falta conhecimento GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
À
primeira vista, a Mecânica do Gato, no bairro paulistano da Mooca, é uma oficina como qualquer outra: uma fi la de carros esperando conserto, mecânicos com macacões sujos de graxa e o cheiro de fumaça de escapamento, causado pelas insistentes partidas para verificar o problema de um ou outro automóvel. Um olhar mais atento, entretanto, revela uma grande diferença entre a empresa gerenciada por Claudia Garcia Samos e a maioria das concorrentes: há três anos, a Mecânica do Gato passou a apostar suas fichas na adoção de práticas sustentáveis. Desde o início, os desafios foram – e ainda são – reduzir o consumo de energia e dar destino correto a 100% dos resíduos produzidos durante o processo de reparação dos automóveis. “Ainda estamos no começo, mas acredito que esse é o caminho certo”, diz Claudia, explicando que a mudança de rota da empresa, que está há 40 anos no mercado, começou com a necessidade de ampliar o negócio, em 2007. “Resolvemos, na época, que promoveríamos uma série de mudanças na empresa porque enxergávamos que essa era uma forte tendência.”
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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A mudança veio de cima: telhas tradicionais, geralmente de cerâmica ou amianto, deram lugar a translúcidas, que possibilitam a entrada de luz externa e diminuem o consumo de energia elétrica. “Já percebemos uma economia na conta de luz, por exemplo, entre 8% e 10%, somente no prédio onde temos essas telhas”, diz Claudia. O sistema de 1
CLAUDIA: MUDANÇAS SÃO TRABALHOSAS, MAS ESTÃO AO ALCANCE DOS PEQUENOS
circulação de ar foi alterado. Em vez dos ventiladores ligados na tomada, foram colocados seis filtros por cima do telhado, todos eles movidos a energia eólica. O óleo, que antes era descartado sem nenhum tipo de cuidado, ganhou três caixas de decantação específicas para ser despejado; já os metais e papelões não contaminados agora são separados de forma adequada e encaminhados à reciclagem. “Temos um parceiro que vem recolher o óleo e paga um percentual por isso.” Embora não revele o valor do investimento, Claudia garante que ele está totalmente alinhado com o orçamento de uma pequena ou média empresa. “Não foi um valor exorbitante, não é algo impossível. É trabalhoso, sim, mas está ao alcance dos menores e não só das grandes corporações.” O pensamento dela, porém, ainda é uma exceção no mundo dos pequenos e médios empresários brasileiros, dizem os analistas. “Há muito desconhecimento, eles acham que é uma coisa caríssima de se fazer, enquanto que com pequenas ações, como a separação do lixo ou a implementação de noções de consumo consciente entre os funcionários, você consegue tornar uma empresa sustentável”, comenta Janaina Nogueira Muller, diretora da Setor 3 Consultoria, que trabalha com o tema há 12 anos. A opinião é compartilhada por Beatriz Bulhões, diretora do CEBDS (Con-
Fotos: 1, 2 e 3 - Mário Águas
PRIMEIROS PASSOS
selho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade que há dez anos, em parceria com o Sebrae nacional, capacita consultores para trabalhar o tema sustentabilidade com as micro e pequenas empresas. “Vimos um caso em que o desperdício
400% foi o quanto a A.R.P. cresceu em quase dois anos
de água era fruto de uma mangueira mal regulada. São atitudes simples, mas que fazem toda a diferença”, afi rma Beatriz. As mudanças implementadas na empresa de Claudia, em parceria com o Sindirepa (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos do Estado de São Paulo), já começaram a surtir outros efeitos positivos. Recentemente, a Mecânica do Gato recebeu o Selo Verde, destinado às organizações que têm políticas ambientais corretas. A certificação facilita a entrada em novos mercados e configura-se como uma grande vantagem competitiva. Segundo Claudia, o próximo passo é encontrar uma forma ambientalmente correta de descartar outros itens desse processo de reparação, como peças de ferro, filtro e recipientes de óleo. Ela admite, no entanto, que a maior dificuldade está em encontrar parceiros que façam a coleta desses resíduos. “Todos os dias, nós estudamos empresas, mas falta uma certificação ou outra para que elas estejam realmente aptas a realizar esse trabalho de forma correta, e nós não podemos esperar.”
RETORNO ECONÔMICO Segundo Antonio Carlos Porto Araujo, especialista na área de Meio Ambiente da consultoria Trevisan, embora muitas PMEs (Pequenas e Médias Empresas) ainda não tenham pensado a questão ambiental por esse ângulo, a prática de políticas voltadas ao meio ambiente, além de ser um diferencial para a empresa, traz retornos econômicos significativos. “A explicação é simples: se você tiver um processo produtivo mais eficiente, evitará o desperdício e, consequentemente, economizará e aumentará a lucratividade.” Araujo destaca outro fator competitivo: “tudo caminha para que, muito em breve, as licitações do Governo Federal tenham como critério eliminatório o nível de sustentabilidade das empresas”. Foi seguindo esse raciocínio que o empresário Ronald Rodrigues fundou, há dois anos, a A.R.P. Ambiental, com sede em São Roque, interior paulista, que presta serviço de limpeza e conservação predial para órgãos do governo, redes varejistas e de comunicação, em oito estados brasileiros. A ideia era oferecer um serviço com menor impacto ambiental – por meio, entre outras coisas, do uso de produtos biodegradáveis –, mesmo que isso significasse abrir mão de um lucro mais alto. “Essas matérias-primas são até 50% mais caras que as comuns. Mas não há reflexo no valor dos contratos que eu fecho; prefiro diminuir a margem do meu lucro”, garante ele. Se quisesse cobrar um preço mais alto, possivelmente Rodrigues não teria problemas. “O consumidor já aceitou a valoração desses produtos e serviços e está disposto a pagar por isso”, defende Araujo, da Trevisan. O empresário de São Roque sabia disso quando inaugurou a A.R.P. Rodrigues traz na bagagem uma experiência de 18 anos como funcionário da área ambiental de grandes empresas parcei-
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MECÂNICA DO GATO: TELHAS TRANSPARENTES E DESTINAÇÃO CORRETA PARA O ÓLEO DESCARTADO
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ESPECIAL SUSTENTABILIDADE
EM SENTIDO HORÁRIO, O WALMART: REDE QUER CRIAR RANKING DE SUSTENTABILIDADE; DAVIS TENÓRIO, DO GRUPO ECO; E CAIXA DE DECANTAÇÃO PARA ÓLEO USADO DA OFICINA DO GATO
ras da Petrobras, conhecida pelos seus critérios rigorosos na hora de escolher seus fornecedores. Os resultados alcançados pela prestadora de serviços têm desmonstrado que a fórmula está dando certo. Se a estimativa de crescimento na abertura do negócio era de 50% ao ano, de 2008
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até o início de 2010, a empresa cresceu quase 400%, conferindo-lhe um faturamento anual, hoje, de R$ 12 milhões. “Foi uma surpresa para mim, e olha que eu estava bem otimista”, brinca. A nova menina dos olhos da empresa é o projeto de biotecnologia que está sendo desenvolvido em conjunto com um pesquisador da Embrapa. “Em um prazo de cinco anos, queremos ter nossos próprios produtos.” Para que isso se torne realidade, o empresário
RANKING DE SUSTENTABILIDADE Um exemplo claro disso é o projeto que vem sendo desenvolvido pelo Walmart. A proposta é, no médio prazo, criar um ranking de sustentabilidade entre os fornecedores, para que o cliente saiba se o produto que ele está comprando respeita ou não o meio ambiente e co-
Fotos: 4, 6 e 7 - Divulgação; 5 e 8 - Mário Águas
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tem uma equipe de químicos e biólogos que trabalha diariamente na busca de soluções mais ecológicas para a linha de limpeza. Para Janaina, da Setor 3, essa continuidade de ações em prol da conservação do meio ambiente é essencial para manter um negócio vivo. “Não adianta você apoiar o Greenpeace e ignorar a coleta seletiva de lixo, ou separar o lixo uma vez na vida e achar que está fazendo sua parte. É um processo evolutivo, que nunca acaba”, exemplifica. Quem está disposto a entrar nesse jogo tem muito a ganhar, não só em visibilidade ou respeito do consumidor, mas até mesmo em facilidades na hora de conseguir um financiamento. “A flexibilidade de prazo de pagamento para uma empresa com gestão sustentável é muito maior do que para outras”, afirma Linda Murasawa, superintendente de Desenvolvimento Sustentável do Grupo Santander Brasil, sem especificar, no entanto, se o percentual de juros também é mais atrativo. Segundo Araujo, da consultoria Trevisan, isso acontece porque, para a liberação de crédito, os bancos analisam a perenidade das empresas, “e quanto mais sustentável ela for, mais é considerada sólida”. Se, a partir dessa ótica, a adoção de práticas sustentáveis é apenas uma vantagem competitiva, de outra, ela está se tornando quase uma obrigação para as PMEs. Como fornecedoras para as grandes corporações, elas fazem parte de uma cadeia cada vez mais pressionada a ser socialmente responsável.
mo ele faz isso. Os estudos, que começaram em 2009, em todos os países onde a rede varejista atua, devem terminar somente em 2014. “Grosso modo, seria como o que existe hoje com as informações nutricionais existentes na embalagem de um produto. O consumidor tem um padrão para comparar e escolher o que melhor lhe convém”, explica o gerente de Sustentabilidade da multinacional, Yuri Feres. Os critérios para formar esse índice estão sendo analisados pela rede, em parceria com o Centro de Tecnologia de Embalagens, ligado ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), do Governo de São Paulo, e com os próprios fornecedores. E se a exigência para que as PMEs assimilem de fato práticas sustentáveis em sua gestão começa a aumentar, ela é ainda mais forte quando o próprio modelo de negócio da companhia tem ligação direta com o meio ambiente e a conservação dele.
DAR O EXEMPLO É o caso do Grupo Eco, de São Paulo, que atua na área de assessoria ambiental para grandes empresas, confecção de brindes e varejo sustentável, com a venda de produtos feitos a partir de materiais naturais. “Não adianta eu
pregar uma coisa para os meus clientes e não aplicar isso à minha gestão”, diz um dos sócios, Davis Tenório. Ao entrar na sede da empresa, localizada na Zona Sul da capital paulista, os cuidados com o meio ambiente saltam aos olhos. Os móveis, por exemplo, são todos de madeira certificada. O lixo é corretamente separado, e a luz externa é aproveitada. Os 22 funcionários têm à disposição uma biblioteca com livros sobre ecologia. E para que isso tudo funcione de maneira harmônica, os fornecedores também têm de ter a mesma linha de pensamento da empresa. “Ao longo desses cinco anos, formamos uma grande rede de parceiros. Sabemos exatamente qual a origem do produto deles e exigimos isso de nossos novos fornecedores também.” Como o próprio Tenório costuma dizer, a empresa faz um trabalho de ponta a ponta, mapeando toda a cadeia. “No que se refere à responsabilidade social, nós também temos uma gestão aberta, nossos funcionários sabem exatamente o quanto nós vamos faturar naquele ano”, afirma. E mesmo trabalhando com produtos que, via de regra, são mais caros que os tradicionais, o sócio do Grupo Eco afirma que um modelo de gestão baseado nos princípios da sustentabilidade já
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RONALD RODRIGUES, DA A.R.P.: APOSTA NA FABRICAÇÃO DOS PRÓPRIOS PRODUTOS
é percebido como um diferencial pelos clientes. “90% dos meus concorrentes no mercado de brindes são chineses. Mas lá existe a mão de obra infantil, a maioria dos empresários não paga imposto, e os clientes sabem. Por isso, nosso trabalho é valorizado. Hoje eu não perco mais por preço.” Ou seja: com um consumidor cada vez mais informado e com melhor poder aquisitivo, ignorar a necessidade de uma produção sustentável será cada vez mais difícil. Assim, o melhor é dar os primeiros passos o quanto antes.
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COMEÇAR É SIMPLES: 1 2 3 4
Promova noções de consumo consciente entre os funcionários Faça a coleta seletiva de lixo Desenvolva um programa de reutilização de resíduos Projete uma forma de aproveitar a luz externa e troque lâmpadas comuns por frias
5 Estimule atitudes sustentáveis de seus fornecedores 6 Inclua o tema de sustentabilidade na agenda com stakeholders 7 Apoie movimentos ligados ao meio ambiente
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ESPECIAL SUSTENTABILIDADE
QUEM DÁ O EXEMPLO
Ainda que timidamente, a América Latina já pode dizer que coleciona bons exemplos de pequenos e médios empresários envolvidos em projetos de sustentabilidade que fazem o diferencial de seu negócio. Nestas páginas, destacamos alguns casos que valem ser conhecidos CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO
Localizado na Região Norte da Costa Rica, aos pés do vulcão Arenal e rodeado de um bosque tropical, o hotel Tabacón Grand Spa Thermal adotou uma política de práticas sustentáveis “assim que começamos a crescer e pudemos viabilizá-la”, diz Zuley Herrera Quirós, diretora de Marketing do Tabacón. Desde a primeira ampliação das instalações, o foco voltou-se ao controle do consumo de energia, melhor utilização da água, substituição do papel por material digital e das viagens de executivos pelas videoconferências. Melania López, a cargo das Relações Públicas da empresa, diz que “esses exemplos são algumas opções que podem ser colocadas em prática facilmente”. Recentemente, o hotel lançou um programa chamado Tabacón Green, focado no turismo responsável. O projeto tem como premissas o manejo sustentável das áreas naturais, a proteção das nascentes de água e de 80 hectares de reserva própria, com árvores nativas reflorestadas, o uso de produtos biodegradáveis e o tratamento do próprio esgoto, bem como um programa de informação e incentivo a práticas sustentáveis disseminado entre as comunidades da região.
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Fotos: 9 e 10 - Divulgação
TABACÓN – COSTA RICA
VIÑA DE MARTINO – CHILE A Viña De Martino, do Chile, é a primeira vinícola carbono neutro da América Latina e a sexta do mundo, depois de receber a certificação oficial do Carbon Reduction Institute, da Austrália. Isso significa que todas as suas emissões de gases do efeito estufa são rastreadas e compensadas, desde a rede de abastecimento, os vinhedos, o engarrafamento e o transporte, até a eliminação da embalagem pelo consumidor. A De Martino é a segunda maior produtora de vinhos orgânicos do país, e suas práticas são reguladas pela ISO 14001, de políticas ambientais. A vinícola reduziu seu consumo de eletricidade em 20% entre 2008 e 2009, optando por engarrafar os vinhos somente durante o dia. Também investiu em máquinas mais eficientes, que baixaram o consumo de água em 18%, e reduziram o peso das garrafas em 9%, e só elabora caixas com material reciclado. “Ainda não recuperamos o investimento que fizemos, mas esperamos fazê-lo no médio prazo, com a venda de bônus de carbono”, diz Marco Antonio De Martino (na foto à direita), diretor de Sustentabilidade da vinícola.
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CHUNCHINO – ARGENTINA
PMP – COLÔMBIA
Entre as boas iniciativas que se podem ver no país, está a empresa Chunchino, fabricante de roupas e acessórios para bebês. O foco da empresa é o uso de algodão agroecológico. E o que começou com a simples escolha de matéria-prima sustentável se transformou em novas propostas de design para reduzir o uso desta e otimizar a produção. “Há dez anos, jamais passaria pela minha cabeça questionar quem esteve envolvido na produção daquilo que eu vestia, como o fi zeram, se para isso usaram exploração infantil ou respeitaram o meio ambiente”, diz Ileana Lacabanne, porta-voz da empresa. Para eles, a aposta é levar valor a um mercado comoditizado, pensando no meio ambiente. O investimento inicial para a adaptação do negócio foi de US$ 12 mil, que já foi recuperado e reinvestido para a duplicação da produção.
Depois de quatro horas de funcionamento contínuo, as caldeiras da fábrica da Processadora de Matérias Primas (PMP) estão fervendo. Em seu interior, cerca de oito toneladas de gordura bovina derretem. Para evitar o gasto exagerado de água, luz ou gás nesse processamento, o sistema criado pela empresa permite utilizar o vapor gerado, tornando a atividade mais rápida e mais econômica. “Diminuímos o consumo de eletricidade em mais de 38% e o de gás, em 35%”, diz o gerente Edwin Parraga. A empresa, que domina 0,28% do mercado de gorduras e óleo, e 18% do mercado de gordura animal de seu país, já ganhou vários prêmios de sustentabilidade, entre eles o do Departamento Técnico Administrativo do Meio Ambiente colombiano e o reconhecimento em Responsabilidade Social Empresarial do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
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Iniciativa:
Realização:
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AS MAIORES LIDERANÇAS DO BRASIL VÃO DEBATER O RUMO DO PAÍS EM 2010, EM COMANDATUBA.
9º FÓRUM EMPRESARIAL EM COMANDATUBA. OS MAIORES LÍDERES EMPRESARIAIS E POLÍTICOS DO PAÍS VÃO DISCUTIR POLÍTICAS PÚBLICAS, SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. QUEM É LÍDER PARTICIPA.
De 21 a 24 de abril. www.forum2010.com.br
DEBATES ECONOMIA
SÃO OS BRICS, STUPID! A
crônimos podem ser uma forma simplista de defender uma tese, mas às vezes dão resultado. Quando Jim O’Neill, chefe de Pesquisa em Economia Global do Goldman Sachs, lançou, em 2001, o termo Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), do inglês “tijolo”, para nomear os países emergentes que se destacavam por seu rápido crescimento econômico, não poderia imaginar que eles formariam, tão rapidamente, uma muralha sobre alguns países desenvolvidos. Agrupados hoje em acrônimos menos construtivos, como Pigs (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), do inglês “porcos”, ou Stupids (Espanha, Turquia, Reino Unido, Portugal e Dubai), que dispensa tradução, esses países poderão ver os Brics lhe fazerem sombra. “Há uma questão de marketing nos acrônimos que funcionou bem para o Brasil. O país é relativamente bom e confiável em termos de imagem e reforça a tese,” diz Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil. O país foi um dos emergentes que mais surpreenderam entre os Brics, por dar sinais de ter entrado em um círculo virtuoso de crescimento sustentado, com a expectativa de um PIB de 6% para este ano e previsões comparáveis para os próximos, em função de investimentos e de grandes eventos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. “A crise, que se acentuou nos países desenvolvidos, em especial na Europa e nos EUA, trouxe uma oportunidade para os emergentes e para o Brasil, com maior fluxo de investimentos e de capital”, diz Padovani, que vê o Brasil fortalecido em comparação com outros emergentes. “O Brasil tem estabilidade nas regras e na sua economia há mais de 15 anos”, diz o analista.
LEVANTAR TIJOLOS Para Ernesto Lozardo, professor de Economia Internacional, Moedas e Bancos da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, e autor do livro Globalização: a Certeza Imprevisível das Nações, quando a crise chegou aos países desenvolvidos, os emergentes estavam prontos para receber investimentos. “Nos últimos 30 anos, os emergentes foram se preparando política e institucionalmente, desenvolveram o setor bancário, fomentaram o nível de poupança, de emprego e de investimento,” diz. Lozardo enxerga na crise internacional vantagens para o Brasil, entre outras coisas, por ser, entre os Brics, o país mais
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Os emergentes não só surpreenderam na crise, como devem permanecer em alta VERÔNICA GOYZUETA, SÃO PAULO
próximo do capitalismo ocidental. “Ele tem boas condições de mercado, de tecnologia, de mercado agrícola, garantias do capital estrangeiro, inflação controlada e dívida externa cadente. É uma liderança política no nível regional. Tem também projetos muito promissores, que não começam do zero. O capital vem para o Brasil para alavancar o crescimento, e não só para explorá-lo”, diz o professor. Essa, aliás, é uma das lições dos emergentes, um crescimento baseado na produtividade, e não apenas na expansão fiscal. É justamente esse tema que, nas últimas semanas, tem gerado maior preocupação entre os países europeus mais pressionados pela crise: Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. “A lei fiscal valeu como princípio para entrar no Euro, mas depois disso houve um afrouxamento, e alguns países voltaram a ser desregulados”, diz Lozardo, citando a Grécia e lembrando que, no Brasil e em alguns outros emergentes, existem leis de responsabilidade fiscal.
Ilustração: Samuel Casal
AJUSTE NECESSÁRIO Apesar de as atenções estarem voltadas para os países latinos da Europa, o aumento da dívida pública ocorreu em praticamente todo o G7, o que pode trazer novas crises à tona nos próximos trimestres, se não forem tomadas medidas de ajuste fiscal, advertem os especialistas. E esse é um ponto que o acrônimo Pigs não ajuda a enxergar. “O acrônimo Pigs está sendo associado a uma leniência latina, como sinônimo de má gestão, mas também há problemas estruturais relacionados à produtividade”, diz Padovani, do WestLB do Brasil. Lozardo cita como exemplo a Espanha, que baseou boa parte da sua economia em turismo e serviços. Nesse cenário, a Alemanha é o país europeu considerado mais consistente. “Os que têm uma produtividade mais baixa, têm mais fragilidade, há distorções macroeconômicas”, explica Padovani.
Outra lição dos emergentes, depois de uma recuperação rápida da atividade econômica pós-crise, foi a retirada gradual dos estímulos, no Brasil e na China, que brecou o crédito e aumentou o percentual exigido para os depósitos compulsórios dos bancos. “O crescimento com melhoria na distribuição de renda pode ser outra lição emergente, e outra vantagem brasileira”, comenta Lozardo. Mas os emergentes, em especial os latinos, podem ter atravessado bem essa fase não apenas pelo bom comportamento. Lozardo acredita que o fato de os países emergentes não terem um mercado muito desenvolvido, em termos de derivativos, de risco, de futuros e de mercado de capitais, também pode ter contribuído para passarem mais tranquilamente pela crise. “Essa falta de produtos mais sofisticados fez com que os emergentes ficassem fora disso”, avalia. “Os países desenvolvidos pecaram na eficiência do sistema de avaliação do risco. Rompeu-se a credibilidade do sistema financeiro, que vai levar muito tempo para ser recuperada. Ficaram corrompidos pela sua própria ineficiência”, diz o professor, que vê os emergentes melhor posicionados nesse sentido. “A maioria dos emergentes tem condições de crescer com baixo risco”, diz Lozardo, que elogia, além dos Brics, países como Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia, Malásia e Canadá. “O Brasil vai por méritos próprios, mas também porque os outros vão muito mal”, brinca Padovani. O economista Paulo Cavalcanti de Albuquerque, membro do Conselho Superior de Economia do Instituto Roberto Simonsen (Cosec) e da Diretoria do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, acredita no potencial industrial do Brasil, mas acha que o país pode ficar em desvantagem em relação à China, se não desvalorizar a taxa de câmbio. “Há 20 anos, a China e o Brasil exportavam o mesmo, e, hoje, a China exporta oito vezes mais”, diz o economista, que também enxerga deficiência em outros temas em que China e Índia têm superioridade, a educação e o ensino técnico e tecnológico. “Vamos ter de fazer um esforço muito grande, combinando pesquisa pública com pesquisa aplicada”, admitiu Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula, durante um encontro fechado com veículos internacionais, entre eles AméricaEconomia, em março. “A educação é um desafio do governo e dos empresários”, diz Lozardo, da FGV, que também considera educação e a mão de obra duas das fragilidades brasileiras. Albuquerque e Padovani apontam a infraestrutura e a produtividade como outros defeitos do Brasil. “Do ponto de vista da produtividade, o Brasil está dentro dos Pigs”, alerta Padovani. Aliás, a Grécia lembra o Brasil em um aspecto: a necessidade de fazer grandes investimentos em infraestrutura em um prazo relativamente curto, aparentemente difícil de cumprir. Lozardo, entretanto, descarta que os eventos esportivos possam criar problemas como os da Grécia. “O Brasil tem responsabilidade fiscal”, diz. Ninguém dúvida que o Brasil é hoje um tijolo importante na muralha, mas ainda tem chances de ir parar no chiqueiro. Abril, 2010 AméricaEconomia 63
DEBATES COMÉRCIO EXTERIOR
PRESIDENTES LULA E OBAMA: DESCASO DOS EUA E RETALIAÇÃO BRASILEIRA EVIDENCIAM OS CONFLITOS POR TRÁS DO SORRISO
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IVONE BELÉM, DO RIO DE JANEIRO
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sinal verde às sanções foi dado em agosto do ano passado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), e quem viu o governo postergar sua decisão para 2010 pode até ter achado que o Brasil abriria mão de sobretaxar os produtos norte-americanos. Mas as retaliações comerciais contra os Estados Unidos anunciadas em março – em decorrência dos subsídios do governo desse país aos produtores de algodão, que prejudicam as exportações brasileiras – parecem expressar uma mudança de postura do Brasil em relação aos fóruns comerciais internacionais. “O país atuou defensivamente nos últimos 50 anos; hoje, com a economia crescendo e com uma postura mais ativa, pode-se pensar em outro tipo de ação”, avalia o cientista político Ricardo Sennes, da Prospectiva Consultoria em Negócios Internacionais e Políticas Públicas. Embora a cúpula do Bric (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China), no dia 16 de abril, em Brasília, ainda irá se debruçar sobre assuntos de interesse multilateral – como as mudanças climáticas e a reforma do sistema financeiro global –, a atitude do governo brasileiro poderá criar um estímulo a mais em torno das pressões dos emergentes visando à retomada de Doha, conforme avaliação de especialistas. Motivação é o que não falta aos brasileiros para essa queda de braço; afinal, foram oito anos de peregrinações à OMC, em que os produtores brasileiros tiveram de tirar do próprio bolso cerca de R$ 3 milhões para pagar advogados e especialistas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem à Cisjordânia,
Foto: John Moore/Getty Images
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Governo brasileiro sai da defensiva e inicia retaliações comerciais contra os Estados Unidos
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DEBATES COMÉRCIO EXTERIOR justificou tais medidas: “Quando ganhamos na OMC, achamos que os EUA iam dar o exemplo de obediência a uma decisão multilateral”, afirmou.
JÁ ERA HORA
ALGODÃO: OBJETO DA DISCÓRDIA ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS
no Rio de Janeiro. Contudo, a diplomacia brasileira não esconde que o Brasil tem consciência de sua posição mais forte para enfrentar disputas internacionais. Antes da divulgação das listas proibitivas, o chanceler Celso Amorim afirmou que o país “não prefere” a via do contencioso, mas não pode “se curvar”. É fato também que o Congresso dos EUA enfrenta uma crise de caráter interno e tem outras prioridades, como as questões de emprego e segurança. O prazo curto oferecido pelo Brasil, segundo Ricardo Mendes, sócio-diretor da Prospectiva Consultoria Internacional, serve para criar um jogo de ameaça em que o governo brasileiro ganha a aprovação da opinião pública com o estabelecimento de uma bravata. “Talvez exista aí um componente ideológico, porque o algodão é um produto importante, embora a segunda lista revele itens de caráter intelectual.”
ENTENDA A RETALIAÇÃO O contencioso envolvendo os dois países se arrasta desde 2002, quando produtores brasileiros de algodão contestaram na OMC os subsídios da ordem de US$ 3 bilhões anuais concedidos pelo governo dos EUA a produtores de algodão. Em agosto de 2009, a OMC estabeleceu que o governo brasileiro elevasse as alíquotas de importação de produtos norte-americanos em até US$ 829 milhões por ano. Na primeira semana de março deste ano, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério do Desenvolvimento deu início às sanções e divulgou a primeira lista de produtos norte-americanos que serão sobretaxados. O pacote abrange 102 itens. Sem uma sinalização de proposta por parte do governo norteamericano, no dia 15 de março, a Camex antecipou em uma semana a colocação em consulta pública de 21 itens de propriedade intelectual que podem vir a ter tarifas majoradas.
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PERDAS E GANHOS Cunha, presidente da Abrapa, concorda que se trata de uma questão de posicionamento: “A decisão adotada pelo governo brasileiro gerou visibilidade. Dependendo da postura daqui para a frente, podemos avançar ou cair em descrédito”, afi rma. O que também se aventa entre os especialistas é que o algodão pode ter sido o mote para que o governo assumisse uma posição forte no sentido de defender a eliminação dos subsídios no âmbito multilateral das negociações. “Não é um produto tão importante para o Brasil como para países africanos, que dependem do algodão”, argumenta a economista do Centro de Estudos do Setor Externo da FGV-Rio, Lia Valls Pereira. O produto representa apenas 0,03% do total das importações brasileiras. Seja como for, para Gabriel Rico, CEO da Câmara Americana de Comércio (Amcham), esse é um jogo bastante arriscado. “A implementação de sanções não tem prejuízos apenas para quem é retaliado, mas também para quem exerce o direito de retaliar. A primeira lista foi prudente, mas a segunda me pareceu muita munição para o valor envolvido.” Apesar de não ver prejuízos maiores a curto prazo, Rico lembra que o Brasil desfruta, no mercado internacional, de uma imagem de ambiente tranquilo, para a instalação de novos negócios em tecnologia de ponta e patentes. “Temos um clima mais favorável do que China, Índia e Rússia, e não podemos macular esta posição construída ao longo de anos.” Agora, a bola está nas mãos do governo norte-americano.
Foto: iStockphoto
A lentidão com que os EUA continuam tratando a questão ainda causa espanto em quem foi pioneiro na luta contra os subsídios. “É como se eles não acreditassem que o Brasil fosse chegar ao ponto de praticar as sanções. Já está passando do ponto e da hora”, desabafa Haroldo Cunha, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), que defende a criação de compensações até que o Congresso norte-americano acabe com as subvenções ilegais. “A criação de um fundo de desenvolvimento para o produto com recursos norte-americanos seria um paliativo até que o Congresso consiga enfrentar o lobby agrícola e acabe com os subsídios, como estabeleceu a OMC”, sugere. O professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), Renato Flores, tem uma explicação para o aparente descuido dos norte-americanos. “Em 20 anos de caos macroeconômico, o Brasil não tinha como assumir uma postura mais assertiva”, afirmou, durante o seminário: Brasil, China, e a Arquitetura da Governança Global, realizado em março,
DEBATES ARGENTINA
SOB TENSÃO A perda de poder dos Kirchner alimenta um debate acirrado entre governo e oposição e coloca a governabilidade do país em risco
CRISTINA KIRCHNER NA ABERTURA DO ANO LEGISLATIVO: RESISTÊNCIA DA OPOSIÇÃO E DECRETOS SOB A MANGA
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Foto: Alejandro Pagni/AFP
RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
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oje, quem olha para a política argentina vê um caldeirão fervente. Desde a renovação do Congresso, em dezembro de 2009 – depois da qual o governo perdeu maioria tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado e a oposição decidiu abdicar do diálogo –, e as estratégias da presidente Cristina Kirchner de burlar o legislativo para usar de reservas do Banco Central no pagamento da dívida externa do país, oposição e governo alimentam um nível de tensão que não se via desde a década de 1980. Tal guerra acirrada faz com que analistas prevejam dias políticos difíceis e turbulentos até as eleições presidenciais de 2011. Para alguns, se esse cenário não mudar, a Argentina corre o risco de enfrentar uma crise de governabilidade real. Já os menos fatalistas identificam que se abre a oportunidade de o país aprender que há outros caminhos, diferentes do hiperpresidencialismo – ou seja, que governa por meio de decretos – e de uma oposição intransigente.
bloquear as iniciativas do governo. “O que as pessoas querem é ver o assunto resolvido, não mais problemas, e dessa forma também a oposição acaba sendo vista como pouco efetiva”, diz Roberto Bacman, diretor do Centro de Opinião Pública (Ceop). Para o analista político Heriberto Muraro, “a melhor definição dos políticos argentinos foi dada pelo atual presidente do Uruguai, Pepe Mujica: ‘a classe política argentina é canibal’”, diz. Murano ironiza com a experiência de quem passou anos assessorando governadores e presidentes, e que lhe fez ver de tudo um pouco. Ou quase, já que, até agora, nenhum presidente peronista deixou o poder por causa de uma crise econômica ou política – o que é o grande medo de Cristina Kirchner: ter de fazer uma renúncia antecipada. Isso não convém à maior parte das forças políticas vigentes na Argentina, mas poderia ocorrer como um efeito bola de neve, originado da violação contínua de regras. “Hoje, governo e oposição estão jogando com tudo: quase sempre de má-fé, rompendo regras, o que torna difícil qualquer jogo, em qualquer contexto”, diz o constitucionalista Roberto Gargarella.
23
é o número de bancadas no Senado argentino, para 72 cadeiras
OPORTUNIDADE PERDIDA Nas eleições legislativas de junho de 2009, os aliados do governo ficaram com 30% das cadeiras; outros 30% foram para uma aliança liderada pela União Cívica Radical; 8% foram para o peronismo conservador; e o restante se dispersou entre facções de direita e de esquerda. A falta de uma maioria inclusive deu a essas facções poder de sabotar qualquer plano. Para se ter uma ideia, somente o Senado conta hoje com 72 membros e 23 bancadas. De qualquer forma, tudo se configurava como uma grande oportunidade para os políticos argentinos fazerem o seu trabalho: discutir, negociar, esticar, puxar, até chegar a um consenso. Mas, desde a posse do novo Congresso, o que se viu foi uma oposição unida para
A ESFINGE COBOS Nesse cenário pessimista, existem duas figuras que, em teoria, podem impor a calma até as eleições de 2011. Um deles é o vice-presidente em exercício, Julio Cobos. Possível candidato à Presidência do partido radical, em oposição ao atual governo do qual faz parte, atrai vastos setores da classe média e a centro-direita. A segunda é o deputado e empresário de origem colombiana Francisco De Narváez, conhecido como “Colorado”. Peronista, mas sem carreira política e cargos no partido, derrotou o ex-presidente Kirchner nas últimas
eleições legislativas, representando a província de Buenos Aires. Enquanto isso, a estratégia dos Kirchner é a de buscar a reativação econômica e um pacote de gastos públicos que os faça recuperar o apoio das camadas populares, que lhes deram as costas nas ultimas eleições legislativas. Hoje, a favor dos Kirchner, está o desejo do empresariado de baixar os decibéis da briga entre governo e legislativo. “Eles têm medo de que tudo isso provoque um caos fi nanceiro. Seria como fabricar uma crise econômica do nada”, diz Muraro. Já contra está o fantasma da inflação. Vários estudos independentes a estimam em 25% entre março e dezembro deste ano, o que significaria 29% no acumulado de 2010.
ALERTA DE TURBULÊNCIA No futuro próximo, a menos que ocorra uma situação externa que promova uma trégua, a aposta dos analistas é a de que esse conflito se manterá. “A oposição não tem um projeto alternativo: por isso é que os Kirchner e o ‘kirchnerismo’ estão vivos”, diz Bacman, do Ceop. Hoje, como descreve Graciela Römer, da Römer y Asociados, entre um governo intransigente e pouco preparado para governar sem o legislativo e uma oposição que só existe para votar contra os projetos de governo, pensar em uma via alternativa é pura futurologia. Para o analista político Ricardo Rouvier “se não houver uma rota de negociação, o caminho para finalizar o atual mandato será complicado e turbulento”. Mas há quem acredite que a tormenta possa gerar boas alternativas. “Nosso sistema, que alguns chamam de hiperpresidencialista, demonstrou abrir margem à instabilidade”, diz Roberto Gargarella. A opção, segundo ele, é usá-lo de forma criativa. “A Constituição estabelece instituições participativas, que deveriam ser incentivadas.” Com a fragmentação atual, entretanto, não parece haver ânimo para isso. O que, segundo analistas, poderá favorecer uma candidatura de Néstor Kirchner em 2011. Abril, 2010 AméricaEconomia 69
DEBATES CHILE DIAS DEPOIS DA POSSE, PIÑERA (CONVERSANDO COM MILITAR) VERIFICA OS DANOS PROVOCADOS PELO SISMO
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pavor era evidente entre a seleta audiência reunida em Valparaíso. De Evo Morales ao príncipe da Espanha, todos puderam sentir uma amostra do que os chilenos sofreram e ainda deverão sofrer depois do dia 27 de fevereiro, quando um terremoto de 8,8 graus na escala Richter atingiu o país. A réplica que antecedeu a cerimônia de posse do novo presidente do Chile, Sebastián Piñera, foi o sinal reiterado dos desafios que o presidente terá em seu mandato para reconstruir o país e recuperar a economia. As três regiões mais afetadas pelo sismo, no sul do Chile, reúnem 25%
70 AméricaEconomia Abril, 2010
da população do país e representam 18% do Produto Interno Bruto (PIB). Em muitas delas, o trabalho será o de recomeçar praticamente do zero. Um exemplo disso é Constitución. A cidade despontou no mapa do país em 1969, quando o governo decidiu instalar nesse local uma grande fábrica de celulose. A decisão fez o lugar crescer e enriquecer. Mas esse tempo áureo desapareceu com o terremoto, seguido de tsunami. A cidade, que abrigava 50 mil moradores, praticamente desapareceu. E as instalações da Celulose Arauco e Constitución (Celco) viraram toneladas de barro e escombros.
O terremoto abalou a economia do Chile, mas tudo indica que não deixará o país fora de combate EQUIPE AMÉRICAECONOMIA, DE SANTIAGO
A Copec, controladora da Celco, foi uma das empresas mais afetadas do país. Até o fechamento desta edição, a empresa mantinha várias de suas fábricas fechadas, sem previsão de reabertura. Somente na planta de Constitución, que produzia 350 mil toneladas de celulose ao ano – 10% do total da Celco –, trabalhavam 700 pessoas.
O PREÇO DA DESTRUIÇÃO Na linguagem econômica, o que o Chile sofreu com o terremoto é um grande choque de oferta negativa. “Uma parte das construções está inutilizada, bem como a rede rodoviária; isso se traduz
Fotos: 1 - Presidência da República do Chile; 2 - Daniel Garcia/AFP; 3 - Notimex; 4 - Claudio Santana/AFP
CONTAS AMARGAS
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3 À ESQUERDA, CIDADE DE TALCAHUANO DEPOIS DO TSUNAMI. ACIMA E ABAIXO, TRABALHO DE BUSCA POR SOBREVIVENTES 4
em uma taxa de depreciação muito alta”, diz o economista chileno Guillermo Le Fort, sócio do Le Fort Economia e Finanças e ex-diretor executivo do FMI (Fundo Monetário Internacional). O Eqecat, centro de pesquisa de catástrofes que trabalha para o setor de seguros nos Estados Unidos, estimou, preliminarmente, que os custos do terremoto nos ativos do Chile seriam de US$ 15 bilhões a US$ 30 bilhões. “É uma cifra absurda”, avalia Matías Braun, sócio do banco de investimentos IM Trust, em Santiago. “As três regiões mais afetadas acumulam cerca de 20% do capital físico do país, algo em torno de US$ 60 bilhões. Estimar perdas de US$ 30 bilhões significaria uma perda de 50%, e não foi assim.” Braun avalia os danos em, no máximo, US$ 8 bilhões. Dessa cifra, US$ 2,5 bilhões viriam da destruição de 20% das casas nas zonas afetadas; US$ 1,5 bilhão de edificações comerciais e industriais; US$ 2 bilhões da infraestrutura viária e portuária; US$ 500 milhões de máquinas e equi-
pamentos, e cerca de US$ 500 milhões em estoques perdidos.
EFEITOS MACRO Com menos ativos em pé, a capacidade produtiva da economia cai. O setor mais afetado é o florestal, que exportou US$ 4,1 bilhões em 2009. Quase a metade desse montante é representada pela celulose, da qual a Celco é responsável por US$ 1,25 bilhão. Há outros casos graves: 50% da capacidade instalada dos pesqueiros do centro e sul do país, por exemplo, ficaram inutilizáveis com o terremoto e as posteriores marés da região de Biobío, segundo a Sociedade Nacional da Pesca (Sonapesca). O setor vinícola também tem muito a lamentar. “Foi um dos mais afetados”, diz Luis Mayol, presidente da Sociedade Nacional da Agricultura. Em Colchágua, rios de vinho fluíam pelas ruas. Os sistemas antissísmicos simplesmente não funcionaram: os barris caíram e passaram a empurrar outros, em um efeito dominó enológico. A indústria
estima em US$ 250 milhões as perdas por conta do terremoto. Muitos dizem que as exportações, que, em 2009, foram de US$ 1,38 bilhão, serão ínfi mas neste ano, abrindo caminho para concorrentes como os argentinos.
VOLTA POR CIMA A recuperação do país poderá ser facilitada pela boa posição e pela credibilidade fiscal do Chile, bem como pela capacidade do setor privado. O primeiro anúncio feito pelo governo de Piñera foi um ajuste fiscal de mais de US$ 700 milhões, que deverá incluir um plano para as moradias. Segundo o Ministério da Habitação, cerca de 1,5 milhão de casas sofreram danos, das quais 500 mil teriam danos severos, o que significa um esforço de recuperação inédito na história do país. Abril, 2010 AméricaEconomia 71
DEBATES CHILE OCEANO PACÍFICO
ARGENTINA
CHILE VALPARAÍSO SANTIAGO
REGIÃO METROPOLITANA
RANCAGUA CONSTITUCIÓN EPICENTRO Magnitude - 8,8 PENCO
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72 AméricaEconomia Abril, 2010
DICHATO
CONCEPCIÓN
ACIMA, SAQUES NOS SUPERMERCADOS DE CONCEPCIÓN. À ESQUERDA, BURACOS EM RODOVIA NO SUL DO PAÍS
MAULE BIOBÍO
ARAUCANIA 100 km Zona afetada por Tsunami
Para que isso ocorra, o novo presidente, Sebastián Piñera, e seu ministro da Fazenda, Felipe Larraín, devem impulsionar um forte plano de gasto do governo, o qual, provavelmente, os levará a operar com déficit fiscal em 2010. O dinheiro acumulado no Fundo de Estabilização Econômica e Social, graças ao alto preço internacional do cobre entre 2002 e 2008, serve de respaldo para proteger os fundos macroeconômicos. “O Chile tem mais de US$ 11 bilhões em ativos fi nanceiros e baixa carga de dívida, de menos de 7% do PIB”, diz Gabriel Torres, vice-presidente da Moody’s, que assegura que não revisará a classificação da dívida soberana chilena. “Isso permitirá ao país aumentar seus passivos, se necessário.”
TALCA
Tampouco é esperado que haja um aumento nas taxas de juros no curto prazo. “Temos uma política monetária expansiva, que continuará assim por bastante tempo, para que o investimento e os gastos tenham um custo financeiro adequado”, diz José De Gregorio, presidente do Banco Central (BC) chileno. Em outras palavras, o BC favorecerá a manutenção de taxas, ampliando ao máximo o estímulo monetário para ajudar a recuperação. Esperase que, por efeitos diretos do terremoto, muitos preços subam, especialmente nas áreas afetadas, o que reduziria as taxas de curto prazo. “Uma vez que a recuperação aconteça, entretanto, o Banco Central se verá obrigado a subir a taxa de juros significativamente”, diz Le Fort, do Le Fort Economia e Finanças.
O FATOR INFRAESTRUTURA Um dos calcanhares de Aquiles na recuperação da atividade econômica do país será a infraestrutura. Não há área que não tenha sido afetada pelo sismo, desde a água potável até as telecomunicações, passando pela eletricidade e pelos portos. Os ritmos de recuperação
Governo declara toque de recolher
Zona de desastre
dos serviços são distintos. A energia elétrica tem seus problemas focados na distribuição, já que as grandes geradoras, tanto hídricas quanto térmicas, podem seguir operando sem problemas. Os processos de reconstrução serão mais longos na infraestrutura viária e dos portos. O porto de Valparaíso, por exemplo, reiniciou as operações um dia depois do terremoto, mas somente em alguns terminais, o que reduzirá sua capacidade de embarque por tempo indeterminado. Os danos nas estradas e rodovias totalizaram entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões, segundo estimativas do setor, e a recuperação total poderá demorar até oito meses. Por isso, a capacidade de gestão e a sintonia com o setor privado que Piñera demonstra ter serão colocadas à prova. O presidente também deverá desafiar amarras ideológicas dos aliados para colocar o Estado como motor fundamental nesse processo. Se conseguir isso, será um ponto positivo em seu começo de gestão, pois transformará em capital político os bons resultados que o Chile necessita nesse processo urgente de reconstrução.
Fotos: 5 - Natacha Pisarenko/AP; 6 - Aliosha Marquez/AP; Ilustração: AméricaEconomia/Chile
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O’HIGGINS CURICO
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DEBATES NARCOTRÁFICO
Cultivo da folha de coca se expande no Peru. Se essa tendência permanecer, em 2013, o país tomará o lugar da Colômbia como primeiro produtor mundial da droga CECILIA NIEZEN, DE LIMA
C
usillococha é um povoado peruano na fronteira com a Colômbia, de características pouco comuns para seu tamanho. Nas casas do lugar, podem-se encontrar eletrodomésticos de última geração e sistema de TV a cabo, em forte contraste com a vida em outros vilarejos da região. “Até a década de 90, essa região era tranquila”, conta o pesquisador Jaime Antezana. “Hoje, é uma região onde se cultiva coca, e há núcleos controlados pelas máfias do narcotráfico”, diz. Dados oficiais indicam que a produção da folha de coca no Peru, em 2008, envolveu 56,1 mil hectares, 65 mil famílias e US$ 19 bilhões em exportações. Os números indicam que, nos últimos anos, esse cultivo aumentou
74 AméricaEconomia Abril, 2010
e se espalhou por áreas afastadas dos núcleos tradicionais. Em Loreto, região que abriga Cusillococha, por exemplo, os 100 hectares registrados em 2004 aumentaram para 700 em 2008. “Se continuarmos assim, em 2013, o Peru tomará o lugar da Colômbia como principal produtor mundial de folha de coca”, diz Antezana. Segundo Fabián Novak, que trabalhou no Ministério da Defesa do Peru, apesar de essa expansão ainda se encontrar em volumes marginais, “já demonstra a consolidação de uma perigosa tendência: a de adquirir as características da Colômbia, onde as plantações estão dispersas por quase todo o território”. Tal dispersão, segundo ele, dificultaria o trabalho de erradicação.
Para o economista Hugo Cabieses, parte da culpa dessa proliferação se concentra “nas políticas ineficazes do governo, que não oferecem alternativas concretas e sustentáveis para os agricultores das áreas afetadas, caracterizadas pela pobreza”. Jaime García, professor da Universidade de Lima e especialista no tema, dá outro sinal de alerta: o da possibilidade de os programas colombianos de erradicação pressionarem a migração dessa atividade para as fronteiras peruanas. “Ainda não se detectou oficialmente a presença ativa dos narcotraficantes colombianos no território peruano, mas, na medida em que a luta contra as drogas nesse país seja bem-sucedida, e o Peru não a acompanhe com medidas
Fotos: AFP
AVANÇO DA ATIVIDADE DO NARCOTRÁFICO É ASSOCIADA AO ACIRRAMENTO DE AÇÕES TERRORISTAS
efetivas, não se pode descartar esse risco”, afirma. E, o mais grave, que venha acompanhada de ações terroristas.
Evolução
ECONOMIA DISTORCIDA
180.000
A crescente dependência do comércio da coca, em detrimento de outras atividades formais, também estimula a “cocalização” das economias regionais. Um estudo do Instituto de Estudos Internacionais (Idei) da Universidade Católica do Peru, intitulado “Mapa do Narcotráfico no Peru”, indica os principais impactos dessa atividade. Entre eles, o aumento do custo da mão de obra na época de colheita, a distorção do preço das terras e de produtos como café, algodão e arroz, bem como a poluição do solo e dos rios causada pelo uso inadequado de agrotóxicos. Antonio Cornejo, assessor técnico da Conveagro, instituição do setor agrário, afirma que já existem regiões onde se torna difícil contratar pessoas para a colheita de café. “Os produtores estão perdendo mão de obra ou têm de pagar mais, comprometendo suas margens”, diz. Essa situação deriva em um círculo vicioso que, pouco a pouco, aumenta a dependência das economias da cultura
do cultivo de coca no Peru e na Colômbia (em hectares) Colômbia
Peru
Estimativa
160.000 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 0
1985
1990
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2015
Fonte: IDEI – Mapa do Narcotráfico no Peru
da coca. Nas regiões de Cusco e Huánuco, por exemplo, respectivamente 28% e 47% do PIB agrário já provêm da coca. E essa dependência, lembram os especialistas, além de não romper o círculo da pobreza, imprime o lastro característico do narcotráfico: insegurança, corrupção e violência.
AVANÇO DO PLANTIO ESTIMULA “COCALIZAÇÃO” DA ECONOMIA REGIONAL DO PERU
Por isso, multiplicam-se as vozes que pedem uma reação imediata do governo. Para Antezana, é preciso uma mudança clara nos programas em curso. Ele dá como exemplo outra região peruana, chamada San Martín, que conseguiu reduzir a plantação de coca de 28,6 mil hectares, em 1992, para 321 hectares, em 2008. Segundo Antezana, essa experiência foi baseada em um tripé formado por um programa de erradicação, pela promoção de cultivos alternativos, como café, cacau e palmito, e pela presença do Estado, oferecendo infraestrutura produtiva, saúde e educação. A última iniciativa do governo nesse sentido chama-se Plano de Impacto Rápido 2010, que dedica cerca de US$ 32 milhões à luta contra o narcotráfico e a novos cultivos. É quase o triplo do valor destinado há dois anos. Entretanto, os especialistas alertam para a necessidade do envolvimento dos líderes regionais, já que a experiência demonstra que nenhum projeto funciona sem o compromisso dos locais. E, para um país que já ganhou reconhecimentos mais nobres, como o grau de investimento, ter o posto de primeiro lugar como produtor de coca está longe de ser motivo de orgulho. Abril, 2010 AméricaEconomia 75
ESPECIAL PREVIDÊNCIA
O FUTURO É HOJE Estabilidade econômica e pouca confiança no sistema público de previdência estimulam a adoção de planos privados por uma camada cada vez mais ampla da população MÁRCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO
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76 AméricaEconomia Abril, 2010
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Fotos: 1 - iStockphoto; 2 e 3 - Divulgação
s amigos de Osvaldo Nascimento devem ter achado estranho quando ele comentou que havia contratado planos de previdência privada para a empregada que trabalha com sua família e o fi lho adolescente. Entretanto, apesar de sua funcionária ter aproveitado a vantagem de Nascimento ser especialista no tema, já que é o diretor de Investimentos e Previdência do Itaú Vida e Previdência, ver pessoas de diferentes camadas sociais estudando alternativas que lhes garantam um futuro tranquilo já não é algo incomum. O mercado de previdência privada vem se popularizando e crescendo a olhos vistos no Brasil. Tanto que as quatro maiores instituições do segmento – Bradesco Vida e Previdência, Itaú Vida e Previdência, Brasilprev Seguros e Previdência e Santander Seguros –, que, juntas, respondem por mais de 80%
desse mercado, têm estudado o perfi l e a renda desses consumidores. Somente em 2009, foram injetados R$ 38,8 bilhões nesses planos, com variação positiva de 21,79% em relação ao mesmo período de 2008. E a perspectiva é de que eles continuem nesse nível de ascensão nos próximos anos. Segundo o gerente de Inteligência de Mercado da Brasilprev, Sandro Bonfim, os planos de investimentos do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) são os preferidos das camadas sociais mais baixas da população, principalmente a C. “Essas pessoas querem investir, principalmente, no futuro dos seus fi lhos, já que não tiveram oportunidade de crescer em um país com a economia estabilizada”, ressalta. Desde a implantação do Plano Real, em 1994, a população vivencia cada vez mais taxas de juros decrescentes, aumento
da renda média da população, regulamentação mais sólida do setor quanto à preservação dos ativos de seus investidores e transparência dos planos entre as empresas. Esses aspectos apresentam-se como fundamentais para a mudança de comportamento entre os brasileiros. Há também outros dois tópicos importantes, apontados pelo diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio Oliveira: o aumento da expectativa de vida e a superação dos traumas da inflação, o que facilita o planejamento para médio e longo prazos.
MAIS QUE APOSENTADORIA “Até 2002, o investimento em previdência tinha foco prioritário em aposentadoria; depois, isso mudou”, afirma Oliveira. Por isso, hoje em dia, investe em previdência privada quem pretende gerar uma renda no longo prazo, como pagar uma universidade ou cursos no exterior para os seus descendentes, e aqueles que intencionam guardar reservas para despesas médicas na velhice, segundo os especialistas do mercado. Diante desse novo cenário, está em discussão entre empresas do setor e governo uma proposta formulada pela Susep (Superintendência de Seguros Privados) para lançar produtos tipo VGBL voltados à saúde e à educação, com incentivo fiscal. Denominados PrevSaúde e PrevEducação, eles isentariam a tributação que incide no imposto de renda dos rendimentos após o resgate, caso o investidor comprove gastos nessas áreas. Se o investidor desistir de destinar os rendimentos a esses fi ns, então o plano passa a funcionar como um VGBL comum. “O objetivo é atender pessoas que não têm nenhum tipo de seguro, mas anseiam por uma proteção para dar melhores condições de educação e saúde à família”, afi rma o superintendente da Susep, Armando Vergílio dos Santos Júnior. Essas opções devem chegar ao mercado ainda neste ano. Presente em 100% dos municípios bra2 sileiros e líder desse mercado em receitas, a Bradesco Vida e Previdência tem for te atuação no varejo. E seu diretor-presidente acha que o crescimento nas camadas mais populares ocorre porque agora há mais possibilidade de poupar. No entanto, ainda é bem tímida a 3 participação dos segmentos D e E, que coÀ ESQUERDA, OSVALDO NASCIMENTO, meçam a conquistar DO ITAÚ VIDA E PREVIDÊNCIA E, poder econômico para ACIMA, SANDRO BONFIM, DA BRASILPREV: DE OLHO NO MERCADO consumir. Abril, 2010 AméricaEconomia 77
ESPECIAL PREVIDÊNCIA Por isso, Bonfim, da Brasilprev, admite que o mercado investe em pesquisas para conhecer melhor esse público e estuda formas de reduzir ainda mais o custo inicial de investimentos. Já é possível começar investindo cerca de R$ 25, como no Brasilprev Junior, em PGBL e VGBL renda fixa. E não é obrigatório uma contribuição mensal. Há outras instituições, como o Santander, que oferecem o plano Prev 13 Rendas, em PGBL e VGBL, nas opções de renda fixa e multi 20 (que é mais agressivo). Nele, nem é preciso ter um aporte mínimo. Porém, faz-se obrigatório investir uma mensalidade mínima de R$ 50.
PGBL X VGBL Mas, afinal, qual é a verdadeira vantagem do PGBL e do VGBL, em relação aos planos tradicionais? Em poucas palavras, o PGBL é mais indicado a pessoas que fazem a declaração de ajuste anual do Imposto de Renda (IR) no modelo completo e contribuem para o plano com até 12% de sua renda bruta (limite legal para o deferimento). O VGBL volta-se mais para aqueles que fazem a declaração de ajuste anual do IR no modelo simplificado ou para quem utiliza o modelo completo, mas contribui com mais de 12% de sua renda bruta. “Neste caso, a pessoa pode ter um PGBL com 12% da renda bruta e alocar o restante em um VGBL”, ressalta o superintendente da Susep. Isso porque, no PGBL, a tributação incide no valor total, no momento do resgate. “Por isso, nós orientamos que seja aplicado até o limite passível de tributação”, afi rma o diretor de Previdência Brasil da Mercer Consultoria, Eduardo Correia. No VGBL, a incidência ocorre somente sobre os rendimentos. Contudo, é importante ressaltar que ambos os planos têm taxa de administração – que varia de 1,5% a 4% – e taxa de carregamento, que gira entre 0% e 5%. Porém, nenhum deles tem o come-cotas dos planos de investimentos comuns. No curto prazo, ele não é um produto vantajoso de se aplicar. Na opinião de Correia, da Mercer, dez anos é o tempo ideal. “É importante ficar de olho nos rendimentos, porque a tributação pode ficar alta após tantos anos sem a incidência do Leão”, diz.
4 OLIVEIRA, DA BRADESCO PREVIDÊNCIA: MAIS PLANEJAMENTO
De qualquer forma, o investidor pode optar por dois tipos de tributação, ao escolher o plano: a progressiva – mais próxima do Imposto de Renda incidido sobre os salários, começando como isento e taxando em 15% e 27,5% – acima de R$ 3,7 mil, paga-se o porcentual máximo –; ou a regressiva, que inicia com tributos de 35% e, a cada dois anos, reduz a incidência em 5%, até chegar ao limite mínimo, de 10%.
DE OLHO NO VGBL Com todas essas características, o que vem ocorrendo é um boom na procura de investimentos tipo VGBL. Dados da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) apontam que, no acumulado de janeiro a dezembro de 2009, esses planos representaram 77,92% dos investimentos em previdência complementar, enquanto o PGBL representou 13,47%. Planos tradicionais e outros alcançaram 8,61%. “A tendência é a de aumentar ainda mais a procura por VGBL porque há várias opções disponíveis no mercado”, ressalta Nascimento, da Itaú Vida e Previdência.
As quatro maiores em previdência privada Instituição
segundo receita (jan-dez 2009) Participação (%) Valor absoluto (R$)
segundo a receita distribuída por produto (jan-dez 2009) PGBL
VGBL
Tradicional
Outros
12.451.790,00
8,57%
82,43%
8,96%
0,04%
21,79
8.452.625,00
13,08%
81,21%
5,60%
0,11%
Brasilprev Seguros e Previdência
15,86
6.153.324,00
23,43%
68,38%
8,19%
-
Santander Seguros AS
10,76
4.173.475,00
9,24%
86,46%
4,30%
-
Bradesco Vida e Previdência
32,10
Itaú Vida e Previdência AS
Total:
31.231.214,00
Fonte: Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi)
78 AméricaEconomia Abril, 2010
Receita por tipo de plano
Receita acumulada por produto
Janeiro a dezembro 2009
Janeiro a dezembro 2009 8,56%
8,57% 12,03%
Menores de idade
Plano tradicional
0,05%
Outros 13,47%
Empresarial Individual 79,40%
VGBL
PGBL 77,92%
Fonte: Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi)
Fotos: 4 e 5 - Divulgação
E, dentro desses planos – tanto VGBL quanto PGBL –, os que vêm crescendo em maior escala são os formatados para jovens. Eles ainda representam 8,57% dos planos, mas têm amplo potencial de expansão. “Isso porque dez anos não significam quase nada na vida desses jovens, que cada vez mais a planejam com antecedência”, ressalta Nascimento. Se não são eles, quem fecha uma negociação são as mães. Na Bradesco Vida e Previdência, mulheres preocupadas com o futuro de seus fi lhos, no ano passado, foram responsáveis pelo crescimento de 21,4% das receitas da seguradora advinda dos planos para os jovens.
muito com aposentadorias e pensões. Para se ter uma ideia, de cada R$ 3 arrecadados em impostos e contribuições, R$ 1 vai para esse fi m. Além disso, a população está vivendo mais. Isso significa que os contribuintes ativos não conseguem equilibrar as contas – pagando impostos – para sustentar os inativos. Segundo Correia, da Mercer Consultoria, embora não tenha sido popular, o fator previdenciário, que impacta no valor do benefício, dependendo da idade, segurou um pouco o rombo. Até agora, o governo e setores envolvidos concordam em um ponto: a reforma deve afetar os que estão entrando O SETOR PÚBLICO no mercado de trabalho, para O aumento da procura por um não implicar prejuízos a quem plano privado também reflete já contribui há anos. a pouca confiança da populaO problema é que até hoje ção na cobertura oferecida penão se sabe ao certo o tamanho la aposentadoria do governo, da dívida da previdência. Cáladvinda dos recursos do INSS culos do Instituto Brasileiro de (Instituto Nacional do Seguro Relações de Emprego e TrabaSocial). “Proporcionalmente à lho (Ibret) apontam para uma renda dos brasileiros, é uma dívida maior que a mobiliária, das aposentadorias federais hoje correspondente a 60% do mais altas do mundo porque PIB (Produto Interno Bruto) bracobre até dez salários mínisileiro, que teria de ser coberta mos, mas, na prática, nem tonos próximos 30 a 40 anos. dos conseguem aposentar-se O mercado aposta que, 5 com o teto, e, dessa forma, o neste ano, nenhuma reforma VERGÍLIO, DA SUSEP: FOCO EM SAÚDE E EDUCAÇÃO rendimento cai bruscamente”, sai, até porque é período eleiressalta Nascimento, da Itaú toral. Mas quem sabe, com os Vida e Previdência. É antiga a questão previdenciária no paânimos arrefecidos, em 2011, promessas possam fi namente ís. Há pelo menos dez anos, fala-se em uma reforma no setor, sair do papel? Melhor para os brasileiros, que, por via das dúque nunca é regulamentada. Até o presidente Luiz Inácio vidas, passaram a planejar mais no longo prazo e investir em Lula da Silva acabou por admitir que o Brasil está gastando um plano de previdência complementar. Abril, 2010 AméricaEconomia 79
FINANCAS HEDGE FUNDS
MAIS RETORNO 2010 promete ser um bom ano para os fundos multimercados no Brasil ANA BORGES, DE SÃO PAULO
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ano de 2008 foi um divisor de águas para a indústria de fundos multimercados ou hedge funds. Agora, dois anos depois, a busca dos gestores é por oportunidades que ofereçam maior rentabilidade aos clientes. No ápice da crise, o portfólio de muitos fundos foi devastado. Mas essa época passou. A ordem é mostrar serviço e evitar que uma nova onda de saques ocorra. O trauma se foi, e aumenta o interesse dos investidores em buscar um retorno maior, mesmo que isso signifique um risco mais elevado. As perdas que marcaram 2008 geraram certo desconforto e um aumento da cautela; porém, a diversificação dos portfólios tende a prevalecer. E os países emergentes parecem ser o caminho ideal para os fundos estrangeiros. O Liongate Capital Management, um dos maiores gestores de fundos da Inglaterra, vê os países emergentes como uma grande oportunidade de obter mais rentabilidade. “Se você tem US$ 100, é melhor alocá-los em países emergentes. Como um todo, estes estão
apresentando uma performance melhor, têm crescimento maior e políticas monetárias bem geridas”, afi rma o sócio do Liongate, Randall Dillard, que em abril participará do evento Brasil Investment Summit, em São Paulo. O fundo pretende aumen-
tar a exposição aos emergentes, dos atuais 7% para 11% do total do portfólio. Dillard também vem ao Brasil para buscar novas oportunidades junto aos gestores locais. O Liongate, atualmente, detém US$ 100 milhões alocados em
Fotos: SXC
fundos offshore brasileiros e em derivados de açúcar. “Estou satisfeito com essa alocação e pretendo ampliar a exposição em ativos brasileiros. O Brasil está se saindo melhor em relação a outros países e, durante a crise, mostrou recuperação mais rápida”, ressalta. A tendência é de que haja o aumento da alocação dos hedge funds em mercados emergentes, e esse movimento deve perdurar até que o Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, decida aumentar a taxa de juros norte-americana. Esse risco marcará o próximo ano, segundo as sinalizações deixadas pelo próprio FED. “O aumento das taxas de juros nos Estados Unidos faz com que os ativos norte-americanos se tornem novamente atrativos e reduz o apetite dos investidores para aplicar nos emergentes”, explica Dillard. A equação é simples: com taxas mais atrativas nos EUA, os estrangeiros correm menos riscos para obter rentabilidade. A perspectiva de uma maior taxa de retorno é o que estimula os estrangeiros a ampliar a exposição aos emergentes. “Alguns países da América Latina, como o Brasil, além de China e Índia, estão em destaque, pois têm uma taxa de retorno atrativa e bons fundamentos. Além disso, a indústria brasileira passou praticamente ilesa pela crise, pois foi criada de forma diferente das outras. Não passou por apuros e vai crescer”, diz o ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, sóciodiretor da Mauá Investimentos. O chief investment officer da DKH Investments, David Henry, que também estará no Investment Summit, é outro otimista em relação aos países emergentes. Ele afi rma que os gestores brasileiros são bastante profissionais e a regulação do mercado reduz os riscos, o que deixa os estrangeiros mais tranquilos. “Fiquei impressionado com a sofisticação e o profissionalismo do mercado brasileiro. O país está entre os tops”, diz, ao mencionar a China como outra boa opção.
IMAGEM E SEMELHANÇA A demanda dos estrangeiros por ativos brasileiros tem levado gestores locais a lançar espelhos dos seus fundos em outros mercados, como na Ásia. Já existem 89 fundos offshore brasileiros por todo o mundo, com um patrimônio líquido de R$ 52,9 bilhões. Isso inclui todos os tipos de produtos, inclusive os de renda fixa. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) está apoiando iniciativas que atraiam os estrangeiros para aplicar em moeda local. No entanto, um dos grandes entraves é a elevada carga tributária. A Quest Investimentos é um dos assets que detêm fundos offshore. “É uma forma de os estrangeiros terem acesso aos gestores brasileiros. Esse é o caminho que deve ocorrer. O interesse pelo Brasil é sólido. Não é à toa que recebemos e-mails de toda parte do globo”, diz Walter Maciel, da Quest Investimentos. Ele lembra que a regulamentação da indústria brasileira é um dos grandes diferenciais, pois promove a transparência dos fundos. “O estrangeiro mostra até certa ansiedade de vir ao mercado brasileiro. Sem dúvida, este movimento já está acontecendo. Os Brics [Brasil, Rússia, Índia e China] mostram uma história
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são os fundos offshore brasileiros em todo o mundo atraente, e o Brasil tem uma das mais interessantes”, complementa. Na avaliação de Figueiredo, da Mauá Investimentos, mesmo com a perspectiva de aumento da Selic (taxa básica de juros) neste ano, os fundos multimercados devem registrar expansão no médio prazo. Tal movimento será liderado não pelos estrangeiros, mas pelos investidores locais. “Ainda há uma parcela muito grande de recursos alocados na renda fi xa. A Selic vai subir e fechar o ano entre 11% e 11,5%, mas não há mudança no padrão dos juros. No longo prazo, eles cairão e é natural a busca pela diversificação”, explica. Como os fundos multimercados representam uma parte ainda pequena da indústria, qualquer parcela que migre para esse produto faz a diferença. Abril, 2010 AméricaEconomia 81
FINANCAS HEDGE FUNDS
EVASÃO PONTUAL Apesar de todo o otimismo, neste início de ano, os hedge funds do Brasil sofreram com a saída de investidores. Na sexta maior indústria de fundos no mundo, o movimento dos investidores, no início de 2010, foi de retirada dos recursos dos multimercados e de alocações mais conservadoras, como a renda fi xa. Essa, entretanto, não é a tendência para o ano. Com a taxa de básica de juros (Selic) ainda baixa, com relação aos níveis históricos, a perspectiva é de que haja um aumento da diversificação, o que envolve diretamente os multimercados. “Nos últimos três anos, janeiro tem sido um mês de resgates. É um evento sazonal. Não podemos ver como tendência”, avalia o diretor da Anbima, Pedro Bastos. Nos dois primeiros meses do ano, os multimercados registraram uma saída líquida de R$ 5,76 bilhões. O patrimônio líquido (PL) desses fundos soma R$ 336,593 bilhões e representa 23,16% do total da indústria brasileira, cujo PL é de R$ 1,45 trilhão. A indústria como um todo captou, nestes dois meses, R$ 13,9 bilhões, valor 162,7% superior ao registrado no mesmo período de 2009, o que proporcionou crescimento de 1,0% do mercado doméstico de fundos. Já no
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acumulado em 12 meses até fevereiro, a captação ultrapassa, pela primeira vez, o patamar dos R$ 100 bilhões. A categoria que apresentou o melhor desempenho foi a de Renda Fixa, com R$ 15,4 bilhões. A tendência não foi sentida pelo asset do Bradesco. “A expectativa é de crescimento. Os resgates ocorreram há muito tempo, nem vemos mais no retrovisor. Neste ano, registramos tranquilidade. As estratégias dos multimercados permitem ganhos em momentos de volatilidade e se adaptam de acordo com o cenário”, destaca Bastos. Segundo ele, há uma certa correlação dos movimentos da Bolsa de Valores com o comportamento dos investidores de multimercados. Em geral, quando o mercado acionário vai mal, a tendência é de que os investidores resgatem os recursos, o que justifica, em parte, a perda líquida desses fundos. A estratégia, entretanto, é equivocada, pois esse produto permite ganhos tanto quando o momento é positivo para as ações, quanto em um cenário de realização de lucros. “O investidor tende a acreditar que o multimercado só vai bem em momentos positivos. Não é verdade. O fundo serve para que também sejam feitas operações que permitam ganhos em épocas adversas”,
explica Roseli Machado, diretora da Fator Administração de Recursos. As carteiras dos multimercados permitem que o gestor adote diferentes estratégias, de acordo com o momento do mercado, o que, no longo prazo, significa um retorno maior. “A questão não é olhar o dia a dia. Ainda existe uma cobrança por parte do investidor que observa o retorno diário e compara com o CDI. Falta maturidade”, afirma Bastos. Esse tipo de comportamento é cultural e está relacionado com o histórico inflacionário vivido pelo Brasil. Na opinião de Bastos, o ano tende a ser positivo para os fundos multimercados no Brasil, mesmo com a volatilidade do mercado acionário, com a perspectiva de aumento da taxa de juros e a corrida eleitoral que marcará o segundo semestre do ano. “Após o ciclo de alta dos juros, o investidor perceberá que a taxa ainda está baixa e buscará alternativas”, ressalta. A REVISTA AMÉRICAECONOMIA É PARCEIRA DE MÍDIA DO BRASIL INVESTMENT SUMMIT 2010, QUE SERÁ REALIZADO DE 26 A 29 DE ABRIL, NO HOTEL UNIQUE, EM SÃO PAULO. MAIS INFORMAÇÕES: WWW.TERRAPINN.COM/2010/BIS
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I-BIZ
MENTES ABERTAS
Empresas latino-americanas aventuram-se a procurar ideias e soluções fora de suas casas. Pode ser rápido e econômico, mas ainda demanda confiança
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA
YOUNG, DA CHILENA NEOS: O DESAFIO É POPULARIZAR O CONCEITO ENTRE AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
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Foto: Miguel Candia
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oucos empresários latino-americanos teriam coragem de expor informações sobre suas necessidades ou vantagens competitivas ao mercado, à mercê da concorrência. Mas eles existem. Francisco Díaz, diretor geral da Organização Corona, fabricante colombiana de revestimentos cerâmicos, por exemplo, não só levou suas inquietações a público como fez com que estas cruzassem fronteiras. Durante o mês de janeiro de 2008, Díaz se reuniu com a norteamericana InnoCentive, empresa de tecnologia com sede em Boston, e recebeu um insólito convite: revisar suas necessidades e desafiar os milhares de especialistas da companhia para que estes lhe fornecessem uma solução, repetindo o que fazem gigantes como Eli Lilly, Dow, Ciba, DuPont, Procter & Gamble e Novartis. Díaz não se intimidou. Reuniu três engenheiros do grupo e os enviou a um período de capacitação em Boston. Quando voltaram, os engenheiros entraram em contato com as unidades de negócio para listar o que precisavam melhorar. Entre as necessidades, os profissionais apontaram cerâmicas mais leves e resistentes e sistemas de alarmes com sinais luminosos, o que resultaria em economia energética nos processos. Rapidamente, a empresa aprendeu as vantagens e o poder do conhecimento com código aberto. “Tivemos tantas respostas que poderíamos montar uma biblioteca com as propostas envidas de acadêmicos alemães até de consultores norteamericanos e engenheiros da Índia”, conta Carlos Arismendi, assessor tecnológico do conselho da Organização Corona. Em março, três meses depois do início, o processo estava concluído. Não foi um sucesso, no sentido tradicional da palavra, pois nenhuma das soluções recolhidas pôde ser posta em prática, e o desenvolvimento teórico que a empresa adquiriu foi um fracasso quando colocado à prova. Mesmo assim, para a Corona, a experiência foi tão positiva que a companhia já pensa em repeti-la neste ano. Uma teimosia do líder? “Não. Aprendemos que, por um lado, é preciso mudar a formulação dos problemas, capacitando nossos engenheiros, e, por outro, dedicar uma pessoa exclusivamente para esse projeto”, diz Arismendi.
RESPOSTA ÁGIL
O CAMINHO DA INOVAÇÃO TERCEIRIZADA Uma empresa tem uma necessidade tecnológica ou um problema específico que demanda pesquisa e inovação
A empresa sistematiza sua necessidade em um formulário e o publica no portal de um broker tecnológico
Pesquisadores de todo o mundo têm acesso a esse conteúdo e podem oferecer soluções através do portal
A empresa avalia as sugestões e seleciona a que considera melhor
O criador da solução escolhida é avisado. A empresa negocia com ele um acordo para desenvolver o projeto
A empresa adquire o projeto, produto ou serviço de que necessitava
O pesquisador selecionado obtém, além do benefício econômico, o crédito pelo projeto aprovado
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“As vantagens da inovação aberta são inúmeras”, diz Nathan Young, gerente geral da Neos, empresa criada há cinco anos, em Santiago, com o objetivo de promover a relação universidade-empresa. “Pode-se obter resultados em poucos meses, o que significa uma melhora no tempo de comercialização das inovações e uma grande economia de escala”, diz. Entre os casos bem-sucedidos surgidos em grandes companhias está o da Procter & Gamble. Ela decidiu mudar sua metodologia de inovação e, estimando que, para cada um de seus 7,5 mil profissionais, existiriam outros 200 igualmente brilhantes, lançaram a política “Conexão e Desenvolvimento”, que envolve universidades, fornecedores, concorrentes e brokers tecnológicos para multiplicar o surgimento de ideias. Hoje, são mais de mil acordos registrados, e estima-se que, em 2010, mais da metade dos produtos da companhia serão desenvolvidos com colaboração externa. Até mesmo algumas multilatinas têm experiências a contar. A brasileira Natura, fabricante de cosméticos, é um exemplo: sua iniciativa deu resultados no creme anti-idade Chronos Passiflora, elaborado pelos laboratórios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
BROKERS LATINO-AMERICANOS “Agora, o desafio é levar a inovação às pequenas e médias empresas. Ainda estamos em processo de evangelização”, diz Nathan Young. Com esse objetivo, a chilena Neos assinou um acordo estratégico com a rede Universia para lançar a Innoversia, que hoje conta com mais de 2,4 mil membros e já apresentou 157 propostas de solução a várias empresas. Já no Brasil, a empresa Inventta não fica para trás. Está há oito anos no mercado, já atraiu mais de US$ 50 milhões em fundos de capital de risco e conta com mais de cem empresas incubadas. “As universidades são uma fonte de inovação, mas as empresas tendem a desconfiar da produção universitária porque não têm provas em escala”, diz Mauricio Reyes, sócio da Inventta. “Entretanto, quando um país consegue reunir um bom número de startups de base tecnológica, como acontece no Brasil, a relação fica mais fácil. A proposta tem um grau de respaldo empírico mais avançado”, diz Reyes. A brasileira já abriu escritórios na Colômbia, fechou alianças com a InnoCentive e, desde o fi nal do ano passado, com a norte-americana NineSigma. No portfólio de fornecedores de soluções da empresa, destaca-se uma tecnologia brasileira de combate à dengue que foi transferida para a Austrália e gerou um faturamento anual de US$ 2 milhões, em 2009. Mas Reyes pondera que a presença internacional da região nesse nicho é proporcional às capacidades desenvolvidas. “A Colômbia, por exemplo, pode representar 95% dos desenvolvimentos nos países andinos, mas é 25% no contexto sul-americano e nem vamos falar da escala mundial”, afirma. Ou seja, ainda há um longo caminho pela frente. Abril, 2010 AméricaEconomia 85
I-BIZ / ENTREVISTA
REID HOFFMAN: FERRAMENTAS PARA CONHECER A CONCORRÊNCIA
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Foto: Toni Avelar/AP/Imageplus
INTELIGÊNCIA DE NEGÓCIOS
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o último ano, enquanto o nível de emprego caiu mundialmente, a receita da LinkedIn subiu. A rede digital de contatos profissionais criada pelo empresário norteamericano Reid Hoffman tem registrado um inesperado boom, acompanhando o aumento de executivos e profissionais que publicam seus currículos e perfis em seu sistema em busca de melhores oportunidades de trabalho. A companhia, que registra valor estimado de US$ 1,3 bilhão nos mercados de capitais, já soma mais de 60 milhões de usuários, que vêm aumentando suas atividades dentro do site, graças aos algoritmos desenvolvidos pela empresa para incrementar sua rede de conexões profissionais. “A América Latina é a região que mais cresce em adesões”, diz Hoffman, que falou à AméricaEconomia sobre a empresa e o futuro das redes sociais. FELIPE ALDUNATE MONTES, DE SANTIAGO
AméricaEconomia Qual é a importância da América Latina para os negócios do LinkedIn? Reid Hoffman A região tem registrado um importante crescimento econômico nos últimos anos, o que é bom para nós, pois o LinkedIn facilita a vida dos profissionais e empreendedores que buscam crescer em seus negócios e em suas carreiras. Não tenho números concretos sobre a região, mas tivemos um crescimento importante.
AE Como funciona seu modelo de negócios? Hoffman Temos três fontes de receita, com participações similares. A primeira são as assinaturas de usuários individuais que desejam ter melhores ferramentas de busca e comunicação com a rede.
AE Há pessoas que pagam? Eu, por exemplo, o uso e não vejo necessidade de pagamento. Hoffman É verdade que 99% de nosso site é gratuito e sempre o será, pois queremos atrair muitos profissionais do mundo e, para isso, precisamos oferecer um bom serviço gratuito. Mas há um número importante de pessoas que fazem a assinatura, e isso já representa um terço de nossa receita. 27% de nossos assinantes são recrutadores de executivos; há também outros perfis, como gerentes de hedge funds [ fundos de investimento] e pessoas envolvidas na busca de talentos. Há até jornalistas em busca de fontes.
AE Quais são as duas outras fontes de receita? Hoffman A segunda é o uso software como serviço, ou seja, atuando na gestão de redes em corporações; e o terceiro é a publicidade, que é vinculada às buscas feitas pelos usuários.
AE E isso é suficiente? Hoffman Somos rentáveis há dois anos, e só o fato de termos cerca de 500 profissionais trabalhando para nós no Vale do Silício [EUA] pode, por si, indicar que é um bom negócio.
Hoffman No caso do LinkedIn, nossa ideia é prover inteligência de negócios personalizada para cada negócio, para cada profissional. Seremos um centro de inteligência de negócios. Por exemplo, cada pessoa que tem um pequeno ou um grande negócio precisa saber o que acontece com seu setor, com a concorrência e até com suas próprias alternativas de desenvolvimento de carreira. É algo mais específico do que, simplesmente, colocar o nome de uma companhia no Google e pesquisar sua participação de mercado.
AE E essa informação passará a ser cobrada? Hoffman Para desenvolver essa inteligência de negócios, são necessárias análises que podem ser obtidas por meio da informação disponível no LinkedIn e da incorporação de novas aplicações, como o Twitter. E isso é justamente o que uma companhia, ou um profissional, poderia usar para sua carreira: ver o mercado, a concorrência. E, à medida que essa informação se torne mais relevante, ele se tornará um assinante.
27% de nossos assinantes são recrutadores de executivos; há também outros perfis, como gerentes de hedge funds AE Existe a possibilidade de vocês receberem parte da receita de uma atividade gerada por um grupo, por exemplo, que eu administre entre os membros do LinkedIn? Hoffman Até agora não fizemos nada parecido; focamos principalmente em construir ferramentas gratuitas para atrair profissionais a incluir seu perfi l em nossa rede. Mas é uma alternativa.
AE Há muitas redes sociais que conectam, comunicam e compartilham aplicações entre usuários. Para onde essas redes evoluirão?
AE Mas as ferramentas de comunidade continuam sendo as mais importantes? Hoffman Por enquanto, sim. Grande parte de nosso investimento e de novas aplicações consiste em ferramentas para gerar grupos e subcomunidades dentro do LinkedIn. Por exemplo, desenvolvemos ferramentas para empresas que permitem agregar toda a informação de seus perfi s corporativos, entre outras. E buscamos sempre aperfeiçoar a recomendação de contatos. Aí está nossa magia, no que realmente investimos.
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CLICS & CHIPS
JARDIM HIGH-TECH A Click & Grow está desenvolvendo um sistema para quem não tem tempo de cuidar de suas plantas. No vaso que a fabricante levará ao mercado, um cacto, uma rosa e até tipos exóticos de plantas não precisarão ser regados nem necessitarão de fertilizantes. O crescimento da planta será acompanhado por sensores, um processador e um software especial embutido no produto. O Click & Grow deve começar a ser vendido em alguns meses, por 17 euros a unidade, e os pacotes de sementes devem custar entre 2,5 e 4 euros.
www.clickandgrow.com 1
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LUVA INTELIGENTE
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GPS NA NEVE O próximo lançamento da Zeal Optics é para os amantes da neve. A empresa norteamericana apresentou um visor para esquiadores chamado Transcend, o primeiro dispositivo dessa categoria que inclui GPS. Ele tem uma tela que fornece informações sobre velocidade, altitude e temperatura. No futuro, há planos para adicionar mapas com percursos. O produto estará disponível para compra pela internet em outubro, por a partir de US$ 350.
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Fotos: 1 - Click & Grow; 2 e 3 - Divulgação
Esqueça o mouse tradicional que acompanha o seu desktop. A empresa canadense Deanmark está testando o AirMouse, uma espécie de luva que se encaixa na mão e executa as funções do dispositivo. Ele inclui vários sensores e um laser óptico que detectam o movimento da mão. A empresa planeja lançar o produto até o início de 2011, com preço sugerido de US$ 129. O AirMouse estará disponível em quatro tamanhos diferentes, tanto para destros quanto para canhotos.
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LINHA DIRETA
DANOS ESTRUTURAIS “M
enos mal que o terremoto aconteceu às três da manhã, quando não havia ninguém aqui; senão, seriam muitas mortes.” O desabafo é de um funcionário do Aeroporto de Pudahuel, o único que faz conexões internacionais em Santiago do Chile. Ele me conta como, durante o enorme sismo que atingiu a zona
AEROPORTO INTERNACIONAL DE SANTIAGO DEPOIS DO TERREMOTO
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centro-sul do Chile no fi nal de fevereiro, o moderno terminal desmontou: revestimentos do teto caíram, bem como o sistema de ar-condicionado e as passarelas que conectavam o estacionamento ao edifício. Isso sem contar as telas de plasma que anunciavam os voos, as luminárias, os counters. Tudo foi ao chão. Quando visitei o aeroporto, quase três semanas depois do terremoto de 27 de fevereiro, muitas áreas ainda permaneciam interditadas, e várias das operações costumeiras para um voo, como o controle aduaneiro, eram feitas em tendas improvisadas, como as de festas de casamento ao ar livre. Apesar disso, engenheiros afi rmam que não houve dano estrutural no edifício, nem na pista de pouso e aterrissagem. Para quem não tem a experiência de viver um terremoto acima de 8 graus na escala Richter, talvez seja difícil imaginar como é. Ao pegar meu filho nos braços, na tentativa de descer as escadas do sobrado onde moro, vi que era impossível manter o equilíbrio. E o mais estranho, até para um chileno: esse terremoto também contava com um movimento de cima para baixo, inusual no país, dominado por tremores horizontais. Há prédios que, hoje, passam por uma avaliação estrutural, mas grande parte das construções do país resistiu bem, chamando a atenção de órgãos internacionais sobre os códigos de construção do país. Por isso, naquele dia em Pudahuel, pareceu-me claro que esse reconhecimento internacional não poderia se estender ao aeroporto internacional. Antes de ver com meus próprios olhos, não podia acreditar no péssimo estado em que ficou. Construído em 1997, por um consórcio liderado pelo grupo chileno Agnsa e pela empresa espanhola Dragados, com base no modelo do francês Charles de Gaulle, esse aeroporto já foi reconhecido entre os melhores da região. Está certo que Paris não está localizada no encontro de duas placas tectônicas, o que talvez justifique as várias falhas que o deixaram temporariamente inutilizado, justamente em um momento de urgência para levar pessoas ao encontro de suas famílias. A falta de alternativas – já que um ministro chileno decidiu fechar o aeroporto secundário da cidade para desenvolver um projeto imobiliário – aumentou a sensação de estar, mais do que no fim do mundo, desconectado deste. Atualmente, os planos anunciados são os de priorizar os “problemas nos acabamentos e danos superficiais” do aeroporto, para que este retome sua atividade normal, com cerca de 300 operações diárias. Entretanto, ficou claro que seus administradores e o governo chileno precisam revisar sua estratégia de conectividade internacional. Depois do sismo, as fissuras ficaram evidentes.
Foto: AP
FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO
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