Avanços e tropeços da política externa do Brasil
BRASIL
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RENOVAÇÃO NA COLÔMBIA NOVO PRESIDENTE É FANÁTICO POR PODER
PARA CARLOS EDUARDO GABAS, MINISTRO DA PREVIDÊNCIA, CONTRADIÇÕES NO CONGRESSO FAZEM SISTEMA RETROCEDER
No 390 AGO./2010 R$ 8,90
PIONEIROS MÓVEIS O MERCADO DE APLICATIVOS PARA CELULARES
nesta edição 1
Seções 08 10 12 12 14 16 30 51 76 80 82
Portal Carta ao Leitor Cartas Índice de Empresas Pistas Negócio Fechado Movimentos Opinião – Javier Santiso I-biz Clics & Chips Linha Direta
54
42
Capa: Especial Previdência Na contramão Brasil retrocede nas reformas Entrevista Ministro Carlos Eduardo Gabas Nem só aposentadoria Investimento complementar
Debates Negócios
18 20 22 26
2
Rock e sustentabilidade O evento que promete agitar o país De vento em popa Estaleiros fazem planos de expansão Ele quer o Nordeste Conheça o chileno que preside o Grupo Cencosud
36 42 46 52
O legado Lula Acertos e tropeços da política externa brasileira Poder e pôquer O perfil do novo presidente da Colômbia A década perdida Falta de reformas debilita economia mexicana Aposta verde e amarela As vantagens de fabricar o submarino nuclear
Mulheres poderosas Executivas lideram negócios bilionários na região
Foto de capa: Mário Águas
Especial
67
E-Readiness O avanço do comércio eletrônico
Fotos: 1 - Sérgio Lima/Folhapress; 2 - Presidência/AFP
54 58 62
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portal
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Resfriando os Andes O aquecimento global tem acelerado o derretimento das geleiras andinas e mudado o sistema climático, econômico e social dos povos dos Andes. Em uma tentativa de frear o desaparecimento do gelo, Eduardo Gold Aráoz criou a ONG Glaciares del Peru. A principal atividade da organização é pintar de branco as áreas antes ocupadas pelo gelo eterno. A ideia é um tanto excêntrica, mas conta com o apoio do Banco Mundial, que destinou US$ 200 mil à iniciativa. Segundo Gold, o Peru já perdeu 30% de suas geleiras. Mantê-las ajudaria a compensar o aquecimento produzido pelas emissões de dióxido de carbono dos automóveis.
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EDIÇÃO: AINÁ VIETRO (AVIETRO@AMERICAECONOMIA.COM)
Moeda global Em artigo para a AméricaEconomia, o economista Ricardo Ffrench-Davis elogia a volta da emissão de Direitos Especiais de Giro (DEGs), uma espécie de moeda internacional emitida pelo FMI que é entregue aos bancos centrais de países-membros do fundo. Para ele, essa ação ajuda a dinamizar o comércio internacional e poderia dar início a um processo de transição para uma moeda global, reduzindo o atual risco de indexação à moeda de uma economia deficitária, como o dólar.
Sem deixar saudade A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) revelou que não há mais nenhuma linha de celular analógico ativa no país. Até maio, ainda havia 509, mas o número foi zerado em junho. As operadoras de telefonia veem a extinção com alívio, pois o serviço não poderia deixar de ser oferecido enquanto houvesse clientes utilizando o sistema. Dos cerca de 185 milhões de celulares no Brasil, a maioria (88,24%) usa a tecnologia GSM.
Pequenos consumidores Os jogos infantis estão mais conectados à realidade do que nunca. Inclusive os de tabuleiro. Se, antes, quem brincava de Banco Imobiliário comprava, com notas de papel, apartamentos na Rua Augusta ou no Brooklin, agora, na nova versão do jogo lançada pela Estrela, as crianças podem fazer transações com ações de marcas de empresas como Vivo, Itaú, TAM Viagens, Nivea, Ipiranga e Fiat.As cédulas, por sua vez, foram substituídas por um cartão de crédito. Os competidores começam com $ 14 mil e são debitados nas compras de imóveis e companhias. A ideia é fazer com que as crianças possam aprender conceitos de administração financeira, contabilidade e como poupar... ou gastar.
Foto: iStockphoto
LEIA NO PORTAL
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carta ao leitor
O dilema da previdência BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br
A
discussão sobre como fazer as contas da Previdência Social fecharem se arrasta há quase meio século no Brasil. E parece que ainda estamos
longe de um final feliz. Mesmo diante do bom momento de nossa economia, PUBLISHER José Roberto Maluf
que gera mais empregos formais e o consequente aumento da arrecadação,
CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Solange Monteiro Diretora de Arte/Projeto Gráfico: Janaína Diniz Editor-assistente: Luís Eduardo Leal Repórter: Graziele Dal-Bó Editora do Site: Ainá Vietro Revisão: Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica: Eduardo Keppler Infografia: Anna Luiza Aragão Colaborador: Denis S. Cardoso (assistente de arte)
o país caminha a um ritmo muito aquém do esperado rumo à tão apregoada
COMERCIALIZAÇÃO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Executivos de Contas: Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Rogério Ferreira – rogerio@springcom.com.br
ameaçar as conquistas históricas dos trabalhadores nem resultar em au-
MARKETING Marcia Leonardi, Elisangela Silva e Rafael Borsanelli
cial Previdência. Por que as reformas não avançam? O que o país perde com
ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Gerente Financeiro: Edison Arduino PROJETOS ESPECIAIS Kiko Mazziotti CIRCULAÇÃO Gabriela Beraldo
e necessária reforma previdenciária. Segundo as últimas projeções do Ministério da Previdência, o déficit para este ano deve ser de R$ 47 bilhões, motivado pelo reajuste de 7,7% aprovado em junho para as aposentadorias maiores que um salário mínimo. Diante de números tão expressivos – e, por que não dizer, assustadores –, a urgência de colocar em prática mudanças que desonerem o Estado, sem mento de impostos, torna-se indiscutível. Nesta edição da AméricaEconomia, trazemos como tema de capa o Espeisso? Além do aumento da procura por planos de previdência privada como alternativa de poupança para investimentos em educação e saúde são temas abordados no especial, que conta ainda com uma entrevista exclusiva com o ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas. No cargo desde março, o ministro afirma que o atual momento da econo-
Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Agosto de 2010) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica
mia é ideal para se fazer ajustes, desde que debatidos com a sociedade, e que
Circulação auditada por:
da idade mínima de aposentadoria, baseada na nova expectativa de vida.
SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretora Internacional de Marketing: Mica Selman Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Víctor Herrero (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Diretor de Circulação: Marcial Delcorto Gerente de Produção: Constanza del Río Moreno AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Paulina Saavedra, Catherine Lacourt e Evelyn Quezada AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando ESCRITÓRIOS Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise
há equívocos ao se falar do déficit da Previdência, além de defender a revisão Em um mês no qual a AméricaEconomia esteve entre as dez revistas do país no ranking “As Empresas Mais Sustentáveis Segundo a Mídia”, realizado pela Imprensa Editorial, temos uma entrevista com o empresário Eduardo Fischer, que escolheu a sustentabilidade como tema do megaevento SWU, que acontece em outubro e promete mexer com o show biz. A década perdida do México, a sede de poder do novo presidente da Colômbia, as executivas mais poderosas da América Latina e os avanços e equívocos da política externa do presidente Lula são outros assuntos desta edição. Aproveite a leitura. José Roberto Maluf
ASSINATURAS Central de Atendimento Tel: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.
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cartas OTIMISMO EXAGERADO Preocupa-me ver o otimismo do ministro Guido Mantega (“Política Industrial na Veia”, AméricaEconomia No 388, junho, 2010). O Brasil tem crescido, está melhor do que antes, mas não está pronto para um rápido crescimento. Os problemas de infraestrutura, os entraves burocráticos, o péssimo sistema judiciário e os imbróglios tributários dificultam a realização de negócios. É um sistema que favorece apenas os brasileiros. O boom de investimento estrangeiro direto no país esconde histórias de investidores que perderam dinheiro e tempo tratando de levar seus negócios adiante. Além disso, as altas cifras de crescimento estão infladas por estímulos fiscais fora de controle e por um BNDES que empresta a taxas de juros mais baixas que a inflação. Não é que o Brasil vá fracassar, mas é preciso ser realista, pois a conhecida autoconfiança brasileira poderá terminar em crise, levando o restante da região junto. ALBERTO FRANCÉS – BOGOTÁ, COLÔMBIA
PARABÉNS I Os membros da alta administração do Banco da Amazônia, diretores e membros dos Conselhos de Administração e Fiscal, têm recebido a AméricaEconomia, e todos têm derramado elogios à qualidade das reportagens e da edição da revista.
índice de empresas Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.
3G Americas
74
Frost & Sullivan
77
Panasonic
80
AC Group
34
Gávea
16
Patrimóvel
16
Alexa
71
GBarbosa
22
Pearson
17
Alfa
51
General Motors
26
Pepsico México
26
Americanas
72
Global Think
78
Perini
22
Andes Wines
31
Gol
14
Petrobras
26
Apple
78
71
Porto Seguro
63
Atakarejo
25
Gruma
51
Posco
17
Azimut-Benetti
20
Grupo EBX
14
Racon Consórcios
21
Banco Santander
64
Grupo Garcia Jarag. 53
Research in Motion 76
Bimbo
51
Grupo México
46
Ricardo Viveiros
31
Blue Tree Hotels
30
Grupo Totalcom
18
RollerGen
80
Boston Cons. Group 47
Handsoft
78
Rumo Logística
16
Bradesco Vida e Prev.64
Heineken
18
Sack’s
16
Brasil Agro
Humphreys
24
Sage
32
Brookings Institution 43
Hypermarcas
33
Scansystem
80
Buendía & Laredo
48
Ipiranga
Schaefer Yachts
21
Camargo Corrêa
17
Itaú Unibanco
SEB
17
CANTV
73
Itaú
Signals Telecom
78
77
Carcon Automotive 28
8 63 8
JP Morgan
33
Sony
80
Cemex
51
La Asuncena
34
Spotlight Hotels
30
Cencosud
22
LLX
14
Submarino
72
Cisco
74
London School Econ.43
SulAmérica
63
Codelco
23
Lopes
16
TAM Viagens
Conaprole
78
Louis Vuitton
16
CHARLES CORRÊA (ASSESSOR DE GABINETE) – AMAZONAS, BRASIL
Telefónica
Consult Mais
56
Magazine Luiza
29
Tendências Consult. 56
Consulta Mitofsky
48
Max Planck
31
Texas Pacific Group 16
PARABÉNS II
DCNS
53
Mercantil Rodrigues 22
TGA Logística
34
Notável a edição do ranking das 500 Maiores Empresas da América Latina (AméricaEconomia No 389, julho, 2010). A análise dos dados nos ajuda a compreender o avanço das companhias da região. É lamentável o atraso registrado pelas corporações mexicanas, mas compreensível pela situação do país.
Dedini
53
MetLife
26
Thales
53
Delta Air Lines
14
Mobext
77
Triaxes Consultoria 56
Dia
32
MPX
14
Univ. Johns Hopkins 48
ARTURO GÓMEZ C. – MONTERREY, MÉXICO
ERRATA: Na reportagem “Aposta Global”, publicada na edição 389 (julho, 2010), publicou-se erroneamente o cargo de Marcelo Xavier como porta-voz da empresa Braskem. Xavier é da comunicação externa da companhia.
8 78
Diálogo Interamer. 43
Múltipla Engenharia 17
Vale
Dongkuk
17
Navita
76
Vila Nova Conc.
16
E&J Gallo
31
Nemak
51
Viña Casa Silva
31
Enersis
23
Nestlé
18
Visa
67
ESPM
53
Nivea
8
Vivo
Estrela
8
Ferreti Group Fiat Fit Research
20 8 25
Nuclep
Odebrecht
17, 51
8
53
Vulcabras
14
16, 53
Walmart
72
OGX
14
Oi
18
12 AméricaEconomia Agosto, 2010
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Grande. Walter Pinheiro Secretário de Planejamento Estado da Bahia
Oportunidades de investimento e desenvolvimento para operadores, incorporadores, governo e investidores Marcio Lacerda Prefeito Belo Horizonte
Nelson Siffert Superintendente de Infra-Estrutura BNDES
A única conferência no Brasil dedicada a TODOS os setores de infra-estrutura Ouça dos melhores especialistas nos setores brasileiros de trens, aeroportos, energia, óleo e gás, portos e agricultura Lucre com os setores em progresso no mais aquecido mercado de infraestrutura do mundo Descubra as melhores oportunidades de investimento com o auxílio das mentes mais brilhantes no Brasil Crie sua network e faça negócios Mais de 250 incoporadores, investidores e representantes presentes do governo
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pistas
A passos largos PUBLICAMOS A Vulcabras, que nos últimos dez anos era desta-
Minhas milhas, suas milhas
que de crescimento, amargou queda de 8,4% no faturamento bruto e de 40,8% no lucro líquido no primeiro semestre de 2009. Com redução nas exportações e acossada no mercado interno pelas importações chinesas, a empresa vê pouca margem para reagir. (“Dura na Queda”, AméricaEconomia No 379, setembro, 2009)
O NOVO O aquecimento do mercado doméstico, somado à implantação de tarifas anti-dumping, já surtiu efeito: a empresa registrou aumento de 19,5% nas vendas do primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009. Além disso, comunicou que espera exportar 3 milhões de pares de sapatos. PUBLICAMOS Um ponto em que a con-
PUBLICAMOS O cultivo de coca no Peru aumentou e se espalhou para fora dos núcleos tradicionais. “Se continuarmos assim, em 2013, o Peru tomará o lugar da Colômbia como principal produtor mundial de folha de coca”, diz o pesquisador Jaime Antezana. (“Sem Freio”, AméricaEconomia No 386, abril, 2010)
O NOVO Uma redução de 16% na superfície destinada à produção de coca na Colômbia fez do Peru o maior produtor da folha antes do esperado. A informação foi divulgada pelo Escritório de Drogas e Crimes das Nações Unidas. Segundo o órgão, atualmente, o Peru é responsável por 45% de toda a produção de coca da região andina, com 119 mil toneladas cultivadas em 2009.
O NOVO A Gol fechou acordo com a norte-americana Delta Air Lines, por meio do qual os membros do programa de relacionamento das duas empresas acumulam milhas nos voos operados pelas companhias. Em nota, a Gol afirmou que isso incentivará os passageiros a voar para a América do Norte e a Ásia. O programa da Delta conta com 81 milhões de membros; já o Smiles tem 6,9 milhões de participantes. As empresas ainda solicitaram autorização para um acordo de compartilhamento de voos.
SEM DESCANSO PUBLICAMOS OGX, MPX e LLX, empresas do Grupo EBX, desembolsaram cerca de R$ 2,5 bilhões na construção de usinas térmicas, na exploração de petróleo e gás e em portos. Sem dúvida, não basta uma “pitada de sorte”: são necessárias visão e estratégia certa. (“O Filho do Sol”, AméricaEconomia No 385, março, 2010)
O NOVO Para Eike Batista, controlador do Grupo EBX, parece que a estratégia agora é não parar de investir. Em julho, o empresário anunciou um desembolso de R$ 34,8 bilhões para o estado do Rio de Janeiro até 2012. Os maiores montantes serão destinados a projetos de geração de energia (R$ 15 bilhões) e em siderurgia (R$ 9 bilhões), em parceria com a chinesa Wisco.
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Foto: Stephanie Colasanti/AFP com montagem de Denis S. Cardoso
MÁ LIDERANÇA
corrência no setor aéreo tem ficado mais evidente é nos programas de milhagem. Eles têm se convertido em fonte de receita para as companhias, e a Gol tem feito esforços para valorizar a marca Smiles. (“Mudança de Rota”, AméricaEconomia No 389, julho, 2010)
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negócio fechado GÁVEA E TEXAS PACIFIC GROUP LOUIS VUITTON
À francesa O grupo francês Louis Vuitton (LVMH) adquiriu 70% da empresa brasileira de varejo online Sack’s, especializada em perfumes, maquiagens e cosméticos. Com o negócio, a LVMH traz ao país a Sephora, sua marca de comércio eletrônico. A meta é, além de desenvolver uma plataforma local de vendas, levar a marca para as lojas físicas. Segundo nota emitida pela compradora, o empresário Carlos André Montenegro e seus sócios na Sack’s – a Albatroz Participações e Marcelo Franco – continuarão com participação de 30% no negócio.
Novos sócios Os fundos de investimento Gávea e Texas Pacific Group (TPG) fizeram um aporte de R$ 400 milhões na Rumo Logística, empresa de transporte ferroviário controlada pela Cosan. Os novos sócios vão ficar, cada um, com 12,5% do negócio (25% no total). A Cosan manterá os 75% restantes. Segundo a processadora de cana-de-açúcar, os recursos fortalecerão a estrutura de capital da Rumo. VALOR: R$ 400 milhões
VALOR: Não informado
ODEBRECHT
No Peru A construtora brasileira Odebrecht planeja investir US$ 10 bilhões, nos próximos cinco anos, no Peru, principalmente na área de hidrelétricas. A empresa tem participação em projetos de diversos segmentos naquele país, desde o energético até o rodoviário e o portuário. VALOR: US$ 10 bilhões
LOPES
A Lopes, que atua na área imobiliária, foi às compras no mês de julho. A empresa adquiriu 51% das cotas representativas do capital social da imobiliária Vila Nova Conceição, de São Paulo, por R$ 7,1 milhões. Além disso, ampliou sua participação na Patrimóvel, que era de 10%, para 20,01%, em um negócio de R$ 10 milhões. O contrato assinado entre as empresas também prevê uma opção de compra de outros 30,99%, o que totalizaria R$ 51,5 milhões. VALOR: R$ 7,1 milhões VALOR: R$ 10 milhões
Fotos: iStockphoto
Ao ataque
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ELETROBRAS
Rumo à América
VALE
A Eletrobras avalia a compra de participações em pequenas empresas de transmissão e de geração de energia renovável nos EUA. Segundo Sinval Gama, superintendente de Operações da Eletrobras no exterior, a “aquisição de algo como 10% de participação em uma ou duas empresas de pequeno porte” ajudará a estatal a “entender como funciona o modelo deles para que, no futuro, possamos participar dos grandes leilões que o governo dos EUA está prevendo em geração renovável e transmissão associada, para limpar sua matriz energética”. Embora não tenha revelado nomes, o executivo disse que a Eletrobras está estudando 11 empresas. Até 2020, 10% da receita da Eletrobras deve ser originada no exterior. VALOR: Não informado
Nova parceira A coreana Posco, uma das maiores siderúrgicas do mundo, participará, ao lado da Vale e da Dongkuk, também coreana, do desenvolvimento do Complexo Siderúrgico do Pecém, no Ceará. “A entrada deste novo sócio agrega ainda mais valor, pois contaremos com a tecnologia e a experiência operacional da Posco em usinas siderúrgicas integradas de grande porte”, diz Aristides Corbellini, diretor de Siderurgia da Vale. O complexo, que deve entrar em operação em 2014, terá capacidade inicial para produzir 3 milhões de toneladas de placas de aço para exportação. A previsão é de que os investimentos totalizem US$ 4 bilhões, dos quais 50% virão da Vale; 30%, da Dongkuk; e 20%, da Posco. VALOR: US$ 800 milhões
CAMARGO CORRÊA
Lado a lado A Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário fechou uma parceria com a Múltipla Engenharia para a construção de um empreendimento no Bairro Vila São Francisco, em São Paulo. O VGV (Valor Geral de Vendas) do projeto é de R$ 87 milhões. A Camargo Corrêa terá 60% do empreendimento e a Múltipla, 40%. O lançamento deve ser ainda em 2010. VALOR: R$ 87 milhões
PEARSON
Educação O grupo inglês Pearson adquiriu parte dos sistemas de ensino COC, Pueri Domus, Dom Bosco e Name, todos do SEB (Sistema Educacional Brasileiro). A transação movimentou R$ 888 milhões. Desse total, R$ 613 milhões serão pagos aos controladores e, o restante, aos minoritários. Desde que chegou ao Brasil, em 2006, a Pearson vinha tentando adquirir empresas brasileiras do setor. VALOR: R$ 888 milhões
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NEGÓCIOS Cultura
Festival verde LUÍS EDUARDO LEAL, DE SÃO PAULO
O
publicitário Eduardo Fischer, do Grupo Totalcom, tem um antigo interesse por música. Em 1993, participou da organização do histórico reencontro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de dois ícones da MPB, João Gilberto e Tom Jobim, que estavam brigados havia anos. Antes, associou marcas de cervejas a um dos mais populares eventos culturais do país, o Carnaval carioca. Em 2010, Fischer reestreia em arena musical diferente: 200 mil metros quadrados de uma fazenda em Itu, no interior de São Paulo, onde será realizado, em outubro, o SWU Music & Arts Festival. SWU é a sigla de Starts With You (começa com você, em inglês), um movimento de conscientização sobre a necessidade de preservar o meio ambiente que, observa o publicitário, pode decorrer de pequenos gestos dos consumidores, como reciclar o lixo, desligar a luz, poupar água ou plantar uma árvore.
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EDUARDO FISCHER: CULTURA AMBIENTALMENTE ENGAJADA
Além da preocupação ambiental, Fischer tem outro grande interesse, o profissional: atingir o consumidor em um cenário de negócios novo, em que a internet e as redes sociais competem com a mídia tradicional pela atenção de todos. Boa parte da mobilização para o festival de música está sendo feita com base na web e em redes sociais, embora inserções em meios tradicionais também tenham sido programadas. “O Grupo Totalcom estuda, há algum tempo, as mudanças nos hábitos de mídia. Todo o setor de publicidade e propaganda está bastante focado nisso”, diz. E o resultado, garante, já demonstra superar as expectativas: em um mês, o site recebeu 500 mil visitas e teve 1,5 milhão de page views. Grandes corporações e marcas, como Oi, Nestlé e Heineken, decidiram patrocinar o SWU que, na concepção de Fischer, deve culminar no festival de artes e música de outubro. Bandas nacionais e internacionais se apresentarão em um ambiente natural, em que o lixo será reciclado; a energia, gerada por biodiesel e painéis solares; e a água, tratada no próprio local. Em um evento paralelo, o Global Sustainability Symposium, o público, cuja projeção é de 300 mil pessoas ao longo dos três dias de festival (9, 10 e 11 de outubro), poderá acompanhar palestras de especialistas sobre iniciativas de preservação ambiental. “A preocupação com a sustentabilidade é compartilhada por empresas e consumidores – basta ver o que aconteceu recentemente no Golfo do México. Com o SWU, queremos alimentar ideais que protejam essa transformação”, explica Fischer. Além do apoio à boa causa ambiental, será um laboratório para testar o efeito da internet e das redes sociais na comunicação direta com o público. “No final do ano, teremos dados para fazer uma análise cuidadosa”, diz Fischer, que ainda não revela o investimento na organização do festival e na contratação de artistas internacionais, como Dave Matthews, uma das atrações comprometidas com a onda verde.
Foto: F. Bitão; Ilustração: iStockphoto
EMPRESÁRIO PROMOVE A MÚSICA, AS REDES SOCIAIS E A SUSTENTABILIDADE EM UM MEGAEVENTO DE TRÊS DIAS
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apresenta:
SEMARC >2010 Relacionamento com o Consumidor: Perspectivas para a Próxima Década
O MELHOR EVENTO SOBRE RELACIONAMENTO COM O CONSUMIDOR DO BRASIL! O futuro das relações de consumo na Era das redes sociais e da geração Y. PAINÉIS CONFIRMADOS: >
Tecnologia e Relacionamento: Linguagens, Expectativas, Desafios e Perspectivas por meio da Internet e das Redes Sociais.
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A Geração Y: Novos Talentos, Novos Consumidores.
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Educação Financeira e Consumo Sustentável.
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NEGÓCIOS Indústria Náutica DIVERSIFICAÇÃO, TECNOLOGIA E AUMENTO DA DEMANDA IMPULSIONAM O MERCADO DOS ESTALEIROS INSTALADOS NO BRASIL
O
auge da maior crise econômica das últimas décadas estava por vir. Mas não parecia. Quando o empresário Edenir Silva, 46 anos, decidiu comprar um barco de 50 pés, por cerca de R$ 3 milhões, não imaginava que teria de esperar mais de seis meses para navegar. Além dos 90 dias normais de produção, havia uma fila de espera que desdenhava das notícias financeiras internacionais. Somente em fevereiro de 2009 o empresário pôde ir a Santos, no litoral de São Paulo, buscar o barco e navegar com a família até Florianópolis. No caminho, um ciclone extratropical e ondas de três metros batizaram a embarcação.
“Ela passou bem pelo primeiro teste”, diz Silva. “Navego há seis anos e, de lá para cá, deu para perceber a evolução dos barcos fabricados no Brasil.” Tal evolução não aconteceu só em tecnologia. O aumento do interesse dos brasileiros pelo mar, as novas áreas de prática e a economia doméstica aquecida fizeram o mercado ganhar projeção. Para se ter ideia, somente entre 2006 e 2008, a produção dos 150 estaleiros instalados no Brasil aumentou 25%, somando 4,4 mil unidades por ano.
VENTO EM POPA Os bons ventos fazem os empresários apostarem alto. Em abril, o Ferretti
Group, tradicional no mercado náutico italiano, licenciou, pela primeira vez, uma empresa de fora para usar sua marca. Essa empresa é o antigo estaleiro Spirit, de São Paulo, que agora atende pelo nome de Ferretti Group Brasil. “Os barcos são construídos e montados aqui, e importamos componentes como motores e instrumentos de navegação. Assim ganhamos em competitividade e preço”, diz Nelson Waisbich, diretor do Ferretti Group Brasil. Outra italiana que colocou o Brasil em seu radar é a Azimut-Benetti, que anunciou, em julho, o investimento de 80 milhões de euros, em cinco anos, para produzir iates em Itajaí, em Santa
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DANIEL CARDOSO, DE FLORIANÓPOLIS
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150 são os estaleiros instalados no Brasil. O setor viu sua produção aumentar 25% em dois anos Catarina. A fábrica, que deverá ser inaugurada no primeiro semestre de 2011, terá capacidade para cem unidades ao ano, em um espaço de 200 mil metros quadrados. Para sustentar o crescimento esperado, o Ferretti Group Brasil também está de mudança marcada, ainda neste ano, para uma nova fábrica, em Vargem Grande Paulista, no estado de São Paulo, onde terá capacidade de triplicar a produção, para 120 barcos por ano. E não são só as marcas estrangeiras que estão otimistas com o mercado. O estaleiro Schaefer Yachts, localizado em Palhoça, próxima a Florianópolis, também observa aquecimento das vendas de seu modelo mais nobre: a Phantom 500, que conta com todos os mimos e luxos de um iate de sonhos. E, em breve, lançará a Phantom 600, com preço que pode chegar a R$ 6 milhões, dependen-
do dos equipamentos de bordo. Para seguir em alta velocidade, a Schaefer Yachts também vai inaugurar uma fábrica à beira de um rio, em Biguaçu, na Grande Florianópolis, que reduzirá o tempo de produção de cada unidade em até 30%. O investimento previsto é de R$ 12 milhões. Além da fábrica, o estaleiro precisará driblar também a escassez de mão de obra especializada no país. “Absorvemos muito da engenharia naval, mas não há oferta o suficiente”, afirma Guilherme Andrade, gerente de Vendas e Exportação do estaleiro. “Uma das soluções que encontramos é contratar engenheiros de outras áreas e dar treinamento interno, oferecendo cursos de capacitação”, completa.
NOVOS TRIPULANTES Hoje, a empresa produz 25 barcos por mês. O carro-chefe é a Phantom 300, com preço perto dos R$ 350 mil. O modelo é focado na classe média – grupo que, pouco a pouco, vem se juntando ao mundo náutico, graças à maior diversificação de modelos e preços, somada ao reforço de novas formas de pagamento. Segundo Jorge Luiz Bof, gerente da unidade Racon Consórcios de Florianópolis, uma das formas que vêm se destacando é o antigo consórcio. Bof vende em média cinco cartas de crédito por mês. As cartas, em geral, são de R$ 100 mil a R$ 120 mil, parceladas em 80 a 100
meses, com foco nos produtos de 25 a 30 pés. “Quem adere, em geral, são clientes que já têm algum barco e, por isso, não têm pressa em serem contemplados no sorteio”, conta Bof.
NACIONALISMO NÁUTICO Outro fator que vem alimentando o otimismo dos fabricantes é que a Argentina, que por muito tempo foi referência de qualidade desses barcos, já não atrai tanto os olhares dos navegadores. Felipe de Linhares é administrador de empresas e representante de estaleiros do país vizinho. Segundo ele, a Argentina tem um mercado náutico mais consolidado, com uma gama maior de estaleiros e muitas lojas de produtos náuticos. Porém, começou a perder força no Brasil a partir da década de 1990, com a melhora da qualidade do produto nacional. O preço, outro antigo atrativo, também não surte mais o mesmo efeito.“Lá, o preço é muito melhor, mas, quando o barco chega aqui, a carga tributária pesa muito, e ele deixa de ser vantajoso”, explica Linhares, indicando que, quando se trata de equilíbrio entre preço e qualidade, os bons ventos sopram para o lado brasileiro. NA PÁGINA AO LADO, A FERRETI 470. ACIMA, ATIVIDADE NO ESTALEIRO SCHAEFER E, À ESQUERDA, DETALHES DA PHANTOM 500
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NEGÓCIOS Varejo
Paulmann HORST PAULMANN: CARACTERÍSTICA CONTROLADORA QUE O AJUDOU A CONSTRUIR UM IMPÉRIO DO VAREJO AGORA PODE COLOCÁ-LO EM RISCO
JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO, E GRACIELA ALVAREZ, DE SALVADOR
“A
inda não caiu a ficha.” Foi assim que o empresário Pepe Faro resumiu, no começo de julho, a entrega de sua rede de supermercados Perini ao grupo chileno Cencosud. Com essa compra, Horst Paulmann, dono do grupo, somou sua terceira aquisição no Nordeste do país. Antes dela, o empresário já havia comprado as redes GBarbosa e Mercantil Rodrigues, em 2007, numa investida que antecipava a onda de consolidações que se veria depois no tabuleiro dos grandes players do varejo que atuam no Brasil. O genro de Faro, Roberto Adami,
afirma que não havia interesse em vender a rede quando as negociações foram iniciadas, em setembro de 2009. “A nossa intenção era passar de uma gestão familiar a uma profissional, com expectativa de expansão para outros estados do Nordeste”, afi rma Adami, que foi convidado pelo grupo chileno a continuar à frente da empresa, como gerente-geral de operações. Mas, segundo o executivo, havia um diferencial em Paulmann que fez o espanhol Pepe mudar de ideia: o estilo centralizador do chileno-alemão, que, mesmo à frente de um grupo que ven-
de mais de US$ 10 bilhões ao ano, com operações em cinco países, que cuida de todos os detalhes da gestão. “Tenho certeza de que seu Pepe não venderia a Perini se não fosse para esse grupo. Eles até parecem irmãos na forma de gerir”, diz Adami. O que pareceu uma vantagem para Adami tem se traduzido em prenúncio de problema para a rede. A companhia tem se esforçado para entrar em um processo de modernização e equiparar-se com os modelos de gestão das grandes multinacionais, mas esse esforço não acompanha o forte ritmo de crescimento da empresa. O fato é que, enquanto Paulmann, de 75 anos, estiver no comando, quebrar sua resistência não será tarefa fácil.
EXECUTIVOS PARA QUÊ? Desde que começou sua vida como empresário, com um pequeno restaurante na cidade chilena de Temuco, em 1952, Paulmann gosta de estar a par de tudo.
Fotos: Divulgação
AS VITÓRIAS E OS FRACASSOS DA REDE DE VAREJO CHILENA QUE AMPLIA ATUAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO PARECEM TER UMA SÓ EXPLICAÇÃO: O ESTILO CENTRALIZADOR DE SEU DONO
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Paulmann A empresa segue com um estilo familiar no qual o dono, controlador de 65% do negócio, participa de todas as decisões. A empresa não tem governança corporativa ou um gestor profissional, como fazem muitos conglomerados familiares. Praticamente metade de sua direção é formada por seus fi lhos, Manfred, Peter e Heike. Paulmann geralmente questiona as decisões de seus executivos e é reconhecido por ser rude e agressivo com seus funcionários, inclusive com os gerentes da linha de frente. Esse estilo provocou o pedido de demissão de, ao menos, dez executivos durante os últimos anos, sendo o último em meados de julho. “Quase todos vinham de empresas multinacionais e tinham muita experiência”, diz um consultor em gestão que prefere não ter o nome revelado. “Quando eles veem que as decisões são tomadas pela pró-
pria família, sentem que suas funções não estão muito claras.” É um caminho contraditório, se comparado ao vertiginoso crescimento do Cencosud. Em 2001, a empresa vendia somente US$ 1,4 bilhão e tinha operações no Chile e na Argentina. No ano passado, faturou US$ 10,5 bilhões, ganhando o rótulo de terceira maior empresa do Chile, depois das gigantes Codelco e Enersis. É o varejista latinoamericano mais internacionalizado, com operações no Brasil, no Peru, na Argentina e na Colômbia, além do Chile.
Sebastián Piñera, Laurence Golborne. O executivo foi artífice da expansão internacional da empresa, de sua abertura na Bolsa e de seu endividamento para alcançar um crescimento maior. Golborne conseguiu formar um grupo de gerentes de divisão alinhados, mas logo entrou em conflito com ROBERTO ADAMI, DA BRASILEIRA PERINI: MANTIDO COMO GERENTE-GERAL
O POLVO PAULMANN O primeiro grande conflito no Cencosud foi com o gerente-geral que cogitou a profissionalização da companhia: o hoje ministro de Minas do governo de
Em 2009, o Cencosud faturou US$ 10,5 bilhões com suas operações em cinco países Agosto, 2010 AméricaEconomia 23
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NEGÓCIOS Varejo Paulmann, que relutava em aceitar seu estilo. Tudo terminou com a sua saída da empresa e a entrada do fi lho mais velho do empresário, Manfred, no cargo de vice-presidente executivo. Hoje, Manfred divide a administração com o gerente-geral corporativo, Daniel Rodríguez, um executivo de muito baixo perfi l, mas dedicado à gestão interna e que tem total confiança do empresário. No papel, a administração de cada país está com os gerentes corporativos, pessoas da confiança de Paulmann que, na prática, apenas respondem às suas ordens. O empresário está cercado de homens de confiança, e muitos deles com ótima capacitação. Ainda assim, ficam as dúvidas. “É difícil que o ritmo de crescimento acelerado da empresa não influa na gestão da companhia se for mantido por muito tempo, e por isso é preciso pensar em mudanças”, diz o analista Carlos Ebensperger, da classificadora de risco Humphreys, de Santiago. O dono do Cencosud se deu conta disso.
Por isso, decidiu discutir algumas transformações na empresa, com objetivo de nivelar a gestão à de uma multinacional. Mas essa transformação somente terá sucesso se Paulmann estiver disposto a ceder, dizem os que o conhecem. E aí mora o problema. Paulmann está são, muito ativo, e seus pontos de vista continuam sendo chaves para o andamento dos negócios, apontam alguns executivos que trabalharam com ele até pouco tempo. “Ele não vai mudar”, garante um executivo que saiu recentemente da empresa e não quis se identificar.
rendido bons resultados financeiros. E o mercado crê no futuro da companhia. As ações rentabilizaram cerca de 50% neste ano, e os analistas confiam que elas seguirão em alta. Eles acham, inclusive, que o avanço na era G olbor ne foi imprescindível para isso. Para o mercado, o envolvimento dos donos parece ainda não ter chegado a um nível incômodo. “A pa r tic ipação constante de seu dono permitiu à empresa chegar até onde chegou”, diz Ebensperger, da Humphreys. “É uma das mais acompanhadas pelos investidores e pelo mercado em geral, e a governança corporativa foi validada por eles”, diz o analista. A empresa conta com um diretor independente, em concordância com a lei. Segundo detalha o próprio Paulmann, o valor das ações do Cencosud cresceu 100% em apenas algumas semanas. “Desde 2008, quando a crise se instalou, crescemos 350%”, diz o dono da companhia. Embora a operação funcione bem, muitos acham que, com uma administração mais profissional, poderia ser ainda melhor. “A empresa funciona como um relógio”, afirma outro ex-gerente. “Mas uma estrutura profissional poderia trazer melhores resultados.” É difícil que, com uma operação tão bem armada, a companhia perca dinheiro por conta de sua pouca flexibilidade. Entretanto, muitos se perguntam quanto mais ela poderia ganhar caso se profissionalizasse de verdade. “Acredito que bastante, pois tem perdido oportunidades.” Um exemplo: desde a era Golborne, a empresa não avançou mais na Colômbia, um dos mercados de maior crescimento na região. Também não retomou sua intenção de entrar no México, frustrada depois do fracasso da associação com a Gigante.
800
milhões de dólares é o orçamento do grupo para expandir-se em 2010
TIME QUE ESTÁ GANHANDO? Apesar dos sinais de alerta motivados pelo forte crescimento, o estilo de gestão de Paulmann até agora tem lhe
COSTANERA CENTER, EM SANTIAGO: O PROJETO, RECÉM-RETOMADO, INCLUI UM EDIFÍCIO DE 70 ANDARES
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LAURENCE GOLBORNE: DESENTENDIMENTOS COM PAULMANN RESULTARAM NA SAÍDA DO EXECUTIVO DA COMPANHIA
SEM DESCANSO Seja como for, os planos de expansão do grupo continuam de vento em popa. “Neste ano, investiremos US$ 800 milhões”, afirmou Paulmann, num evento em Lima, em meados de julho. Um dos principais focos será o Peru, onde o Cencosud desembolsará US$ 230 milhões na abertura de dez novas lojas, que se somarão aos 59 supermercados que administra hoje com as marcas Wong (voltada aos segmentos mais altos da população) e Metro (que compete por preços). O mais provável é que, antes que o ano termine, sejam abertas novas lojas da multimarcas Paris – o segundo player desse setor no Chile – em vários shoppings de Lima. Nesses locais também haveria uma sucursal do banco de mesmo nome, cuja licença está sendo avaliada na Superintendência de Banco e Seguros local. O Brasil também é chave. “Temos muitas expectativas no país”, diz Paulmann. “Antes da crise, compramos o GBarbosa, e os resultados foram muito bons. Esperamos continuar avançando nesse mercado.” Ainda que não existam dados concretos, afi rma-se que o conglomerado está negociando com o supermercado baiano Atakarejo, que tem cinco unidades e emprega 1,3 mil pessoas. O próprio dono da rede reconhece que está no radar da chilena, ressaltando que não tem interesse na
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venda. “Somos o único grupo local que incomoda a concorrência”, diz Luiz da Costa. “Se formos comprados, não será bom para o consumidor local.” Mesmo com tais metas, o foco central do grupo agora é rentabilizar as operações adquiridas. “A empresa experimentou uma forte expansão, nos últimos cinco anos, no Chile e no exterior, com crescimento orgânico e aquisições, em um mercado com maior concorrência”, diz Ebensperger, da Humphreys. Outro projeto que, atualmente, concentra a atenção de Paulmann é o complexo imobiliário Costanera Center, em Santiago. Quando for inaugurado, no segundo semestre de 2011, terá, além de shopping e hotel, o edifício mais alto da América do Sul, com 300 metros. Mais do que uma excentricidade em um país sísmico, a obra é outro símbolo das contradições do Cencosud. Em plena crise econômica, Paulmann resistiu a interromper o projeto, de mais de US$ 700 milhões, ignorando o conselho de seus executivos. Logo voltou atrás, parando as obras no começo de 2009. A precaução, entretanto, durou pouco. No final desse mesmo ano, Paulmann decidiu relançar o Costanera, como símbolo da reativação da economia chilena. Segundo pessoas próximas a ele, a divisão imobiliária do grupo – cujo gerente, Vitor Ide, pediu demissão em fevereiro deste ano – é a que sofre as maiores intromissões do empresário. “Ele é o arquiteto-chefe”, diz um executivo que trabalha no mercado imobiliário. Mas todos reconhecem que, sem ele, essa obra jamais teria existido. Da mesma forma que, sem ele, seria difícil imaginar o conglomerado Cencosud como é hoje. O que acontecerá quando Paulmann não estiver mais presente? Hoje, ninguém no Chile quer imaginar isso. “Tudo depende dos sinais que os controladores dão neste momento”, diz Raúl Barros, analista da Fit Research. “O mercado teria de fazer sua leitura.”
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NEGÓCIOS Executivas
Damas
de
diamante APESAR DAS DIFICULDADES QUE AINDA PERSISTEM PARA AS MULHERES QUE BUSCAM PROJETAR-SE EM SUAS CARREIRAS, A AMÉRICA LATINA CONTA COM EXEMPLOS BRILHANTES DE EXECUTIVAS VENCEDORAS EQUIPE AMÉRICAECONOMIA
Ilustrações: Patricio Otniel
É
recorrente ouvir de mulheres que ocupam altos postos no mundo corporativo que a condição feminina lhes dá pouca margem para erros. Que as exigências a serem superadas em direção ao topo são maiores do que as colocadas no caminho dos homens. Ainda assim, há um grupo notável de mulheres que ocupam, com competência e determinação, postos de liderança nas maiores companhias da América Latina. Analisando algumas operações por país, vemos que, sobretudo no Brasil e no México, há belos exemplos de executivas que ignoraram a predominância masculina em determinados setores – como o automobilístico e o petrolífero – e hoje são responsáveis por administrar faturamentos bilionários. Nas próximas páginas, apresentamos o perfi l de algumas dessas mulheres. Do Brasil, começamos com a trajetória da engenheira Maria das Graças Foster, que trilhou um longo caminho até assumir a estratégica direção de Gás e Energia da Petrobras. Em outro contexto, outra engenheira, a norteamericana Denise Johnson, construiu na General Motors uma carreira que a alçou, em pouco mais de 20 anos, das linhas de produção à presidência da GM no Brasil, a terceira principal operação da montadora em todo o mundo. E a empresária Luiza Trajano, cuja estratégia de negócio tem adquirido cada vez mais importância diante do movimento de forte consolidação da concorrência. Do México, por sua vez, destacamos a trajetória de Grace Lieblein, da GM México; de Paula Santilli, da Pepsico México; e de Carmina Abad, da MetLife.
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MARIA DAS GRAÇAS FOSTER PETROBRAS DIRETORA DE GÁS E ENERGIA DA
SEM LIMITES No restrito círculo de comando da Petrobras, há seis diretorias que se reportam diretamente ao presidente José Sergio Gabrielli. Uma delas, a de Gás e Energia, é ocupada desde setembro de 2007 por Maria das Graças Foster, primeira mulher a chegar tão alto dentro da maior companhia do país, com faturamento que supera os US$ 100 bilhões por ano. Para a mineira, de 57 anos, isso tem uma explicação simples. “O que a Petrobras demandou de mim foi conhecimento, estar disponível e ser pau para toda obra”, diz, em uma entrevista para o blog da petrolífera. Desde os 24 anos, quando a engenheira química entrou como estagiária na estatal, ela demonstra competência técnica e rigor suficientes para subir. No percurso, passou por postos como presidente da Petroquisa – Petrobras Química S/A e presidente da Petrobras Distribuidora. Quando chegou à diretoria de Gás e Energia, era a época em que o país vivia uma crise no fornecimento de gás da Bolívia, impactando na geração de energia a partir das termelétricas. O resultado da gestão de Maria das Graças é que a Petrobras já tem planos de dobrar sua capacidade de geração de eletricidade. Isso significa “um acréscimo de 7,5 mil MW de geração e 35 milhões de metros cúbicos de gás natural”, como declarou a própria executiva. Nesse caminho, a executiva ainda conta com outra vantagem em seu favor: a simpatia da candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff, que a ajudou a ganhar brilho próprio. Tal proximidade chegou a provocar até boatos, há alguns anos, de que ela seria o nome mais cotado para eventual substituição de Gabrielli na presidência da Petrobras. Com a possibilidade de Dilma chegar à Presidência, ninguém sabe qual será o limite no horizonte de Maria das Graças Foster.
PAULA SANTILLI PRESIDENTE DA PEPSICO NO MÉXICO
SEDE DE EXPANSÃO SE Ag gestão de Paula Santilli é apontada por muitos analistas como a gra grande responsável pela estabilidade da Pepsico México mesmo em tem tempos de crise. Essa executiva argentina, com larga experiência no me mercado de refrigerantes e que já ocupou postos gerenciais em diferen rentes multinacionais, assumiu as rédeas da filial mexicana em 2008. Seu objetivo atual – e para o qual destinou US$ 1 bilhão – é expandir as fáb fábricas da companhia e incrementar o desenvolvimento de produtos e de suas campanhas de marketing.
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NEGÓCIOS Executivas
DENISE JOHNSON PRESIDENTE DA GM DO BRASIL
LÍDER MULTIFACETADA MULTIFACET TAD Desde o início de julho julho, o, a General Motors do Brasil, terceira principal operação do grupo em coman todo o mundo, é comandada pela engenheira mecânica Denise Johnson, uma norte-amerimã ãe de d três fi lhos, que construiu, a partir de 1989, uma carreira meteórica cana de 43 anos, mãe produçção da empresa nos Estados Unidos e no Canadá. A escolha da executiva, em linhas de produção um montadora no Brasil, quebra uma tradição na GM de privilegiar a primeira a liderar uma xpe profissionais com ex experiência no setor de finanças – e, por vezes, pouca familiaridade com rea al da d indústria, a operação – para ocupar o cargo de presidente. outro lado bem real nhe com conhecimento e experiência no desenvolvimento de pro“É uma engen engenheira com mo em planejamento estratégico. Trabalhou também na área operaduto, bem como ja, conhece o chão de fábrica. Esses conhecimentos e experiências são cional – ou sej seja, essenciaiis no n momento em que a GM programa uma ampla renovação de sua essenciais a de produtos no Brasil nos próximos dois anos”, avalia o consultor Julian linha Sem mp da Carcon Automotive. Semple, Em uma circunstância fervilhante como a atual, as habilidades m multifacetadas da nova presidente da GM no Brasil – além da exper riência direta na linha de montagem, Denise é pós-graduada em administração pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) – são muito bem-vindas. “O perfi l dela, que combina engenharia, d desenvolvimento de produto e as áreas estratégica e operacional, é i importante neste momento”, diz Semple.
GRACE LIEBLEIN DIRETORA-GERAL DA GM NO MÉXICO
GANHAR VELOCIDADE Grace Lieblein é outro nome forte da GM. Seu maior desafio como diretora-geral eral da empresa no México foi fazer com que a companhia superasse o período de recessão.. Os resultados mento cair 4,5% parecem dizer que ela estava no caminho certo. Depois de ver seu faturamento em 2009 na comparação com o ano anterior, a GM volta a sorrir. As vendass acumuladas da a de veículos em 2010 já somam 60.850 unidades, o que equivale a quase toda fabricação de 2009. “Não vou dizer que chegar aqui foi fácil, mas faço o quee amo”, assinala a engenheira industrial, nascida em Los Angeles.
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LUIZA HELENA TRAJA NO PRESIDENTE DO MAGAZINE LUIZA
SEMPRE PRESENTE O atraso foi mínimo, e insuficiente para alterar a calma de Luiza Helena Trajano ao cumprimentar os jornalistas. “Vocês estão sendo bem tratados?”, perguntava, mesa a mesa, no restaurante em que fez o anúncio oficial da aquisição da rede varejista Lojas Maia, em meados de julho, por um valor estimado em R$ 290 milhões. “Estar sempre perto é o jeito de ela liderar”, comenta uma amiga da presidente do Magazine Luiza, presente no evento. Já a própria Luiza se define como uma líder presente, mas descentralizadora. “Gosto de trabalhar em equipe. Às vezes, recebo e-mails de funcionários, que desabafam comigo”, conta, dizendo que, em alguns momentos, também exerce a função de psicóloga. Quem a ouve falar dessa forma não consegue imaginá-la como timoneira de uma rede que, com a nova aquisição, soma 611 lojas em 16 estados brasileiros. E que tem um objetivo muito claro: alcançar um faturamento de R$ 15 bilhões até 2015, mais do que o dobro das vendas estimadas para este ano, de R$ 6 bilhões. Para isso, a empresária afirma que continuará ampliando suas operações, chegando ao Rio de Janeiro e ao Espírito Santo e consolidando as outras praças. Um movimento imprescindível para que a rede continue entre as principais do mercado mesmo diante da união de Pão de Açúcar, Ponto Frio e Casas Bahia, de um lado, e da Máquina de Vendas, resultado da compra das redes Insinuante e City Lar pela Ricardo Eletro.
CARMINA ABAD DIRETORA GERAL DA METLIFE NO MÉXICO
P PULSO FIRME C Carmina tem uma longa história com a MetLife. Mais precisamente, desde o iníci cio dos anos 1990, quando a empresa ainda se chamava Seguradora Génesis. De lá para cá, foi diretora de Negócios Institucionais da companhia na Espanha, de on onde voltou em 2002, e participou de uma série de fusões e aquisições do grupo. O p próximo desafio de Carmina será o de consolidar a fusão da empresa com a nortea americana Alico, que foi comprada pela MetLife por US$ 15,5 bilhões. “Faremos u uma incorporação transparente”, assegura a executiva.
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movimentos
Como
anfitriã A aprovação no Senado, no começo de julho, da prorrogação dos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus até 2033, foi motivo de comemoração para Chieko Aoki, presidente das redes de hotelaria Blue Tree Hotels e Spotlight Hotels. Poucos dias antes da votação, a empresária havia inaugurado seu primeiro hotel em Manaus, com investimento de R$ 25 milhões. “Foi uma decisão tomada há cinco anos, pois já identificávamos um crescimento interessante na região para o nosso foco, voltado a hotéis de negócio.” Chieko confirma o bom momento e as oportunidades que se abrem em seu setor. Ainda que não divulgue números, destaca que a rede fechou o primeiro semestre com receita bruta recorde para o grupo, com crescimento de 15% em relação ao mesmo período de 2009. E promete não parar de investir no Brasil. “Até 2012, pretendemos inaugurar sete novos hotéis pelo país”, diz, numa ação que somaria 1.110 apartamentos à oferta da rede, que hoje é de 4.287. Reflexo da euforia pela Copa do Mundo de 2014? “Não. Nosso foco principal é a continuidade. Com esse projeto, estaremos em sete das 12 cidades-sede da Copa”, diz. Atualmente, a rede possui 24 hotéis, sendo 22 no Brasil, um no Chile e um na Argentina.
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO 30 AméricaEconomia Agosto, 2010
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BRASIL
gráfico
À PROVA DE FRAUDE No início do ano, um escândalo sacudiu a indústria vinícola francesa. A agência de controle do país descobriu que, entre 2006 e 2008, a norteamericana E&J Gallo tinha sido enganada. Os mostos a granel que importou nesse período não eram da cepa pinot noir, como foram vendidos, mas uma mistura de uvas merlot e sirah de baixa qualidade. Se, por um lado, o fato foi ruim para a França, por outro, serviu como estímulo a um grupo de pesquisadores chilenos da Universidade Federico Santa María, que criaram uma forma de definir quimicamente a composição de um vinho, em parceria com o instituto alemão Max Planck. A análise química desenvolvida permite, a partir de uma amostra, conhecer não apenas a uva, como a safra e o lugar de origem de um vinho. “Até hoje, 30% da composição de um vinho ainda não é identificada”, diz Hugo Peña, responsável pelo estudo. A tecnologia foi batizada de metabolomics e está sendo testada na Viña Casa Silva, com a cepa carménère. Para Maximiliano Morales, da consultoria Andes Wines, “tal sistema poderá respaldar a qualidade dos vinhos chilenos em nível internacional e impulsionar as exportações”. MATIAS RODO, DE SANTIAGO
No começo de setembro, o jornalista e escritor Ricardo Viveiros desembarcará em Cancún, no México. No cenário de belas praias, Viveiros será premiado por sua trajetória profissional e seu papel para o fortalecimento do setor gráfico latinoamericano, durante congresso do setor. O prêmio Benjamin Hurtado Echevarria foi criado em 2001 e envolve uma votação com todos os países participantes do Congresso Latino-Americano da Indústria Gráfica. Além dessa homenagem, Viveiros, fundador da Ricardo Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação, já ganhou uma medalha da Organização das Nações Unidas (ONU) por reportagens sobre direitos humanos e dois prêmios Esso de Jornalismo, por trabalhos em equipe. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
[ ] [ x]
Principais importadores de vinho engarrafado chileno Variação em % (jan-abr/2009 – jan-abr/2010)
582
21.936
Brasil
542
13.256
Dinamarca
420
13.498
Alemanha
376
10.736
Irlanda
343
10.014
Foto: 1 - Divulgação
China
328
9.322
Subtotal
8.919
232.887
Demais países
3.702
107.041
Total Fonte: Associação Viños de Chile
12.621
339.928
55,3
30,4
Total
Canadá
Demais países
19.260
Subtotal
766
27,2
11,6 6,5
6,4
-6,0
5,2
6,4
4,4
-17,3 -6,4
6,6
30,3
19,5
24,3
36,8
8,6
3,2
-8,7
China
21.281
Japão
Irlanda
788
Alemanha
59.498
Holandá
Dinamarca
54.086
2.148
79,7
88,9
Brasil
2.627
Estados Unidos
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MENINA DOS OLHOS Cada vez mais os investimentos das marcas estão migrando da publicidade para ações no ponto de venda. Isso é o que afirma Leonardo Lanzetta, sócio da agência Dia. Segundo Lanzetta, uma das principais tendências é o foco em ações no pequeno varejo. “Aí se concentra um consumidor que ganhou poder aquisitivo e agora passa a escolher marcas.” Outro foco importante, diz Lanzetta, é o marketing digital. “Hoje, as lojas estão perdendo as paredes; uma compra pode começar na loja, onde se vê um produto, e terminar no carro, com televendas por celular, ou em casa, pela internet”, diz. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
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FOME de
Neste ano, os acionistas da britânica Sage, especializada em sistemas de gestão, lançaram um desafio aos executivos da empresa: reverter a baixa representatividade dos países emergentes no faturamento da companhia, presente em 70 países. “A América Latina responde por apenas 3% das vendas”, conta Thierry Giraud, presidente da subsidiária brasileira da Sage-XRT e responsável pelas operações da empresa na região. Para cumprir essa tarefa, Giraud conta que a empresa, até então focada em grandes players, agora ampliou o foco para as médias empresas – com o que espera quintuplicar o faturamento –, bem como para a oferta de novos produtos. Para isso, o executivo não descarta a possibilidade de aquisições na América. “A companhia tem 400 milhões de euros em caixa e uma cultura de crescimento inorgânico; ou seja, compras são uma alternativa”, diz. No Brasil, a empresa tem mil clientes e espera crescer 13% em 2010. SOLANGE
MONTEIRO, DE SÃO PAULO
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Fotos: 2 - Getty Images; 3 - Ilustração: Denis S. Cardoso; 4 - iStockphoto
emergentes
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LIMPO
COMÉRCIO
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As empresas brasileiras do segmento de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos estão de olho no que o mercado da Colômbia pode oferecer. No ano passado, as exportações brasileiras desse segmento para o país alcançaram US$ 24 milhões, e a meta para 2010, segundo o presidente da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), João Carlos Basilio da Silva, é a de que o resultado seja 40% superior. A Colômbia é o sétimo principal destino dos produtos brasileiros nessa área. Para María Elvira Pombo, embaixadora da Colômbia no Brasil, o estreitamento de laços comerciais é um dos caminhos para atrair mais investimento brasileiro para o país. “Temos uma política de abertura de mercado; oferecemos, além de uma economia em crescimento, estabilidade jurídica”, diz. Segundo a embaixadora, a Colômbia quer aumentar a atração do investimento estrangeiro direto, que hoje representa 23% de seu PIB. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
QUEM SE LEMBRA DOS
ADRs?
Até o colapso de Wall Street, no final de 2008, emitir ações na Bolsa de Nova York era, para as empresas latino-americanas, um passo para ter acesso ao mercado de capitais internacional e obter financiamento mais barato. Passada a fase mais crítica da crise, especialistas do JP Morgan indicam sinais de recuperação do interesse por ADRs (American Depositary Receipt, instrumento que permite que as empresas estrangeiras cotizem ações na Bolsa dos EUA). “Há empresas que veem maior potencial para futuras captações”, diz Joseph Dooley, chefe para as Américas do Grupo Depositary Receipts, do JP Morgan, em Nova York. Segundo María Cecilia Salazar, também do JP Morgan, “os ADRs continuam sendo atraentes, sobretudo para fundos institucionais que querem diversificar seu portfólio de ativos, mas que contam com restrições para fazê-lo em papéis negociados em bolsas estrangeiras”. María Cecilia afirma que as empresas brasileiras têm sido as mais ativas nesse segmento, citando o caso da Hypermarcas, que se inscreveu no programa Nível 1, que implica emitir ações em Nova York sem captar novos recursos, transferindo papéis da BM&FBovespa. FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO
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NOVAS
Se as negociações entre Brasil e Argentina costumam ter suas rusgas, outros mercados começam a se mostrar atrativos aos empresários brasileiros. As exportações para o Paraguai, por exemplo, deram um salto de 73,8% de janeiro a maio de 2010 na comparação com o mesmo período do ano anterior, alcançando US$ 1 bilhão. De olho nessa expansão, as empresas TGA Logística, com sede em São Paulo, e La Asuncena, com matriz em Porto Alegre, devem investir US$ 1,5 milhão, até o fim de 2010, para diminuir o tempo de transporte de cargas entre São Paulo e Assunção das atuais 96 horas para 72 horas. Segundo Nilson Santos, diretor de Operações da TGA, a redução do tempo não virá atrelada a um aumento no custo do serviço e será possível graças ao regime MIC-DTA, que, na prática, permite que os trâmites aduaneiros sejam resolvidos no próprio país de origem da mercadoria, evitando a espera na fronteira. O foco da parceria estará nos pequenos volumes de produtos industrializados, como autopeças e alimentos, com carga máxima de 5 toneladas ou 15 metros cúbicos. Para garantir o retorno do caminhão com mercadoria, as empresas fecharam um acordo com o AC Group, do Paraguai. “No começo, sabemos que não haverá equilíbrio entre o que vai e o que volta, algo com uma proporção de 10 para 2, mas estamos trabalhando para diminuir isso”, conta o diretor executivo da La Asuncena, Carlos Antônio Gonzalez. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
Foto: 5 - Divulgação
OPORTUNIDADES
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Foto: John Moore/Getty Images/AFP
DEBATES Política Externa
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CELEBRADO POR ABRIR MERCADOS E CRITICADO PELAS RELAÇÕES COM LÍDERES POLÊMICOS, LULA DEIXARÁ AO SUCESSOR O DESAFIO DE MANTER O BRASIL EM EVIDÊNCIA LUÍS EDUARDO LEAL, COM VERÓNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO
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ão é incomum ver o presidente Lula cochichando ao ouvido de líderes de outros países, que, em geral, acabam caindo na risada. Do charmoso Obama ao seco Ahmadinejad, não houve interlocutor de Lula que não esboçasse sorrisos a seu lado – o que foi motivo tanto de elogios quanto de críticas. Mas se há um ponto em que a famosa frase de Lula “nunca antes na história deste país” tem uma cor própria é na diplomacia, apesar da rica tradição brasileira no setor. Getúlio Vargas soube escolher o momento certo – a Segunda Guerra Mundial – para se aproximar dos Estados Unidos e extrair ganhos concretos para o Brasil, como a Companhia Siderúrgica Nacional. Juscelino Kubitschek, outro carismático, tomou a iniciativa de propor aos EUA a Operação Pan-Americana, em apoio ao desenvolvimento da América Latina. Fernando Henrique Cardoso retomou a diplomacia presidencial e aproximou-se de líderes mundiais, como Bill Clinton e Tony Blair. E Lula? Ao longo de dois mandatos, o presidente reforçou uma opção ensaiada pela diplomacia brasileira em ocasiões anteriores: privilegiar o eixo Sul-Sul, empreendendo uma abertura ambiciosa de embaixadas na África e em outras regiões menos assistidas do globo, ao mesmo tempo que elevou o tom para o andar de cima – os países ricos do Hemisfério Norte –, especialmente em foros multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), em que o Brasil foi ator essencial na costura do G-20. Apesar do aumento significativo dos fluxos de exportação e importação, parte dos analistas condena o foco quase exclusivo, na maior parte do período, posto sobre o avanço, ainda não concretizado, da Rodada Doha. Por outro lado, no Órgão de Solução de Controvérsias da OMC, o Brasil colheu vitórias nos contenciosos relacionados a assuntos como açúcar, peito de frango congelado e algodão, sempre contra adversários de peso – nos dois primeiros casos, a União Europeia, e no terceiro, os EUA.
LULA CUMPRIMENTA O PRESIDENTE DA CHINA, HU JINTAO, EM REUNIÃO DO G-20: ATOR ESSENCIAL NA COSTURA DE ACORDOS
FOCO AGRESSIVO Para o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto, a política externa do governo Lula privilegiou as relações multilaterais até julho de 2008, quando as negociações da Rodada Doha estacaram após nova tentativa de evitar seu colapso. “A Fiesp apoiou porque há coisas, como subsídios, que só podem ser resolvidas em nível multilateral. Quando essas relações foram interrompidas, o governo partiu para o nível bilateral, só que o tempo ficou curto”, diz Zanotto. A partir daí, avalia o diretor da Fiesp, o Brasil buscou resgatar mercados na América Latina, na África e na Ásia, priorizando as relações Sul-Sul. Agosto, 2010 AméricaEconomia 37
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DEBATES Política Externa Na opinião de especialistas em relações internacionais e de representantes do setor produtivo, os resultados alcançados foram mistos: inserção externa mais agressiva – o que rendeu tanto dividendos políticos quanto críticas acerbas – e ampliação dos fluxos comerciais, apesar da falta de avanços significativos na defi nição de acordos bilaterais de livre comércio. “Foram apenas dois os acordos fechados: MercosulIsrael, pouco significativo, e Mercosul-Índia, limitado a 400 produtos”, observa o cientista político Christian Lohbauer, membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint/USP). Para Lohbauer, a expansão das exportações no período Lula não decorreu da guinada da política exterior em direção ao Sul. “O aumento dos fluxos teria ocorrido de qualquer jeito, por causa da China. Apesar dos discursos sobre parceria estratégica com o Brasil, a China quer mesmo é comprar soja, minério de ferro e aço, enquanto nos vende produtos de maior valor agregado, como eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos”, diz. No ano passado, a China superou os Estados Unidos como o principal destino das exportações brasileiras. A liderança chinesa se mantém neste ano, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento. De janeiro a junho, o Brasil vendeu US$ 13,46 bilhões para a China (15% do total verificado no período) e US$ 8,95 bilhões para os Estados Unidos (10% do total). Na ponta oposta, os Estados Unidos ainda superam a China: o Brasil importou US$ 12,07 bilhões dos EUA de janeiro a junho (14,85% do total no período) e US$ 10,76 bilhões da China (13,23% do total). Para Lohbauer, a diminuição da importância relativa dos Estados Unidos no mapa do Itamaraty foi uma das “grandes
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A política comercial no governo Lula Estados Unidos
Multilateralismo
Parte dos analistas avalia que houve um relativo esfriamento nas relações, apesar do discurso do Itamaraty de que estas são densas e essenciais aos dois países. Eventuais divergências, como o envolvimento brasileiro na questão nuclear iraniana, não teriam força para contaminar o relacionamento. No campo comercial, mesmo analistas críticos ao governo elogiam a forma como o Itamaraty tem encaminhado a solução do contencioso do algodão com os EUA, no qual prevaleceu o entendimento bilateral, e não a imposição de retaliações cruzadas.
Preferência pelos acordos multilaterais. Com a suspensão do processo negociador da Rodada Doha na OMC, sobre o qual o Itamaraty apostava a maior parte de suas fichas, praticamente não houve avanços em acertos bilaterais. Os EUA aproveitaram o colapso das negociações da Alca para ensaiar uma ofensiva de acordos de livre comércio bilaterais na América Central, no Caribe e mesmo na América do Sul.
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Fotos: 2 - AFP; 3 - Agência Vale
perdas” do período Lula. “Apesar da crise, os Estados Unidos ainda têm um peso substancial no PIB mundial e não podem ser ignorados”, diz. “Um dos maiores problemas do governo atual foi misturar política externa com política comercial”, acrescenta o cientista político, explicando que a política comercial deve estar focada na ampliação do alcance da produção brasileira, enquanto a exterior está ligada aos grandes temas de fundo, como desenvolvimento, segurança e direitos humanos. Ele defende uma abordagem pluriministerial da política comercial, com a retomada da Câmara de Comércio Exterior (Camex), sob o comando do Ministério do Desenvolvimento, como principal instância de deliberação. Na arena política, especialmente a partir de 2008, ano em que a crise financeira global fragilizou a posição relativa das economias avançadas e reforçou o papel de grandes países emergentes, como China, Brasil e Índia, o Ministério de Relações Exteriores soube potencializar a persona de Lula em benefício de uma inserção internacional mais ativa, que conduziu o Itamaraty a territórios pouco percorridos em nossa tradição
ACIMA, O GENERAL-PRESIDENTE ERNESTO GEISEL, QUE TAMBÉM BUSCOU PARCEIROS COMERCIAIS ALTERNATIVOS. AO LADO, CARREGAMENTO DE MINÉRIO DA VALE, GRANDE EXPORTADORA PARA A CHINA
diplomática, como o envolvimento direto com o Irã na delicada questão da não proliferação nuclear.
HISTÓRICO ALTERNATIVO Parte dos representantes do setor produtivo associa a busca por entendimento com líderes contestados, como Ahmadinejad, de países com os quais o Brasil não tem vínculos históricos significativos, como o Irã, a um suposto alinhamento da política externa brasileira a bandeiras históricas do PT – o que ajudaria a entender também o relativo distanciamento em relação aos Estados Unidos, a energia posta a serviço do adensamento das relações com países de menor desenvolvimento e a aceitação da Venezuela como parceiro do Mercosul sem uma agenda clara de reduções tarifárias. “Houve uma preocupação de que o governo teria confundido o papel do partido com o projeto de Estado”, diz Fernando Prestes Maia, presidente do Instituto PNBE de Desenvolvimento Social e sócio da consultora Global Partnering MatchMakers (GPM), em São Paulo. Já para Zanotto, da Fiesp, “o Brasil se absteve na crise das ‘papeleras’, entre Uruguai e Argentina, e foi se enfiar no Oriente Médio, que não lhe diz respeito”. Segundo ele, onde os riscos são grandes, os custos são altos e os ganhos, nulos. Zanotto elogia, porém, a retomada das relações com a África, principalmente com os países de língua portuguesa, que estão se tornando um bom destino para produtos e serviços brasileiros. O fortalecimento de parcerias menos tradicionais tem precedentes na história diplomática brasileira, como no período da chamada Política Externa Independente, dos governos de Jânio Quadros e João Goulart, e no Prag-
União Europeia
China
Mercosul
O Brasil colheu vitórias na Organização Mundial do Comércio nos contenciosos do açúcar e do peito de frango congelado. Nas negociações comerciais com a UE, a ampliação de cotas de açúcar, de carne bovina e de frango esteve no topo da agenda brasileira, mas os avanços dependem de maior grau de abertura do mercado agrícola comunitário.
O relacionamento, definido a partir de 2004 como uma parceria estratégica, contribuiu para a expansão do fluxo do comércio brasileiro, tendo a China superado os Estados Unidos, no ano passado, como principal destino das exportações do Brasil. A crítica principal é a de que essa sinergia foi decisiva para a ampliação da participação relativa das matérias-primas, em detrimento dos manufaturados, na pauta de exportações do país.
Desde a desvalorização do real, em 1999, o bloco comercial enfrenta dificuldades para fortalecer e ampliar a integração. Desde então, inovações como os Mecanismos de Adaptação Competitiva, de 2006, foram adotadas como instrumentos de salvaguarda, pactuados entre os países envolvidos, para conter os efeitos das assimetrias entre os parceiros. Parte dos analistas considera que, no período Lula, o Brasil mais concedeu vantagens do que as recebeu da Argentina.
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DEBATES Política Externa Observatório Regional Pesquisa online com leitores de AméricaEconomia, realizada no começo de julho, totalizando 1.923 respostas
Você acha que o Brasil aumentou seu grau de influência na América Latina e no mundo durante o governo Lula? 91,4%
a. Sim
MAIS PRAGMÁTICO 4,2%
b. Não c. Permaneceu igual 4%
d. Não sabe/ não respondeu
0,4%
Caso sua resposta seja afirmativa, o que acha que motivou esse aumento de influência? a. A personalidade de Lula 6,78%
b. O crescimento econômico do Brasil
29,44% 60
56,25%
c. Ambos os fatores d. Outros fatores
2,62%
e. Não sabe/ não respondeu
4,91% %
Em sua opinião, qual é o principal desafio do Brasil nos próximos anos? a. Manter o crescimento econômico para se tornar um país desenvolvido b. Reduzir os níveis de pobreza c. Consolidar sua liderança na América Latina
34,62% 38,68%
d. Buscar integração comercial e política da América Latina e. Outro f. Não sabe/ não respondeu
matismo Responsável, formulado pelo general-presidente Ernesto Geisel – a quem não se pode conferir qualquer tintura esquerdista. Em ambos os casos, a busca por mercados e por parcerias alternativas aos Estados Unidos foi concebida como uma estratégia para auxiliar o crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico do Brasil.
13,5%
1,14% 0,39%
11,75%
“O próximo governo será mais pragmático na defesa dos interesses – e menos ideológico”, afirma Zanotto, da Fiesp, que ressalta o potencial de mudança de direção nos dois principais candidatos, a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra. “A Dilma é uma mulher muito prática e viu de perto o que esta política trouxe de resultados”, aponta o diretor da Fiesp. Em entrevista por e-mail à AméricaEconomia (veja na próxima página), Dilma manifesta, contudo, concordância com a política externa atual e a intenção de preservá-la. Os candidatos José Serra e Marina Silva não responderam às questões encaminhadas por AméricaEconomia até o fechamento desta edição. Para Prestes Maia, do PNBE, o sucessor de Lula deve aproveitar o bom momento do Brasil, mas também priorizar políticas de inovação, de competitividade e de capital humano que façam com que o país se emancipe da condição de exportador de commodities. Segundo ele, a atual política externa brasileira privilegia apenas cem multinacionais. “Isso parece uma piada para um país com as pretensões do Brasil, que teria de ter pelo menos mil multinacionais”, diz. O diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, também considera a falta de competitividade como um dos entraves a serem superados pelo futuro governo, que deve inserir a questão entre as linhas mestras da política externa. Tanto para Fernandes quanto para Prestes Maia, a abertura de novos mercados terá pouco efeito se o país não se preparar internamente para estimular exportações, realizando reformas – principalmente a tributária – e facilitando a entrada de importações. “O Brasil tem um sistema tributário complexo e ineficiente. Termina exportando impostos, prejudicando sua competitividade”, diz Fernandes. Independentemente de quem venha a ser o próximo presidente, todos concordam que dificilmente terá a dimensão de Lula. “Ele ganhou uma projeção internacional, um status de celebridade, uma capacidade de transitar e de ser ouvido. Tornou-se um importante líder em nível mundial. Nenhum dos candidatos tem essas características”, conclui Zanotto, da Fiesp.
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Caminhos
possíveis o excelente diálogo com o presidente (dos EUA) Barack Obama e com a secretária de Estado (dos EUA) Hillary Clinton. Acreditaremos, sempre, nas soluções diplomáticas para confl itos.
AE Quais seriam suas principais linhas de ação para contribuir com o aumento do fluxo comercial brasileiro? Dilma A nova relação política do Brasil com
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méricaEconomia convidou os três candidatos presidenciais mais bem posicionados nas pesquisas de opinião – Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva – para responder a algumas perguntas sobre política externa. A candidata do PT, Dilma Rousseff, foi a única a atender à nossa solicitação. Veja abaixo suas respostas.
AméricaEconomia A política exterior do governo Lula foi marcada pela busca de prestígio internacional. Se eleita, a senhora pretende mantê-la ou considera fazer algum ajuste? Dilma Rousseff As mudanças que aconteceram no Brasil,
Foto: 4 - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ABR
de retomada do crescimento em bases mais seguras num contexto de aprofundamento da democracia, acentuaram a imagem do país no exterior. Foi-se o tempo que assistíamos, com complexo de inferioridade, ao grande jogo da política internacional. Hoje, fazemos parte dele. Nossa política externa é universalista e multilateral, e seguiremos valorizando uma agenda positiva.
AE A senhora apoia a chancelaria brasileira em tomadas de posição como a relacionada ao Irã? Dilma A política externa do governo do presidente Lula, que integrei por sete anos e meio, é pró-paz. Somente quando existem relações bilaterais bem estabelecidas é que se gera uma confiança recíproca. É essa confiança e disposição para o diálogo que nos permitiu, num curto espaço de tempo, receber o presidente Shimon Peres, de Israel, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Ou ter
o mundo é importante. Fizemos muito mais do que diversificar parceiros comerciais: ampliamos e diversificamos as relações com um pensamento estratégico, com uma nova noção de geopolítica. E o país continuará sua política que lhe permitiu alcançar situação invejável como exportador e destino de investimentos. 4 Estabelecemos relações privilegiadas com a América Latina, a África, o Oriente Médio e a Ásia, sem prejuízo de nossas relações com a União Europeia e os EUA.
AE Alguns analistas criticam uma possível benevolência do governo brasileiro nos problemas comerciais com membros do Mercosul, como a Argentina. Na opinião da senhora, quais são os principais desafios do Mercosul? Dilma A integração regional é fundamental porque compartilhamos fronteiras, comércio, investimentos e uma história comum, o que faz de nosso entorno imediato uma área prioritária. Nossas exportações para o Mercosul, nos últimos sete anos, cresceram 377% – ou seja, mais do que o dobro do que o verificado em nossas exportações e, do total, 95,9% são produtos industriais. O Mercosul é uma realidade histórica, e todas as iniciativas devem ser voltadas ao seu fortalecimento. Com a multipolarização do mundo, os problemas encontram cada vez mais soluções de natureza regional. Vale para questões econômicas, ambientais ou de segurança.
AE Como a senhora avalia a atual relação do Brasil com os EUA e como pensa que seu governo deveria tratá-la? Dilma As palavras-chave para as relações entre Brasil e EUA são respeito mútuo e cooperação. O foco nas convergências significa uma parceria estratégica, mas sem abdicarmos da independência, da soberania, da liberdade de ação. Tudo o que temos feito – e continuaremos a fazer – é trabalhar pela integração regional sul e latino-americana, ampliar os parceiros estratégicos do Brasil e contribuir para uma revisão de rota das relações de força existentes na ordem internacional. Agosto, 2010 AméricaEconomia 41
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DEBATES Colômbia
O jogador
JUAN MANUEL SANTOS: FANÁTICO POR PÔQUER E PELO PODER
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DE JUAN MANUEL SANTOS, NOVO PRESIDENTE DA COLÔMBIA, PODE-SE ESPERAR CONSISTÊNCIA, SURPRESAS, E ALGUMA TRAIÇÃO RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
C
ontam que sua paixão é o pôquer. E que é bom nisso. “É um excelente jogador, como a maioria dos membros de sua família, e faz de tudo para brilhar”, comenta-se, a boca pequena, em Bogotá. E se o estilo é o próprio homem, como dizia o aristocrata francês Vauvenargues, a forma com que Juan Manuel Santos joga suas cartas pode dizer muito de como será sua primeira presidência. Primeira? Sim, pois não há jogador de pôquer que não peça mais uma rodada. Contraditoriamente, quem acompanha a trajetória pública do novo presidente da Colômbia garante que o que não lhe falta é pragmatismo. “É uma pessoa que ouve muito e não se guia pelas paixões”, diz Mauricio Cárdenas, diretor da Latin American Initiative, do Brookings Institution. “Teremos um presidente racional.” Independentemente do lado pelo qual se escolha olhar – seja do homem extremamente ambicioso que serviu a vários presidentes e partidos tão somente para chegar ao topo e entrar para a história, seja do servidor público brilhante e empenhado, capaz de tomar medidas audazes –, o passado de Santos mostra que, como presidente, pode-se esperar qualquer coisa dele, menos uma gestão opaca e burocrática.
Foto: Eitan Abramovich/AFP
ANTENA LIGADA Na Colômbia, uma versão não confi rmada dá conta de que, quando garoto, o agora presidente andava sempre acompanhado de um cachorro, para evitar apanhar de seu irmão mais velho – ele é o terceiro de quatro irmãos homens. Talvez esse tenha sido o incentivo ini-
cial para ele, desde pequeno, buscar a companhia dos adultos e poderosos. Na casa da família Santos, dona do jornal El Tiempo, até 2007, não faltavam reuniões de pesos-pesados da economia e da política, como Arturo Gómez Jaramillo, presidente da Federação de Cafeicultores, e o ex-presidente colombiano Alfonso López Michelsen. Também colaborou para o pequeno Santos o fato de sua família ser do “patriciado” colombiano. Seu tio-avô Eduardo Santos Montejo foi presidente do país entre 1938 e 1942, e seu primo Francisco Santos Calderón foi vice-presidente nos dois mandatos de Álvaro Uribe, que governou a Colômbia entre agosto de 2002 e agosto de 2010. Depois de ouvir os caciques curtidos em mil emboscadas da política bipartidarista do país, porém, um jovem Juan Manuel Santos decidiu que daria a vez aos militares. Por escolha própria, entrou na Escola Naval, na cidade de Cartagena, onde concluiu seu ensino secundário. “Seus amigos dizem que esses dois anos de serviço militar o tornaram metódico e incrivelmente disciplinado”, diz Juanita León García, jornalista especializada em política, criadora do site lasillavacia.com. Dos jogos de batalha naval, Santos partiu para os estudos de Economia e Administração de Empresas, no Kansas. Lá, consta que tenha experimentado
maconha, pertencido a uma fraternidade e praticado ioga. Fez mestrado em Economia e Administração Pública na London School of Economics e, com 24 anos, recebeu de Arturo Gómez Jaramillo a nomeação de delegado da Colômbia na Organização Mundial do Café, com sede em Londres. Nove invernos depois, em 1981, ele voltou ao país, onde foi nomeado diretor do jornal El Tiempo. A aposta de sua família era a de que, em mais dois anos, ele seria o diretor da publicação. Uma bolsa de jornalismo da Fundação Nieman parecia fortalecer essa percepção. Santos, porém, tinha outros planos. Admiradores do novo presidente afirmam que o grande divisor de águas em sua vida foi um diagnóstico equivocado de câncer, pouco antes de receber um convite do presidente César Gaviria para ser ministro de Comércio Exterior. Nesse momento, lembrou-se de uma conversa com o avô, ex-embaixador no Chile, de que a única coisa que um homem jamais deveria se arrepender é do que poderia ter feito e não o fez. Assim, aceitou seu primeiro cargo político, época em que criou o Bancoldex (Banco de Comércio Exterior da Colômbia) e defendeu a entrada da Colômbia na Organização Mundial do Comércio. “O que impressiona na trajetória de Santos é sua capacidade de cobrir tantos temas e estar bem informado sobre todos”, diz Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, referindo-se ao fato de ele “ter ocupado três ministérios-chave e ter sido capaz de trabalhar com diversos governos e partidos”.
O novo presidente
já foi ministro em três pastas diferentes e
trabalhou para vários partidos e governos
SEM FIDELIDADES Entretanto, essa persistência que Hakim identifica como virtude é apontada por outros observadores como albergue de um defeito traiçoeiro: a carência de Agosto, 2010 AméricaEconomia 43
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DEBATES Colômbia convicções políticas gerais e a ausência de lealdades partidário-pessoais. “É um oportunista político. Convicções? Não acho que as tenha, e esse é o problema”, diz Juanita León. Para a jornalista, o presidente centra-se na confiança que tem em si. O lado positivo disso é que “ele se cerca de pessoas boas e até melhores que ele, sem as identificar como ameaça”; por outro lado, esse excesso de autoconfiança o leva a “não identificar como problema o fato de tomar atalhos e violar códigos”, afirma Juanita. Um exemplo disso foi o ataque dentro do Equador que resultou, em 2008, na morte de Raúl Reyes, porta-voz das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Nessa época, Santos era ministro da Defesa e, inicialmente, negou a violação do direito internacional – mesmo sabendo que esta havia ocorrido e ele mesmo havia ordenado o ataque. Onze anos antes, em 1997, Santos tinha se reunido com o mesmo Reyes na Costa Rica, onde divulgou uma polêmica iniciativa pessoal em prol da paz.
Ironicamente, para Ariel Ávila, cientista político e coordenador do Observatório do Conflito Armado (Corporación Nuevo Arco Iris), Santos poderá se converter novamente no homem pró-paz. “O dilema que ele enfrentará como presidente será: a política de segurança democrática é o ponto central ou será preciso abrir-se ao diálogo, mesmo sabendo que todo presidente que negocia com a guerrilha é visto como débil?”, aponta Ávila.
MODELO ESGOTADO E não se trata de retórica. Ávila defende que a política de segurança democrática de Uribe já alcançou seu ponto máximo de eficácia. “As ações das Farc cresceram 25% em 2009 em relação a 2008 e, neste ano, já acumulam 14% de crescimento em relação a 2009, quando mais de 2,5 mil militares foram dados como fora de combate”, afirma. “As pessoas identificam melhorias porque a situação no centro do país está controlada, mas a intensidade do conflito não foi redu-
Fotos: 2 - Luis Acosta/AFP; 3 - Presidência/AFP; 4 - Fernando Ruiz/Notimex
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À ESQUERDA, SANTOS NO DIA DA LIBERTAÇÃO DE INGRID BETANCOURT. ABAIXO, JUNTO COM O PRESIDENTE ÁLVARO URIBE. NA PÁGINA AO LADO, GUERRILHEIROS DAS FARC: RECEITA DE SEGURANÇA DE URIBE JÁ NÃO DEMONSTRA A MESMA EFICIÊNCIA
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zida nas zonas periféricas.” E, depois de perder parte do mercado dos EUA para os mexicanos, “os cartéis abriram o mercado interno para se financiar, e isso vem acompanhado de aumento da violência”, lembra Ávila. Na costa atlântica do país – onde não há guerrilha nem narcotráfico –, os níveis de migração de pessoas aumentam por conta da ação de exércitos privados que trabalham para particulares ou empresas de petróleo. Calcula-se que existam 25 grupos neoparamilitares em todo o país, que agregariam 9 mil pessoas. “Esse, sem dúvida, é um desafio-chave”, comenta Hakim. “Os grupos de direitos humanos de Washington, críticos da desmobilização dos paramilitares, estão observando a evolução dos ‘neoparas’ com especial
atenção”, diz. “As Farc tampouco podem ser ignoradas, e a Colômbia ainda enfrenta uma gama de outros problemas, como os refugiados, a justiça social em geral e a gestão econômica. Não será tarefa fácil para Santos.” Para o economista Francisco E. Thoumi, especialista em narcotráfico, a política contra as drogas de Santos “deveria evoluir para uma política contra o crime organizado, na qual as drogas fossem uma parte, mas não necessariamente a mais importante”. Para ele, “se a política fosse definida como contra o crime organizado, a importância das fumigações e dos ataques às camadas mais frágeis da cadeia do tráfico diminuiria: seria preciso atacar os centros do crime organizado, e isso implicaria atacar a corrupção de forma séria”.
Calcula-se que, na Colômbia, existam hoje 25 grupos neoparamilitares, que reuniriam 9 mil pessoas
Santos poderia fazê-lo. Ou não. No perfil do novo presidente que escreveu para a revista Semana, da Colômbia, a jornalista Marta Ruiz afirmou que “o que define Juan Manuel Santos é a vertigem e a tensão de apostar, mais do que o lucro que conquista”. Se para alguns ele é calculista e frio, guiado apenas pela ambição pessoal de passar à história com H maiúsculo, para outros se trata de um sedutor de elites, fascinado pela retórica de exercer o poder. Em outro perfil, publicado pela revista Diners, um episódio parece jogar os holofotes nesta última alternativa: “Juntamente com seu irmão, Enrique Santos, ele ganhou o Prêmio Rei da Espanha de Jornalismo, e, para não dividir o dinheiro pela metade, convidou-o a disputar o prêmio nas cartas. Depois de ganhá-lo, deu-o de presente a Mónica Martínez, fiel empregada da família, para que comprasse sua casa própria”. Se até agora foi generoso na vitória, qual será a atitude de Santos diante das derrotas inerentes ao ato de governar um país? Agosto, 2010 AméricaEconomia 45
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DEBATES México
A década
VÍCTOR HERRERO E DAVID SANTA CRUZ, DA CIDADE DO MÉXICO
perdida N
o início da década de 2000, o futuro parecia sorrir para o Grupo México, maior mineradora do país. O crescimento médio anual da companhia era de 50%, e nada parecia mudar tal rota. Hoje, dez anos depois, o grupo desce a mesma ladeira que subiu. Para se ter uma ideia, as vendas de 2009, de US$ 4,8 bilhões, já são 12% menores do que as de 2005, quando a empresa faturou US$ 5,4 bilhões. Um dos motivos desse pífio resultado são os conflitos trabalhistas que se acumularam nas costas da empresa. Tudo começou em 2006, quando uma explosão sacudiu minas de carvão da empresa na cidade de San Juan de Sabinas, fronteira com os Estados Unidos. Sessenta e cinco mineiros estavam no local, e seus corpos nunca foram resgatados. Alguns meses depois, um dos sindicatos dos trabalhadores das minas de Cananea, de onde é extraída quase a metade do cobre do México, iniciou
uma greve por melhores salários que durou quase três anos. Se, curiosamente, foi uma greve na mesma Cananea que contribuiu para assentar as bases da revolução mexicana de 1910, passados cem anos, a paralisação foi resolvida com uma sentença judicial em favor do Grupo México. O outro motivo para os magros resultados da mineradora é a forte crise econômica do final de 2008. A trajetória do Grupo México na última década, na verdade, é o reflexo da do país: desde o final dos anos 1990, o México estancouse, e há poucos indícios de que essa situação se reverta nos próximos anos. No início da década, o México era a nona maior economia do mundo. Hoje, é a décima quarta, segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional).
DA ÁGUA PARA O VINHO Quem observa o contexto gerado nos anos 1990, tampouco imagina tal estag-
Fotos: 1 - Spencer Platt/Getty Images/AFP;
A FALTA DE REFORMAS E A AÇÃO DE GRUPOS POLÍTICOS QUE SE ANULAM MUTUAMENTE ROUBARAM A ENERGIA DE UM PAÍS QUE PROMETIA SER A GRANDE ESTRELA DA AMÉRICA LATINA
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Fotos: 2 - Marcos Delgado/Clasos; 3 - Francisco Garcia/Notimex
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nação nos 2000. Na época, a economia mexicana se expandia a passos largos, impulsionada, em grande parte, pelo tratado de livre comércio com os EUA e o Canadá (Nafta), pelas privatizações iniciadas durante o governo Carlos Salinas (1988-1994) e pelas reformas econômicas realizadas durante a administração de Ernesto Zedillo (1994-2000). Além disso, a chegada ao poder do Partido de Ação Nacional (PAN), em 2000, que colocou um ponto final na hegemonia do Partido Revolucionário Institucional (PRI), prometia uma abertura democrática e maiores oportunidades de crescimento. Dez anos depois, o cenário mexicano era de pesadelo. Em 2009, a economia se contraiu 6,5% e o vírus da gripe A (H1N1) espantou os turistas, enquanto a violência do narcotráfico intimidou tanto os visitantes quanto a própria população. As principais fontes de divisas do país caíram: não só as do turismo, como as remessas e as vendas do petróleo e do setor manufatureiro. “Tivemos um castigo gigantesco”, diz Jesús de Juan, sócio e diretor-gerente do Boston Consulting Group no México. Para este ano, as projeções são de que o país crescerá entre 4,1% e 4,5%, segundo diferentes estimativas, graças, em grande parte, à situação dos EUA. Uma década depois de iniciada a transição política e de as empresas mexicanas terem começado a conquistar a região, o balanço, entretanto, é ruim. O crescimento médio nos dez anos em que o PAN está no poder é de 1,9%, segundo projeções do FMI (no Chile, esse número é de 3,8%, e, no Brasil, 3,2%); a produção petrolífera mexicana tem caído ferozmente desde que alcançou seu ápice, em 2004; a cobrança de impostos continua sendo a mais baixa dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), equiparandose à do Haiti (representa somente 9,4% do PIB). Além disso, enquanto países
como o Brasil, o Chile e a Argentina aproveitaram uma década marcada pelo auge da China, o comércio do México com o gigante asiático é insignificante (veja artigo na pág. 51). “Sem ser catastrofista, há que se concluir que essa foi uma década perdida para o México”, afi rma Augustín Llamas Mendoza, professor de quadro político e social do Ipade Business School, na Cidade do México. “Só patinamos, sem avançar.” Para muitos analistas, o México transitou por uma década de promessas e expectativas não cumpridas. “Os tratados de livre comércio geraram muitas expectativas, e empresas mexicanas começaram a competir com êxito no âmbito internacional”, diz Geraldo Gutiérrez Candiani, presidente da Confederação Patronal da República Mexicana (Coparmex). “O problema é que não podemos fortalecer o país sem as reformas estruturais necessárias.”
À ESQUERDA, POLICIAIS BUSCAM VÍTIMAS DO NARCOTRÁFICO. ABAIXO, O DESACREDITADO PRESIDENTE FELIPE CALDERÓN E O GOVERNADOR DO ESTADO DO MÉXICO, ENRIQUE PEÑA NIETO, QUE LIDERA AS INTENÇÕES DE VOTO PARA AS ELEIÇÕES DE 2012
LAME DUCK Analistas, empresários e diversas personalidades concordam que a falta de vitalidade do México se deve, em grande parte, à paralisia de sua classe política. Ainda que todos os setores saibam que o país precisa de uma série de reformas profundas – entre elas, a tributária e a trabalhista –, ninguém quer arcar com os custos políticos. A abertura 3 da indústria petrolífera, por exemplo, virou praticamente um tabu, apesar de o país depender dos hidrocarbonetos e de os cálculos mais otimistas indicarem que as reservas se esgotarão em 2020. Pesquisas de opinião pública indicam que os mexicanos associam as privatizações a um aumento de preços e, como ocorreu na era de Salinas, à criação de monopólios. “As pessoas sabem que as empresas do governo sempre oferecem preços baixos, como no caso da gasolina e da eletricidade, e que o governo
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DEBATES México não vai se atrever a aumentá-los por conta dos custos eleitorais”, diz Jorge Buendía, diretor da Buendía & Laredo, empresa mexicana de pesquisa de opinião pública. “A tragédia do México é que a concorrência eleitoral chegou antes que a modernização econômica”, afirma. Segundo ele, isso tem levado o governante do PAN a desenvolver uma política de clientelismo. São poucos os que acham que, nos dois anos que restam a Felipe Calderón como presidente, será possível fechar acordos políticos para levar a cabo algumas dessas reformas. A oposição, comandada pelo PRI e pelo Partido da Revolução Democrática (PRD), tem pou-
As eleições de 2006, em que Calderón ganhou de Andrés Manuel López Obrador (PRD) por uma margem estreita e em meio a suspeitas de irregularidades, foram um presságio do pouco capital político que teria o presidente nestes anos. Muitos acreditam que a guerra contra o narcotráfico, decretada na semana em que assumiu o governo, foi uma tentativa arriscada de Calderón para alavancar-se politicamente. “A guerra contra os narcotraficantes foi um cálculo brutalmente equivocado. Calderón abriu uma caixa de
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Competitividade cai... (posição do México no ranking) 40 52
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cos incentivos para apoiar a iniciativa de um presidente que tem se mostrado pouco inclinado a negociar. E Calderón não conta com capital político para levar adiante uma reforma importante. Todos parecem esperar as eleições presidenciais de 2012 para tomar uma atitude. “Felipe Calderón é um lame duc k ”, a f i r ma Roy Campos, presidente da Consulta Mitofsky, referindo-se ao termo em inglês para a perda de força de um presidente no final de seu mandato. “Na verdade, ele foi um lame duck desde o início do governo. Nunca teve poder.”
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* o estudo de 2001 considerou 75 países; em 2009, foram 133
pandora”, diz Francisco González, professor de Estudos Latino-Americanos da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, em Washington. “Até dezembro de 2012, Felipe Calderón ficará na retaguarda. A ambição inicial que o PAN tinha em 2000 foi por água abaixo”, diz. Segundo as p esqu i sa s d a Consulta Mitofsky, o governador do estado do México, Enrique Peña Nieto (PRI), encabeça as preferências para a presidência, com 40% das intenções de voto. Na sequência, vem López Obrador, com 15%. E, ao me-
O México tem tratados comerciais com 42 países, mas 81% de suas exportações vão para os EUA
nos até agora, não se vê nenhum candidato do governo no páreo. “As pessoas querem alternância”, diz Campos. “O saldo dos 12 anos de PAN dificilmente será positivo.”
O GRANDE VIZINHO A fadiga e o desânimo que parecem ter se apoderado do México também refletem um maior questionamento sobre a estreita relação econômica e social que o país tem com os Estados Unidos. Ainda que o México seja um dos países que mais têm tratados de livre comércio no mundo (42 no total, e negocia mais um com o Brasil), mais de 81% das exportações mexicanas têm como destino o país vizinho. Além disso, 30 milhões de mexicanos vivem legal ou ilegalmente ao norte do Rio Grande, enviando remessas que so-
Fotos: 4 - Jose Pazos/Notimex; 5 - Juan Barreto/AFP
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Fonte: Fórum Econômico Mundial*
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ANDRÉS MANUEL LÓPEZ OBRADOR (À ESQUERDA) PERDEU AS ELEIÇÕES POR UMA MARGEM ESTREITA. À DIREITA, VICENTE FOX, QUE QUEBROU A HEGEMONIA DO PRI
PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS
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A maioria dos analistas afirma que um dos grandes fracassos dos últimos anos tem sido a incapacidade dos governos de gerar empregos e fortalecer as pequenas e médias empresas, as que mais criam postos de trabalho. A grande promessa do ex-presidente Vicente Fox foi criar pequenas lojas por meio de microcréditos, influenciado pelo que foi feito na Índia por Mohammed Yunus. Contudo, entre 30% e 40% das PMEs no
líderes globais, como a (cimenteira) Cemex e a (petroquímica) Mexiquem”. De fato, há setores em que a competitividade mexicana tem se fortalecido, como o aeroespacial e o de autopeças. A Volkswagen anunciou, em julho, um plano para investir US$ 1 bilhão no México nos próximos três anos. Mas o setor empresarial foi contagiado pela fadiga mexicana. Em 2002, havia 241 empresas mexicanas no ranking das 500 Maiores Empresas da América Latina de AméricaEconomia. Hoje, são 119. “Eu acho que a pergunta não é onde está o México, mas sim onde deveria estar”, diz Sabino Bastidas, um conhecido analista político mexicano, que é citado
... e a corrupção parece aumentar (posição do México no ranking) 89
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Fonte: Transparência Internacional*
mam mais de US$ 20 bilhões ao ano a seus parentes. Essa estreita relação faz com que o México siga o destino de seu vizinho. Em tempos de bonança, como foi a segunda metade dos anos 1990, ele teve seu auge. Mas a crise financeira de 2008 e 2009 foi um golpe bem mais duro para o México que para outros países da América Latina. Para González, da Universidade Johns Hopkins, com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, caíram por terra as vantagens do tratado de livre comércio com os Estados Unidos. Gerardo Gutiérrez, da Coparmex, também acha que a dependência do mercado norte-americano é uma fraqueza da economia mexicana. “Não tivemos capacidade de fortalecer nossas estruturas”, diz. “Devemos abrir nossos mercados.”
2006
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* o estudo mede a percepção da corrupção em cada país. Quanto mais alta a posição, maior a percepção de corrupção. Em 2000, a pesquisa abarcou 90 países; em 2009, foram 180
México quebraram no sexênio de Fox, com frequência em programas de rádio e segundo estudo da Universidade de TV no país. “Em 2000, havia três elemenGuadalajara. tos que pressagiavam um grande futuro: O lema da campanha de Calderón foi as reservas petrolíferas de Cantarell, os “Felipe Calderón. Presidente do emprebônus demográfico e democrático. O go”, uma promessa que, hoje, não apareprimeiro está se esgotando, o segundo ce em nenhum de seus discursos oficiais. foi exportado para os Estados Unidos e o De fato, muitos o chamam de presidente terceiro foi desperdiçado.” do desemprego. “ É ve rd a de Pouco sólido (posição do México no ranking) que, em termos Fonte: Fund for Peace e Foreign Policy* macro, não temos 105 102 98 120 96 avançado muito”, 85 73 diz Juan, do Bos80 ton Consulting Group. “Mas, em 40 termos micro, há histórias de desen0 volvimento espe2005 2006 2007 2008 2009 2010 taculares. Temos * índice mede o grau de falibilidade do Estado, ou seja, a capacidade institucional de regular a dinâmica nacional. Em 2005, 76 países participaram do ranking; em 2010, foram 177 visto a criação de Agosto, 2010 AméricaEconomia 49
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REVISTA
A
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opinião
Chance de
mudar
Foto: iStockphoto com montagem de Denis S. Cardoso
A
década de 2000 trouxe uma mudança fundamental para a relação dos países latino-americanos com a China: hoje, qualquer alteração no país asiático se reflete como um sismo no continente. Para o bem ou para o mal, esse país é hoje peça central para explicar as dinâmicas econômicas latino-americanas: enquanto os exportadores de matérias-primas se beneficiaram, outros países, como o México, tiveram de engolir o auge de um concorrente feroz em seu principal mercado de exportação, os EUA. No início da década, o México viu como os produtos chineses começaram a invadir os supermercados do país vizinho, e suas maquiladoras sentiram o efeito da intensa concorrência das manufaturas chinesas. Na mesma década, a China superou pela primeira vez o México nas importações dos EUA. O gigante asiático se tornou o maior sócio comercial do Brasil e do Chile. O próximo da lista poderá ser o Peru, com quem a China acaba de assinar um tratado comercial. O caso do Chile é emblemático: em 2009, as exportações para a China (23,1% do total) superaram as vendas ao conjunto de países da União Europeia (com 22,1%) e aos EUA (11,3%). Já o México continua voltado ao mercado norte-americano, que absorveu 81% do total exportado pelo país em 2009, enquanto Europa e China representaram, respectivamente, 5% e 1%. Em geral, os envios latino-americanos concentram-se em commodities, e o México é uma exceção. As matérias-primas representam 21% do total exportado em 2009, situação muito diferente da de outros países, como Venezuela (99% do total), Peru (78%) e Chile (75%). Isso não significa, entretanto, que o país não deva apostar no auge chinês. Uma reforma no setor de petróleo, por exemplo, poderia impulsionar o aumento da produção e a exportação para a China. Seu setor agroindustrial também é importante, algo valorizado pelos chineses. Além disso, o México ainda é uma peça-chave para as multinacionais em fase de integrar suas redes de produção,
em decorrência de sua proximidade com os EUA e de sua estrutura de maquilas. Uma iniciativa do governo mexicano de melhorar a infraestrutura de portos, aeroportos e estradas aponta para o aproveitamento dessa vantagem competitiva que sequer os chineses podem tirar do país. E eles sabem disso. Em 2009, o fundo soberano Temasek, de Cingapura, abriu escritório na capital mexicana. Já o fundo soberano chinês CIC declarou que quer entrar na América Latina e, ainda que sua prioridade seja o Brasil, não descarta estar no México. O CIC é um importante investidor na mineradora brasileira Vale e nada o impediria de apostar também em grupos mexicanos com modelos de negócio bem-sucedidos, como Cemex (cimento) e Alfa (holding). A visita do presidente Felipe Calderón à China, em julho, demonstra que o país também está interessado em potencializar essa relação. Foi a primeira visita de um mandatário mexicano ao país. Além disso, muitas empresas mexicanas já montaram sua base na China, como Nemak (autopeças), Gruma (produtor de farinha de milho) e Bimbo (panificação). Dois mil pode ter sido a década perdida para o México em relação à Ásia. Mas é possível que a nova década que começa em 2010 se converta em sucesso para essa relação.
A visita de Calderón à China, em julho, foi a primeira de um presidente mexicano ao país
JAVIER SANTISO é Professor de Economia da Esade Business School, Espanha.
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DEBATES Defesa
Precisamos dele?
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA, E GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
P
ara a Marinha do Brasil, o dia 23 de dezembro de 2009 despontou como um presente de Natal antecipado. Nessa data, o presidente Lula assinou um acordo na área de Defesa para adquirir, por US$ 8,3 milhões, cinco submarinos franceses. Uma compra que, em princípio, duplicaria a frota brasileira. Mas não era só. O pacote incluía nada menos que o desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear, o sonho de qualquer país. A velocidade do submarino, seis vezes maior do que a de um convencional, mesmo em grandes profundidades, também poderá impulsionar o desenvolvimento tecnológico de muitas empresas brasileiras, bem como ajudar o país em sua campanha para ganhar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Afinal, coincidência ou não, os países que hoje possuem tal tecnologia – Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e China – são todos os membros permanentes desse seleto clube.
GANHOS PRIVADOS “Ter um submarino nuclear é estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, diz, entusiasmado, o comandante da Marinha do Brasil, Julio Soares de Moura Neto. Pelo cronograma, o primeiro submarino nuclear estará pronto até 2021 e, a cada sete anos, outro mais se somaria à frota, até chegar aos cinco estabelecidos como necessidade mínima no Plano de Defesa do país para patrulhar águas profundas nos mais de 7 mil quilômetros da costa brasileira. Ainda que pareça uma arma exagerada na vizinhança sul-americana, no terreno tecnológico, ela é mais que justi-
Por sua capacidade, UM SUBMARINO NUCLEAR equivale a seis submarinos convencionais
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AUTONOMIA
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IMERSÃO
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CAPACIDADE
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VELOCIDADE
Só é limitada pela capacidade humana de resistir a profundidades. Pode usar velocidade máxima durante todo o percurso
Superior a 100 metros
Até 6 mil toneladas, seis vezes superior à tradicional
De 11,23 km/h a 66,52 km/h (seis vezes superior à convencional)
UM REATOR NUCLEAR de 48 MW de potência em terra significa:
Know-how para projetar, construir e operar centrais nucleares de baixa e média potências
Tecnologia e materiais para as indústrias siderúrgica, elétrica e eletrônica
Técnicos e cientistas altamente qualificados
Ilustração: Patricio Otniel
A TECNOLOGIA DO SUBMARINO NUCLEAR PODERÁ ABRIR MERCADO PARA AS EMPRESAS BRASILEIRAS E AJUDAR O PAÍS A CONQUISTAR UM ASSENTO PERMANENTE NO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU
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Setores vinculados ao projeto poderão gerar 11,5 mil postos de trabalho ficável. Pelo plano do governo, graças a ele, em 2014, os brasileiros poderão ter tecnologia própria de geração termonuclear. Além disso, especialistas apontam que o submarino poderia abastecer de energia localidades costeiras remotas, ampliando seu uso civil. Segundo o acordo franco-brasileiro, a companhia francesa DCNS fornecerá o projeto do casco e a tecnologia de fabricação; a empresa galesa Thales, os sistemas de navegação e as armas; e o sistema de propulsão será desenvolvido pelos brasileiros. Com um investimento de US$ 250 milhões, o Centro Experimental de Aramar, no estado de São Paulo, está construindo um protótipo, que espera homologar para tornar o país o primeiro da América Latina a ter sua própria tecnologia de geração nuclear. Algumas empresas já participam ativamente do processo. A Nuclep, por exemplo, construiu o recipiente do reator, a Dedini fabricou a turbina e o Grupo Garcia Jaraguá participa da construção do pressurizador e do condensador. O Ministério da Defesa calcula que 21 setores industriais serão diretamente vinculados ao projeto e outros 19, de forma indireta, gerando mais de 11,5 mil postos de trabalho. Quem levará a maior parte será a empreiteira Odebrecht. O grupo participará com 50% das ações na sociedade com o estaleiro francês DCNS, que tem 49%, e a Marinha do Brasil, que tem 1%, para construir e operar o estaleiro encarregado do Programa de Submarinos (Prosub). “As empresas brasileiras podem captar 40% de cada projeto”, estima Jairo Cândido, presidente do conglomerado industrial Grupo Inbra e diretor do Comdefesa (Comitê da Indústria de Defesa) da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Porém, os verdadeiros negócios dependem do mercado”, declara.
DIFERENCIAL COMPETITIVO Diante de características tão aclamadas, o anúncio do projeto foi como um rastilho de pólvora. Muitos aplaudiram, outros criticaram, e até mesmo um estudioso alemão surgiu com a tese de que o país estaria desenvolvendo, na realidade, uma bomba nuclear. Na avaliação de Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e especialista em segurança internacional, um submarino nuclear tem um aspecto tático muito importante, principalmente como força militar de dissuasão. Com experiência no Conselho de Segurança da ONU, ele afi rma que dominar uma tecnologia como essa pode ser um diferencial para o país alcançar o tão almejado lugar cativo no Conselho. “O Japão, outro candidato, tem a vantagem financeira. Por outro lado, a Índia, também concorrente, tem
uma população gigantesca e é uma potência nuclear. Temos de ter algo a oferecer”, explica. Para o cientista político Clóvis Brigagão, coordenador da Escola Sérgio Vieira de Mello (Epaz) e diretor do Centro de Estudos das Américas, um submarino nuclear é sempre um dispositivo a ser considerado por um país de médio e grande porte como o Brasil, mas deve vir conjugado com uma frota mais ágil da Marinha. “Ele sozinho não é suficientemente estratégico para dar conta da costa brasileira”, afi rma. “Entretanto, é importante reconhecer que é uma força de dissuasão e que o Brasil está fortalecendo sua defesa.” Os analistas também garantem que, embora possa soar estranho um país como o Brasil, reconhecido por ser pacífico, pensar em desenvolver um submarino nuclear, dominar essa tecnologia é importante para uma região que tem se tornado uma potência aos olhares do mundo. “O processo para você se aparelhar é longo; se não investirmos, em 20 anos, estaremos sucateados”, afirma Cukier.
MOVIDO A URÂNIO Segundo especialistas, o reator do submarino nuclear pode se converter na base para o desenvolvimento de centrais elétricas de potência baixa e média, de até 1.000 MW. Esse reator funciona com urânio levemente enriquecido e utiliza água comum pressurizada para manter a temperatura sem entrar em ebulição. Entre as vantagens, os analistas apontam a estabilidade, a economia do material crítico para a fissão e a água comum, que é, de longe, muito mais barata que a água pesada. Por outro lado, como a água absorve mais nêutrons que a água pesada, esse reator demanda mais urânio. Os cálculos da Marinha determinam que, para o navio, será necessário um combustível enriquecido a, no mínimo, 20%. Desde 1982, o país domina o enriquecimento de urânio mediante centrífugas e prevê que, até o fim do ano, fará os primeiros testes na Usexa, fábrica que produzirá urânio enriquecido em escala industrial. O plano é usar centrífugas para enriquecer combustível para os submarinos e, paralelamente, enriquecer combustível para as usinas de Angra. Agosto, 2010 AméricaEconomia 53
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contramão
ESPECIAL Previdência
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MOMENTO POSITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA DEVERIA SERVIR DE ESTÍMULO PARA A NECESSÁRIA REFORMA DA PREVIDÊNCIA. A TENDÊNCIA, ENTRETANTO, É DE RETROCESSO ANA BORGES, DE SÃO PAULO
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o final de junho, mais de 1 milhão de franceses, segundo a Confederação Geral do Trabalho, foram às ruas contra a proposta do governo de aumentar a idade de aposentadoria no país de 60 para 62 anos, a ser votada em setembro no parlamento. A causa da medida impopular defendida pelo governo de Nicolas Sarkozy estava clara: a crise financeira de 2008 triplicou o déficit do sistema de aposentadorias e pensões na França, chegando a R$ 70,4 bilhões (32 bilhões de euros) em 2010, segundo dados de um órgão independente. No Brasil, a discussão sobre como fazer as contas da Previdência Social fecharem já se arrasta por mais de 50 anos. E, apesar do momento positivo da economia brasileira, que gera mais empregos formais e mais arrecadação, a lentidão na ampliação de reformas necessárias e os últimos movimentos protagonizados por deputados e senadores em relação ao tema dão conta de que, ao invés de aproveitar o momento de bonança para corrigir o sistema, o Brasil está dando marcha a ré. O Ministério da Previdência estima que o déficit para o ano será de R$ 47 bilhões, motivado pelo reajuste de 7,7%, aprovado em junho, para as aposentadorias maiores que um salário mínimo. A projeção oficial anterior era de R$ 45 bilhões. O próprio ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, defende que hoje vivemos em um contexto ideal para realizar mudanças. “A formalidade é boa para nós e, por isso, este é um bom momento para fazer o debate sobre qual previdência queremos em 2015, 2020, 2050”, disse, em entrevista à AméricaEconomia (veja na página 58). Entretanto, depois da reforma realizada em 2003 – que atingiu basicamente o funcionalismo público e que, entre outros, taxou o rendimento dos inativos em 11% do valor excedente ao teto do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e fi xou um teto igual ao do INSS para as futuras aposentadorias com a instituição da previdência complementar –, o governo estacou e o Congresso imergiu, sobretudo nos últimos meses, em um arroubo de irresponsabilidade fiscal, em grande parte provocado pela proximidade das eleições. No caso da fi xação do mesmo teto para funcionalismo e INSS, o projeto complementar necessário para concretizá-lo está parado desde 2007. E, em julho, votou-se a isenção da contribuição dos inativos do sistema público. O fi m do fator previdenciário, fruto de uma reforma ainda do governo FHC, também havia sido eliminado pelos congressistas, mas vetado por Lula. E não foi só. O Senado também aprovou a emenda que retoma a indexação dos benefícios previdenciários ao salário mínimo.
Foto: Sérgio Lima/Folhapress
CANDIDATOS EVITAM O DEPUTADO FEDERAL MARCELO ITAGIBA (PSDB-RJ), EM DESTAQUE, COMEMORA A APROVAÇÃO DA EMENDA QUE REINDEXA BENEFÍCIOS AO SALÁRIO MÍNIMO NA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA
Tais episódios revelam uma situação grave diante de um sistema cujo equilíbrio é reiteradamente posto na berlinda. A falta de uma posição concreta para corrigir as disparidades gigantescas entre a previdência pública e o Regime Geral da Previdência Social (RGPS) traz resultados nefastos: em 2009, foram desembolsados R$ 47 bilhões para cobrir pensões e despesas com o funcionalismo federal, que abrange cerca de 900 mil pessoas, Agosto, 2010 AméricaEconomia 55
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ESPECIAL Previdência contra R$ 42,9 bilhões para fi nanciar o buraco no RGPS, com 27 milhões de aposentados e pensionistas. E, a ela, soma-se um aumento de gastos com os aposentados pelo INSS, concentrados no início da década de 2000. Esse debate é tão sensível à opinião pública que sequer está em destaque na agenda dos candidatos à Presidência. “O Brasil ainda está pouco maduro para debater esse assunto em uma eleição”, afi rma André Sacconato, economista da Tendências Consultoria. O assunto já foi evitado várias vezes pelos candidatos. A presidenciável Dilma Rousseff já apresentou as metas econômicas para um eventual terceiro mandato do PT: além de prometer a desoneração total dos investimentos no Brasil, ela declarou que irá igualar as taxas de juros internas a níveis internacionais e utilizar recursos do Tesouro para compensar a desoneração previdenciária da folha de pagamentos. No entanto, a candidata petista não abordou a necessidade de uma reforma previdenciária. A mesma postura vem sendo apresentada por seu maior concorrente: o candidato do PSDB, José Serra. Ele evitou co-
sor da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) e sócio da consultoria Consult Mais. O ministro Gabas também afi rma defender a discussão sobre o aumento da idade para a aposentadoria, mas tampouco assume uma opinião sobre qual deveria ser. “Eu não tenho receita de bolo, e qualquer proposta que o governo faça será interpretada como imposição”, desconversa, defendendo que essa deve ser uma decisão fruto do debate da sociedade. Ou seja, sem data para acontecer. “Para complicar, o reajuste dos aposentados acima da inflação piora a equação da Previdência. Uma medida como essa compromete o futuro do país”, ressalta Sandra Lima Santos, sócia da Triaxes Consultoria Atuarial. Apesar do quadro preocupante, o Brasil deverá aguardar mais um mandato presidencial de quatro anos para abrir a caixa de Pandora. “Acredito que a discussão da reforma tributária e fiscal venha antes da reforma da Previdência. É possível levar mais quatro anos da forma que está hoje, sem a bomba estourar. No entanto, quanto mais tempo levar, mais caro sairá”, diz Sacconato.
A PREVIDÊNCIA EM NÚMEROS
228 bilhões de reais foi o valor injetado na economia brasileira em 2009 com o pagamento de benefícios
mentar a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manter o reajuste de 7,7% para os aposentados e vetar o término do fator previdenciário. No entanto, já declarou que, para uma reforma na Previdência, o ideal seria um novo sistema, para quem está nascendo hoje. Todas as declarações são feitas “sem maiores detalhes”.
MUDANÇA NA PIRÂMIDE Diferentemente do governo, os especialistas estimam o déficit da Previdência Social em R$ 50 bilhões ao fi nal deste ano. Segundo Sacconato, parte desse problema é similar ao do restante do mundo: a pirâmide etária brasileira está cada vez mais similar à de países europeus, que já enfrentam graves problemas com a Previdência. “Não podemos chegar à situação de não termos mais recursos. Será necessário fazer reformas nada populares. Alguns países foram bastante agressivos nesse sentido”, diz Miguel Leôncio Pereira, profes-
27 milhões de benefícios são pagos mensalmente desde dezembro de 2009
SEM MAIS IMPOSTOS Pereira, da Fipecafi, lembra que, em algum momento, medidas nada populares para conter a sangria da Previdência precisarão ser tomadas. “Já se discutiu muito a realização de reformas mais agressivas. O problema é o passado, pois não há como reduzir os privilégios de quem se encontra no regime antigo. Qual é a saída? Aumentar as contribuições ou a idade mínima para a aposentadoria? Reduzir os benefícios?”, questiona-se, ao lembrar que qualquer medida adotada não agradará aos brasileiros. O professor ressalta ainda que o aumento da carga tributária não deve ser visto como uma saída. “O brasileiro já paga muito imposto”, complementa. Para Sandra, da Triaxes Consultoria, não há como resolver o problema sem descontentamento da população. “É só ver o caso chileno”, cita, referindo-se ao sistema que foi totalmente privatizado sob o governo ditatorial de Augusto Pinochet, em 1981. Depois de 20 anos, o resultado apresentado foi o
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DEBATE SOBRE A MUDANÇA NO SISTEMA DE APOSENTADORIA É IMPOPULAR E, POR ISSO, EVITADO EM ÉPOCA DE ELEIÇÃO
fonte: Ministério da Previdência Social
O grande entrave está relacionado à postura do Senado e do Congresso Nacional, que não dão o respaldo político necessário. “Os parlamentares – da base, da oposição – protagonizam uma contradição dentro do Congresso”, resume o ministro Gabas. Assim, a bola de neve continua, diante da aprovação de aumentos reais para aposentadorias e pensão. A lei garante que esses benefícios sejam atualizados monetariamente, acompanhando a inflação, mas não prevê aumentos reais. A corrente de parlamentares que defende que os aumentos reais virem uma regra permanente aumenta a cada dia. Outro retrocesso é a proposta de emenda constitucional (PEC), prestes a ser votada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, que restabelece a aposentadoria integral para juízes e funcionários de outras carreiras da área jurídica, colocando em risco a reforma da Previdência do setor público. A Emenda Constitucional nº 20, de 1998, modificou as regras para esse tipo de aposentadoria, substituindo o tempo de serviço por tempo de contribuição e estabelecendo a exigência de idade mínima para a obtenção do benefício. No caso dos juízes, retirou da Constituição de 1988 o direito de aposentadoria integral compulsória por invalidez, ou ao completar 70 anos de idade, e facultativa aos 30 anos de serviço, condicionada ao exercício da função de juiz por pelo menos cinco anos. Desde a aprovação da emenda, a aposentadoria de magistrados e a pensão devida aos dependentes são regidas pelas regras aplicadas aos demais funcionários. Agora, a PEC que está sendo analisada pelo Senado recria o regime especial de aposentadoria para magistrados e membros do Ministério Público. Pela proposta, esses funcionários terão direito a aposentadorias com proventos integrais, respeitando-se as demais regras aplicadas ao restante do funcionalismo. Para Sacconato, da Tendências Consultoria, a reforma da Previdência tem um custo social e político elevado, mas não pode ser deixada de lado. “Alguém precisará botar o dedo na ferida”, diz. O envelhecimento da população, que aumenta a base de aposentados recebedores da previdência e reduz a base de contribuintes, é o grande vetor que potencializará o problema nos próximos anos. “O déficit tende a se intensificar, pois a tendência é a de que aumente o número de recebedores e haja a redução do número de pagadores. Além do mais, há muitas pessoas que não contribuem, mas recebem a aposentadoria, como os trabalhadores rurais”, lembra o analista.
No Brasil, o crescimento real do valor médio dos benefícios foi de 20,2% em 2009, se comparado a 2002 enriquecimento dos fundos de investimento, conhecidos como AFP, enquanto quase metade da população ficou sem aposentadoria. Em 2008, a presidente Michele Bachellet anunciou uma nova reforma, aumentando a concessão de pensões públicas. No caso do Brasil, aumentar a carga tributária é visto como mais um entrave ao desenvolvimento do País. “Sem a reforma, a equação não tem solução e o país paga um custo muito alto. O setor público é outro problema, pois os benefícios são muito altos”, diz.
O FATOR CONGRESSO Solucionar o problema da previdência, porém, não depende apenas da vontade do governante. Tanto na administração de Fernando Henrique Cardoso quanto na do atual presidente Lula, as reformas no sistema previdenciário brasileiro foram apenas marginais, apesar de alguns avanços.
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Sem estado mínimo
ESPECIAL Previdência
EDUARDO COLTURATO E SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO. FOTOS: MÁRIO ÁGUAS
AméricaEconomia É possível defender o modelo de previdência social do Brasil? Carlos Eduardo Gabas Em seminário do Banco Mundial, realizado em Brasília, no mês de maio, ouvimos que a previdência social é fator de estabilidade econômica. Veja a mudança: na década de 1980, quando eu já era servidor e sindicalista, o banco dizia que tínhamos de mudar o conceito de pilar solidário, porque o mercado resolveria esse problema, e defendia o modelo de capitalização pura. Assim aconteceu no Chile e na Argentina, e acabou que essas implantações não deram certo. Ou seja, antes tínhamos a Previdência como problema, e agora passamos à visão do Banco Mundial de que é fator de estabilidade econômica. O conceito de que o mercado resolve tudo não é verdade, porque estamos falando de política pública, de política social, e isso é desafio dos governos. Não temos preconceito contra o modelo de capitalização, mas o defendemos como complementar, como temos no Brasil. A partir de 2003, criamos um arcabouço legislativo de regulação, de fi scalização e de orientação que deu segurança ao sistema e fez com que ele crescesse assustadoramente. Hoje, somente nos fundos fechados, temos meio trilhão de reais.
O
tempo de Carlos Eduardo Gabas à frente do Ministério da Previdência é pequeno – ele assumiu o cargo no final de março. Entretanto, são poucos os que podem mostrar os anos de casa acumulados por Gabas – como é conhecido –, funcionário do INSS desde 1985 e secretário-executivo do ministério desde 2005. Essa experiência dotou-o de uma paixão peculiar pelo tema, bem como de um indiscutível otimismo. Gabas se orgulha de ser uma das vozes que defenderam o papel do Estado no sistema ainda nos anos 1980, quando se pregava a capitalização pura, e afirma que o momento de crescimento vivido pelo país é o ideal para fazer ajustes, desde que debatidos com a sociedade. O ministro insiste que há equívocos ao se falar do déficit da Previdência. “A imprensa tem dito que estamos maquiando o resultado da Previdência. Eu digo: pelo contrário; maquiou quem disse que é um buraco sem fim”, diz, em entrevista exclusiva à AméricaEconomia.
plo. Não podemos considerar que a Previdência seja um problema para a sociedade. Hoje, há superávit porque há mais gente entrando no mercado de trabalho. A formalidade é boa para nós, e por isso digo que este é um bom momento para promover o debate sobre qual Previdência queremos em 2015, 2020, 2050.
AE O senhor diz não defender uma reforma, mas mudanças pontuais. Quais seriam? Gabas Quando você fala de reforma, você fala de modelo e, na minha concepção, nosso modelo é correto. Um regime geral, com teto de proteção para toda a sociedade e que seja público, obrigatório, eu defendo sob qualquer hipótese. Quero mudanças pontuais. Vou dar dois exemplos. Um moço de 23 anos, formado, bem-sucedido, que ganha R$ 30 mil, apaixonase por uma servidora pública de 95 anos, com aposentadoria de R$ 26 mil. Eles se casam, ela morre, e ele vai receber R$ 26 mil pelo resto da vida. É justo? Por outro lado, imagine uma mulher com dois filhos, que nunca trabalhou e não tem formação, e cujo marido morre com 38 anos. Nesse caso, eu defendo que ela tenha a pensão integral do salário dele.
AE Mesmo assim, hoje a Previdência vive uma situação precária... Gabas Eu não acho. Do ponto de vista do regime urbano,
AE O senhor afirmou recentemente que o aumento da idade mínima para aposentadoria deveria mudar. Qual seria a idade ideal hoje? Gabas No século passado, a expectativa de vida de uma
tivemos um superávit de R$ 1,17 bilhão em maio, por exem-
pessoa no Brasil era de 36 anos; hoje, passa dos 80. Eu não
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tenho receita de bolo, e qualquer proposta que o governo faça será interpretada como imposição. Mas acho que momentos positivos como o de hoje são propícios para abrir o debate.
AE Qual seria a fórmula para reduzir a grande disparidade entre o sistema público e o INSS? Gabas Esse debate já me rendeu cartazes de traidor dos servidores. Quando eu fui eleito dirigente sindical, era para defender interesses de uma categoria; quando sou nomeado para administrar uma política pública, tenho de pensar na sociedade. Assim, não posso defender quando os funcionários públicos dizem que contribuíram a vida inteira sem teto, com 11%. Entretanto, fazer modificações numa corporação com quase 1 milhão de servidores não é tarefa fácil. Qual é a nossa proposta? O quanto antes a gente mudar para o futuro, menos problemas vamos ter lá na frente.
não demonizar o servidor público, mas há um equívoco. Logo nos primeiros governos de redemocratização, colocou-se a opção de privatizar tudo e reduzir a participação do Estado na sociedade. Esse Estado mínimo fez com que a previdência social ficasse 18 anos sem concurso. Nessa época, travestiu-se a Previdência de um discurso moderno e optou-se por terceirizar tudo: a perícia médica, o atendimento. A terceirização era feita pelas indicações de deputados e senadores. Você tinha na Previdência o salário inicial de R$ 700 contra R$ 1,5 mil do salário do terceirizado. O fator multiplicador desse contrato era 3,5: significa que a empresa ganhava até três vezes e meia o salário dessa pessoa. Custava uma enormidade para o Estado. Nós acabamos com a terceirização e retomamos os concursos. Quando recriamos a máquina, o governo Lula foi acusado de inchá-la. Fizemos concurso público, não aparelhamento. Acabamos com uma terceirização perniciosa no serviço público.
Fizemos concurso, não aparelhamento. Acabamos com uma terceirização perniciosa dentro do serviço público
AE Mas, desde 2007, existe um projeto de lei que cria a previdência complementar para o setor público – que, a partir do momento em que fosse aprovada, colocaria os servidores concursados sob o mesmo teto do regime geral. Até hoje, nada aconteceu... Gabas É preciso incentivar a discussão. A sociedade é uma só e não há almoço de graça. Tenho convicção de que, se colocarmos esse debate para a sociedade, e não só para os servidores, vamos mudar alguma coisa.
AE É possível pensar na aprovação de temas como esse antes de uma reforma política? Gabas Isso depende da qualidade da discussão e da transparência, pois essa situação é indefensável. Sai muito caro
AE De qualquer forma, nos últimos meses, houve votações no Congresso que poderão levar a um retrocesso em certas conquistas, trazendo risco à Previdência. Não falta pressão do governo para deter esse processo? Gabas Infelizmente, isso ocorreu no momento pré-eleições, que acontecerão em 3 de outubro. E os parlamentares, indistintamente – da base, da oposição –, protagonizam uma enorme contradição dentro do Congresso. Quando debatemos a regulamentação da emenda 29, em 2008, por exemplo, os parlamentares do PT e os partidos mais de esquerda se contrapuseram à tese de que era preciso fazer algum movimento para restringir o pagamento dos benefícios ou dar mais racionalidade à forma de pagar os benefícios. É fato que, naquele momento, tínhamos outro desafio: a reforma no regime dos
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servidores, que ainda continua. Mas existia resistência da oposição. Agora o PT está no poder, e aqueles que defendiam a reforma agora propõem e aprovam coisas que seriam impensáveis discutir quando eles eram governo. Então, falta racionalidade no debate.
AE O senhor defende que as isenções concedidas a determinados setores sejam cobertas pelos respectivos ministérios. É possível concretizar isso? Gabas Acho que nós já demos um grande passo. Até pouco
assistencial, só distribuição de renda, pois mais de 70% dos alimentos que consumimos vêm de propriedades de até quatro módulos rurais. Então, estamos falando de garantir comida na mesa. Como se sabia que esse modelo não tinha sustentação, criaram-se fontes adicionais de custeio, como CFLL, Cofins e até a CPMF, que foi extinta. É aí que mora o erro. Por exemplo, o superávit urbano de maio foi de R$ 1,17 bilhão, e tivemos US$ 3,3 bilhões de necessidades de fi nanciamento rural. Quem pagou por isso? O Tesouro. Só que, de maneira equivocada, se diz que o Tesouro cobriu o rombo da Previdência. O Tesouro transferiu para fazer frente ao que a folha de salário não foi suficiente, porque não foi pensada para isso. Hoje podemos dizer que a situação está equacionada. É questão de botar as contas nos devidos lugares. Temos de ter transparência. A imprensa tem dito que estamos maquiando o resultado da Previdência. Eu digo: pelo contrário; maquiou quem disse que é um buraco sem fim.
tempo atrás, em 2008, o ministro da Previdência era responsável por dizer se um asilo, uma escola ou um hospital deveria ter isenção da cota patronal. Aqui para nós, isso era um absurdo, pois temos o Ministério da Saúde, o da Educação e o do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para fazer isso. Nós conseguimos fazer uma mudança legal que atribui aos ministérios onde deve haver a fi lantropia, e com quais regras. Mas como fica a contribuição da empresa? Isso é uma conta previdenciária que exige cálculo atuarial. Quem vai repassar isso? Deve haver uma transferência no orçamento de cada pasta para custear, e esperamos chegar aí.
AE Em 31 de dezembro, o senhor completará nove meses como ministro, mas já é cotado a continuar na pasta caso Dilma Rousseff vença as eleições... Gabas Não conto com isso. Primeiro, é preciso continuar
AE E no caso da aposentadoria rural, como fazer para equilibrar essa conta? Gabas Primeiro, não é verdade que não existe contribui-
trabalhando, consolidar avanços, para criar mecanismos que não aceitem retrocessos sem consulta prévia à sociedade. Não fiz nenhuma precondição; sou servidor da Previdência.
ção em hipótese alguma. Existe trabalhador com carteira assinada. E há o segurado especial, no regime de economia familiar, que trabalha para seu sustento e vende excedente aos mercados. Ainda nesse caso, ele tem uma contribuição por substituição tributária. Esse universo abrange cerca de 8 milhões de pessoas. O fato é que essa contribuição nunca foi pensada como suficiente para manter as aposentadorias. Na Assembleia Constituinte, em 1988, a ideia era proteger o homem do campo. E, ainda assim, é um equívoco dizer que é uma coisa
AE E o que deixará a seu sucessor? Gabas Uma casa arrumada, uma sociedade que vê na Previdência cidadania, não um problema. 2009 é prova disso: o que fez o Brasil encarar a crise de maneira diferente? Mercado interno. Consumo. Como o presidente costuma dizer, colocamos da soleira da porta para dentro do país um universo de pessoas que não faziam parte do mercado consumidor. E isso faz a diferença.
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ESPECIAL Previdência
Muito além da
a i r o d a t n e s apo PLANOS DE PREVIDÊNCIA SE TORNAM ALTERNATIVA DE POUPANÇA PARA INVESTIMENTOS, COMO EM EDUCAÇÃO E SAÚDE ANA BORGES, DE SÃO PAULO
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$$$ Fagundes não é o único a pensar na previdência como uma alternativa de investimento de longuíssimo prazo. Cada vez mais, aumenta o número de brasileiros que acreditam nessa forma de poupar, não só para se aposentar, mas para ter a tranquilidade de realizar seus sonhos ou o de seus dependentes. As aplicações dos recursos originados da formação de poupança de longo prazo, através da previdência privada, são inúmeras e vão muito além de complementar a aposentadoria: montar o próprio negócio, custear os estudos dos fi lhos, pagar despesas de saúde ou simplesmente garantir a própria independência financeira. “Na prática, a previdência não é mais sinônimo de aposentadoria, mas um modo de formar poupança de longo prazo”, define o diretor-executivo responsável pelas Operações de Seguros, Previdência e Capitalização do Itaú Unibanco, Osvaldo do Nascimento.
FOCO AMPLIADO
CUSTEAR OS ESTUDOS DOS FILHOS É UM DOS OBJETIVOS QUE INCENTIVAM A BUSCA POR UM PLANO
Foto: iStockphoto
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uando completar 55 anos de vida, o médico neurologista Valdemar Fagundes irá realizar o sonho de montar a própria clínica de neurofisiologia. Com essa idade, segundo as projeções de seu plano de previdência, esse gaúcho terá dinheiro suficiente para conquistar sua independência. “Coloco R$ 500 ao mês. Comecei a investir em previdência aos 25 anos e, daqui a 20 anos, não trabalharei por necessidade. Poderei ter minha própria clínica e selecionar os casos de que quero cuidar”, conta ele, hoje com 35 anos. Como seu plano de previdência é no regime regressivo, ele diz que só fará a primeira retirada quando o Imposto de Renda a ser pago for o mínimo, ou seja, 10%. Para isso, o médico não precisaria esperar tanto tempo, mas sabe que, quanto maior o prazo do seu investimento, mais recursos terá acumulado ao longo de sua carreira. “Ainda não sei se vou à cidade de Três de Maio (no Rio Grande do Sul), onde moro, mas acho que poderei montar a minha clínica em qualquer lugar”, afirma. Em seus projetos está a possibilidade de fazer planos de previdência para os fi lhos, Eduardo, de 11 anos, e Gabriela, de 7 anos.
A busca por planos de previdência para outros interesses que não sejam a aposentadoria levou o mercado a se adaptar. Agora, as instituições aguardam a aprovação dos novos planos, que permitem saques sem pagamento de Imposto de Renda (IR), para arcar com despesas de saúde e de educação. A perspectiva é a de que eles sejam regulamentados até 2011. No momento, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) aguarda a avaliação do Prev Saúde e Prev Educação pelo Ministério da Fazenda e pela Receita Federal. A intenção é a de que os novos produtos tenham 100% de isenção da alíquota do IR, que incide sobre a rentabilidade acumulada nos planos. Nos novos produtos, o dinheiro acumulado no Prev Saúde e no Prev Educação deve ser utilizado no custeio da educação ou da saúde e não terá a incidência da cobrança do imposto, respeitados os limites de dedução fiscal, vigentes na legislação do IR para esses dois setores. Os produtos visam atender às necessidades básicas da população de menor poder aquisitivo nas duas áreas, segundo profissionais do setor. Conforme o vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica, Renato Russo, essa é uma estratégia relevante para o mercado, pois permite que a população identifique melhor os planos de previdência que cobrem suas necessidades específicas. “Esta será uma evolução para o mercado de previdência que dará nova visibilidade e um apelo maior”, diz Silas Kasahaya, gerente de Vida e Previdência da Porto Seguro. Kasahaya conta que “hoje, as pessoas sabem o que querem e entendem os benefícios fiscais de investir no longo prazo. Por esse motivo, registramos recordes atrás de recordes”, ressalta Kasahaya. Neste ano, até maio, as contribuições para planos de previdência aberta aumentaram 24,7%, elevando a carteira de investimentos do setor para R$ 195 bilhões.
QUESTÃO DE ESCALA O incremento da previdência privada pode ganhar projeções mais otimistas em virtude do forte crescimento da economia e da renda do brasileiro, o que tende a incluir na equação as Agosto, 2010 AméricaEconomia 63
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ESPECIAL Previdência VALDEMAR FAGUNDES, MÉDICO NEUROLOGISTA “Coloco R$ 500 ao mês. Comecei a investir em previdência aos 25 anos e, daqui a 20 anos, terei minha independência”
LÚCIO FLÁVIO DE OLIVEIRA, DIRETOR-PRESIDENTE DA BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA “A moeda forte levou as pessoas a pensarem no longo prazo. Hoje, há segurança e capacidade de poupar”
classes de menor poder aquisitivo. “Existe um movimento o pai pode deduzir o valor das contribuições de sua base de para inserir essas classes, que são importantes e represencálculo do IR, com limite de 12% de sua renda bruta anual. tam uma oportunidade para o mercado”, afirma. Tal medida Dessa forma, poderá reduzir o valor do imposto a pagar ao passa, primeiramente, pelo investimento em Leão ou aumentar sua restituição. educação financeira, pois o brasileiro precisa As quantias guardadas para os dependenaprender a poupar. “A previdência é o seguntes quase sempre não são para a aposentadodo passo, ou seja, envolve buscar alternativas ria. Muitos pensam em custear os estudos da de investimento”, explica. faculdade, auxiliar na abertura de um negócio De qualquer forma, a estabilidade econôquando estiverem formados ou pagar uma mica e o aumento da renda são dois grandes pós-graduação ou especialização no exterior. fatores que possibilitaram a mudança de “É uma formação de patrimônio para os filhos, pensamento do brasileiro, que começa a que podem utilizar os recursos para custear os criar o hábito de guardar no longo prazo. Tal estudos ou continuar poupando, para o futumudança impulsionou o mercado e fez com ro”, diz Nascimento, do Itaú Unibanco. que os planos de previdência crescessem, em Movem ainda o mercado de previdência média, 20% ao ano na última década. “A moa flexibilidade e a rentabilidade oferecidas eda forte levou as pessoas a pensarem assim. pelos planos. O especialista do Banco Sanbilhões de reais Hoje, há segurança e capacidade de poupar”, tander Alessandro Andrade defende que o era a carteira de explica o diretor-presidente da Bradesco Vida ganho fi nanceiro oferecido pelos planos é investimento e Previdência, Lúcio Flávio de Oliveira. um grande incentivo, que torna a previdência em previdência mais atrativa do que os fundos de investiaté maio APOIO ADICIONAL mentos como forma de diversificação. “Outra Além disso, há a própria configuração dos vantagem é a flexibilidade. A pessoa muda planos de previdência, que já contam com seu perfi l de investimento ao longo da vida e alguns incentivos fiscais. Em 2005, foi criada pode sair de um perfi l mais arrojado para um a tributação regressiva, que estabeleceu a mais conservador sem precisar resgatar os incidência da menor alíquota do mercado, recursos”, lembra. de 10% de IR, quando cada aporte permanece Os planos de previdência também facié o crescimento por mais de dez anos aplicado no plano de litam o planejamento sucessório, que visa à anual do mercado previdência. Nos atuais planos de acumulaproteção e à perpetuação do patrimônio ao de planos ção, Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e longo da família, ou seja, criam mecanismos para jovens Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), existe familiares, societários ou tributários para a o diferimento tributário, ou seja, o IR somente manutenção da renda e dos negócios na auincide no momento de saque dos recursos, sência do principal provedor. Como os planos seja pelo recebimento do benefício ou em de previdência não entram no inventário, gadecorrência do pedido de resgate, facultado rantem liquidez imediata aos herdeiros. Dessa ao consumidor, a qualquer tempo, durante o forma, ao optar por transferir o patrimônio, ou período de acumulação. parte dele, através de um plano de previdência O segmento que mais cresce na previdência privada, é possível economizar com tributos, privada é o de planos voltados a jovens. Enquanto o incredespesas processuais e honorários advocatícios. A pessoa mento médio do mercado é de 20% ao ano, os planos para também pode mudar de beneficiário a qualquer momento, esse público aumentam 30% ao ano e já representam 7% do o que evita problemas na partilha, e ainda há a flexibilidade mercado total. Além de poupar para o futuro do fi lho, no PGBL, para inclusão de beneficiários.
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Estudo e-readiness na América Latina 2010
Estudo sobre as condições para o crescimento do e-commerce na região
e-readiness na América Latina A região melhorou em 47,6% suas condições para o desenvolvimento do comércio eletrônico nos últimos quatro anos. Entretanto, a diferença em relação aos países desenvolvidos continua grande AméricaEconomía Intelligence
RESUMO EXECUTIVO O desenvolvimento do comércio eletrônico de um país depende de uma série de variáveis, que podem ser sintetizadas em cinco grandes dimensões: o potencial da demanda, a infraestrutura tecnológica, a penetração dos diferentes meios de pagamento, a força da oferta e a velocidade com que as tecnologias são adotadas pelos consumidores. A AméricaEconomía Intelligence, por solicitação da empresa de meios de pagamento eletrônico Visa, analisou cada uma dessas variáveis nos principais mercados da América Latina e desenvolveu um índice e-readiness, que descreve a capacidade de um país para transformar a internet em um canal de vendas efetivo destinado aos consumidores. Para dar um valor referencial a esse indicador, também foram analisados dois outros mercados que, apesar da proximidade com a América Latina, contam com um comércio eletrônico muito mais desenvolvido. Dessa forma, pudemos estudar as lacunas e identificar as forças e os desafios da região no desenvolvimento do e-commerce. O índice e-readiness 2009 para a América Latina é de 0,62 ponto, indicando um aumento de 47,6% nos últimos quatro anos. Entretanto, a distância em relação aos países desenvolvidos continua grande: o indicador regional representa quase dois terços do e-readiness da Espanha e um terço do dos EUA.
Em alta Evolução do e-readiness (índice no eixo vertical direito) e do volume do comércio eletrônico B2C (em US$ milhões, representados pelo eixo vertical esquerdo), em toda a América Latina e-readiness 2009 e-commerce
Fonte: AméricaEconomía Intelligence
35.000 0,62 30.000
0,55
0,70 0,60
0,52 0,47
25.000
0,50 21.775
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0,40 15.645 0,30
15.000 10.573 10.000
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5.000 1.866
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Estudo e-readiness na América Latina 2010
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os encartes promocionais que acompanham o jornal de domingo às ofertas online que chegam por e-mail, tudo é alvo das grandes redes varejistas que operam na América Latina, sobretudo quando suas apostas no comércio eletrônico crescem. Preste atenção neste dado: das 60 maiores companhias de varejo da América Latina, cujas vendas superam os US$ 500 milhões ao ano, 53% já têm uma operação online. Pouco mais da metade pode não parecer muito, mas representa uma alta taxa de crescimento se levarmos em conta que a maioria de seu comércio eletrônico não tem mais de dois anos de vida. Além disso, muitas empresas de comércio e supermercados que hoje não contam com uma estratégia para vendas online declararam à AméricaEconomía Intelligence que esperam lançar seu primeiro site de transações ainda neste ano. Trata-se de uma boa notícia para o desenvolvimento do comércio eletrônico na região, pois vários especialistas concordam que a incorporação de marcas tradicionais e conhecidas ao setor é um fator importante para estimular os latino-americanos a migrar suas compras para o universo online. Tem sido assim no Brasil e no Chile, os dois países da região que contam com o maior número de habitantes comprando pela web e onde o setor varejista apostou com mais vigor no e-commerce. Esta segunda edição do estudo e-readiness, que a AméricaEconomía Intelligence desenvolve a pedido da empresa de meios de pagamento eletrônico Visa, leva em conta a potência da oferta de produtos online entre seus principais indicadores de análise. Como o objetivo do índice e-readiness é avaliar o avanço das condições relevantes ao desenvolvimento do comércio eletrônico para consumidores (ou B2C, do inglês business to consumer), desta vez foram incorporados como novidades metodológicas a presença e a atividade do varejo, a quantidade de empresas que operam na rede, as categorias de
Preparados para o comércio eletrônico Amostra dos indicadores mais representativos que compõem o índice e-readiness Os valores (em %) são obtidos com base na população dos países Fonte: AméricaEconomía Intelligence
PAÍS ARGENTINA
ÍNDICE POPULAÇÃO PIB PER CAPI- % 25-35 USUÁRIOS DE POTENCIAL (EM MILHÕES) TA (EM US$) ANOS INTERNET DEMANDA 40,3 7.726 15,8% 29,7% 0,65
TELEFONIA FIXA 24,9%
PREÇO DA ÍNDICE DE TELEFONIA COMPUTA- ASSINATURA BANDA BANDA LARGA INFRAESTRUMÓVEL DORES DELARGA (EM US$) TURA 122,8% 12,8% 9,1% 20,14 0,61
BOLÍVIA
9,8
1.724
14,8%
12,8%
0,32
7,3%
64,5%
2,7%
1,0%
53,00
0,19
BRASIL
193,7
8.220
17,1%
40,1%
1,78
21,7%
95,7%
25,0%
7,7%
15,53
0,70
CHILE
16,9
9.525
14,6%
33,8%
0,50
21,1%
107,5%
18,9%
10,2%
24,38
0,59
COLÔMBIA
45,6
5.087
16,0%
42,0%
0,73
17,9%
90,3%
11,7%
4,4%
31,72
0,41
9,7
5.176
15,5%
25,1%
0,40
10,5%
93,1%
2,4%
2,9%
18,99
0,43 0,40
REP. DOMINICANA EQUADOR
13,6
4.059
15,3%
29,9%
0,44
14,6%
99,0%
15,5%
0,3%
24,90
GUATEMALA
14,0
2.662
14,1%
16,8%
0,36
11,5%
155,6%
2,8%
0,7%
50,01
0,37
HONDURAS
7,4
1.823
15,4%
15,4%
0,32
13,4%
140,7%
2,6%
0,0%
25,00
0,40
109,6
8.135
16,3%
29,0%
1,14
19,8%
77,6%
18,4%
9,4%
20,05
0,52
5,7
972
16,0%
19,2%
0,33
5,7%
71,1%
6,4%
0,8%
39,99
0,26 0,62
MÉXICO NICARÁGUA PANAMÁ PERU PORTO RICO
3,4
7.132
15,6%
30,4%
0,39
16,4%
154,6%
3,1%
6,7%
16,95
29,1
4.356
16,3%
27,4%
0,55
10,6%
73,3%
14,8%
3,1%
22,28
0,43
3,9
21.869
14,2%
40,0%
0,52
24,9%
149,5%
25,4%
6,2%
24,95
0,66
PARAGUAI
6,3
2.337
15,6%
14,8%
0,31
8,4%
128,6%
11,9%
1,9%
24,13
0,44
EL SALVADOR
6,1
3.623
14,2%
11,1%
0,29
19,6%
155,3%
10,2%
2,6%
21,99
0,54
3,3
9.425
14,1%
41,9%
0,44
29,5%
126,0%
16,5%
7,9%
13,81
0,69
28,6
11.789
16,1%
31,2%
0,61
22,9%
110,2%
16,3%
7,2%
13,99
0,88 0,59
URUGUAI VENEZUELA AMÉRICA LATINA ESPANHA EUA
547,0
7.327
16,3%
33,2%
1,11
19,4%
96,9%
17,9%
6,8%
*
45,9
35.116
16,1%
57,7%
1,00
46,1%
112,9%
50,5%
21,5%
17,45
1,00
307,0
46.436
13,5%
78,9%
2,95
48,4%
90,0%
93,2%
25,0%
19,95
1,27
* optou-se por não calcular a média da região
68 AméricaEconomia Agosto, 2010
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Estudo e-readiness na América Latina 2010
Internet por dois
2005 2009
ARGENTINA BOLÍVIA BRASIL CHILE COLÔMBIA REP. DOMINICANA EQUADOR ESPANHA GUATEMALA HONDURAS MÉXICO NICARÁGUA PANAMÁ PERU PORTO RICO PARAGUAI EL SALVADOR URUGUAI EUA VENEZUELA
produtos que oferecem e o tráfego gerado, que se somam Comparação do percentual da população que utiliza internet ao grupo de mais de 20 indicadores usados para elaborar o (2005 versus 2009) Fonte: AméricaEconomía Intelligence índice e-readiness. Para facilitar a compreensão, eles foram reunidos em cinco dimensões, tal como se mostra na tabela 90% no final desta página e se explica mais detalhadamente na 80% 70% metodologia que consta na pág. 74. 60% A partir de cada uma dessas dimensões do e-commerce, 50% geraram-se indicadores aos quais foram atribuídas distintas 40% 30% ponderações para determinar o índice geral e-readiness. 20% Para não cometer o erro de olhar somente para nosso 10% umbigo latino-americano, foram incluídos os dois países 0 com maior nível de desenvolvimento em comércio online e cujas economias são próximas às da América Latina: Estados Unidos e Espanha. Neste ano, inclusive, a análise toma como base a situação da Espanha em 2009. Dessa forma, o valor 0,62, que representa o e-readiness da América Latina em 2009, significa que suas condições equivaliam a 62% do da Espanha nesse ano. Trata-se, não obstante, de uma alta considerável frente ao 0,42 que a região registrava em 2005, pois significa que as condições para o comércio eletrônico na região melhoraram 47,6% nos últimos quatro anos. As estimativas são de que, em 2010, esse indicador aumente outros 10%. O Brasil é o país da região com melhor índice e-readiness, seguido por Chile e México (veja na pág. 72).
CARTÃO CRÉDITO
CARTÃO DÉBITO
40,8%
40,7%
CAIXA SIST. BANDA LAR- E-COMPRAAUTOMÁTICO ÍNDICE DORES (UNIDADES) BANCÁRIO GA MÓVEL 15.000 3,32% 3,48% 0,34
COMPRAS ÍNDICE GRANDES REFORÇA ÍNDICE POR ADOÇÃO TEC- CONTRIBUIN- DES VAREJO ÍNDICE DA OFERTA E-READINESS INTERNET NOLÓGICA TES ONLINE ONLINE 875 0 2 0,32 0,09 0,46
2,2%
12,7%
908
0,04
0,32%
1,50%
44
0,20
0
0
0,00
0,17
71,2%
123,0%
174.255
0,97
4,27%
9,73%
13.230
0,61
0
10
0,33
0,95
53,2%
48,0%
7.562
0,70
3,41%
7,02%
1.028
0,55
131.974
6
1,06
0,63
16,6%
33,0%
9.274
0,20
1,85%
4,02%
435
0,20
0
1
0,07
0,36
16,7%
30,8%
2.000
0,17
1,38%
4,16%
209
0,34
0
0
0,00
0,31
14,2%
19,7%
1.340
0,13
0,60%
2,50%
71
0,15
0
0
0,00
0,26
8,6%
12,5%
1.254
0,09
0,76%
2,02%
77
0,21
0
1
0,06
0,25
8,1%
11,6%
735
0,10
0,70%
1,99%
28
0,20
0
1
0,06
0,25
10,8%
53,0%
39.856
0,20
0,99%
4,30%
2.625
0,31
418.972
11
0,22
0,53
10,8%
12,3%
568
0,10
0,35%
1,79%
12
0,15
0
1
0,06
0,20
15,7%
56,5%
944
0,62
1,52%
2,94%
102
0,26
0
0
0,00
0,43
16,1%
46,9%
3.763
0,22
0,53%
3,14%
276
0,20
34.049
1
0,13
0,34
33,8%
42,5%
1.478
0,42
4,91%
3,30%
588
0,59
0
0
0,00
0,50
12,2%
11,7%
526
0,14
0,61%
2,04%
38
0,24
0
0
0,00
0,27
7,2%
14,9%
694
0,10
0,80%
2,04%
46
0,33
0
1
0,06
0,30
51,5%
43,9%
1.985
0,58
4,85%
5,12%
82
0,36
0
0
0,00
0,48
24,5%
51,0%
15.124
0,34
0,86%
5,16%
906
0,34
0
0
0,00
0,45
37,6%
69,6%
277.266
0,51
2,50%
5,90%
21.775
0,41
0
0
0,22
0,62
95,4%
67,0%
61.374
1,00
11,30%
16,01%
8.400
1,00
5.630.896
0
1,00
1,00
187,8%
165,1%
500.000
2,14
14,59%
74,00%
146.420
2,25
98.000.000
0
2,25
2,12
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Estudo e-readiness na América Latina 2010
DÉFICITS DE INFRAESTRUTURA A importância da inclusão digital entre a população latino-americana fez a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) criar um comitê para discutir, juntamente com os países da região, formas de redução do preço da banda larga. Hoje, o custo de acesso é um dos principais obstáculos para o crescimento desse tipo de conexão. O objetivo da Cepal é agrupar a demanda de todos os países participantes para apresentá-la aos provedores de telecomunicações, em sua maioria players internacionais. Caso o grupo obtenha algum resultado, será um importante avanço para a infraestrutura do e-commerce, que ainda demanda esforços para se fortalecer na região. Hoje, a infraestrutura latino-americana corresponde a 60% Disparidade latina da espanhola. Ao fim de 2009, o número de conexões em Uma década de evolução e-readiness nas banda larga na região era de 37 milhões. Ou seja, quase uma principais regiões da América Latina conexão para cada 15 habitantes. Essa proporção está muito Fonte: AméricaEconomía Intelligence abaixo da obtida na Espanha, que registra uma conexão para 1 0,9 cada 4,5 pessoas, e nos Estados Unidos, com uma para cada 0,8 3,9 habitantes. A situação é semelhante quando se trata de 0,7 uso de computadores pessoais (PCs). Enquanto na Espanha 0,6 há 504 computadores por cada mil habitantes e, nos Estados 0,5 0,4 Unidos, 932 em cada mil, a média da região é de 180 PCs a 0,3 cada mil pessoas. E as taxas de crescimento registradas nos 0,2 0,1 últimos anos não são as esperadas para uma região com tal 0 déficit computacional: anualmente, esse número cresce 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 timidamente, entre 10% e 11%. Se esse ritmo se mantiver, Argentina Chile Peru Venezuela os latino-americanos somente alcançarão a proporção da Brasil México Uruguai América Central Espanha em 2031, e a dos Estados Unidos em 2045. Quando se trata de telefonia celular, essa lacuna é menor. A penetração de telefones móveis na região era de 100,7% no final de 2009, muito acima da dos EUA, de 90%, e pouco abaixo da espanhola, que era de 112%. Seis países da região registram uma proporção maior que a da Espanha. Para isso, entretanto, foi fundamental o desenvolvimento do serviço de celular pré-pago, que não exige do usuário conta em banco, cartão de crédito ou sequer residência identificada, fatores que, no caso do comércio eletrônico, são relevantes. A brecha tecnológica em relação à Espanha e aos Estados Unidos volta a se ampliar, entretanto, quando passamos a analisar uma tecnologia mais nova, principal variável do indicador Adoção Tecnológica: a penetração de Domínio móvel telefones com acesso à internet banda larga móvel. Na Espanha, Evolução comparativa da quantidade de diferentes 11,3% têm esse serviço, enquanto nos EUA são 14,6% – isso sem tecnologias em toda a América Latina (em milhões) Fontes: Banco Mundial, Cisco e AméricaEconomía Intelligence contar alguns países asiáticos, onde a penetração da banda larga móvel supera os 90%. Na América Latina, o cenário é Telefones celulares Computadores pessoais 600 muito diferente: somente dois em cada cem latino-americanos Assinaturas banda larga têm um smartphone com capacidade de transmitir dados em 500 alta velocidade. Uruguai e Porto Rico, países que adotaram 400 essa tecnologia mais rapidamente, alcançam apenas 4,8% e 4,9% da população, respectivamente. 300 É preciso estar atento à evolução dessa variável no futuro, 200 pois essa banda larga é essencial para o desenvolvimento do comércio eletrônico móvel (m-commerce), que alimenta 100 expectativas de crescimento pela sinergia existente entre 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 o consumo e a portabilidade dos celulares.
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Estudo e-readiness na América Latina 2010
PROMOÇÃO BANCÁRIA No final de 2009, havia 205 milhões de usuários de cartões de crédito na América Latina (uma penetração de 37%) e 381 milhões de cartões de débito (70%), mas nem todos passíveis de serem usados no comércio eletrônico. Tal cifra representa um aumento considerável em relação há cinco anos, especialmente quanto aos cartões de débito, ainda que haja muito espaço para crescer. Para se ter uma ideia, os EUA contavam com 576 milhões de cartões de crédito no fim de 2009 (188%) e a Espanha, com 44 milhões (95%). De qualquer forma, “a baixa aceitação do cartão de débito em operações online é um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento do comércio eletrônico”, diz Guillermo Rospigliosi, diretor executivo da Canais Emergente da Visa. “Sem dúvida, a habilitação do cartão de débito representa uma das maiores oportunidades em termos de infraestrutura de pagamentos, e poderia se converter rapidamente no principal impulsionador de transações online da região, como aconteceu em mercados mais maduros”, complementa Rospigliosi. Um dos exemplos mais fortes desse potencial é o Brasil, onde a penetração de cartões de débito é de 123%, enquanto a média regional é de 30%. O indicador Sistema Bancário desenvolvido para este estudo também inclui os depósitos bancários como proporção do PIB e a quantidade de caixas automáticos (ou ATMs) para entender sua capacidade de transações eletrônicas e a demanda dos clientes por operações fora de uma sucursal. Os 277 mil caixas eletrônicos da região geram uma baixa média de penetração dessa tecnologia, com apenas 0,5 caixa por cada mil habitantes. Na Espanha, esse dado é de 1,4 e, nos EUA, é de 1,7 por cada mil. É justamente na força da oferta que as diferenças se mostram mais profundas. Para analisar essa variável, considerou-se uma amostra de operadores de varejo com vendas acima de US$ 500 milhões, pois estes contam com mais recursos técnicos e financeiros para investir em uma ofensiva de peso na internet. Das 60 empresas selecionadas, somente 31 contavam com um site de compras. Para avaliar a importância do canal online para esses operadores, analisou-se o tráfego (usando como fontes os serviços do Alexa.com e do GoogleTrends), relacionando-o com o nível de vendas totais. Enquanto os varejistas brasileiros obtêm 492 páginas vistas para cada US$ 1 mil em venda total de cada operador, os argentinos sequer chegam a duas páginas. Esse é um sinal de que, na Argentina, o tráfego de pessoas nas lojas Alternativas ao dinheiro físicas continua sendo mais relevante. Evolução histórica dos componentes Nesse indicador também se incorporou a possibilidade bancários na América Latina Fonte: AméricaEconomía Intelligence de pagar impostos de pessoa física online, uma atividade 400.000 que aproxima um grande número de pessoas de tarefas online mais sofisticadas. Somente Chile, México e Peru têm 350.000 o que dizer nesse quesito. O restante dos países oferece 300.000 ferramentas para algumas operações tributárias online, 250.000 mas não a cobrança em si dos tributos, e com isso perde 200.000 a oportunidade de ganhar em eficiência e difundir esse 150.000 método entre a população.
Cartões de crédito (mil) Cartões de débito (mil) Caixas eletrônicos
100.000
NOVAS OPORTUNIDADES
50.000
O objetivo do índice e-readiness e os indicadores que o 0 2001 2002 2003 2004 2005 compõem é o de identificar os motivos da grande disparidade do comércio eletrônico nos diversos países da América Latina. As lacunas que separam a região dos mercados desenvolvidos são amplas, e, para reduzi-las, uma das premissas é acelerar o crescimento. O número de usuários de internet na América Latina chegou a 174 milhões em 2009, uma expansão de apenas 9%, quando nos anos anteriores foi de 20%. Mas a região continua sendo fértil em oportunidades, e a adoção de tecnologias móveis abre espaço para muitas iniciativas.
2006
2007
2008
2009
Agosto, 2010 AméricaEconomia 71
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Estudo e-readiness na América Latina 2010
ANÁLISE DO E-READINESS POR PAÍS
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
Infraestrutura
Volume de mercado
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
O Chile é a econoBrechas do e-readiness do país em mia mais conectada relação à Espanha e à média regional da América Latina. Fonte: AméricaEconomía Intelligence Registra a maior 1,2 penetração de ban1,75 da larga da região, 1,5 o maior montante 1,25 de compras online 1 por habitante, e seu 0,75 sistema bancário é o 0,5 de maior cobertura. 0,25 Além disso, lidera no 0 consumo de muitas tecnologias e é o país mais avançado em e-government. Espanha AL Chile Uma mostra disso é que 77% dos contribuintes chilenos pagam seus impostos pela internet. Isso é resultado do esforço das autoridades do país, iniciado há cinco anos, de aproximar a população do canal online. Entretanto, o crescimento da banda larga móvel tem ficado aquém do esperado, e os custos de conexão subiram em relação ao dos países vizinhos, o que tem levado o governo a buscar mecanismos para reduzir o preço desse serviço.
Infraestrutura
CHILE: 0,63
O Brasil passou a Brechas do e-readiness do país em liderar o índice erelação à Espanha e à média regional readiness na região. O país concentra a Fonte: AméricaEconomía Intelligence 1,2 maior quantidade de 1,75 PCs por habitante, 1,5 tem um dos cus- 1,25 tos mais baixos de 1 banda larga e o uso 0,75 mais estendido de 0,5 cartões de crédito 0,25 0 e débito. O aumento da riqueza também está se refletindo no uso de novas tecnologias: apesar de não Espanha AL Brasil contar com a maior penetração de celulares (95,7%), é um dos que mais usam banda larga móvel (4,3%). Os varejistas têm sido agressivos em suas estratégias para internet, com destaque para lojas 100% online, como Submarino.com, e a versão web de lojas tradicionais, como Americanas e Walmart. O principal desafio para o país é o de desenvolver o governo eletrônico (e-government): o complexo sistema tributário é uma dificuldade para contribuintes que desejam pagar seus impostos via web. Com vendas de mais de US$ 13 bilhões em B2C em 2009, o Brasil é o país da região que está mais perto de alcançar o índice da Espanha. Volume de mercado
BRASIL: 0,95
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
Infraestrutura
Volume de mercado
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
A Argentina é um Brechas do e-readiness do país em dos países onde as relação à Espanha e à média regional novas tecnologias Fonte: AméricaEconomía Intelligence têm a mais rápida 1,2 aceitação por parte 1,75 dos consumidores. É 1,5 no mercado argen- 1,25 1 tino que a telefonia celular, a banda larga 0,75 e inclusive a inter- 0,5 0,25 net móvel registram 0 algumas de suas taxas mais altas de penetração latinoamericana. O país, porém, tem grandes Espanha AL Argentina desafios quando se trata do crescimento do setor bancário, que concentra apenas 21% de depósitos em relação ao PIB. Ou seja, grande parte das transações relacionadas ao consumo é feita fora do sistema financeiro. Isso tem desestimulado os grandes varejistas a desenvolver estratégias mais robustas na internet, refletindo-se ainda no maior peso relativo das operações online entre consumidores (C2C) que usam meios de pagamento, limitando o crescimento.
Infraestrutura
ARGENTINA: 0,46
Trata-se de uma naBrechas do e-readiness do país em ção pequena, mas relação à Espanha e à média regional que avança rapida- Fonte: AméricaEconomía Intelligence mente quando se 1,2 trata de adoção de 1,75 novas tecnologias. 1,5 Não é à toa que o 1,25 1 Uruguai é o país com maior uso de banda 0,75 larga móvel da re- 0,5 0,25 gião (quase 5% em 0 2009) e registra alta taxa de penetração de tecnologias complementares, como PCs e celulares. Além Espanha AL Uruguai disso, apresenta um dos custos mais baixos de conexão de banda larga fixa, o que reflete a preocupação do governo com infraestrutura tecnológica, atraindo muitas empresas do setor para operar no país. A oferta online do setor varejista, entretanto, ainda é baixa, não demonstrando o mesmo ritmo de desenvolvimento do governo eletrônico. Volume de mercado
URUGUAI: 0,48
72 AméricaEconomia Agosto, 2010
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Estudo e-readiness América Latina 2010
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
Infraestrutura
Volume de mercado
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
A proximidade e a Brechas do e-readiness do país em semelhança com relação à Espanha e à média regional a economia dos Fonte: AméricaEconomía Intelligence Estados Unidos 1,2 fazem de Porto Ri1,75 co um país muito 1,5 particular no que 1,25 se refere ao co1 mércio eletrônico, 0,75 o que determina 0,5 que grande por- 0,25 centagem dos usu- 0 ários de internet portorriquenhos compre pela internet e, dada a alta renda Espanha AL Porto Rico per capita do país, que o montante envolvido seja alto. Mas o país demonstra um nível de bancarização abaixo da média latino-americana, carece de um varejo local poderoso e a infraestrutura não corresponde à média. Ainda assim, Porto Rico já está se posicionando para as novas possibilidades de comércio, com 5% de penetração de banda larga móvel.
Infraestrutura
PORTO RICO: 0,50
Volume de mercado
MÉXICO: 0,52 Na terra do magnata Carlos Slim, Brechas do e-readiness do país em relação à Espanha e à média regional há apenas 77,6 ce- Fonte: AméricaEconomía Intelligence lulares para cada 1,2 cem habitantes 1,75 (uma das taxas de 1,5 penetração mais 1,25 baixas da região), 1 e somente um em 0,75 cada dez mexicanos 0,5 possui cartão de 0,25 0 crédito. Esses dois indicadores refletem o grande desafio do México em termos de adoção tecnolóEspanha AL México gica e bancarização. O setor varejista do país é poderoso, mas não se desenvolveu tanto no modelo online. O Walmart do México, por exemplo, não possui um site de compras, como acontece nos Estados Unidos e no Brasil. Entretanto, há motivos que justificam o quarto lugar do país no e-readiness: além da vantagem do volume de mercado, o governo mexicano tem desenvolvido boas iniciativas de e-government. Atualmente, algumas obrigações, como o pagamento de impostos, já podem ser feitas online. Em 2009, 420 mil mexicanos recorreram à internet para fazê-lo, sendo o maior número de contribuintes de um país da região.
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
Infraestrutura
Volume de mercado
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
A Colômbia fechou Brechas do e-readiness do país em 2009 com 20 mi- relação à Espanha e à média regional lhões de usuários Fonte: AméricaEconomía Intelligence de internet, entre 1,2 os quais apenas 2 1,75 milhões possuem 1,5 serviço de banda 1,25 1 larga. Diante desse cenário, os centros 0,75 públicos de cone- 0,5 0,25 xão – como ciber0 cafés, colégios e empresas – ganham importância para o desenvolvimento de Espanha AL Colômbia uma cultura web. O governo já deu início a uma série de iniciativas de e-government, mas, por enquanto, o pagamento de impostos só está disponível online para empresas. O país tem outros importantes desafios em adoção de tecnologia: menos de dois entre cada cem colombianos têm conexão de banda larga móvel, e só há um computador para cada 12 pessoas. Já quando se trata de meios de pagamento, apenas 16,6% têm cartão de crédito.
Infraestrutura
COLÔMBIA: 0,37
A conectividade pa- Brechas do e-readiness do país em rece ser um item relação à Espanha e à média regional importante na re- Fonte: AméricaEconomía Intelligence volução bolivariana 1,2 do presidente Hugo 1,75 Chávez. O governo 1,5 tem dedicado boa 1,25 1 parte dos recursos da reestatizada em- 0,75 presa de telecomuni- 0,5 0,25 cações CANTV para 0 fomentar o acesso à banda larga. Isso explica o baixo custo da assinatura desse serviço (US$ 14 Espanha AL Venezuela mensais) em um dos países mais caros da região, bem como o aumento do acesso, que foi de 55% em 2009, o mais alto do hemisfério. Já o e-commerce tem se desenvolvido sobretudo através de compras em sites estrangeiros e operações de C2C. O governo realizou poucas iniciativas para fomentar o pagamento de serviços através da internet, e os operadores locais quase não lançaram iniciativas online, debilitando a oferta local. Volume de mercado
VENEZUELA: 0,45
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Estudo e-readiness na América Latina 2010
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
Infraestrutura
Volume de mercado
E-READINESS
Força da oferta
Adoção tecnológica
Sistema bancário
A América Central Brechas do e-readiness do país em apresenta realidarelação à Espanha e à média regional des diferentes, de- Fonte: AméricaEconomía Intelligence pendendo do país. 1,2 O sistema bancá- 1,75 rio panamenho é 1,5 um dos mais fortes 1,25 1 da região. Já El Sal0,75 vador e Guatemala 0,5 lideram, em nível 0,25 hemisférico, a pe0 netração da telefonia móvel. Entretanto, a América Central apresenta Espanha AL América Central os indicadores de infraestrutura e de adoção tecnológica mais baixos da América Latina, o que se traduz em obstáculos ao desenvolvimento do comércio eletrônico, cuja superação demanda tempo. Mesmo assim, o potencial da América Central é grande. A integração do continente e sua proximidade logística com os Estados Unidos são importantes vantagens.
Infraestrutura
AMÉRICA CENTRAL: 0,29
Volume de mercado
PERU: 0,34 O Peru é uma das economias que Brechas do e-readiness do país em relação à Espanha e à média regional melhor funcionam Fonte: AméricaEconomía Intelligence na América Latina, 1,2 característica que 1,75 será uma grande 1,5 vantagem na hora 1,25 1 de impulsionar o e-commerce do 0,75 0,5 país. Um dos te0,25 mas pendentes, 0 porém, é a adoção de tecnologias. O Peru conta com pouco mais de seEspanha AL Peru te celulares para cada dez habitantes e menos de três assinaturas de serviços de banda larga por cada cem pessoas. Os usuários de banda larga móvel não chegam a 1%. O varejo do país até agora não fez grandes esforços para vender pela web. Somente a rede de supermercados Wong conta com um catálogo de produtos online, iniciativa ainda pouco sofisticada.
METODOLOGIA O índice e-readiness reflete as condições que um país oferece para o desenvolvimento do comércio eletrônico. Foi desenvolvido a partir de 20 variáveis econômicas e tecnológicas selecionadas por sua relevância estatística, bem como por sua importância, indicada por especialistas do setor, para o futuro crescimento do comércio eletrônico, conforme demonstrado no diagrama abaixo. Cada uma das variáveis foi analisada em um período de tempo que vai de 2001 a 2009, configurando-se uma base de dados sólida. Como as unidades de medida diferem entre os indicadores utilizados, foi preciso fazer uma reestruturação dos dados, na qual o valor 1,00 de cada indicador passou a corresponder ao valor registrado pela Espanha em 2009. Assim, passamos a usar a Espanha como referência, de forma semelhante à realizada na edição deste estudo publicada em 2008. Ou seja: um país terá um valor maior ou menor a 1,00 dependendo de como esteja em relação ao indicador que a Espanha registrava em 2009. As fontes de informação utilizadas para este estudo foram o Banco Mundial, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), o FMI (Fundo Monetário Internacional), a Cisco, a 3G Americas, a Alexa.com, as superintendências de bancos e financeiras de cada país, bem como as autoridades tributárias pertinentes. Agradecemos o apoio de cada uma das fontes que nos ajudaram a coletar essas informações, dos líderes da indústria que nos deram sua opinião para a elaboração metodológica, e da Visa, que promoveu o desenvolvimento deste estudo.
E-readiness
Força da Oferta
Volume de Mercado
Infraestrutura
Sistema Bancário
Adoção Tecnológica
População
Telefones fixos
Cartões de débito
Banda larga móvel
Força do varejo
PIB per capita
Celulares
Cartões de crédito
Consumidores online
Número de redes
Usuários de internet
Computadores pessoais
Caixas automáticos
Compras pela internet
Segmento de 25-35 anos
Assinaturas de banda larga
Depósitos como % do PIB
Preço da internet
Pagamento de impostos online
% de redes que vendem online Presença online Categorias de produtos
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Pioneiros
O MERCADO DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS ESTÁ EM PLENA EXPLOSÃO, E OS LATINOAMERICANOS JÁ SE MOVIMENTAM PARA GANHAR MERCADO
Q
uando a Research in Motion (RIM), fabricante do BlackBerry, decidiu intensificar sua presença na América Latina e lançou sua loja de aplicativos BlackBerry App World, convocou um grupo de empresas locais para incluir produtos da região em suas prateleiras virtuais. Entre as participantes estava a brasileira Navita, que desde 2006 trabalha com soluções para dispositivos móveis corporativos e decidiu ampliar o portfólio para consumidores. Como? Criando um blog para que os usuários compartilhassem suas ideias. Foi graças a essa ajuda que, em fevereiro de 2009, a Navita lançou no mercado a primeira versão do Translator, aplicativo disponível em inglês, espanhol e português que permite a tradução de textos em seis idiomas. A interface desenvolvida pela empresa se comunica opcionalmente com o Google Translator, o Google Dictionary e o Bing Translator. Em maio deste ano, a Nativa apresentou a versão 2.0 do aplicativo, que amplia a possibilidade de tradução para 52 idiomas, além de permitir a reprodução de textos em áudio. O sucesso foi imediato. Revistas especializadas, como PC World, elogiaram o aplicativo, e os usuários a posicionaram como uma das dez mais populares da loja, com 470 mil descargas. Se somadas às restantes plataformas para as quais o Translator está disponível, chega-se a 600 mil descargas, 70% delas nos EUA, no Canadá e na Inglaterra. A Navita, entretanto, não é a única nessa corrida em busca de um mercado que poderá triplicar em quatro anos. Estudo regional publicado pelo IDC em 2009, realizado junto a empresas com mais de 250 empregados, indicou que 75% destas
ROBERTO DARIVA, DIRETOR GERAL DA NAVITA: IMPACTO NA PRODUTIVIDADE DAS EMPRESAS
Fotos: Divulgação
no ar
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA
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ibiz Na falta de um padrão, empresas apostam no BlackBerry para o segmento corporativo e no iPhone para o consumer
tinham a intenção de implementar soluções móveis até 2013. Segundo o mesmo estudo, os smartphones seriam priorizados, em detrimento dos laptops, aproveitando a combinação de conectividade 3G e WiFi. Alguns indicadores parecem confi rmar essa tendência. O desembarque de smartphones na América Latina registrou 168% de crescimento no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2009, segundo o próprio IDC. “A mobilidade é agora o que a Internet era em 1994 ou 1995”, entusiasma-se Roberto Dariva, diretor geral da Navita, em São Paulo. “Todos estão buscando subir nessa onda, ainda que com mais critério, lembrando as primeiras frustrações da web de 15 anos atrás”, diz.
O FATOR PADRÃO Para a Navita, mais do que um negócio – a venda de banners, segundo a empresa, dá apenas para bancar a manutenção do projeto –, o Translator significou fincar uma bandeira como pioneira em uma indústria em pleno big bang e promover a capacidade da empresa no desenvolvimento de soluções corporativas. “É um dos poucos casos latino-americanos de perfi l global”, define Alex Zago, analyst insights manager da RIM na América Latina. “Quando apresentamos um piloto para migrar um processo para a mobilidade, dificilmente leva mais do que 30 dias para que ele se converta em projeto. O impacto desses aplicativos na produtividade é evidente”, diz Dariva, que estima um faturamento de US$ 6 milhões para a Nativa em 2010, metade vinda de projetos móveis. Além do Brasil, a empresa já expandiu sua operação para o Chile, o Peru, a Colômbia e o Panamá. Um exemplo desse impacto foi o aplicativo desenvolvido para os executivos da Brasil Agro, fundo agrícola de capitais argentinos. Enquanto visitam fazendas, eles agora podem ter acesso ao sistema SAP de sua companhia através do BlackBerry, para obter informação imediata e aprovar orçamentos ou financiamentos, reduzindo o tempo dos processos em 85%.
O grande problema para os desenvolvedores, entretanto, é que os dispositivos ainda não estão padronizados. Isso significa que, para cobrir todo o mercado, eles precisam multiplicar esforços e desenvolver versões para as diferentes plataformas disponíveis. Na Navita, a opção foi exclusivamente pela plataforma do BlackBerry, “porque consideramos que era a que mais se ajustava ao perfi l de usuário SAP”, diz Dariva, reconhecendo, porém, que tanto o iPhone quanto o Android vêm ganhando espaço. Do lado da demanda, o principal desafio é o custo. “Essa é uma tendência que envolve sobretudo as grandes empresas”, diz o brasileiro Bruno Neto, analista de tecnologias da informação e comunicações da Frost & Sullivan na região. “Os custos do equipamento e dos serviços de comunicação variam conforme a escala do projeto, deixando de fora a maioria das pequenas e médias empresas”, diz.
PROJETO DE NICHO Para atender o segmento de pequenas e médias empresas (PMEs) e o de consumo, os desenvolvedores perceberam que as estratégias mudavam completamente. “O iPhone, por exemplo, com seu sistema GPS e touchscreen, é a plataforma mais rica para desenvolver aplicativos para o marketing móvel, mas restringe radicalmente o público-alvo de uma campanha”, exemplifica Daniel Getzel, diretor geral da Mobext, no México, agência especializada em marketing e comunicação móvel. Inclusive a tecnologia de software varia conforme o público. Para atender todos os segmentos, as aplicações Java mais simples são as recomendadas – ou soluções WAP, tecnologia de internet para redes móveis – para aliviar o processamento no telefone do usuário. Essa foi a tecnologia escolhida pela Mobext para desenvolver um simulador móvel de créditos hipotecários para o banco mexicano Banorte, primeira solução do tipo na América Latina. Através dela, os interessados enviavam um SMS com a palavra Banorte a um número determinado e recebiam como resposta um link para um site. Ali, o usuário operava através de formulários, carregando seus dados e opções – como valores e prazos de pagamento – diretamente no back end do banco, recebendo uma resposta de forma quase imediata. “A decisão sobre a tecnologia sempre dependerá de muitos fatores”, analisa Getzel, indicando desde as necessidades do cliente até as altas tarifas de planos de serviço de dados. “Com tarifas altas, às vezes é mais conveniente uma aplicação cujo custo é pago apenas uma vez, atualizando apenas a informação indispensável, reduzindo a demanda por dados”, diz. Agosto, 2010 AméricaEconomia 77
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ibiz Mesmo com seus desafios, o segmento de PMEs e de consumidores foi concentrado pelas stores desde que a Apple lançou o iTunes. Apesar do modelo fechado de negócio da Apple, o impacto do iTunes levou os demais fabricantes a seguir os mesmos passos, ainda que com critérios mais amplos. “Não é obrigatório passar pela App World para instalar uma aplicação em um BlackBerry”, diz Alex Zago, da RIM América Latina. E, mesmo com o fato de as lojas facilitarem o contato da tecnologia com os usuários, 90% das descargas são feitas para acesso a aplicações gratuitas, e os 10% restantes têm preço em torno de US$ 1, dos quais 20% a 30% ficam de comissão no shopping virtual.
GUILLERMO VARELA, DA HANDSOFT: APOSTA NO MICROPAGAMENTO
tecnológico, as soluções variam de acordo com o cliente e sua escala. Normalmente, com as grandes empresas, os processamentos da Micropagos estão integrados aos servidores. Já nas médias, o sistema é controlado online, e, nas microempresas, o controle é feito diretamente com o celular.
VOIP DE BOLSO
EXPLOSÃO NA CARTEIRA Outro bom exemplo é o do uruguaio Guillermo Varela, fundador da Handsoft, uma software factory e integradora de soluções móveis, com operações, além de no Uruguai, na Argentina, no Chile, no Paraguai, na Bolívia, no Peru e na Colômbia, com vendas de US$ 5 milhões ao ano. Foi em um passeio pela praia que Varela descobriu como condimentar sua carreira tecnológica. Depois de comprar sorvete e distribuir para os filhos, viu que estava sem dinheiro. “Mas percebi que tanto eu quanto o vendedor tínhamos celulares e poderíamos ter resolvido esse problema rapidamente”, lembra. Foi assim que, em 2006, lançou a Micropagos, uma unidade de negócios da Handsoft que desenvolve uma aplicação de micropagamentos através de SMS. Por meio dela, um usuário registra seu telefone em alguma instituição financeira ou operadora telefônica para realizar pagamentos. A Conaprole, cooperativa que comercializa os sorvetes comprados por Varela, foi a primeira cliente a ser visitada. Depois vieram os serviços de táxi em Montevidéu e as administradoras de salas de cinema e de cartões de crédito. Quase todos os celulares no Uruguai, cerca de 350 mil, acabaram registrados no sistema através de algum cliente da Handsoft, que hoje já conta com mais de 10,5 milhões de transações processadas. “Somos apenas um processador da transação. Não aportamos nada à cadeia de valor financeira”, diz Varela. Já no plano
No caso do argentino Diego Ghione, presidente da GlobalThink Technologies, em Córdoba, a trilha a desbravar foi outra. De tanto vincular serviços de distintos tipos em sua plataforma (Denwa), como triple play, video on demand, VoIP e softphone, perguntou-se por que não levar VoIP às redes de celular. Foi assim que desenvolveu o Nooma, um serviço que provê um número oficial de linha local para fazer ligações através da internet com tarifas mais baixas que as das operadoras. A desvantagem do Nooma é estar limitado às redes WiFi e a modelos como o iPhone e a alguns aparelhos Nokia, enquanto serviços concorrentes, como o da holandesa Nimbuzz, permitem ligar gratuitamente a todos os contatos de serviços de mensagem, inclusive o Skype. Além disso, a tarifa ainda não chega a ser tão atraente como a do Skype no PC. Ainda assim, o Nooma já é visto com cautela pelas operadoras argentinas, já que é um concorrente a seus serviços de longa distância. Por isso, tratam de criar bloqueios, como vêm fazendo com o Skype, buscando adiar o futuro. “Os serviços VoIP sobre as redes 3G absorverão mais de US$ 8 bilhões, em 2014, no mundo”, diz José Otero, presidente da Signals Telecom Consulting. Diante do que parece inevitável, algumas operadoras preferem unir-se à tendência. É o caso da Telefónica, que comprou, em dezembro de 2009, a israelense Jajah, especializada em chamadas de VoIP, por US$ 200 milhões. Enquanto isso, Ghione faz seus próprios planos de internacionalização, projetando o lançamento de sua VoIP móvel no Brasil e no Chile no curto prazo.
Em 2014, os serviços de VoIP sobre redes 3G poderão movimentar mais de US$ 8 bilhões no mundo
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clics
TV interativa A TV de plasma Viera, da Panasonic, permite a navegação em serviços da internet diretamente do aparelho, sem a necessidade do uso de um computador. O usuário pode acessar vídeos no YouTube, em uma tela de 50 polegadas, armazenar e visualizar fotos no Picasa e fazer videochamadas em alta definição por meio do Skype, que requer o uso de uma webcam exclusiva para este modelo. O preço sugerido é de R$ 5.499. www.panasonic.com.br
Ultracompacta A Sony apresentou seus novos modelos de câmeras ultracompactas da família NEX, a NEX-5 e a NEX-3, com 14,2 megapixels e lentes intercambiáveis. Elas são capazes de criar fotos panorâmicas e fazer imagens em 3D. Um de seus modelos permite a gravação de vídeos em HD, e todas têm tela de LCD de 3 polegadas. Os preços variam entre US$ 610 e US$ 740. www.sony.com
FOCO na praticidade
Fotos: Divulgação
A Scansystem promete eliminar o problema de falta de espaço com o “scanner caneta” DocuPen Xtreme X05 Bluetooth. O novo scanner, com valor sugerido pela fabricante de R$ 1,2 mil, permite a digitalização de, aproximadamente, 80 páginas por carga (sua bateria é recarregável via USB). Além disso, é leve e compacto (pesa 71 gramas e tem 22,7 cm de comprimento por 1,3 cm de espessura). www.scansystem.com.br
Sem apagão A possibilidade de gerar energia por meio de movimentos do corpo foi a aposta de Albert Hartman ao criar o RollerGen, aparelho que pode ser acoplado à roda traseira de qualquer bicicleta. Segundo o fabricante, três quilômetros de pedaladas são suficientes para carregar um smartphone. A novidade está sendo comercializada pelo site por US$ 495. www.rollergen.com
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linha direta EM PRIMEIRO PLANO, ESCULTURA DE FERNANDO BOTERO EM MEDELLÍN, USADA PARA ABRIGAR EXPLOSIVOS EM UM ATENTADO. AO LADO, A NOVA, PRESENTEADA PELO ARTISTA, QUE EXIGIU A MANUTENÇÃO DA PRIMEIRA NO LUGAR DE ORIGEM
zo pela vida. Talvez apenas um sobrenome possa resumir esse estremecimento: Escobar, que não apenas remete a Pablo, o mais célebre dos paisas (colombianos naturais do nordeste do país), mas também a Andrés, zagueiro da seleção colombiana de futebol, assassinado depois de fazer um gol contra na Copa do Mundo de 1994. Hoje a cidade respira outros ares e pensa em seu progresso. Em minha visita, não houve indício de histórias de terror. Ao contrário, Medellín se esforça para mostrar que também é uma dinâmica urbe que quer se integrar à economia global. Com base para um saudável consenso, as forças políticas e sociais da cidade estão conseguindo unir segurança com desenvolvimento social, entendendo que a violência de antes foi nutrida por um caldo nefasto de pobreza e falta de esperança. Políticos e empresários com os quais conversei afirmam que, hoje, Medellín é outra, numa ladainha que mais parece exorcizar os anos difíceis do que convencer um jornalista sobre essa mudança. Em algumas oportunidades, cheguei a tirar de meu repertório uma velha história de Catarina II, da Rússia. Quando a czarina quis conhecer o interior de seu país, a burocracia real recriou aldeias – as aldeias Potemkin – usando cenografias que escondiam a miséria dos camponeses, na tentativa de enganar a soberana. Se Medellín é ou não uma aldeia Potemkin, dependerá de que esse ar fresco de consenso e paz não se converta em uma máscara criada pela ilusão de que se pode começar do zero, esquecendo um passado de violência. Um bom exemplo é Francisco, um taxista que conhece a história recente de sua cidade. Décadas atrás, quando foi demitido da estatal Empresas Públicas de Medellín, foi vítima de um violento assalto, em que seu agressor disparou para imobilizá-lo e levar um de seus rins. Em outras duas ocasiões, recebeu ofertas tentadoras – a primeira, para ser vigia em um centro de processamento de cocaína de Pablo Escobar, e a segunda, um grau militar dentro das Farc –, as quais ele se orgulha de ter recusado. Talvez por isso, ele é o único dos personagens que ainda está vivo para contar essa história.
Dois
ANDRÉS ALMEIDA, DE MEDELLÍN
A
ntes de embarcar para Medellín, foi inevitável a sensação de que deveria mudar a credencial de jornalista de economia para a de correspondente de guerra. Afinal, é como se a cidade colombiana chegasse à nossa mente junto com um cartaz de perigo, tal como quando pensamos em Kabul ou Belgrado, cada qual, em seu momento, um inferno de balas e mortes. Há menos de 20 anos, o fogo cruzado de Medellín vinha de ao menos oito forças dispersas, umas contra as outras: as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o ELN (Exército de Libertação Nacional), os paramilitares, o Cartel de Medellín, o Cartel de Cali, gangues médias de narcotraficantes e, para rematar, um exército e uma polícia nada confiáveis. O coquetel de violência resultante dessa mistura levou os moradores a aprender a conviver com um inquietante despre-
Foto: Miguel Candia
universos
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