Albert Einstein lidera o ranking de hospitais da AL UNIÃO LAN/TAM COMO A CHILENA CONSOLIDARÁ SEUS NEGÓCIOS
BRASIL
ENTREVISTA ELIEZER BATISTA “EM INFRAESTRUTURA, RAZÃO ECONÔMICA DEVE PREVALECER” www.americaeconomiabrasil.com.br
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nesta edição Seções 06 08 10 10 12 14 36 42 55 78 80 82
Portal Carta ao Leitor Cartas Índice de Empresas Pistas Negócio Fechado Opinião – Marcos Troyjo Movimentos Opinião – Eduardo Fracchia I-biz Clics & Chips Linha Direta
24
1
Capa Negócios
24
Eletrobras Planos ousados na América Latina
Debates
Entrevista Eliezer Batista, ex-presidente da Vale Gigante aéreo A estratégia da LAN na fusão com a TAM
58
Estrangeiros querem o Brasil Mercado atrativo não esconde deficiências
2
48 52 56
Bolívia O milagre econômico de Evo Investimento direto Capital estrangeiro em xeque Brics China quer impulsionar o setor de alimentos
ESPECIAL Saúde
58 64 68 72 73
Os Melhores Hospitais da América Latina Brasileiro lidera o ranking Entrevista Claudio Lottenberg – presidente do Albert Einstein Onda de consolidações O cenário dos planos privados Mudança de hábito Tijuana, no México, quer ser sinônimo de saúde Que venham os gringos Reforma de Obama pode ajudar o turismo médico
Finanças
74 34 AméricaEconomia Setembro, 2010
Chuva de cartões Inadimplência preocupa
Ilustração de capa: Julio Ramos
Fotos: 1 - Jorge Araújo/Folhapress; 2 - Latinstock
16 20 32 38
Varejo editorial A guerra entre a loja virtual e a real
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portal
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Sem medo da rede O brasileiro está comprando cada vez mais pela internet. As vendas online somaram R$ 6,7 bilhões nos seis primeiros meses de 2010, um crescimento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado. A previsão para este ano é de R$ 14,3 bilhões, o que indica uma alta de 35% em relação a 2009. Os números são do relatório WebShoppers, elaborado pela empresa de monitoramento de comércio eletrônico e-bit, com o apoio da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. As categorias de produtos mais pedidos são livros e assinaturas de revistas e jornais. Em seguida, aparecem eletrodomésticos, produtos de saúde, beleza e medicamentos, equipamentos de informática e eletrônicos.
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LEIA NO PORTAL EDIÇÃO: AINÁ VIETRO (AVIETRO@AMERICAECONOMIA.COM)
Violência ameaça o turismo no México e no Caribe A violência no México e no Caribe continua a crescer. Pesquisa divulgada pela Euromonitor indica que grande parte dos crimes está relacionada ao tráfico de drogas. Em muitas ilhas caribenhas, as taxas de homicídios aumentaram, em 2009; nas Bahamas, foram mais de 82 assassinatos no período. Jamaica e Trinidad e Tobago também tiveram um aumento de mortes, com 1.660 e 489, respectivamente. Por conta da violência, a maioria dos turistas quer ficar longe dessas regiões. Operadoras de viagens e turismo do país acabam assumindo o trabalho de alertar seus clientes sobre os riscos ao oferecerem medidas para sua segurança.
Ultrapassar fronteiras A D’Pil, rede brasileira de franquias de depilação, planeja abrir, até outubro, a sua primeira unidade fora do país. O destino é Buenos Aires, na Argentina, primeira parada de uma expansão que deve alcançar futuramente outros países da América Latina, como Colômbia e Venezuela. “Trabalhamos com um método menos invasivo do que o da depilação a laser, e com um custo mais baixo para o consumidor”, diz Danny Kabiljo, diretor-geral da empresa. No Brasil, é possível abrir uma franquia da marca por R$ 75 mil (sem contar o investimento no ponto comercial).
Em artigo exclusivo para AméricaEconomia, John Edmunds, da Universidade Harvard, afirma que jovens investidores da Argentina, do Brasil, do Chile, da Colômbia, da Costa Rica e do Panamá acompanham o aumento da atividade econômica mundial liderado pela China e pela Índia e já se preparam para aproveitar as boas oportunidades que esses mercados oferecem.
6 AméricaEconomia Setembro, 2010
Ilustração: Shutterstock
Na carona
Russia
China
Korea
Hong Kong
India
Brazil
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carta ao leitor
Pulso Acelerado A
s empresas chamam de união. Outros dizem fusão. E há quem defina
BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br
como compra. O fato é que o negócio protagonizado pelas companhias
aéreas LAN, do Chile, e TAM, do Brasil, certamente será um dos mais lembraPUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Solange Monteiro Diretora de Arte/Projeto Gráfico: Janaína Diniz Editor-assistente: Luís Eduardo Leal Repórter: Graziele Dal-Bó Editora do Site: Ainá Vietro Revisão: Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica: Eduardo Keppler Infografia: Anna Luiza Aragão Colaborador: Denis S. Cardoso (assistente de arte)
dos do cenário latino-americano de 2010. Ao fechamento desta edição, sobravam dúvidas quanto ao desenho da nova companhia. Buscamos algumas pistas sobre as implicações desse negócio, desvendando o histórico da chilena LAN em sua expansão internacional, em um movimento que confirma a tese de analistas de que, em alguns anos, o mercado de aviação comercial será outro, com o desaparecimento de players e novas consolidações. Independentemente do termo usado, a união da LAN com a TAM reflete outra tendência crescente: o interesse de empresas estrangeiras em
COMERCIALIZAÇÃO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Executivos de Contas: Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Rogério Ferreira – rogerio@springcom.com.br Paulo Gomide – paulo.gomide@springcom.com.br
fazer parte do gigante mercado brasileiro. No entanto, esse entusiasmo –
MARKETING Marcia Leonardi, Elisangela Silva e Rafael Borsanelli
a entender como o Brasil funciona – não é suficiente para encobrir as inefi-
ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Gerente Financeiro: Edison Arduino CIRCULAÇÃO Gabriela Beraldo Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Setembro de 2010) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretora Internacional de Marketing: Mica Selman Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Víctor Herrero (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Diretor de Circulação: Marcial Delcorto Gerente de Produção: Constanza del Río Moreno AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Paulina Saavedra, Catherine Lacourt e Evelyn Quezada AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando ESCRITÓRIOS Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise
8 AméricaEconomia Setembro, 2010
demonstrado tanto nas cifras de investimento estrangeiro direto quanto no movimento de empresários dos mais diversos países nas associações setoriais e nos escritórios de advocacia em busca de informações que os ajudem ciências que o país ainda apresenta, principalmente de ordem logística, burocrática e tributária, e que não são novas. Na reportagem de capa, ouvimos executivos e especialistas que deram seu ponto de vista sobre o preço – às vezes alto – da entrada no mercado do gigante sul-americano. Também medimos o pulso do mercado de saúde da região. O resultado é o especial que traz o ranking dos Melhores Hospitais da América Latina. O estudo, exclusivo da AméricaEconomia, chega à segunda edição com um bicampeão: o Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Em um setor no qual conciliar tecnologia de ponta com redução de custos é um desafio constante, o Einstein demonstra, além de uma gestão exemplar, dinamismo em certificações e intercâmbios internacionais que o coloca na dianteira em um segmento que ganha cada vez mais importância: o do turismo médico. Afinal, somente o ritmo de atividade de tantos executivos que perscrutam a região em busca de bons negócios já justifica a atenção dos hospitais para oferecer serviços com padrões internacionais. Aproveite a leitura. José Roberto Maluf
ASSINATURAS Central de Atendimento Tel: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.
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© 2010 KYOCERA MITA Corporation. KYOCERA MITA Brazil, Ltd.
cartas
índice de empresas
A DÉCADA PERDIDA - I Na última edição, vocês enfatizaram a perda de competitividade do México (“A Década Perdida”, AméricaEconomia No 390, agosto, 2010). Na minha opinião, esses problemas se devem à falta de acordos entre os três principais partidos políticos (PRI, PAN e PRD) para aprovar as reformas estruturais de que o país necessita. Esses problemas serão herdados pelo presidente que tomar posse em 2012. Infelizmente, a oposição no México sempre tornou a vida do presidente de turno impossível. Que bom seria se nossos partidos políticos se guiassem mais por seu amor ao México que por seus interesses partidários. RAMÓN SERRANO-BÉJAR CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO
A DÉCADA PERDIDA - II O esporte predileto desta revista é criticar o México. Meu país passou pelo verão mais seco dos últimos 60 anos, pelo vírus da gripe A(H1N1), pela recessão dos Estados Unidos, pela queda de produção e preços do petróleo, pela guerra contra os cartéis da droga e pela redução das remessas dos mexicanos que vivem nos EUA. Ainda assim, crescemos 8% no segundo trimestre. Pergunto se, caso países como Chile, Brasil e Argentina tivessem vivido metade do que passamos em 2009, não estariam hoje em ruínas. Os indicadores econômicos mostram um mercado interno forte, reservas internacionais recordes, orçamento equilibrado, a inflação mais baixa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e uma renda per capita que nem o Brasil tem.
Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.
AFP Habitat S/A
15
Ecopetrol
14
Medicasur
62
AG2
15
Eletrobras
20
Merril Packaging
53
Air France
39
Embraer
42
Microsoft
80
Alemana
60
Euromonitor
Milpo
14
Allergan
53
Fasa
29
Moody’s
49
Amazon
16
FedEX
42
MSC Bionegócios
57
Amil
69
Femsa
27
MTM
79
Aracruz
25
Fnac
17
Naxentia
40
Arcor
27
Fundación Santa Fe 60
NET
12
Azul
42
Fund. Valle del Lili
61
Odontoprev
70
Banchile Invers.
41
Gerdau
14
PDVSA
44
Barnes & Noble
18
GOL
42
Petrobras
BCP Securities
25
Golden Cross
69
Philips
62
Bimbo
27
79
Polycom
80
BM&FBovespa
43
Grupo Ángeles
62
Pró-Cardíaco
69
BNP Paribas
28
Grupo CCR
14
Publicis
15
Borders
18
Grupo Globo
12
Qualcomm
78
Boston Scientific
53
Helibras
42
Record
18
BP
14
Henkel
45
Riachuelo
78
69
Herbalife
44
Rod. Int. do Oeste
14
Hologic
53
Samsung
80
72
Bradesco Saúde Bradesco
15, 29
6
20, 71
BrasilAgro
57
Horwath
Santander
21
Braskem
12
Hosp. Gen. Medellín 61
SinoLatin Capital
57
British Airways
42
Hosp. Sírio-Libanês 71
Sky Airlines
41
Caixa Seguros
69
Hospira
53
SLW
40
Casa Saba
29
Hosp. Albert Einstein 59
SRC
15
Cemex
44
Hospital das Clínicas 60
Suzano
25
Cleary Holdings
14
Hospital Paulistano 69
Talisman
14
Clínica Bíblica
61
Insper
59
TAM
38
Clínica Las Condes 60
Itaú Unibanco
75
Techint
27
CMPC
25
Itaú
45
Telmex
27
CHRISTIAN ABARCA CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO
Consultoria Foco
76
JBS-Friboi
12
TempAssist
69
Copa D’Or
71
Jealsa Rianxeira
25
Tenaris-Techint
44
MULHERES AO PODER
CPM Holdings
15
Klabin
25
Totvs
15
Muito boa a homenagem que vocês fizeram às executivas latino-americanas (“Damas de Diamante”, AméricaEconomia Nº 390, agosto, 2010). É uma coleção de histórias inspiradoras que reflete o papel das mulheres dentro das empresas. Mas ainda falta muito: a presença das mulheres nos conselhos de administração ainda é baixa.
Crusoe Foods
25
KLM
39
TozziniFreire
27
6
LAN
38
Vale
Leal Santos
25
Vision Brazil
27
Demarest & Almeida 27
Livraria Cultura
17
Vivo
78
Deutsche Bank
Lufthansa
78
Votorantim Metais
14
ZTE Brasil
78
SUSANA BULNES – LIMA, PERU
10 AméricaEconomia Setembro, 2010
D’Pil Data Popular
e-bit
76 15
Masisa
27
eCentry
78
6
Mater Dei
71
Economática
39
Medial
69
33, 44
pistas
Não foi dessa vez
Rápido
PUBLICAMOS Até o fechamento desta edição, a JBS-Friboi havia adiado o lançamento da oferta de ações no Brasil. Anteriormente, a JBS-Friboi já tinha anunciado a prorrogação de abertura de capital da JBS USA nos Estados Unidos, alegando contexto desfavorável. (“Sem Descanso”, AméricaEconomia No 386, abril, 2010) 1
PUBLICAMOS Outra definição para a atuação das empresas de telefonia no setor de TV a cabo no Brasil é o Projeto de Lei 29, emperrado no Congresso Nacional, que prevê que estrangeiros podem ter o controle de uma empresa de TV paga, ponto que abriria caminho para o mexicano Carlos Slim tomar o controle da NET das mãos do Grupo Globo. (“Todos Ligados”, AméricaEconomia No 387, maio, 2010)
O NOVO A Embratel marcou para o dia 9 de setembro um leilão no qual pretende comprar todas as ações preferenciais da NET, num negócio que poderá superar os US$ 4,5 bilhões. Dessa forma, a empresa poderá deter a integridade das ações da operadora que não dão direito a voto, esperando a mudança da lei para ter de vez a propriedade da NET.
MÁQUINA VERDE PUBLICAMOS Há três anos, a Braskem anunciou o desenvolvimento de um plástico de etanol de cana-de-açúcar. Uma unidade industrial com capacidade para produzir 200 mil toneladas por ano está sendo projetada para entrar em operação no último trimestre, em Triunfo (RS). (“Aposta Global”, AméricaEconomia No 389, julho, 2010)
O NOVO Em agosto, a petroquímica fechou contrato com várias usinas de etanol para garantir o abastecimento de sua fabricação de resina verde. A estimativa é a de que a empresa consuma 700 milhões de litros de etanol ao ano, para uso químico.
12 AméricaEconomia Setembro, 2010
O NOVO Em agosto, a JBSFriboi chegou à conclusão de que não terá condições de abrir capital neste ano, em parte por causa da situação da economia dos EUA, que ainda afasta investidores. Tal decisão deverá custar US$ 300 milhões à empresa, que é o valor da multa prevista em contrato com o BNDES, caso o frigorífico não conseguisse abrir capital nos EUA até dezembro.
Fotos: 1 - Joseph Eid/AFP e iStockphoto (montagem); 2 - iSTockphoto
no gatilho
Demorou, mas sancionou PUBLICAMOS “Antes de entrarmos no período eleitoral, em junho, essa questão deve estar resolvida, com a lei aprovada”, aposta o deputado federal Arnaldo Jardim, coordenador do grupo de trabalho responsável pela apresentação da proposta da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) na Câmara. (“O Velho não Espera”, AméricaEconomia No 387, maio, 2010)
O NOVO Não foi tão rápido como Jardim esperava, mas, depois de quase duas décadas tramitando no Congresso, a PNRS foi sancionada em agosto pelo presidente Lula. Entre as novidades da nova lei está a “logística reversa”, que obriga os fabricantes, distribuidores e vendedores a recolher embalagens usadas. A medida é válida para materiais agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas e eletroeletrônicos.
2
Dada a largada
Mais um no time
PUBLICAMOS O anúncio da licitação prévia da Usina de Belo Monte, depois de mais de 20 anos de negociações, poderá significar outros 11,2 mil MW nessa conta de geração de energia, com investimentos estimados em R$ 16 bilhões. (“Sinal de Alerta”, AméricaEconomia No 385, março, 2010) O NOVO O consórcio Norte Energia, responsável pela construção da hidrelétrica, anunciou que prepara um aporte de R$ 560 milhões até o fim do ano para começar a obra. Sinal de que agora vai? Não necessariamente, já que o início das obras ainda depende de licença prévia do Ibama.
PUBLICAMOS Mesmo que na Bolsa de Santiago não existam só torcedores do Colo-Colo, desde junho de 2005, todos acompanham o time de perto, quando este emitiu suas ações, depois de três anos financeiramente quebrado. Ressuscitar o clube não foi tarefa fácil. (“Gol na Bolsa”, AméricaEconomia No 334, dezembro, 2006) O NOVO A história se repete, agora, na Colômbia. Um grupo de investidores trabalha para que o clube Millionarios, um dos mais importantes do país, consiga entrar na bolsa de valores antes do fim de 2010. O clube, em bancarrota, foi comprado por apenas US$ 12,7 milhões. A ideia é convertê-lo em um dos mais modernos da região. A nova sociedade anônima espera o aval do Instituto Colombiano para o Esporte e da Superintendência Financeira para sair ao mercado.
No vizinho PUBLICAMOS Trata-se de uma situação paradoxal, pois foi uma crise – a do petróleo, nos anos 70 – que levou a Camargo Corrêa a buscar novas oportunidades fora da esfera estatal. Mas a crise está levando a empresa a voltar seu radar novamente para o setor público. Enquanto, em 2005, apenas 20% de seu negócio de engenharia e construção estava vinculado a projetos estatais, em 2008, esse percentual já era de 30%. (“Plano de Obras”, AméricaEconomia No 373, março, 2009)
Fotos: 3 - Mário Águas
O NOVO Um consórcio liderado pela Camargo Corrêa ganhou a construção da represa La Barrancosa-Cóndor Cliff, na província argentina de Santa Cruz. O anúncio foi feito pelo Ministério de Planejamento do país. A obra envolverá investimentos de US$ 4 bilhões e terá capacidade de geração de 1.740 MW, o equivalente a 16% da atual produção de energia elétrica do país.
3
Ah, o fisco PUBLICAMOS A ideia da Sonda Prockwork é posicionar a empresa em infraestrutura de TI e complementar a oferta. “Queremos fortalecer nossa posição na área fiscal e buscamos duas novas plataformas”, afirma Luiz Carlos Felippe, presidente do Conselho de Administração da Sonda. (“Linha de Frente”, AméricaEconomia No 385, março, 2010) O NOVO A empresa segue seu objetivo à risca. Em agosto, anunciou uma parceria de sua subsidiária Sonda Software com o IOB, especializado em informações contábeis e tributárias. A aliança foca, entre outros, em soluções e serviços para a inclusão do PIS/Cofins e do livro Ciap (Controle do Crédito do ICMS do Ativo Permanente) na Escrituração Fiscal Digital (EFD), que será obrigatória para as empresas a partir de 2011. Setembro, 2010 AméricaEconomia 13
negócio fechado
GRUPO CCR
O Grupo CCR, um dos maiores grupos privados de concessões de infraestrutura da América Latina, comprou o capital social total da Rodovias Integradas do Oeste, responsável pela administração de seis trechos de rodovias em São Paulo, num total de 515 quilômetros de extensão. Segundo comunicado do CCR, “a conclusão da aquisição está sujeita às condições previstas no contrato, como a autorização do poder concedente e a liberação das garantias prestadas pelos vendedores e/ou seus afiliados a credores da Rodovias Integradas do Oeste S.A”. VALOR: R$ R$ 1,28 bilhão
GERDAU VOTORANTIM METAIS
Foco na mineração A Votorantim Metais adquiriu 16,4% da Milpo, terceira maior mineradora de zinco do Peru, que também produz cobre, prata e chumbo. O negócio envolveu US$ 420 milhões. Com a compra, a Votorantim passa a deter o controle da Milpo, com mais de 50% das ações. No Peru, a brasileira também opera uma fundição de zinco chamada Cajamarquilla, com capacidade para produzir 320 mil toneladas de zinco metálico por ano. VALOR: US$ 420 MILHÕES
Controle total A Gerdau concluiu a aquisição do capital total da colombiana Cleary Holdings, controladora de unidades de produção de coque metalúrgico e de reservas de carvão na Colômbia. A siderúrgica pagou US$ 57 milhões por 49,1% da companhia. Em fevereiro de 2008, a Gerdau já tinha adquirido 50,9% da Cleary. VALOR: US$ 57 MILHÕES
BP
Venda na Colômbia A petroleira britânica BP vendeu seus ativos na Colômbia à estatal colombiana Ecopetrol, que ficará com 51%, e ao grupo canadense Talisman, que deterá os outros 49%, pelo valor de US$ 1,9 bilhão. A operação, que ainda deve ser aprovada por órgãos reguladores, tem previsão de ser concretizada até o fim deste ano. VALOR: US$ 1,9 BILHÃO
14 AméricaEconomia Setembro, 2010
Foto: Shutterstock; Ilustração: Denis S. Cardoso
Na pista
1 1
0
1 1 0 0 0 0
11 0
CCHC
1
TOTVS
Leilão de ações A Câmara Chilena da Construção (CCHC) vendeu 14% da participação que possuía na administradora de fundos de pensão AFP Habitat S/A. Por meio de um leilão, foram negociadas 140 milhões de ações, pelas quais a Câmara recebeu US$ 119,6 milhões. A CCHC decidiu vender parte de seu controle acionário para levantar capital para um novo fundo de investimento, segundo o jornal local El Mercurio. VALOR: US$ 119,6 MILHÕES
Ilustração: Denis S. Cardoso
Compra da SRC A Totvs anunciou a compra da SRC Serviços em Informática por R$ 43 milhões. A companhia detém ativos relacionados à operação das empresas Logistics Solutions Ltda., Futura Soluções em Finanças Ltda., Acton Desenvolvimento e Consultoria de Negócios Ltda., SGP – Solução de Gestão de Pessoas Ltda. e Autus Desenvolvimento de Sistemas Ltda., todas franquias de desenvolvimento de softwares aplicativos ligados à marca Datasul. VALOR: R$ 43 MILHÕES
AG2
França à frente A Publicis, maior consórcio de publicidade da França, adquiriu a agência brasileira AG2. A decisão faz parte da estratégia do grupo francês de reforçar sua presença nos mercados considerados de forte crescimento. Segundo comunicado da Publicis, a agência, com sede em São Paulo, emprega 170 pessoas. O valor da transação não foi informado. VALOR: NÃO INFORMADO
BRADESCO
Mais capital
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Depois de comprar a participação do Deutsche Bank na CPM Holdings, o Bradesco tornou-se o sócio majoritário da companhia. Indiretamente, o banco também assumiu o controle da empresa de tecnologia de informação CPM Braxis. O Bradesco, que já tinha 49% da CPM Holdings, agora passa a deter 74,92% do seu capital votante e total. Outros acionistas da CPM Holdings são o fundo Gávea, do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e o Alothon Group. VALOR: NÃO INFORMADO
Setembro, 2010 AméricaEconomia 15
NEGÓCIOS Varejo
Duelo das
prate eiras VAREJISTAS BUSCAM A MELHOR ESTRATÉGIA DE VENDAS PARA O BOM E VELHO LIVRO DE PAPEL, ÀS VÉSPERAS DE UMA TRANSFORMAÇÃO HISTÓRICA LUÍS EDUARDO LEAL, DE SÃO PAULO
16 AméricaEconomia Setembro, 2010
Fotos: iStockphoto
A
situação é real: em uma livraria virtual, o leitor descobre um título há muito tempo acalentado, novo em folha, por uma fração do preço de capa. Como o livro é bastante pesado – tem mais de mil páginas –, o consumidor resolve ir à loja da mesma rede para evitar os custos de remessa. Ao chegar, estranha o fato de a seção estar às moscas. Pergunta então ao vendedor pelo livro que havia visto no site por cerca de R$ 35,00. O vendedor responde que, na loja, sairia por R$ 149,90. No dia seguinte, o leitor volta para a tela do computador, com o cartão de crédito em mãos, e descobre que o mesmo livro passou a custar R$ 89,90. Coça os olhos, mas tudo é verdade: o preço do mesmo livro de mil páginas podia variar até quatro vezes, dependendo do local de compra – loja ou internet – e do dia da pesquisa. A cena kafkiana ilustra a crescente influência do comércio eletrônico na estratégia de vendas de grandes varejistas para seduzir os consumidores de um tradicionalíssimo bem cultural no limiar de uma mudança histórica, e que não se limita ao canal de compra. Leitores digitais, como Kindle e iPad, prometem transformar, ao longo dos próximos anos, o ancestral hábito de armazenar livros em prateleiras. Nos Estados Unidos, a livraria virtual Amazon, detentora do modelo Kindle, já vende mais conteúdo autoral eletrônico do que suas respectivas versões em capa dura. “Há estimativas de que, em 2015, 25% do mercado norte-americano será dominado pelos eletrônicos. Mas há muito para acontecer nesse nicho. Estima-se que a Amazon perca de US$ 2 a US$ 5 por unidade
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da versão eletrônica, quando comparada ao livro de papel”, afirma Sérgio Herz, diretor de Operações da Livraria Cultura, rede varejista de São Paulo que vem se expandindo para cidades como Porto Alegre, Campinas, Brasília e, proximamente, Salvador. No Brasil, entretanto, o foco ainda está no impresso. Enquanto os livros eletrônicos começam a se insinuar nas lojas, os varejistas aprimoram suas estratégias físicas e digitais para aproveitar, da melhor forma possível, o momento de expansão vivido pelo mercado, graças ao aumento do poder aquisitivo da população, inclusive da chamada nova classe média. “No Brasil, as vendas de livros pela internet só não crescem num ritmo mais rápido do que
livros
é o consumo per capita no Brasil, incluindo os didáticos
o atual por causa da falta de investimento dos varejistas em tecnologia e navegabilidade. As empresas ainda priorizam as lojas físicas e, em alguns casos, há um overloop [sobreposição] entre canais de venda, que é indesejável, por confundir o consumidor e desmotivar o vendedor”, avalia o professor de Estratégia e Gestão de Operações do Varejo da Fundação Instituto de Administração (FIA), Lemilson Almeida.
DISPUTA ACIRRADA
Descontos, promoções-relâmpago e bonificações transformaram-se em ferramentas habituais para fidelizar a clientela do livro tradicional, seja na internet ou na loja convencional, numa batalha em que sobram faíscas. “Vender o mesmo livro pela internet mais barato do que na loja é como cobrar Produção por área temática pedágio do cliente que se dispõe a sair de casa. É Economia, uma estratégia que considero pouco inteligente”, Outros administração diz Herz, da Livraria Cultura, que trabalha com 11,47% e negócios 0,98% bonificações para clientes frequentes, seja na Direito internet ou nas lojas físicas. 1,29% Embora a Cultura esteja na internet desde Línguas 1995, pretende continuar a priorizar os pontos e linguística Didáticos 1,43% de venda físicos. “Seguimos apostando na so47,55% Dicionários brevivência das livrarias como uma experiência e atlas 3,08% prazerosa. Há inúmeros clientes que vêm tomar Autoajuda o café da manhã aqui e acabam saindo com um 3,32% livro ou um CD”, acrescenta o diretor da Cultura, Religião que faturou R$ 270 milhões em 2009, ano em que 11,05% 18% de suas vendas foram online. Literatura* 19,83% Já a francesa Fnac, que chegou ao Brasil em 1999, mantém a estratégia de oferecer, nas lojas * infantil, juvenil e adulta Fontes: Fipe, CBL e Snel físicas, descontos de 20% sobre o preço mínimo do distribuidor para os principais lançamentos Canais de comercialização em seus primeiros 30 dias de venda. “Nossa Bancas concepção é a de que a loja virtual e as físicas Outros de jornal são complementares, e não excludentes”, afirma 0,51% 7,57% o diretor-geral adjunto da Fnac Brasil, Marco Feiras do livro 0,75% Aurélio Moschella. “A situação de compra é Sites distinta. O consumidor da internet leva de 24 a de editoras 48 horas para receber o livro, paga pela remessa, 1,41% enquanto o da loja física pode levar para casa no Escolas Livrarias* 1,68% 40,18% momento da escolha. Repassamos ao consumiIgrejas dor o custo menor da internet, quando possível. e templos 2,32% É importante lembrar que nem sempre pela Supermercados internet sai mais barato”, observa o executivo 2,91% Livrarias da Fnac. “Não tratamos e jamais trataremos livro exclusivamente Porta a porta como commodity.” virtuais** 16,64% 2,25% Em 2010, as vendas do site superaram, pela Distribuidores 23,78% primeira vez, as das nove lojas da Fnac no Brasil, *Inclui vendas das livrarias pela internet consideradas isoladamente. Nos próximos três **Livrarias que não têm lojas físicas Fontes: Fipe, CBL e Snel Setembro, 2010 AméricaEconomia 17
NEGÓCIOS Varejo meses, a rede francesa inaugurará a sua décima unidade no país, em Belo Horizonte. Livros, por sinal, são os itens mais procurados no site da Fnac, com 18% de participação nas vendas. Se, por um lado, a concorrência acirrada na internet significa ganhos para o consumidor, em casos extremos desperta alguma preocupação no setor editorial. “No caso da Record, identificamos dois casos de ‘dumping’, em que o livro era oferecido na internet por preço abaixo da venda feita pela editora, o que distorce a situação, na medida em que uma promoção desse tipo atrai inclusive livreiros, e não apenas consumidores finais”, explica a presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Sônia Jardim, que também é diretora do grupo editorial Record, sem revelar o nome da empresa responsável pelo “dumping”. “Outro ponto importante é que a margem do livro de maior vendagem ajuda a custear o investimento feito nos livros de menor saída. O livro que vende paga a conta daquele que não vende tanto.” Seja como for, mesmo que no Brasil o livro digital demore
a se difundir, a tendência é a de que as compras se concentrem cada vez mais nas estantes digitais. “Considerando apenas o mercado dos Estados Unidos, a Amazon já vende de 20% a 30% a mais do que o faturamento conjunto da Barnes & Noble e da Borders, as duas maiores redes ancoradas em lojas físicas”, diz Almeida, da FIA, que acredita que, por ser um produto homogêneo, “commoditizado”, o livro é candidato natural ao comércio eletrônico. “As livrarias físicas sobreviverão se buscarem a especialização de acervo e prestarem um serviço diferenciado ao consumidor.” Para o especialista em varejo, a Amazon estabeleceu um novo patamar para a venda de livros e outros itens, que deverá ser percebido com mais intensidade no futuro, inclusive fora dos Estados Unidos. “Eles mantêm 10 milhões de itens cadastrados, dos quais 8 milhões são livros. Para se ter uma ideia, no Walmart são 270 mil SKUs (Small Keeping Units), e em um supermercado brasileiro, em média, 60 mil.” Ou seja, uma oferta para agradar todos os gostos.
Longa vida pela frente No Brasil, o livro de papel parece ainda ter longa vida útil pela frente, independentemente do preço e da forma como seja adquirido. No ano passado, o setor de produção editorial faturou R$ 2,54 bilhões no país, uma alta de 4,31% em relação a 2008 – sem contar as compras de livros didáticos feitas pelo governo, que significam 25% do faturamento global do setor. No mesmo período, o número de exemplares vendidos pelas editoras às livrarias cresceu 8,11%, o que demonstra que os ganhos de escala permitiram uma redução do preço, na passagem da indústria para o comércio, de 3,56%. De acordo com a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), o bom desempenho no ano passado e as perspectivas ainda melhores para 2010 decorrem da combinação de dois fatores virtuosos. “Nível de escolaridade e renda são determinantes para a leitura – e ambos têm melhorado no Brasil. Ainda estamos na fase de formar novos leitores. Quem não lê no papel, não vai começar a ler no digital”, diz Sônia Jardim, presidente do Snel. No ano passado, o maior aumento no número de títulos editados ocorreu na categoria dos livros científicos, técnicos e profissionais: 9,07%. “Houve um boom do ensino universitário, tanto quantitativo quanto na variedade de cursos, o que se refletiu na diversificação de títulos”, explica a professora Leda Paulani, coordenadora do estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) sobre o mercado editorial brasileiro, feito a pedido da CBL e do Snel. Outro dado interessante apontado pela pesquisa é a força de um método tradicional – as vendas por catálogo, porta a porta – que respondeu por 16,64% das vendas das editoras para o varejo de livros, no ano passado. Nesse grupo, muito presente junto à nova classe média, despontam empresas como a Avon, especializada em cosméticos, que abriu espaço em seus catálogos para alguns títulos de ampla aceitação popular. O caminho para a expansão do universo da leitura, contudo, ainda é longo. De acordo com os dados da última pesquisa sobre hábitos de leitura, referentes a 2008, a média anual de consumo de livros no Brasil era de 4,7 livros por habitante, o que inclui os didáticos. Houve, porém, avanços: em 2000, a média era de apenas 1,8 livro per capita.
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fato relevante a Grau Gestão de ativos, especializada na gestão de recursos de terceiros (asset management), acaba de anunciar augusto videira, como novo sócio-diretor. Videira vai agregar valor à equipe de profissionais da gestora com sua experiência no mercado financeiro e ampliar o espaço conquistado. Com passagens pelo Banco Bozano Simonsen, Banco Santander e pela fram Capital, além de ter sido diretor da feBraBan e vice-presidente da aBBI – associação de Bancos Internacionais, augusto videira tem grande experiência em negociação e em seu currículo consta a participação em várias privatizações, dentre elas Usiminas e BanerJ. ao lado de Carlos levorin e Álvaro almeida, augusto videira vem para reforçar a filosofia da empresa, que é cuidar e zelar pela preservação do capital do cotista buscando a melhor relação entre risco x retorno.
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NEGÓCIOS Energia
USINA DE ITAIPU: AGORA, OS PLANOS DA ELETROBRAS SÃO FORA DO BRASIL
DO BRASIL MUNDO ELETROBRAS APOSTA NA AMÉRICA LATINA PARA COMPENSAR A QUEDA NA RENTABILIDADE QUE DEVERÁ SOFRER EM ALGUNS ANOS CRISTINA DOS SANTOS, DO RIO DE JANEIRO
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la está menos exposta aos holofotes do que a Petrobras. Seus defensores, porém, garantem que esses dias de patinho feio estão contados. Para 2011, é esperado um dos maiores passos dessa gigante, responsável pela geração de 40% da eletricidade consumida no país. A Eletrobras dará início aos seus projetos no exterior, que devem lhe garantir, até 2020, pelo menos 10% do faturamento. Considerado o balanço fi nanceiro do primeiro semestre de 2010, isso re20 AméricaEconomia Setembro, 2010
presentaria ínfimos negócios, da ordem de R$ 170 milhões, já que o lucro da empresa no período foi de R$ 1,7 bilhão, revertendo o prejuízo de R$ 2 bilhões registrado nos primeiros seis meses de 2009. Mas analistas estimam que o salto é apenas o começo da escalada da companhia e que esse percentual poderá representar cifras bilionárias, em dez anos. A aposta fora dos limites territoriais brasileiros, dizem esses analistas, pode ser uma forma de tentar compensar a
queda na rentabilidade prevista para ocorrer após o vencimento de quase 40% de suas concessões, em 2015. A empresa terá de fazer esforços para cortar custos operacionais que estão entre os mais altos do setor e vencer o desafio de cumprir uma carteira de investimentos de R$ 30 bilhões até 2012, com taxas de retorno ainda incertas. “Buscar uma porta de entrada em outros países, no momento, é a melhor alternativa para a Eletrobras”, garante o professor Nivaldo de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ), que está auxiliando a estatal em seu processo de internacionalização. O principal argumento, diz ele, é o de que, no continente americano, a companhia enfrenta menor concorrência e pode obter melhores índices de retorno. “Há uma facilidade de composição de par-
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PARA O
cerias para empreendimentos locais ou integrados ao sistema brasileiro”, diz o professor, que tem atuado de maneira bem próxima na intermediação entre a Eletrobras e os negócios potenciais, especialmente em países vizinhos. Com exceção da Colômbia, diz ele, todos os países da América do Sul têm uma “crise energética endêmica”, por conta do aumento da oferta abaixo da demanda. No total, já existem pelo menos 100 projetos identificados, que podem chegar a 30 mil MW potenciais. De acordo com o superintendente de Operações no Exterior da estatal, Sinval Gama, esses projetos ainda estão em fase embrionária e devem passar por um funil. “Claro que nem tudo é viável. Não vamos entrar em todos [os projetos]”, diz.
MAPA DO TESOURO Segundo Gama, entre os projetos mais avançados está o que prevê a construção de cinco usinas hidrelétricas no Peru, com capacidade para gerar 6,5 mil MW. Tanto esse projeto quanto possíveis empreendimentos na Argentina e na Nicarágua se mostram viáveis para começarem a ser construídos já em 2011 (veja acima a lista completa). Castro, coordenador do Gesel, avalia que a atuação da Eletrobras no exterior engloba três perspectivas: a construção de hidrelétricas na fronteira, com tratados nos moldes de Itaipu; usinas no interior do país, para atender o mercado interno e com a venda do
excedente para o Brasil, como no acordo com o Peru; e a experiência que deverá ser implantada na América Central, com a companhia atuando diretamente no mercado local. Além dos países latino-americanos, a companhia também vem estudando uma forma de entrar nos Estados Unidos ainda em 2010, por meio da aquisição de usina hidrelétrica ou eólica, ou ainda de alguma parceria com uma empresa de linhas de transmissão. “A parte boa de atuar nos Estados Unidos é que, com US$ 60 milhões, já dá para adquirir uma porcentagem de 5% em uma usina”, comenta o superintendente.
18 mil MW de geração terão sua viabilidade estudada pela Eletrobras Os primeiros passos para transformar a Eletrobras em uma empresa moderna e competitiva – e que não lembre os tempos em que era chamada de “Eletrossauro”, expressão criada pelo falecido economista e ex-ministro do Planejamento no governo Castello Branco, Roberto Campos – foi a Lei nº 11.651/08, que autorizou a estatal a desenvolver novos projetos e realizar investimentos no exterior. Essa medida foi o marco inaugural do Plano de Transformação da Eletrobras, que se seguiu com a criação de uma diretoria de distribuição, para recuperar a saúde fi nanceira das distribuidoras federalizadas do Norte e do Nordeste, fonte constante de prejuízo para o grupo. A partir daí, o governo traçou a estratégia para a Eletrobras se tornar a Petrobras do setor elétrico. Uma cirurgia plástica foi feita na imagem da companhia, passando pela mudança do logotipo da empresa, até as inúmeras
pendências que começaram a ser resolvidas na companhia. A maior delas foi o lançamento de suas ações como ADR na Bolsa de Valores de Nova York, além do pagamento dos dividendos que devia há algumas décadas. Na mesma linha da prima, a Petrobras, a Eletrobras lançou pela primeira vez em sua história um planejamento estratégico, no qual previu investimentos de US$ 30 bilhões até 2012, isso ainda sem considerar a vitória à frente do consórcio que arrematou o megaempreendimento de Belo Monte. Estimativas conservadoras acreditam que os valores podem chegar a US$ 100 bilhões em dez anos.
PEDRA NO CAMINHO No âmbito do processo de internacionalização, o plano prevê a realização de estudos de viabilidade para investimentos em usinas que gerem até 18 mil MW, grande parte em países vizinhos ao Brasil, e linhas de transmissão com extensão em torno de 11 mil quilômetros, tendo como prioridade a geração de energia que possa ser transmitida para o sistema elétrico brasileiro, além da integração dos sistemas de energia elétrica da América do Sul. No relatório intitulado “O Gigante se Move” , analistas do setor elétrico do banco Santander, no entanto, apontam que os custos médios com pessoal na holding Eletrobras aumentaram cerca de 60% em quatro anos (de 2005 a 2009). A baixa eficiência, somada ao fato de a companhia ter de enfrentar, em 2015, a renegociação de contratos com boa parte de suas concessionárias, na opinião do analista Márcio Prado, que assina o relatório, pode comprometer os investimentos e impedir o avanço em território estrangeiro. Para o professor Castro, do Gesel, essas incertezas são intrigas. “As concessões continuarão sendo rentáveis porque são investimentos já amortizados. Não oferecem riscos. E os novos investimentos, como em usinas do porte de Belo Monte ou outras que virão por aí, começarão a gerar renda”, acredita. Setembro, 2010 AméricaEconomia 21
NEGÓCIOS Energia
“Se vamos ou não construir essas usinas dependerá de estudos de viabilidade financeira e ambiental”, garantiu o presidente da companhia, José Antonio Muniz, ao anunciar o plano de investimentos, afirmando que a empresa não investirá sozinha em nenhum projeto no exterior. “Vamos ter sempre sócios e a engenharia fi nanceira será estudada caso a caso”, disse, acrescentando que há ainda uma “condicionante jurídica para que os projetos internacionais saiam do papel: a existência de tratados aprovados pelos congressos dos países envolvidos”.
Estados Unidos • Projeto: participação na usina hidrelétrica com capacidade de até 300 MW • Fase: em busca de aquisições • Custo: US$ 60 milhões • Parceria: indefinida • Prazo: aquisição até o final deste ano
PRINCIPAIS PROJETOS DA Eletrobras NO EXTERIOR
• Projeto: hidrelétrica de 1,2 mil MW para atender o mercado local e exportar o excedente • Fase: estudos de viabilidade • Custo: US$ 4 bilhões, divididos entre sócios • Parceria: Andrade Gutierrez • Prazo: estudos previstos para 2011
Argentina
Peru
• Projeto: duas hidrelétricas binacionais, na fronteira, com capacidade de 2 mil MW • Fase: análise de características do projeto • Custo: não calculado • Parceria: estatal Ebisa • Prazo: indefinido
• Projeto: cinco usinas hidrelétricas, em um total de 6,5 mil MW • Fase: estudos de viabilidade • Custo: US$ 2,5 bilhões para a primeira usina, divididos entre os dois países • Parceria: Inambari (Eletrobras, Furnas e OAS), Paquitztapango (Engevix), Tambo 40 (Andrade Gutierrez), Tambo 60 (Eletrobras), Mainique (Odebrecht) • Prazo: indefinido
Venezuela • Projeto: linha de transmissão de energia de 1 mil km de extensão • Fase: parado • Custo: não calculado • Parceria: indefinida • Prazo: indefinido
El Salvador • Projeto: usina hidrelétrica com capacidade de 230 MW • Fase: análise concluída em seis meses • Custo: US$ 700 milhões • Parceria: ENE • Prazo: indefinido
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Uruguai
Guiana
Costa Rica • Projeto: duas hidrelétricas (230 e 500 MW) • Fase: estudos concluídos em 2010 • Valor da obra: US$ 900 milhões • Parceria: estatal ICE • Prazo: 2014
• Projeto: linha de transmissão de energia de 500 km • Fase: em construção desde janeiro de 2010 • Custo: US$ 270 milhões, sendo US$ 60 milhões para o Brasil • Parceria: estatal uruguaia UTE • Prazo para conclusão: 2013
Nicarágua • Projeto: duas usinas hidrelétricas, com capacidade de 250 MW e 500 MW • Fase: a análise da viabilidade técnica e ambiental será concluída em setembro • Custo: US$ 700 milhões • Parceria: Queiroz Galvão • Prazo: indefinido
Colômbia • Projeto: uma usina hidrelétrica com capacidade de 2,3 mil MW • Fase: no aguardo de decisão do governo colombiano sobre a licitação. Há sete companhias no páreo: uma colombiana, uma chinesa, uma coreana e quatro brasileiras. • Custo: US$ 3 bilhões • Parceria: indefinida • Prazo: 2017
NEGÓCIOS Capa
Quanto vale o
show? BRASIL ATRAI COMO NUNCA O INTERESSE DE ESTRANGEIROS, ÁVIDOS PELO CRESCIMENTO DE SEU MERCADO. MAS AS INEFICIÊNCIAS DO PAÍS AINDA COBRAM UM ALTO PREÇO DE ENTRADA
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SOLANGE MONTEIRO, LUÍS EDUARDO LEAL E AINÁ VIETRO, DE SÃO PAULO, E CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO
feito será digno de comemoração. Em setembro, depois de oito meses instalada no Brasil – e de dez anos da primeira intenção de fazê-lo, na época abortada pelas dificuldades encontradas para transformar-se em um distribuidor –, a empresa espanhola Jealsa Rianxeira, fabricante de pescados enlatados, espera faturar suas primeiras vendas em reais. “Um recorde, segundo alguns bancos que contatamos, que estimaram nosso início em dois anos”, diz Sidnei Rosa, diretor-geral da afi liada no Brasil. Para isso, a Jealsa, presente em mais de dez países, teve de se valer de uma ginástica operacional. Até que saiam todos os registros exigidos para a importação do seu produto, previsto só para o final do ano, a Crusoe Foods – criada aproveitando a nacionalidade brasileira do líder das operações no Chile – fez parceria com a Leal Santos, do Rio Grande do Sul, que fornecerá a matéria-prima e irá embalá-la sob a marca da Crusoe. Muito trabalho? “Sim. Pelo que converso com afiliadas de outros países, parece que a burocracia lá é menor. Se, por um lado, essas dificuldades são boas, pois servem de barreira para novos concorrentes, por outro, é complicado esperar tanto para começar a faturar e gerar empregos – no caso, para cerca de 300 vendedores”, diz Rosa. “Mas o mercado vale”, conclui, afirmando que o plano da Jealsa, que faturou 390 milhões de euros em 2009, é conquistar, num prazo de dois anos, 5% do mercado brasileiro de pescado enlatado, que hoje é de R$ 1,2 bilhão, com estimativa de crescimento de 8% ao ano, segundo Rosa. A história da Jealsa reflete a repetição de uma antiga e irônica dinâmica brasileira: a de oferecer um grande e atraente mercado a importadores, fabricantes e investidores, cobrando de entrada o preço de suas também gigantes ineficiências, deixando o interessado sem ter para onde correr. O dinamismo do país em meio à atual crise econômica mundial parece ressaltar ainda mais os contornos do território brasileiro no planejamento estratégico de diversas corporações. Porém, apesar da população na casa dos 190 milhões, de uma nova classe média com crescente afluência, da inflação controlada e da relativa estabilidade nos últimos 15 anos, a locomotiva sul-americana ainda desperta dúvidas que se espraiam da complexidade de seu sistema tributário aos entraves burocráticos e à precariedade da infraestrutura local. “Hoje, todos querem fazer negócios com o Brasil”, comenta o executivo de uma empresa mexicana instalada no país, que não quis se identificar. “O problema é que, com as deficiências que o país tem, corre o risco de não conseguir atrair o investimento direto para as áreas que lhe interessa”, afi rma. “Eu, por exemplo, pensaria mais de duas vezes em transferir uma fábrica para cá, levando em conta o custo de contratação de mão de obra e a falta de desoneração de bens de capital.”
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SIDNEI ROSA, DIRETOR-GERAL DA CRUSOE FOODS: LONGA ESPERA PARA COMEÇAR A FATURAR
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SUTIS BARREIRAS
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A experiência de fazer negócios com o Brasil leva muitas empresas estrangeiras a defender que o país ainda mantém reservas a importações, num incentivo dissimulado para que invistam em uma operação local. Sob esse ponto de vista, exportar para o Brasil em bases relevantes seria mais problemático do que optar por produzir a partir do país. Walter Molano, analista do BCP Securities, banco de investimentos norte-americano, cita o caso da CMPC, fabricante chilena de papel e celulose. Há quatro anos, a fi lial de cartolinas da empresa foi acusada de vender abaixo do custo pela Suzano e pela Klabin, entre outras fabricantes reunidas na Bracelpa, a associação do setor. No final de 2009, a CMPC comprou os ativos da Aracruz no Rio Grande do Sul, tornando-se uma das maiores produtoras de celulose do mundo – e, ao fi nal, passou a integrar a Bracelpa. “Tudo consiste em instalar-se no país, conquistar sócios brasileiros, comprar matéria-prima local e se submeter às regras do jogo”, diz Molano, em Santiago. “É um sistema desenhado para produzir essa situação.”
é a posição do Brasil no último ranking de competitividade do WEF
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NEGÓCIOS Capa 3
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LOGÍSTICA DEFICIENTE E CARA E EXCESSO DE BUROCRACIA: FATORES QUE CONSPIRAM CONTRA OS NEGÓCIOS
é a tarifa máxima que o Brasil pode aplicar ao importar produtos industriais
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Comércio (veja entrevista na pág. 30), essa visão de que o Brasil seria um país protecionista é um erro – tais variações tarifárias, no seu entendimento, estão dentro do previsto. “Hoje, a média aplicada pelo Brasil está em torno de 10,4%, absolutamente razoável em comparação com os outros países em desenvolvimento”, diz. “Na OMC, existem a tarifa aplicada e a consolidada. O Brasil nunca perfura a tarifa consolidada (a tarifa máxima permitida pelas regras da OMC) que, para o produto industrial, é de 35%. Ou seja: o país tem total liberdade de variar até esse limite.”
Fotos: 3 - Marcelo Justo/Folhapress; 4 - Shutterstock
No caso da Jealsa, o plano é, no médio prazo, unir a parceria no Sul ao investimento em uma fábrica local. “Estamos avaliando Rio de Janeiro, Recife ou Fortaleza, para estar mais perto dos consumidores do Norte/Nordeste e reduzir custos logísticos”, conta Rosa. Segundo o executivo, essa diversificação ainda traria outras vantagens: blindar-se de um risco de desabastecimento por problemas nos portos, bem como das mudanças de humor do governo de turno. “Agora virão as eleições, e não sabemos o que poderá acontecer, o que poderão alegar. Em abril, já elevaram nossa taxa de importação de 12% para 32%”, afirma. Para Vera Thorstensen, que por 15 anos assessorou a missão brasileira em Genebra, na Organização Mundial de
NA MIRA DOS INVESTIMENTOS
VELHOS PROBLEMAS
Problemático ou não, o fato é que o país tem conseguido “Para ampliarmos a integração, os fluxos comerciais e os aumentar a atração de investimentos diretos. Da América investimentos diretos, é preciso reduzir o custo Brasil e Latina, por exemplo, vieram de grandes grupos mexicanos as exigências burocráticas. Ainda persiste na região uma e chilenos, como Telmex, Femsa, Bimbo, CMPC e Masisa, a fi losofia burocratizante, com resquícios de incompetência uma geração anterior de empresas, como as argentinas Are corrupção”, avalia o embaixador Marcos Azambuja, vicecor e Techint. Em agosto, a Bimbo, por exemplo, inaugurou presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cea sua sétima unidade produtiva no Brasil, a primeira em bri), ressaltando que os problemas causados aos investidores Minas Gerais, no município de Contagem. A fabricante de e exportadores não são uma exclusividade brasileira. pães e bolos chegou ao país em 2001, com uma estratégia de aquisições, e agora planeja ganhar participação, ampliando o alcance geográfico no Brasil – terceiro maior mercado da empresa, atrás de México e Estados Unidos. “O grupo está muito satisfeito com o desempenho da economia brasileira e aposta no crescimento, favorecido também pelo aumento da renda”, diz o gerente de Novos Negócios da Bimbo do Brasil, Alvaro Marchi. Segundo o último relatório mundial da Conferência das “A cultura da América do Sul sempre foi a de Estados que Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), deveriam criar barreiras e não facilitar as trocas. Ainda expeo investimento estrangeiro direto no país, entre 2007 e 2009, rimentamos alguns resquícios dessa tradição de substituição somou US$ 105,59 bilhões, cifra superada apenas pelo México, que participa do Nafta, a zona de livre comércio da Bom, mas nada fácil América do Norte, com os Posição de países da região no estudo Doing Business, que considerou 183 países EUA. Além disso, no mais Posição geral Abrir um Contratar Pagamento Comércio recente Relatório de ComPaís no ranking negócio funcionários de tributos transfronteiriço petitividade Global, elaborado pelo Fórum Econômico Colômbia 37 74 63 115 97 Mundial (WEF, na sigla em Chile 49 69 72 45 56 inglês), referente ao biênio México 51 90 136 106 74 2009-2010, o Brasil aparece Peru 56 112 112 86 91 na posição 56 entre 133 paíPanamá 77 27 177 173 10 ses pesquisados. No estudo Uruguai 114 132 64 159 131 anterior, ficou em 64. “O Brasil melhorou muiArgentina 118 138 101 142 110 to nos últimos anos quanto à Paraguai 124 100 179 110 152 estabilidade jurídico-regulaBrasil 129 126 138 150 100 tória”, diz Amaury Júnior, diEquador 138 163 160 77 125 retor da Vision Brazil Gestão Bolívia 161 167 183 177 121 de Investimentos, citando, Venezuela 177 142 181 182 166 entre outros fatores, a Nova Fonte: Banco Mundial Lei de Falências. “O problema está quando se gera qualquer de importações que prevaleceu por tantos anos na região, sob instabilidade no marco regulatório de um setor, pois pode a influência das ideias da Cepal [Comissão Econômica para a contaminar os outros”, diz, citando como exemplo situações América Latina e o Caribe]”, observa. novas, como a exploração do pré-sal e mudanças de regras, Para a advogada Shin Jae Kim, sócia da área de Invescomo a recente aprovação pelo governo da limitação à venda timentos Estrangeiros da TozziniFreire Advogados, houve de terras brasileiras a estrangeiros ou a empresas brasileiras avanços, nos últimos três anos, na disponibilização por controladas por estrangeiros a, no máximo, 5 mil hectares. diversos órgãos do governo de informações, pela internet, “Regulamentar é necessário, ninguém diz o contrário. O aos investidores – e uma melhor compreensão, por parte dos problema é mudar o que estava estabelecido. É como voltar estrangeiros, de que o Brasil opera dentro de marcos legais atrás”, concorda Mario Roberto Nogueira, sócio do escritório definidos. “Mesmo assim, seria importante existir algo como de advocacia Demarest & Almeida.
A cultura da América do Sul sempre foi a de dificultar o comércio, diz o embaixador Marcos Azambuja
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NEGÓCIOS Capa uma agência de investimentos, que funcionasse como uma porta de entrada e fizesse a ponte com as diversas áreas do governo envolvidas com o investimento estrangeiro.” A preocupação é compreensível. Diversos escritórios de advocacia relatam dificuldades quando se transita entre os municípios, estados e União em busca de certidões, cadastros e
Daniel Hage, analista do banco BNP Paribas, em evento na capital paulista. “Os estrangeiros demoram para compreender. Se você conversar sobre planejamento tributário, ele vai entender como algo natural a ser levado em conta ao se decidir sobre o investimento em um determinado país, em determinadas
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outros documentos essenciais à regularização de um negócio. Um investimento de interesse de determinado estado pode sofrer com a relativa indiferença de uma repartição do governo federal, para a qual o projeto não tem a mesma prioridade.
PESO DOS IMPOSTOS Além do peso da burocracia, há outros fatores que contribuem para que a decisão sobre negócios no Brasil seja bem mais ponderada do que um impulso de Carnaval. A primeira grande questão é a carga tributária – não apenas o volume de tributos, mas a complexidade do sistema brasileiro. “É difícil avaliar ativos levando em conta aspectos fiscais”, comentou 28 AméricaEconomia Setembro, 2010
condições, quando comparadas às de outros países. Mas se você explicar que planejamento tributário envolve, no Brasil, uma variedade de diferenças relacionadas a impostos em três níveis, a situação se complica ainda mais para quem está acostumado com sistemas tributários bem mais cartesianos”, explica o dirigente de uma empresa latino-americana. A consequência da barafunda tributária é clara aos olhos de quem vem de fora: incerteza e dispêndio de energia na manutenção de departamentos jurídicos custosos. O planejamento tributário é parte decisiva de uma estratégia bem-sucedida no Brasil. Ainda que muitos tributos tenham sido, em alguma medida, simplificados, o sistema continua consumindo uma quantidade desproporcional de tempo. Segundo relatório do Banco Mundial, a gestão tributária das empresas no Brasil consome em média 2,6 mil horas anuais – desempenho pior que o da Bolívia, de 1,08 mil horas/ano.
Fotos: 5 - Jorge Araújo/Folhapress; 6 - Shutterstock
População na casa dos 190 milhões de habitantes e aumento da classe média atraem investidores
O peso e a complexidade da carga tributária começam no momento do investimento, ao se tributar bens de capital. No exterior, o investimento costuma ser desonerado, e o governo se torna “sócio” do projeto em um momento posterior, quando o empreendimento passa a ser operacional. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, defende que o próximo presidente retome uma proposta defendida no passado pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci, hoje um dos principais colaboradores da candidata líder nas pesquisas, Dilma Rousseff. “O gasto público precisa crescer abaixo da expansão do PIB nominal. Essa ideia tem de ser formalizada – e nada melhor do que o primeiro ano de governo para aprovar esse tipo de ideia”, disse Barros, em evento recente, em Belo Horizonte. “No Brasil, a gestão tributária é parte do core business”, reforça Enrique Cibié, membro do conselho administrativo das chilenas Fasa e Masisa. Grande player do mercado de farmácias no Chile, a Fasa, que foi adquirida pela mexicana Casa Saba, viveu maus momentos no Brasil. Foram quatro anos de luta pela sobrevivência diante de um dos efeitos mais daninhos das altas tributações: a evasão fiscal. A empresa não contemplou a grande fragmentação do varejo farmacêutico no Brasil – e mesmo a informalidade –, o que forçou a saída do grupo chileno do país, com perdas de US$ 10 milhões.
competitividade sistêmica. Falta desenvolvimento às ferrovias, as hidrovias são subutilizadas, as rodovias estão mal conservadas, há falta de estrutura nos portos, que, ainda por cima, são caros”, acrescenta o dirigente de uma companhia latinoamericana com presença no Brasil. “Como temos deficiências na competitividade sistêmica, a tendência é a de que as matérias-primas que o país produz sejam processadas no exterior, fazendo com que se agregue valor fora, onde for mais barato.” “É natural que a empresa leve pelo menos dois ou três anos apenas para entender como funciona o Brasil. O foco não pode estar no curto prazo”, avalia Carlos Rodriguez, cônsul comercial em São Paulo e diretor da Proexport, a agência de promoção das exportações da Colômbia. Rodriguez avalia, contudo, que o esforço vale a pena. “As vantagens da escala mais do que compensam eventuais dificuldades com regras, que, por sinal, existem em qualquer lugar”, afirma o diretor da agência colombiana.
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mil horas anuais é o quanto uma
empresa consome em média em sua gestão tributária no Brasil, desempenho pior até que o da Bolívia
INFRAESTRUTURA FRÁGIL A infraestrutura é outro nó. “O Brasil cresceu muito nos últimos anos, e a infraestrutura não é adequada”, diz Juan Carlos Pinto Ribeiro, representante do Proméxico, agência de promoção comercial do governo mexicano, em São Paulo. “Carregamentos param nas aduanas, e os problemas só se resolvem enviando ofícios às autoridades”, ressalva Ribeiro. “Não temos planejamento voltado à melhoria de nossa
CUSTOS EM ALTA Como tudo o que está na moda, o Brasil é um país caro. O custo dos carros, dos aluguéis de escritórios e dos voos domésticos é superior ao da maioria dos países vizinhos. “Com a apreciação do real, ficou ainda mais caro produzir a partir do Brasil em escala global, principalmente se levarmos em conta que países como a China mantêm o câmbio artificialmente desvalorizado para aumentar a competitividade de suas exportações”, diz fonte de uma empresa latino-americana no Brasil. “Aqui, temos uma legislação social à frente do próprio desenvolvimento econômico. No Brasil, está se discutindo agora a semana de 40 horas de trabalho. Para o trabalhador brasileiro, a cada real recebido, o empregador arca com R$ 1,50 em encargos obrigatórios e voluntários [150% de carga]. Já na Finlândia, os encargos são de 76%, e, nos EUA, de 46%.” Outro ponto fundamental é o custo de capital, ainda elevado quando comparado à média internacional, mesmo considerando as reduções verificadas nos últimos anos e o papel significativo desempenhado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nos financiamentos de longo prazo. No Brasil, uma empresa investment grade – portanto, de primeira linha – tem custo de capital entre 8% e 8,5% ao ano – no Chile, uma empresa semelhante arca com custo anual entre 4% e 4,5%. Ou seja, mais um desafio que o Brasil deve enfrentar para garantir a qualidade do investimento que chega ao país.
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NEGÓCIOS Capa
Sem PROTECIONISMO P
or mais de 15 anos, Vera Thorstensen acompanhou a ação do Brasil no GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e na OMC (Organização Mundial do Comércio), em Genebra. De volta a São Paulo há poucos meses, onde lidera a criação do Centro de Comércio Global na Fundação Getulio Vargas, ela defende que o Brasil “é um bebê” no uso de instrumentos antidumping e deveria focar-se em multiplicar seus acordos comerciais, sobretudo com países do hemisfério norte. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
AméricaEconomia O Brasil é visto internacionalmente como protecionista? Vera Thorstensen Era, mas a fase cepalina [relacionada à Cepal – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, e ao modelo de substituição de importações] ficou para trás há muito tempo. O Brasil está mais aberto, atrai muito investimento. O pessoal fala “ah, o Brasil não tem tratado de investimento estrangeiro de proteção”, mas isso é irrelevante. Quando a economia está estável, o investimento vem.
emergentes, é um bebê. Eu fico preocupada quando o governo consegue um antidumping com monopólio, pois isso não é salutar para a economia. Mas é um instrumento legítimo, e deveria ser muito mais usado.
AE O que a senhora acha do interesse da OMC em investigar a ação do BNDES? Vera O BNDES já tem sido objeto de interesse dos membros da OMC desde os anos 1990, porque ele vem crescendo. Eu imagino que o que pode ser questionado em teoria é se o setor ao qual o BNDES deu recursos começa a exportar. No restante, depois da crise de 2008, todos os países recorreram a políticas contracíclicas, e por isso não vejo a OMC criar problemas com o Brasil. Ainda mais porque, no nosso caso, nossa capacidade de financiamento é limitada, e o único banco que fi nancia a longo prazo é o BNDES.
AE O Brasil perde com a pouca dinâmica na negociação de tratados comerciais? Vera O OMC tem 267 acordos notificados, e a informação
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de mais 200 em negociação. O grosso se concentra na região da Ásia. No caso do Brasil, o problema se chama agricultura, porque é o setor mais protegido do mundo. Então, fica mais fácil casar com a Índia do que casar com o Brasil. Ainda assim, o país precisa negociar mais, e não só tratados Sul-Sul. Tem de ser Norte-Sul. Por quê? Antes, o tema central das discussões eram tarifas, mas hoje elas, em geral, estão baixas. O foco passou para o câmbio, as barreiras técnicas [TBT e SPS]. Para estas, as regras da OMC são muito leves, e são elas as que estão sendo mais discutidas nos acordos regionais. Eles estão criando novos blocos de regras, determinadas pelos grandes compradores, como os EUA. Ou seja, são milhões de itens que estão sendo determinados, e o Brasil está totalmente fora da discussão, isolando-se.
AE E a China, é uma ameaça? Vera Hoje, minha percepção é a de que a China, com sua política de câmbio, está minando o sistema de regras da OMC e incentivando a desindustrialização em países emergentes.
Fotos: 6 - Leo Pinheiro/Valor/Folhapress
AE A senhora acha que o país exagera no uso de instrumentos antidumping? Vera Acho que usa pouco. Se comparado a outros países
DEBATES Entrevista
Planejamento racional
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A
os 86 anos, o engenheiro Eliezer Batista, lendário ex-presidente da Vale, considera que a matemática é a linguagem que não pode ser perdida de vista quando se trata de analisar a realidade e planejar o caminho para o futuro, sem os desvios do discurso e do cálculo político. Em entrevista, ele explica por que a racionalidade econômica ainda é o melhor instrumento para que temas como a integração da infraestrutura na América do Sul passem do terreno das intenções para o dos ganhos concretos. “Abaixo da linha do Equador, tudo está de cabeça para baixo, inclusive a lógica”, diz, em inglês, com bom humor poliglota e a percepção de que, apesar das dificuldades, existem avanços. LUÍS EDUARDO LEAL, DO RIO DE JANEIRO. FOTOS: ISMAR INGBER
AméricaEconomia Em 1996, o senhor desenvolveu um estudo sobre a infraestrutura como fator de integração e desenvolvimento para a América do Sul. Anos depois, os 12 países do subcontinente firmaram a IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana). Conseguimos avançar? Eliezer Batista O documento original, feito para o presidente Fernando Henrique Cardoso [quando Batista era seu assessor direto], é muito bom, conceitualmente. Depois, foi se transformando. Tínhamos a pré-condição de não politizar o assunto, mas foi exatamente isso o que aconteceu. Politizaram e burocratizaram. Vendemos isso para a Corporação Andina de Fomento (CAF), cuja contribuição não foi muito importante e que, por sinal, ajudou muito a politizar. Criou-se um organismo estatal que não funciona muito bem. E, mais tarde, os governos ficaram na condição de apresentar os projetos que achavam mais interessantes, sem a consideração da proposta original de que teriam de ser economicamente viáveis. O Banco Mundial dividia a infraestrutura de forma bastante complicada. Nós resolvemos simplificar, considerando capital humano e estrutura física, num conceito de door to door integrated logistics. Isso foi entregue ao Fernando Henrique, que é uma pessoa muito inteligente. Mas quando você entrega isso para baixo, para toda uma estrutura estatal, é diferente.
AE Qual deve ser o papel da logística para a integração regional? Batista Logística é uma noção de custo, de calcular racionalmente, com diversas variáveis. Não é só transporte – é transporte, energia, armazenamento, tudo isso junto. E aí se aplica também o desenvolvimento sustentável, que é uma coisa muito mal compreendida ainda hoje. É preciso eliminar todos os vícios de nacionalismo, de questões geopolíticas. Na América Latina, se pensa muito diferente, é inevitável politizar. E, ao se politizar, os projetos deixam de ser aqueles mais econômicos. Em integração, tem de se levar em conta as noções de eficácia, rentabilidade e retorno, no prazo mais curto possível. E com um framework, com fases – não pode ser “à la diable”. Com a politização, os projetos viraram a fantasia de cada um. O Peru com o Acre, porque no mapa parece perto – então, uma saída para o Pacífico. Isso é romântico. A saída mais econômica para o Pacífico para atingir os mercados do Extremo Oriente é pelo Atlântico, não pelo Pacífico. A partir do Brasil, você tem de atravessar os Andes? Não. Pode ser pela África do Sul também, que é a rota que a gente abriu. Pelo Norte/Nordeste, há Suez, o canal do Panamá. Em logística viária, nada pior do que subir e descer. [A IIRSA] não é algo de hard thinking, de fazer funcionar racionalmente, dando resultados econômicos práticos. Fala-se em eixos bioceânicos – parece espanhol do século 17, coisas “monumentales”.
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DEBATES Entrevista
AE O senhor é um observador de longa data do cenário brasileiro e regional, marcado por burocracia e ineficiências nos contatos entre o poder público e a iniciativa privada. Qual é a sua percepção nesta década? Batista Houve melhora, mas ainda não é suficiente para satisfazer as duas partes. Veja bem o valor da função do tempo. A Teoria do Caos [abordagem complexa da realidade, baseada em modelos matemáticos não-lineares] é uma teoria para colocar ordem na desordem, que é o que nós temos aqui. A primeira coisa a se fazer é conhecer o valor da função do tempo. Ou seja, se eu gasto três anos para tirar uma licença ambiental para uma hidrelétrica, eu estou na Idade Média. É difícil vender isso para o pessoal. Ninguém está habituado a trabalhar com números e sua significação. O número tem uma significação. Se você muda a situação, você muda o número também. Pouca gente pensa assim. Por isso é que a gente sai de um atoleiro para outro. A iniciativa privada melhorou muito, mas, no governo, não vejo muita melhora, não. A gente ainda trabalha apenas com três variáveis: câmbio, inflação e taxa de juros. Não sai disso.
AE Existe a crítica de que o Brasil está retornando à condição de exportador de matérias-primas, após ter, a partir dos anos 1970, diversificado a pauta comercial com base em manufaturados... Batista Se você olhar para a pauta de exportações, sim. Mas se, por outro lado, você olhar para o BNDES, [há] um presidente extremamente inteligente [Luciano Coutinho] e com políticas certas. Ele tem de lutar dentro da burocracia interna, o que não é muito fácil. Ele está com o pensamento centrado em objetivos alcançáveis e tem feito um trabalho muito bonito. A economia, por outro lado, está como a da África no tempo da colonização europeia, exportando matérias-primas e comodidades,
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comodidades essas que todo mundo sabe fazer também. Então, a minha vantagem comparativa já desapareceu nessa altura. Num mundo em que todos querem adicionar valor, com inovações, isso tem um fundamento profundo na educação. Capital humano é a parte mais importante de tudo isso – da educação vem o resto. Onde é que vamos procurar mão de obra agora? Estamos procurando soldadores até nos Estados Unidos, temos até soldadores americanos aqui. Falta mão de obra qualificada. Por quê? Educação, que está na frente de tudo.
AE A sinergia com a China constitui uma ameaça à industrialização brasileira? Batista A China é um grande mercado para as nossas matérias-primas, mas é preciso capitalizar isso para favorecer a industrialização. Nessa capitalização, vou aplicar em aço e produtos cada vez mais sofisticados, porque, senão, o chinês vai fazer o que quiser, como ocorreu com o couro no Rio Grande do Sul. Primeiro, eles levaram a matériaprima, depois, o trabalhador e, por fi m, o próprio empresário gaúcho, que, hoje, produz também a partir da China. E para vender para o Brasil, mais barato. É isso aí. Extrapole isso para o que você quiser. Estamos exportando matériasprimas e perdendo bilhões de dólares em produtos industrializados para mercados em que já estávamos presentes. Mercados perdidos para outros, que entraram depois, mais competitivos.
AE Um dos setores mais dinâmicos da economia atual é o da produção de conhecimento associado à tecnologia. No Brasil, práticas do passado, como a reserva de mercado, não surtiram os efeitos esperados. Há ainda o que ser feito para melhorar nossa posição relativa? Batista O que fabrica o indiano? Não fabrica chips, fabrica software. Quem entrou na frente no mercado de TI?
Estados Unidos, Taiwan e Coreia são grandes produtores de chips. Para competir com eles, você tem de ter uma eficiência brutal. A taxa de obsolescência nesse setor é muito alta. E há o problema da mão de obra. Se tivéssemos gente, como a Índia, estaríamos exportando software. O DNA brasileiro é bom: temos muita gente boa, de diversas origens. Daria para fazer como os Estados Unidos fizeram: eles dão preferência ao conhecimento, não importa de onde você venha. O que interessa é o que você tem na cabeça e o que você pode realizar – as universidades americanas são um exemplo. Nós ainda não temos isso. Ainda temos muitos preconceitos, resquícios ibéricos, como o patrimonialismo, privilégios e não sei mais o quê. Eu conheci a Coreia quando era um montão de ruínas, e veja o que é a Coreia hoje: um dos países mais adiantados do mundo em ciência e tecnologia. Para o exportador de matérias-primas, é muito melhor, mais fácil, investir menos para ganhar mais. Esse é o presente, que é “autoarapucável”, se é que existe, se é que posso usar essa palavra. No futuro, ou mesmo no prazo médio, está cavando a própria sepultura. Porque não vai competir com aquele que está usando a matéria-prima dele e ainda consegue vender o produto mais barato.
AE Olhando a situação atual e os desafios à frente, o senhor se definiria como um otimista ou pessimista? Batista Eu sou otimista. Existem duas defi nições. Não é a do pessimista que financia o otimista. Vamos chamar de realistas. Nessa geração nova, nossa, tem muita gente boa. Muitos já educados fora. Muitos que fizemos na Rio Doce. Como os Estados Unidos fizeram, não há nenhuma inovação nisso. Minha esperança toda é nessa geração nova, que já é mais entrepreneurial [empreendedora]. O básico é construir o básico. Comecar a casa pela fundação e não pelo telhado. A preguiça bem paga não constrói nada.
A primeira coisa a se fazer é conhecer a função do tempo. Se eu gasto três anos para tirar licença ambiental para uma hidrelétrica, eu estou na Idade Média
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opinião
E
m recente encontro realizado na Sloan School of Business, a escola de administração de empresas do MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos, debateu-se o aparente sucesso das empresas e dos países latino-americanos em meio à “Grande Recessão” que abalou os mercados dos países mais desenvolvidos nos últimos dois anos. Grandes estrelas do mundo acadêmico norte-americano, como Richard Locke, diretor do Laboratório de Empreendedorismo do MIT, ou mesmo Nicholas Negroponte, o legendário fundador do MediaLab e da revista Wired, mostraram-se impressionados com a resiliência e a criatividade dos latino-americanos e, particularmente, das empresas brasileiras. Isso levou o MIT a questionar: será que existe um modelo de negócios específico que funciona melhor que os demais para as empresas que operam no mercado brasileiro? Para o MIT, as empresas são muito diferentes na América Latina, e também no Brasil. O estudo da evolução dessas empresas ao longo dos últimos 15 anos mostra que, em graus e aplicações diferentes, podem se identificar três características que ajudam a mapear o DNA do sucesso dessas corporações. A primeira é o que poderíamos chamar de “autodestruição criativa”. São empresas que entenderam a dinâmica radical de surgimento e transformação de tecnologias e a forma como isso afeta seu negócio. A Alpargatas deixou de ser uma empresa de calçados para se tornar uma empresa de design e branding; a Petrobras está deixando de ser uma empresa de petróleo para se tornar um empresa de energia; a Vale não é mais uma gigante da mineração, mas da logística, e assim por diante. São empresas que também destruíram sua histórica dependência de mercados protegidos para operar em escala global. Abandonaram noções retrógradas como “clientelismo”, “cartorialismo”, capitalismo paroquial ou fisiológico e se
MARCOS TROYJO é CEO da Wisekey no Brasil. O artigo resume palestra realizada pelo autor no MIT (Massachusetts Institute of Technology), Cambridge, EUA
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converteram em verdadeiras usinas de inovação. Outro traço distintivo dessas campeãs brasileiras é o seu conservadorismo financeiro. Em meio à sedução de derivativos, IPOs intempestivos, jogadas em mercados futuros, são corporações que valorizaram o bom e velho balanço patrimonial. Concentraram esforços financeiramente responsáveis, prudentes e tímidos no financiamento externo. A última característica dessas empresas é que, sem abandonar o presente, já estão com olhos voltados para o futuro, movidas por três condutores: internacionalização, capital humano e planejamento de longo prazo. Elas escolheram o caminho da internacionalização, seja por meio do modelo “empresa-comerciante” (turbinando exportações e importações) ou do modelo “empresa-rede” (espraiando a rede de produção e distribuição por todo o mundo). Esse fenômeno está aumentando o número de multinacionais brasileiras. Vale ressaltar que há 400 milhões de pessoas em toda a América Latina e apenas 20 empresas multinacionais. Na Suécia, existem 8 milhões de habitantes e 180 empresas multinacionais. Outra questão para o sucesso do modelo de negócios é o papel a ser desempenhado pelo Estado. O governo é parte da solução e parte do problema. Temos de passar do investment grade para o business grade. O processo de abertura ou fechamento de empresa no Brasil leva, em seu conjunto, mais de 180 dias. Os mesmos procedimentos, em Cingapura, são realizados em 72 horas. Cabe ao governo também liderar a negociação de acordos comerciais que permitam acesso privilegiado aos mercados com grande potencial de compra. Ao contrário do que se pode pensar, o cenário atual pós-recessivo na Europa e nos EUA oferece mais do que menos oportunidades para fazer avançar as negociações comerciais. Europa e EUA estão menos arrogantes – e mais abertos a acordos de liberalização comercial. Ainda que esses apontamentos possam direcionar o caminho para os modelos de negócios mais exitosos no Brasil, a velha máxima ainda é válida: a gestão de uma empresa será sempre menos uma ciência – e mais uma forma de arte.
Ilustração: Samuel Casal
O business grade
NEGÓCIOS Aviação
O desembarque
NEGÓCIO COM A TAM É UMA DECLARAÇÃO DE VITÓRIA ÀS ASPIRAÇÕES INTERNACIONAIS DA COMPANHIA CHILENA LAN, EM UM MERCADO EM QUE POUCOS PLAYERS SOBREVIVERÃO VICTOR HERRERO E JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO, E GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
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Fotos: Divulgação
HERDEIROS DA TAM E DA LAN: FORMAÇÃO DE UM NEGÓCIO COM RECEITA ANUAL DE R$ 8,3 BILHÕES
á três coisas que a família Cueto, sócia controladora da companhia área LAN, aprendeu a fazer muito bem ao longo de mais de uma década de expansão na América do Sul: entrar em mercados aéreos estrangeiros, apesar de restrições à propriedade e egos políticos locais; garantir rapidamente o negócio de carga, que lhe dá respaldo político para se proteger de ameaças de concorrência desleal; e esperar pacientemente as oportunidades de aumentar sua participação em cada mercado. Os Cueto afinaram essas estratégias de expansão ao longo dos anos e têm colhido ótimos resultados. Hoje, garantiram a liderança ou a vice-liderança em negócio aéreo do Chile, do Peru, do Equador e da Argentina, além de serem líderes no transporte de carga em toda a América Latina. E, com algumas modificações, estão replicando sua estratégia no que até agora é sua maior tacada: a fusão com a companhia aérea TAM, anunciada no dia 13 de agosto, criando um gigante do setor, a Latam, com faturamento próximo dos US$ 8,3 bilhões anuais. Com isso, o clã dos Cueto está se associando ao maior operador do Brasil, que controla quase 40% do mercado do país. Ainda que, até o fechamento desta edição, os aspectos societários do negócio não tivessem sido explicitados, parte do mercado considerou a “união” como uma compra camuflada por parte da LAN, o que foi insistentemente negado por ambas as partes. “Quem manda na
H
TAM é a família Amaro, e o acordo prevê poder de veto em decisões pontuais da empresa brasileira”, declarou Ignacio Cueto, gerente-geral da LAN Airlines, a um jornal da capital chilena. O certo é que, em nível gerencial, a chegada da LAN parece bem-vinda. Desde a morte de seu fundador – o comandante Rolim Amaro –, em 2001, a TAM tem acompanhado a entrada e a saída de vários CEOs. Fechou o semestre com perdas de US$ 117,7 milhões, segundo estudo da Economática, mesmo registrando 14,4% de aumento nas vendas. Sabe-se que a família está interessada em manter a marca e sua presença na empresa, mas não deverá ficar muito envolvida nas operações diárias. “Eles estão dispostos a ceder a administração, mas não a companhia. Querem ganhar eficiência e dinheiro”, diz um executivo do setor na América do Sul, que não quis ser identificado. Assim, essencialmente, a LAN colocará sua experiência de gestão eficiente, enquanto a TAM aportará sua polpuda fatia no segmento de passageiros no Brasil, o maior da América Latina, e várias rotas internacionais que a empresa chilena não possui, como Inglaterra e futuros destinos na África. Ou seja, uma troca de co-
67% será o capital da LAN na nova empresa, a Latam
SERVIÇO DE CARGA DA LAN: DOMÍNIO DE 37% DO MERCADO LATINO-AMERICANO
nhecimento de gestão por participação de mercado. É uma situação que cabe como luva nos anseios dos Cueto. Depois de concluído o negócio, a LAN terá 67% do capital total da Latam, empresa controladora que será criada a partir da união de ambas companhias. Já os acionistas da TAM terão 29,33% do capital da nova empresa. Entretanto, dá-se por garantido que serão os Cueto que administrarão grande parte do negócio, especialmente o de carga da TAM. O CEO da Latam será Enrique Cueto, vice-presidente executivo da LAN; já Mauricio Rolim Amaro ficará com a presidência do Conselho de Administração. Ambas as empresas continuarão operando suas marcas em seus respectivos mercados, semelhante ao modelo de fusão da Air France com a holandesa KLM. Se isso altera os ânimos dos brasileiros, o mesmo não passa aos Cueto. Eles já comprovam experiência nessa rota. Através da Absa, por exemplo, filial brasileira da LAN Cargo, a companhia com sede em Santiago já administra quase 50% do mercado brasileiro de carga. Como? Associando-se a operadores brasileiros, que, basicamente, colocam o nome de sua empresa à disposição, cedendo a administração dos negócios aos chilenos. “É perfeitamente legal”, explica um especialista do setor. Setembro, 2010 AméricaEconomia 39
MODUS OPERANDI Até agora, a estratégia da LAN para entrar em mercados aéreos estrangeiros trouxe bons dividendos – não sem antes passar por um duro aprendizado, que inclui greves, arroubos nacionalistas e ameaça de fechamento de operações. Como praticamente nenhum país da região tem política de céus abertos, até agora a estratégia da LAN tem sido a de adquirir uma companhia aérea local com problemas, obter o máximo de propriedade permitido pela lei e buscar sócios de baixo perfil e minimamente confiáveis para deter o resto da propriedade, que, por sua vez, delegam o controle e a gestão da companhia à LAN. Por exemplo, os dois sócios da LAN na Argentina, que totalizam junto com a chilena 51% da companhia (o nível máximo de propriedade para um estrangeiro nesse país é de 49%, que a LAN já possui), são ricos advogados que confiam a gestão da empresas aos executivos de Santiago. E, caso haja uma eventual mudança na lei, o operador chileno já está posicionado no primeiro lugar da fi la para abocanhar porcentagens adicionais. Foi com esse mesmo modus operandi que a LAN ergueu as fi liais LAN Peru e LAN Equador. Para isso, a empresa chilena não tem pressa: demorou dez anos para entrar na Argentina, o que ocorreu em 2005. Agora, no Brasil, também deverá saber esperar até a aprovação da lei que aumenta de 20% para 49% a participação de estrangeiras no capital votante de empresas locais. “Essa decisão deverá ser votada até meados do ano que vem”, estima Rosangela Ribeiro, analista do setor de aviação da SLW corretora. No Brasil, a mudança tem sido vista como positiva por muitos analistas. “Inclusive, se já tivesse acontecido, a reestruturação da Varig teria sido muito mais rápida”, diz Vincent Baron, diretor da consultoria Naxentia, especializada em reestruturações. Enquanto isso não acontece, a LAN navegará testando os limites da lei. Em seu país de origem, a companhia enfrentou várias vezes os reguladores por 40 AméricaEconomia Setembro, 2010
82% é a participação da LAN no mercado doméstico do Peru; na Argentina, é de 30%; e, no Equador, a chilena domina 16% do mercado local e 39% do internacional
conta do poder quase monopólico que tem sobre o tráfego aéreo no Chile. Para evitar problemas, aprendeu a gerir sua participação de mercado, permitindo que seus competidores cresçam, até um certo limite. “Necessitamos de rivais para que não nos acusem de monopólio; mas, se eles chegam a uma fatia de 20% do mercado, nós os apertamos com ofertas até que eles baixem esse nível”, diz um ex-alto executivo da LAN, que pediu para não ter o nome revelado. No Peru, depois de anos de litígio com rivais que acusavam a LAN de concorrência desleal, fortes brigas com um sócio minoritário, greves e ameaças de boicote, a companhia conseguiu se impor. Hoje, controla 82% do mercado doméstico e 47% do mercado internacional nesse país, segundo números da LAN. Na Argentina, já tem 30% do mercado local e 17% do internacional. No Equador, 16% do local e 39% do internacional.
Foto: Divulgação
NEGÓCIOS Aviação
OBJETIVO DE PESO Analistas também apontam que um setor do qual a LAN não descuidará é o de carga. A LAN Cargo domina 37% do transporte aéreo de carga da América Latina, segundo relatório do banco chileno LarrainVial dirigido a investidores. Seus dois grandes hubs estão nos aeroportos de Miami e de São Paulo. Além disso, por meio da fi lial brasileira da LAN Cargo, a companhia já tem um pé fincado nesse mercado. Com a fusão, a LAN deverá dispor de uma fatia ainda mais gorda no maior mercado da América Latina, já que poderá utilizar os espaços disponíveis nos compartimentos de carga dos aviões da TAM para transportar mais materiais. Essa mistura de negócio entre passageiros e carga tem sido o diferencial da LAN em todas as suas operações. “Provavelmente, veremos que os aviões de passageiros da TAM serão utilizados
de forma mais eficiente, otimizando o transporte de carga quando houver espaço disponível. Isso significará uma maior ocupação em nível agregado”, diz Felipe Mercado, analista da Banchile Inversiones. Ao utilizar os aviões da TAM, a LAN poderá consolidar e expandir suas operações de carga no Brasil no momento em que o comércio do país cresce como poucas vezes visto nas últimas décadas. “Sem dúvida, agregar essas eficiências à operação significará um forte aumento da carga em peso relativo dentro do balanço”, diz José Manuel Rebolledo, ex-presidente da chilena Sky Airlines.
Fusão entre as duas companhias poderá estimular novos movimentos de consolidação no mercado brasileiro, reforçando a importância desse negócio Em 2009, 25% da receita da TAM esteve relacionada ao segmento de cargas. Neste ano, espera-se que esse percentual suba para quase 40%, recuperando o nível anterior à crise, que afetou fortemente o envio de mercadorias na América Latina.
NEM SÓ FLORES
VOO DA TAM: COMPANHIA BRASILEIRA AGREGARÁ NOVAS ROTAS À LAN
Santo Jr., presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo (Cepta). Para muitos, a necessidade estratégica de entrar no maior mercado da América Latina supera qualquer um desses riscos. Ou seja, o único risco é ficar fora do Brasil. Por isso, a família Cueto está disposta a pagar um bônus pela fusão. A transação se efetuaria em ações de ambas as empresas, com a LAN pagando 0,9 de ação por uma da TAM. Esse acordo significa que a LAN é 10% mais valiosa que a TAM. De fato, as ações da LAN na Bolsa de Nova York foram cotadas, nos últimos meses, 30%
Ainda que com vantagens notórias, analistas acham que, com a fusão, a LAN estaria correndo risco de perder seu perfil de desempenho operacional sólido e segurança, já que é uma empresa muito mais bem dirigida do que a TAM. Desde 1993, só registra lucro, sendo uma das poucas companhias aéreas no mundo com esse histórico. Em 2009, sua margem operacional foi de 13,6%, enquanto a margem de lucro alcançou 7,6%. Já na TAM, esses índices foram, respectivamente, de 3,42% e queda de 3,54%. “É verdade que existe a possibilidade de que rebaixem a classificação da LAN, mas eu não agiria dessa forma. Ela é a maior empresa no Peru e no Equador, a segunda da Argentina e já demonstrou uma competência que ninguém pode negar”, diz Respicio Antonio do Espírito
acima das da TAM, significando que a chilena estaria pagando um grande prêmio pela compra. Os analistas concordam que é um preço que a chilena está disposta a pagar para entrar no mercado brasileiro. “Sacrificam no curto prazo para recuperar no longo”, diz um executivo do setor. “Está claro que a América do Sul verá o desaparecimento de companhias aéreas nos próximos anos, o que reforça a importância dessa união”, diz Respício, dando alguns sinais de outras possíveis consolidações. “Não me surpreenderia se houvesse uma união entre Azul e TRIP”, afirma, em virtude da similaridade das frotas, o que também poderia ser um bom motivo para uma aproximação entre a GOL e a panamenha Copa, segundo o especialista. “A indústria aérea tem de ser transformada de um setor baseado na nacionalidade da companhia em uma com várias transnacionais”, disse Enrique Cueto em um discurso no Clube Aéreo Internacional, em Washington, em junho de 2000. Uma década depois, é o próprio Cueto quem está atuante para transformar a profecia em realidade. Setembro, 2010 AméricaEconomia 41
movimentos
decolagem
Preparar para a
1
O megacontrato de 1,9 bilhão de euros fechado com as Forças Armadas brasileiras, no ano passado, que prevê a entrega de 50 aeronaves EC-725, foi o estopim para a retomada do crescimento da fabricante de helicópteros Helibras. Até meados de agosto, a empresa já havia comercializado 26 unidades, contra 15 em todo o ano de 2009 (excetuando a compra militar). A meta, segundo o presidente da companhia, Eduardo Marson Ferreira (foto), é fechar 2010 com um aumento de 50% nas vendas, em comparação com o ano passado. Para isso, Ferreira está de olho no mercado chamado “para público” (no qual estão a polícia e os bombeiros, por exemplo), que pode se abrir com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “Os estados estão se aparelhando. Já ganhamos algumas licitações; achamos que nosso diferencial está no tempo de resposta mais rápido que o de companhias estrangeiras e nos preços mais competitivos”, afirma. O ramo civil, de aeronaves executivas, também está nos planos da Helibras, já que foi o que “mais se recuperou depois da turbulência”, diz Ferreira, escolhido como a Personalidade do Ano no XII Prêmio Aero Magazine. Realizado pela revista de aviação Aero Magazine, o prêmio foi entregue no dia 12 de agosto, em São Paulo. Entre as companhias homenageadas da noite também estiveram a GOL (melhor companhia aérea brasileira); a British Airways (melhor companhia aérea estrangeira); a FedEX (melhor cargueira); a Embraer (melhor indústria aeronáutica); e a Azul, como destaque do ano. GRAZIELE
DAL-BÓ, DE SÃO PAULO 42 AméricaEconomia Setembro, 2010
2
MAIS POR MENOS A BM&FBovespa fechou o primeiro semestre do ano como o décimo maior mercado de IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) do mundo e o nono em captações. Apesar da boa posição, a Bolsa brasileira apresenta uma característica negativa: a grande concentração dos recursos captados em poucas empresas (veja gráfico). Por isso, a instituição quer voltar a promover o Bovespa Mais, criado em 2005, mas que até hoje só registrou uma captação de R$ 20 milhões, da empresa Nutriplant, em 2008. “O Bovespa Mais é voltado para captações de até R$ 300 milhões, e atrai investidores que acompanham a construção de valor da empresa no longo prazo”, disse Cristiana Pereira, da diretoria de Relações com Empresas da BM&FBovespa, em evento na capital paulista. Cristiana lembra que os custos da operação da Nutriplant “não superaram 7,1% do total captado” e destaca a importância desse segmento em outros mercados. “O AIM Market, da Bolsa de Londres, tinha 1.235 empresas listadas em junho, com uma movimentação diária de US$ 174 milhões, e o GEM, da Bolsa de Hong Kong, conta com 174 empresas e volume médio diário de US 84 milhões”, exemplifica. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
O uso do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) nas exportações do Brasil para a Argentina atingiu o volume recorde de R$ 158 milhões em junho, de acordo com dados do Banco Central. No mês seguinte, embora o volume tenha recuado para R$ 81,8 milhões, houve 267 operações pelo SML nas vendas do Brasil para o país vizinho, o maior número já registrado. Para a ex-diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Maria Celina Arraes, que participou da implementação do sistema, a evolução dos números mostra que o SML vem atingindo os objetivos. “É um sistema destinado, em essência, aos pequenos exportadores, com um tíquete médio menor.” Nas importações, no entanto, a adesão continua bem reduzida: em julho, houve apenas quatro operações, que totalizaram pouco mais de R$ 300 mil. LUÍS EDUARDO LEAL, DE SÃO PAULO
Muito volume... Recursos captados com IPOs no primeiro semestre de 2010*
22.632
8.940
7.411
7.086
7.027
6.701
6.487
4.032
3.876
3.801
3.337
3.125
2.732
Fonte: BM&FBovespa
Bursa Malasya
Nasdaq OMX Nordic
Tokyo SE
Nasdaq OMX
National SE India
BM&FBovespa
Warsaw SE
Australian SE
Hong Kong
Nyse Euronext (US)
London SE
0
Shanghai SE
5.000
Shenzen SE
15.000 10.000
BME Spanish
20.000
Korea Exchange
25.000
1.262
685
* em US$ milhões
... mas poucas empresas
164
40
38
38
36
34
32
30
27
12
11
8
BME Spanish
Tokyo SE
BM&FBovespa
Nasdaq OMX Nordic
Shanghai SE
Bursa Malasya
Hong Kong Exchanges
National SE India
Australian SE
0
London SE
50
Warsaw SE
100
Nasdaq OMX
150
Korea Exchange
Nyse Euronext (US)
200
Shenzen SE
Fotos: 1 - Marcelo Galli; 2 - Shutterstock
Número de empresas listadas por meio de IPO
6
6
3
Fonte: BM&FBovespa
Setembro, 2010 AméricaEconomia 43
movimentos
Patentes em alta As multinacionais latino-americanas estão investindo mais na geração de conhecimento. Essa é a conclusão, quando se compara os registros de patentes em nível doméstico e internacional de 11 grandes empresas da região. Segundo informações da base de dados de patentes Creax, da Bélgica, empresas como as brasileiras Embraer e Vale, a mexicana Cemex e o grupo argentino Tenaris-Techint praticamente duplicaram seus registros de patentes industriais. Já a petrolífera estatal PDVSA, da Venezuela, fez o caminho contrário e reduziu pela metade o ritmo de registro de suas criações. CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO
3
As mais inovadoras Empresa
Área de P&D
1970-1990
PDVSA (VEN)
Petroquímica
Vale (BRA)
Mineração
Tenaris (ARG)
Tubos industriais
CSN (BRA)
Siderurgia
Natura (BRA) Cemex (MEX) Grupo Alfa (MEX)
Alumínio e alimentos
Tubos Tigre (BRA)
Tubos e sistemas de água
Embraer (BRA)
Aeronáutica
Codelco (CHI)
Biotecnologia, biomineração
Bimbo (MEX)
Alimentos industriais
1991-2000
2001-2010
Total
490
894
467
1.851
94
229
305
628
87
36
435
558
180
149
–
329
Cosméticos
–
15
235
250
Cimento e indústria
5
21
124
150
13
23
105
141
33
48
52
133
3
–
101
104
1
–
93
94
–
6
86
92
906
1.421
2.003
4.330
Total Fonte: Creax
4
Mesmo não sendo um popstar, o norte-americano Michael Johnson lota estádios. Ele é CEO da Herbalife, companhia de produtos de nutrição e controle de peso que recruta vendedores e os organiza em pirâmides de incentivos, formando uma das maiores redes de venda direta do planeta. Recentemente, ele reuniu 10 mil pessoas em Lima, em um evento transmitido ao vivo pela internet e que tinha o objetivo de recrutar novos vendedores na América Latina. “Buscamos mais distribuidores por causa do potencial de consumo diário de nossos produtos”, afirma Johnson. O maior mercado da Herbalife na região – e o segundo em nível mundial – é o do México, seguido do Brasil. “Em terceiro, para nossa surpresa, vem a Venezuela, apesar da difícil situação do país”, diz. A empresa conta com 60 mil distribuidores na América Latina e faturamento anual de US$ 336 milhões. NATALIA VERA, DE LIMA
44 AméricaEconomia Setembro, 2010
Fotos: 3 e 4- Shutterstock; 5 - Divulgação
ADITIVOS NATURAIS
FOCO EMERGENTE A alemã Henkel – conhecida pela cola Superbonder e por adesivos industriais – quer acelerar seus planos de expansão na América Latina. “Destinaremos mais de 10 bilhões de euros [entre 2009 e 2010] à consolidação de plantas no Brasil, na Argentina, na Colômbia, no México e no Chile”, diz Julio Muñoz Kampf, presidente da Henkel no Mercosul. No Brasil, o foco está no desenvolvimento de projetos para o setor automobilístico. “Em três anos, a participação da América Latina no faturamento da empresa saiu de 4% para 6%”, diz. Aquisições no radar? “Sempre buscamos oportunidades, mas, hoje, na região, não temos planos de compra”, afirma Muñoz. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
5
ment i t s e o v
In
bal glo
João Luiz de Medeiros, diretor de Private Banking Internacional do Itaú, aguardava com expectativa a chegada da primeira quinzena de setembro. Esse era o período previsto para a chegada dos primeiros clientes ao Banco Itaú Suisse, em Zurique, depois do término dos processos de incorporação. “Nosso foco é atender clientes latino-americanos que tenham 2 milhões de francos suíços em conta”, afirmou. Segundo o executivo, a escolha do país deveu-se “à forte tradição em gestão de recursos”, destacando que espera que a nova operação gere uma carteira de 2 bilhões de francos suíços no curto prazo. O Private Banking Internacional do Itaú conta com 9,2 mil clientes, todos latino-americanos, sendo 4,5 mil brasileiros, e fechou 2009 com US$ 11 bilhões de ativos sob gestão. SOLANGE MONTEIRO,
DE SÃO PAULO
DEBATES Bolívia
As chaves da
Evonomia RESPONSABILIDADE FISCAL, RESERVAS CAMBIAIS RECORDES E CRESCIMENTO EM MEIO À CRISE MUNDIAL. A BOLÍVIA DE MORALES SURPREENDE ANALISTAS DE TODO O MUNDO JEAN FRIEDMAN-RUDOVSKY, DE LA PAZ
o final de 2009, o ano de maior retração econômica mundial em décadas, o país mais pobre da América do Sul, governado por um presidente de retórica esquerdista, recebia elogios do Fundo Monetário Internacional (FMI). No ano passado, a economia boliviana cresceu 3,4%, a mais alta taxa de todo o continente americano. Em 2008, havia registrado um forte desempenho, de 6,1%. Eis que a Bolívia se transformou no aluno mais aplicado do bloco de países que compõem a Alba (Alternativa Bolivariana para a América Latina), liderada pela Venezuela de Hugo Chávez. O país, que luta para deixar a condição de mais pobre da América do Sul – alguns estudiosos indicam que já teria superado o Paraguai em renda per capita –, teve um surpreendente desempenho econômico, que resultou de uma combinação de sorte, engenhosidade administrativa e uma sólida gestão fiscal, apesar dos estímulos concedidos ao consumo e à produção. Quando a economia mundial começou a cambalear, em 2008, a Bolívia poderia ter entrado em colapso. Os baixos preços das matérias-primas eram uma péssima notícia para um país que obtém com elas 80% de seus recursos. Além disso, sua segunda maior fonte de arrecadação são as remessas recebidas do exterior, que sempre caem quando há recessão nos países desenvolvidos. Um em cada quatro bolivianos vive fora do país, o que significou US$ 1,023 bilhão em remessas para suas famílias, em 2009 – o equivalente a 5,8% do PIB, a proporção mais alta da América do Sul.
1
48 AméricaEconomia AméricaEconomia Setembro, Setembro, 2010 2010 48
Fotos: 1 - AFP com montagem de Denis S. Cardoso; 2 - Aizar Raldes/AFP
A
COMÉRCIO EM LA PAZ: GOVERNO INVESTE NO AUMENTO DO CONSUMO
A instabilidade política nas planícies orientais – região controlada pela oposição – continua a afetar um presidente que é popular no resto do país. Há dúvidas quanto à possibilidade de manutenção do fluxo de investimentos estrangeiros, em razão da instabilidade política. Adicionalmente às incertezas, os Estados Unidos revogaram as preferências comerciais para a Bolívia. Apesar disso, a economia do país tem crescido sistematicamente desde que Evo Morales chegou à presidência, em 2006. A média anual de crescimento em seu governo é de 5,2%, a 2 taxa mais alta dos últimos 30 anos. Grande parte dela se deve aos preços das commodities, mas a Bolívia também soube aproveitar melhor a bonança que outros países da região. Parte disso por causa da nacionalização da indústria de hidrocarbonetos, em 2006, uma polêmica medida que obrigou as companhias petrolíferas que operavam no país a renegociar os royalties que pagavam ao governo, aumentando a participação do Estado no setor de 20% para 80%. “Antes, o dinheiro ia embora”, diz Luis Arce Catacora, ministro de Economia e Finanças da Bolívia. Isso explica a maior parte do aumento de receitas fiscais nos últimos anos, que, hoje, representam 20% do PIB, comparadas à média de 18,7% do governo norte-americano nos últimos 40 anos. E o governo boliviano dedicou-se a poupar grande parte desses recursos. Em 2008, as reservas internacionais equivaliam a 41% do PIB e, hoje, chegam a US$ 8,4 bilhões, aproximando-se de 47% do produto nacional. “Hoje, em termos relativos ao PIB, a Bolívia tem reservas comparáveis às da China”, afirma Gabriel Torres, analista da agência classificadora de risco Moody’s. Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economy and Policy Research, um think tank com sede em Washington, considera que a Bolívia tomou a melhor decisão: “O governo já havia implementado um oportuno programa de obras públicas quando estourou a crise. Manteve-o e acrescentou recursos para estimular a economia”. Em 2008, injetou-se o equivalente a 6% do PIB em desenvolvimento da infraes-
trutura, em obras públicas e incentivos ao consumo. No ano passado, os gastos subiram para 10,1% do PIB. Depois veio outra diretriz macroeconômica que deu resultados. O governo tomou a decisão impopular de manter um sistema de banda cambial. O governo trabalhou para criar confiança na moeda local (o boliviano) e a regulamentou de forma a convencer os agentes econômicos a desdolarizar parcialmente as transações. A inflação aumentou pontualmente em março de 2008, mas o governo resistiu às pressões para reduzir o ritmo de crescimento, apostando que se tratava de um choque externo causado, principalmente, pela alta dos preços da energia – e ganhou a aposta. Hoje, a inflação está em 0,8%, e a dívida pública baixou de 84% do PIB, em 2003, para 37%, em 2010.
6%
é o crescimento anual da demanda interna, frente aos 3% antes de Evo
INFORMALIDADE PERSISTE Ainda que não seja fácil obter cifras, é preciso levar em conta também o setor informal da economia. Estima-se que ao menos US$ 800 milhões dos US$ 5 bilhões que a Bolívia importa anualmente sejam bens contrabandeados. E a isso se soma o narcotráfico. A produção de coca foi, por décadas, uma constante na economia boliviana, e o governo de Morales reconhece que se trata de uma batalha contínua. A Bolívia é o terceiro produtor de coca do mundo e os hectares destinados ao cultivo da folha aumentaram desde que Evo Morales assumiu a presidência. Entretanto, a alta – que, Setembro, 2010 AméricaEconomia 49
DEBATES Bolívia
EXTRAÇÃO DE LÍTIO NO SALAR DE UYUNI E PRODUÇÃO DE COCA: DUAS FACES DA ECONOMIA 3
resultados foram um aumento de 17% na superfície plantada por pequenos e médios agricultores e maior estabilidade de preços do açúcar, do arroz e de outros produtos da cesta básica.
O NOVO OURO
neste ano, foi de 1% – é mínima, se comparada a de Peru e Colômbia, os maiores produtores de coca do mundo. Um estudo da ONU afi rma que a política de controle praticada por Evo Morales está mostrando resultados, levando a uma diversificação dos cultivos. Mesmo os maiores opositores de Evo Morales reconhecem seus acertos. “Considero que a economia boliviana passa por seu melhor momento desde a crise do ano 2000”, diz Javier Herrera, deputado por Santa Cruz de la Sierra, do partido Convergência Nacional. “O verdadeiro motivo de nosso crescimento não é o boom das matérias-primas”, afi rma Arce, ministro da Economia. A demanda interna está crescendo ao sólido ritmo de 6% ao ano, acima dos 2% ou 3% que ocorriam antes de Evo Morales assumir a presidência. O governo também estimulou o setor produtivo. Em 2007, criou o Banco de Desenvolvimento Produtivo, que, no ano passado, ofereceu pequenos empréstimos, de US$ 10 mil, em média, para cerca de 15 mil pequenos produtores. Também há a Empresa de Apoio à Produção de Alimentos (Emapa), que oferece créditos sem juros e compra mercadorias diretamente dos pequenos e médios produtores, que são logo revendidas ao restante da população. Os
O futuro dourado da Bolívia talvez tenha cor prateada. O impressionante Salar de Uyuni é a maior extensão de sal do mundo e contém metade das reservas conhecidas de lítio, o principal componente das bate4 rias para veículos elétricos. Trata-se de um mercado que, nos próximos dez anos, deve ter um crescimento exponencial – e que pode vir a ter um peso ainda maior do que o do gás natural na economia boliviana. “Temos grandes esperanças com o lítio, porque pertence ao povo boliviano”, diz Marcelo Castro, chefe de operações da planta-piloto localizada às margens do salar. Segundo a nova Constituição do país, a exploração de lítio não pode ser vendida a empresas estrangeiras. A construção da planta está quase pronta e prevê que o carbonato de lítio – a matéria-prima das baterias – seja produzido a partir do próximo ano. “Mas já não queremos ser meros exportadores de matérias-primas. Vamos nos industrializar para assegurarmos plenamente a utilidade de nossos recursos naturais”, diz Castro. O governo planeja produzir os compostos químicos de maior valor agregado, usando o lítio metálico, e algum dia, inclusive, as baterias e os veículos – um sonho de longo prazo. As autoridades dizem que estão dispostas a trabalhar apenas com empresas estrangeiras que se aliem ao Estado. Alguns economistas temem que esta atitude possa espantar os investidores e que, ao cabo, as imensas reservas de lítio permaneçam pouco exploradas.
Em 2007, o governo criou o Banco de
Desenvolvimento Produtivo, que
50 AméricaEconomia Setembro, 2010
Fotos: 3 - Martin Bernetti; 4 - Aizar Raldes/AFP
ofereceu crédito a 15 mil pequenos produtores
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DEBATES Capital externo
ALVà prova POR MUITO TEMPO, O INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO ERA VISTO COMO UM ACELERADOR DO DESENVOLVIMENTO. ESTUDO DA CEPAL QUESTIONA ESSA TESE RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES, COM LUÍS EDUARDO LEAL, DE SÃO PAULO
simples. Se os países latinoamericanos não modificarem seu enfoque com relação ao investimento estrangeiro direto (IED), os ingressos futuros terão um efeito quase nulo sobre o desenvolvimento da região. E isso levando em conta que a América Latina atraiu cerca de US$ 77 bilhões em 2009 e mais de US$ 130 bilhões no ano anterior. No Brasil, após o resultado recorde de US$ 45 bilhões em 2008, os fluxos acumulados neste ano até o mês de junho estão na casa de US$ 18 bilhões, acima dos US$ 12 bilhões verificados no mesmo período de 2009, de acordo com dados do Banco Central. A questão, no Brasil, assim como em toda a América Latina, será a de combinar fluxo com a melhoria da qualidade do investimento, segundo estudo divulgado recentemente pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). 52 AméricaEconomia Setembro, 2010
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É
Grande parte dos investimentos que chegam à região é direcionada às matérias-primas, aos serviços destinados ao mercado interno e às indústrias de média ou baixa tecnologia. “Duas décadas após a liberalização do IED, a estrutura produtiva da América Latina e do Caribe segue caracterizada por pouca geração e limitada difusão do conhecimento”, diz a Cepal. “Diversos estudos mostram que não existe relação direta entre o IED, a produtividade e o crescimento das economias receptoras.” Para o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), são muitos os desafios a serem superados pelo próximo governo para que o Brasil melhore o perfi l do investimento externo. “Há fatores que colocam o Brasil em desvantagem, entre os quais o real, que está muito valorizado. Se nada for feito, a tendência é a de que o Brasil continue a receber mais investimentos em commodities ou voltados ao mercado interno”, diz Lacerda, que considera a atual trajetória de déficit na conta corrente “insustentável” no longo prazo.
EXEMPLO DE VALOR Na avaliação do economista, as intervenções pontuais do Banco Central para evitar uma excessiva valorização do Real são inócuas se não vierem acompanhadas de uma redução da taxa de juros. Além de mudanças na política monetária, será preciso melhorar a competitividade sistêmica do Brasil (estrutura tributária, burocrática e a infraestrutura) e definir políticas industrial e de ciência e tecnologia que estimulem o aumento do valor agregado das exportações. Se continuar do jeito que está, segundo Lacerda, o Brasil continuará atraindo capitais que apenas contribuirão para sua desindustrialização e para acentuar seu perfil de exportador de commodities. “Não acredito que o próximo governo vai escapar das mudanças.” O estudo da Cepal indica que há, na América Latina, quem consiga extrair
Participação do investimento estrangeiro direto no Brasil (por setor) Agricultura, pecuária e extração mineral
Indústria
Serviços
14,5 %
42,6 %
15,3 %
53 %
42,9 %
2009*
31,7 %
2010*
Fonte: Banco Central do Brasil
benefícios de uma política de atração de investimentos externos focada no conceito de valor agregado. A Costa Rica é um exemplo. Tendo recebido apenas US$ 1,32 bilhão em IED no ano passado, o país tem uma política de atração de investimentos para indústrias de alta tecnologia, para a produção de aparelhos médicos e para serviços exportáveis. Em 2009, obteve investimentos de empresas como Boston Scientific, Allergan, Hologic e Hospira, além da chegada da Merril Packaging. Dessa forma, ingressaram US$ 343 milhões no setor de manufaturas e US$ 893 milhões em serviços. Se esses números forem comparados aos de Chile e Colômbia, ficam claras as diferenças nas estratégias. Em valores absolutos, ambos os países tiveram mais investimentos diretos na indústria em 2009: US$ 458 milhões e US$ 536 milhões, respectivamente. Mas, ao se considerar também a categoria recursos naturais, o resultado é distinto: o Chile obteve US$ 1,04 bilhão, a Colômbia US$ 5,74 bilhões e a Costa Rica, apenas US$ 76 milhões. Não se trata apenas de a Costa Rica ter, em comparação com o Chile e a Colômbia, menos recursos naturais. Nem a Guatemala, nem Honduras ou Nicarágua receberam investimento comparável em manufaturas ou serviços. “Empresas transnacionais começaram a deslocar tarefas tecnológicas para países menos desenvolvidos, como Índia, China e Irlanda. Nossa região participa muito pouco, exceto o Brasil”, observa o economista Bernardo
* de janeiro a junho
Kosacoff, diretor do Centro de Empresa, Competitividade e Desenvolvimento (CECD). “Há uma forte presença de investimentos estrangeiros, determinante para o desenvolvimento econômico, mas estão concentrados na exploração do mercado doméstico ou nos recursos naturais”, acrescenta o economista. Nos últimos seis anos, toda a América Latina recebeu apenas 197 projetos de investimento estrangeiro direto em setores de pesquisa e desenvolvimento em alta tecnologia. Esses investimentos tiveram lugar em dez países, com destaque para Brasil (39%), México (28%), Argentina (11%), Chile (9%), Colômbia (6%) e Costa Rica (3%). Não por coincidência (à exceção do Uruguai), esses são os países com os melhores centros educativos e abundância relativa de pesquisadores na região.
IED no Brasil*
18.172
20
15
12.609
10
5
0
Jan/Jun 2009 Fonte: Banco Central do Brasil
Jan/Jun 2010 *em U$S bilhões
Setembro, 2010 AméricaEconomia 53
EM OUTUBRO, EDIÇÃO ESPECIAL
250
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opinião
A Argentina pós-crise improvável o final típico dos esquemas populistas. A estagflação não está no horizonte de médio prazo. Neste contexto de preços internacionais favoráveis, ainda que o próximo governo faça correções – que nunca são fáceis –, podemos seguir crescendo até 2020 a taxas chilenas de 6% ou 7% ao ano, como ocorreu nesta década, à exceção de 2009. Por outro lado, dada a restrição fiscal, o ideal seria dispor de um programa financeiro até o final de 2011. O gasto público, que cresce muito acima da inflação, explica a debilidade fiscal, agravada pela falta de crédito no exterior. O emprego público cresceu cerca de 1 milhão de postos desde 2003, a partir de uma base de 2,2 milhões. Já o emprego privado cresceu menos de 2% neste ano, com o PIB em alta de 7%. Em alguns setores, o sistema de preços está muito distorcido, especialmente nos serviços públicos, e a estrutura de subsídios contribui para uma imprudente expansão do gasto público. A maioria da indústria (17, de 22 setores) apresenta déficit comercial. A correção cambial será inadiável no próximo governo. O superávit comercial estimado para o período 2003-2011, contudo, é de US$ 120 bilhões. Não há, portanto, o fantasma da falta de dólares – o resultado agregado mostra números mais otimistas do que quando se avalia por setor. Neste inverno, ficou mais evidente a situação energética (petróleo e gás). Após oito anos de negação do problema, haverá custos importantes para fechar a brecha e atender ao consumo. Já o sistema bancário espera um novo marco legal, que não seja voluntarista nem contrário ao crédito. O sistema empresta o equivalente a 12% do PIB (a quarta parte do que concede um sistema moderno), e os depósitos estão se dolarizando lentamente. 2011 será de incertezas, pela volatilidade política, o que deve significar mais saída de capitais, inflação um pouco maior e crescimento do PIB da ordem de 5%. Também se pode esperar que 2010 deixe algum dinamismo para o ano seguinte. A redução da inflação e a melhoria da transparência das estatísticas são tarefas para a próxima administração. A tripla negação do governo Kirchner – com relação à crise energética, à magnitude da inflação e à dimensão da pobreza– destruiu o bem-estar nesses anos. Esperamos ter aprendido.
2011 será de incertezas no país, com a volatilidade política
Ilustração: Samuel Casal
A
economia internacional funciona em diferentes velocidades. Os Estados Unidos se reativaram de modo tênue, e a Europa parece não caminhar para uma recessão em formato de W (com nova queda antes da recuperação). A China segue como o segundo motor do capitalismo. Já a América Latina fecha a melhor década das últimas quatro, com o Brasil na liderança. A economia argentina insere-se neste mundo pós-crise com a sensação de que avançou em algumas frentes. Mas, em comparação com os países mais dinâmicos da região, perdemos oportunidades valiosas. O consumo – e não as exportações – tem sido a variável central do período Kirchner. O investimento segue em marcha lenta, embora seja equivalente a 20% do PIB. Há setores com pouca capacidade ociosa e sem projetos de investimento. A colheita de soja é crucial para se compreender o curto e o médio prazos. Por causa da soja, não há “brecha externa”, situação incomum na economia argentina desde a década de 1930. Por outro lado, há desconfiança diante da inflação, do risco-país e do pequeno nível de investimento externo direto. Onde estão as fortalezas? A dívida pública relativamente baixa, o superávit primário de 1% do PIB, o elevado nível de reservas, a diminuição da fuga de dólares, um tipo de câmbio estável e, é claro, a “soja” dão certa solidez ao modelo e tornam
EDUARDO FRACCHIA é engenheiro de produção e professor da Faculdade de Administração da Universidade Austral, na Argentina
Setembro, 2010 AméricaEconomia 55
DEBATES Brics
Quem serve à mesa
1
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A CHINA DÁ SINAIS DE QUE SE PREPARA PARA CRIAR UMA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS DE CLASSE MUNDIAL RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
56 AméricaEconomia Setembro, 2010
O
negócio foi considerado a maior IPO (oferta inicial pública, na sigla em inglês) da história. No dia 13 de agosto, o AgBank, Banco de Agricultura da China, arrecadou US$ 22,1 bilhões de investidores em Xangai e Hong Kong. Meses antes, no final de abril, a instituição tinha anunciado, depois de um acordo com o Ministério de Agricultura do país, que abriria uma linha de crédito de US$ 17,59 bilhões destinada a empresas
classificadas para participar na criação da “espinha dorsal” de projetos-pilotos de “industrialização agrícola”. A relação entre tais fatos será mera coincidência? Ao que parece, não. O alto comando chinês já declarou publicamente sua decisão de levar o país a uma nova fase de desenvolvimento econômico. No começo deste ano, um porta-voz de Pequim afirmou que a meta do governo era conseguir que a China produzisse
Fotos: 1 e 3 - Shutterstock; 2 - Rong Zhong/AFP
CHINESES GANHAM MAIS E “OCIDENTALIZAM” SUA ALIMENTAÇÃO
95% dos grãos de que necessita até 2020. Há fortes indícios de que o país pretende criar sua própria indústria alimentícia, verticalmente integrada, capaz de exportar. E, no caso de isso se concretizar, os países latino-americanos terão de reagir para não se limitar a exportar grãos ao gigante asiático e comprar seus alimentos processados.
DEMANDA VELOZ Recurso é o que não falta aos chineses para construir uma engrenagem agrícola e alimentícia intensiva em capital. “Hoje, eles não têm a cadeia agroalimentar completa, mas poderão consegui-la”, diz, em Buenos Aires, Carlos Schwartzer, economista especialista em comércio internacional. Por enquanto, porém, essa é apenas uma possibilidade, dentro de um cenário que não está isento de desafios. Há pouco tempo, em 2003, a nação asiática
3
exportou 15,2 milhões de toneladas de milho. Essa cifra caiu para 172 mil toneladas em 2009. Parte dos motivos se encontra nos efeitos de seu crescimento acelerado. Calcula-se que o país perdeu de 5% a 6% de sua superfície agrícola simplesmente por causa do crescimento de suas cidades, fator ao qual se soma a mudança da dieta de seus habitantes, que está se “ocidentalizando”. Isso significa mais consumo de carne vermelha, lácteos e farinhas processadas. “O que o governo chinês quer é importar produtos que demandam am-
plas extensões de terra e pouca mão de obra, como a soja, e produzir o restante, como frutas e vegetais, em casa”, diz o mexicano Luis Gómez Cobo, fundador e presidente do banco de investimentos SinoLatin Capital, em Xangai. Hoje, a China é o quarto produtor mundial de soja, o segundo produtor de milho e o maior produtor mundial de trigo. Ainda assim, estima-se que, neste ano, o país deverá importar 49 milhões de toneladas de soja para atender à demanda interna. “Somente para dar conta da demanda local de soja seria necessário cultivar 16 milhões de hectares, substituindo o cultivo em 13% das terras disponíveis na China, de onde hoje já saem produtos como cebola, alho, batata e algodão, pela soja”, diz Cobo. “E isso não acontecerá tão cedo.” Por isso, para Francisco Garcés, diretor do Centro de Economia Internacional do centro de estudos Libertad y De-
chinesas no exterior.” Segundo Teodoro, “as possibilidades de que a China se torne em um exportador de cereais nos próximos dez anos são praticamente nulas: o fluxo de importação de soja continuará crescendo”.
RISCO INDUSTRIAL
Tal estimativa soa como alívio para o Brasil e a Argentina, grandes exportadores de soja. Mas o que poderá acontecer com os produtores de alimentos processados? “É importante que eles tenham em mente que a China se esforçará para trabalhar a matéria-prima e gerar valor agregado em seu território, primeiramente para o consumo interno”, diz Miguel Santiago Campos, especialista da MSC Bionegócios. Ele afirma que o país se move rapidamente em busca de seu próprio interesse no longo prazo, enquanto as economias latino-americanas observam o atual cenário como uma fotografia, estático. O risco é o de que, no futuro, a América A CHINA É O MAIOR PRODUTOR MUNDIAL DE TRIGO. OUTROS GRÃOS, COMO A Latina se transforme em um SOJA, AINDA DEMANDAM IMPORTAÇÃO subssistema político-econômico inter-relacionado com o gigante asiático, muito mais dependente do que o aconselhável. Para evitar esse risco, Gabriel Gurovich, gerente geral da The FoodLinks – associação de exportadores de alimentos chilenos com operação na China –, diz que a resposta da América Latina deveria acontecer em três etapas. Primeiro, exportando produtos de alto valor agregado, adaptados ao gosto sarrollo, “o mercado da China é sufidos consumidores chineses. Depois, cientemente grande para a oferta de desenvolvendo negócios do setor alialimentos da América Latina”. O otimentício junto às empresas chinesas. mismo de Garcés se baseia na estima“Um empresário da indústria de vinhos, tiva de que a classe média chinesa se por exemplo, poderia associar-se a uma expandirá dos atuais 200 milhões de engarrafadora na China, reduzindo pessoas para 600 milhões até 2025. Ou custos associados à logística e ao proseja, literalmente, um Estados Unidos e cessamento”, exemplifica. Com isso, se meio a mais de consumo no mundo. chegaria à terceira etapa, produzindo Julio Humberto Prata Teodoro, esda China para exportar para o mundo. pecialista da BrasilAgro, em São Paulo, “Não resta dúvida de que o país é uma concorda. “Se eles querem ser autossumanufatura para o mundo, e, por isso, ficientes em grãos, certamente estão devemos estar lá”, conclui. contando com a produção de empresas Setembro, 2010 AméricaEconomia 57
SEGUNDA EDIÇÃO DO RANKING DOS MELHORES HOSPITAIS E CLÍNICAS DA AMÉRICA LATINA REFLETE O CRESCENTE INTERESSE DESSAS INSTITUIÇÕES EM COMPETIR GLOBALMENTE ANDRÉS ALMEIDA FARGA, AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE
58 AméricaEconomia Setembro, 2010
Foto: Latinstock
ESPECIAL Saúde
câncer linfático do presidente Fernando Lugo passou a ser uma questão de Estado no Paraguai. Assim que foi identificado, sua equipe não respeitou fronteiras e pesquisou entre os melhores centros médicos da região o lugar em que Lugo faria a quimioterapia, necessária na primeira etapa do tratamento. Graças ao conselho de seu colega, o presidente Lula, ele foi internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ainda que não exista uma resposta concreta sobre a evolução do quadro clínico de Lugo, essa decisão indica uma tendência crescente na saúde latinoamericana: a disposição dos doentes de viajar para serem atendidos no melhor hospital que cuide de sua doença e cuja conta caiba em seu bolso. Essa é uma das evidências mostradas neste segundo estudo sobre qualidade hospitalar na América Latina, realizado pelo Departamento de Pesquisa de nossa revista, o AméricaEconomía Intelligence, com o objetivo de analisar a oferta de
O
NOVO MERCADO Com várias certificações no currículo, um dinâmico intercâmbio com instituições dos Estados Unidos e de Israel e um departamento voltado à atenção ao paciente estrangeiro, o Albert Eins-
REDUZIR O RISCO
SABER CUIDAR Percentual médio de enfermeiras com grau universitário, de acordo com a posição no ranking FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE
36,7 30,8
29
30
31
32
7,95
Média geral
33,3 28
6,97
1º ao 15º lugar 16º ao 35º
Média geral 27
Taxa média de infecções gerais intra-hospitalares, segundo posição no ranking (*) número de infecções multiplicado por 100 e dividido pelo número de dias de internação FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE
1º ao 15º lugar 16º ao 35º
tein é o perfeito cartão de visitas para a cidade de São Paulo, que deseja reforçar sua posição como destino no segmento chamado “turismo médico” – que já movimenta US$ 60 bilhões no mundo todo e que, nos últimos três anos, atraiu 180 mil pacientes ao Brasil, em busca de tratamento. “Temos, no Brasil, preços adequados e capital humano qualificado”, avalia Carlos Suslik, coordenador do MBA em Gestão de Saúde do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). “Mas o câmbio, atualmente, está tornando esse negócio menos convidativo”, pondera. Para o especialista, o momento vivido pelo mercado brasileiro, de consolidações no setor de saúde (veja reportagem na pág. 68), bem como o de formação de redes de hospitais, também poderá impulsionar o desenvolvimento de novas instituições com qualidade e competitividade globais. “Elas ganharão musculatura e eficiência, para as quais a chegada de uma nova receita, como a do paciente estrangeiro, será positiva”, afirma.
saúde na região a partir de seus principais fornecedores: hospitais e clínicas, cuja qualidade pode convertê-los em referências internacionais. Nesta edição, o Hospital Albert Einstein, de São Paulo, volta a ocupar o primeiro lugar, com uma atrativa receita de gestão hospitalar amparada em quatro pilares: “eficiência, eficácia, segurança do paciente e atenção focada em fazer as coisas no tempo adequado”, segundo o próprio presidente do Einstein, Claudio Lottenberg (veja entrevista na pág. 64). Em segundo lugar está a Clínica Alemana, de Santiago, que também ocupou a segunda colocação em 2009. São dois hospitais privados de altíssimo nível e ótimo desempenho em todos os quesitos avaliados.
33
34
35
36
37
6,4
38
7,55 6,6
6,8
7
7,2
7,4
7,6
7,8
8
8,2 (*)
FATOR TAMANHO POLÍTICA DE CONTRATAÇÃO Número de enfermeiras por cada 10 leitos, segundo tipo de hospital FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE
Privados Públicos
7,4 3,9
FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE Com grau universitário Sem grau universitário
7,5
Média geral
7,0 5,0
6,96 7,92
Hospital pequeno 11,3
15,0
7,79
Média geral
15,6 10,0
Hospital grande Hospital médio
17,7 9,2
Universitários
0,0
Taxa média de infecções gerais intra-hospitalares (*) número de infecções multiplicado por 100 e dividido pelo número de dias de internação
6,4 20,0
25,0
30,0
7,55 6,6
6,8
7,0
7,2
7,4
7,6
7,8
8,0 (*)
Hospital grande = mais de 20 mil internações/ano; hospital médio = de 20 mil a 15 mil internações/ano; hospital pequeno = menos de 15 mil internações/ano
Setembro, 2010 AméricaEconomia 59
ESPECIAL Saúde MÉDICOS RK 2010 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 MÉDIA
HOSPITAL OU CLÍNICA
PAÍS
CIDADE
TIPO DE HOSPITAL
HOSPITAL ALBERT EINSTEIN CLÍNICA ALEMANA CLÍNICA LAS CONDES FUNDACIÓN SANTA FE DE BOGOTÁ HOSPITAL DAS CLÍNICAS (*) HOSPITAL CLÍNICA BÍBLICA FUNDACION VALLE DEL LILI HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS (**) SANATORIO AMERICANO HOSPITAL ALEMÁN (**) HOSPITAL BRITÁNICO DE MONTEVIDEO HOSPITAL CLÍNICO U. DE CHILE HOSPITAL ÁNGELES LAS LOMAS HOSPITAL ÁNGELES PEDREGAL HOSPITAL UNIVERSITARIO AUSTRAL HOSPITAL SÃO VICENTE DE PAULO HOSPITAL SAN VICENTE DE PAÚL MEDELLÍN POLICLÍNICA METROPOLITANA (**) HOSPITAL PABLO TOBÓN URIBE HOSPITAL UNIVERSITARIO SAN IGNACIO HOSPITAL GENERAL DE MEDELLIN HOSPITAL MÉDICA SUR CLÍNICA RICARDO PALMA HOSPITAL SÓTERO DEL RÍO HOSPITAL METROPOLITANO HOSPITAL BANDEIRANTES HOSPITAL DE LOS VALLES CLÍNICA ANGLOAMERICANA CLÍNICA LAS AMÉRICAS CLÍNICA LEÓN XIII HOSPITAL SAN RAFAEL DE ALAJUELA HOSPITAL SAN JUAN DE DIOS DE SAN JOSÉ HOSPITAL NOVE DE JULHO HOSPITAL DE CLÍNICAS CARACAS
BRA CHI CHI COL BRA CR COL BRA BRA URU ARG URU CHI MÉX MÉX ARG BRA COL VEN COL COL COL MÉX PER CHI EQU BRA EQU PER COL COL CR CR BRA VEN
SÃO PAULO SANTIAGO SANTIAGO BOGOTÁ SÃO PAULO SAN JOSÉ CALI SÃO PAULO SÃO PAULO MONTEVIDÉU BUENOS AIRES MONTEVIDÉU SANTIAGO CID. DO MÉXICO CID. DO MÉXICO BUENOS AIRES RIO DE JANEIRO MEDELLÍN CARACAS MEDELLÍN BOGOTÁ MEDELLÍN CID. DO MÉXICO LIMA SANTIAGO QUITO SÃO PAULO QUITO LIMA MEDELLÍN MEDELLÍN SAN JOSÉ SAN JOSÉ SÃO PAULO CARACAS
PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO UNIVERSITÁRIO PRIVADO UNIVERSITÁRIO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO UNIVERSITÁRIO PRIVADO PRIVADO UNIVERSITÁRIO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO UNIVERSITÁRIO PÚBLICO PRIVADO PRIVADO PÚBLICO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO PRIVADO UNIVERSITÁRIO PÚBLICO PÚBLICO PRIVADO PRIVADO
Nº ANO DE INTERNAFUNDAÇÃO ÇÕES EM 2009 1971 1905 1982 1972 1944 1929 1982 1897 1921 1944 1867 1857 1952 1999 1984 2000 1968 1913 1970 1970 1944 1949 1983 1975 1938 1985 1975 2006 1921 1993 1998 1883 1845 1955 1985 1950
39.110 23.269 21.410 13.446 86.000 7.197 16.426 17.046 14.524 8.662 12.288 8.621 23.380 11.538 (e) 17.500 8.440 4.816 21.546 11.431 11.348 20.829 17.270 15.752 15.569 44.870 10.677 13.789 3.596 4.420 12.842 24.808 16.223 32.834 13.789 15.762 18.315
Nº
804 692 700 357 1.400 174 358 69 2.755 340 514 324 568 623 1.225 583 59 300 270 276 266 193 241 523 556 34 108 36 135 40 454 155 278 4.000 400 566
Nº DE Nº DE EXAMES DE FT% MÉDICOS POR LABORATÓRIO POR CADA 100 (***) INTERNAÇÕES INTERNAÇÕES 43,3 67,9 58,1 68,6 61,3 92,5 89,9 4,3 5,1 95,6 100,0 23,1 37,1 16,1 2,0 41,7 94,9 83,3 69,3 65,9 76,3 45,1 62,7 27,2 21,4 82,4 29,6 100,0 88,9 55,0 100,0 87,7 85,3 0,1 17,0 57,1
2,06 2,97 3,27 2,66 1,63 2,42 2,18 0,40 18,97 3,93 4,18 3,76 2,43 2,28 7,00 6,91 1,23 1,39 2,36 2,43 1,28 1,12 1,53 3,36 1,24 0,32 0,78 1,00 3,05 0,31 1,83 0,96 0,85 29,01 2,54 3,5
54,41 31,90 50,98 60,70 58,89 44,46 21,14 24,78 7,27 9,14 22,62 37,38 28,83 5,24 41,83 46,67 75,51 42,28 8,60 102,17 34,28 25,25 8,41 22,95 47,71 33,47 4,08 13,95 14,05 37,38 11,19 53,34 154,24 3,63 58,51 37,06
N° ENFERMEIRAS COM GRAU UNIVERSITÁRIO
Nº LEITOS
851 416 373 212 600 101 290 248 200 76 62 116 241 54 34 123 64 130 116 147 183 2 90 158 438 73 20 73 101 16 882 127 341 210 174 210
513 317 262 203 2.272 110 433 273 292 148 160 140 607 204 238 115 114 644 136 300 293 423 177 156 731 123 239 101 68 213 600 267 707 258 174 343
(*) ESTIMADO A PARTIR DE DADOS PÚBLICOS DE 2010. (**) ESTIMADOS A PARTIR DE DADOS ENTREGUES EM 2009. (e) DADO ESTIMADO. (***) FT= FULL TIME
O RANKING CRESCE O interesse em participar deste estudo aumentou de 20 instituições, em 2009, para as atuais 35. Elas fazem parte de um seleto grupo de importantes centros médicos – na região há mais de 20 mil desse tipo – que, além de estarem na vanguarda da qualidade, são pioneiros na transparência de seus negócios, na hora de exibir seus resultados e atreverse a participar de uma comparação internacional como a nossa. A cada uma das instituições foi solicitada uma série de informações por meio de um questionário. Os dados foram revisados por nossa equipe de pesquisa e serviram de base para a ava60 AméricaEconomia Setembro, 2010
liação de seis grandes indicadores, que formam o índice de qualidade hospitalar: Segurança e Dignidade do Paciente, Capital Humano, Capacidade, Gestão do Conhecimento, Eficiência e Prestígio (veja metodologia na pág. 63). A análise não leva em conta o tipo de propriedade: participam de igual para igual hospitais públicos, privados, com ou sem fins lucrativos, e universitários. Além disso, para participar, o centro médico tinha de oferecer múltiplos serviços hospitalares em diversos campos da medicina, o que deixa de fora aqueles especializados em uma só área. Esses requerem uma metodologia de análise diferente.
Entre os destaques desta edição estão duas estreantes: a Clínica Las Condes, de Santiago, e a Fundación Santa Fe, de Bogotá, que ficaram, respectivamente, com a terceira e a quarta posições. O ingresso da clínica chilena põe pimenta local ao ranking, pois tanto Las Condes quanto a Alemana disputam palmo a palmo o segmento de mais alta renda dos santiaguinos, sendo ambas consideradas as melhores do país. Já o caso da colombiana Fundación Santa Fe reflete o trabalho dessa entidade, que é a primeira da Colômbia a obter a certificação Joint Commission – mecanismo de certificação norte-americano mais reconhecido em gestão hospitalar
Nº DE ENFERMEIOCUPAÇÃO HORAS DE RAS COM GRAU M2 DE LEITOS VISITA DIÁRIAS UNIVERSITÁRIO CONSTRUÍEM 2009 NA INTERNAÇÃO POR CADA DOS (%) GERAL 10 LEITOS 16,59 13,12 14,24 10,44 2,64 9,18 6,70 9,08 6,85 5,14 3,88 8,29 3,97 2,65 1,43 10,70 5,61 2,02 8,53 4,90 6,25 0,05 5,08 10,13 5,99 5,93 0,84 7,23 14,85 0,75 14,70 4,76 4,82 8,14 10,00 7,01
85,3 72,0 65,9 95,0 90,0 59,0 89,0 84,2 83,3 75,0 80,0 71,0 62,1 50,0 65,0 90,1 86,9 95,0 79,0 86,4 93,5 86,2 68,0 79,0 89,8 68,8 85,0 48,0 69,2 79,1 94,9 92,3 90,3 84,2 75,7 79,1
24 12 24 8 4 7 24 24 13 6 12 24 1 12 12 24 2 3 11 24 10 4 11 24 7 9 13 0 13 1 13 4 15 24 6 12
273.000 129.343 93.958 24.070 352.000 26.907 80.000 72.000 99.999 8.083 28.000 17.500 55.420 116.000 N.D. 22.000 27.619 54.000 56.000 51.023 28.000 43.913 90.418 40.245 35.000 31.110 29.500 21.778 N.D. 24.400 41.220 39.375 2.885 50.000 39.000 63.750
SUBÍNDICES DE QUALIDADE PRINCIPAL CERTIFICAÇÃO JCI (1) JCI (1) JCI (1) JCI (1) ISO (2) JCI (1) ISQUA – INCOTEC (3) JCI (1) JCI (1) – ITAES (4) – – ISO (2) ISO (2) ITAES (4) JCI (1) ISQUA – INCOTEC (3) – ISO (2) – ISQUA – INCOTEC (3) ISO (2) – – ISO (2) ONA 3 (5) – – ISO (2) ISO (2) – – CCHSA (6) –
SEGURANÇA
CAPITAL HUMANO
92,75 93,36 93,74 93,03 79,73 100,00 77,88 94,65 74,25 62,65 90,51 65,75 77,65 80,86 76,88 71,81 87,08 72,17 79,85 79,63 68,28 76,10 66,46 62,12 71,11 52,56 64,04 46,16 56,24 58,66 57,90 63,81 56,66 70,71 50,82 73,31
91,95 100,00 88,11 98,67 71,51 92,64 95,75 78,65 79,24 90,71 82,26 82,32 70,89 64,35 62,95 78,76 89,32 62,57 79,54 60,46 71,35 73,53 70,95 78,92 65,95 73,21 56,85 84,35 98,49 66,12 68,76 64,41 76,83 53,53 51,56 76,44
CAPACIDADE 81,06 75,04 74,29 68,39 100,00 65,92 74,90 63,06 77,04 73,25 21,68 48,45 80,16 72,04 80,62 66,14 28,95 73,89 22,09 58,22 67,72 52,06 73,56 58,10 64,98 61,36 72,70 76,19 40,77 21,10 54,24 56,18 35,99 32,43 64,71 61,06
GESTÃO DO CONHECI- EFICIÊNCIA PRESTÍGIO MENTO 92,08 68,62 72,96 67,80 100,00 50,84 61,87 54,07 47,54 43,35 50,88 56,45 53,00 63,31 63,76 54,62 39,72 52,01 50,96 57,28 51,56 43,96 47,43 42,79 51,18 49,22 48,79 43,38 47,03 56,75 42,70 49,60 65,13 46,98 48,69 55,32
94,69 88,61 90,94 90,92 79,37 72,30 91,80 100,00 98,14 96,76 92,22 88,85 84,13 79,81 79,81 65,71 76,74 89,66 83,81 78,36 93,44 99,75 80,54 88,78 96,80 86,64 90,98 63,83 57,78 85,28 90,77 46,99 23,21 67,28 64,26 81,68
100,00 80,78 70,97 48,60 61,35 65,47 31,22 47,77 58,01 61,06 40,17 64,50 37,87 23,34 26,88 45,32 32,83 53,06 48,31 49,94 34,18 25,80 46,20 43,63 15,14 54,86 36,46 38,57 17,79 34,16 17,79 25,44 18,85 25,21 46,68 43,66
ÍNDICE DE QUALIDADE 2010 92,2 86,5 83,7 82,3 81,9 78,7 75,6 75,2 71,2 70,1 68,8 68,5 68,0 66,5 66,4 66,3 65,9 65,7 65,5 65,1 64,8 64,0 63,9 62,9 62,2 61,6 60,0 59,2 57,9 56,6 56,5 54,8 54,2 52,9 52,9 67,1
WWW.
EINSTEIN.BR ALEMANA.CL CLC.CL FSFB.ORG.CO HCNET.USP.BR HOSPITALCLINICABIBLICA.COM VALLEDELILI.ORG.CO HOSPITALALEMAO.ORG.BR HOSPITALSIRIOLIBANES.ORG.BR AMERICANO.COM.UY HOSPITALALEMAN.COM HOSPITALBRITANICO.ORG.UY REDCLINICA.CL HOSPITALANGELESLOMAS.COM.MX HOSPITALANGELESPEDREGAL.COM.MX HOSPITALAUSTRAL.EDU.AR HSVP.ORG.BR ELHOSPITAL.ORG.CO POLICLINICAMETROPOLITANA.COM.VE HPTU.ORG.CO HUSI.ORG.CO HGM.GOV.CO MEDICASUR.COM.MX CRP.COM.PE SOTERODELRIO.CL HOSPITALMETROPOLITANO.ORG HOSPITALBANDEIRANTES.COM.BR HOSPITALDELOSVALLES.COM ANGLOAMERICANA.COM.PE LASAMERICAS.COM IPS.UDEA.EDU.CO CCSS.SA.CR MEDHSJDWEB00.CCSS.CA.CR H9J.COM.BR CLINICASCARACAS.COM
(1) JOINT COMMISSION INTERNATIONAL. (2) INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. (3) INTERNATIONAL SOCIETY FOR QUALITY IN HEALTHCARE, CERTIFICADORA DO INSTITUTO COLOMBIANO DE NORMAS TÉCNICAS E CERTIFICAÇÃO. (4) INSTITUTO TÉCNICO PARA A CERTIFICAÇÃO DE INSTITUIÇÕES DE SAÚDE. (5) ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO, NÍVEL 3. (6) CANADIAN COUNCIL ON HEALTH SERVICES ACCREDITATION
do mundo –, fato que aconteceu há poucos meses. Na quinta posição, ficou o Hospital das Clínicas, o gigante centro de saúde da Universidade de São Paulo (USP), primeiro hospital universitário do ranking. Sua magnitude colossal e sua fi liação a uma das mais importantes universidades latino-americanas o fazem alcançar a pontuação máxima nos quesitos Capacidade e Gestão do Conhecimento. O próximo hospital universitário no estudo é a Fundación Valle del Lili, de Cali, na Colômbia, na sétima posição. No total, são seis as instituições dependentes de faculdades de Medicina que formam parte deste ranking. Como
grupo, destacam-se porque são as que têm as maiores taxas de pesquisa (71% de todos os papers ISI publicados pelas 35 clínicas foram produzidos por profissionais desses seis hospitais) e porque são as que têm a maior quantidade de enfermeiros por leito. As seguintes posições do top 10 são ocupadas por um conjunto de hospitais privados que se caracterizam por terem excelentes desempenhos em ao menos dois dos seis quesitos do estudo. Um caso interessante é o da costarriquenha Clínica Bíblica (sexta), uma das menores da lista (somente 7 mil internações durante 2009, quando a média é de quase 15 mil), o que a ajudou
a conseguir o primeiro lugar no quesito Segurança e Dignidade do Paciente. “A qualidade na medicina equivale à segurança do paciente, e não necessariamente contar com toda a gama de serviços hospitalares ou acadêmicos”, diz Jorge Cortés, diretor-médico da Clínica Bíblica. “As pessoas devem entender, manejar e exigir o conceito de segurança para o paciente.”
IMPULSO ESTATAL Ainda que a lista dos 35 melhores seja dominada por centros médicos privados e, em menor escala, pelos universitários, há instituições públicas que se destacaram por sua boa gestão. O Hospital Setembro, 2010 AméricaEconomia 61
ESPECIAL Saúde General de Medellín é um deles. Ao ocupar o 22º lugar, pode ser considerado o melhor hospital público da região. “É importante que os hospitais públicos sejam comparados com os privados, pois, apesar de todas as dificuldades, eles têm o mesmo objetivo: restabelecer a saúde dos pacientes”, diz o colombiano Sergio Augusto Vélez, diretor-médico do Hospital General de Medellín. As diferenças existem, é claro, como nas suas políticas de investimento em tecnologia. “Os grandes hospitais privados da região adquirem vanguarda em tecnologia; suas compras ocorrem tão rapidamente como os das clínicas mais avançadas dos EUA ou da Europa”, diz o mexicano Alejandro Paolini, diretor da área de Healthcare da multinacional holandesa
Philips para o México e Porto Rico, cujas receitas globais dependem um terço da área de saúde. “Em geral, os hospitais públicos demoram mais tempo em suas decisões, pois esperam que a tecnologia se transforme na norma: eles devem zelar pela massividade de seus serviços e esperam para comprar a tecnologia somente quando ela se transforma no padrão de uma prática determinada.” A gestão da escala é uma das vantagens competitivas dos hospitais públicos: enquanto a taxa de ocupação média dos hospitais privados é de 75,6%, e a dos universitários, de 86,6%, nos públicos, ela é de quase 89,7%. A restrição orçamentária também é uma de suas principais características, que pode ser percebida nos seus planos de investimento: em média, os hospitais públicos do ranking incrementaSAÚDE DO NEGÓCIO ram seus investimenRentabilidade média, segundo posição no ranking (%) tos em 1,2% durante FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE 2009, somente um ter10,4 7,5 ço do percentual das 1º ao 10º 6,1 lugar instituições privadas. 8,4
2,9 1,4 1,9
4,0
6,0
HORAS DE BISTURI 8,0
10,0
12,0
ROA (Retorno sobre ativos) ROE (Retorno sobre patrimônio)
Idade média dos médicos full time, segundo posição no ranking (em anos) FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE
48 46 44 43,8
1, 2, 3... ZZZZ
2,3
6,4 4,0
62 AméricaEconomia Setembro, 2010
5,0
6,0
7,0
8,0
6º ao 10º
Média geral
1º ao 5º
32
5,1
3,0
36,8
36 34
Universitários
2,0
42,2
41,8
40,7
38 7,4
Privados
1,0
42,6
40
FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE
0,0
43,0
42
Número de anestesistas por mil internações envolvendo cirurgias, segundo o tipo de hospital
Públicos
46,7
Média geral
2,0
6,8
31º ao 35º
0,0 Margem Ebitda Margem líquida
8,2
4,6 4,0
Média geral
26º ao 30º
26º ao 35º
Este ranking também está marcado pelo ingresso de instituições mexicanas de referência, com a presença de
9,3
21º ao 25º
0,5
GEOGRAFIA
16º ao 20º
4,3
10,3
5,4
11º ao 15º
11º ao 25º
dois dos mais importantes membros do Grupo Ángeles, o maior conglomerado de saúde da América Latina. São eles o Ángeles Las Lomas (14ª) e o Ángeles Pedregal (15ª), que se juntam ao Medicasur (23ª), o único mexicano presente em 2009. Uma boa notícia, já que o México desenvolveu uma forte internacionalização de hospitais. Hoje, o país é um dos que têm mais centros médicos com certificação da Joint Commission International. Outro importante sinal da globalização do mercado de saúde, que se reflete tanto nas relações com os fornecedores de tecnologia ou farmacêuticos quanto nas fontes de formação de seu capital humano (os pós-graduados no exterior são muito comuns nas instituições líderes), é que os pacientes já pensam em ser atendidos em qualquer parte do mundo, incluindo a América Latina. Trata-se de um fi lão ao qual só concorrem os bem preparados. “É preciso ter uma estrutura, que vai desde o idioma até a infraestrutura de fi nanciamento”, diz Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein. Um esforço positivo para a indústria, que aproximará sua qualidade de normas internacionais, e também para os pacientes, que passam a contar com mais alternativas de qualidade.
AVIÃO-AMBULÂNCIA % de executivos que já foram atendidos no exterior FONTE: PESQUISA COM LEITORES DE AMÉRICAECONOMIA
Sim 22%
GEOGRAFIA MÉDICA Votos de executivos latino-americanos para a pergunta: “Qual país tem os melhores hospitais da América Latina? FONTE: PESQUISA COM LEITORES DE AMÉRICAECONOMIA
Costa Rica Uruguai 2,7% 1,4% Peru Venezuela 3,9% 1,1%
Equador 0,5%
Colômbia 7,8% Não 78%
México 10,2% Cuba 13,0%
Como fazemos o ranking (mais informações em www.americaeconomiabrasil.com.br)
Quais hospitais podem participar? Qualquer hospital latino-americano que disponha de alta tecnologia, preste múltiplos serviços em uma ampla gama de especialidades médicas e tenha sido mencionado como referência pelos ministérios da Saúde da Argentina, do Brasil, da Colômbia, da Costa Rica, do Chile, do México, do Peru, do Uruguai e da Venezuela ou outras fontes pertinentes. Podem ser tanto públicos quanto privados (com ou sem fins lucrativos) ou universitários. No total, foram convidadas mais de 170 instituições pré-selecionadas desses países, além de hospitais de Cuba (que declinaram o convite) e do Equador, países que foram considerados mediante amostras menores e experimentais. Quais hospitais participaram? Hospitais e clínicas que enviaram suas respostas a um questionário sobre seis aspectos da qualidade hospitalar, além de um conjunto de documentos que comprovaram essas informações. O que o ranking mede? (1) Segurança e Dignidade do Paciente (25% na ponderação da nota final): indicadores de processos e resultados que permitam minimizar riscos hospitalares e privilegiem a transparência. (2) Capital Humano (25%): considera a análise do plantel médico, de enfermaria e da diretoria hospitalar. (3) Capacidade (20%): indicadores de despesas, leitos, especialidades médicas, exames de laboratório, cirurgias etc., além de investimentos. (4) Gestão do Conhecimento (10%): indicadores que permitem medir a capacidade de gerar, obter e difundir o conhecimento. (5) Eficiência (10%): variáveis de eficiência médica, como taxas de ocupação de leitos ou de centros cirúrgicos, eficiência financeira (balanços e resultados) e os mecanismos de gestão da qualidade. (6) Prestígio (10%): considera a opinião dos médicos dos hospitais participantes e dos leitores de AméricaEconomia inscritos site, bem como marcos, realizações e alianças estratégicas.
Brasil 23,9%
Chile 20,2% Argentina 15,2%
Quem ficou de fora Esta segunda edição do estudo de hospitais e clínicas registrou um aumento de participação de instituições de vários países. No entanto, alguns hospitais e clínicas convidados a fazer parte deste estudo por conta de seu prestígio entre hospitais de amplo espectro ainda não nos bridaram uma resposta positiva. Entre eles, estão: • Centro de Salud Universidad Católica, de Santiago (CHI) • Centros Médicos ABC, da Cidade do México (MÉX) • Centro Médico Docente La Trinidad, de Caracas (VEN) • Fundación Clínica Shaio, de Bogotá (COL) • Fundación Dr. René Favaloro, de Buenos Aires (ARG) • Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo (BRA) • Hospital Cima, de San José (CR) • Hospital Español, da Cidade do México (MÉX) • Hospital Hermanos Ameijeiras, de Havana (CUBA) • Hospital Hotel La Católica, de San José (CR) • Hospital Italiano, de Buenos Aires (ARG) • Hospital Samaritano, de São Paulo (BRA) • Hospital San José TEC, de Monterrey (MÉX) • Hospital São Luiz, de São Paulo (BRA) Em 2011, nós esperamos contar com a participação dessas instituições, para que nos ajudem a fortalecer nosso estudo. Cabe ainda mencionar que os hospitais e clínicas do Panamá ficaram de fora de nosso estudo porque o Ministério da Saúde panamenho não nos entregou a informação requerida na pré-seleção que foi feita das instituições. Tal como o indicado na metodologia, esse é um passo fundamental para definir nossa amostra.
Setembro, 2010 AméricaEconomia 63
ESPECIAL Saúde
OLHO
CLÍNICO
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
AméricaEconomia Como é possível conciliar a necessidade de inovação tecnológica com a redução de custos? Claudio Lottenberg A tecnologia em saúde não tem limites: você começa em determinado ponto e vai agregando cada vez mais informações que não necessariamente resultam em eficiência dentro da perspectiva da necessidade do paciente. Eu acredito que uma instituição de saúde que busca se diferenciar tem de ter mecânica de sustentabilidade fortemente aliada às práticas de qualidade, associada às questões de economia no setor de saúde. Eu chamo a atenção para seis pilares fundamentais: eficiência, efetividade, eficácia, segurança do paciente, atenção focada e fazer as coisas dentro do tempo adequado (timers). Não adianta investir apenas em tecnologias que tragam resultado fi nanceiro. Se elas não estiverem alinhadas a um desses seis pilares, provavelmente, não valem à pena.
AE O Einstein foi o primeiro hospital a receber o certificado de qualidade da Joint Comission International fora dos Estados Unidos, em 1999. Isso é reflexo do foco na atração de pacientes internacionais? Lottenberg Acho que a internacionalização da medicina é fruto muito mais da quebra de barreiras, daquilo a que a internet se propõe. Agora, no momento em que você identifica isso como fi lão comercial, precisa ter uma estrutura, que vai desde o idioma até infraestrutura de financiamento,
64 AméricaEconomia Setembro, 2010
AE O Einstein espera dobrar esse mercado até 2012? Lottenberg Eu acho que sim, e esse potencial
é resultado de três fatores: primeiro, da busca por medicina de alta qualidade; segundo, do momento do Brasil, que passa por um fortalecimento das relações internacionais, com aumento do interesse do estrangeiro pelo país, e o segmento da saúde também se privilegia disso; terceiro, porque existe uma crise internacional em relação à oferta de produtos de saúde – as pessoas querem ter acesso a processos diferenciados e não conseguem. Temos uma coisa complicada que é o câmbio, que encarece os procedimentos. Em contrapartida, o Brasil está se inserindo no mercado internacional como um importante player. Esse intercâmbio de gente indo e vindo exige que se tenha infraestrutura hospitalar diferenciada, e temos de estar preparados.
AE Vocês mantêm o plano de investimentos no complexo Einstein de R$ 1,5 bilhão em cinco anos, até 2012? Lottenberg Sim. Neste momento, eles estão todos concentrados em São Paulo, porque precisamos ter massa crítica para dar sustentabilidade ao projeto. O Brasil, por mais que tenha avançado na questão da inclusão social, ainda não consegue se arquitetar no fi nanciamento da questão da saúde, que é algo muito complexo, tanto que os hospitais de excelência estão centrados na cidade de São Paulo.
AE Como anda o projeto com o empresário Eike Batista de levar o Einstein ao Rio de Janeiro? Lottenberg Nós chegamos a conversar, mas não houve nada de concreto até agora. O Eike está com muitas iniciativas ao mesmo tempo. Não desistimos, mas estamos conversando. A gente não abre mão da nossa identidade quanto às
Foto: Danilo Verpa/Folhapress
P
residente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, líder pela segunda vez do ranking das Melhores Clínicas da América Latina, Claudio Lottenberg acompanha como ninguém a dinâmica do setor para conciliar duas necessidades: o contínuo investimento em tecnologia e capacitação e a redução de custos. Em entrevista à AméricaEconomia, esse oftalmologista nascido em São Paulo, que também já foi secretário municipal da Saúde, falou dos planos do hospital, criticou o processo de verticalização visto nas consolidações do setor e defendeu a inserção da iniciativa privada na prestação de serviços ao sistema público.
relacionamento com fontes pagadoras de fora e com pessoas que encaminham pacientes. A gente já vem trabalhando com políticas de qualidade para esse segmento, ainda que nosso maior fluxo de pacientes até agora seja de expatriados, ou seja, estrangeiros que moram no Brasil. Nossas áreas de referência são nichos estratégicos: cardiologia, neurologia, ortopedia, transplantes, procedimentos oncológicos. O simples fato de ter um Departamento de Pacientes Internacionais é uma atividade objetiva de prospecção. Nosso grande mote ainda são pacientes da América Latina e dos EUA.
Acho um equívoco que quem vende plano de saúde, ou seja, a fonte pagadora, se envolva na prestação de serviços
questões da qualidade, mas também estamos cientes de que, de repente, mecânicas de financiamento terão de encontrar customizações regionais.
AE Vocês também prospectam possíveis aquisições? Lottenberg Não estamos prospectando, trabalhamos com recursos próprios. Mas muita gente vem falar conosco.
AE Como avalia as consolidações no setor de saúde? Lottenberg Acho que o grande complicador é essa consolidação ocorrer por meio de um processo de verticalização. Eu acho um equívoco quem vende plano de saúde, ou seja, a fonte pagadora, se envolver na prestação de serviços. Os conflitos são inerentes. As consolidações são importantes, porque você ganha massa crítica, qualidade, você torna aquilo mais barato. Só acho que há conflito quando você é responsável por mediar uma negociação, que envolve uma troca de dinheiro, em que você é o intermediário e, ao mesmo tempo, prestador do serviço. O consumidor final fica muito distante de quem decide o que está acontecendo, e isso pode afetar a qualidade.
AE O Brasil tem registrado o aumento de adesão aos planos de saúde privados, o que pode ser considerado um reflexo do descontentamento com o sistema público. Por sua vez, o senhor defende a terceirização do sistema público como um modelo para gerar mais eficiência...
Lottenberg Fica patente que o que as pessoas mais desejam, quando têm um excedente na renda, é um segurosaúde. Isso reflete que o sistema público não funciona, mas não significa que as pessoas queiram isso para sempre. Eu não defendi a terceirização do sistema público de saúde. O que eu defendo é que você adote modelos que atendam às necessidades do cidadão, e não partir de ideias preconcebidas de que isso é terceirização, porque, no fundo, isso é muito mais uma semântica de política partidarizante do que uma necessidade. Você, como cidadã que recolhe tributos, gostaria de ser bem atendida no sistema público. Se isso for feito por alguém que o governo contrate, para você pouco importa. O que eu vejo, com a experiência de ex-secretário de Saúde de São Paulo, é que algo complexo como a saúde não pode ser prestado por alguém que tenha uma estrutura tão enrijecida, tão lenta como as organizações governamentais. Por isso, acho que é preciso inserir a iniciativa privada na prestação de serviços também dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Um bom exemplo é a Catalunha. Lá, o sistema privado puro coexiste com uma pequena Santa Casa, nos moldes da Espanha. Um indivíduo que é rico também é atendido pelo sistema público, e tem seu plano de seguro saúde privado para não ter de enfrentar uma fi la, por exemplo, na ocasião do parto da esposa. É esse mundo que a gente tem de aprender a construir.
Setembro, 2010 AméricaEconomia 65
ESPECIAL Saúde
Energia
revigorada MERCADO DE PLANOS DE ASSISTÊNCIA MÉDICA E ODONTOLÓGICA RETOMA RITMO DE CRESCIMENTO PRÉ-CRISE E ACENTUA TENDÊNCIA DE CONSOLIDAÇÕES E INVESTIMENTOS EM REDE PRÓPRIA
1
68 AméricaEconomia Setembro, 2010
Fotos: 1 e 2 - Shutterstock
GIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO
ontrolada a epidemia recessiva causada pelo choque do sistema financeiro internacional, o mercado brasileiro de planos de saúde retoma um processo aparentemente irrefreável do setor: o de concentração e verticalização de suas atividades. Em busca de escala e redução de custos, as principais operadoras voltam a se consolidar e intensificam o investimento em hospitais, centros clínicos e laboratórios próprios. “Com o bom momento do país e o aumento da entrada de capital estrangeiro nas empresas, há um aumento do processo de concentração”, explica o médico Arlindo de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge). A maior operação entre as mais recentes, a aquisição da Medial pela Amil, em 2009, reflete essa recuperação. Com a transação, que envolveu R$ 1,2 bilhão e ainda depende de aprovação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), o novo grupo tornou-se o maior do setor no Brasil e um dos maiores da América Latina, com mais de 5 milhões de beneficiários. Segundo Solange Palheiro Mendes, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), “com o aumento do interesse de fundos estrangeiros, as principais operadoras parecem dispostas a comprar empresas menores e hospitais”. Além da Medial, a Amil assumiu, em 2010, o controle acionário do Hospital Paulistano, em São Paulo, e do pronto-socorro cardiológico Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro. Para Carlos Suslik, coordenador do MBA de Gestão de Saúde da escola de negócios Insper, em São Paulo, esse é um movimento natural frente à rea-
C
lidade do setor hospitalar. “A maioria dos hospitais do Brasil possui menos de cem leitos, o que compromete a lucratividade”, diz. O presidente da Bradesco Saúde e da MediService, Marcio Coriolano, diz que o desempenho do setor de planos de saúde depende de fatores como renda e emprego e, por isso, sofreu uma desaceleração durante o ano de 2009, marcado pela crise financeira mundial. “Adicionalmente, houve um aumento da sinistralidade, em razão de eventos como a gripe H1N1”, acrescenta o executivo. “Mas as perspectivas para 2010, especialmente neste segundo semestre, são boas.” No primeiro semestre deste ano, a Bradesco Saúde registrou arrecadação de R$ 3,5 bilhões, uma alta de 22,3% em relação a igual período de 2009. Segundo a empresa, o crescimento foi gerado sobretudo pelo aumento de vendas para o segmento de pequenas e médias empresas, que avançou 33%.
A Golden Cross compartilha desse otimismo. Cláudio Brabo, diretor Comercial e de Marketing da empresa, também destaca o segmento de pequenas e médias empresas, que, segundo ele, está em franca expansão. “Estamos aproveitando este momento positivo para oferecer produtos sob medida, a preços competitivos”, diz. A companhia, entretanto, não revela planos de compra. “No momento, as grandes operadoras que fizeram aquisições precisam digerir suas compras e redesenhar a estratégia”, afirma. “De qualquer forma, estamos sempre atentos às oportunidades. A Golden Cross cresceu cerca de 200% nos últimos seis anos, mas de forma orgânica.” Outro indicativo da força desse mercado foi a criação da Caixa Seguradora Saúde, uma parceria entre a Caixa Seguros e a Temp Assist. A expectativa das duas empresas é a de começar a comercializar os produtos da Caixa Seguradora Saúde a partir de janeiro de 2011.
No EUA, quatro entre cinco pessoas têm plano de saúde privado.
No Brasil,
apenas uma em
cada quatro conta com essa cobertura
2
A TENDÊNCIA, AGORA, É DE VERTICALIZAÇÃO: OPERADORAS DE PLANOS COMPRAM HOSPITAIS
Setembro, 2010 AméricaEconomia 69
ESPECIAL Saúde
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o mercado de planos de assistência médica e odontológica cresceu pouco desde a regulamentação do setor, no final da década passada. De 1998 para 2008, o percentual de beneficiários subiu de 24,5% para 26,3%, o que significa um salto de 37,8 milhões para 49,1 milhões de brasileiros cobertos por planos de saúde, sobretudo pelo avanço dos contratos no setor rural. Mas, com a previsão de crescimento médio anual do PIB de 5,7% até 2014 e o ingresso de mais de 10 milhões de brasileiros na classe C nesse período, a previsão é a de aumento dessa demanda. Nos EUA, de cada cinco pessoas, quatro têm plano de saúde. No Brasil, apenas uma de cada quatro pessoas está coberta. No caso dos planos odontológicos, a disparidade é ainda maior: 60% de penetração entre os americanos e apenas 7% entre os brasileiros, com mais de 450 empresas oferecendo esse serviço. De olho nessa perspectiva, as operadoras veem nas consolidações uma oportunidade estratégica. Nos EUA, quase 580 operadoras contam com cerca de 235 milhões de beneficiários, enquanto, no Brasil, são menos de 50 milhões de contratos para mais de 1,6 mil empresas. Na prática, a concentração já é uma realidade no mercado brasi-
Mercado concentrado Principais empresas de saúde suplementar no Brasil Empresa
Beneficiários (Mi)
Amil
5,1
Bradesco Saúde
4,4
Intermédica
2,9
Sul América
1,8
Golden Cross
0,9
Porto Seguro
0,4
Samcil
0,4
Omint
0,2
Fontes: ANS, IBGE e relatórios das companhias, março/2010
70 AméricaEconomia Setembro, 2010
leiro. De acordo com a ANS, pouco mais de cem operadoras detêm cerca de 70% do mercado, e as seis maiores empresas do setor respondem por mais de 20% dos beneficiários de planos de assistência médica – ou seja, quase 10 milhões de pessoas. A venda de planos odontológicos para clientes de planos de saúde, operação conhecida como cross selling, é outra tendência importante do segmento. Vale lembrar que as duas líderes desse mercado também acabam de se associar. A Odontoprev incorporou a Bradesco Dental e, desde julho, administra as duas empresas e comercializa seus produtos, agora não mais na forma de seguro.
cido pela ANS, o que eleva os custos das operadoras, conforme a medicina evolui. O último deles entrou em vigor em junho, com a inclusão de 70 procedimentos na cobertura básica e a ampliação do limite de consultas em algumas especialidades. Em 2009, a receita das empresas de planos médico-hospitalares atingiu mais de R$ 62 bilhões, contra cerca de R$ 51 bilhões de despesa, com taxa de sinistralidade de 82,8%, considerada alta pelos especialistas. A taxa de sinistralidade traduz a relação entre a soma de gastos do grupo e o total dos valores pagos pelo conjunto de participantes. Ela serve como parâmetro para os reajustes das mensalidades, cujo valor médio gira hoje em torno de R$ 120.
FATOR MUTUALIDADE O processo de concentração do mercado de saúde suplementar também está associado à natureza do negócio. Trata-se de um setor que depende do mutualismo do sistema, ou seja, de que muitos contribuam para que poucos usufruam de serviços mais caros, em circunstâncias aleatórias. Esse aspecto já demonstra a necessidade de uma grande massa de usuários para viabilizar o financiamento dos planos. Soma-se a isso o recorrente aumento das coberturas obrigatórias estabele-
VERTICALIZAR OU NÃO? A verticalização também tem relação direta com a matemática do negócio. Ao gerir seus próprios hospitais, centros clínicos e laboratórios, as operadoras não só reduzem os custos de procedimentos de alta complexidade como também obtêm melhor controle sobre eles. Segundo a Abramge, as cooperativas têm mais de cem hospitais, e as empresas de medicina de grupo, mais de 300. Algumas operadoras chegam a cobrir 95% dos serviços em rede pró-
Participação no Sistema de Saúde Suplementar Usuários nos vários segmentos* 12%
Seguradoras de saúde
18%
Planos exclusivamente odontológicos 9%
Autogestões 34%
Medicinas de grupo
Fonte: ANS
27%
Cooperativas médicas * Cobertura aproximada de beneficiários: 50 milhões
Fotos: 3 - Almeida Rocha/Folhapress; 4 - Bambu Productions/Getty Images
BAIXA PENETRAÇÃO
pria. Já as seguradoras não podem, por lei, investir em instalações médicas de sua propriedade. “Sou contra a verticalização. As empresas passam a atuar em áreas em que não têm expertise e ampliam seus gastos administrativos. Além disso, é um processo que desestimula o compartilhamento de equipamentos em muitos procedimentos, como as ressonâncias magnéticas, onerando ainda mais o setor”, avalia Arlindo de Almeida, da Abramge. Ele acredita que a verticalização, ao contrário da concentração, é uma questão de momento. “Hoje, é um processo inevitável. Afinal, as empresas conse3 4
guem reduzir em mais de 50% o preço de uma angioplastia, por exemplo, ao fazê-la em hospital próprio, com a mesma equipe médica. Mas, com o tempo e a concorrência, os hospitais devem baixar preços e reverter essa tendência.” De acordo com a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), 91% da receita de quase R$ 6 bilhões de seus 39 membros – entre os quais estão o Mater Dei, em Minas Gerais; Copa D’Or, no Rio de Janeiro; Albert Einstein e Sírio-Libanês, em São Paulo – advêm de convênios médicos. Apesar do entusiasmo dos investidores, o segmento dos planos de saúde trabalha com margens reduzidas. “A rentabilidade é baixa em compara-
ção à de outros setores da economia. O retorno sobre o patrimônio líquido desse mercado variou de -0,2%, nas operadoras de medicina de grupo, até no máximo 6%, no caso das empresas de odontologia de grupo, no terceiro trimestre de 2009, enquanto a média das taxas de rentabilidade foi de 2% na maioria dos segmentos, e com um grau de variabilidade muito elevado”, diz Solange Palheiro, da FenaSaúde. “Por isso, a gestão do custo assistencial é um fator decisivo para garantir o retorno desejado pelo acionista.” Para a FenaSaúde, dois produtos se notabilizaram pelo expressivo crescimento. De um lado, os chamados planos coletivos seguem o ritmo de expansão
FALTA DE ATENÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA GERA ADESÃO AOS PLANOS PRIVADOS
da economia. De outro, os planos odontológicos têm um potencial muito forte: cresceram acima da média do mercado nos últimos anos e, ainda assim, têm baixo grau de penetração. Na avaliação dos especialistas, a despeito das intensas reclamações em relação aos reajustes, os planos de saúde no Brasil são mais baratos do que deveriam. As operadoras só estipulam os valores cobrados atualmente porque contam com a cobertura do sistema público. Na prática, a parcela de 25% da população que tem plano de saúde não está fora do Sistema Único de Saúde (SUS) – normalmente, só tem acesso mais rápido a consultas e internações. Se não houvesse essa sinergia com o SUS, os planos precisariam ser bem mais caros do que são hoje. Uma boa referência são os planos de adesão de empresas como Petrobras e BNDES, que gastam mais de R$ 1.300,00 por ano com cada um de seus beneficiários. Alguns analistas acreditam que o verdadeiro tamanho do mercado de planos de saúde deveria equivaler a 5% ou 10% da população, com preços compatíveis com os gastos. Setembro, 2010 AméricaEconomia 71
ESPECIAL Saúde
Mudança de
hábito
TIJUANA QUER ABANDONAR A IMAGEM DE VIOLENTA E SE TORNAR POLO DE TURISMO MÉDICO DAVID SANTA CRUZ, DA CIDADE DO MÉXICO
Q
uando, em setembro do ano passado, o tradicional hotel Cesar Palace de Tijuana fechou suas portas, muitos acharam que era o tiro de misericórdia para a principal cidade da Baixa Califórnia, que, por décadas, se alimentou do boêmio, luxurioso e muitas vezes violento turismo da fronteira entre o México e os Estados Unidos. Nos últimos anos, a região de bares, danceterias e clubes de strippers em torno da Avenida Revolución já não era mais a mesma. Os motivos são claros: o aumento da violência no México, maior controle na fronteira – que reduziu o número de jovens visitantes vindos dos EUA – e a crise econômica, que resultaram em um coquetel maligno não só para a cidade, como para todo o estado, onde o turismo representa 10,4% do PIB.
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Ainda que parte desses motivos seja conjuntural, as autoridades e os empresários de Tijuana decidiram não esperar para reagir e, em 2009, começaram a estudar uma mudança radical na proposta turística da cidade: em vez de oferecer “la vida loca”, agora querem especializar-se na oferta de serviços médicos para os turistas dos EUA. O grande atrativo da cidade são os custos. Segundo estudo da consultoria Horwath Castillo Mirando, com base em cifras do Health Travel Guide, um clareamento de dentes em Tijuana pode sair até 60% mais barato que nos EUA. Uma cirurgia de prótese de quadril custa em média US$ 12 mil, contra US$ 60 mil nos EUA. E Tijuana figura como a mais barata para cirurgias de redução de peso, como o bypass gástrico: US$ 10.950, seguida por San Salvador,
em El Salvador (US$ 12 mil). O consultor Manuel Hernández ta mbém destaca que a maioria dos médicos é bilíngue, “podendo atender bem tanto os norteamericanos quanto os chicanos (fi lhos de mexicanos nascidos nos EUA)”, diz. Um dos grupos mais atraentes para esse mercado são os baby boomers, geração de norte-americanos nascidos no pós-guerra. Segundo relatório do Instituto de Medicina (IOM), com sede em Washington, cerca de 78 milhões de baby boomers farão 65 anos em 2011, pressionando o sistema de saúde dos EUA. Soma-se a eles um universo potencial de 45 milhões de pessoas que não têm seguro médico. Héctor Mendiola Saenz, diretor de Planejamento e Fomento ao Investimento da Secretaria de Turismo da Baixa Califórnia, não pensa na possibilidade de o projeto fracassar. “Integramos os colégios médicos, os organismos promotores de turismo e o Ministério de Economia para posicionar a Baixa Califórnia como um estado dedicado à saúde”, diz. Tal otimismo é reforçado pelo ministro de Saúde do México, José Ángel Córdova, que, em junho, anunciou uma ampliação da iniciativa para todo o país. O Ministério do Turismo do México estima que esse projeto poderá gerar uma receita de US$ 1,35 bilhão nos próximos cinco anos, e as cidades de fronteira, como Tijuana, terão prioridade no programa de atração dos norte-americanos. Só resta saber se ela conseguirá superar sua tradicional imagem e figurar como uma opção saudável.
Foto: Jorge Dueñas
TIJUANA, FRONTEIRA DO MÉXICO COM OS EUA: TROCA DA BOEMIA PELOS SERVIÇOS MÉDICOS
ESPECIAL Saúde
E chegam mais
gringos
A REFORMA DA SAÚDE NOS ESTADOS UNIDOS PODE ACELERAR A TERCEIRIZAÇÃO DO ATENDIMENTO, BENEFICIANDO O TURISMO MÉDICO NA AMÉRICA LATINA ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
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Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
uando o Congresso dos Estados Unidos começou a discutir a reforma na saúde, muitos pensaram que a proposta deteria o acelerado crescimento do turismo médico. A nova lei buscava favorecer mais de 45 milhões de norte-americanos que não possuem cobertura de saúde, muitos dos quais não contam com alternativa que não seja viajar ao exterior para realizar tratamentos. Agora que a polêmica reforma é lei, isso significa que o setor está no limiar da transformação?
Pelo contrário, dizem os especialistas. A reforma trará um ímpeto renovado ao processo de terceirização da saúde que vem ocorrendo há anos nos Estados Unidos e pode estimular a florescente indústria latino-americana do turismo médico. “Em vez de baratear os custos do atendimento no país, vai encarecêlos”, diz Jonathan Edelheit, executivochefe da Associação de Turismo Médico dos Estados Unidos. Mesmo antes da reforma, o turismo médico a partir dos EUA já vinha
crescendo 35% ao ano. Segundo a associação, 1,6 milhão de norte-americanos viajarão ao exterior para receber tratamento em 2012, quase o dobro dos 870 mil pacientes previstos para este ano. Para 2017, a expectativa é a de que eles gastem mais de US$ 80 bilhões. Edelheit estima que a América Latina pode absorver entre 40% e 50% desse valor, por causa do grande número de hispânicos que vivem nos EUA. Os especialistas ressaltam que a lei se omitiu com relação às causas do alto custo do tratamento médico nos Estados Unidos, incluindo fatores – como a indústria farmacêutica – que encarecem os preços dos medicamentos e os custos operacionais dos hospitais. A reforma não fez nada para conter a onda de litígios que obriga os médicos norte-americanos a contratar caras apólices de seguros, cujos custos são transferidos aos pacientes. Segundo dados da indústria, essas apólices podem variar de US$ 50 mil a US$ 200 mil por ano. Devon Herrick, pesquisador-sênior do National Center for Policy Analysis, diz que os custos adicionais estão levando muitas seguradoras e seus clientes a olhar com atenção o tipo de serviço que pode ser contratado no exterior. “Se a seguradora paga US$ 50 mil por um implante de prótese de quadril, e o segurado tem de pagar cerca de US$ 5 mil do próprio bolso, é fácil imaginar um cenário em que a seguradora diga ao cliente: elimino esse custo de US$ 5 mil se você considerar a possibilidade de fazer a operação em Cingapura, onde o custo total seria de apenas US$ 15 mil”, diz Herrick. A essa tendência também estão se associando as próprias redes hospitalares, que já começam a estudar a possibilidade de construir novas instalações no exterior para tirar proveito dos baixos custos e do talento disponível fora dos Estados Unidos.
MANIFESTANTE PASSA MAL DURANTE PROTESTO CONTRA A REFORMA DE SAÚDE: A CONTA AINDA SAIRÁ ALTA
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FINANÇAS Meios de pagamento
A multiplicação dos plásticos AUMENTO DA PENETRAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO JUNTO À POPULAÇÃO JÁ SE REFLETE NO ÍNDICE DE INADIMPLÊNCIA E ALERTA O MERCADO SOBRE A FALTA DE INFORMAÇÃO DESSES NOVOS CONSUMIDORES ANA BORGES, DE SÃO PAULO
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Fotos: 1 - Ian Mckinnell/Getty Images; 2 - Leonardo Colosso/Folhapress
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e uns tempos para cá, a palavra bancarização tem mudado de conceito no Brasil. Passou a significar não apenas a posse de uma conta corrente, mas também a de um cartão de crédito. No ano passado, 560 milhões de plásticos foram emitidos, e a expectativa das empresas do setor é a de que o uso do cartão cresça 20%, em 2010 e 2011. Hoje, no país, existem mais CPFs com cartão de crédito do que com conta corrente. “O crescimento da última década é espantoso”, diz Paulo Arthur Goes, diretor de Fiscalização do Procon de São Paulo. “Mas será que essas pessoas estão preparadas para usá-lo?”, questionou, no Seminário de Marketing e Relacionamento – Semarc 2010, promovido em São Paulo, pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em agosto. A resposta é não. A maior facilidade do crédito vem acompanhada pelo aumento do índice de endividamento, e o retorno da inadimplência começa a preocupar. O crescimento do endividamento está pressionando o número de calotes no Brasil. Em julho, o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor registrou alta de 3,9% em relação ao mesmo mês do ano passado. Essa é a terceira alta seguida na comparação anual. Em julho, as dívidas com cartões de crédito puxaram o crescimento da inadimplência, com alta de 4,4% em relação ao mês anterior e peso de 1,4 ponto percentual no índice geral, de 1,5%. Goes explica que, embora haja a melhoria de renda, as pessoas usam o cartão para satisfazer suas necessidades primárias e chegam a parcelar suas compras de supermercado mensais. “Muitas vezes, o cartão chega às mãos de pessoas que não entendem seu funcionamento”, diz. Fábio de Souza Trajano, promotor de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina e vice-presidente do Brasilcon (Instituto Brasileiro de Política e Direitos do Consumidor), vai mais longe e defende a advertência: “Use o crédito de forma consciente”. Para ele, assim como em comerciais de bebidas, propagandas de cartões de crédito 2 são altamente sedutoras, porém não exibem esse alerta. “Estamos preocupados com o superendividamento. Se o consumidor educado merece proteção, imaginem aquele que não sabe os riscos e se endivida. É preciso buscar o consumo sustentável; caso contrário, o poder público terá de tomar providências”, destaca.
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classes D e E são as que mais têm aderido ao uso desse serviço, o qual está presente em 36% dessa faixa da população. A renda do brasileiro ficou maior e, com ela, a busca pelo crédito para consumo. “As classes D e E querem mais o acesso ao cartão de crédito do que a uma conta corrente. Temos um espaço enorme para o crescimento. Queremos fortalecer a indústria em números e nas bases. Caso contrário, a força do sistema financeiro vira problema”, explica Fernando Malta, diretor de Atendimento e Serviços do Itaú Unibanco, ao alertar para o desafio de explicar melhor à população os riscos do acesso ao crédito e evitar um crescimento acelerado do calote. Para Malta, o cartão é uma nova forma de bancarização e um importante instrumento de acesso ao crédito. “O cartão viabiliza a compra parcelada e, se bem utilizado, é a forma mais barata de financiamento, pois o parcelamento pode ocorrer sem juros”, destaca. Ele defende que o mercado está mais maduro e busca fazer com que o consumidor entenda o produto. “Há um novo mercado de cartões, com uma escala nunca antes imaginada. A escala traz benefícios, mas também preocupações. Ninguém quer que o consumidor tenha dúvidas a respeito das cobranças, não pague ou procure o Procon. O consumidor precisa saber se o orçamento cabe no bolso”, afirma. Segundo estudo do Ministério da Fazenda, 113 milhões de brasileiros passarão a ser classificados como classe média até 2014, ou seja, mais da metade da população. Hoje, a classe C já reúne 103 milhões de pessoas. O levantamento mostra
Até 2014,
113 milhões de
brasileiros
passarão a ser classificados na classe média, criando um novo mercado para os cartões
CORRIDA PELO ACESSO O grande impulsionador do crescimento do cartão de crédito é o aumento da classe média. As
BRASILEIROS ÀS COMPRAS: FACILIDADE DE CRÉDITO É ACOMPANHADA POR AUMENTO DO ÍNDICE DE INADIMPLÊNCIA
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FINANÇAS Meios de pagamento que, desde 2003, cerca de 37 milhões de brasileiros saíram da base da pirâmide social, onde ficam os mais pobres, e foram para o meio da pirâmide. De 2003 até 2014, a classe E será a que mais vai encolher, passando de 49 milhões de brasileiros (ou 28% da população), em 2003, para 16 milhões (8%), em 2014. A classe D também deverá diminuir, passando de 47 milhões de brasileiros (27% da população) para 40 milhões (20% da população). Na classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a classe C é formada pela população com renda domiciliar mensal entre R$ 2.040 e R$ 5.100 (de quatro a dez salários mínimos). A classe D, por aqueles cujos lares recebem entre R$ 1.020 e R$ 2.040 por mês (entre dois e quatro salários mínimos). Os brasileiros da classe E têm renda domiciliar inferior a R$ 1.020 (dois salários mínimos). De 2002 até 2010, aumentou a participação das classes C e D no ranking de potencial de consumo. “A classe C representa 49% da população brasileira. É um grupo de renda total de
chegam ao Procon estão relacionadas à falta de informação. Não adianta adotar o discurso da transparência e entregar o produto para quem não conhece. O confl ito é inevitável”, diz. Ele observa que a equação é simples: déficit de informações mais déficit de conhecimento é igual a superávit de problemas. Entre 2008 e 2009, houve um aumento de quase 50% no número de atendimentos do Procon relacionados ao cartão de crédito. “Não há melhor fiscal que o consumidor. Portanto, há a necessidade de educá-los”, ressalta.
CONSUMIDORES EXIGENTES O desafio aumenta quando se observa que o consumidor não é mais tão passivo como no passado. A chamada geração Y, pessoas nascidas a partir da década de 1980, tem poder de influência cada vez maior. A era é das redes sociais, na qual o comprador comum assume o papel de protagonista e compartilha sua opinião com milhões de expectadores. No mundo
50% é o aumento das reclamações sobre cartões de crédito no Procon R$ 427 bilhões. Sua importância está no fato de que, pela primeira vez na história, o Brasil tem uma classe média que passa a consumir produtos mais sofisticados, de iogurte a viagens aéreas e serviços fi nanceiros”, declara Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, especializado nas classes C, D e E. Segundo Meirelles, as classes C, D e E somam 69% dos cartões de crédito. A classe C, individualmente, já tem um padrão de consumo próximo ao da classe A. Já a classe D ainda é um território a ser conquistado. Apenas 35% dos integrantes desse grupo possuem cartões, por exemplo. Ele lembra que, para manter uma relação de longo prazo com esses clientes, as empresas, sejam elas bancos ou não, precisam explicar com maior clareza o funcionamento de seus produtos e serviços e dispensar a eles um atendimento mais personalizado. Atingir toda essa massa de novos consumidores é um desafio grande e exige o aumento da informação. Para Goes, do Procon, esse é um assunto que deixa a desejar. “As pessoas não sabem o que está sendo cobrado. Todas as reclamações que 76 AméricaEconomia Setembro, 2010
dos blogs, do Twitter, do Facebook e do Youtube, confundem-se os papéis de emissor e receptor. Tais movimentos podem criar e destruir reputações e surgem com uma frequência jamais imaginada. A geração Y tem papel importante no mercado e, com suas características de alto grau de exigência e expectativa de respostas rápidas, impõe ao sistema fi nanceiro uma nova realidade. A presidente da consultoria Foco, Eline Kullock, explica que o consumidor Y conhece as características e o poder das mídias sociais. Quando ele tem um problema com seu cartão de crédito, não tende a usar o site da instituição para reclamar, mas o ambiente onde encontrar repercussão por parte de seus pares, como uma rede social como o Twitter. Por isso, é importante estar nas redes sociais, adotando uma postura firme e transparente. “Não adianta ter postura de avestruz. Esses clientes querem ter voz e também ouvir o que as empresas têm a dizer. Além disso, os produtos e serviços devem estar adaptados a um grupo que aprende rapidamente e exige, sobretudo, velocidade de resposta”, ressalta Eline.
Foto: 3 - Giantstep/Getty Images
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os 35 anos, grande parte deles vivida no mar, Leidivaldo Santos de Jesus – ou Jequitibá, seu nome indígena – sempre acreditou que, para ser pescador e garantir o sustento de sua família, bastavam o barco, uma boa rede de pesca, caniços e algumas iscas. Há oito meses, porém, a realidade dele vem mudando. Jequitibá faz parte da comunidade de pescadores do pequeno município de Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, que vem utilizando a tecnologia para incrementar os lucros da pesca. A iniciativa é resultado de uma parceria entre as empresas Qualcomm, Vivo, ZTE Brasil, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (Iabs). Batizado de “Pescando com Redes 3G”, o programa usa um software específico com o qual os pescadores poderão calcular a rentabilidade da pesca e analisar dados como salinidade da água, temperatura, pH e oxigênio. As informações ficarão em uma base de dados virtual, que poderá ser acessada pelos seus clientes, como restaurantes e hotéis, eliminando, assim, a figura do intermediário na distribuição. O diretor de Relações Governamentais da Qualcomm, Francisco Giacomini Soares, não revela o valor do investimento feito no projeto, mas diz que, para viabilizá-lo, foram fornecidos 18 computadores para a capacitação da comunidade de pescadores e 25 smartphones. “Nosso cálculo é o de que a renda deles, hoje de R$ 200, em média, possa chegar a R$ 600”, afirma André Macedo Brügger, cofundador do Iabs. Após o término da iniciativa, que deverá durar dois anos, o objetivo é o de que os próprios pescadores deem continuidade ao processo e consigam sustentar a manutenção do software e dos aparelhos com o aumento de renda que deverão ter.
OPORTUNIDADES À VISTA Ainda que o caso de inclusão digital dos pescadores do sul da Bahia tenha demandado a ajuda de grandes empresas, o segmento de pequenos empreendedores não está abandonado: muitos empresários ligados à tecnologia da informação têm visto pequenas empresas ou cooperativas como oportunidades de negócio. Os números mostram que eles estão no caminho certo. Segundo o Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), dos cerca de 5,3 milhões de pequenos e médios negó78 AméricaEconomia Setembro, 2010
INICIATIVAS DE INCLUSÃO DIGITAL AJUDAM A DESENVOLVER NOVOS NICHOS PARA EMPRESAS DE TECNOLOGIA GRAZIELE DAL-BÓ, DE SANTA CRUZ CABRÁLIA E SÃO PAULO
Um universo a explorar Uso de tecnologia nas PMEs (Pequenas e Médias Empresas)
91% 75%
utilizam celular
usam computador têm acesso à internet
71%
Fonte: Sebrae/SP
cios existentes no país – 98% do setor produtivo –, 3 milhões ainda necessitam se informatizar. “A maior parte ainda não está inserida no mundo digital”, afi rma Jorge Luiz da Rocha Pereira, consultor especialista de Tecnologia da Informação e Comunicação do Sebrae/SP. Acostumada a atender grandes clientes, como a companhia aérea Lufthansa, a marca de cosméticos Natura e a rede varejista Riachuelo, a empresa catarinense eCentry, especializada em soluções de relacionamento digital no Brasil, na América do Sul e na Europa, viu nos profissionais liberais e pequenos e médios empresários uma alternativa para ampliar a sua carteira de clientes. Pensando neles, desenvolveu, neste ano, um plano gratuito de email manager. “O foco da pequena empresa está voltado à facilidade de uso de alguns recursos que possam atender suas necessidades básicas. Já uma em-
Foto: Divulgação
A vez dos
presa de e-commerce de grande porte, por exemplo, precisa de um sistema capaz de enviar, se necessário, 1 milhão de emails em uma hora, por conta de uma promoção-relâmpago. Existe uma grande diferença”, afi rma Stamatios Stamou Junior, presidente da eCentry. Utilizando o serviço sem custo, o cliente tem acesso a todas as funcionalidades disponíveis nos demais planos do email manager, como integração com Twitter, gerador de RSS e relatórios GeoTarget e UserAgent. Estes últimos permitem, respectivamente, a localização geográfica do destinatário e a identificação do sistema operacional e do leitor de email utilizado por ele para acessar as mensagens. O usuário do plano gratuito pode enviar até 3 mil emails por mês para uma base de até 500 contatos. Nos demais planos, esses limites variam. Mas de que forma um serviço gratuito pode gerar receita para a empresa? O presidente da eCentry explica que a estratégia se baseia no conceito freemium (junção das palavras
Oportunidade de crescimento Empresas que possuem software para administrar os negócios
34%
Possuem
free e premium, que, na prática, significa disponibilizar uma versão gratuita do produto ou serviço e, posteriormente, oferecer uma versão comercial, com novos recursos ou serviços que agreguem valor). O serviço gratuito serviria, então, como uma porta de entrada para um modelo de negócio que gere receita, baseado em publicidade ou planos pagos. Segundo Stamou Junior, a escolha lógica foi seguir o caminho de gerar receita por meio da venda do serviço. “Existem vários casos de sucesso desse formato, e talvez o Google seja o mais evidente, em que as receitas de publicidade se revertem em serviços gratuitos, como email, suíte de escritório, domínios gratuitos e blogs, entre outros.”
EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA NO BRASIL A MTM, empresa de desenvolvimento de soluções móveis, com sede em Salvador e operações nos EUA, no Canadá, na França, na Austrália, na Inglaterra e na Nova Zelândia, também está mirando os pequenos e médios empresários do Brasil. Com uma base de 2 mil clientes e experiência internacional com pequenas empresas, por meio de parcerias com companhias estrangeiras, ela pretende replicar no Brasil o sucesso que teve ao oferecer soluções móveis a pequenos empresários fora do país. “Nos Estados Unidos, por exemplo, a grande maioria dos nossos clientes é de pequenos e médios empresários, e o retorno tem sido muito bom. O segredo é você oferecer o máximo de funcionalidade a um custo baixo. O chamado produto de prateleira”, diz o diretor executivo, Gustavo Perez.
66%
Não possuem Fonte: Observatório das PMEs do Sebrae/SP
PESCADOR DE COMUNIDADE INDÍGENA DA BAHIA: INCLUSÃO DIGITAL PARA GERAR LUCRO
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Cinema em casa O home theater Samsung HT-C6930W reproduz conteúdo 3D e promete levar o cinema para a casa do cliente. Ele dispõe da função All Share (que permite o compartilhamento de vídeos, fotos e músicas por meio de uma rede wi-fi). O modelo também é wireless, ou seja, as caixas acústicas traseiras não têm fios, o que facilita a montagem do produto no ambiente escolhido. www.samsung.com.br
Console SEM controle
União total Os novos telefones da Polycom integram-se de maneira independente a um computador. Eles guardam as informações dos contatos com foto, têm correio de voz visual e conectividade USB Polycom. Os modelos IP CX500, 600 e 3000 já estão disponíveis no mercado brasileiro e custam entre US$ 199 e US$ 849. www.polycom.com.br
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Fotos: Divulgação
A Microsoft apresentou seu dispositivo para jogar Xbox 360 que não requer controle. Ele funciona somente com os movimentos do corpo e das extremidades. O Kinect tem câmera, sensores de áudio e tecnologia de detecção de movimentos, capaz de identificar 48 pontos no corpo humano, além de reconhecer vozes e rostos. O brinquedo deve começar a ser vendido em novembro. www.microsoft.com
Mais que esporte,
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linha direta
A necromancia de Chávez epois do assassinato do romano Julio Cesar, seu sobrinho-neto Octavio aproveitou-se da posição de herdeiro na luta pelo controle de seu legado. Além disso, converteu Cesar em Deus, construiu-lhe um templo e usou seus restos mortais para reforçar sua relação com ele. Em meados de julho, algo parecido aconteceu na Venezuela. Pouco depois da meia-noite do dia 15 de julho, o presidente Hugo Chávez liderou a exumação dos restos mortais de Simón Bolívar, herói da independência em vários países latinoamericanos e obsessão pessoal e política do mandatário.
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Algumas partes foram separadas para a realização de provas. O restante foi colocado em um novo ataúde com o escudo do governo Chávez. Na ocasião, o presidente, que descreveu o procedimento no Twitter, pediu a Cristo que repetisse o milagre de Lázaro e ressuscitasse Bolívar. Por imposição de um decreto presidencial, todos os canais de TV do país intercalavam imagens de Bolívar em pinturas históricas com outras de seus restos mortais e imagens de Chávez, tendo como trilha o hino nacional. 82 AméricaEconomia Setembro, 2010
A mensagem dessa paródia macabra é clara: mais que um seguidor de Bolívar, Chávez quer ser identificado como sua reencarnação. E tem motivos para isso. A magnitude histórica de Bolívar em grande parte da região basta para explicar por que uma revolução chamada “bolivariana” é infi nitamente mais legítima do que uma revolução “chavista”. A apropriação agressiva de Bolívar por Chávez é total: o nome do movimento rebelde que gerou o golpe de Estado falido de Chávez foi uma homenagem ao líder; libertado, Chávez batizou seu partido de Movimento Bolivariano e logo, como presidente, mudou o nome da Venezuela para República Bolivariana da Venezuela. Entretanto, se pudesse falar, é possível que o grande Bolívar mostrasse indignação, e não aprovação, frente à ideia de ter Chávez como seu herdeiro intelectual e político. Em linguagem e pensamento, Bolívar era um discípulo da Ilustração. Sua luta contra a dominação espanhola na América do Sul refletia essa inspiração. Em sua biblioteca, possuía dezenas de obras que celebravam os direitos do homem frente à tirania dos governos despóticos. Era um admirador da Revolução Americana. O liberalismo, a separação de poderes, as liberdades civis, o livre comércio e a liberdade de pensamento eram temas recorrentes em seus discursos e textos. Ou seja, Chávez, sob esse contexto, não abraça seu legado, mas representa sua antítese. Um dos pretextos de Chávez para a exumação do corpo de Bolívar é a hipótese de que o líder poderia ter sido assassinado pela oligarquia colombiana. Para isso, Chávez deu sua própria interpretação de estudos do médico norte-americano Paul Auwaerter, especialista em diagnósticos complexos, que analisou a causa da morte de diversos personagens históricos. No caso de Bolívar, ele concluiu que não foi a tuberculose que matou o herói em 1830, mas uma arsenicose crônica, provocada pela ingestão de arsênico, que Bolívar tomava em pequenas doses para combater seus ataques de febre – e não um envenenamento, como defende Chávez. Imagino que logo o governo venezuelano anunciará que o exame feito no país demonstra que Bolívar foi assassinado – pelos colombianos, pelos norte-americanos ou por ambos. E não seria surpreendente se as provas de DNA ainda demonstrassem que Chávez é parente distante do herói, sobretudo porque seu principal concorrente nas próximas eleições presidenciais, Leopoldo López Mendoza, é, verdadeiramente, da linhagem de Bolívar. De qualquer forma, pior do que a Venezuela expor os restos de um de seus heróis é imaginar Bolívar suportando os restos de sua amada Venezuela.
Foto: Juan Barreto/AFP com montagem de Janaína Diniz
THOR HALVORSSEN, DE CARACAS