Montadoras: a ofensiva chinesa no mercado brasileiro CONSOLIDAÇÃO DOS BANCOS O DESAFIO DE INTEGRAR CULTURAS DIFERENTES
BRASIL
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EUROPA GOVERNANÇA EM XEQUE E CONFLITO DE INTERESSES
No 394 DEZ./2010 R$ 8,90
A EUFORIA NO MERCADO IMOBILIÁRIO BRASILEIRO DESPERTA O MEDO DE QUE SE REPITA AQUI A BOLHA QUE DERRUBOU A ECONOMIA DOS EUA
ISSN 1414-2341
Corremos este risco?
nesta edição Seções 06 08 10 10 12 14 38 58 90 92 96 98
Portal Carta ao Leitor Cartas Índice de Empresas
54
Pistas Negócio Fechado Movimentos Opinião – Caio Megale Visão Verde I-biz Clics Linha Direta
Negócios Gás natural Fenosa quer ser referência
1
Negócio da China Montadoras asiáticas miram o Brasil
Finanças
Nuances latinas Surge uma nova geração de animações Subsídio a máquinas agrícolas Incentivo à agricultura familiar
46 54
Pirelli na ofensiva Investimento forte na AL
Silvio Santos na berlinda O caso PanAmericano
Debates
Telefonia móvel Nokia duela com Apple e RIM
64 72 76 78 80
64
Mercado imobiliário Bolha à vista ou crescimento sustentável? Europa e recessão Crise aflora conflitos de interesse Colômbia Juan Manuel Santos governa com estilo próprio Meio ambiente México contra o aquecimento global Nicarágua e Costa Rica Guerra provocada pela tecnologia
ESPECIAL Fim de ano
2
82 4 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Fusões bancárias A complexa tarefa de unir as operações
Retrospectiva dos maiores eventos da AL Década das transformações
Fotos: 1 - Ari Vicentini/Agência Estado/AE; 2 - iStockphoto
16 20 22 26 30 34 36
Desafios do pré-sal Oportunidade para as brasileiras
JULES AUDEMARS PERPETUAL CALENDAR
The Jules Audemars Perpetual Calendar watch is a masterpiece of miniaturisation developed on the basis of the extra-thin self-winding Calibre 2120 and the 2802 module. The entire mechanism is indeed just 4 millimetres thick. Intended to reproduce the intricacies of our calendar by displaying the cadence of the minutes, hours, days, date and months, this complex movement also smoothly handles the irregularity of 30- and 31-day months as well as the leap-year cycle. The calendar module is designed to require no correction before March 1st 2100, a date when the Gregorian calendar will imply an adjustment – exactly the kind of detail true connoisseurs will appreciate. Pink gold case, brown or silvered dial, applied pink gold hour-markers, pink gold hour and minute hands. AUDEMARS PIGUET LE BRASSUS (VALLÉE DE JOUX) SWITZERLAND, TEL +41 21 845 14 00 - www.audemarspiguet.com
portal
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Google na
América Latina O Google quer dominar o mundo. Agora, aposta as fichas na América Latina, em busca de fabricantes de computadores e operadoras de telefonia para parcerias. A ideia é transformar o crescimento da região em oportunidade de negócios, conforme afirma o diretor executivo da companhia para a AL, Alexandre Hohagen. Intitulada Conecta, a ação oferecerá ferramentas de acesso à internet, construção de sites e comércio eletrônico. “É como colocar tudo num pacote para as pequenas empresas”, diz Hohagen. O Google já está em negociações com empresas como HP, Dell e Positivo. As primeiras iniciativas devem ser concretizadas no primeiro trimestre de 2011.
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EDIÇÃO: AINÁ VIETRO (AVIETRO@AMERICAECONOMIA.COM)
Linha nada econômica Dado preliminar do Censo 2010 revela que o Brasil já tem mais telefones celulares que pessoas. São 191.472.142 aparelhos para 185.712.713 brasileiros. Com tanto celular, o usuário precisa de atenção na hora de escolher o plano e a operadora. De acordo com a Pro Teste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, as diferenças de preços nesses dois quesitos costumam variar até 814%. O custo do minuto do pré-pago é o mais alto, com tarifas de R$ 1,39 a R$ 1,49. No pós-pago, o minuto vai de R$ 0,88 a R$ 1,10.
O Brasil que viaja O brasileiro está viajando mais. O setor cresceu acima da média da economia brasileira acumulada entre 2003 e 2007. Pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que as atividades de turismo cresceram 22% no período, enquanto o conjunto da economia avançou 19,3%. As atividades associadas ao setor são bastante variadas: desde fotografias para passaportes até serviços de hotelaria.
6 AméricaEconomia Dezembro, 2010
O vício do trabalho Em artigo para o site de AméricaEconomia, o diretor executivo do Regus Group Plc, Mark Dixon, ressalta a importância de desligar o BlackBerry – ou o iPhone –, deixar o trabalho no escritório e aproveitar os momentos de descanso. O especialista comenta um estudo da consultoria Gartner que mostra que, até o final de 2012, serão 73 milhões os CrackBerries: pessoas que ficam 24 horas por dia conectadas e que, em consequência, acabam levando trabalho para casa.
Fotos: iStockphoto com montagem de Janaína Diniz
LEIA NO PORTAL
carta ao leitor
O rombo que ninguém viu BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br
PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editor Executivo: Luís Eduardo Leal Diretora de Arte/Projeto Gráfico: Janaína Diniz Repórter: Graziele Dal-Bó Editora do Site: Ainá Vietro Revisão: Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica: Eduardo Keppler Infografia: Anna Luiza Aragão Colaboradores: Denis S. Cardoso (assistente de arte) e Rosa Symanski (reportagem) COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Mauro Machado – mauro@springcom.com.br Executivos de Contas: Clóvis Cortez – cloviscortez@springcom.com.br Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Rafael Ferreira – rafael@springcom.com.br MARKETING Marcia Leonardi, Elisangela Silva e Rafael Borsanelli ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Gerente Financeiro: Edison Arduino CIRCULAÇÃO Gabriela Beraldo Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Dezembro de 2010) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretora Internacional de Marketing: Mica Selman Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Víctor Herrero (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Diretor de Circulação: Marcial Delcorto Gerente de Produção: Constanza del Río Moreno AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Paulina Saavedra, Catherine Lacourt e Evelyn Quezada AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando ESCRITÓRIOS Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise
8 AméricaEconomia Dezembro, 2010
H
á poucas semanas, o mercado foi surpreendido por uma notícia que escandalizou e preocupou a todos: o rombo gigantesco no Banco Pa-
nAmericano, uma das empresas do Grupo Silvio Santos. Como em um passe de mágica, veio à tona uma dívida no valor de expressivos R$ 2,5 bilhões. Não é pouca coisa. Declarando-se tão surpreso como qualquer um de nós, Silvio Santos, proprietário do grupo, de pronto se ofereceu para resolver a questão. Como garantia ao empréstimo concedido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o apresentador deu todo o seu patrimônio, mais precisamente 44 empresas subordinadas à holding. O empréstimo concedido, no mesmo valor de R$ 2,5 bilhões, tem características interessantes: dez anos para pagar, com três de carência, e sete para resolver o problema, apenas incidindo sobre o saldo a variação do IGP-M. É o melhor empréstimo do mundo, com certeza. Entre suspeitas de fraude, acusações de má gestão e inconsistência fiscal, o Grupo SS declarou, em comunicado oficial, que irá processar tanto os ex-diretores executivos da instituição quanto a Deloitte, maior empresa de auditoria do mundo e uma das contratadas para auditar o PanAmericano. A Deloitte teve o pagamento de uma parcela, no valor de R$ 1,6 milhão, suspenso pelo Grupo SS. Também não é pouca coisa. Especula-se que o grupo tenha os próximos três anos para, com calma, se desfazer de algumas de suas empresas, tais como o Banco PanAmericano, as lojas do Baú, a fabricante de cosméticos Jequiti e alguns outros poucos ativos, que já seriam suficientes para pagar o empréstimo. Silvio Santos continuaria com a Telesena, que é a sua própria marca, com o SBT e com os seus bens pessoais, que não foram atingidos. Além da reportagem sobre o PanAmericano, não deixe de ler nesta edição a análise sobre o boom imobiliário no Brasil e a consolidação dos bancos, que envolve a complexa tarefa de unir diferentes culturas empresariais. Boa leitura! José Roberto Maluf
ASSINATURAS Central de Atendimento Tel: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.
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Em 1904, LOUIS CARTIER CRIOU O PRImEIRO RELógIO CARTIER dE PULSO PARA SEU AmIgO E PIONEIRO dA AvIAÇãO ALBERTO SANTOS-dUmONT. ALIANdO A EXCELÊNCIA dA ARTE RELOJOEIRA À INOvAÇãO dO dESIgN, O RELógIO SANTOS 100 É UmA RELEITURA dO CLÁSSICO COm A mOdERNIdAdE dA TECNOLOgIA dO CARBONO AdLC. CAIXA dE 41 mm Em AÇO ACETINAdO, REvESTIdA dE CARBONO AdLC. mECANISmO AUTOmÁTICO, CALIBRE CARTIER 049 (21 RUBIS, 28 800 vIBRAÇÕES POR HORA). RESISTENTE ATÉ 100 mETROS. vISOR dE SAFIRA. PULSEIRA ULTRA RESISTENTE Em kEvLAR.
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cartas EVONOMICS
Muitos acreditaram que, com Evo Morales, a Bolívia estaria morta (“As Chaves da Evonomia”, AméricaEconomia, Nº 391, setembro. 2010). Mas, a realidade macroeconômica e política mostram outra situação. Os indicadores falam por si, e os elogios vêm até de setores mais conservadores. O macro agora será palpável também no micro, ou seja, nos bolsos dos bolivianos, há tantas décadas enganados e negligenciados por uma classe política elitista, que buscava somente materializar interesses partidários e pessoais. Tudo é um processo que leva tempo, não se pode exigir da atual gestão resultados imediatos no esforço de dar continuidade à mudança que começou com o massacre do “outubro negro”, em 2003. Obrigada à AméricaEconomia por abordar este assunto, quase não mencionado em outras publicações. FREDDY – MENSAGEM
índice de empresas Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.
ABC
39
Endesa
21
Maíz Produtores
27
Aceco TI
42
Ernest & Young
68
Medley
15
Exim
27
Merck
12
Africa Propaganda 39 AGCO
30
Forethought
93
Microsoft
Ágora Corretora
48
Fox Channels
28
MTVLT
28
Airbus
12
Freeport
12
NatGeo
28
Alcoa
12
Frost & Sullivan
42
New Holland
31
28
Fund. Getulio Vargas 68
Nokia
36
Gartner
Ormeño S.A.
40
Anima Estúdios Apple
36, 94
36
12, 93
Avic Leasing Corp.
14
Gás Natural Fenosa 20
Bío Bío
15
GE
12, 14
Blackstone Group
98
Gol
12
BM&FBovespa
12
Boeing
12
Great Wall
22
Positivo
BR Foods
39
Grupo Bertin
15
PwC
36
Grupo Silvio Santos 55
Procter & Gamble
12
HBO
28
Regus Group
Honda
23
Relais & Chateaux
40
Rigesa
14
RIM
36
Rodobens
67
Bradesco 19, 47, 55, 68 41
6
PanAmericano Petrobras
55 17, 52
Pilgrim’s Pride
14
Pirelli
34 6
6
ENVIADA PELO SITE
British Petroleum
MARTINELLI
Burston-Marsteller
94
HP
Butamax
41
HSBC
BYD
22
Hypermarcas
15
Calvin Klein
98
Iberdrola
21
Samsung
36
Iberian Equities
21
Santander
19, 47
Somos investidores estrangeiros no Panamá e apostamos no país desde 2006. Li com muita atenção a reportagem sobre o governo do país (“Receita Heterodoxa”, AméricaEconomia Nº 393, novembro, 2010) e a entrevista realizada com o presidente Ricardo Martinelli. Ele está criando, mantendo e promovendo um ambiente muito saudável para investimentos. Antes de entrarmos com o dinheiro, comparamos países como o México, a Colômbia, o Chile e o Panamá, avaliando fatores futuros de desenvolvimento econômico. Na nossa avaliação, o Panamá alcançou pontuação mais alta. Hoje, a filial de nossa empresa no país responde por negócios na ordem de US$ 1,7 bilhão. O Panamá é muito especial, e estamos muito contentes por termos optado por este país. EDUARDO ASPINA SOLIS, CIDADE DO PANAMÁ
Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista AméricaEconomia Brasil:
americaeconomia@springcom.com.br
10 AméricaEconomia Dezembro, 2010
BTG Pactual
39, 69
Cementos Portland 15
6 19, 51
Chana
22
Ibermedia
27
Santander
21
CineAnimadores
27
IDC
36
SinoLatin Capital
44
Cisco Systems
12
Ingersoll Rand
90
Sonatracah
21
Citibank
12
Intel
12
Sony
96
Citibank
51
Interbrand
52
Strategy Analytics
36
Citigroup
12
IPH&C
15
Televisa
28
Citroën
23
Itaú
Tironi & Asociados
93
Colgate-Palmolive
15
IWC Engenharia
17
Tournier Animation 27
Comercial Maripa
15
JAC
22
Travelers
15
ComScore
36
JBS Friboi
14
Universal
28
Datos Claro
37
JMalucelli
15
Vinci
12
6
J.P. Morgan
51
Volkswagen
34
Dell
19, 47, 55
Disney
28
Less +
28
Votorantim Cim.
15
DPH
15
Lexmark
96
Wells Fargo
12
DuPont
41
LG
WinTrade
55
DZ Bank
73
Llorente & Cuenca
93
World Cem. Group
15
EDP
15
Locoloco Film
28
WWF
79
Effa
22
Lopes Filho
55
Zerofootprint
79
Embraer
14
Magyar Telecom
94
36, 96
pistas
Na terra do Tio Sam
PUBLICAMOS Segundo estudo de mercado apresentado no início do ano pela Airbus, a frota de aeronaves comerciais na América Latina deverá mais do que dobrar nas próximas duas décadas, passando dos atuais 940 aviões de passageiros e 80 cargueiros para 2.117 aviões de passageiros e 149 cargueiros. (“Sem Descanso”, AméricaEconomia No 392, outubro, 2010)
O NOVO A Gol já iniciou suas compras. A companhia anunciou, em meados de novembro, a assinatura de mais um contrato com a Boeing, concorrente da Airbus. A empresa encomendou 30 aeronaves B737-800 NG, que devem ser entregues entre 2014 e 2017. O acordo soma US$ 2,7 bilhões.
Mais opções ao investidor
O NOVO As negociações do BB nos Estados Unidos seguem conforme o previsto. O vice-presidente de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores do banco, Ivan de Souza Monteiro, anunciou, recentemente, que o alvo da compra foi identificado. Ele não revelou nomes, mas garantiu que a instituição tem forte atuação junto à comunidade brasileira no país.
PUBLICAMOS O segundo lote de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), sob responsabilidade do Citibank, já está em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o órgão regulador do mercado brasileiro. (“Made in USA”, AméricaEconomia No 393, novembro, 2010)
O NOVO O Citibank recebeu, em novembro, autorização para negociar ações das empresas Alcoa, Cisco Systems, Citigroup, Freeport-McMoran Copper & Gold, General Electric, Intel, Merck, Microsoft, Procter & Gamble e Wells Fargo. Os papéis serão negociados no Mercado de Balcão Organizado, da BM&FBovespa, no formato de BDRs não patrocinados, ou seja, recibos de ações de empresas negociadas em outros países.
12 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Novas fontes PUBLICAMOS Em um contexto de crescente “estresse hídrico” na América Latina, estão vindo à tona novas tecnologias para recolher a água da chuva e da neve ou para dessalinizar a água do mar. Esta técnica, embora envolva mais custos, está sendo utilizada cada vez mais em regiões muito secas, como o norte do Chile. (“A Crise de Liquidez”, AméricaEconomia No 393, novembro, 2010) O NOVO O grupo francês Vinci está trabalhando junto à Fundação Chile para impulsionar a execução de uma extensa tubulação submarina, superior a mil quilômetros, que permitirá levar a água da zona central ao norte do país. O projeto, chamado de AcquaAtacama, demandará um investimento de cerca de US$ 4 bilhões.
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Preparar para a decolagem
PUBLICAMOS O vice-presidente da Área Internacional do Banco do Brasil, Allan Simões Toledo, indica que o interesse do Banco do Brasil pela compra de uma instituição nos Estados Unidos se materializará até o fim do ano. “Estamos estudando a aquisição de um banco de pequeno porte no país. Temos, atualmente, uma short list com cinco nomes, e a definição deve ocorrer até o fim do ano”, disse. (“De Novo no Topo”, AméricaEconomia No 392, outubro, 2010)
negócio fechado JBS EMBRAER
Mais ações na
Acordo com chinesa
Pilgrim’s Pride
A fabricante de aviões brasileira Embraer assinou um memorando de entendimento para financiamento de aeronaves com a unidade de leasing da Aviation Industry Corporation of China (AVIC Leasing Co.). O acordo, que pode atingir US$ 1,5 bilhão nos próximos cinco anos, tem como objetivo ampliar as vendas no país asiático. Segundo comunicado enviado ao mercado, atualmente, a Avic tem ativos de leasing de mais de US$ 1,2 bilhão, com uma frota de 62 aeronaves. VALOR: US$ 1,5 bilhão
A JBS Friboi comprou um bloco adicional de 7 milhões de ações ordinárias da processadora de aves norteamericana Pilgrim’s Pride, elevando sua participação na empresa de 64% para 67,27%. Com preço unitário de US$ 5,96 por ação, a operação totalizou US$ 41,72 milhões, valor pago diretamente ao vendedor. Segundo comunicado da companhia, o preço de compra foi calculado tomando como base o valor médio das ações da Pilgrim’s Pride nos 30 dias anteriores ao fechamento da transação.
Fotos: iStockphoto
VALOR: US$ 41,72 milhões
GE
Foco no Brasil A GE investirá US$ 500 milhões na expansão de suas operações no Brasil. Parte do valor (US$ 100 milhões) será destinada ao novo Centro Multidisciplinar de Pesquisa e Desenvolvimento da companhia, no Rio de Janeiro. Os outros US$ 400 milhões terão como foco as áreas de tecnologia e desenvolvimento de novos produtos, a construção de novas unidades, novos equipamentos e capital humano. VALOR: US$ 500 milhões
14 AméricaEconomia Dezembro, 2010
MWV
Investimento em SC A fábrica da Rigesa em Três Barras, Santa Catarina, receberá cerca de US$ 480 milhões de sua controladora MeadWestvaco (MWV) para instalar uma máquina de papel para embalagem. O equipamento terá capacidade de produção anual de 300 mil toneladas de papel kraftliner. Com a nova instalação, a Rigesa mais que dobrará a capacidade de produção em Três Barras, que hoje é de 235 mil toneladas por ano. VALOR: US$ 480 milhões
EDP
Negócios com o Bertin A EDP – Energias do Brasil adquiriu dois projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Mato Grosso, pertencentes ao Grupo Bertin, por um valor estimado de R$ 304 milhões. Os projetos totalizam 49,5 MW (megawatts) de capacidade instalada e 27,5 MW médios de energia assegurada. Ambos os projetos detêm autorização para exploração e licenças de instalação emitidas pela Secretaria Ambiental do Estado do Mato Grosso, conforme a empresa. O início da construção das usinas está prevista para março de 2011, e a entrada em operação, para janeiro de 2013. VALOR: R$ 304 milhões
HYPERMARCAS
Fome de compras A Hypermarcas anunciou três acordos de compra no valor total de R$ 251,5 milhões. Com a Colgate-Palmolive, foi acertada a aquisição da marca de sabonetes infantis Pom Pom, pelo valor de R$ 85 milhões. A empresa pagará ainda R$ 84 milhões para a Medley Indústria Farmacêutica pelas marcas de medicamentos Digedrat, Peridal e Lopigrel. A companhia anunciou também a compra das empresas de higiene bucal IPH&C, DPH e Comercial Maripa, que atuam na fabricação e distribuição dos produtos da marca Bitufo, por R$ 82,5 milhões. VALOR: R$ 251,5 MILHÕES
VOTORANTIM
Entrada no mercado peruano A Votorantim Cimentos chega ao mercado peruano por meio de uma participação acionária minoritária (29,50%) na Cementos Portland, joint venture com a chilena Bío Bío (29,50%), a peruana IPSA (20,5%) e a espanhola World Cement Group (20,5%). A Cementos Portland investirá US$ 150 milhões em uma fábrica em Pachacamac, nas cercanias de Lima. Com previsão de operação prevista para 2012, a planta terá capacidade inicial de produção de 700 mil toneladas por ano. VALOR: US$ 150 milhões
JMALUCELLI
Venda aos
EUA A seguradora norte-americana Travelers, por meio de sua controlada Travelers Brazil Acquisition, adquiriu 43,4% da JMalucelli – grupo brasileiro de seguros – por R$ 625 milhões. A companhia ainda tem a opção de aumentar o percentual para 49,9%, em 18 meses. A operação envolveu a capitalização da JMalucelli Participações, holding que controla as empresas de seguros do grupo e que, até agora, era 100% controlada pelo Paraná Banco. VALOR: R$ 625 milhões
NEGÓCIOS Petróleo
ÍNDICE MÍNIMO DE NACIONALIZAÇÃO PODE AJUDAR EMPRESAS BRASILEIRAS NA DISPUTA COM ESTRANGEIRAS POR ENCOMENDAS
O desafio do
16 AméricaEconomia Dezembro, 2010
pré-sal
PESO DA CARGA TRIBUTÁRIA E CÂMBIO APRECIADO REDUZEM COMPETITIVIDADE DE FORNECEDORES BRASILEIROS FRENTE À CONCORRÊNCIA ESTRANGEIRA CARLOS VASCONCELLOS, DO RIO DE JANEIRO
inquenta bilhões de barris de petróleo enterrados sob a camada de sal no subsolo marinho têm despertado a imaginação, assim como os planos, de diversos fornecedores brasileiros de equipamentos e serviços. Os empresários do setor veem na exploração da megarreserva uma possibilidade de desenvolvimento sem precedentes na história da indústria petrolífera no país. Estima-se que a estrutura para exploração desse óleo possa gerar até US$ 400 bilhões em encomendas, nos próximos dez anos. O governo, por meio da Petrobras, pretende garantir um piso mínimo de conteúdo local das encomendas, o que tem despertado o apetite do setor. “Foi a melhor coisa que poderia acontecer para a indústria brasileira”, diz André Lincoln, diretor da IWC Engenharia, empresa especializada em montagem de equipamentos e estruturas metálicas. Os defensores da garantia de um percentual de conteúdo local afirmam se tratar da melhor opção entre dois modelos seguidos anteriormente por países produtores de petróleo: queimar a riqueza sem criar uma indústria forte, como ocorreu na Venezuela, ou aproveitar a chance para desenvolver empresas e tecnologia nacionais, modelo seguido pela Noruega. O objetivo é nobre, mas, no pré-sal, os desafios técnicos não serão poucos nem pequenos. Para alcançar reservas enterradas a até 7 mil metros de profundidade, será preciso mais tecnologia, assim como mão de obra especializada – por enquanto, a indústria brasileira não parece ter fôlego para descer tão fundo. Recente pesquisa realizada pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) aponta que, atualmente, 40% dos itens necessários à exploração do pré-sal – e que equivalem a 50% do valor das encomendas – não contam com um único fornecedor nacional. Apesar do longo caminho a ser trilhado, o superintendente da Onip, Bruno Musso, vê razões para otimismo. “Em primeiro lugar, a própria dimensão da reserva do pré-sal. Em segundo, o fato de termos uma cadeia de fornecedores estabelecida. Além disso, há recursos para financiar o projeto, e nosso mercado tem potencial de atração imenso para investimentos estrangeiros”, avalia Musso. “O que se vê é uma tremenda chance de crescimento para a indústria brasileira”, diz. Oportunidade que dependerá de um esforço conjunto do setor público e do setor privado, ressalta o superintendente da Onip. “Das empresas, vamos precisar
C
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 17
de mais produtividade e investimento tecnológico, e do setor público, de uma política industrial consistente.” O principal esforço do governo brasileiro nesse sentido é o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural, o Prominp. Criado em 2003 e gerenciado pela Petrobras, o programa pretende estimular a capacitação tecnológica das empresas, a formação de mão de obra (outro gargalo fundamental da economia brasileira) e a sustentabilidade da cadeia produtiva. Os resultados, segundo a estatal, já estão aparecendo. De acordo com a Petrobras, até o ano passado, o programa conseguiu elevar de 57% para 75% o conteúdo nacional dos projetos de investimento. Nesse período, os investimentos saltaram de US$ 6 bilhões ao ano para US$ 32 bilhões, o que, segundo o Prominp, representou a colocação adicional de US$ 17,8 bilhões em encomendas no mercado nacional e a geração de 775 mil empregos. “Viabilizar a indústria nacional do petróleo é muito mais do que contratar um estaleiro nacional”, diz Carlos Ferraz, gerente de Finanças da Petrobras. “O Prominp criou um canal com o mercado, que permite às indústrias se preparar para atender à demanda futura”, diz. Segundo ele, há uma razão estratégica para estimular a cadeia produtiva local. “Oitenta e cinco por cento da receita da Petrobras vêm do mercado doméstico. Ampliar e fortalecer esse mercado, portanto, é garantir o lucro da companhia no futuro”, justifica. 3 Só que capacitar a indústria brasileira e corrigir as distorções que atrapalham a exploração do pré-sal são tarefas que estão além do alcance de um único programa, por melhor que seja. O estudo da Onip aponta 65 ações, em dez áreas, que deveriam ser tomadas pelo governo brasileiro para que o fortalecimento da indústria local saia do papel. Medidas que abrangem de maior estímulo à capacitação até a correção de desequilíbrios macroeconômicos. Entre as tarefas desse longo dever de casa está a de recuperar a capacidade de iniciativa do país em áreas fundamentais, como a de CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO SÃO FUNDAMENTAIS PARA A EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO EM GRANDES PROFUNDIDADES
18 AméricaEconomia Dezembro, 2010
engenharia. Musso defende também uma mudança na partilha dos recursos destinados ao financiamento de pesquisas. “Parte dos recursos deveria ser canalizada para as empresas, e não para as universidades”, argumenta. “Isso tornaria a pesquisa mais orientada aos desafios específicos do mercado.” Para ter mais conteúdo nacional no pré-sal, ele sugere também atrair mais empresas estrangeiras, que atendam encomendas que a indústria nacional ainda não consegue suprir. “De preferência, em parceria com empresas locais, para haver troca e absorção de conhecimento”, ressalta. Os mecanismos de incentivo e aferição do conteúdo nacional também deveriam ser revistos, na opinião do superintendente da Onip. “Hoje, o processo de aferição do conteúdo nacional envolve um alto custo, que prejudica o fornecedor brasileiro”, critica. Além disso, os contratos penalizam os fornecedores que não cumprem a meta mínima de conteúdo brasileiro em suas encomendas. “Por que não fazer o contrário, premiando quem usar mais conteúdo local?”, propõe Musso. Mecanismos de incentivo à parte, há também alguns problemas endêmicos da economia brasileira no caminho entre as indústrias nacionais e o pré-sal. Juros altos, o peso dos tributos e o câmbio apreciado são pedras nessa estrada entre o modelo da Venezuela e o da Noruega. “O governo federal tem feito alguns esforços de redução da carga tributária, mas temos de avançar muito no nível de impostos estaduais”, observa Musso. Mas o problema não se limita apenas ao volume de impostos. “Em alguns segmentos, a produção local é tributada, enquanto os mesmos equipamentos podem entrar no país 2
Fotos: 2 - AFP; 3 - Vanderlei Almeida/AFP; 4 - iStockphoto
NEGÓCIOS Petróleo
Especialistas avaliam que políticas de estímulo ao setor podem criar distorções indesejadas sob regime especial de importação, sem pagar tributos”, aponta Musso. A saída seria desonerar a produção nacional para que as empresas brasileiras possam competir, em pé de igualdade, com as estrangeiras. “O risco é tentarmos chegar a essa igualdade elevando o imposto de importação, o que seria um erro”, acrescenta. Os custos financeiros no Brasil, que ainda tem uma das taxas de juros reais mais altas do mundo, também são apontados como entraves à entrada dos fornecedores nacionais na cadeia do pré-sal. Para tentar desatar esse nó, a Petrobras lançou o Progredir, plataforma de financiamento a fornecedores, em parceria com o BNDES e seis dos maiores bancos do país (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander e HSBC). O primeiro contrato de crédito já foi fechado, e a expectativa é a de que o programa esteja funcionando plenamente em fevereiro. “O spread nesse tipo de financiamento pode cair em até 20%, na avaliação dos bancos”, aponta Ferraz, da Petrobras. O programa – que surgiu como uma demanda da Diretoria Financeira da estatal para viabilizar a fabricação de sondas no país – usa como lastro os recebíveis não performados dos contratos de fornecimento da cadeia produtiva. Ou seja, os empréstimos são garantidos pelo valor das encomendas a receber. O valor do empréstimo é limitado à metade do contrato total, para evitar a criação de bolhas de crédito e garantir a liquidez da cadeia de fornecedores. “Além disso, a ideia é que cada contrato seja validado pelo contratante antes de chegar ao banco, para termos segurança nas informações, o que também ajuda a reduzir o risco”, diz Ferraz, acrescentando que o programa estimula a concorrência entre os bancos para estimular a queda dos juros.
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a formação de preços no setor. “Uma crise internacional que provoque uma explosão no câmbio, por exemplo, pode derrubar as empresas fornecedoras, que, por sua vez, não cumpririam os contratos”, alerta. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, critica a exploração política dos assuntos envolvendo o pré-sal – do modelo de exploração à política industrial. “Espero que o bom senso volte a imperar, e o pré-sal seja retirado de uma vez do palanque eleitoral”, afirma. Segundo o especialista na área de energia, privilegiar as indústrias brasileiras com políticas específicas de estímulo envolve o risco de criação de uma reserva de mercado ineficiente e cara. “Como nos tempos da Lei de Informática, nos anos 1970 e 1980”, observa. Pires avalia que a obrigatoriedade de conteúdo nacional nas encomendas pode levar os fornecedores a ditar o ritmo de exploração do pré-sal, enfraquecendo a posição da Petrobras. “Se a produção se atrasar por causa disso, o prejuízo será imenso. Estamos falando de centenas de milhares de barris diários. E prejuízo não é só o que você perde, mas também o que você deixa de ganhar.” Para Carlos Ferraz, da Petrobras, a empresa não corre o risco de ficar a reboque de fornecedores, sacrificando sua competitividade. “A Petrobras quer impulsionar a cadeia de fornecedores locais, mas não vamos fazer isso a qualquer preço”, afirma. “A Petrobras já sofreu com atrasos em encomendas no exterior e com problemas de qualidade também”, contrapõe André Lincoln, diretor da IWC Engenharia. “A P-37, importada de Cingapura, ficou cinco meses parada para sofrer adaptações, e a P-36 chegou ao país sem estar concluída”, observa. “Além disso, as empresas instaladas no Brasil são fiscalizadas de perto e com muito mais rigor do que as estrangeiras, o que, no fim, representa mais um custo para as empresas locais”, acrescenta Lincoln.
40%
dos componentes essenciais à exploração do pré-sal não têm produção no país
CRÍTICAS Apesar da iniciativa, alguns economistas acreditam que os persistentes desequilíbrios no cenário brasileiro podem prejudicar o sucesso da política industrial aplicada ao setor de petróleo. Para o economista Reinaldo Gonçalves, da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o desalinho macroeconômico distorce
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NEGÓCIOS Energia
Fator estratégico GAS NATURAL FENOSA APOSTA NA CONVERGÊNCIA ENERGÉTICA PARA SE TRANSFORMAR EM REFERÊNCIA NA AMÉRICA LATINA – E ALIVIAR A SITUAÇÃO NA ESPANHA
m dos principais assuntos tratados pelos executivos da espanhola Gas Natural enquanto preparavam a Oferta Pública de Ações (OPA) pela rival Unión Fenosa era o que fariam com os nomes das companhias. Isso foi em 2008, época em que a distribuidora de gás natural buscava comprar uma das maiores empresas de geração e distribuição de energia do país, com forte presença na América Latina. Ainda que se tratasse de duas empresas de energia, cuja integração poderia ser facilmente entendida pelo merca-
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do e pelos consumidores, os executivos não queriam perder o aporte centenário das duas marcas. “Não tomamos nenhuma decisão: as duas companhias têm marcas fortes, e não temos nenhuma pressa para que deixem de existir”, disse, em março de 2008, Rafael Villaseca, presidente da empresa, dias antes de a OPA se concretizar. O que aconteceu depois já é conhecido: logo após a fusão efetiva, em setembro de 2009, buscou-se contentar a todos, e a nova empresa foi batizada de Gas Natural Fenosa (GNF). Os execu-
tivos da companhia concordaram que o nome facilitaria a memorização, “portanto, vamos nos acostumando”, disse Sergio Aranda, o espanhol que comanda as operações da GNF na América Latina. “Somos um dos poucos grupos que são fortes tanto em gás quanto em eletricidade, o que nos dá singularidade. E não devemos perder isso.” De fato, depois de mais de um ano da fusão, a empresa continua sendo conhecida tanto por Gas Natural quanto por Unión Fenosa nos países latinoamericanos onde está presente, depen-
Fotos: iStockphoto
FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO
dendo de qual tenha sido a companhia que iniciou as operações – um obstáculo que impede muitos de perceber as dimensões que alcançou o grupo espanhol com a fusão na América Latina. Grande parte de seu potencial passa despercebido por estes lados. A GNF soma mais de 10 milhões de clientes entre energia elétrica e gás natural e uma série de plantas de geração elétrica, presente nos quatro maiores países – Brasil, México, Colômbia e Argentina – e com importante presença em outros seis. Nos nove primeiros meses deste ano, a receita da GNF chegou a 4,3 bilhões de euros, um crescimento de 28,4% na comparação com 2009, uma solidez operacional que supera muito a de seu mercado doméstico. O mercado de capitais tem sido duro com a GNF nos últimos anos. Parte disso se explica pelos sérios problemas que as empresas de energia elétrica têm enfrentado com as suas administrações. O ponto central é a maneira como são fixadas as tarifas de energia na Espanha. “A situação regulatória na Espanha é insustentável”, diz um relatório elaborado pelo grupo Santander sobre a Iberdrola, a Endesa e a Gas Natural Fenosa. Segundo o documento, o grande problema é o déficit tarifário, gerado porque os preços pagos pela luz deveria subir 42% em três anos”, dizem os analistas do Santander. “Se o governo não fizer isso, os investidores ou os tribunais farão.” Além disso, a GNF tem seus próprios problemas judiciais, que afetam seu negócio, principalmente na área de distribuição de gás. Um processo arbitrário fez com que a empresa pagasse mais de 1,5 bilhão de euros à Sonatracah, uma produtora de gás da Argélia com a qual a GNF fechou acordos de fornecimento de longo prazo e que aumentou, retroativamente, em 30% as tarifas do gás vendido desde 2007. Ainda que a GNF não considere a causa definitiva – uma posição apoiada momentaneamente em medidas cautelares aplicadas pelo Tribunal Federal da Suíça –, a companhia estima que poderia
significar um efeito de, no máximo, 450 milhões no faturamento líquido de 2010 e de 400 milhões de euros no Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) de 2012. “Os resultados da GNF têm sido moderadamente inferiores às nossas previsões, mas o comportamento dos negócios na América Latina é impressionante”, diz Iñigo Vega, chefe de análise da corretora Iberian Equities, em Madri. Os executivos da empresa concordam. “A situação na América Latina é muito positiva, olhamos a região com muito otimismo”, diz Aranda, que veio da Gas Natural. “Os países em que temos maior presença, como Brasil e Colômbia, têm contornado a crise de maneira muito rápida e, nesse momento, estão crescendo com força, o que faz com que o consumo de energia também aumente for temente”. A evidência mais importante desse otimismo pode ser vista no Ebitda. Enquanto nos primeiros nove meses de 2010 o Ebitda consolidado da GNF teve alta de 2,5%, na América Latina, a expansão chegou a 20,8%, graças ao resultado histórico de 965 milhões de euros. Em 2010, a região representará cerca de 28% do Ebitda gerado por todo o grupo – em 2009, a participação era de 23%. Grande parte disso se deve ao fato de que as atividades de integração foram mínimas na América Latina, pois somente na Colômbia coexistiam grandes operações da Gas Natural e da Fenosa. O foco esteve mais em crescer do que em se integrar. O câmbio também ajudou. As moedas das grandes economias latino-americanas valorizaram-se
cerca de 10% frente ao euro no último ano, o que beneficia os balanços regionais. O crescimento do consumo e da atividade econômica também ajudou, impulsionando o consumo energético e a receita da companhia na região. O mercado que mais cresce é o da distribuição de gás, na medida em que não há muitos clientes que usem o gás natural nos territórios onde a empresa tem suas redes. No Rio de Janeiro, por exemplo, somente 50% deles contam com serviços de gás natural, fazendo com que o potencial de crescimento na mesma rede seja grande.
28,4%
foi a taxa de crescimento das receitas da GNF no ano, até setembro, na América Latina
A GNF responderá a esses resultados com um grande plano de investimentos para o quinquênio 2010-2014. “Estimávamos um plano de investimentos que, dependendo do cenário, poderia estar entre 2 e 3 bilhões de euros para a América Latina”, diz Aranda. “Mas o crescimento tem sido muito melhor que o previsto por nós e, por isso, estamos mais perto do melhor dos cenários.” O Brasil é o melhor exemplo: esperava-se uma alta de 4% no PIB em 2010, mas o país encerrará o ano com uma taxa próxima de 7%. “Isso significa muito consumo de energia”, afirma Sergio Aranda. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 21
NEGÓCIOS Montadoras
Mandarim
nos chassis
PRESENÇA MAIS PERCEPTÍVEL DE VEÍCULOS CHINESES NO BRASIL SINALIZA CONCORRÊNCIA FUTURA BASEADA NA EQUAÇÃO CUSTO/BENEFÍCIO ROSA SYMANSKI, DE SÃO PAULO
os últimos dois anos, o interesse de grandes montadoras chinesas pelo elástico mercado brasileiro de veículos tem sido associado, com frequência, ao estabelecimento de novas fábricas no país. Ao menos cinco fabricantes do gigante asiático teriam interesse em fincar raízes no Brasil, com linhas de produção locais, segundo fontes do setor. A onda chinesa, até aqui presente por meio das representações de empresas como JAC, Effa, BYD, Chana e Great Wall, colo-
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ca no horizonte a perspectiva de haver, no futuro, uma concorrência em novas bases de preço com os tradicionais players do mercado nacional, elevando o poder de escolha do consumidor. “O crescimento do Brasil torna o mercado atrativo. Existe uma nova classe C, com acesso a financiamentos, em um ambiente de estabilidade monetária”, observa Kevin Tang, diretor da Câmara de Comércio Brasil-China. A investida das montadoras chinesas é amparada por um plano costu-
rado pelo próprio governo chinês para elevar as exportações do setor. Segundo a Associação Chinesa dos Fabricantes de Veículos, a produção de carros na China chegou a 13,14 milhões de unidades no ano, até setembro, dividida em 9,9 milhões de automóveis e 3,2 milhões de veículos comerciais. “O avanço sobre 2009 é de 36%, o que equivale a quase cinco vezes a produção brasileira no mesmo período”, diz o consultor Julien Semple, da Carcon Automotive.
Fotos: Divulgação
LIFAN 620 É A APOSTA DA EFFA PARA O MERCADO BRASILEIRO
Apesar dos rumores recentes sobre a criação de novas fábricas, o que se tem de concreto até o momento é a chegada da Chery, que anunciou a construção de uma planta industrial em Jacareí, no interior de São Paulo, com capacidade para a produção de 150 mil a 170 mil carros por ano a partir de 2013. “No Brasil, a Chery aposta no modelo QQ, um compacto cujo preço deverá ser semelhante ao do Fiat Uno”, afirma Tang. Quem se apressou a erguer uma planta, na Zona Franca de Manaus, foi a Effa Motors, que representa as marcas chinesas Lifan e Hafei. Iniciada em 2008, a produção na região amazônica ainda não se mostrou promissora para a empresa, que produz localmente apenas 30 unidades por mês da picape Hafei, mesmo com os benefícios oferecidos. “Logisticamente, essa planta não é interessante para nós. Nossos alvos estão no Sul e, principalmente, no Sudeste, que poderá sediar uma fábrica nossa ainda no ano que vem, caso os nossos volumes de vendas atinjam as metas estabelecidas”, diz Clairto Acciarto, diretor Comercial da Effa Motors. No caso da marca Lifan – mode-
lo que lembra vagamente os sofisticados compactos britânicos Mini Cooper –, a opção foi a de erguer uma planta de montagem no vizinho Uruguai. “Montamos os carros no Uruguai e recebemos benefícios do Mercosul. Além do Brasil, ao qual destinamos 85% de nossa produção, nossos planos para essa planta incluem os mercados do México e do Chile”, explica o diretor Comercial da Effa Motors. No Brasil, a Lifan conta com 15 revendas, número que deve chegar a 30 até o final do ano. A própria Effa tem 66 revendas e pretende chegar a 90 até dezembro.
ESTRATÉGIA DE EXPANSÃO Outra grife chinesa, a JAC Motors, pretende abrir de uma tacada só um lote de 46 revendas, em março de 2011, em iniciativa inédita no mercado automotivo brasileiro. De acordo com fontes do setor, após a empreitada, o próximo passo para a montadora seria o de construir uma fábrica no
país, iniciativa negada com veemência pelo próprio idealizador do projeto, o empresário Sérgio Habib, ex-presidente da francesa Citröen no Brasil e representante oficial de marcas de alta sofisticação no mercado brasileiro, como Jaguar e Aston Martin. “Antes de abrir uma fábrica, precisamos trabalhar bem a distribuição. Temos o exemplo da Honda, que iniciou os negócios no Brasil em 1991, por meio de importação, e só optou por ter uma fábrica em 1999”, observa Habib. O empresário dá polimento ao negócio inspirado em números do setor. “São Paulo e a região do Grande ABC, somados, representam uma Argentina inteira em termos de demanda por carros. Juntando os mercados do Rio de Janeiro e de Florianópolis, chega-se a uma demanda que corresponde à chi-
ACIMA, A VERSÃO CABINE DUPLA DA PICAPE HAFEI. À DIREITA, O QQ, DA CHERY, QUE DEVE CONCORRER COMO O FIAT UNO
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NEGÓCIOS Montadoras Segundo ele, em 2002 o país já demonstrava um potencial de compra de carros com preços abaixo dos de modelos como Mille, Gol e Corsa. “Era possível atingir essa faixa da população, caso as montadoras colocassem no mercado carros com preços 25% inferiores aos valores de entrada na época. Esses modelos, que chamei de subcompactos, poderiam ocupar uma faixa de mercado muito grande, bem maior do que o esperado”, diz. “Infelizmente, isso não aconteceu. Pelo contrário, o preço médio dos carros subiu muito. Hoje, no Brasil, quando se compara o conteúdo corretamente, dá para perceber que os carros daqui são bem mais lena. E o bairro de Santo Amaro, na caros que nos Estados Unidos e na Euno início do novo século, destoava muiZona Sul de São Paulo, tem mais carropa”, observa. to do cenário atual, mas já apresentaros do que o Uruguai inteiro”, afirma Para a próxima década, Capellava grande potencial para crescimento. Habib, citando dados de emplacamenno acredita que as montadoras chi“Em abril de 2001, apresentei um estuto cedidos pelo Renavan e informações nesas continuarão a ter como priorido sobre os parâmetros macroeconôdos países do Cone Sul. dade o mercado interno, Antes de optar pela à frente das exportações. Os planos das montadoras chinesas JAC, Habib visitou mais de Por outro lado, em virtupara o Brasil 80 fábricas na China. Optou de da grande variedade de Estimativa Apostas para o Concorrentes Marca por trazer a marca ao Brasil opções e da capacidade de total de vendas* mercado nacional após ter se impressionado escolha reforçada, o anaJAC 35 mil J3 Palio e Gol Chery 30 mil QQ modelos populares com a capacidade de produlista aposta que o brasiLifan 320 Fiesta e Fox ção da montadora. “A estruleiro ficará mais exigenLifan 20 mil Lifan 620 Corolla, Civic e Vectra tura da JAC na China supete em termos de conteúdo. Hafei 10 mil picape Hafei ** ra grandes nomes do setor “Os carros produzidos no van Chana Star ** Chana 25 mil automotivo. É uma marca país deverão ser similavan Chana Utility ** que zela muito pela qualidares em tamanho, desemFontes: Montadoras citadas e Carcon Automotive *em 2011; **sem concorrentes no Brasil (modelo e faixa de preço) de”, afirma o empresário. O penho, consumo e segumodelo J3, destinado à prarança. Isso significa que o ça brasileira, concorrerá com Gol, Pacusto de produção e, finalmente, o premicos do Brasil, comparados aos dos lio, Punto, Fiesta e o novo Uno. “O ço de venda dos carros serão muito paEstados Unidos, do Japão e dos principreço será de R$ 37,9 mil. Mas o comrecidos”, prevê. pais países da Europa. Cheguei à conprador terá na mão um carro compleclusão, então, de que o Brasil tinha poto, com airbag, freios ABS, rodas de liga tencial para alcançar, até o final da leve, entre outros itens. Na prática, sedécada, um mercado interno rá possível comprar um J3 completo pede 4 milhões de carros por lo preço de um nacional ‘pelado’”, diz ano”, diz. Habib. O analista Corrado Capellano, da consultoria Creating Value, lembra que o mercado automotivo brasileiro,
ACIMA: O LIFAN 320, QUE DESEMBARCA NO BRASIL PARA DUELAR COM O FIESTA E O FOX. JÁ O J3 (AO LADO) CHEGARÁ AO CONSUMIDOR COM AIRBAG E ABS
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Russia
China
Korea
Hong Kong
India
Brazil
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NEGÓCIOS Audiovisual
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A INDÚSTRIA DE ANIMAÇÃO GRÁFICA PROSPERA NA AMÉRICA LATINA, E UMA NOVA GERAÇÃO DE LONGAS-METRAGENS E SÉRIES DE ANIMAÇÃO COMEÇA A GANHAR GRANDES AUDIÊNCIAS RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES, COM DAVID SANTA CRUZ, DA CIDADE DO MÉXICO
m ruído desperta Ana. A menina de 6 anos de idade se levanta da cama, sai do quarto frio e caminha pelo corredor de paredes brancas. Ela busca seu cachorro, mas encontra Bruno: um ser pequeno, calvo, de olhos grandes, orelhas pontiagudas e pele verde. A cena ocorre em um hospital psiquiátrico onde Ana está internada. As luzes nem bem acendem e os espectadores do Festival Internacional de Cinema de Morelia (México) aplaudem com entusiasmo. Com apenas cinco minutos para ver o novo filme de Carlos Carrera – ganhador da Palma de Ouro, em 1994, pelo curta de animação O Herói –, muitos já dizem que será o primeiro grande clássico da animação latino-americana. A região não produziu ainda um longametragem tão universal como A Viagem de Chihiro, do japonês Hayao Miyazaki, nem séries animadas memoráveis. A boa notícia é que as condições para chegar a esse patamar estão cada vez mais próximas. Na Argentina, no Brasil, no Chile e no México, centenas de empresas se dedicam e prosperam graças à indústria de animação gráfica. As escolas de cinema locais florescem, e os canais de televisão internacionais são receptivos aos novos produtos latino-americanos. Mas os obstáculos também são muitos. Ana é uma aposta forte (US$ 10 milhões), mas seu diretor critica “o poder absoluto” dos distribuidores. No México, segundo ele, as 26 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Fotos: 1 - iStockphoto com montagem de Janaína Diniz; 2 e 3 - Divulgação
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Fotos: Divulgação
ANA E SEU CRIADOR, O DIRETOR CARLOS CARRERA: PRIMEIRO CLÁSSICO DA ANIMAÇÃO LATINO-AMERICANA?
animações são submetidas a uma concorrência desleal com as produções de Hollywood. “O dono do cinema fica com 50% das entradas, o distribuidor, com 30% e o diretor recebe 20%”, diz Carlos Carrera. A televisão também não ajuda. “No Chile, nada os interessa, a menos que você seja filho do dono”, diz, com ironia, Tomás Welss, que acaba de concluir Paraíso Terreno, um curta com 20 minutos de duração e que levou dois anos para ser finalizado. O trabalho contou com a ajuda de 14 pessoas e US$ 40 mil de orçamento. Em busca de um produto diferenciado, vários projetos estão apostando na coprodução. Welss está preparando um longa-metragem “80%-90% brasileiro”, no polo de animação de Campinas, em São Paulo. Outro exemplo é o Selkirk, coproduzido pela chilena CineAnimadores, pela argentina Maíz Produtores, pela uruguaia Tournier Animation e pela espanhola Ibermedia, a um custo de US$ 1,4 milhão. Seu financiador é o uruguaio Walter Tournier, artista com longa experiência no uso do stop motion, técnica de animação quadro a quadro. A ideia de Tournier é a de que o filme possa estrear simultaneamente nos três países do Cone Sul, em julho de 2011, e conseguir, assim, uma massa crítica de espectadores. “Estamos pro-
duzindo mais para fora do que para dentro”, diz o realizador. A principal aposta televisiva é a do argentino Elias Hofman, presidente da Exim, com escritório central em Miami e sucursais em 15 países da região, que planeja realizar três séries para a televisão. A primeira é a Bondi Band (com 52 capítulos de 15 minutos), que já foi vendida para
2 anos foi o tempo investido no curta Paraíso Terreno, de 20 minutos de duração
México, Brasil e Austrália. Um segundo projeto “é uma série de 26 capítulos de 30 minutos cada, que deve ser feito em coprodução com o Chile e a Espanha”. Uma terceira começaria a ser produzida em 2012. “Dos 5 aos 11 anos, não há ofertas do tipo de animação que fazemos: existem o Power Rangers e o Pokemon, que são coisas diferentes”, diz Hofman. “A Argentina não pode competir com os países asiáticos em nível de produção, ou em disponibilidade de meios com os Estados Unidos. Mas há muito talento intelectual e uma boa relação de custos.” Scripts de primeiro nível e custos inferiores a 7 milhões de euros, o que custa uma série desse perfil na Europa, são parte do modelo da empresa, cuja experiência provém de ações como licenciamento, merchandising e eventos para terceiros. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 27
NEGÓCIOS Audiovisual CHAVES EM VERSÃO ANIMADA: BARATEAMENTO DE CUSTO TECNOLÓGICO INCENTIVA O SETOR
CUSTOS FAVORÁVEIS “Um terabyte de informação custavame, 11 anos atrás, US$ 650 mil. Hoje, tenho um disco de dois teras que me custou somente US$ 250”, diz o mexicano Fernando de Fuentes, fundador da Ánima Estudios, que produz (pelas mãos de Roberto Gómez Bolaños Jr.) a série animada Chaves. A redução dos custos também tem um beneficiário onipresente, mas que o público não chega a associar com a produção local. Trata-se do irmão mais novo das séries e dos longas-metragens animados: a animação gráfica ou o design de animação. São as animações que vemos em publicidade, identidade de canais e até em crédito de filmes. Todo gráfico que tenha movimento. “Com boas ideias, dá para fazer com um Mac dos mais potentes”, diz Laura Essayag, cabeça da Less +, estúdio argentino que trabalha para canais de arte europeus. “É um fenômeno estranho: grandes empresas mundiais escolhem trabalhar com estúdios muito pequenos”, acrescenta. Florencia Picco, vice-presidente de branding da Fox International Channels, tem a resposta para isso. “Há sete anos, já havia mais estúdios de animação gráfica na Argentina do que na Itália”, o que decorria tanto do desenvolvimento da TV a cabo na América 28 AméricaEconomia Dezembro, 2010
do Sul quanto da abundância de pessoal capacitado em Buenos Aires. Outro fator é a demanda inesgotável por animação gráfica. A maioria dos canais renova suas imagens a cada ano, e um pacote padronizado de 90 elementos gráficos animados pode custar até US$ 200 mil. A Fox tem 15 fornecedores na Argentina. “Nesse momento, temos trabalhos encomendados para quatro a cinco canais”, diz Florencia. “Não é tarefa fácil. Fazer o desenvolvimento desde o momento do contato com o fornecedor até a entrega leva, em média, três meses.” E a Fox não está sozinha. Companhias como MTVLT, HBO e Televisa sustentam esse mercado. E empresas de mais longe também. “Fizemos toda a padronização gráfica no formato HD da NatGeo para Hong Kong”, diz Laura. “A diferença de fuso horário era brutal, mas eles queriam que isso fosse feito por aqui.” Mas nem tudo o que brilha é ouro. “A hiperabundância também fez com
que o nível caísse um pouco. Além disso, todos elevaram os preços. Agora, os da Argentina não são tão competitivos”, afirma Florencia. No Chile, a indústria ainda é pequena, mas segue o mesmo modelo. “A oferta foi criada por pessoas que vieram com experiência dos Estados Unidos. O restante são estúdios pequenos, que fazem coisas muito boas”, diz o designer e animador Cristian Pasciani. Em sua opinião, o mercado cresce impulsionado pelos canais de TV e pelos grandes varejistas. Mas o perigo é o mesmo que na Argentina: “há muita gente que trabalha tão barato que não se preocupa com a qualidade”. Para Hugo Robles Lama, professor de animação digital em um instituto profissional de Santiago, o grande problema da animação no país é que se confunde alta produtividade com fazer as coisas de forma mais rápida e barata, graças ao acesso fácil à tecnologia. “Uma coisa são os programas que sequenciam as imagens, outra coisa são as pessoas.” Para que essa confusão não aconteça em seu filme, Carlos Carrera contratou, como diretor de arte para Ana, Marec Fritzinger, um veterano da animação, que trabalhou em longas como Meu Vilão Favorito (Universal) e vários filmes da Disney. Na Locoloco Film, produtora do filme na Cidade do México, Fritzinger orienta cerca de 30 pessoas da indústria mexicana de animação para comerciais e vídeos, mas ninguém jamais trabalhou em um longa-metragem. Isso marcará um antes e depois? Em dois anos saberemos.
250
dólares é o preço atual de um terabyte de informação, ante US$ 650 mil em 1999
NEGÓCIOS Máquinas
Safra garantida PEQUENOS AGRICULTORES SÃO BENEFICIADOS POR PROJETOS QUE SUBSIDIAM MAQUINÁRIO
m dos nichos tradicionalmente pouco atendidos, quando se trata do setor agrário brasileiro, a agricultura familiar ganha novo impulso com a criação de programas que estão fazendo deslanchar os negócios no campo. Atualmente, estão em vigor três iniciativas de auxílio à compra de maquinário, que se caracterizam por oferecer máquinas agrícolas com juros subsidiados e prazos alongados.
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Por outro lado, os três programas, batizados de Mais Alimentos, Pró-Trator e Trator Solidário, também estão representando um porto seguro em termos de novos negócios para as empresas de máquinas brasileiras, que se esmeram no desenvolvimento de novos produtos para atender os clientes. É o caso da AGCO, que detém as marcas Massey Ferguson e Valtra. O grupo concluiu que necessitava aprimo-
rar seu canal de comunicação, criando novas formas de se posicionar frente aos programas. “Fizemos adequações internas e treinamos pessoal para atender melhor o público-alvo dessas iniciativas”, explica Fabio Piltcher, diretor de Marketing da AGCO para a América do Sul. Segundo ele, com as mudanças, o pequeno agricultor tem acesso facilitado às particularidades de cada pro-
Fotos: Divulgação
ROSA SYMANSKI, DE SÃO PAULO
“Os programas foram o principal fator de emprego na empresa quando estourou a crise”, diz Amaral, da New Holland
jeto. “São programas que têm muitos procedimentos, como trâmites de crédito bancário. Então, procuramos nos adaptar a esses clientes, deixando-os a par das informações da forma mais sucinta possível”, diz o executivo. Outra grande participante dos programas de agricultura familiar, a fabricante de máquinas New Holland foi mais fundo na questão de estabelecer laços com os pequenos agricultores
e desenvolveu ações junto a eles. “Colocamos caravanas no campo, para as quais, inclusive, contamos com um caminhão específico. Começamos a atuar junto a associações de classe e fizemos parcerias com os sindicatos, a fim de esclarecermos o conteúdo dos programas”, revela Ediney Amaral, gerente Comercial da New Holland para a Região Sul. Fornecedora de tratores para os proDezembro, 2010 AméricaEconomia 31
NEGÓCIOS Máquinas gramas Trator Solidário, Mais Alimentos e Pró-Trator, a New Holland tem grandes razões para tratar com distinção o pequeno agricultor familiar. “Esses programas foram o principal fator de emprego na indústria no ano de 2008, quando estourou a crise mundial. Eles representam um grande programa social de manutenção de empregos”, reconhece Amaral. De acordo com o executivo, os tratores fabricados para atender os programas representaram 60% do volume total da empresa entre os anos de 2008 e 2009. “Hoje, com a retomada do mercado, os programas representam cerca de 35% do total de nossa produção industrial”, explica. Ele salienta ainda que não há registros de inadimplência desde a criação dos programas. “O que tivemos foram casos de atrasos de 30, 40 dias. Mas não houve nenhum caso de trator retirado”, diz. O grupo AGCO, por sua vez, teve, em 2010, 64% de sua produção de
tratores das marcas Massey Ferguson e Valtra absorvidos pelos programas Mais Alimentos e Pró-Trator. Somente a Massey Ferguson forneceu 4.146 tratores para os programas, enquanto a Valtra fabricou 2.092 tratores com a mesma finalidade. Ao todo, desde 2008, quando os programas entraram em vigor, a empresa já comercializou um total de 14.913 tratores para a agricultura familiar. “Os estados do Rio Grande do Sul e do Paraná foram os principais destinos desses tratores dentro dos programas”, revela Piltcher. O diretor de Marketing destaca o impacto dos projetos na vida dos pequenos produtores rurais. “Eles permitem que o pequeno agricultor produza mais alimentos e tenha condições de vida melhores por conta da mecanização”, aponta. Entre os demais agentes envolvidos no processo, como a indústria e os bancos, segundo ele, os programas também representaram uma grande revo-
O programa
Mais Alimentos já investiu
R$ 4,2 bilhões,
beneficiando mais de 100 mil famílias agricultoras
SETE DE CADA DEZ EMPREGOS NO CAMPO SÃO GERADOS PELA AGRICULTURA CAMPONESA
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lução. “Do ponto de vista da indústria, os programas são um grande negócio. Também conseguimos conscientizar os bancos privados e estaduais acerca da importância dessas iniciativas”, completa Piltcher. O executivo da AGCO concorda que os programas representaram um porto seguro para os negócios da empresa em 2008, ano marcado pela tormenta resultante da crise do subprime (ou hipotecas de risco) no mercado norte-americano. “Foram a saída para muitas empresas do setor de máquinas no final de 2008, quando houve uma crise aguda de crédito, e um impulso para que os negócios no setor deslanchassem em 2009, pois conseguimos alcançar um equilíbrio nos negócios, tanto na questão da manufatura quanto na manutenção de empregos”, reconhece.
HOMEM NO CAMPO Implantados tanto pelo governo federal, caso do Mais Alimentos, quanto por iniciativa de governos locais, a exemplo do Pró-Trator (São Paulo) e do Trator Solidário (Paraná), os programas estão ganhando ampla adesão dos pequenos agricultores. Segundo dados oficiais, desde sua criação, em 2008, o Mais Alimentos já investiu R$ 4,2 bilhões, benefician-
Entenda os programas
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MAIS ALIMENTOS O programa consiste em uma linha de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do governo federal, que libera até R$ 100 mil por família de agricultores, com juros de 2% ao ano, dez anos de prazo para pagamento e três de carência, para compra de máquinas e equipamentos. Contempla dez culturas agrícolas e outras atividades, como pecuária, avicultura e pesca.
PRÓ-TRATOR
TRATOR SOLIDÁRIO
Criado em 2008 pelo governo pau-
A iniciativa tem como grande agente financiador o Banco do
lista, oferece subsídio total dos ju-
Brasil, com recursos do Pronaf e garantia do Governo do Para-
ros, por meio do Fundo de Expan-
ná. Além do Banco do Brasil, que financia 90% das operações,
são do Agronegócio Paulista (Feap),
outros agentes, como BRDE (Banco Regional de Desenvolvi-
vinculado à Secretaria de Agricultu-
mento do Extremo Sul)/Sicredi (Sistema de Crédito Coopera-
ra e Abastecimento. Os objetivos do
tivo), Cresol (Cooperativas de Crédito Rural com Interação So-
programa, que oferece prazo para
lidária) e Agência de Fomento do Paraná, contribuem com os
pagamento de até cinco anos, com
financiamentos dos tratores. As taxas de juros variam de 2% a
três de carência, são os de melho-
5,5% ao ano, de acordo com a renda bruta anual da proprieda-
rar a produtividade, a competitivi-
de. Os agricultores com renda bruta anual de até R$ 110 mil são
dade e a qualidade dos produtos
avaliados para enquadramento dos juros. Os prazos de paga-
agropecuários, gerar oportunida-
mento têm limite de dez anos, com dois de carência. Além dos
des de emprego e renda para pe-
preços mais acessíveis das máquinas, o agricultor familiar tem
quenos e médios agricultores e ga-
acesso ao financiamento em equivalência-produto, cuja moeda
rantir o acesso ao Feap.
de conversão é o milho.
do mais de 100 mil famílias agricultoras do país. “Pelo programa, já foram comercializados aproximadamente 33 mil tratores, mil caminhões, além de equipamentos agrícolas diversos”, afirma Francisco Hercílio Matos, coordenador do Programa Mais Alimentos do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Os números da agricultura camponesa justificam a importância de se adotar programas de subsídio para a
mecanização do setor. O último censo agropecuário, divulgado em 2009 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), identificou que 70% dos alimentos consumidos pela população brasileira têm origem na agricultura familiar. Os dados também apontam que a agricultura camponesa mantém 12,3 milhões de pessoas ocupadas no campo, o que corresponde a 74,4% de todos os empregos gerados na área rural. Ao passo que o agrone-
gócio emprega 4,2 milhões de pessoas, apenas 25,3% dos postos de trabalho do setor. Os números indicam que sete de cada dez empregos no campo são gerados pela agricultura camponesa. “Manter o homem no campo é o grande objetivo estratégico do programa. Não só mantê-lo, mas mantê-lo com mais qualidade de vida, mais renda e melhores oportunidades para o agricultor e sua família”, ressalta o coordenador do Mais Alimentos. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 33
NEGÓCIOS Pneus
Novas fronteiras PIRELLI ANUNCIA CONSTRUÇÃO DE FÁBRICA NO MÉXICO E CONFIRMA INVESTIMENTO DE US$ 610 MILHÕES NA AMÉRICA LATINA ATÉ 2015
s notícias sobre a crescente violência no México não intimidaram a Pirelli, fabricante italiana de pneus com 20 unidades de produção distribuídas pelo mundo. A empresa programa investimento inicial de US$ 210 milhões para erguer uma fábrica na cidade mexicana de Silao, no estado de Guanajuato, onde pretende produzir 5 milhões de pneus de alta e ultra-alta performance para carros e veículos comerciais leves a partir de 2012. Em 2015, o investimento total pode alcançar a marca de US$ 250 milhões. O volume global confirmado para a América Latina no período é de US$ 610 milhões. Confiante, o chairman mundial do grupo, Marco Tronchetti Provera, diz que o México é parte de um mercado que cresce apoiado pela presença de grandes montadoras, como a Volkswagen. Ao todo, serão abertos 700 postos de emprego diretos e 300 indiretos. Toda a produção mexicana será direcionada ao abastecimento do mercado interno e da área de livre comércio do Nafta, integrada, além do México, por Estados Unidos e pelo Canadá. Hoje, essa fatia é atendida pelas cinco fábricas brasileiras – três delas localizadas em São Paulo (Campinas, Santo André e Sumaré), uma na Bahia (Feira de Santana) e outra no Rio Grande do Sul (Gravataí). A presença da multinacional italiana na América Latina completou cem anos em outubro. Além do Brasil, a empresa possui indústrias na Argenti-
A
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na e na Venezuela. Mesmo consolidada e, segundo Tronchetti, “líder absoluta”, a Pirelli incluiu a região no plano industrial para 2011-2013. Afinal, a América Latina é responsável por 40% da produção total da companhia.
No Brasil, a empresa produz 18 milhões de pneus de passeio por ano, o que equivale a 60% do faturamento da Pirelli na região. Por aqui, serão injetados US$ 300 milhões para aumentar a estrutura nos próximos três anos. A ampliação dos investimentos pretende suprir a falta do produto no mercado doméstico, uma consequência do aquecimento da demanda em meio ao cenário econômico favorável. O objetivo é crescer 30% no mercado de veículos de passeio e de comerciais leves até 2013, mesma meta para o segmento de ônibus e caminhões. Já os pneus usados em veículos agrícolas devem ter a fabricação ampliada em 20% no mesmo período. A Pirelli também produz cordas metálicas, usadas na carcaça de pneus para caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, que precisam de estrutura mais reforçada. Esse nicho de produção deve avançar 10% entre os anos de 2011 e 2013. Dessa vez, a Venezuela ficou fora do plano industrial para o triênio, porque já havia recebido aporte no período 2008-2011, quando a Pirelli investiu US$ 400 milhões em toda a América Latina. Já a Argentina receberá a quantia de US$ 100 milhões. Atualmente, o país fabrica 5 milhões de pneus de passeio, e o plano é atingir 6 milhões até 2013. PROVERA, CHAIRMAN DA PIRELLI: PRODUÇÃO MEXICANA ATENDERÁ A ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DO NAFTA
Foto: Giuseppe Aresu/Bloomberg/Getty Images
AINÁ VIETRO, DE SÃO PAULO
NEGÓCIOS Nokia
Smartphones LÍDER DE MERCADO, A NOKIA SE ESFORÇA PARA PERMANECER NO POSTO DIANTE DO CRESCIMENTO DE APPLE E RIM NA TELEFONIA INTELIGENTE PATRICIA ZVAIGHAFT, DA CIDADE DO MÉXICO
Q
uem se lembra do Nokia 1011? O primeiro celular da história com tecnologia digital tinha uma tela monocromática e pesava cerca de 500 gramas, cinco vezes mais que um telefone móvel hoje em dia. Muita coisa aconteceu desde novembro de 1992, mas a liderança da companhia continua incontestável. Com uma participação de mercado de 36,4% em 2009, segundo a consultoria Gartner, a Nokia tem se mantido muito acima de seus principais concorrentes: Samsung (17,2%) e LG (6,6%). Seu market share, porém, vai na contramão. A razão é, fundamentalmente, a arremetida da Apple e da Research in Motion (RIM), empresas focadas no mercado ultracool dos smartphones.
36 AméricaEconomia Dezembro, 2010
No terceiro trimestre de 2010, as vendas de telefones inteligentes cresceram 96% em relação ao mesmo período de 2009. Dos 417 milhões de celulares vendidos no mundo, 19,3% foram smartphones. Segundo a consultoria Strategy Analytics, no próximo ano, as vendas devem alcançar 350 milhões de unidades. Nesse cenário, a Apple e a RIM podem expandir de forma expressiva suas vendas anuais. “O mercado vai ficar mais dinâmico e competitivo”, diz Francisco Lorenzo, diretor geral da Nokia no México. A resposta da Nokia? “A estratégia número um é baixar os preços e, assim, massificar essa tecnologia”, revela Olivier Puech, vice-presidente da empresa para a América Latina.
Neste ano, a Nokia apostou em diversos lançamentos e prepara outros para 2011. O objetivo é o de se manter na liderança, embora Lorenzo reconheça que a tarefa não é simples. A empresa vende cerca de 260 mil telefones inteligentes por dia. No segundo trimestre deste ano, os smartphones representaram 22% do total de celulares vendidos pela companhia. Ainda que a venda por unidade tenha registrado uma alta de 3,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, a participação de mercado caiu de 36,7% para 28,2%, segundo a Gartner. Os smartphones têm deixado de ser monopólio dos executivos. Paola Soriano, do IDC, explica que “existem diferentes mercados, com diferentes necessidades”. Se antes o foco era o tráfego de voz, hoje, há um aumento na transmissão de dados. Segundo a consultoria comScore, 82,4% dos usuários de internet na América Latina acessam sites de redes sociais. O número é superior ao da média mundial, de 66,9%. Uma pesquisa da PricewaterhouseCoopers prevê que 39% das pessoas que
Foto: iStockphoto
para as massas
têm internet móvel hoje vão se conectar por meio de smartphones em 2014. Atualmente, esse índice é de 13%. A possibilidade de estar sempre conectado é a chave do sucesso dos telefones inteligentes. “De um lado, está o mercado profissional, conectado 24 horas por dia e que necessita de telefones mais caros”, diz Paola, do IDC. “Um segundo grupo são os telefones destinados ao contato social e ao envio de mensagens, e, outro, mais abaixo, voltado ao acesso multimídia e com custo menor.” Puech reconhece que o segundo grupo tem sido visto com mais atenção pela empresa. Esse é um segmento no qual a Apple e a RIM não estão apostando suas fichas por conta do preço. “Somos praticamente o único player que está mirando esse mercado”, diz. As expectativas da Nokia são boas. Depois do lançamento do C3 – celular que permite o acesso a redes sociais ao
preço médio de US$ 200 –, as vendas aceleraram no segundo semestre. De acordo com um estudo feito pela consultoria de pesquisa de mercado Datos Claro, a Nokia é próxima dos consumidores e lembrada espontaneamente nas redes sociais. Isso permite um “bom solo para trabalhar”, garante Natalia Gitelman, diretora da consultoria, com sede em Buenos Aires.
APOSTA NA DEMOCRATIZAÇÃO Mas, comparada a uma de suas principais concorrentes, está decaindo: enquanto a média global de proximidade com os consumidores da Apple chegou a 76% no segundo semestre de 2009, a Nokia alcançou 66%. “As pessoas valorizam muito a Apple”, aponta Gitelman, ressaltando que a empresa de Steve Jobs é considerada uma das marcas mais cool do planeta. Para fazer frente à concorrência, a Nokia trabalha duro para lançar, em
2011, um novo sistema operacional, o MeeGo. A plataforma, baseada no Linux, deverá simplificar e dar mais velocidade aos telefones. “Com isso, vamos lutar na parte alta da pirâmide”, antecipa Puech. Além disso, a empresa pretende reverter os números, já que, segundo relatório da Gartner, embora o sistema operacional Symbian, da Nokia, siga na liderança, com participação de 36,6%, registrou queda significativa em relação ao ano anterior, quando alcançou 44,6%. Já o Android, do Google, chegou ao segundo lugar e aumentou sua participação de mercado de 3,5%, no terceiro trimestre de 2009, para 25,5%, atualmente. Na parte alta da pirâmide, a Nokia também quer brigar com a RIM por uma vaga no setor corporativo, no qual a companhia tem cerca de 90% da carteira. “Queremos ser líderes do setor”, avisa Francisco Lorenzo.
Fotos: Fredy Uehara
movimentos
DURANTE O EVENTO, PERSONALIDADES COMO ANDRÉ ESTEVES (À ESQUERDA), JOSÉ PABLO REGENT (ACIMA), JONATHAN ORTMANS (À DIREITA) E NIZAN GUANAES (NO ALTO) FIZERAM SUAS APOSTAS PARA 2011
38 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Negócios
em debate
Idealizado pelo jornalista e publicitário João Doria Jr., o 1º Fórum de Empreendedores reuniu 110 dirigentes de algumas das principais empresas brasileiras e premiou as dez lideranças que se destacaram em 2010. O evento, que aconteceu entre os dias 19 e 21 de novembro, em Campos do Jordão (SP), mostrou o otimismo dos empresários diante do bom momento econômico do Brasil e das oportunidades na América Latina. O banqueiro André Esteves, CEO do BGT Pactual, vencedor do prêmio LIDE (Grupo de Líderes Empresariais) na categoria Empreendedor do Ano, deu o tom dos discursos. Ele disse que o país tem tudo para continuar crescendo e arriscou conselhos para a presidente eleita. “Mais disciplina fiscal, regra prudencial para o crédito ao consumidor, diminuição dos aportes do BNDES e redução simples e gradual de impostos ineficientes, como PIS/Cofins.” O presidente do Conselho da BR Foods e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, também falou sobre os desafios do próximo governo: “O Brasil tem um projeto nacional bem-sucedido, com desenvolvimentismo. E a solução dos problemas que afligem o país, como os juros altos, depende somente de nós. Mas a régua para as novas metas será a de 2010, e não mais a de 2002”. A apresentação mais aguardada do evento ficou por conta de Nizan Guanaes, presidente da Africa Propaganda e sócio da holding ABC. O publicitário começou dizendo que pretende colocar sua companhia entre os dez maiores conglomerados de comunicação e marketing do mundo. “É a década da América Latina. O momento é bom para os países que querem prosperar. Quando a maré sobe, sobe para todos os barcos.” Nizan também defendeu o empreendedorismo como principal arma contra a pobreza. Antes dele, André Esteves, do BGT Pactual, já havia dito que “empreender é gerar trabalho e renda”. Mas foi o convidado Jonathan Ortmans, coidealizador da Semana Global de Empreendedorismo, que deu o recado: “O empreendedor é um criador de emprego, e não um homem de negócio”. GIULIANO AGMONT, DE CAMPOS DO JORDÃO Dezembro, 2010 AméricaEconomia 39
movimentos
Luxo francês no Brasil O Brasil está no radar da rede francesa de hotéis de luxo Relais & Chateaux. Ao anunciar os resultados da empresa para 2010, o CEO da rede, Jaume Tàpies, revelou que a meta é a de chegar a cinco empreendimentos no país até o fim de 2011. Hoje, a companhia é dona de três: o Estrela D’Água, na Bahia, o Ponta dos Ganchos, em Santa Catarina, e o Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Embora não tenha revelado localização ou nomes, Tàpies deu pistas de onde a rede pode lançar âncora. “Fernando de Noronha é um lugar bonito.” A América Latina foi uma das regiões em que o Relais & Chateaux registrou maior crescimento em receita no ano de 2010: 10% na comparação com 2009, enquanto a média do grupo ficou em 8%. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
O governo peruano quer reduzir o déficit comercial com o Brasil – que registrou queda de 40% na comparação 2009/2008 – e aposta todas as suas fichas na Rodovia Interoceânica, cuja construção deve ser concluída ainda neste mês. “Hoje, as mercadorias levam quase um mês para ir do porto de Callao [Peru] ao de Santos. Isso porque precisam passar pelo Panamá, onde os contêineres ficam parados até sete dias. Nossa expectativa é a de que, com a estrada pronta, o trajeto passe a ser feito em 17 dias”, entusiasma-se Antonio Castillo, conselheiro econômico da embaixada do Peru no Brasil. Do lado peruano, os setores ligados a agricultura, pescados, sal e cimento devem ser os mais beneficiados. Já no Brasil, os de móveis, frango e carne podem conseguir as melhores oportunidades. O turismo também deve ser alavancado. O empresário peruano Julio César Ormeño, dono da Ormeño S.A., empresa de transporte de passageiros, é um dos que torcem por isso. Ele investiu US$ 2,5 milhões na aquisição de nove ônibus que farão a rota Lima–São Paulo uma vez por semana – percurso que vai levar cinco dias. “Será a maior rota internacional operada por nós tendo Lima como ponto de partida”, diz Ormeño. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
Brinde
com pisco
Fotos: 2 - Thiago Fantinatti; 3 - Divulgação
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Alternativa ao
etanol
O biobutanol é a menina dos olhos da Butamax – joint venture entre a British Petroleum (BP) e a DuPont – no desenvolvimento de tecnologias para substituir os combustíveis fósseis. O novo produto tem características parecidas com as do etanol e pode ser gerado a partir do milho, da canade-açúcar, do trigo ou da soja, segundo o CEO da empresa, Tim Potter. No Brasil, a tecnologia vem sendo desenvolvida a partir da cana-de-açúcar em um laboratório na cidade de Paulínia, no interior paulista. Outros laboratórios estão localizados em Hull, na Inglaterra, e em Delaware, nos Estados Unidos. Com foco nos mercados norte-americano, europeu e asiático, a expectativa é a de alcançar escala industrial em 2013 e chegar a uma produção anual 7,5 bilhões de litros de biobutanol até 2020. “Apesar de produzirmos 20% menos biobutanol, em relação ao etanol, com a mesma quantidade de cana-de-açúcar, temos uma capacidade energética 25% melhor. Isso resulta em uma diferença positiva de 5 pontos percentuais. Além disso, o retorno com o biobutanol é 30% maior”, defende Ricardo Vellutini, presidente da DuPont do Brasil. GRAZIELE DAL-BÓ, DE PAULÍNIA (SP)
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movimentos
MARATONA CORPORATIVA Os anos como maratonista foram essenciais para dar fôlego ao empresário Jorge Nitzan. Presidente da Aceco TI, desenvolvedora de data centers com faturamento previsto de R$ 310 milhões para este ano, ele tem visto os negócios da empresa se multiplicar nos últimos anos. A cada cinco dias, um data center é entregue, segundo o empresário. No Brasil e na América Latina, 400 já foram construídos. Com clientes no Brasil como TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Walmart e Itaú, além de atuação na Argentina, no Panamá, na Venezuela e no Chile, Nitzan acredita que a boa fase da empresa se deve basicamente a dois fatores. “Há uma dependência cada vez maior da tecnologia, e a economia, felizmente, está indo bem.” Um dos diferenciais defendidos pela Aceco são os esforços para aliar um setor altamente dependente de energia ao desenvolvimento sustentável. O projeto para a mineradora Collahuasi, no Chile, é um exemplo. “Escolhemos abrigar o data center no deserto do Atacama, pois eliminamos a necessidade de ar-condicionado, já que o ambiente externo é seco e frio. O que existem são trocadores de calor que utilizam o ar frio como fonte de refrigeração”, explica Nitzan. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
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Recuperação no
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Apesar do baixo ritmo de crescimento atual, o mercado de petroquímicos deve se recuperar no médio prazo no Brasil, de acordo com estudo da consultoria Frost & Sullivan. “O principal impulsionador é a alta disponibilidade de matéria-prima e de fontes alternativas, bem como os investimentos em refinarias”, avalia Jessica Antunes, analista da empresa. A pulverização da estrutura produtiva e as barreiras de entrada ao mercado são apontadas, por outro lado, como restrições para os próximos anos. No Brasil, a indústria petroquímica responde por 3,5% do PIB e ocupa a oitava posição no ranking mundial do setor. LUÍS EDUARDO LEAL, DE SÃO PAULO 42 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Fotos: 4 - Paulo Sergio Lopes; 5 - iStockphoto
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movimentos
Yuan latino-americano
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A explicação numérica é muito simples: a China tem 20% da população mundial, mas somente 1% das reservas de matérias-primas como petróleo e minérios. Por isso, as empresas chinesas estão protagonizando uma feroz campanha para assegurar fontes de abastecimento de commodities no mundo. “A América Latina é um destino prioritário”, diz o mexicano Rafael Valdez, da empresa de investimento SinoLatin Capital. Segundo a empresa, entre 2005 e 2009, a América Latina recebeu US$ 9,1 bilhões em investimento direto da China. Até outubro de 2010, foram recebidos US$ 7 bilhões. “A compra da argentina Brisas pela CNOOC e a aquisição da brasileira Statoil pela Sinochem estiveram entre as dez maiores compras de empresas chinesas no setor de óleo e gás em 2010”, afirma Valdez. FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO
natalina
O Natal de 2010 poderá entrar para a história. Pelo menos essa é a expectativa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) diante do cenário positivo, que aponta um crescimento de até 12% nas vendas na comparação com o mesmo período de 2009. “Os bons números registrados em datas festivas anteriores, como o Dia das Mães e o Dia dos Pais, mostram o que podemos esperar do Natal”, diz Roque Pellizzaro, presidente da entidade. “Some a isso o recorde no índice de confiança do consumidor, a menor taxa de desemprego da história do país, a maior oferta de crédito de todos os tempos e os valores de produtos de maior valor agregado, em queda em virtude do câmbio, e o resultado é a promessa de encerrar o ano com chave de ouro”, comemora. ROSA SYMANSKI, DE SÃO PAULO
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Fotos: 5 - Li Hong/ImageForum; 6 - iStockphoto
Abundância
FINANÇAS Gestão
As dores do
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parto
GRANDES FUSÕES, COMO AS CAPITANEADAS POR ITAÚ E SANTANDER, ENVOLVEM AJUSTES CULTURAIS E OPERACIONAIS COMPLEXOS E A LUTA POR MELHOR POSIÇÃO NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA LUÍS EDUARDO LEAL, DE SÃO PAULO
Foto: Divulgação
FABIO BARBOSA (À ESQUERDA), PRESIDENTE DO SANTANDER NO BRASIL, E EMILIO BOTÍN, CEO MUNDIAL DA EMPRESA, NO MOMENTO EM QUE O BANCO ELIMINA A MARCA REAL DEFINITIVAMENTE
vermelho sanguíneo das touradas parece ter virado a cor preferida de gravata entre funcionários de diversos níveis do Santander, com o desaparecimento, em novembro, do verde e amarelo do Real das fachadas das agências controladas pelo grupo espanhol no Brasil. O vermelho e a chama – símbolos da “paixão”, como resumiu Dom Emílio Botín, presidente mundial do Santander, em recente passagem pelo Brasil – são apenas os sinais mais exteriores de um gradual processo de ajustes operacionais e de adaptação de culturas corporativas que caracterizou, desde 2007, a incorporação do Real pelo banco do magnata cantábrico. “Nossa estratégia é clara: crescimento, crescimento e crescimento, sempre de forma sustentável. A perspectiva é a de que, em pouco mais de uma década, o Brasil passe a ser a quinta potência mundial”, afirmou Botín, minutos antes de acionar, no dia 4 de novembro, o botão vermelho que descerraria, de forma simbólica, a marca Santander em seis agências do Real em pontos diferentes do país. Hoje, o Brasil já é o mais importante entre os mercados nos quais o Santander atua: 25% dos lucros do grupo vêm do país, bem à frente dos 18% originados no Reino Unido, dos 17%, na Espanha, e de outros 17%, no restante da América Latina. “No Brasil, há uma combinação muito favorável de estabilidade macroeconômica, crescimento e inflação sob controle. Com a unificação, as perspectivas vão se multiplicar”, acrescentou Botín. “A marca Santander é potente e atrativa. Estamos sempre entre os três primeiros nos dez mercados que consideramos referência. Vamos ter um crescimento orgânico muito importante no Brasil”, concluiu. Aqui, o banco é o terceiro entre as instituições privadas – atrás de Itaú e Bradesco – e o quarto do ranking, se o Banco do Brasil for acrescentado à lista. “A expansão do crédito no país vem ocorrendo ao ritmo anual de 20%, nos últimos sete ou oito anos. É preciso ter uma base de capital forte para acompanhar esse ritmo de crescimento”, acrescentou o presidente do Santander no Brasil, Fabio Barbosa, na mesma ocasião simbólica. “Houve um processo gradual de integração, ao longo de dois anos. A marca, para nós, é mais que um nome e um logotipo – é uma maneira de fazer negócio. O Real não morreu. Na verdade, reencarnou na marca Santander”, disse Fernando Martins, vice-presidente executivo de Marca, Marketing e Comunicação Corporativa do Santander. “A integração é uma prática do dia a dia, que envolve mudança de atitudes e a incorporação do que é melhor em cada empresa.”
O
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 47 35
FINANÇAS Gestão
LINHA DO TEMPO 1998 – Compra do Banco Noroeste.
Santander 1982 – Chegada ao Brasil, com a abertura de um escritório de representação.
1997 – Primeira aquisição no país: Banco Geral do Comércio.
Fonte: Santander
O Santander tinha uma base tecnológica mais forte, estava bem posicionado em cartões de crédito e tinha uma gestão de procedimentos do dia a dia corporativo considerada mais eficiente do que a do Real. Por outro lado, ideias e iniciativas do Real foram aproveitadas, seja em missões de fundo, como a preocupação com a sustentabilidade socioambiental, ou em serviços típicos da atividade bancária, como o cheque especial com dez dias sem juros. “Esse produto não só foi aproveitado – o que muitos acreditavam que não seria –, como também foi aprimorado, com a possibilidade de parcelamento do saldo devedor”, diz Martins. Para Marcos Campomar, professor de Marketing da Universidade de São Paulo e da Fundação Instituto de Administração (FIA), quando a instituição resultante da fusão ou incorporação preserva os serviços ou atributos percebidos pelo consumidor como diferenciais da marca, não há qualquer tipo de prejuízo para o novo banco – pelo contrário. “É muito difícil medir o grau de fidelidade do consumidor. Mas a percepção sobre segurança e solidez, assim como a qualidade do atendimento, está na cabeça do cliente. Quando uma instituição maior absorve outra relativamente menor sem prejuízo da qualidade do serviço, é natural que o cliente perceba que o banco reforçou seus atributos de segurança, o que é positivo”, diz o professor, acrescentando que diversas grifes financeiras do passado desapareceram e o consumidor, hoje, mal se lembra de seus nomes.
O CASO ITAÚ UNIBANCO O desaparecimento de uma marca com 37 anos de presença no mercado brasileiro não foi um acontecimento isolado. Pouco antes, no final de outubro, o Itaú, agora o maior banco privado do país, concluía uma operação de guerra para con48 AméricaEconomia Dezembro, 2010
2000 – Ano divisor de águas, com as aquisições do Meridional e do Bozzano Simonsen e a vitória no leilão de privatização do Banespa, com oferta de R$ 7,5 bilhões.
2010 – Unificação de marcas no Brasil, com o desaparecimento do nome Real.
2007 – Novo salto, com a aquisição do banco holandês ABN Amro (controlador, no Brasil, do Real) pelo valor recorde de 71 bilhões de euros, em parceria com o Royal Bank of Scotland (RBS) e o Fortis.
verter mais de 1,2 mil agências do Unibanco em seus pontos de atendimento – um trabalho que mobilizou 150 construtoras. Ao longo da conversão, concentrada em seis meses, o banco conviveu com cerca de 500 obras simultâneas, que envolveram, no total, a entrega de 1,1 milhão de itens, a troca de 6 mil balcões de caixa, a instalação de 1,6 mil luminosos e de 8 mil estrelas nas fachadas das agências. Adaptações menos visíveis consumiram tempo ainda maior, como na área de tecnologia, na qual a integração dos sistemas resultou em capacidade de processamento 65% maior. “É algo pontual, mas o ritmo da integração foi tão acelerado que provocou um aumento das despesas acima das expectativas de mercado, o que chegou a impactar de forma negativa o preço das ações do Itaú Unibanco, após o anúncio dos resultados do trimestre”, explica Aloísio Lemos, analista do setor financeiro da Ágora Corretora. No Itaú, o critério para a integração não foi muito diferente do perseguido pelo Santander. Seguindo a filosofia de preservar as vantagens comparativas de cada instituição, executivos egressos do antigo Itaú permaneceram na direção do core business, o crédito, e em parte da área de corporate (atendimento a grandes empresas). Executivos originados do Unibanco passaram a controlar áreas e serviços mais específicos, como seguros, investimentos e private banking (atendimento a grandes clientes pessoas físicas). Áreas meio, como o jurídico, foram compartilhadas: ainda que a liderança tenha sido atribuída a uma ou a outra instituição, houve uma mescla de profissionais originados de ambos os bancos. Em algumas áreas muito regulamentadas, como a de investimentos, a adaptação foi mais fácil, por um lado, por haver certa padronização natural do perfil profissional e de procedimentos.
1925 – Fundação do Banco de Minas, que originaria o Real.
1973 – Surgimento da marca Real. 2003 – Compra do Sudameris. 1998 – Venda do Real para o holandês ABN Amro e compra do Bandepe.
2010 – Desaparecimento da marca comercial, com a absorção pelo Santander.
2007 – Com a venda do ABN Amro ao Santander, o banco passa a ser controlado pelos espanhóis.
2001 – Aquisição de outro banco estadual, o Paraiban.
Real
“Não é incomum que, em operações de fusão, as organiAtitude diferente, nesse ponto, teve o Itaú, que realizou zações se preocupem mais com questões financeiras ou tecum levantamento qualitativo com 16 mil funcionários panológicas do que com as de pessoal, o que pode gerar conflira compreender a percepção que o público interno tinha de tos”, observa a professora Tania Casado, coordenadora do ambas as instituições. “Procuramos entender a visão que os Programa de Desenvolvimento de Carreiras da Fundação funcionários tinham dos valores presentes e o que eles deseInstituto de Administração. “Há um grande esforço de conjavam para o futuro. Os do Unibanco tendiam a estar mais vergência da lógica de remuneração e de benefícios. Mas, focados em resultado – uma visão de curto prazo –, e os do no cotidiano, a qualidade e o ritmo da integração de cultuItaú, em performance, de longo prazo. O processo de comparas corporativas acabam detibilização leva algum tempo pendendo dos esforços dos propara ser concluído”, explica Presença do Itaú na América do Sul fissionais e executivos de cada Ricardo Marino, vice-presiPaís Participação de mercado (em ativos) Posição em cada país área. As organizações devedente de Pessoas do Itaú. riam se preocupar mais com o AméricaEconomia ouviu, Uruguai 14,5 % 2 alinhamento de culturas.” sob a condição de não reveNo caso de Santander e lar suas identidades, oito proParaguai 4 14,1 % Real, havia duas culturas inifissionais – de funcionários ciais distintas, uma de matriz especializados a executivos 8 3% Chile espanhola (centralizadora e graduados – das instituições hierárquica) e outra holandeenvolvidas nas operações ca16 Argentina 1,3 % sa (informal e refratária a dipitaneadas por Itaú e Santanferenciações) – o Real, desde der para compreender como 1998, era controlado pelo ABN ocorre, na prática, o ajuste das Dados gerais para os quatro países: Amro. “Fusões nunca são proculturas corporativas. Apesar Clientes: 1,117 milhão Agências: 211 Funcionários: 5 mil cessos fáceis. Existe uma tende a retórica tender a reforçar Ativos: US$ 11,5 bilhões dência de as pessoas ficarem sinergias, no cotidiano, o proFonte: Bancos Centrais presas ao que já fizeram. Por iscesso envolve incertezas e also, não tivemos a preocupação de fazer um assessment [avaliagumas frustrações, mas também potencial de crescimento ção] de qual era a cultura original de uma instituição e de oupara os que ficam e aprendem com o processo. Embora o nútra. O princípio foi o de olhar para frente, para que algo novo mero de funcionários tenha ficado praticamente estável após surgisse, processo em que a capacidade de adaptação de cada ambas as fusões (52 mil, no caso do Santander/Real, e 106 indivíduo é fundamental”, diz a vice-presidente de Recursos mil, do Itaú/Unibanco), o processo significou um grande esHumanos do Santander, Lílian Guimarães. forço de adaptação, inclusive a novas funções e colegas. 0
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FINANÇAS Gestão
50 AméricaEconomia Dezembro, 2010
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ROBERTO SETÚBAL (ACIMA), PRESIDENTE DO ITAÚ, E RICARDO MARINO, VICE-PRESIDENTE PARA A AMÉRICA LATINA: UNIÃO DE FORÇAS MIRANDO A INTERNACIONALIZAÇÃO
dizer que o pessoal do Unibanco seja necessariamente mais arrojado, e o do Itaú, mais conservador”, observa uma fonte. “É preciso delimitar bem palavras como ‘arrojado’ – os números costumam oferecer a melhor resposta”, acrescenta, com ironia. “O Itaú sempre foi mais low profile. É preciso ter cuidado para ver o que é marketing e o que é resultado. O Itaú era a instituição maior, mais capitalizada, tinha mais sucesso de mercado e, dessa forma, desde o começo, foi colocado que a marca Unibanco desapareceria. Foi muito bem planejado e organizado.”
HOLANDESES VERSUS ESPANHÓIS No Santander e no Real, a situação de fundo não foi muito diferente. “Quando veio a fusão, foi um período difícil, de transferência de uma matriz holandesa para outra, espanhola. Foi forte. Havia muito respeito, por parte da Holanda, ao trabalho desenvolvido no Brasil, o que se traduzia em um grau maior de autonomia”, observa um profissional egresso do Real. “A Espanha também tem grande respeito e interesse pela operação brasileira, mas o estilo espanhol é bem mais centralizador do que o holandês”, acrescenta. “A gente costuma dizer que é preciso a aprovação de dois chefes para tudo, o brasileiro e o espanhol. O espanhol muitas vezes se interessa por detalhes que não julgávamos que fossem interessá-lo. Agora, cada iniciativa precisa ser apresentada com
Fotos: 2 - Nelson Almeida/AFP; 3 - Morten Andersen/Bloomberg News
“O discurso era o de que as duas culturas eram semelhantes, o que não é verdade. Elas são diferentes mesmo. A saída foi tentar não misturá-las, mas sim observar área a área para preservar o que cada instituição fazia melhor”, indica um executivo egresso do Itaú. “Para ser mais rápido e eficiente, cada um ficou com um pedaço e teve liberdade para fazer o que fosse preciso, inclusive para mudar. Não conheço algo dessa dimensão que tenha sido feito no ritmo em que foi feito. E não poderia ser de outra forma: ou se faz de uma vez, ou a coisa não sai”, diz. “É preciso ver como as coisas evoluirão, dar o benefício da dúvida.” A opinião desse profissional não é unânime. Outros observadores acreditam que Itaú e Unibanco, mesmo tendo culturas corporativas distintas, buscaram uma espécie de síntese que resultasse na criação de algo novo. Esse choque de culturas envolve um processo de adaptação, não exatamente fácil, para os executivos dos dois bancos. “O Itaú era uma instituição maior que o Unibanco antes da fusão, o que ajuda a entender por que os executivos com 3 carreira naquele banco tendem a buscar o processo, a norma, a decisão colegiada, enquanto os do Unibanco se batem pela autonomia, pela iniciativa”, acrescenta outro profissional do mesmo grupo. “Não houve uma preservação do tipo ‘isso aqui é meu e isso é seu’, em função de interesses mesquinhos de se preservar o que era originalmente de uma instituição ou de outra.” Para essa fonte, os critérios foram os de buscar a eficiência e preservar a excelência no que cada instituição fazia melhor, sem esquecer que os objetivos da fusão são o ganho de escala e o aprimoramento de processos para que o banco esteja preparado para aproveitar oportunidades de crescimento além das fronteiras brasileiras. Opinião semelhante tem outro profissional, do Itaú, que considera que, se, por um lado, a fusão tornou o ambiente na instituição menos amigável e mais competitivo, por outro, arejou os ares no que diz respeito ao “conservadorismo” que caracterizava o banco antes da operação. “Na área em que trabalho, temos de ser mais rápidos agora, o que, por vezes, implica análises menos aprofundadas. Por outro lado, foi benéfico para quem era do Itaú, porque a cultura do banco era muito mais verticalizada, menos aberta à iniciativa individual”, diz. “Antes, qualquer movimento precisava ser submetido à avaliação da chefia imediata, independentemente da complexidade – era bastante amarrado. Agora, em assuntos mais simples, há uma autonomia maior, e incentivar a iniciativa é um fator de motivação.” Mas há quem defenda o modelo do “velho” Itaú. “O fato de o banco ter uma cultura mais hierarquizada, vertical, enquanto a do Unibanco era mais horizontalizada não quer
grande cuidado e argumentos detalhados – as justificativas têm de ser melhor embasadas para que os projetos sigam da melhor forma, adiante, com o consentimento da matriz.” Para esse profissional, a mudança é desafiadora. “Havia, no Real, uma tendência a reuniões intermináveis, em que se discutia tudo – um certo assembleísmo. Agora, as coisas são bem objetivas, as reuniões duram 20 minutos”, elogia. “O fato de ser um banco global, com ações negociadas inclusive no Brasil, ajuda a entender por que os procedimentos precisam ser padronizados e exigentes, o que, por vezes, resulta em certa restrição à iniciativa individual”, justifica um executivo egresso do Santander. Opinião similar tem outro profissional, do Itaú Unibanco: “As culturas dos dois bancos tendiam exageradamente para um lado, o da verticalização, ou para outro, mais horizontal. E no banco resultante, que tem por objetivo se transformar em uma instituição global, internacionalizada, é preciso encontrar um modelo em que o processo seja conciliável com a iniciativa. Essa solução de compromisso, no bom sentido, não é tão simples, nem tão rápida de ser alcançada no dia a dia.” Bancos globais, como HSBC, Citibank ou JPMorgan, não existem sem modelos de gestão internos muito rigorosos. “Também é verdade que, num banco global, as estruturas mais distantes dos centros de decisão não podem ficar totalmente amarradas, sem capacidade de iniciativa”, observa uma fonte. “Com o banco [Itaú] amadurecendo sua posição de liderança no mercado doméstico e a tendência de manutenção da queda das taxas de juros no Brasil no longo prazo, a perspectiva é de que, no futuro, a internacionalização seja uma necessidade estratégica.”
EXEMPLO QUE VEM DE CIMA Com tantas coisas em jogo, o exemplo dado pelo topo da corporação é observado com atenção em ambos os casos. No Santander, a permanência de Fabio Barbosa à frente da nova instituição foi reconfortante para profissionais egressos do Real. “Ele é uma liderança muito inspiradora, carismática”, diz uma fonte. Barbosa ainda mantém o hábito de realizar reuniões periodicamente, área por área, sem a presença dos diretores, para que os funcionários se sintam mais à vontade para conversar, inclusive sobre o que eventualmente não esteja caminhando bem. O presidente do Santander no Brasil tem também um blog, atualizado quinzenalmente, em que mantém os funcionários informados sobre o andamento de assuntos do interesse de todos. No Itaú, o rebaixamento das divisórias que separavam os funcionários começou pelo espaço ocupado pelo próprio controlador da instituição, Roberto Setúbal, que trocou uma ampla sala por um ambiente integrado ao dos vice-presidentes do grupo – o modelo foi uma das heranças deixadas pelo Unibanco, assim como algumas marcas que tinham boa aceitação, como Uniclass (atendimento foca-
SANTANDER E REAL: MARCOS DA UNIÃO MARÇO DE 2009 - Integração dos sistemas tecnológicos de ambas as bandeiras. A tecnologia do Santander, mais avançada, foi um dos grandes ganhos de qualidade para o Real. O grupo forma uma rede conjunta de 6,5 mil agências e 18 mil caixas eletrônicos.
ABRIL DE 2009 - Real é incorporado juridicamente pelo Santander, ambos passam a ser uma empresa única. AGOSTO DE 2009 - Dentro da estratégia de assimilar o que havia de melhor em cada banco, Santander passa a oferecer uma inovação mercadológica do antigo Real – o cheque especial com dez dias sem juros, corridos ou alternados, pelo período de um mês, com opção de parcelamento do empréstimo em até três anos. OUTUBRO DE 2009 - Santander faz oferta inicial de ações (IPO, em inglês) no mercado brasileiro, pela qual capta R$ 14 bilhões, a maior operação do gênero em um ano marcado pelo ritmo lento da economia global.
DEZEMBRO DE 2009 - Em prosseguimento à estratégia de preservar o melhor dos dois mundos, Santander adota o modelo desenvolvido pelo Real para os clientes de alta renda, com os serviços Van Gogh. JANEIRO DE 2010 - Em um setor em que os espanhóis detinham vantagens comparativas, o de cartões de crédito, é feita a transferência da base de 4,3 milhões de cartões do Real para o Santander. MARÇO DE 2010 - Ingresso no mercado de credenciamento, processamento e captura de transações feitas por cartões de crédito ou débito.
NOVEMBRO DE 2010 - Unificação das marcas, com o desaparecimento do nome Real das fachadas das agências. Até 2013, o Santander pretende ampliar a rede com a abertura de 600 novos pontos de atendimento no Brasil. Fonte: Santander
do em clientes de renda mais elevada) e o conceito 30 horas (seis horas de atendimento na agência mais 24 na internet). Agora, tanto Setúbal quanto Pedro Moreira Salles, do Unibanco, despacham ao lado dos dez vice-presidentes do banco em um espaço conjunto – antes da fusão, eram 20 os executivos que se reportavam diretamente à presidência. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 51
FINANÇAS Gestão MARCOS DA FUSÃO Março de 2009 – A maior parte das estruturas do banco é integrada, incluindo tesouraria e gestão de investimentos para a alta renda.
Itaú + Unibanco Novembro de 2008 – no dia 3, os dois bancos anunciam a decisão de unir forças.
Fonte: Itaú
Outubro de 2010 – Conclusão dos processos de migração das agências do Unibanco para o Itaú.
Dezembro de 2008 – As duas instituições estabelecem o desenho estrutural e funcional do banco. Os controladores definem os nomes para o Comitê Executivo da nova instituição. Dos 20 vice-presidentes, ficariam 10, e dos 160 diretores, 100, no desenho final.
Derrubar paredes foi uma das iniciativas para estimular a integração, seguida em toda a empresa. “Agora, trabalhamos muito próximos uns dos outros, parece que você está no Big Brother, exposto o tempo todo”, observa um profissional, de outra área. Com a estrutura reforçada, em quantidade e qualificação, é natural que haja também uma especialização maior de funções. “O desafio é conseguir extrair o máximo de uma área de atuação mais circunscrita, sem perder de vista o quadro geral de operação do banco. Em um quadro de maior especialização, a tendência natural é a de haver uma acomodação ao raio mais restrito de atuação, o que é uma armadilha”, avalia uma fonte egressa do Unibanco. “Quando a oportunidade aparecer, os que estarão melhor posicionados para aproveitá-la serão os profissionais que não tiverem descuidado da especialização, mas que, ao mesmo tempo, preservarem o interesse pelo todo. É um desafio individual, e só cada profissional pode dar uma resposta apropriada.”
POSIÇÃO ESTRATÉGICA Nas duas situações, tanto Itaú quanto Santander emergem melhor posicionados, seja para reforçar a participação que já têm no mercado brasileiro, seja para amplificar suas perspectivas como instituições de perfil global – em construção, no Itaú, e uma realidade, no caso do Santander. De acordo com o ranking global da consultoria Interbrand, o Santander ocupa hoje a 68ª posição entre as marcas mais valiosas do mundo. “Para uma marca ser considerada global, precisa ter ao menos 30% de seu faturamento fora do país de origem, estar presente em ao menos três continentes e ser bem conhecida por pessoas que não atuem profissionalmente em sua área”, explica Alejandro Pinedo, diretor geral da Interbrand no Brasil. Hoje, nenhuma empresa brasileira ou latino-americana 52 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Novembro de 2010 – O banco se concentra no desenvolvimento da nova cultura corporativa. Na parte operacional, os próximos passos incluem a baixa das carteiras do Unibanco e a desativação dos sistemas correspondentes, processo que deve ser concluído até dezembro de 2011.
está presente nesse ranking das marcas mais valiosas – a Petrobras deve ser a primeira a ingressar, avalia Pinedo. No Brasil e na América Latina, apesar de ser uma empresa menor e possivelmente menos conhecida que a Petrobras, a marca Itaú foi considerada a mais valiosa pelos critérios da Interbrand. “Geração de caixa é importante, mas há outras questões, inclusive subjetivas, como a percepção de marca e a intensidade com que está presente no dia a dia das pessoas, como é o caso do setor bancário na vida dos brasileiros”, diz Pinedo. Ao anunciar, em novembro de 2008, a decisão de unir forças, Itaú e Unibanco colocaram a internacionalização entre os objetivos estratégicos do novo banco. Mas esse objetivo não será perseguido a qualquer custo, segundo o vice-presidente do Itaú para a América Latina, Ricardo Marino. Na América Latina, pelo critério de ativos, o Itaú já é o segundo maior do Uruguai, o quarto do Paraguai, o oitavo do Chile e, em posição bem mais modesta, o 16º da Argentina. “Boas oportunidades de aquisição são sempre analisadas com atenção, mas o foco está no crescimento orgânico”, explica Marino. “Estamos ampliando o número de agências em mercados como o Uruguai e aprimorando os processos e a base tecnológica na Argentina. O Chile, por sua vez, tem mercado bancário bastante competitivo, com margens mais estreitas – e as instituições locais estão com múltiplos muito elevados”, diz o executivo, acrescentando que, no Paraguai, a meta é a de assumir a liderança do mercado nos próximos dois anos. “Ser o maior não é um objetivo por si, queremos ser sempre os melhores em todos os mercados em que atuamos.” Além da América Latina, o Itaú mantém operações ou escritórios de representação em países como Estados Unidos, Luxemburgo, Suíça, Emirados Árabes, Japão e China.
FINANÇAS Bancos
Foto: Ari Vicentini/Agência Estado/AE
GRAVAÇÃO DO TOPA TUDO POR DINHEIRO, EM 1991: PRODIGALIDADE EM CENA
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Quem quer
dinheiro?
EMPRÉSTIMO BILIONÁRIO AO PANAMERICANO LANÇA INCERTEZAS SOBRE O IMPÉRIO EMPRESARIAL CONSTRUÍDO AO LONGO DE DÉCADAS PELO APRESENTADOR SILVIO SANTOS LUÍS EDUARDO LEAL, COM ROSA SYMANSKI E GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
À
s vésperas de completar 80 anos no dia 12 de dezembro, o apresentador Silvio Santos, um dos mais longevos ícones da televisão brasileira, convive com a incerteza sobre o desfecho de um folhetim que, de alguma forma, o próprio empresário ajudou a criar: como saldar um empréstimo de R$ 2,5 bilhões para cobrir um rombo deixado pela má gestão no Banco PanAmericano, o braço financeiro do Grupo Silvio Santos. As dificuldades vieram à luz no dia 9 de novembro, e a solução emergencial foi providenciada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) – mecanismo mantido pelo sistema financeiro sem a participação do poder público. Como garantia, Silvio Santos empenhou todas as suas empresas. Isso não foi suficiente, porém, para salvar o cargo de Luiz Sebastião Sandoval, demitido após 40 anos no Grupo, 28 deles à frente da presidência. Em comunicado, o Grupo SS anunciou também que processará os ex-diretores executivos do Panamericano e a Deloitte – empresa de auditoria externa contratada para fazer a revisão dos demonstrativos financeiros do banco –, acusada de não ter auditado corretamente as contas. “As falhas no PanAmericano ain-
da são obscuras. A única conclusão, conforme indicado pelo Banco Central [BC], é a de que estamos diante de um caso isolado”, diz João Augusto Salles, analista da corretora Lopes Filho. Outros analistas do setor financeiro concordam que, embora bancos como Itaú e Bradesco tenham adquirido carteiras de crédito do PanAmericano, não se trata de um problema com potencial para gerar uma crise sistêmica. “O investidor estrangeiro pode ficar mais receoso, mas nada que afete drasticamente a economia brasileira”, avalia José Góes, consultor econômico da corretora WinTrade. Ele considera, contudo, que os fatos observados no banco de Silvio Santos podem despertar desconfianças, ainda que passageiras, sobre a saúde de outras instituições de menor porte. Os problemas no PanAmericano foram detectados pela fiscalização do BC, ao comparar a contabilização de carteiras vendidas pela instituição de Silvio Santos com os balanços dos
bancos que as adquiriam. Percebeuse então que essas carteiras eram irregularmente mantidas no balanço do PanAmericano, de forma que os fluxos de pagamento futuro a elas correspondentes eram usados pela instituição para alavancar novos empréstimos aos tomadores finais – no caso, os clientes do próprio banco. “Não sabemos direito quais são as instituições que estão vinculadas às carteiras do PanAmericano. É certo que os bancos afetados terão de ampliar seus provisionamentos – e isso terá efeito nos balanços”, diz Salles, da Lopes Filho. “Por enquanto, o que sabemos é o que a imprensa tem divulgado. Mas se trata de um episódio lamentável. Houve falhas ligadas à governança corporativa”, disse o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, em seminário da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (Amec) poucos dias após o estouro do escândalo. “Cumprir as formalidades não é o suficiente. O PanAmericano tem comitê de auditoria. Mas não bas-
2,7
bilhões de reais é o valor estimado pelo FGC para as empresas dadas como garantia
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 55
FINANÇAS Bancos ta apenas instalá-lo. É preciso conferir suas práticas e estar atento à frequência de suas reuniões”, acrescentou. Opinião semelhante tem o presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Gilberto Mifano, embora prefira não comentar o caso específico do PanAmericano. “Existem empresas que gostam de usar conceitos de governança corporativa para atrair investidores, embora, na prática, não tenham entendido o que significam os bons princípios de governança corporativa”, diz Mifano, ex-CEO da Bovespa. “A empresa pode ter comitê de auditoria, conselho fiscal, mas, sem a prática, as consequências aparecem de forma negativa – e veremos isso ainda outras vezes. É ruim e levanta, desnecessariamente, suspeitas sobre todo mundo.” Mifano acrescenta que o investidor precisa entender, de fato, quem são as pessoas que respondem pela gestão do negócio. “Quando se vê que o balanço é uma peça de ficção, ninguém pode se iludir com papéis, com organogramas, com declarações de princípios. Os investidores precisam entender que são as pessoas por trás de organogramas e declarações de princípios que fazem a diferença”, observa. No caso do PanAmericano, emergiram informações possivelmente pouco conhecidas do públi-
co, como o fato de que o agora ex-presidente do banco, Rafael Palladino, primo de Íris Abravanel (mulher de Silvio Santos), é formado em educação física e consultor imobiliário. No Grupo SS, eram mais de 40 os parentes de Silvio na folha de pagamentos. O fato de o apresentador e empresário ter colocado todo o seu patrimônio empresarial como garantia ao empréstimo do FGC, elogiado pelo dirigente do fundo, Gabriel Jorge Ferreira – ex-presidente da Federação Bra-
Após o estouro do escândalo, executivos da CEF, sócia minoritária, foram destacados para o PanAmericano sileira de Bancos (Febraban) –, como algo sem precedentes no setor, é visto com alguma ironia por outros observadores. “É evidente que essa era a única saída, já que o prestígio de Silvio Santos como banqueiro derivava de seu prestígio – e confiabilidade – como apresentador de televisão”, diz uma fonte do mercado. O PanAmericano atuava em segmentos como os de crédito consignado e de financiamento a automóveis usados, de forte apelo popular. E a imagem pública do apresentador que distribui dinheiro ao auditório reforçava a ideia de que, com
LULA E SILVIO, EM SETEMBRO: REUNIÃO PARA DISCUTIR DOAÇÃO AO TELETON OU AJUDA AO BANCO?
56 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Silvio Santos, tudo é possível e apenas o céu é o limite. O perfil da instituição talvez ajude a entender o interesse da Caixa Econômica Federal (CEF) em se associar ao negócio, no qual é detentora de 49% das ações com direito a voto, pelas quais pagou cerca de R$ 740 milhões em 2009, após auditoria contábil. Com o estouro do escândalo, a presidente da CEF, Maria Fernanda Ramos Coelho, passou a ocupar a presidência do Conselho de Administração
do PanAmericano, e cinco executivos do banco público (originalmente, apenas um ocupava diretoria na instituição de Silvio Santos) foram envolvidos diretamente na operação do negócio. Em setembro, antes da divulgação dos problemas, Silvio Santos esteve com o presidente Lula em Brasília, segundo o apresentador, para tratar de uma doação a um programa beneficente. Até o final de novembro, uma série de rumores, afirmações e desmentidos envolvia o futuro do Grupo SS em uma névoa espessa. Silvio Santos é percebido por pessoas próximas como alguém que alterna, conforme a conveniência, a pele de empresário e a de apresentador de auditório. Em entrevista à Folha de S. Paulo, demonstrou entendimento sobre o FGC, assim como fez confusão, provavelmente estudada, entre o nome do empresário Eike Batista – que circulou como eventual interessado na compra do SBT – e o da atriz Elke Maravilha, antiga colaboradora das tardes de domingo. Resta saber se o carisma e o jogo de cintura do apresentador Silvio Santos serão capazes de salvar o império construído pelo empresário Senor Abravanel, que, da origem humilde como camelô no centro do Rio, se transformou em um dos personagens mais conhecidos da vida brasileira.
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opinião
D
ilma foi eleita presidente do Brasil. Em períodos como esse, de mudança de mandato presidencial, é comum aparecerem artigos e análises na linha dos “desafios para o próximo governo”. Tentando não cair nesse lugar-comum, gostaria de focar um risco que parece relevante para os próximos quatro anos: a volta da inflação. Períodos eleitorais são, em geral, perigosos. Antes da eleição, o governo tem a tentação de expandir demais a economia para seduzir os eleitores “pelo bolso”. Após as eleições, ficam os compromissos de campanha que precisam ser atendidos para garantir que o apoio da época eleitoral se estenda para o governo eleito. No ciclo de 2010, no Brasil, não foi diferente. Comecemos pelo período pré-eleitoral. Nos dois últimos anos do governo Lula, ficou evidente a mudança de postura fiscal. As despesas totais do governo aumentaram diversas rubricas, chamando particularmente a atenção os gastos com a folha de pagamento e o financiamento subsidiado via BNDES. Da mesma forma, a política monetária conduzida pelo Banco Central, expandida agressivamente por cortes de juros no início de 2009, em resposta à crise mundial, foi revertida apenas parcialmente, em que pese o fato de a CAIO MEGALE é mestre em Economia pela PUC-Rio e sócio da Mauá Sekular Investimentos (megalecaio@gmail.com)
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maioria dos analistas econômicos projetar inflação acima da meta para 2010 e 2011. Passadas as eleições, começa a cobrança sobre a presidente por aqueles que a apoiaram na campanha. As centrais sindicais não admitem um reajuste do salário mínimo modesto, como seria a regra previamente estipulada pelo governo. As empreiteiras pressionam por obras de grande porte, algumas de utilidade duvidosa, como a do trem-bala. Os partidos da base de apoio pedem cargos em áreas com orçamento abundante. Os empresários pressionam pela continuidade do crédito barato e por um câmbio mais depreciado. Essa conta não fecha. Considerando a forte temperatura da demanda e as pressões inflacionárias provenientes da alta internacional dos preços das commodities, o governo deveria estar focado em apertar o cinto, como fez em 2003. Mas, desta vez, o desafio pode ser maior, paradoxalmente, porque a situação é melhor. É muito difícil convencer um sujeito a melhorar suas práticas alimentares, a menos que ele esteja à beira de um infarto (ou tenha sobrevivido a um). Especialmente para uma presidente que, provavelmente, não terá a popularidade “à prova de choque”, como era a de seu antecessor. O governo precisa ter em mente que o arrocho fiscal e monetário pode até minar sua popularidade temporariamente, mas a inflação alta, quando vem, a aniquila. O dragão está sendo cutucado, e com vara bem curta.
Ilustração: Samuel Casal
A inflação pode voltar?
DEBATES Mercado imobiliário
Há
riscos no
boom habitacional? SUPERAQUECIMENTO DO SETOR IMOBILIÁRIO EVOCA O FANTASMA DA BOLHA NORTE-AMERICANA, MAS ESPECIALISTAS GARANTEM QUE O CRESCIMENTO SUSTENTADO TEM TUDO PARA REDUZIR O DÉFICIT HISTÓRICO DE MORADIA NO BRASIL
Ilustração: iStockphoto
GIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO
64 AméricaEconomia Dezembro, 2010
A
expectativa de aumento do crédito, associada à queda das taxas de inadimplência, resulta em uma situação especial para o setor imobiliário no Brasil. Com condições macroeconômicas favoráveis e projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) acima de 7% em 2010 e em torno de 4,5% em 2011, motivado principalmente pelo aumento do emprego formal e da renda, o brasileiro parece estar diante de condições irresistíveis para a compra da casa própria. Mas a pergunta que alguns analistas já fazem em uníssono é: a euforia do setor imobiliário traz riscos para a economia? É evidente que ninguém está cogitando algo como a bolha imobiliária gerida durante anos nos Estados Unidos e que motivou a crise financeira mundial. Porém, a elevação explosiva dos preços e o surgimento de uma numerosa classe de mutuários com qualidade de crédito tida como baixa suscitam mais dúvidas do que certezas, assim como as pressões inflacionárias e as turbulências internacionais.
TÃO PERTO E TÃO LONGE Nunca foi tão fácil e ao mesmo tempo tão caro comprar um imóvel no Brasil como em 2010. Diante desse cenário, a dúvida que remanesce é se a especulação pode desencadear uma situação insustentável para o setor, com efeitos em cascata. Ou, então, se o país poderá, enfim, começar a sanar seu déficit habitacional, que hoje está em 7 milhões de domicílios. O presidente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), Luiz Antonio França, é categórico em afirmar que a expansão do setor tende a ser prolongada e sustentável, e que o crédito imobiliário é fator decisivo nesse processo. Contudo, o executivo observa que os empréstimos foram concedidos, até agora, quase totalmente com recursos das cadernetas de poupança e
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 65
DEBATES Mercado imobiliário
PROGRAMA HABITACIONAL “MINHA CASA MINHA VIDA”, CRIADO NO GOVERNO LULA, CONTRIBUI PARA A ALTA DEMANDA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO
do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). “Em dois ou três anos, essas reservas se esgotarão, e será preciso recorrer a novas fontes”, alerta. Como alternativa, ele sugere opções como o covered bonds (títulos de captação de recursos para financiamento imobiliário), que alcançaram grande êxito no exterior, ou sua versão local, ainda em análise, a Letras de Financiamento Imobiliário (LFIs). “De qualquer forma, não faltará crédito para 2 a habitação”. Para o presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), Sérgio Watanabe, a força de crescimento do setor imobiliário brasileiro advém de décadas de demanda reprimida, cuja curva só se inverteu em 2004. “Com a estabilidade e o crescimento econômico, a retomada foi brusca. Paralelamente, as ofertas no mercado de capitais permitiram que pouco mais de 20 empresas de setor captassem cerca de R$ 20 bilhões, o que colocou tanto imobiliárias quan-
to incorporadoras em um patamar econômico mais elevado”, lembra Watanabe. “Mais recentemente, com o inchaço da classe média e o lançamento do programa “Minha Casa, Minha Vida”, praticamente todas as grandes construtoras migraram para o mercado de imóveis populares, que deve continuar crescendo. Os subsídios a famílias com renda entre zero e três salários mínimos, que representam 70% da população sem moradia, fomentarão os negócios.”
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66 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Tanto otimismo de mercado tem seu fundamento. Os especialistas explicam que a oferta de crédito e a supervalorização imobiliária, duas coisas aparentemente conflitantes, são faces da mesma moeda, uma puxando a outra. Sustentada pelo bom momento da economia e impulsionado principalmente por tomadores de baixa renda, o setor parece mesmo atender bem cada uma das partes envolvidas: se, de um lado, a casa própria deixa de ser só um sonho para muitos, de outro, os investimentos têm sido garantia de retorno certo. E os riscos que poderiam atrapalhar um dos setores que mais crescem na economia brasileira também parecem ser calculados. Os números elásticos do setor imobiliário começam com um
Fotos: 2 - iStockphoto; 3 - Edson Silva/Folhapress
CARA OU COROA?
levantamento da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio. A Embraesp apurou que, na comparação entre os nove primeiros meses do ano passado e deste, um imóvel de dois dormitórios na Região Metropolitana de São Paulo, incluindo a capital, passou de R$ 144 mil para R$ 178 mil, em média, uma valorização de 23,61% (veja quadro). Não coincidentemente, é o tipo de imóvel focado pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”. A valorização dos imóveis não pode ser atribuída a um único fator. No caso de São Paulo, o principal conglomerado urbano do país, pesam muito a escassez de terrenos disponíveis e as restrições legais para novas construções, estipuladas pelo atual plano diretor do município. Mas o fôlego dos compradores também tem sido determinante. Famílias de baixa renda e a chamada “nova classe média”, economicamente revigoradas nos últimos anos, veem hoje a compra de uma casa como um projeto absolutamente realizável. É justamente sobre essa fatia da sociedade que se concentra quase a totalidade do déficit habitacional.
A sensação de confiança na economia, que dá ao comprador a certeza de que vai estar empregado para arcar com a dívida, também contribui para esse processo, conforme ressalta o diretor-presidente da Rodobens Negócios Imobiliários, Eduardo Gorayeb. “É um negócio de longa duração, em que os prazos chegam a 30 anos. O comprador precisa sentir a segurança de que vai ter salário para po-
“Os subsídios a famílias com renda entre zero e três salários mínimos, que representam 70% da população sem moradia, fomentarão os negócios”
MAIS CRÉDITO, MENOS INADIMPLÊNCIA Mas o que justifica tamanha movimentação a níveis praticamente irrisórios de inadimplência? Na avaliação de Marcel Solimeo, especialista em análise de crédito e economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, três fatores explicam esse fenômeno: “Primeiro, o dinheiro passa pelas mãos de mais gente: entre 2007 e 2009, nossa entidade consultou pelo menos 30 milhões de CPFs que nunca haviam sido levantados anteriormente. Segundo: os prazos de financiamento alongados, que deram fôlego ao consumidor. Terceiro: a massa salarial não parou de crescer, mesmo durante a crise [de 2008]”.
der pagar a dívida nesse tempo todo.” Em 2010, a Caixa Econômica Federal (CEF) prevê desembolsar até R$ 70 bilhões em crédito imobiliário, cerca de 50% mais do que o volume total de 2009 e 14 vezes superior aos R$ 5 bilhões de 2003. Hoje, mais de 5 mil negócios chegam a ser fechados por dia nas agências da CEF em todo o país. As mudanças na regulamentação do sistema também contam a favor do mercado imobiliário. “Para a segurança de quem vende, melhorou a questão da alienação fiduciária: se o imóvel não for pago, é possível retomá-lo mais rapidamente”, observa Laércio de Oliveira, presidente da unidade de Negócios e Serviços de Crédito da Serasa Experian para a América Latina. “Já para a segurança de quem compra, há mecanismos que evitam problemas como o da quebra da Encol [que aconteceu em 1997]. Agora existe uma segregação do empreendimento, de modo que uma eventual quebra não contamine toda a rede da empresa.
Valorização imobiliária
na Região Metropolitana de SP e Capital Tipo de imóvel
Área útil média (em m2)
Unidades construídas em 2010
Preço médio em 2010*
Preço médio em 2009*
Variação
1 dormitório
48
3.448
283.000
235.000
20,42%
2 dormitórios
54
23.081
178.000
144.000
23,61%
3 dormitórios
81,5
13.608
309.000
259.000
19,30%
4 dormitórios
163
3.189
870.500
765.000
Média Fonte: Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio
13,79% 19,28%
* valores correspondentes aos nove primeiros meses do ano
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 67
DEBATES Mercado imobiliário
Valorização imobiliária Em 2010, 20% dos imóveis financiados custam entre R$ 100 mil e R$ 130 mil. No ano passado, essa proporção era de 13%
VOLUME DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO
Brasil 2014* – 14,7% do PIB 2010* – 3,9% do PIB 2009 – 2,9% do PIB 2008 – 2,1% do PIB
EUA 2010* – 78% do PIB
Dinamarca 2010* – 100% do PIB * projeção Fonte: Ministério da Fazenda
2010 – R$ 152 bilhões* 2009 – R$ 137 bilhões 2005 – R$ 90,2 bilhões * projeção
VOLUME DE FINANCIAMENTOS
DÉFICIT HABITACIONAL NO BRASIL
2010 – R$ 47,69 bilhões** 2009 – R$ 47,05 bilhões 2005 – R$ 38,15 bilhões
7 milhões de moradias 90% concentrados nas famílias abaixo de 5 salários-mínimos 7% nas famílias entre 5 e 10 mínimos 3% nas famílias acima de 10 mínimos
** até o início de setembro Fontes: Sinduscon e CEF
Fonte: Ministério da Fazenda
Ou seja, se quebrar, tal empreendimento não vai ser incluído na massa falida.” O ânimo do setor se traduz nas palavras do diretor da área de Crédito Imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges. “O financiamento imobiliário tornou-se um produto extremamente confortável para se trabalhar. Não há especulação. Até 40% do valor total do negócio tem sido bancado com dinheiro da poupança. A pessoa compra porque realmente está realizando o sonho da casa própria”, diz. 68 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Fonte: Ministério da Fazenda
Entre as construtoras, as projeções também se mantêm em alta. Um levantamento da Ernst & Young e da Fundação Getulio Vargas aponta que cerca de 37 milhões de moradias deverão ser construídas no país no período de 2007 a 2030, um ritmo de 1,6 milhão de casas por ano. Anima também o fato de se ter uma margem muito grande a ser explorada. Em 2010, estima-se que o crédito imobiliário alcance 3,9% do PIB brasileiro. Para 2014, a previsão do Ministério da Fazenda é de que essa taxa
Ilustração: iStockphoto
PIB DA CONSTRUÇÃO CIVIL
20
bilhões de reais foram
captados no mercado de capitais pelas incorporadoras e imobiliárias
COMPROMETIMENTO DA RENDA FAMILIAR EM RELAÇÃO AO CRÉDITO IMOBILIÁRIO Brasil – 29,3% Itália – 72,1% Alemanha – 98,3% EUA – 131,6% Reino Unido – 181,4% Fonte: Ministério da Fazenda
atinja 14,7%. Ainda é pouco, porém, se comparado com países como os Estados Unidos (78%) e a Dinamarca (100%).
OS RISCOS DO SETOR Apesar do boom, há entre os investidores de imóveis um comportamento cauteloso. Os próprios bancos estão atentos para evitar calotes. Não por acaso, o que se observa é o aumento do crédito consignado, tanto de veículos quanto o imobiliário, justamente os que exigem algum tipo de garantia. “Is-
so indica maior cautela do setor financeiro e também que a concessão de crédito deve continuar crescendo, mas em percentuais menores”, afirma o economista Marcel Solimeo. O setor financeiro também fala na criação de regras prudenciais para o crédito ao consumidor, o que se traduz em benefícios ao mercado de bens imóveis. O banqueiro André Esteves, do BGT Pactual, defende que os tomadores migrem dos financiamentos de cartões de crédito e automóveis para os de habitação, o que daria mais consistências às operações no longo prazo. A inflação representa mais um risco a ser monitorado, na avaliação dos especialistas, sobretudo em uma economia superaquecida. “A inflação é o pior ‘imposto’ que pode incidir sobre as classes menos favorecidas”, avalia Laércio de Oliveira, da Serasa. “Mas ninguém hoje abre mão da estabilidade, e o governo precisa ser severo nesse assunto, sem flexibilizar demais.” Em um mundo globalizado, sobram ainda as turbulências do cenário externo. Embora imprevisíveis, os riscos parecem não assustar o setor. “O momento é favorável, não somos um mercado exportador. A grande entrada de dólares no país faz com que tenhamos uma oferta de dinheiro a taxas ainda mais competitivas. Além disso, com o dólar baixo, o setor imobiliário começa até a importar. Ou seja, eventuais prejuízos podem recair sobre a indústria nacional, não sobre os empreendedores”, comenta Eduardo Gorayeb, da Rodobens. Por fim, há a questão da contaminação por especulações. Na avaliação de Luiz Paulo Pompéia, diretor de Estudos Especiais da Embraesp, o que se vê hoje são distorções próprias de um mercado em alta, motivadas por oferta e procura. Ele reconhece que existem investidores ávidos por faturar mais do que o mercado oferece, mas lembra que também há problemas de liquidez. “Só se consegue vender quando baixam o preço”, diz. Na outra ponta, continua Pompéia, os incorporadores têm promovido brigas acirradas por terrenos, criando “leilões” e inflacionando regiões. “Claro que isso pode demorar, mas a tendência é a de que os preços se assentem.” É esperar para ver. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 69
DEBATES Europa
ILIZADAS, OMIAS FRAG TO: COM ECON CU ES TE DE EU FALA QUE RESSENTEM-SE NDA E FRANÇA PROBLEMAS ESPANHA, IRLA ANHA A SEUS EM AL DA A NÇ RE FE DI IN SUPOSTA
72 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Fotos: 1 - Erich Auerbach/Getty Images; 2 - iStockphoto
EILL : HT E KURT W RTOLD BREC NTÉNS, DE BE VI O ÊS SM TR LI S TA PI A DO DADES DO CA CENA DA ÓPER ÀS DESIGUAL EXCESSOS E CRÍTICA AOS
A ópera dos
três vinténs
AS TENTATIVAS DE RESGATE FINANCEIRO A COLOCAM EM CHEQUE A GOVERNANÇA CO C EUROPEIA E AS DIFERENÇAS DE INTERESSE EU E CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO C
T
odos os verões, a frente do cais do porto de Barcelona se enche de cruzeiros turísticos. Pr P Provenientes de todas as partes do m mundo, os visitantes buscam o sol do M Mediterrâneo, a arquitetura de Gaud a boa mesa e as agitadas noitadas dí, d capital catalã. Mas a crise euroda p foi sentida com força na última peia temporada. “Neste ano, chegaram menos ingleses e alemães, os turistas mais numerosos”, diz Valéria Gamboa, operadora de uma empresa de turismo chileno-francesa com sede em Barcelona. “Os que 1 vieram, passaram menos tempo e fizeram menos programas, como sair para comer ou festejar.” Não é de estranhar. Apesar de os regimes sociais absorverem o impacto da recessão sobre a demanda agregada, o velho continente tem sido vergado pela crise. Em 2009, o PIB consolidaad da zona do euro encolheu 4,2% dado p e, para este ano, espera-se um crescimen de apenas 1%, com alguns países mento m terreno negativo e outros, como a em Es Espanha, praticamente estagnados. “A crise econômica praticamente aca-
bou em termos de produção industrial e consumo”, acredita o economista alemão Hans Jäckel, do DZ Bank. “O que estamos vendo agora são as repercussões financeiras”, acrescenta. Entre maio e novembro de 2010, a instabilidade se instalou nos mercados, colocando em dúvida o futuro da união monetária e dos mecanismos de governabilidade do bloco. Para muitos analistas, o culpado tem nome e sobrenome: a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Em maio, ela se negou a ajudar a Grécia, mas, quando a crise 2 cresceu e passou a contaminar outros países, sugeriu criar um fundo de resgate de 110 bilhões de euros. “Não permitiremos que os contribuintes paguem todo o custo de uma futura crise”, defendeu Angela durante as tensas negociações para a criação de um programa de resgate permanente para os países quebrados. E não baixou o tom durante a reunião do G-20, em Seul, em meados de novembro. “Nem sempre pode-
mos explicar a nossos eleitores por que devem pagar no lugar daqueles que fazem dinheiro correndo riscos.” O problema é que esse tipo de declaração desperta o pior pesadelo dos mercados: o calote da dívida, o que levaria os investidores a enfrentar violentos desequilíbrios em seus balanços. Com essa perspectiva, os títulos públicos irlandeses e portugueses, países com elevadíssimo déficit fiscal e histórico de bolhas imobiliárias, foram castigados. Nas últimas décadas, a Irlanda foi sinônimo de êxito e um modelo a ser seguido por diversos países emergentes. Mas o antigo tigre celta já não ruge: a economia local recuou 7% em 2009, e os últimos números colocam o desemprego na elevada casa dos 15%. Por sorte, o humor segue como uma forte característica irlandesa. Fergal McCarthy, um artista de Dublin, construiu casas
CRUZEIRO ATRACA EM BARCELONA: TURISMO COM AUXÍLIO-DESEMPREGO
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 35
DEBATES Europa
PERFORMANCE ARTÍSTICA NO RIO LIFFEY, NA IRLANDA: BOLHA IMOBILIÁRIA ACENTUOU A CRISE ECONÔMICA LOCAL
verdes e hotéis vermelhos, ao estilo do jogo Banco Imobiliário, em grande escala, e atirou as obras no rio Liffey para simbolizar o fim de uma era de grande especulação imobiliária no país. O problema não é a viabilidade econômica, mas a incapacidade de um acordo entre os líderes europeus. As reiteradas divergências e negações por parte de governos e autoridades lembram uma ópera bufa. “Temos um conjunto restrito de políticas”, ressalta o economista Jérôme Creel, da Escola Superior de Comércio de Paris. “Por outro lado, Angela Merkel enfrenta problemas para gerir a crise e propor uma saída.” Para Mary Elise Sarotte, professora de relações internacionais da Universidade Southern California e autora do livro The Struggle to Create Post-Cold War Europe, a atual crise se deve, em grande parte, a falhas estruturais do Tratado de Maastricht, que fixou, em 1992, os fundamentos da união monetária. “A Europa compartilha uma moeda, mas não dinheiro”, aponta a especialista. “Constituir uma secretaria do Tesouro, como a dos Estados Unidos, teria requerido mais unidade política do que os líderes europeus [do início da década de 1990] queriam.” A professora menciona, além da falta de coordenação, critérios frouxos para admitir Estados mais fracos, como a Grécia, e o papel excessivo que se atribuiu aos mercados financeiros
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Suor e Lágrimas”. “Há um desassossego geral, em particular entre os jovens”, diz o economista José Curbelo, diretor do Instituto Basco de Competitividade. “É a geração mais bem educada da história da Espanha. Quando crianças, eles presenciaram dez anos de crescimento e, agora, chegam ao mercado de trabalho com o país em crise.” Com o mercado imobiliário paralisado, dezenas de milhares de imigrantes retornaram aos países de origem ou reduziram o volume de dinheiro que enviam para casa. As sequelas aparecem até em povoados do Equador e da Colômbia, que dependem desses euros. Segundo o Ministério do Trabalho e da Imigração, o número de latinoamericanos trabalhando legalmente na Espanha caiu nada menos de 17% em setembro. Na Colômbia, as remessas provenientes da Espanha recuaram 13% no primeiro semestre de 2010.
74 AméricaEconomia Dezembro, 2010
como mecanismos de ajuste. É certo que a Europa não está em recessão. Mas as perspectivas de curto e médio prazos são nebulosas. Para reduzir o déficit fiscal, equivalente hoje a 11,5% do PIB, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou um programa de corte de gastos da ordem de US$ 130 bilhões, o mais radical desde a Segunda Guerra Mundial. O plano pode custar meio milhão de empregos e reduzir drasticamente o alcance da seguridade social. Na Espanha, o chefe de governo José Luis Rodríguez Zapatero decidiu fazer algo semelhante: reduziu os salários dos funcionários e aumentou a idade de aposentadoria da população. Com uma taxa de desemprego na elevadíssima casa de 20%, especialmente em regiões como Valência, Andaluzia e Múrcia, e a cerrada oposição tanto da direita parlamentar quanto dos sindicatos de esquerda, o líder espanhol não tem espaço para vender a política do “Sangue,
TRABALHO E PRAZER Bem diferente é a situação da Alemanha, onde apenas 6,7% da força de trabalho está desempregada, e a produção de automóveis e de maqui-
Fotos: 3 - Fergal Mccarthy; 4 - Guenter Schiffmann/Bloomberg via Getty Images
Mobilidade da mão de obra na UE é menor do que em países como Austrália e Estados Unidos
nário pesado permanece intensa. “O aumento das exportações alemãs não tem ocorrido por conta da China, do Brasil ou de outros emergentes, mas por causa dos próprios europeus”, afirma Creel, da Escola Superior de Comércio de Paris. Entre as supostas armadilhas colocadas pelos alemães, estariam a de extrair benefícios de um euro mais fraco do que sua antiga moeda nacional, o Marco, e a de ter congelado os salários reais. “Nós exportamos muito, mesmo quando o euro estava em seu pico em relação ao dólar”, defende Jäckel, do DZ Bank. “Em todo caso, esperamos um crescimento razoável da demanda interna alemã e uma dependência menor das exportações como motor econômico.” O contraste entre a Alemanha e seus vizinhos ilustra as contradições
da zona do euro, não exatamente em termos políticos e financeiros, mas em cultura e produtividade. “Dienst ist Dienst, Schnapps ist Schnapps”, ensina um famoso provérbio alemão, cuja tradução aproximada seria “primeiro o trabalho, depois o prazer”. Na Espanha, ao contrário, não são raros os dias em que se pode ver um desempregado em férias com o dinheiro do auxíliodesemprego (conhecido localmente como “paro”), segundo Valéria Gamboa, operadora de turismo em Barcelona. Diante do contexto europeu, cabe a pergunta: por que os desempregados espanhóis ou gregos não buscam trabalho na Alemanha? Estudo da Comissão Europeia, realizado em 2008, apontou que apenas 1% da força de trabalho se movimenta de um país a outro da União Europeia, contra 2% na Austrália e 3% nos Estados Unidos. “Existem grandes diferenças de língua e cultura no interior da UE. São freios, especialmente para a mão de obra menos qualificada, nos países mais ricos”, diz Creel, de Paris. Se os desempregados não se movimentam dentro da União Europeia em busca de melhores oportunidades, o que fazem? Eles votam. Uma nova geração de partidos 4 de ultradireita está chegando aos parlamentos nacionais, infiltrando-se entre os tradicionais blocos de social-democratas e democratas-cristãos. O resultado são coalizões frágeis, como na Bélgica e na Holanda, e governos demonstrando dureza verbal e, inclusive, policial para com os estrangeiros. É o caso do presidente francês Nicolás
6,7%
é a taxa de desemprego na Alemanha, que tem se beneficiado da exportação de carros
Sarkozy: que, por um lado, reforma o sistema de pensões, por outro expulsa os ciganos.
ONDE ESTÁ A ALEMANHA? À erosão dos antigos consensos nacionais e à dificuldade em coordenar um número crescente de Estados com agendas distintas soma-se o crescente euroceticismo alemão. “No passado, a antiga Alemanha Ocidental foi um dos países mais interessados em impulsionar a integração europeia. Por isso, Angela Merkel atua de forma mais vacilante”, observa a professora Mary Elise Sarotte, dos Estados Unidos. O custo da reunificação – que levou a Alemanha a não cumprir as exigências de equilíbrio macroeconômico que ela própria ajudou a construir para a UE – resultou em uma potência mais introvertida, preocupada consigo, e com menos sintonia com os vizinhos, conforme demonstrado durante as crises grega e irlandesa. “Os problemas que causaram a crise ainda estão colocados, e levará mais tempo para serem resolvidos”, avalia Mary Elise. “Assim, a discussão está em saber se o Tratado de Maastricht deve ser revisto, e em que medida.” Um Fundo Monetário Europeu? Expulsão dos Estados caloteiros? Punição para os credores? Os líderes europeus têm este mês para chegar a um acordo que devolva a confiança aos mercados. A ideia é a de que o compromisso vigore a partir de 2013, data em que expira o fundo de 750 bilhões de euros criado em maio, mas que não aplacou as dúvidas pendentes sobre a moeda única – bilhões para que os europeus não perdessem seus postos de trabalho e seguissem consumindo. Enquanto isso, os navios de cruzeiro continuam a atracar em Barcelona, alguns repletos de visitantes. Mas, todos, turistas com a carteira mais apertada do que nunca. “Não coma nada que não esteja incluso ou free on board”, alerta a agente Valéria Gamboa. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 75
DEBATES Colômbia
O PRESIDENTE SANTOS: DISCURSO ALINHADO AO DE URIBE, MAS AS DECISÕES POLÍTICAS NEM TANTO
76 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Do tradicional
ao moderno
NOVO PRESIDENTE COLOMBIANO USA A LUA DE MEL COM O POVO PARA MARCAR AS DIFERENÇAS COM ÁLVARO URIBE JENNY CAROLINA GONZÁLEZ C., DE BOGOTÁ
tradicional bandeja com comidas típicas tornou-se coisa do passado para os cozinheiros da Casa de Nariño, o palácio presidencial da Colômbia. Agora, são servidos canapés, musses e frapês. Os funcionários também trocaram os antigos quadros do gabinete presidencial por outros, mais ao gosto do novo ocupante. As novidades estão diretamente relacionadas ao toque pessoal que o presidente Juan Manuel Santos, empossado no início de agosto, vem dando a seu governo. Atitude considerada surpreendente para alguém que chegou ao cargo com a promessa de ser a continuação de seu predecessor. Vale lembrar que Álvaro Uribe encerrou seu mandato com 80% de aprovação, algo crucial para os mais de 9 milhões de votos obtidos por Santos. “Ele foi inteligente, percebeu que não poderia se distanciar um milímetro de Uribe no discurso, mas, na prática, deve se afastar não apenas metros, mas quilômetros”, diz o professor de Ciências Humanas da Universidade Nacional da Colômbia, Fabian Sanabria. É notório que o estilo de caminhar de Santos é outro. No entanto, como observa a analista Marcela Prieto, do Instituto de Ciência Política, em Bogotá, o movimento é respeitoso. “É um político que sabe como se ganham as batalhas. Apesar da benção de Uribe, não significa que será um fantoche do ex-presidente”, observa.
Foto: Mary Altaffer/AP Photo
A
Um dos primeiros sinais do grito de independência do novo presidente foi a nomeação dos ministros. Santos escolheu não só diversos críticos reconhecidos de Uribe como também tecnocratas com certa independência em relação ao chefe de Estado. Já Uribe governou como um superministro, com funcionários low profile.
MUDANÇA DE HÁBITO Essa despersonalização do poder na figura presidencial estabeleceu um novo diálogo com o Poder Judiciário, com a oposição e até mesmo com os países vizinhos. “Há uma mudança significativa no que se refere a questões como a institucionalidade e o respeito ao equilíbrio de poderes, aos princípios da democracia liberal, à independência dos poderes e uma transformação na forma de recorrer aos mecanismos tradicionais da diplomacia”, diz a analista Marcela Prieto.
80% era a taxa de aprovação de Uribe ao final do mandato
Três dias depois de assumir o cargo, Santos recebeu Hugo Chávez e restabeleceu as relações diplomáticas com a Venezuela. Os vizinhos haviam cortado laços em julho, por causa de uma crise que, à época, se arrastava há quase um ano entre Chávez e Uribe. Como resultado imediato dessa ação, a Venezuela começou a saldar uma dívida que tem com os empresários colombianos no valor de US$ 664 milhões. O mesmo está sendo feito em relação ao equatoriano Rafael Correa, com quem o ex-presidente teve uma séria batalha. O encontro ainda não aconteceu, mas conselheiros trabalham com afinco para a normalização da situação entre as nações. “O país precisava dinamizar a agenda internacional e as relações com outros setores do poder público”, acredita Martha Lucía Ramírez, senadora do Partido Social da Unidade Nacional. A relação com os Estados Unidos também passa por mudanças, concretizadas por Barack Obama. A aposta é a de “desnarcortizar” a agenda, priorizando temas como educação, ciência e tecnologia, algo que, sem dúvida, afetará o papel que a Colômbia pode desempenhar na região, sobretudo como protagonista e unificadora entre a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e a Mesoamérica. “Algumas políticas centrais terão de passar por uma séria ruptura com os setores que estão no entorno do ex-presidente e que, certamente, não hesitarão em demonstrar poder”, diz o deputado Iván Cepeda, do partido de oposição Polo Democrático Alternativo. “É aí que veremos se o governo de Santos terá uma postura de futuro, de renovação e de reforma”, indaga. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 77
DEBATES Clima
1
Desafiando o
oráculo Maia
DAVID SANTA CRUZ, DA CIDADE DO MÉXICO
78 AméricaEconomia Dezembro, 2010
ONU (Organização das Nações Unidas) não poderia escolher melhor lugar para realizar – entre 29 de novembro e 10 de dezembro – sua Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP16): Cancún, no México. Foi nessa região que os maias, supostamente, previram “o fim do mundo” para 2012. Deixando de lado as teorias científicas e os roteiros de Hollywood, o certo é que Cancún corre o risco de desaparecer embaixo d’água, nas próximas décadas, por conta de anos de emissão de gases que causam o efeito estufa e, por consequência, o aquecimento global. Consciente de sua vulnerabilidade ambiental e dos efeitos que ela pode ter sobre a economia, o México tem levado a sério o desafio de enfrentar o problema. Segundo um relatório do Banco Mundial, o país é líder latino-americano quando o assunto é o combate ao aquecimento global.
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Fotos: 1 - Luis Lopez/FRE/WEA/Notimex; 2 - iStockphoto
CONSCIENTE DOS EFEITOS QUE O AQUECIMENTO GLOBAL PODE CAUSAR EM SUA ECONOMIA, O MÉXICO TEM LEVADO A SÉRIO O DESAFIO DE CONTORNAR O PROBLEMA
NO CAMINHO OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS JÁ SÃO VISÍVEIS NA ZONA COSTEIRA DO ESTADO DE TABASCO, NO GOLFO DO MÉXICO
Ron Dembo, fundador da Zerofootprint, empresa norte-americana especializada em reduzir as emissões de carbono, destaca que países como o México têm papel crucial nessa luta. “Eles podem implantar estratégias de redução das emissões com mais facilidade que os Estados Unidos, por exemplo, e impulsionar a mudança nas nações desenvolvidas”, diz. “Afinal, sem a participação da China e dos Estados Unidos, os maiores poluidores, não conseguiremos mitigar as emissões. Nações como o México devem mostrar que se trata de um negócio rentável”. O México é signatário tanto do Protocolo de Kioto quanto do Acordo de Copenhague, nos quais se comprometeu a reduzir suas emissões em 30%
Em setembro de 2010, o país reduziu suas emissões em 19,5 milhões de toneladas de CO2, 38,5% da meta fixada pelo governo para 2012, segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais. “Existem políticas e programas em diferentes etapas de desenvolvimento, vários deles incluídos em um recente estudo do Banco Mundial, que poderão ajudar a fazer do México um líder em mudanças climáticas”, diz Jake Schmidt, da ONG norte-americana Natural Resources Defense. “Segundo o Banco Mundial, caso adote 40 medidas-chaves, o México poderá estabilizar suas emissões aos níveis de 2008 e, inclusive, fazer economia.” A temperatura média do planeta aumentou 0,8ºC desde a época pré-industrial. Isso bastou para que o México perdesse, nos últimos 30 anos, 50 espécies de animais. Outras 40% estão ameaçadas de extinção. Segundo o WWF, 10% das aves, 25% dos ma-
30%
Para Walter Vergara, especialista em mudanças climáticas do Banco Mundial, a estrutura petrolífera do Golfo do México também estará seriamente ameaçada, caso o nível do mar se eleve e aumente a frequência de furacões, o que não é uma boa notícia para um país que depende consideravelmente do petróleo.
PERIGO E SOLUÇÃO Caso haja uma alta de 2ºC na temperatura da Terra, os corais da América Latina deverão desaparecer até 2070. O presidente mexicano Felipe Calderón já deu indícios de que usará políticas fortes para combater o problema. No final de setembro, ele recriminou publicamente os empresários do principal centro industrial do país, Monterrey, cidade severamente atingida pelo furacão Alex, em meados deste ano. “As mesmas pessoas que pediam ajuda urgente do governo federal para reconstruir essas avenidas reclamavam dos compromissos de redução das emissões assumidos pelo México porque precisavam continuar emitindo carbono para que suas indústrias ganhassem mais dinheiro”, disparou. Apesar do esforço para mitigar as emissões e limpar a matriz energética, o México condicionou suas metas 2 de redução de emissões ao apoio financeiro e à transferência de tecnologia dos países desenvolvidos. E tem colhido bons resultados. 2 Segundo Vergara, o Banco Mundial financiou, com a compra de bônus de carbono, uma planta que gera eletricidade a partir de gases provenientes dos aterros sanitários de Monterrey, o principal centro industrial do país, com capacidade de 17 megawatts. “Essa energia alimenta a rede de metrô da cidade e, à noite, atende à metade da demanda de iluminação da zona metropolitana. Tudo isso com lixo”, ressalta.
é a meta de redução das emissões de CO do México até o ano de 2030 até 2030 e 50% até 2050. Além disso, o governo elaborou um programa para reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa e incentivar o reflorestamento e a conversão energética (processo que transforma um tipo de energia em outro). “Trinta e cinco por cento das metas desse programa foram cumpridas”, afirma Vanessa Pérez-Cirera, diretora do Programa de Mudanças Climáticas do WWF México.
míferos e 30% dos anfíbios do país correm o risco de desaparecer nas próximas décadas. A organização ambiental também calcula que 15% do território mexicano, 68% de sua população e 71% de seu PIB têm grande possibilidade de sofrer impactos por conta das mudanças climáticas. As infraestruturas mais vulneráveis são as que estão na costa, nos vales inundados e nas montanhas.
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 79
DEBATES América Central RIO SAN JUAN, NA FRONTEIRA DA NICARÁGUA COM A COSTA RICA, O CENÁRIO DA DISPUTA
dois países. A Nicarágua decidiu limpar o canal para facilitar a navegação, mas o governo costarriquenho alegou que os trabalhos estariam afetando a margem sul do rio, pertencente ao país. A culpa seria da draga “Soberania” (adquirida pela Nicarágua com doações da Venezuela), que estava jogando o sedimento extraído do fundo do rio na ilha Calero, localizada na foz do rio San Juan e disputada há séculos pelos dois países. A Costa Rica denunciou que soldados nicaraguenses teriam entrado em seu território, o que a levou, dias depois, a recorrer à Organização dos Estados Americanos (OEA). A Nicarágua justificou a presença militar como parte de operações anti-
NICARÁGUA E COSTA RICA QUASE CHEGAM ÀS VIAS DE FATO POR UM TRECHO REMOTO DE FRONTEIRA. ORGULHO OU CULPA DO GOOGLE? CAROLINA DÍAZ CONTRERAS, DE SANTIAGO
utubro de 2010, Costa Rica. Homens com uniformes de guerra, armados com fuzis e metralhadoras, embarcam em um avião pouco antes do amanhecer. Viajam em direção ao centro de mais um conflito fronteiriço na América Central. “Não se trata de confundir paz com passividade”, disse a presidente costarriquenha Laura Chinchilla, durante uma coletiva de imprensa, poucas horas depois da mais recente “operação militar” do país. Ainda que nenhum tiro tenha sido disparado, a chamada “guerra da la-
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80 AméricaEconomia Dezembro, 2010
ma” tem todos os ingredientes da literatura local: exércitos fantasmas, teoria da conspiração e uma comédia de erros em que brilhou a onipresente figura virtual do...Google. “Encontramos um erro nos perfis da fronteira entre a Costa Rica e o Panamá”, reconheceu, no dia 10 de novembro, o diretor de Relações Públicas da empresa para a América Latina, Daniel Helft. “Estamos trabalhando para atualizar a informação o mais rápido possível.” O conflito começou logo após o início dos trabalhos de dragagem do rio San Juan, na fronteira comum entre os
drogas, já que, segundo o governo, este seria o novo canal utilizado pelos narcotraficantes para chegar à América do Norte. “Quem seriam os beneficiados por essa exigência da Costa Rica?”, questionou o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. “Seriam os narcotraficantes.” O fato é que, após a visita do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, à zona de conflito e de dias de debate e lobby em Washington, o Conselho Permanente do órgão aprovou resolução determinando a retirada das tropas nicaraguenses da fronteira e o início do diálogo entre os dois países. “É como uma página da história do século 19 que se manteve no século 20 e reaparece no 21, dificultando o processo de integração da América Central”, disse à agência AFP Francisco Rojas, secretário geral da Faculdade LatinoAmericana de Ciências Sociais (Flacso), em San José.
Foto: Diario La Prensa/AFP
A guerra da lama
ESPECIAL Fim de ano
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balanço de uma década década começou com o medo de que os computadores enlouquecessem e culmina com a América Latina regressando ao panteon dos mercados financeiros como boa alternativa às quedas de praças como Europa e América do Norte. Enquanto a atividade econômica se recuperava mês a mês em diferentes países, impulsionada pelas exportações de matérias-primas e uma vibrante demanda interna, investidores internacionais se estapeavam para entrar nas bolsas de São Paulo, México e Santiago. O volume nelas negociado somou quase US$ 900 bilhões até novembro deste ano, 42% a mais que em 2009. Boas notícias para os investidores privados e institucionais e uma dor de cabeça para exportadores e bancos centrais, para quem esse fluxo de capital ameaça alterar o equilíbrio macroeconômico e reduzir a competitividade internacional. A primeira década do século se encerra com novas lideranças políticas. O Chile mudou de coalizão política dentro de sua estabilidade institucional. Brasil e Costa Rica elegeram suas primeiras presidentes mulheres. Colômbia e Brasil votaram pela continuidade. Dois mil e dez também foi o ano em que vários países celebraram seus bicentenários, ocasião aproveitada por seus respectivos governos para bombardear os cidadãos com mensagens positivas. A década culmina também com mensagens contundentes da natureza. As placas tectônicas se movimentaram no Haiti e no Chile, com resultados assustadores. Tormentas tropicais e chuvas torrenciais também provocaram estragos na América Central, na Colômbia, no Brasil e no México.
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34 AméricaEconomia Dezembro, 2010
2010: Época de transformações
JANEIRO
FEVEREIRO
Contra o Banco Central (07/01)
Surge um novo ente multilateral
A presidente argentina, Cristina Kirchner, pede a renúncia do presidente do Banco Central, Martín Redrado, por ele ter se recusado a usar reservas para pagar a dívida do país. Dois meses depois, o Banco Central entrega ao Tesouro US$ 6,5 bilhões, provenientes de reservas para pagar dívidas soberanas.
Volta da direita (10/01)
Nº 383 Janeiro/2010
O empresário Sebastián Piñera vence no segundo turno as eleições presidenciais chilenas. É um momento histórico para o país, que marca o fim de duas décadas de governos de centro-esquerda e a chegada da centro-direita ao poder pela primeira vez desde 1958.
BRASIL
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IMPÉRIO DE ABILIO DINIZ: COMO SE CRIOU O GIGANTE DO VAREJO BANCOS À VENDA NOS EUA. VALE A PECHINCHA?
BRASIL DEPOIS DE LULA
GUIDO MANTEGA LIDERA RANKING DE MINISTROS
BRASIL DEPOIS DE LULA
AméricaEconomia
O ÚLTIMO ANO DO PRESIDENTE DEFINIRÁ OS DESAFIOS DE SEU SUCESSOR
(23/02)
Venezuela se desvaloriza (08/01)
Uma mulher no poder (07/02)
Seguindo a direção contrária da maioria das moedas latino-americanas, as autoridades econômicas venezuelanas decidem desvalorizar o Bolívar Fuerte, afetando o controlado sistema de câmbio do país. Dias depois, o vice-presidente e ministro da Defesa, Ramón Carrizales, renuncia a ambos os cargos.
Com 46% dos votos, Laura Chinchilla, candidata do Partido Liberación Nacional, é eleita a primeira presidente mulher da Costa Rica, sucedendo a Óscar Arias, de quem era vice-presidente.
Durante a Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento, em meio a brigas entre os presidentes da Colômbia e da Venezuela, foi criada a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, espécie de OEA (Organização dos Estados Americanos), sem a participação dos EUA.
Negócio do mês A Multiplus, subsidiária da TAM, levanta R$ 724 milhões com sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
AméricaEconomia: Chile golpeado no bicentenário (27/02)
O Brasil elege, neste ano, o sucessor de Lula. A AméricaEconomia analisa quais serão os desafios que deixará o presidente mais popular da história recente do Brasil.
Um violento terremoto de 8,8 graus na escala Richter, seguido de um tsunami, sacode o Chile, entre as regiões de Valparaíso e Concepción. Foram 565 mortos e danos estimados em US$ 5 bilhões.
Nº 383 JAN./2010 R$ 8,90
INFRAESTRUTURA EM XEQUE NO BRASIL E NA AL
Desastre no Caribe
AméricaEconomia:
Nº 384 Fevereiro/2010
Um terremoto de 8 graus na escala Richter destrói a capital do Haiti, Porto Príncipe, provocando mais de 200 mil mortes e perdas de mais de US$ 14 bilhões.
BRASIL
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CARNAVAL FESTA BILIONÁRIA TELEFÔNICA APRENDENDO COM OS ERROS RECUPERAÇÃO DOS EUA EXCESSO DE OTIMISMO?
DÉCADA DOS TRILHOS
A Heineken compra a mexicana Femsa por US$ 7,6 bilhões. A gigante América Móvil lança oferta de US$ 21 bilhões para integrar suas empresas Telmex e Telmex Internacional.
(12/01)
DÉCADA DOS TRILHOS
OS PLANOS DE EMPRESAS E DO GOVERNO PARA RESGATAR O PROTAGONISMO DAS FERROVIAS NO BRASIL AméricaEconomia
Negócios do mês
Nº 384 FEV./2010 R$ 8,90
ESPECIAL: VIAGENS A NEGÓCIOS NA AMÉRICA LATINA
Diante do crescimento econômico brasileiro, a AméricaEconomia revela os planos de empresas e do governo para resgatar o protagonismo das ferrovias no país.
Dezembro, 2010 AméricaEconomia 83
ESPECIAL Fim de ano
MARÇO Libertação histórica (30/03)
Negócio do mês
A Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprova a reforma do sistema de s aú d e d o país, conferindo ao presidente Barack Obama uma vitória histórica.
A Hypermarcas compra quatro empresas em menos de uma semana. Pela Facilit, paga R$ 79 milhões. A Luper recebe R$ 52 milhões; a Sapeka, R$ 225 milhões; e a York, R$ 100 milhões.
ABRIL
Nº 385 Março/2010
Obama consegue sua reforma (22/03)
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) libertam o sargento Emilio Moncayo, o refém mais antigo da guerrilha, que, depois de 12 anos, pôde reencontrar sua família.
SONDA PROCWORK PRONTA PARA COMPRAR
BRASIL
PETROBRAS EMISSÃO DE AÇÕES RECORDE www.americaeconomia.com.br
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS FUTURO INCERTO
ESPECIAL ENERGIA
José “Pepe” Mujica assume a presidência do Uruguai. Militante da Frente Amplio e ex-guerrilheiro nos anos 1970, ele foi também ministro da Agricultura e da Pesca de seu sucessor, Tabaré Vázquez.
AméricaEconomia:
AméricaEconomia
Ex-guerrilheiro no poder (02/03)
FATOR
NEGÓCIOS DE
EIKE BATISTA MULTIPLICAM-SE A CADA ANO. ENERGIA AGORA É DESTAQUE
Nº 385 MAR./2010 R$ 8,90
CFOs INDICAM SUAS ESTRATÉGIAS DE FINANCIAMENTO
AméricaEconomia revela os projetos do conglomerado EBX, do megaempresário carioca Eike Bastista, para o setor energético brasileiro e as consequências que representam para o país.
Desastre no Golfo do México (22/04) Uma plataforma da British Petroleum se desfaz após um incêndio no Golfo do México. Com mais de 4,5 milhões de barris derramados, trata-se do pior derramamento de petróleo da história.
Inundações no Brasil (05 a 07/04)
Nº 386 Abril/2010
A pior chuva dos últimos 44 anos deixa 257 mortos no estado do Rio de Janeiro.
PREVIDÊNCIA PRIVADA O DESAFIO DE SER POPULAR BRASIL X EUA IMPACTOS DA RETALIAÇÃO
AméricaEconomia
RANKING DAS MULTINACIONAIS LATINO-AMERICANAS
BRASIL
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CHILE DEPOIS DO TERREMOTO DIFÍCIL RECOMEÇO
JBS APETITE GLOBAL COM ESTRATÉGIA AGRESSIVA DE COMPRAS INTERNACIONAIS NO SETOR DE CARNE, A EMPRESA LIDERA O RANKING DAS MULTINACIONAIS LATINO-AMERICANAS
Nº 386 ABR./2010 R$ 8,90
ESPECIAL: PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS SUSTENTÁVEIS
Lei de imigração provoca onda de críticas (20/04) O Arizona, nos EUA, aprova uma polêmica lei de imigração e recebe críticas de diferentes setores e de organizações de direitos humanos.
Outro terremoto (05/04)
Em Mexicali, no norte do México, um terremoto de 7,2 graus na escala Richter afeta 3,5 mil pessoas.
AméricaEconomia: Com estratégia de compras internacionais agressiva, o frigorífico JBS lidera o ranking da AméricaEconomia das maiores multinacionais latino-americanas.
Negócio do mês A Ambev anuncia um investimento de R$ 2 bilhões no Brasil, em 2010, com o objetivo de elevar a capacidade produtiva de suas fábricas entre 10% e 15%.
MAIO
JUNHO
Kirchner na Unasul (04/05) O ex-presidente argentino Néstor Kirchner é nomeado como o primeiro chefe do bloco de nações sul-americanas Unasul, colocando fim a um conflito diplomático por sua postulação ao cargo.
Negócio do mês
Lula é o presidente iberoamericano melhor avaliado e alcança uma aprovação de 71%, segundo o Barômetro Iberoamericano da Governabilidade, que avaliou o desempenho de 22 governantes e líderes da região.
A estatal chinesa Sinochem Group anuncia a compra de 40% do campo de petróleo Peregrino, localizado na bacia de Campos (RJ), pertencente à norueguesa Statoil.
Desastre ambiental na América Central (04/06)
A tempestade tropical Agatha causa graves danos na Guatemala, em Honduras e em El Salvador, provocando 194 mortes e perdas de US$ 1,5 milhão.
BRASIL
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ETANOL O SETOR MUDA DE CARA
ENTREVISTA COM GUIDO MANTEGA
E-COMMERCE BRASIL É DESTAQUE DA AMÉRICA LATINA
Nº 387 Maio/2010
Os países da América Central e da União Europeia firmam um acordo de livre comércio depois de quase três anos de negociações.
BRASIL
MEXICANO NA NET A ESTRATÉGIA DE SLIM NA TV PAGA
MERCADO AUTOMOTIVO
BM&FBOVESPA UMA PLATAFORMA REGIONAL
AméricaEconomia
AméricaEconomia mostra que o segmento de carros compactos impulsiona novo ciclo de investimentos bilionários no Brasil.
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SOFT POWER INFLUÊNCIA DO BRASIL NO EXTERIOR
AméricaEconomia:
FOCO NA ÁFRICA CHINA DOMINA INVESTIMENTOS
RINDO À TOA AméricaEconomia
A América Central consegue (30/05)
O governo boliviano e a associação de bancos apressessam-se em assegurar a solvência financeira do Banco de Crédito BCP e acalmar os correntistas, que haviam sacado, um dia antes, cerca de US$ 6 milhões, diante de rumores de quebra anunciados pela imprensa local.
Nº 388 Junho/2010
Lula leva a melhor (16/05)
Pânico bancário na Bolívia (10/06)
GUIDO MANTEGA ENCERRARÁ SUA GESTÃO DEIXANDO O BRASIL NA ROTA DE UM CRESCIMENTO EXPRESSIVO. RESTA SABER SE O PAÍS VAI AGUENTAR
AméricaEconomia: O ministro Guido Mantega fala à AméricaEconomia sobre os desafios e as conquistas que deixará a seu sucessor.
Nº 388 JUN./2010 R$ 8,90
RANKING DOS MELHORES MBAs DA AMÉRICA LATINA
Quem produz mais coca? (22/06)
Santos varre a Colômbia (20/06)
O Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc) mostra que o Peru ultrapassou a Colômbia como o maior produtor mundial de folha de coca. Flavio Mirella, da Unodc em Lima, diz que as políticas de segurança do ex-presidente Álvaro Uribe influenciaram o cenário.
Com cerca de 70% dos votos, o candidato José Manuel Santos, exministro da Defesa, vence o segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia.
VIVA O POPULAR MERCADO DE CARROS COMPACTOS IMPULSIONA NOVO CICLO DE INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS NO BRASIL
Nº 387 MAIO/2010 R$ 8,90
ESPECIAL: AS MELHORES CIDADES PARA FAZER NEGÓCIOS
Bicentenário dividido na Argentina (25/05) A Argentina celebra seu bicentenário. As comemorações tiveram início com a reabertura do Teatro Colón. Cristina Kirchner não esteve presente por conta de suas diferenças políticas com o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, em uma demonstração da difícil convivência entre as forças políticas do país.
Negócios do mês A Gerdau apresenta proposta ao Conselho de Administração da Gerdau Ameristeel para adquirir 100% das ações da subsidiária. A Marfrig compra 100% das ações da Keystone Foods, por US$ 1,26 bilhão.
Protestos no Panamá (29/06) Uma lei aprovada para reformar as legislações trabalhista e ambiental e outra para facilitar investimentos gerou protestos no Panamá, terminando com cem feridos e dois mortos. Dezembro, 2010 AméricaEconomia 85
ESPECIAL Fim de ano
JULHO
AGOSTO
A febre do Mundial (10/07)
O parlamento equatoriano aprova uma nova lei dos hidrocarbonetos, por meio da qual o governo de Rafael Correa busca aumentar o controle sobre a exploração e elevar os investimentos privados, em uma tentativa de recuperar a produção.
N· 389 JUL./2010 R$ 8,90
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Nº 390 Agosto/2010
AméricaEconomia: Em entrevista à AméricaEconomia, o ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, explica como a falta de reformas e as contradicões no Congresso provocam o retrocesso do sistema.
Venezuela rompe com a Colômbia Após uma sessão da OEA (Organização dos Estados Americanos), em que o governo de Uribe acusou o venezuelano de proteger os guerrilheiros em suas fronteiras, a Venezuela decide romper relações diplomáticas com o país vizinho.
AméricaEconomia: Com vendas acima de US$ 100 bilhões, a estatal brasileira Petrobras fica em primeiro lugar no ranking das 500 Maiores Empresas da América Latina, elaborado por AméricaEconomia.
COMPANHIAS BRASILEIRAS E MULTINACIONAIS COM OPERAÇÕES NO PAÍS SÃO DESTAQUE E DOMINAM QUASE METADE DO ESTUDO
86 AméricaEconomia Dezembro, 2010
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RENOVAÇÃO NA COLÔMBIA NOVO PRESIDENTE É FANÁTICO POR PODER PIONEIROS MÓVEIS O MERCADO DE APLICATIVOS PARA CELULARES
PARA CARLOS EDUARDO GABAS, MINISTRO DA PREVIDÊNCIA, CONTRADIÇÕES NO CONGRESSO FAZEM SISTEMA RETROCEDER
Cristina contra Clarín e La Nación (25/08)
(22/07)
Petrobras lidera o ranking e é a maior da AL
BRASIL
Avanços e tropeços da política externa do Brasil
BRASIL
A presidente argentina acusou os editores dos maiores diários da Argentina por crime contra a humanidade na compra da principal produtora de papel para jornais do país, a Papel Prensa, durante a ditadura militar.
Negócio do mês As gigantes aéreas LAN e TAM unem suas operações e criam a Latam, empresa com faturamento próximo dos US$ 8,3 bilhões anuais.
No 390 AGO./2010 R$ 8,90
Equador quer o controle do petróleo (27/07)
Os fundos de investimento Gávea e Texas Pacific Group fazem um aporte de R$ 400 milhões na Rumo Logística, empresa de transporte ferroviário controlada pela Cosan.
Sob o lema “Os Queremos Vivos”, centenas de jornalistas saem às ruas do México para protestar contra a violência contra a imprensa, num ano em que cresceram os assassinatos de repórteres, civis e soldados na guerra do narcotráfico. Duas semanas depois, uma fossa com 72 cadáveres de imigrantes sul-americanos e da América Central foi encontrada em Tamaulipas.
OS DESAFIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
Negócio do mês
Jornalistas protestam no México (07/08)
AméricaEconomia
Milhões de latino-americanos voltam sua atenção para as telas de TV para acompanhar os jogos da Copa da África do Sul. Todas as equipes da região passam para as oitavas de final. Chile e México são eliminados, seguidos por Brasil e Argentina. Uruguai obtém um surpreendente quarto lugar.
Nº 391 Setembro/2010
Albert Einstein lidera o ranking de hospitais da AL
SETEMBRO
UNIÃO LAN/TAM COMO A CHILENA CONSOLIDARÁ SEUS NEGÓCIOS ENTREVISTA ELIEZER BATISTA “EM INFRAESTRUTURA, RAZÃO ECONÔMICA DEVE PREVALECER”
BRASIL
OBSTÁCULOS PARA FAZER NEGÓCIOS COM O BRASIL
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AméricaEconomia
Os dois países celebram seus respectivos bicentenários com festividades em suas capitais. Os palácios do Zócalo e da Moneda são usados como telões virtuais de espetáculos multimídia que resumem a história, a cultura e os ecossistemas de cada país.
AméricaEconomia: AméricaEcono-
No 391 SET./2010 R$ 8,90
200 anos do México e do Chile (16-18/09)
PREÇO DA INEFICIÊNCIA É ALTO E DIFICULTA A ENTRADA DE EMPRESAS ESTRANGEIRAS NO PAÍS
mia retrata os obstáculos para fazer negócios no Brasil, onde, apesar de um boom de investimentos, iniciar alguma operação ainda é algo difícil.
Novo mapa político da Venezuela (26/09)
Crise política no Equador (26/09)
Opositores de Chávez se unem durante a eleição para a Assembleia Legislativa, dominada pelos chavistas. Com isso, 38,8% dos assentos passam para a oposição.
Uma revolta policial termina no que o governo de Rafael Correa classificou como “tentativa de golpe de Estado”. O presidente foi resgatado em uma operação militar que resultou na morte de dois agentes.
Negócio do mês A rede de fast-food Burger King é adquirida pela empresa brasileira de private equity 3G Capital, em um acordo que envolveu cerca de US$ 4 bilhões.
OUTUBRO
Negócio do mês A Embratel compra 143,8 milhões de ações preferenciais (sem direito a voto) da operadora de televisão, internet e banda larga NET, ao preço de R$ 23 cada. O giro do negócio foi de R$ 3,3 bilhões.
Os 33 mineiros (13/10) Um grupo de 33 mineiros chilenos presos na mina São José é resgatado ileso por uma equipe liderada pelo próprio presidente Sebastián Piñera e pelo ministro de Minas Laurence Golborne.
García e Morales se unem (13/10) BRASIL
Inbursa
Votorantim BCI
Nº 392 Outubro/2010
Bancolombia Crédito
BBVA
Futurecom: feira destaca inovações em banda larga DESAFIOS DO CRESCIMENTO A MISSÃO DO NOVO PRESIDENTE
Banco do ARGENTINA GOVERNO PERDE PODER
Davivienda Nordeste BBVA Bancomer Safra FUNDOS DE PENSÃO DIVERSIFICANDO ATIVOS
250
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Federal
Caixa Econômica
Bradesco
MAIORES E MELHORES BANCOS DA AMÉRICA LATINA
Banco Estado Banco de Chile Itaú MAIORES Nación BANCOS da América Citibank
AméricaEconomia
e Chile nesco
HSBC
Banco do Brasi Latina
anco No 392 OUT./2010 R$ 8,90
Os presidentes do Peru e da Bolívia assinam um protocolo para restabelecer as relações diplomáticas entre os dois países. Alan García oferece o uso do porto peruano de Ilo por 99 anos, em uma jogada estratégica que devolve o problema marítimo ao território chileno.
Mercantil del Norte
Banamex
BANCO DO BRASIL REASSUME LIDERANÇA DO RANKING E BUSCA OPORTUNIDADES NO EXTERIOR
AméricaEconomia: O Banco do Brasil desbanca o Itaú e reassume a liderança do ranking dos 250 maiores bancos da América Latina elaborado por AméricaEconomia.
Santander
O adeus a Kirchner (27/10) Vítima de uma parada cardíaca, morre o expresidente argentino Néstor Kirchner, alterando o cenário político local.
ESPECIAL Fim de ano Nº 393 Novembro/2010
Presidência: os desafios econômicos após a vitória política
BRASIL
CRISE DE LIQUIDEZ O QUE FAZER PARA QUE A ÁGUA NÃO VIRE UM PROBLEMA NA AL A FORÇA DO MARKETING ESPORTIVO
NOVEMBRO
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CARREIRA EXECUTIVA A VEZ DOS BRASILEIROS COM PERFIL GLOBAL
O valor da
O partido democrata perde o controle da Câmara diante do avanço dos republicanos. Os resultados são considerados um golpe severo (ainda que previsível) ao governo de Barack Obama.
AméricaEconomia:
camisa
ISSN 1414-2341
AméricaEconomia analisa o poder de estrelas como Ronaldo para despertar o apetite de grandes marcas pelo marketing esportivo.
CRAQUES COMO RONALDO R ONALDO DESPERTAM O APETITE DE GRANDES EMPRESAS PELO MARKETING ESPORTIVO
No 393 NOV./2010 R$ 8,90
AméricaEconomia
O que houve com Obama? (04/11)
Negócio do mês A GE anuncia que vai investir mais de US$ 500 milhões na expansão de suas operações no Brasil.
Uma mulher à frente do Brasil (06/11) Com 56% dos votos, Dilma Rousseff (PT), ex-chefe da Casa Civil, é eleita a primeira presidente do Brasil.
Tortillas que valem ouro (16/11) A comida típica mexicana é declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco. A candidatura foi patrocinada pelo maior produtor de tortillas de trigo do mundo.
Como chega 2011 s países da região vão encontrar um cenário econômico-financeiro diferente de anos anteriores. A palavra é reaquecimento. As pressões inflacionárias virão do aumento dos preços das matérias-primas minerais e agrícolas, assim como do investimento estrangeiro direto e de carteira. Com o câmbio em baixa, os exportadores pressionarão por medidas que lhes devolvam a competitividade. Não será fácil para os ministros da Fazenda e os bancos centrais conter a inflação e, ao mesmo tempo, moderar o fluxo de divisas provenientes do exterior. Seus esforços serão inúteis se os grandes líderes não conseguirem conter a “guerra cambial” entre os grandes blocos econômicos, um cenário que pode lembrar a Grande Crise de 1930. Será um ano crucial também para o presidente dos Estados Unidos, Barack
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88 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Obama, caso ele aspire pela reeleição em 2012. Se a economia não deslanchar, o mais provável é que ocorra o mesmo que houve com Jimmy Carter, há 30 anos, – que fez um governo medíocre e não conseguiu se reeleger. Na América Latina, as contendas eleitorais serão no Peru e na Argentina. O sucessor de Alan García pode ser qualquer um, considerando o movediço arco político peruano. Cristina Kirchner provavelmente será reeleita, a menos que cometa erros garrafais e a oposição reacenda a chama de uma improvável candidatura de unidade. A conferência de Cancún sobre mudanças climáticas será seguida dos encontros na Cidade do Cabo e na África do Sul e, esta sim, será a última oportunidade de se firmar um acordo vinculante entre todaßs as nações, antes que o Protocolo de Kyoto expire, em 2012.
O melhor negócio deste ano está apenas começando. A mídia mais direta para falar com o público universitário, com edições para fevereiro e agosto de 2011. São agendas especialmente desenvolvidas para o uso acadêmico diário, com a credibilidade e garantia de distribuição em mãos pelas principais universidades participantes em São Paulo. A circulação inicial será de 200.000 exemplares nas universidades Anhanguera, Anhembi-Morumbi, ESPM, FEA-USP, São Judas, UniCid, UniÍtalo e UniSant’Anna. Mais 500.000 na edição de agosto. Não perca a oportunidade de impactar o público jovem diretamente em seu universo, todos os dias, o dia todo.
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visão verde
Por edifícios
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esponsáveis por 30% do consumo de energia mundial, os edifícios comerciais são o alvo da vez quando se fala em melhorar a eficiência energética. No Brasil, apenas 20 têm a certificação necessária para serem considerados edifícios “verdes”. A boa notícia é que, diante da retomada do crescimento, a preocupação com o consumo energético nesse segmento tem avançado. É o que explicam, nesta entrevista à AméricaEconomia, William Sekkel, presidente do setor de Soluções Climáticas para a América Latina das unidades Trane, Hussmann e Thermo King da Ingersoll Rand – empresa que atua na criação e manutenção de ambientes eficientes –, e Manoel Gameiro, presidente da unidade Trane. 90 AméricaEconomia Dezembro, 2010
AméricaEconomia A preocupação com o consumo energético sustentável nas construções ainda é algo recente no Brasil? William Sekkel Sim, e no mundo todo é assim. Nos Estados Unidos, menos de 1% dos edifícios são Leed certified [selo utilizado para os edifícios “verdes”]. Embora a relação seja pequena, a boa notícia é que estamos percebendo uma onda de mudança. Manoel Gameiro Aqui no Brasil, nós temos apenas 20 edifícios etiquetados, mas outros 219 estão em processo de certificação. AE Esse número pequeno de prédios mais “eficientes” não se justificaria pelos custos altos? Sekkel Tudo o que a gente fala sobre eficiência energética tem de vir atrelado a uma equação econômica. O custo inicial para você fazer um edifício eficiente realmente é mais alto: algo entre 10% e 15%. Mas você tem retorno em dois, três, quatro anos. Já em uma construção comum, você paga pelo resto da vida, como nas contas de água e luz, o custo de ter desenvolvido um edifício ineficiente. O que acontece
Fotos: iStockphoto
mais eficientes
GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
agora, em um momento de juros mais baixos, é que o payback passa a fazer mais sentido, passa a ser mais rápido. Só para se ter uma ideia, 30% da energia do mundo é utilizada em edifícios comerciais. Por isso, a grande saída é construir edifícios por meio de processos mais eficientes. Hoje, posso dizer que nós temos tecnologia para reduzir em até 50% o consumo de energia nesses locais. AE Como vocês veem o potencial de crescimento desse mercado? Gameiro Particularmente, eu acho que estamos em um momento de revolução no que diz respeito à eficiência energética. É um assunto que não sai da agenda de ninguém. Está claro que não teremos capacidade de crescer se não formos eficientes. A Copa de 2014, as Olimpíadas de 2016 e o pré-sal vão fazer com que o Brasil cresça a taxas de 5%, 6%, 7% ao ano, e não podemos elevar o consumo na mesma escala. O aumento do consumo de energia não pode superar taxas de 1%, 2% ao ano, no máximo. Para isso, temos de melhorar o que já existe – e o que for criado tem de ser mais eficiente. AE Quais são os vilões do consumo nos edifícios comerciais, e como o Brasil tem avançado na direção do combate ao desperdício? Sekkel A iluminação e o ar-condicionado respondem, juntos, por 60% do consumo de energia de um edifício comercial. No que diz respeito ao ar-condicionado, estamos vendo a explosão de aparelhos mais econômicos, o que é a porta de entrada para um mercado maduro em energia. Na onda inicial, você pensa apenas em ar fresco; na segunda onda, você quer ar-condicionado com um custo que faça sentido. Estamos vivendo essa transição. Como sempre, há os que enxer-
“O custo inicial é até 15% mais alto, mas o retorno vem em até 4 anos”, diz William Sekkel
gam mais à frente. Muitos edifícios comerciais já estão sendo desenhados considerando a necessidade de equipamentos mais eficientes. Com relação à iluminação, existe a tecnologia de LED, os sensores de presença, os sistemas de automação, que reduzem o consumo. O apagão que tivemos há algum tempo criou a agenda. Todo mundo tinha o objetivo de reduzir a conta de luz, e aí o brasileiro passou a ser mais consciente de que existem outras soluções mais econômicas. Ouso dizer que, de certa forma, o apagão ajudou o brasileiro, dando-lhe consciência. AE Os componentes para esses aparelhos que otimizam o consumo de energia são sempre importados ou há alguma produção local? Sekkel A maior parte deles é fabricada no Brasil: são as pessoas, o conhecimento. Os equipamentos em si são muito similares aos comuns. O que muda é a forma como você os conecta ao sistema. Claro, eles também são mais sofisticados e têm um gerenciamento inteligente. Vamos fazer o paralelo com o computador: você tem uma quantidade de memória, um processador, uma tela e um disco rígido. Os componentes estão ali, mas você pode tornar um computador mais ou menos eficiente, dependendo do software utilizado e do conhecimento. AE Qual a proposta do Centro para Eficiência de Energia e Sustentabilidade, recentemente inaugurado? Sekkel A ideia é a de que a gente reúna forças com a sociedade para criar um fórum com o objetivo de discutir ideias que tratem do desenvolvimento sustentável. Esse primeiro conselho tem a participação de dez especialistas e três executivos da nossa empresa. Está bem focado nos EUA, neste primeiro momento, mas é uma iniciativa global. O objetivo é fomentar a discussão, criar um ambiente para que as ideias possam ser desenvolvidas livremente e que a gente encontre soluções e caminhos para promover um ambiente sustentável. Não temos uma sede fixa, o objetivo é fazer reuniões periódicas para trocarmos ideias.
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ibiz
Power sem
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DANIELA ARCE E CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO
O
apresentador aperta o mouse incessantemente e acelera a passagem dos últimos slides. “Muito obrigado”, diz, incrédulo, ao observar os rostos impávidos da plateia, que aplaude sem entusiasmo. A cena se repete diariamente, em milhões de salas de reuniões, auditórios e classes onde um PowerPoint está sendo utilizado como substituto de relatos resumidos e estrategicamente projetados.
Ilustração: Patricio Otniel
POUCO EFICAZ NAS MÃOS DE QUEM NÃO SABE UTILIZÁ-LO, O POPULAR SOFTWARE DE APRESENTAÇÕES ENFRENTA A CONCORRÊNCIA DE NOVOS E ENGENHOSOS APLICATIVOS
Point
“O PowerPoint pode ser usado como ferramenta de apoio, mas, ao longo de 90 minutos, é preciso ter uma dinâmica eficiente para não aborrecer o espectador”, diz Jorge Friedman, vice-reitor de Pesquisa da Faculdade de Negócios e Economia da Universidade do Chile. “Não conheço nenhum elemento do PowerPoint que ajude a dar ritmo, velocidade e deixe uma aula de matemática sofisticada.” Criado em meados da década de 1980 pela empresa Forethought e adquirido pela Microsoft pouco depois, o PowerPoint está em quase todos os discos rígidos do planeta – e aí é que está a sua força. Mas, nos últimos anos, o programa vem enfrentando uma crescente concorrência, assim como a crítica e a rejeição de diversos setores. “Quase não conheço universidades renomadas nos Estados Unidos que façam aulas analíticas complexas em PowerPoint”, observa Friedman. “Ele é usado mais para tranquilizar o expositor do que para ajudar o público”, afirma o professor de informática e estatística da Universidade de Yale Edgard Tufte no ensaio The Cognitive Style of PowerPoint. No mundo empresarial, o uso e o abuso da ferramenta levaram o cartunista Scott Addams, criador do personagem Dilbert, a criar o termo “Envenenamento por PPT”, equivalente a um estado de cansaço e aborrecimento produzido
pela saturação da informação contida em um data show. Até nas Forças Armadas dos EUA o PowerPoint causou polêmica. Lawrence Sellin, coronel do exército, apontou à agência UPI (United Press International) que o trabalho de um oficial do estado maior no Afeganistão consistia basicamente em fazer apresentações em PPT. Pouco depois, foi afastado do cargo.
CONTAR UMA HISTÓRIA Parte do problema não é o software em si, e sim o mau uso que se faz dele. Especialistas em comunicação concordam que sintetizar é a chave de uma boa apresentação – o que pode ser válido com ou sem PPT. “É melhor uma ou poucas boas ideias, em vez de muitas”, afirma Enrique Delgado, gerente geral da consultoria de comunicação e estratégia Tironi & Asociados Peru. “Para que seja eficaz, é preciso gerar o conceito puro, e não o puro conceito.” A mensagem deve conter uma síntese que permita mostrar a profundidade do que se quer dizer, sem acabar com as ideias, mas sim ampliando-as. Para isso, a diretora geral da consultoria de comunicação Llorente & Cuenca, da Colômbia, Cláudia Esguerra, sugere o seguinte questionamento: “ao finalizar a apresentação, o que quero que seja debatido?”.
ibiz Ir direto ao ponto é o lema, enquanto a melhor estratégia narrativa é contar uma história, sempre com começo, meio e fim. O apresentador não será aplaudido, mas a técnica não falha. O público é quem deve armar o relato a partir do que viu e ouviu. “A apresentação não deve ter parágrafos inteiros, senão as pessoas ficam concentradas no slide e não no orador”, explica Francisco Espinosa, diretor geral da agência de relações públicas Burson-Marsteller, no México “Temos de considerar que algumas pessoas não querem fazer esforço para ler, pois esperam que as explicações sejam orais.” Em outras palavras, oratória e retórica não podem ser substituídas por nenhum software. “Se há duvidas quanto à oralidade, o risco é colocar fotografias e letras rebuscadas para deixar o documento mais chamativo, esquecendo-se de que isso gera apenas distração”, diz Delgado, da Tironi . Quem assiste a teatro, dança ou qualquer outra apresentação sabe da importância de um início sugestivo e um final
cos específicos, como Songpro e Openelp, desenhados para serviços religiosos (reúnem missas, textos bíblicos, músicas e imagens). A Apple, por outro lado, oferece a seus usuários o Keynote, como parte do pacote iWork. Entre outras opções, ele permite controlar a apresentação a partir de um iPhone ou iPod, graças a um aplicativo do iTunes. Mas a tendência é oferecer serviços de desenho e apresentações em linha. Nessa área, chama atenção o Prezi, um aplicativo da web desenvolvido na Hungria, com o apoio da empresa de telefonia local (Magyar Telecom), que opera com um modelo tipo “fremium”: a versão básica é gratuita, e os usuários que aceitam a licença de uso podem subir suas apresentações no site da empresa. Os que pagam pela versão premium têm direito a criar e administrar arquivos privados. Diferentemente do PowerPoint, as apresentações do Prezi não são feitas de maneira linear, de um slide ao outro. O usuário constrói um caminho com texto ou imagens que se abrem a partir de “zoom ins” ou “zoom outs”. “Ele permite criar uma narrativa, combinando menor quantidade de textos e mais imagens e vídeos que podem ser incorporados”, diz Julio Mateus, pesquisador do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade de Lima. A apresentação pode ser compartilhada em redes sociais como Twitter e Facebook. No caso de arquivos de PowerPoint, é preciso que sejam convertidos em Scribd ou similar, o que tira as opções de animação, a menos que esteja gravado como vídeo. Outro exemplo é o Zoo Show, do Software Zoo Office, desenhado na Índia e que oferece também aplicativos como planilha eletrônica, processamento de texto e CRM, entre outros. A apresentação pode ser compartilhada enquanto é feita e, inclusive, apresentada a clientes com acesso remoto. O caso do Google Docs é semelhante. É gratuito, e a possibilidade de compartilhamento de arquivos é o maior atributo do programa, que lançou uma versão beta para apresentações. A capacidade de armazenagem de documentos de texto e folhas de cálculo e a lógica de rede de colaboração são pontos a favor, ainda que haja vários contra: os slides não podem ser modificados, não há efeitos de decoração para os textos, animações ou transições. A Microsoft não ficou de braços cruzados ante as ameaças a um de seus produtos mais tradicionais. Os engenheiros do Officelab desenvolveram o PPT.plex, uma extensão gratuita do Office que permite compartilhar e enriquecer as apresentações. Um Power com mais Point.
brilhante, pois com essa fórmula se mantém a atenção e se potencializa a lembrança da plateia. Desde o princípio é preciso chamar a atenção. Por isso, a ideia é fugir do lugar-comum. “Um exemplo são as planilhas do PowerPoint e Office, não porque sejam ruins, mas porque todos as conhecem e não buscam algo mais interessante”, explica Delgado. Se o assunto é diferencial, já é possível contar com dezenas de alternativas. Há desde programas de código aberto, como Magic Point e NeoOffice, além de outros para públi94 AméricaEconomia Dezembro, 2010
Foto: iStockphoto
Alternativas para manter aceso o interesse do público envolvem textos mais curtos e maior variedade de imagens e vídeos
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Fotos: Divulgação
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linha direta
Os banqueiros e o sorriso de Julia Roberts RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
amos aos fatos: eles estão sentados sobre montanhas de dinheiro, recebem salários polpudos e não foram castigados por quase terem levado o mundo à falência, há dois anos. A perplexidade aumenta quando ouvimos declarações de Steve Schwarzman, CEO do Blackstone Group, uma megacompanhia de private equity. Para ele, a ideia do governo dos Estados Unidos de aumentar os impostos dessa atividade equivale a uma declaração de “guerra, como quando Hitler invadiu a Polônia, em 1939”. Alguém poderia pensar que se trata de uma célebre defesa culposa, como a do menino malcriado que acaba de quebrar o vaso Wedgwood original de sua avó e chora na frente de seus pais: “Vocês são maus!!!”. O doutor Paul Crosthwaite, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, tem outra explicação. O que os banqueiros querem, argumenta, não é a riqueza sem limite, mas sim a oportunidade para voltar a sentir a mistura de euforia e desespero no momento do crash. Essa é a tese que ele defende no estudo Blood on the Trading Floor: Waste, Sacrifice, and Death in Financial Crises (algo como Sangue no Pregão: Desperdício, Sacrifício e Morte em Crises Financeiras). “Essas perdas
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podem ser fonte de prazeres masoquistas para quem as sofre”, defende o acadêmico. Crosthwaite baseia sua tese na análise de artigos sobre os profissionais da área financeira, nos quais há evidência de que banqueiros e investidores de risco “desejam, inconscientemente, a destruição de suas próprias instituições”. Parece loucura. Sim, até que começamos a lembrar que, em Wall Street, o outro apelido para os top dogs das empresas financeiras é.... Masters of the Universe. E um dono do universo, como todo Deus que se orgulha de tal, normalmente flerta com o Apocalipse. A verdade é que, há três décadas, algo raro ocorre com os banqueiros. Em outros tempos, seus nomes estavam associados a grandes projetos materiais. O banco Rothschild, por exemplo, é indissociável da industrialização alemã. O JP Morgan se fez grande financiando trens, jornais e aço nos Estados Unidos. Alguém poderia mencionar, hoje, projetos revolucionários parecidos financiados por um banco não estatal? A própria imagem do banqueiro mudou. A caricatura desse senhor gordo, de chapéu, transformou-se na de um jovem que poderia estar em um anúncio da Calvin Klein. Pergunto a Carolina Abufom, uma amiga psicanalista, se o dinheiro do mundo está nas mãos de masoquistas. “Não concordo com Crosthwaite”, responde ela. Carolina propõe que é mais fácil pensar em banqueiros de investimento como se eles se movessem dentro do triângulo criado pela psicanalista Melanie Klein: Controle/Triunfo/Onipotência, no qual “podem ter de negar a realidade para fazer o que fazem”. Então, poderíamos entender sua lógica de invulnerabilidade, de não estarem submetidos à supervisão externa. Os banqueiros tiveram êxito ao se igualar às instituições e às regras do mercado. Apresentam-se como operadores neutros, que fazem o que somente um ente abstrato – ou seja, o mercado – pede que façam. Sorriem como Julia Roberts. Mas não devemos olhar seus lábios, e sim seus olhos.
Foto: Hiroko Masuike/Getty Images/AFP
BERNARD MADOFF, RESPONSÁVEL PELA MAIOR FRAUDE FINANCEIRA DA HISTÓRIA: SERIAM OS INVESTIDORES MASOQUISTAS?
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