Nº 403 Edição Brasil

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Nº 403 Setembro/2011

Einstein repete o primeiro lugar no ranking de hospitais da AL QUEM SE HABILITA? FUNDOS DE PRIVATE EQUITY PREVEEM US$ 20 BILHÕES EM CAPTAÇÕES EM 2012

O BRASIL ESTÁ IMUNE À CRISE?

BRASIL

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NOVAS FRONTEIRAS SHOPPINGS AVANÇAM NO INTERIOR

O Brasil se salva da crise?

AméricaEconomia

Empresários mantêm planos de investimento no curto prazo, mas pedem mudanças nas políticas de câmbio e juros

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nesta edição Negócios

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Shoppings centers A busca por opções no interior Mineração no Equador Expectativa de exploração em escala Água na cerveja O negócio entre a Kirin e a Schincariol Investimento nos trilhos Setor ferroviário volta à tona Dólar baixo Aumenta a procura por intercâmbios Franquias no México Redes querem se internacionalizar Indústria alcoolquímica Cresce a família do etanol

62 Debates

Seções 10 12 14 16 18 22 34 59 98

52 62 86

Portal Carta ao Leitor Cartas/Índice de Empresas Pistas Negócio Fechado

CAPA Crise O que os empresários esperam do Brasil Trocas ministeriais Será que Dilma aguenta? ESPECIAL Ranking de Hospitais Einstein repete o primeiro lugar

Movimentos Opinião – Caio Megale

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Opinião – Mac Margolis Opinião – Luiz Fernando Furlan

Finanças Integração financeira União de bolsas ajuda mercado regional Fundos imobiliários Investimento ganha força no Brasil ESPECIAL Seguros Empresas apostam na diversificação

Foto de Capa: Shutterstock com montagem de AméricaEconomia

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Fotos: 1 - Wilton Junior/Agência Estado; 2 - Divulgação

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ESPECIAL Private equity Previsão de US$ 20 bi para o Brasil

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Crise x oportunidades Há quem diga que nos momentos de crise surgem também boas oportunidades de negócios. O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, destaca que, mesmo que os países desenvolvidos não entrem em recessão, haverá um crescimento menor tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, um cenário que deve afetar a economia e as exportações do Brasil. Em contrapartida, é o momento também para o governo federal investir no setor de logística e ampliar sua eficiência econômica, conforme notícia publicada no portal de AméricaEconomia. “Num futuro próximo, estaremos focando e oferecendo por meio de concessões o setor de aeroportos e o setor aeroportuário. Os gargalos de logística representam oportunidades de investimentos”, diz Coutinho.

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

LEIA NO PORTAL Fantasma do apagão A América do Sul só ficará livre da ameaça de um apagão se dobrar sua capacidade energética até 2030, segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). Pela avaliação, são necessários aproximadamente mais 200 gigawatts de capacidade de geração de energia, ao custo de mais de US$ 500 bilhões. Para a comissão, a energia pode chegar a ser um obstáculo para o desenvolvimento da região se a produção energética não acompanhar o aumento da demanda gerada pelo crescimento econômico.

Nova classe média Perfil elaborado pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) da Presidência da República mostra que a nova classe média brasileira, formada por 95 milhões de pessoas, tem a maioria feminina (51%) e branca (52%) e é predominantemente adulta, com mais de 25 anos (63%). A renda familiar dessa camada social varia de R$ 1 mil a R$ 4 mil mensais. A nova classe média é majoritariamente urbana (89%) e se concentra em três regiões: Sul (61%), Sudeste (59%) e Centro-Oeste (56%).

Os países em desenvolvimento têm quase uma década de atraso em relação às nações ricas quando o assunto é acesso à internet. A avaliação é do relatório da União Internacional das Telecomunicações, agência da ONU (Organização das Nações Unidas). O bloco de países em desenvolvimento só atingiu 21% de acessos à web em 2010, nível alcançado por países desenvolvidos, como Estados Unidos, Japão e Alemanha, nove anos atrás.

Foto: Divulgação

Menos Conectados

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carta ao leitor

BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br

PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Paula Pacheco Diretora de Arte/Projeto Gráfico: Janaína Diniz Repórteres: Chiara Quintão e Graziele Dal-Bó Editora do Site: Adriana Chaves Revisão: Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica: Eduardo Keppler Colaboradores: Fernando Morra (assistente de arte), Francisco Lobo (infografia) e Vértice Translate (tradução) COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Eduardo Colturato – eduardo.colturato@springcom.com.br Executivos de Contas: Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Samantha Martinez – samantha@springcom.com.br Simone Oliveira – simone@springcom.com.br MARKETING Marcia Leonardi e Elisangela Goto ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Gerente Financeiro: Edison Arduino CIRCULAÇÃO Rafael Borsanelli e Fatima Oliveira Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Setembro de 2011) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Carlos Tromben (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Chefe de Operações: Matías Agurto AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando ESCRITÓRIOS Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise

O Brasil se safa? N

as últimas semanas, não se falou em outra coisa senão no temor de que o pesadelo de 2008 volte a assombrar as principais economias mundiais e, desta vez, com uma face ainda mais sinistra. A situação, que já não vinha boa diante da crise de emprego nos Estados Unidos e da piora da situação dos países da zona do euro, ficou ainda mais assustadora na sexta-feira, 5 de agosto, quando a Standard & Poor’s decidiu rebaixar a até então intocada nota da dívida americana de AAA para AA+. Foi o suficiente para provocar um verdadeiro efeito cascata nas principais bolsas, que simplesmente despencaram. Por aqui, a reação não foi diferente. Em um dia nervosíssimo, a BM&FBovespa fechou com queda de 8,08%, a segunda maior entre as bolsas do mundo e a pior baixa desde outubro de 2008, auge da crise do subprime. O efeito foi tão devastador que a própria S&P veio a público para pôr panos quentes na história. Não adiantou muito, o estrago já estava feito e foi tamanho que, poucos dias depois do anúncio, Deven Sharma, presidente da instituição, apresentou seu pedido de demissão. Passado o desespero imediato após o catastrófico anúncio, as incertezas permanecem. Mas, em meio ao clima de pessimismo generalizado, o Brasil parece surfar em uma onda diferente. Por aqui, apesar de reconhecer que o crescimento do país pode ser menor que o esperado (de 4% para 3,7% do PIB), a equipe econômica se diz confiante e mais bem preparada para enfrentar o turbilhão do que estava em 2008. Diante de tais argumentos, a equipe de AméricaEconomia conversou com grandes líderes do setor produtivo brasileiro para medir a confiança dos empresários quanto ao futuro. O resultado está em nossa reportagem de capa, não deixe de ler! Nesta edição, trazemos também a terceira edição do Ranking dos Melhores Hospitais da América Latina. No topo da lista, que cresce a cada ano, está novamente o brasileiro Albert Einstein. A lista completa das instituições e uma análise do setor no Brasil e nos demais países latino-americanos fazem parte do especial. A faxina ministerial da presidente Dilma, a diversificação e a expansão do mercado nacional de seguros, as vantagens dos fundos imobiliários, a indústria de private equity e seus US$ 20 bilhões previstos para as empresas da América Latina são outros temas desta edição. Boa leitura. José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

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cartas

índice de empresas Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem. * Excluídos os nomes da tabela do Ranking de Hospitais e Clínicas

25º ANIVERSÁRIO Quero parabenizá-los pela edição 400, com a qual a AméricaEconomia celebrou seus 25 anos. O trabalho jornalístico e de edição está impecável. Fico muito orgulhoso como latino-americano em ver a qualidade dos convidados que os ajudaram a fazer essa edição comemorativa. É uma revista valiosa para a comunidade dos executivos regionais. Senti falta somente dos grandes empreendimentos desses 25 anos e os que poderiam surgir nos próximos 25. Acredito que este é um campo fértil para edições futuras. JUAN MANUEL LÓPEZ, DIRETOR EXECUTIVO DA VENTURA MATCHMAKERS, COLÔMBIA

NA MIRA DOS EXECUTIVOS Li na página 70 da edição de agosto/2011 (AméricaEconomia, nº 402) a matéria intitulada “Na mira dos executivos” um parágrafo que se refere à necessidade de engenheiros no Brasil para os próximos cinco anos. Gostaria da confirmação estes números, pois acredito que os mesmos não reflitam a realidade do país. Segundo o trecho: “Projeta-se a necessidade de 400 mil engenheiros por ano no Brasil...” o país precisaria de 2 milhões de engenheiros nos próximos cinco anos. Isto está correto? Como sou engenheiro, essa informação é extremamente relevante para mim. Desde já agradeço. ÉDER DE CASTRO PEREIRA, ENGENHEIRO MECÂNICO, PELA INTERNET

RESPOSTA DA REDAÇÃO O consultor de negócios da Mercer, Marcelo Ferrari, autor da frase, confirma a informação sobre a necessidade de 400 mil engenheiros por ano no Brasil no período de cinco anos.

Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista AméricaEconomia Brasil:

americaeconomia@springcom.com.br

9ine 17 Accenture 81 AD Shopping 29 Aeroméxico 23 Alcazar & Aranday 47 Aliansce Sh. Center 31 Alibaba.com 25 ALL 55 Allianz 82 Almeida Junior 32 Alvear Participações 31 Ambev 41 Amyris 49 Apple 18, 58 Aurora Alimentos 29 Avianca 29 Axialent 24 Balbo 50 Banco do Brasil 68 Banco Fator 41 Banco Mundial 23, 71 BBVA 46 Belta 44 Berkley Int. Brasil 81 Bimbo 46 BlackRock 71 Blackstone 68 BM Cenesp 74 BM&FBovespa 53, 73 BNP Paribas 58 Bombardier 42 BR Malls 31 Bradesco Seguros 84 Brain 71 Braskem 18, 48, 56 Braspag 26 Brazilian Capital 74 Brazilian Mortgages 74 Brescia 71 BRF (Brasil Foods) 29 BRFE 57 British Telecom 55 BTG Pactual 65 CAF 43 Camargo Corrêa 19 Carestream 97 Caterpillar 43 Celfin Capital 70 Centro H. Ameijeiras 91 Centro M. de Caracas 91 C. M. Vivian Manágua 91 CFA Institute 57 Chevron 38 Christus Muguerza 87 CI 45 Cielo 26 Cima 87 Cia Alcoolquím. Nac. 51 Condor Mining 38 Connection Res. 29 Copa D’Or 90 Cornestone Capital 38 Cosan 50 Cremer 19 CSABF 68 Cypress 65 Daycoval 75 Dealogic 41 Dell 98 Desenvix 18 Deutsche Bank 58 Dow Chemical 18, 49 Dufry 19 Ecometals 38 EcuaCorriente 38 Eletrocloro 51 Elipe 38 Embraer 57 Engevix 18 Ernst & Young 65 ETH Bioenergia 51 Femsa 41

Fesa FIFA Firmenich Frost & Sullivan Fund. G. Vargas Fund. Card. Bogotá Fund. Card. Colômbia Fundación Favaloro Gávea GE Healthcare General Sh. Brasil Ghislandi Global Hotel Alliance Gol Linhas Aéreas Goldman Sachs Google GP Grupo Assa Grupo Melitta Grupo São Martinho Gruppo M. & Ghisolfi Hays Heineken Hitachi Hospital ABC Hospital Alemán Hospital Británico Hosp. C. Univ. C. Chile Hospital da Unicamp Hosp. Clínicas da USP Hospital de Andaraí Hosp. Clínica Caracas Hospital do Câncer I Hospital do Câncer II Hospital do Coração Hosp. Dr. R. Favaloro Hospital Garraham Hosp. H. La Católica Hosp. I. A. Einstein Hospital Italiano Hosp. Metrop. Quito Hosp. M. Vento POA Hospital Paulistano Hosp. Samaritano SP Hospital San Felipe Hosp. S. Juan de Dios Hospital San Pablo Hospital São Camilo Hospital São José Hosp. S. V. Paulo Hosp. Sírio-Libanês Hosp. Univ. Austral HSBC iFood Iguatemi Sh. Centers Interbaires IPEA ISA Itaú Seguros Itaú J.P.Morgan JAC Motors JBS-Friboi Job Design Criativo Kidzania King Participações Kinross Kirin KPMG Kraft Foods Brasil Lab. N. Biotecnologia LCA Consultores Lehman Brothers Liberty Seguros Link Corretora Lions Nathan Lojas Americanas Loma Negra Lungarno Collection Marcopolo Marisa MCC

83 81 50 97 34, 65 87 87 97 65 96 30, 32 32 16 29 71 18 68 23 57 50 50 45 41 43 87 87 91 91 97 90 94 91 90 90 90 87 87 91 86 87 91 87 90 87 91 91 91 97 90 90 90 87 23 66 31 19 54 71 84 22 68 16 56 27 46 29 38 40 24 75 49 55 54 81 41 41 29 19 16 53 29 22

Médica Sur Melón México Americano Mitsui Motorola Mobility MPE MRV Engenharia Nassau Emp. Imob. Natura Nestlé NHT Nike Nintendo Nívea Nokia O Rei dos Cabelos OCA Odebrecht Odin Mining P&G P. Simon Pátria Pedra Agroind. Petrobras Petrópolis Philips Pixeon Polishop Premium Eng. P&G Progress Rail Serv. Rent a Box Rio Bravo R. Corp. Rock in Rio Sack’s Salgema Santa Casa Santander Schincariol Scomi Shopinvest Shopping Nações Sh. Parauapebas Sh. Park Europeu Sh. Pátio Chapecó SN Power Soliance Solvay Standard & Poor’s STB SulAmérica SuperVia Suzano Swiss Re Table Partners TAM TEC de Monterrey Terra Terral Sh. Centers The Carlyle Group Thomson Reuters Tivit Topz TotalCor Trip Linhas Aéreas UFC Unicamp Unicredt Union Carbide Unique Sh. Urbia Com. Prop. Usina Paraíso Vale Vértico Vinci Partners Votorantin Vtex Walmart Warehouse Westfield WTorre Engenharia

87 71 87 49 18 43 53 30 48 48 29 17 47 56 24 25 87 38 38 48 19 66 50 17, 54 41 97 97 24 29 50 43 26 75 25, 82 24 51 97 55 40 43 32 31 29 32 29 18 50 51 53, 65 44 83 43 55 75 68 55 87 25 31 68 58 65 19 90 29 17 49 58 51 29 29 50 29, 55 31 65 66 24 24 66 32 29

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Na Revista ESPN não é só a bola que rola. Rola também comportamento, notícias, opiniões, história e reportagens que vão do futebol ao golfe, passando pelo vôlei, basquete, boliche, automobilismo, boxe, natação, esqui, polo, rúgbi, atletismo, surfe, esgrima e muitas e muitas outras modalidades. boliche

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Mais uma

montadora chinesa PUBLICAMOS • Apesar do apetite das montadoras com tradição no Brasil, as empresas asiáticas estão dispostas a garantir sua participação nesse bolo. (“Hora de Aumentar a Potência”, AméricaEconomia, n0 399, maio 2011) O NOVO • A montadora chinesa JAC Motors anunciou, no início de agosto, a construção de uma fábrica no país, com investimento de US$ 600 milhões e capacidade de produção1 de 100 mil unidades por ano. Dai Maofang, vice-presidente mundial da companhia, participou do anúncio. A empresa começou a atuar no país em março passado, trazida pelo empresário Sérgio Habib. Apesar de recém-chegada ao Brasil, a montadora já ocupa a 13a colocação no ranking de automóveis, com 0,67% de participação nos licenciamentos (8.565) no acumulado do primeiro semestre, segundo dados da Fenabrave, que representa as concessionárias.

PLANOS ADIADOS PUBLICAMOS • O histórico de instabilidade

O NOVO • O mau desempenho da bolsa brasileira neste ano levou a BM&FBovespa a adiar o prazo para o cumprimento de sua meta de chegar a 5 milhões de investidores pessoa física no mercado acionário. A expectativa, que era de chegar a esse número em 2015, passou para 2018, segundo o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. Atualmente, são 600 mil investidores pessoa física na bolsa.

Hotéis de luxo miram o Brasil PUBLICAMOS • Embora o país tenha se mostrado promissor aos negócios, Álvaro Garnero (foto acima) critica a falta de infraestrutura para atender os turistas da classe AAA. “Recebemos recentemente a visita de um empresário italiano importante e não tínhamos onde hospedá-lo. Todos os hotéis de mais alto padrão em São Paulo estavam lotados”, reclamou. (“Clube do Milhão”, AméricaEconomia, n0 402, agosto 2011) O NOVO • De olho nessa lacuna, algumas redes internacionais começam a demonstrar interesse pelo Brasil. A italiana Lungarno Collection, por exemplo, anunciou que deve chegar em breve ao país, por meio de uma parceria com o grupo de hotéis de luxo Global Hotel Alliance. O objetivo é aproveitar a expansão do mercado de luxo nos países emergentes, entre eles o Brasil.

Foto: Toni Pires

econômica e os altos juros são algumas das razões para a falta de cultura do brasileiro na bolsa. Ao contrário do que ocorre em países como os Estados Unidos, onde são famosos os investimentos de pessoas de todas as idades, aqui ainda existe um abismo entre o mercado e as pessoas comuns. As incertezas no cenário internacional e a bolsa em baixa têm piorado esse quadro. (“À Margem da Bolsa”, AméricaEconomia, n0 402, agosto 2011)

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Nike investe

no MMA PUBLICAMOS • A marca UFC (Ultimate Fighting Championship) está avaliada pela Forbes em US$ 1 bilhão, e o impacto econômico de cada evento nos locais onde é realizado pode chegar a US$ 50 milhões. A luta principal da noite, no Rio de Janeiro, será a de Anderson Silva – um dos mais conhecidos lutadores de MMA do país e campeão dos pesos médios – contra o japonês Yushin Okami. (“Knock Down Lucrativo”, AméricaEconomia, n0 402, agosto 2011)

ETANOL GANHA A ATENÇÃO

DA PETROBR AS PUBLICAMOS • Outro exemplo citado por Adriano Pires (CBIE) é o do etanol. Mais de uma vez o governo falou que a petroleira deveria ser protagonista na produção do derivado de cana-de-açúcar para conter a alta do preço do produto na entressafra. “A margem de lucro do etanol é bem menor. Essa não é a vocação da Petrobras”. (“Barris Cada Vez Mais Cheios”, AméricaEconomia, n0 401, julho 2011)

O NOVO • A partir de 2015, a Petrobras planeja se tornar a maior produtora de etanol do Brasil. A estratégia, segundo o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, é aumentar a participação da Petrobras no mercado nacional de etanol para 12%, nos próximos quatro anos. Atualmente, a petroleira detém 5,3% das vendas do produto. Para acelerar o crescimento, a companhia prevê investimentos de R$ 4,1 bilhões em biocombustíveis – R$ 1,9 bilhão para a produção de etanol.

O NOVO • Anderson “The Spider” Silva foi contratado para fazer parte do time de atletas brasileiros da Nike. O acordo foi fechado pela 9ine, empresa de marketing esportivo, publicidade e entretenimento que gerencia a imagem do campeão. Além de Anderson Silva, a empresa americana tem um contrato com o filipino Manny Pacquiao, um dos melhores boxeadores da atualidade. Entre outros atletas, a Nike patrocina o golfista Tiger Woods e o tenista Roger Federer.

Legislar em causa própria PUBLICAMOS • Há a constante ameaça de pautar o Projeto de Lei nº 7.749/10, de interesse do Judiciário, que aumen-

Foto: Shutterstock

ta o salário dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) de R$ 26,7 mil para R$ 30,6 mil, um reajuste de 15%, que provocaria um efeito cascata nas folhas de pagamento em todo o país. (“Uma Bomba de R$ 58 bilhões”, AméricaEconomia, n0402, agosto 2011)

O NOVO • Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) aprovaram, em agosto, a proposta de orçamento para 2012 de R$ 614 milhões, que prevê um aumento nos próprios salários de 14,79%. Com isso, a remuneração passaria a ser de R$ 30, 6 mil por mês. O projeto de reajuste ainda precisa ser votado no Congresso. Setembro, 2011 AméricaEconomia 17

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negócio fechado GOOGLE

US$ 12,5 bi pela Motorola Mobility O Google fechou acordo para comprar a Motorola Mobility, divisão da empresa que fabrica celulares, smartphones e tablets, por US$ 12,5 bilhões em dinheiro. Cada ação saiu por US$ 40. A estratégia do Google é impulsionar o uso do sistema operacional Android e competir de igual para igual com a Apple, fabricante do iPhone e desenvolvedora do seu próprio sistema operacional móvel iOS. VALOR: US$ 12,5 bilhões

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SN POWER

Noruegueses investem em energia renovável A companhia norueguesa SN Power, gigante da área de desenvolvimento de projetos de energia renovável, acertou a compra de 40,65% da Desenvix Energias Renováveis por R$ 706 milhões. A Desenvix é o braço de geração de energia da empresa de engenharia Engevix. Com o negócio, SN Power e Jackson Empreendimentos, que ficará também com 40,65% da companhia, terão controle conjunto da Desenvix. O Funcef, fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, manterá a participação de 18,69%. O acordo inclui ainda a participação de 50% da Desenvix na Enex, empresa especializada na operação e manutenção de usinas de geração. A conclusão do negócio depende da aprovação dos órgãos reguladores do Brasil. VALOR: R$ 706 milhões

Brasileira aumenta participação internacional A Braskem arrematou, no fim de julho, quatro plantas da Dow Chemical dedicadas à produção de polipropileno. Com isso, a capacidade de produção de resinas da empresa brasileira mais do que dobrou. O negócio foi fechado por US$ 323 milhões e incluiu ainda carteira de clientes, contratos de fornecimento de matéria-prima e patentes registradas pela empresa. As quatro unidades ficam no exterior (duas nos Estados Unidos e duas na Alemanha), o que reforça o movimento de internacionalização da Braskem. A empresa espera obter a aprovação do negócio pelas agências reguladoras até o começo de outubro, quando concluirá o pagamento dos ativos. 2

VALOR: R$ 323 milhões

Fotos: 1 - Montagem de AméricaEconomia; 2 - MathiasCramer/Divulgação

BRASKEM

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CAMARGO CORRÊA

Aumento de investimento na Argentina A Loma Negra, fábrica de cimento argentina controlada pelo grupo brasileiro Camargo Corrêa, anunciou investimento de US$ 400 milhões para os próximos três anos. Desse total, US$ 120 milhões serão destinados ao aumento da capacidade de produção e à melhoria na gestão ambiental. Outros US$ 30 milhões serão usados para o desenvolvimento de combustíveis alternativos na unidade de Loma Negra, localizada em Barker, na província de Buenos Aires, segundo nota divulgada pela companhia. VALOR: US$ 400 milhões

DUFRY CREMER

Fotos: Shutterstock

Crescimento em higiene pessoal A Cremer pagou R$ 73 milhões pelos ativos da concorrente Topz, do segmento de higiene pessoal e cosméticos. O objetivo é aumentar o portfólio de produtos e a exposição da empresa no varejo. De acordo com comunicado da companhia enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), nos últimos 12 meses a Topz registrou receita de cerca de R$ 70 milhões. Em abril passado, a Cremer já havia comprado, por R$ 25 milhões, a P. Simon, fabricante de frascos, drenos, extensores e irrigadores para a área da saúde. VALOR: R$ 73 milhões

Compra em mercados emergentes A Dufry concluiu, em agosto, uma série de aquisições em mercados emergentes. As novas operações adicionam 21 lojas, em dez aeroportos, à operação da empresa, que atua no segmento de free shop. Os US$ 957 milhões foram investidos na Interbaires, líder em varejo de viagem na Argentina, e em operações no Uruguai, no Equador, na Armênia e na Martinica, além de uma plataforma logística. Segundo comunicado da companhia, as operações adquiridas tiveram um desempenho muito bom nos últimos anos, reportando crescimento de dois dígitos. VALOR: US$ 957 milhões

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TRÊS GRANDES FERAS EM TRÊS PALESTRAS IMPERDÍVEIS. SÓ MESMO NO 16º MEETING INTERNACIONAL.

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Grandes líderes empresariais do Brasil e da Itália reunidos para discutir o futuro e fortalecer as suas relações econômicas e culturais. De 6 a 11 de outubro em Roma, Itália. Quem é líder participa.

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movimentos

Itaú amplia presença no Chile O Itaú fechou uma associação com o banco chileno MCC (Munita, Cruzat & Claro) para criar uma empresa de gestão de patrimônio no Chile. “Somadas as duas carteiras, chegaremos a US$ 2 bilhões em ativos de clientes no segmento de grandes fortunas e seremos um dos líderes no mercado chileno”, diz o diretor do Itaú Private Bank International, João Medeiros. A expectativa é dobrar esse valor, para US$ 4 bilhões, em quatro anos. É a primeira associação do Itaú para ges-

tão de fortunas fora do Brasil. Na América Latina (exceto o Brasil), o Chile representa entre 10% e 15% da carteira do Itaú no segmento, parcela que deve saltar para pelo menos 25% em quatro anos. “O Chile é um mercado estratégico para nós. Somos muito guiados pelo ciclo de riqueza”, afirma Medeiros. Os clientes da nova empresa, que manterá o nome do banco MCC, terão acesso ao mercado de investimento no Brasil por meio do Itaú.

Fotos: 1 - Montagem de AméricaEconomia; 2 e 3 - Divulgação

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Grupo Assa mira o Brasil O Grupo Assa quer ir às compras, no Brasil, em 2012 e já começa a conversar com possíveis alvos. “O crescimento orgânico será prioridade no país, mas a política de aquisições ficará mais agressiva”, diz o presidente do grupo, Roberto Wagmaister (foto). A companhia conta com o suporte de seus sócios Banco Mundial e HSBC, que, juntos, têm 30% de participação, para financiar aquisições. Focada em consultoria e terceirização de tecnologia da informação, a companhia argentina nasceu em 1992 e chegou ao Brasil em 1999. Neste ano, os serviços prestados a empresas do país responderão por 45% a 50% do faturamento, estimado em US$ 90 milhões, e, em 2012, por metade dos US$ 120 milhões projetados. “O Brasil ocupará um lugar de destaque na nova macroeconomia do mundo”, diz Wagmaister. 2

Biocombustível cruza o Atlântico Um avião da Aeroméxico fez, em agosto, o primeiro voo transatlântico abastecido também com biocombustível. Chamado de “voo verde”, o Boeing com 250 passageiros fez a rota Cidade do México-Madri utilizando um combustível sustentável extraído de hidrocarbonetos vegetais produzidos a partir de sementes da planta Jatropha Curcas (cultivada no México e em algumas outras partes do mundo), misturado a querosene de aviação. “A proporção foi de 20 toneladas de biocombustível e 55 toneladas de querosene”, explica Mario Rosas, diretor de Vendas Internacional da Aeroméxico. Com a combinação, a emissão de CO2 foi reduzida em uma tonelada. Por enquanto, a empresa quer dar prioridade aos 52 voos operados na rota México-Costa Rica, que deverão usar a nova mis3 tura ainda neste ano. No

entanto, não está descartada a expansão do projeto para os voos entre a capital mexicana e o Brasil. Apesar do aumento de custo – o biocombustível custa seis vezes mais que a querosene –, Rosas diz que não haverá repasse para o consumidor.

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Compra lá,

ganha aqui

O intenso movimento de fusões e aquisições no Brasil, cujas 379 transações registradas no primeiro semestre deste ano foram recorde para o período, segundo a KPMG, não favorece apenas as companhias envolvidas ou quem faz a intermediação desse tipo de negociação. Esse cenário é positivo também para a Axialent, consultoria especializada no desenvolvimento de líderes. “Nós ajudamos as empresas a se estruturar em processos de aquisição, mas com foco nas pessoas, e não nos processos”, explica o americano Timothy Altaffer, presidente da Axialent no Brasil. O país representa 15% do faturamento do grupo e pode ser um dos protagonistas do crescimento da companhia para este ano, cuja receita deve alcançar US$ 23 milhões globalmente. “Tivemos um período difícil em 2009, um cenário de recuperação em 2010 e, neste ano, estamos confiantes de que voltaremos aos patamares de antes da crise”, afirma Altaffer.

Os produtos originários da Amazônia que forem desenvolvidos em conformidade com o meio ambiente receberão o Selo Amazônico do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). O objetivo é agregar valor aos produtos da região, além de atestar critérios de segurança, responsabilidade social e ambiental. A certificação é voluntária e contempla produtos que utilizem insumos regionais em seu processo de fabricação, como fitoterápicos, biocosméticos, joias, embalagens sustentáveis, alimentos e biocosméticos. Segundo a superintendente da Zona Franca de Manaus, Flávia Grosso, além de contribuir com a difusão dos produtos que utilizam matéria-prima originária da Amazônia de forma sustentável, o selo evitará a comercialização de itens que apresentem o nome da região sem incluir material regional. A portaria deverá ser publicada em 2012, após a conclusão do plano de ação e de impactos. Será preciso credenciar agentes certificadores e criar parâmetros para a concessão do selo. A partir da publicação da portaria, espera-se que as primeiras certificações sejam realizadas em um prazo de seis meses.

Na cola dos clientes A Vtex, empresa brasileira especializada em tecnologia para plataformas de comércio eletrônico, deve abrir os dois primeiros escritórios fora do Brasil até o fim do ano. O desembarque começa pela Argentina e pelo Chile. A decisão de partir para o exterior, segundo Alexandre Soncini, diretor de Vendas e de Marketing, foi tomada para atender a expansão internacional dos clientes. “Empresas como a Polishop, atendidas por nós no país, têm planos para a América do Sul. A ideia é termos parceiros locais para facilitar a adaptação aos novos mercados”, explica Soncini. No primeiro semestre de 2012, o executivo espera fincar bandeira também na Colômbia, no México e no Uruguai. Com o crescimento no exterior, a previsão da empresa é chegar a R$ 14 milhões de faturamento em 2011 e a R$ 100 milhões daqui a cinco anos. Entre os clientes da Vtex estão o Walmart, a Nokia e a Sack’s.

Foto: 4 - Shutterstock

Amazônia certificada

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Cabelo de celebridade O mercado de compra e venda de cabelo humano está cada vez mais aquecido. Levantamento do site de comércio eletrônico Alibaba.com, de Hong Kong, listou as madeixas brasileiras entre as mais desejadas, ao lado do popular produto indiano. O cabeleireiro Francisco Braz, dono da loja O Rei dos Cabelos, em São Paulo, comprova a preferência: “O cabelo brasileiro tem maior variedade”. São vários critérios para precificar os fios: ausência de tintura e tratamento químico, qualidade e quantidade. “Cabelo lisos e o loiro natural são bem cotados. O cacheado natural também é valioso porque cresce mais devagar”, afirma Braz. A média de preços fica entre R$ 200 e R$ 600, de acordo com o tamanho. “Já cheguei a pagar R$ 1,2 mil, mas era ‘o cabelo’. Já o alongamento custa de R$ 600 a R$ 1 mil”, explica. Braz atende de dez a 15 pessoas querendo vender cabelo e entre três e quatro buscando alongamento. “O movimento vem crescendo bastante. As mulheres querem looks como o das celebridades”.

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Fotos: 5 - Shutterstock; 6 - Reinaldo Marques/Divulgação

O PLANETA TERRA DE SÃO PAULO VAI DESEMBARCAR NO PERU

Terra exporta festival de

música

A exemplo do Rock in Rio, o Brasil deve exportar mais um festival de música. A direção do Planeta Terra Festival, que acontece há cinco anos em São Paulo, confirmou a intenção de levar o projeto para o Peru. Ainda não há data definida para as apresentações em Lima, mas Alexandre Cardoso, diretor de Marketing do Terra para América Latina e Estados Unidos, trabalha com a possibilidade de o evento acontecer entre o fim deste ano e o começo de 2012. O executivo está em fase de negociação com os músicos e as bandas que devem subir no palco limenho. Segundo a empresa, a exportação do festival se deve à crescente demanda do público em outros países onde o Terra atua. A empresa estuda ainda levar o Planeta Terra Festival para outras capitais da América Latina. O portal Terra atua em 17 países da região, além dos Estados Unidos. A audiência média mensal é de 81 milhões acessos. O Planeta Terra Festival acontece em São Paulo em 5 de novembro.

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NEGÓCIOS Varejo

Festa no

interior

AUMENTO DA RENDA E TERRENOS MAIS BARATOS LEVAM EMPRESAS DE SHOPPING CENTERS A BUSCAR OPÇÕES FORA DAS CAPITAIS CHIARA QUINTÃO, DE SÃO PAULO

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município de Chapecó, a 550 quilômetros da capital Connection Research, com base em dados do IBGE (InstiFlorianópolis, tem 183,5 mil habitantes e se destaca tuto Brasileiro de Geografia e Estatística). O levantamencomo importante polo agroindustrial. Estão na cito inclui, na categoria “capitais”, as grandes cidades das redade, a maior do oeste catarinense, uma importante unidagiões metropolitanas. de de produção da BRF (Brasil Foods) e frigoríficos e granjas O crescimento da renda nos rincões do país foi o que da Aurora Alimentos. Do aeroporto da cidade partem voos levou a paulistana Urbia Commercial Properties a mudar de quatro companhias: Gol Linhas Aéreas, Avianca, TRIP sua estratégia de atuação. Criada para produzir centros de Linhas Aéreas e NHT. Mas, na hora de fazer compras, as opções se limitavam ao O PRIMEIRO SHOPPING DE CHAPECÓ ABRE SUAS PORTAS NESTE MÊS comércio de rua local ou a enfrentar horas de viagem para chegar ao shopping mais próximo. O crescimento da renda, a ausência de concorrentes e a necessidade de um aporte menor de recursos em comparação com o necessário para uma operação em uma capital criaram o ambiente ideal para a cidade ganhar o primeiro shopping, inaugurado neste mês. Os dois sócios do Shopping Pátio Chapecó, a King Participações e a AD Shopping, investiram, juntos, R$ 100 milhões. Eles não estão sozinhos nesse movimento, que ganha cada vez mais força no setor: a aposta em empreendimentos no interior do país. Os principais grupos ligados ao segmenconveniência para grandes cidades, a empresa nem chegou to de shoppings no Brasil estão na mesma direção. a executar esses projetos e se voltou para shoppings no inA mudança de estratégia não ocorre por acaso. Resulta terior, interessada na demanda da crescente classe média. da combinação de potencial de mercado, oferta restrita ou Em maio passado, inaugurou seu primeiro projeto, o Uniinexistente desse tipo de centro comercial, terrenos com cusque Shopping Parauapebas, desenvolvido em parceria com to médio mais baixo do que nas capitais e aumento dos nía Premium Engenharia e a WTorre Engenharia, no municíveis de renda e emprego da população. pio de Parauapebas, no sudeste do Pará, com investimento “Enxergamos a oportunidade de desenvolver shopping de quase R$ 60 milhões. centers em cidades onde a concorrência é menor. Todos os A economia de Parauapebas, cidade com cerca de 154 mil nossos novos projetos são no interior, onde os terrenos são habitantes a 706 quilômetros de Belém, gira em torno de Caramais baratos e a aprovação de projetos, muito mais rápida”, jás, maior mina de ferro a céu aberto do mundo, operada pediz o diretor-presidente da AD Shopping, Helcio Povoa. A la Vale. “É um centro gerador de fluxo e recursos financeiros AD participa como minoritária de três projetos desenvolna região”, diz o superintendente do Unique Shopping, Telvidos no interior de São Paulo – Sorocaba, Botucatu e Pinmo Mendes. Circulam pelo empreendimento tanto a populadamonhangaba – e outro, em Marabá (PA). Nos próximos ção local quanto a flutuante, levada à região por atividades 12 meses, a empresa dará início à construção de mais cinco relacionadas à Vale. “Esperávamos 4,5 mil pessoas por dia, shoppings. Ao todo, incluindo o Pátio mas o fluxo médio tem sido de 8,5 mil Chapecó, o investimento total nesses a 9 mil visitantes”, conta Mendes. Trashoppin de pequeno porte, projetos chega a R$ 1 bilhão. ta-se de um shopping metro quadrados de ABL Uma das justificativas de o setor com 14,5 mil metros locável ou seja, de espaço estar tão interessado em novos merca(área bruta locável), dos é a expansão da renda no interior destinado à locaçã locação, ancorado por quaem patamar acima da registrada nas tro redes varejista varejistas, duas delas naciocapitais. Entre 2000 e 2010, o crescinais: Lojas Americ Americanas e Marisa. Essa atratividade atrativida do interior se remento real (descontada a inflação) da renda média familiar mensal das cidaflete nas estatístic estatísticas do setor: dos 14 des do interior foi de 52,4%, acima dos empreendimentos do gênero com inaup 50,7% das capitais no mesmo período, guração prevista para acontecer entre de acordo com cálculos da consultoria setembro e novembro no país, oito

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Foto: Divulgação

70% dos shoppings inaugurados em 2011 estão fora das capitais

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NEGÓCIOS Varejo estão fora das capitais, segundo a AbrasEstado de Força regional ce (Associação Brasileira de Shopping São Paulo Centers), assim como seis dos oito já Crescimento das 6,10% Barueri 2,34 abertos em 2011. De todas as inauguracidades fora das 4,00% Campinas 2,25 ções do ano, 70% estão fora das capitais. capitais onde 31,30% 1,43 A participação do interior no total em Caraguatatuba serão inaugurados operação, de 47%, conforme os critérios 1,17% São Caetano 2,04 shopping centers da Abrasce, está próxima da parcela da 4,60% 2,36 Capital até o fim do ano capital (53%). “A tendência é que o crescimento ocorra em proporção gradualMinas Gerais mente maior em cidades que não são capitais”, diz a superintendente de Ope15,47% Uberlândia 1,49 rações da Abrasce, Adriana Colloca. Pa8,76% Capital 2,01 ra ser considerado shopping pela AbrasBRASIL ce, um centro comercial precisa ter Santa Catarina administração centralizada e mais de cinco mil metros quadrados de ABL. 19,80% 1,64 Blumenau Renda média No fim de 2010, segundo a Alshop 11,50% Chapecó 1,33 individual em (Associação Brasileira dos Lojistas de 16,70% Capital 2,83 dezembro de Shopping), 50,13% desses centros de 2010 (em R$ mil) compras estavam nas capitais e 49,87%, Espírito Variação da Santo no interior. Pelos critérios da associarenda entre ção, que inclui galerias comerciais coSerra 8,50% 1,57 2006 e 2010 mo parte do segmento, o interior já é líCapital 20,20% 2,53 der em número de empreendimentos. Fontes: Rais/Abrasce “Ainda não tenho o número consolidado, mas, com as inaugurações do priMarcos Romiti, dono da Nassau Empreendimentos Imomeiro semestre, o interior certamente superou as capitais”, biliários, investiu na interiorização de sua empresa, com foco diz o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun. nas faixas B e C. Ele desenvolveu seu primeiro projeto no inDE OLHO NAS CLASSES B E C terior há uma década. Mas foi com o ritmo maior de cresciPara alcançar o maior número possível de consumidores, as mento da renda nessas cidades, nos últimos anos, que voltou empresas têm produzido no interior, principalmente, centros as atenções para outras praças. “Várias oportunidades de necomerciais para as faixas de renda B e C. “Quem sustenta gócio têm surgido. Cerca de 40% do nosso portfólio está no shopping centers no Brasil são as classes B e C. A classe A interior, parcela que subirá para 70% em três anos.” não é tão representativa e tem condições de fazer compras Todos os cinco projetos da Nassau em desenvolvimento fora do país”, diz Povoa, da AD. têm entre 20 mil e 30 mil metros quadrados de ABL e estão

A parceria com as grandes redes varejistas, as chamadas “âncoras”, é fundamental na corrida das empresas de shopping para o interior. Nessa trajetória, as regiões com maior potencial de crescimento para essas redes são cidades com mais de 100 mil habitantes do interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pará, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, segundo o diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising), Ricardo Camargo. E quem puxa a fila são redes de alimentação, perfumaria e cosméticos, calçados e vestuário. Conforme o tamanho dos municípios, as varejistas preferem abrir lojas de menor porte. A Renner, por exemplo, tem preferido a expansão, no interior, em cidades com abrangência potencial de 400 mil habitantes. Mas, quando o limite não passa de 200 mil habitantes, a alternativa é oferecer lojas compactas. “É importante administrar um mix balanceado, sem super nem suboferta. O shopping não cria demanda, mas organiza o varejo que já existe”, diz o diretor de Marketing e Varejo da General Shopping Brasil, Alexandre Dias. O sucesso dos empreendimentos depende também da parceria com varejistas locais. “Para a população, às vezes a ancoragem local é mais importante que a nacional”, afirma Dias.

Fotos: Divulgação

Parcerias com âncoras são parte do negócio

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fora das capitais. Um deles será erguido em Rio Verde (GO), com 25 mil metros quadrados de ABL, desenvolvido em parceria com a Terral Shopping Centers. O terreno foi comprado recentemente, e a expectativa é de que as obras sejam concluídas até o início de 2014. Outra aquisição recente de terreno no interior pela Nassau foi em Ribeirão Preto (SP). De modo geral, o custo médio das áreas no interior é inferior ao das capitais, mas isso não assegura maior rentabilidade nos novos mercados, pois o valor dos aluguéis é mais baixo no interior. “O nível mínimo de rentabilidade é igual, e o retorno de um shopping ocorre, em média, em seis ou sete anos, independentemente do local”, diz Romiti.

PIONEIRISMO Ainda que seja recente o interesse das empresas de shopping pelo interior do país, o embrião desse movimento nasceu em 1980, quando a Iguatemi Empresa de Shopping Centers inaugurou o Shopping Center Iguatemi Campinas. Mas foi a partir dos recursos captados no IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) que o interior começou a ganhar mais espaço nos negócios da Iguatemi, primeira empresa do setor a abrir capital. “Antes, talvez não fosse possível ter essa estratégia numa empresa como a nossa”, conta a diretora Financeira e de Relações com Investidores da companhia, Cristina Betts. Atenta à menor oferta de empreendimentos e ao potencial consumo decorrente do enriquecimento das cidades do interior, a Iguatemi tem quase R$ 800 milhões de investimentos em curso nos projetos que desenvolve nas cidades de Ribeirão Preto, Votorantim, Jundiaí e São José do Rio Preto – todos no interior paulista. Se somados os aportes no Shopping Iguatemi Alphaville, em Barueri (Grande São Paulo), inaugurado em abril, o valor se aproxima de R$ 1 bilhão. No portfólio total de novos projetos da companhia, apenas o JK está em uma capital, São Paulo. “Ainda há muitas oportunidades no interior paulista”, diz Cristina.

Setor também vai às compras Uma estratégia para crescer no interior é por meio de aquisições de ativos. Em agosto, a BR Malls, maior empresa do setor em ABL (área bruta locável), anunciou a compra de 70% da Alvear Participações. Assim, passou a deter participação no Catuaí Shopping Londrina, no Catuaí Shopping Maringá e no Londrina Norte Shopping, além de parte de um terreno para a construção do Catuaí Shopping Cascavel. Os investimentos na compra dos dois shoppings já em operação e do terreno e os aportes no desenvolvimento dos outros dois projetos chegam a R$ 792 milhões. A decisão da BR Malls de adquirir shoppings em capitais ou cidades do interior depende das oportunidades. “Estamos atrás de bons ativos, estejam onde estiverem”, afirma o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Leandro Bousquet. Em maio, a BR Malls divulgou estimativa de investimento de R$ 1,5 bilhão em aquisições até o fim de 2012. Já a estratégia de desenvolvimento prevê a entrega de pelo menos dois novos projetos por ano. Tanto em 2012 quanto em 2013, a companhia terá uma inauguração em capital, uma em região metropolitana e uma no interior. Outra empresa do setor a anunciar, recentemente, aquisição foi a Aliansce Shopping Center, que comprou da Vértico, no fim de julho, 75% do Shopping Nações, por R$ 145,8 milhões. O empreendimento fica em Bauru (SP) e tem previsão de inauguração no quarto trimestre de 2012. A Aliansce prevê inaugurar também, na mesma época, o Boulevard Shopping Vila Velha, na Região Metropolitana de Vitória. Do portfólio de 19 shoppings da empresa, oito não estão em capitais.

OS SHOPPINGS NO INTERIOR PASSARÃO DE 40% PARA 70% DO PORTFÓLIO DA NASSAU, DE ROMITI. À DIREITA, O UNIQUE SHOPPING PARAUAPEBAS, DA URBIA

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NEGÓCIOS Varejo

As perspectivas para o setor de shopping centers no Brasil chamam a atenção de investidores estrangeiros. No começo de agosto, o grupo australiano Westfield, um dos líderes mundiais no setor, adquiriu 50% da empresa de shoppings com atuação regional Almeida Junior. O valor do negócio, que deu origem à Westfield Almeida Junior Shopping Centers, soma R$ 1,5 bilhão e inclui a participação adquirida e o valor a ser investido na nova empresa. A operação é a primeira investida da Westfield fora de mercados de língua inglesa. A companhia possui 119 shoppings, divididos entre Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia. O foco de atuação da Almeida Junior é o mercado de Santa Catarina, onde possui quatro empreendimentos em operação, dois deles em Blumenau, no Vale do Itajaí. O mais recente, o Blumenau Norte Shopping, foi inaugurado em maio, com 32 mil metros quadrados de ABL (área bruta locável). O município catarinense, de forte influência germânica e com quase 300 mil habitantes, tem chamado a atenção das empresas da área de shoppings e atraído investimentos. De 2006 a 2010, a renda média individual de Blumenau cresceu 19,80%, acima da capital Florianópolis, que teve expansão de 16,70%, de acordo com a Rais (Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego). Em novembro, a cidade catarinense passará a contar com seu terceiro centro comercial desse tipo, o Shopping Park Europeu, cujos investimentos somam R$ 160 milhões. O empreendimento, desenvolvido pela Shopinvest, do Grupo João Fortes, e pela Ghislandi, tem 33 mil metros quadrados de ABL, com mix de lojas voltado para as classes média e média-alta. É o primeiro projeto do Grupo João Fortes, conhecido no mercado de incorporação e construção. O grupo também desenvolve um shopping em Cabo Frio (RJ) e começa a planejar outro novo empreendimento, que será construído, provavelmente, em Volta Redonda (RJ).

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O BLUMENAU NORTE SHOPPING FOI INAUGURADO EM MAIO. A CIDADE TERÁ MAIS UM EMPREENDIMENTO DO SETOR EM NOVEMBRO

Embora a maior parte dos projetos do setor no interior seja direcionada para as classes B e C, a Iguatemi considera que existe oportunidade de atender também a classe A. “A região de Ribeirão, por exemplo, é rica, diversificada e com distribuição de renda razoável”, afirma a executiva. Mas não há expectativa de encontrar o público elitizado do Iguatemi São Paulo. “O Iguatemi São Paulo exala o glamour que uma marca é capaz de transmitir. No interior, nossos shoppings não simbolizam marcas, mas o mix adequado para a região”, compara Cristina.

INTERIOR PRÓXIMO No processo de interiorização, não só os rincões do país chamam a atenção de quem investe no setor. “É um caminho natural crescer nas cidades das regiões metropolitanas”, diz o diretor de Marketing e Varejo da General Shopping Brasil, Alexandre Dias. Dos13 empreendimentos da companhia em operação, seis estão em cidades da Região Metropolitana de São Paulo – Gua2 rulhos, Suzano, Itupeva e Osasco –; dois, em outras cidades do estado; três, na capital; e outros dois, no interior do Paraná e do Rio Grande do Sul. Em novembro, a General Shopping inaugura, em Barueri (Grande São Paulo), o Parque Shopping Barueri, com 37 mil metros quadrados de ABL, o terceiro centro comercial desse tipo na cidade, que vai atender também municípios como CaraCRISTINA: AINDA HÁ MUITAS picuíba, Cotia, Jandira e SanOPORTUNIDADES NO INTERIOR DE SÃO PAULO tana do Parnaíba.

Fotos: 1 - Divulgação; 2 - Carol Carquejeiro/Valor/Folhapress

Estrangeiros buscam receita no Brasil

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opinião

Distribuição de renda e consumo

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CAIO MEGALE é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA (megalecaio@gmail.com).

ricos, como São Paulo e Minas Gerais, também registraram um importante ganho nessa faixa de renda. Quais as razões para esse ganho tão bem espalhado pelo país? Em primeiro lugar, o crescimento mais acelerado do PIB, puxado pela política macroeconômica bem organizada dos últimos 16 anos, atende algumas reformas pontuais e o crescimento dos países emergentes na economia mundial, especialmente da China. Outra razão, ligada diretamente a esta última, é o avanço dos preços das commodities internacionais nos últimos anos. Esse movimento multiplicou a renda do agronegócio, importante no interior do Brasil, e dos setores ligados à mineração, com destaque para a Região Norte.

Finalmente, vale ressaltar também os programas sociais, especialmente o Bolsa Família, cujos efeitos distributivos têm sido comprovados por diversos estudos da área. Olhando para a frente, uma boa notícia. O estudo ainda sugere que o processo de avanço da classe média deve continuar acelerado até 2014, pelo menos. Isso aponta para um mercado consumidor ainda pujante e que se espalha pelas cinco regiões do país. O potencial de demanda interna é um ativo valioso, especialmente nas condições complicadas vividas pelas economias centrais.

Ilustração: Samuel Casal

ascensão da nova classe média no país tem sido um dos temas mais propalados por analistas, pela imprensa e, claro, pelos políticos brasileiros nos últimos anos. De fato, segundo estimativas de estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), realizado em conjunto com o Banco Itaú, entre 2003 e 2009 cerca de 38 milhões de brasileiros – quase 25% da população do país – ingressaram nas classes A, B e C. Isso significa um aumento relevante do potencial de consumo da economia, não apenas pelo ganho de renda, mas principalmente pelo acesso ao crédito. Tão interessante quanto o avanço da população na pirâmide social é notar que esse ganho foi de fato bem distribuído entre as regiões do país. Uma análise mais detalhada do estudo citado acima mostra, por exemplo, que o estado que experimentou o maior ganho proporcional da classe A1 – aquela que engloba domicílios com renda agregada superior a R$ 13 mil por mês – foi o Acre. Em 2009, 4% da população do estado já pertencia à camada de renda mais elevada, contra apenas 1% em 2003. Outros estados do interior do país, como Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mais do que dobraram a parcela de suas populações nessa classe. Já o estado que contava com a maior parcela da população na classe A1 em 2003, o Rio de Janeiro, também avançou, mas de maneira mais modesta: de 3,1% para 4,4% em 2009. Saindo da elite e olhando para o consumo de massa, a conclusão se mantém. O Tocantins, por exemplo, contava com 7% de sua população na classe C1 – com renda entre R$ 2.600,00 e R$ 6.700,00 mensais – em 2003. Em 2009, já eram 14% da população. Outros estados que se destacaram no avanço da classe C1 foram Maranhão, Pernambuco e Mato Grosso do Sul, para citar alguns. Os mais

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NEGÓCIOS Mineração

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Equador PERTO DE INICIAR A EXPLORAÇÃO MINERAL EM GRANDE ESCALA, O PAÍS ESPERA ENTRAR NO MAPA DE INVESTIMENTOS EVA VALENCIA CANELOS, DE QUITO

AO MENOS NA MINERAÇÃO, O PRESIDENTE RAFAEL CORREA ESTÁ MAIS PRÓXIMO DOS INVESTIDORES

m abril de 2008, os executivos de oito empresas mineradoras de origem canadense se reuniram com o presidente equatoriano, Rafael Correa. O clima era tenso. Poucos dias antes do encontro, a Assembleia Constituinte do Equador havia aprovado o mandato que extinguiu cerca de 80% dos títulos de concessão mineradora nas mãos das empresas. A Câmara de Comércio EquadorCanadá advertiu, em um de seus boletins, que as empresas, impactadas pela decisão do governo, perderiam cerca de US$ 1,570 bilhão no mercado de ações.

Foto: Rodrigo Buendia/AFP

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NEGÓCIOS Mineração Dominic Channer, vice-presidente de Assuntos Externos e Responsabilidade Corporativa da mineradora Kinross, lembra como Correa os tranquilizou. “Ele nos disse que o governo precisava de um tempo para montar o que seria uma atividade mineral responsável no país, nos pediu paciência e disse: vocês poderão avançar com seus projetos.” As declarações pareceriam impensáveis, vindas de um mandatário do eixo bolivariano, que bateu de frente contra multinacionais como a americana Chevron e a brasileira Odebrecht. Ao mesmo tempo que causou estranheza, esse apoio à grande mineração despertou a ira de organizações ambientais e de líderes indígenas, como o combativo Salvador Quishpe, prefeito da província de Zamora Chinchipe, no extremo sudeste da Amazônia equatoriana. Quishpe, ex-deputado do partido Pachakutik e uma espécie de Evo Morales local, sempre se opôs à mineração em grande escala e denunciou a existência de uma “mineração sem planejamento, desordenada, inconstitucional, graças às decisões tomadas em Quito”. O líder é um detrator das licenças ambientais já concedidas e organizou consultas populares para expulsar as mine-

identificação de 28 novas áreas de operação, que entrarão na primeira rodada de licitação, no último trimestre do ano. O processo faz parte do Plano Nacional de Desenvolvimento Mineral, que prevê a reativação da atividade.

QUESTÃO DE NÚMEROS Três anos depois da reunião entre Correa e os canadenses, a nova regra para a atividade de mineração será posta à prova. “Enviaremos ao exterior um sinal de que estamos dispostos a trabalhar com investidores privados”, analisa César Espinosa, especialista e ex-presidente da Câmara de Mineração do Equador. No Equador, a mineração ainda está engatinhando. Para diminuir as diferenças com seus vizinhos, o governo tem impulsionado, segundo o vice-ministro de Mineração, Federico Auquilla, uma segunda onda mineradora. Após dar sinal verde para os projetos, prevê abrir caminho para que um grupo de pelo menos oito empresas conclua os trabalhos de exploração e os estudos de viabilidade para então negociar com o Estado. Fazem parte do grupo empresas como Odin Mining, com o projeto Cangrejos (na província de El Oro); Cor-

O novo modelo de regulação do setor enfrenta a resistência de organizações não governamentais e políticos de oposição, que defendem os direitos das pequenas mineradoras radoras estrangeiras do Equador. Apesar do ambiente hostil e de o novo modelo de regulação mal ter saído do papel, a exploração mineral no país já dá sinais de ter um grande potencial. O governo calcula que vai receber em 2012 entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões em royalties de mineração. Em julho passado, às vésperas do início da exploração mineral em grande escala, o governo anunciou a

nerstone Capital Resources Inc. e seu projeto Shyri (na província de Azuay); Ecometals, com a jazida Río Zarza (em Zamora); Elipe e seu Dynasty (em El Oro); e Cóndor Mining, com o projeto Cóndor (em Zamora). Apesar dos avanços, as empresas ainda estão preocupadas. “O Código da Produção apenas estabiliza os incentivos tributários [incluída a baixa paulatina no imposto de renda até 22%], mas não

a tributação em si”, afirma o analista César Espinosa. Para Ian Harris, vice-presidente sênior da EcuaCorriente, subsidiária equatoriana da canadense Corriente Resources, o segredo está na clareza do contrato: “Grande parte da proteção ao investimento depende desse documento”. O artigo 408 da Constituição do Equador determina que o Estado participará dos lucros da exploração de recursos naturais em um montante não inferior ao da empresa, isto é, pelo menos 50%. E o cálculo não é uma questão secundária. Segundo o artigo 93 da Lei da Mineração, somam-se o imposto de renda, o imposto sobre valor agregado (não sujeito a restituição), o imposto sobre lucros extraordinários (equivalente a 70% das receitas adicionais, quando o mineral é vendido acima de um preço-base), 12% dos lucros e um royalty de pelo menos 5% sobre as vendas. “É compreensível e razoável. Como equatorianos, queremos sentir que a riqueza nos é devolvida em termos de desenvolvimento”, afirma Laura Zurita, presidente da Câmara de Mineração do Equador. O resto do “coquetel tributário” é composto de taxas fixas, salvo o royalty e o preço-base do mineral. As empresas esperam que o governo reconheça as particularidades da atividade mineradora e de cada projeto. Laura afirma, por exemplo, que é muito diferente falar de ouro e de cobre. Um quilo de cobre vale US$ 9,7, contra US$ 52,91 de um quilo de ouro. Os gastos operacionais também variam. Para o processamento do cobre, é preciso um forte investimento em moagem e em processos mais físicos, enquanto para obter ouro há mais procedimentos químicos. O vice-ministro Auquilla sustenta que o Estado levou em conta a dinâmica da mineração, em particular a volatilidade dos preços e a necessidade de fazer uma análise de longo prazo para calcular o preço-base. Auquilla, inclusive, reconhece que a participação do Estado em pelo menos 50% dos lucros

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não poderá ser aplicada anualmente, em função da natureza da atividade – um investimento inicial bastante elevado e lucros que só vêm depois de, no mínimo, dois anos. “No setor petroleiro, extraio petróleo e vendo petróleo. Mas aqui não extraio cobre e vendo cobre, tampouco exportamos ouro. Aqui, extraio concentrados ou ligas que negociarei no mercado”, afirma.

QUESTÃO DE TERRA Tudo leva a pensar que a relação entre as empresas e o Estado se encontra em consenso, salvo por alguns detalhes. Por outro lado, a realidade dos territórios e suas organizações dá sinais de

maior complexidade. No Chile e no Peru, dois grandes líderes mineradores da região, essa indústria exerce uma enorme pressão sobre a água, recurso básico para as comunidades e fonte de um crescente número de conflitos. E também tira espaço dos mineradores artesanais, que exercem a atividade em condições precárias. É a razão da bandeira levantada por Quishpe em Zamora Chinchipe. O governo afirma estar combatendo a mineração ilegal. “Há pessoas que, sob o chapéu de ‘sou minerador artesanal’, têm uma máquina de US$ 200 mil, exploram o recurso sem se sujeitar a nenhuma nor-

ma e se recusam a negociar com o Estado para regularizar sua situação”, afirma Auquilla, citando como exemplo os confiscos de maquinário de campos ilegais feitos pelo Exército na província de Esmeraldas, no noroeste do país. Para Rafael Correa, aqueles que se opõem à extração dos recursos naturais têm uma posição “infantilista”, rótulo no qual inclui tanto Quishpe quanto Alberto Acosta, ex-presidente da Assembleia Constituinte e um de seus ex-colaboradores. E isso não é tão surpreendente para um governante de esquerda: ele precisa de caixa fiscal e, por ora, sobram-lhe votos.

Foto: Vistazo

A MINERADORA CANADENDE KINROSS É UMA DAS INTERESSADAS EM EXPANDIR OS NEGÓCIOS NO EQUADOR

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NEGÓCIOS Bebidas ADRIANO SCHINCARIOL TRAVA UMA BATALHA JUDICIAL COM OS PRIMOS PARA VENDER A EMPRESA

Risco de ressaca APÓS DESPEJAR R$ 3,95 BILHÕES NA SCHINCARIOL, A KIRIN TERÁ DE SE PREPARAR PARA ENFRENTAR PROBLEMAS ENTRE HERDEIROS E CONCORRENTES COMO AMBEV E HEINEKEN PAULA PACHECO, DE SÃO PAULO

os últimos anos, o brasileiro, vaidoso com a qualidade da cerveja nacional, passou a experimentar outros sabores e nacionalidades. Entraram na carta variações como larger, bock, ale e weissbier, com produção nacional e, principalmente, importadas de países como Alemanha, Inglaterra e Bélgica. Agora, o Brasil passa a ter mais um sotaque nas mesas de bar com a chegada da japonesa Ki-

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rin, que desembarcou no país com sua operação cervejeira por meio da aquisição do controle da Schincariol, que, no ano passado, teve vendas de R$ 5,67 bilhões (US$ 3,53 bilhões). No início de agosto, a Kirin pagou R$ 3,95 bilhões (ou US$ 2,57 bilhões) pela Aleadri-Schinni Participações e Representações, dos irmãos Adriano e Alexandre Schincariol, detentora de 50,45% da fabricante de bebidas.

O valor pareceu alto para quem acompanha de perto a indústria cervejeira. Afinal, a Schincariol (que tem marcas como Schin, Devassa e Baden Baden) é dona de 11% de um mercado que, em 2010, faturou R$ 14,6 bilhões. Mas a aquisição foi a forma encontrada pela Kirin para entrar no país já com uma boa base de negócios estabelecida, sem ter de se preocupar com a construção de fábricas, o desenvolvimen-

Fotos: 1 - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress; 2 - Tomohiro Ohsumi/Getty Images

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to de canais de distribuição e a criação de uma marca. “Esta é uma rara oportunidade de comprar uma empresa influente”, disse Senji Miyake, presidente da multinacional. Mais do que o ativo adquirido, interessou à Kirin o potencial de vendas encontrado no Brasil. “Não sobraram muitos lugares para crescer em volume no setor de cerveja mundial. Entre os atrativos brasileiros, o principal é o crescimento esperado para os próximos anos”, avalia Renato Prado, analista do Banco Fator. O país é o quarto colocado no mercado mundial em consumo de cerveja, atrás de Estados Unidos, China e Alemanha. Com a melhora do poder de compra do brasileiro, as vendas têm crescido a boas taxas nos últimos anos – entre 2009 e 2010, o faturamento do setor aumentou 12%. A previsão para 2011 é de pelo menos 10% de alta. “O consumo de cerveja é muito sensível à renda”, explica o analista de Bebidas Rafael Cintra, da Link Corretora. Para a Kirin, segunda maior cervejaria do Japão, a compra do controle da Schincariol é mais uma casa conquistada no tabuleiro da internacionalização da empresa, que em 2009 já havia comprado, por US$ 3,9 bilhões, a australiana Lions Nathan. Desde 2005, a Kirin desembolsou US$ 12 bilhões em aquisições. Segundo dados da agência Bloomberg, no ano passado, 23% do faturamento veio de negócios fora do país-sede. Em 2005, o faturamento no exterior respondia por apenas 14% da receita. A companhia informou em comunicado: “A aquisição irá se somar à estratégia internacional integrada de bebidas do grupo, dando à Kirin uma sólida base no mercado brasileiro, que apresenta rápido crescimento, em adição à base já existente nas regiões da Ásia e da Oceania”. Outras cervejarias japonesas também aderiram à estratégia de internacionalização por meio de aquisições, como mostram dados da consultoria Dealogic. Só neste ano, já foram US$ 4 bilhões em negócios. Uma das expli-

12% foi quanto cresceu o faturamento do setor cervejeiro no país em 2010 cações é o comportamento do mercado local, que, no primeiro semestre deste ano, registrou uma retração de 3,5% nas vendas de cerveja.

ARRUMAÇÃO Apesar de comprar o pacote fechado, a Kirin terá de lidar com alguns problemas. Um deles já é bem conhecido: dívidas de R$ 1,9 bilhão (valor referenciado em 2010). A soma bilionária é questionada pela empresa junto à Receita Federal e foi desencadeada na Operação Cevada, da Polícia Federal, que em 2005 prendeu cerca de 60 pessoas por suspeita de sonegação de impostos – entre elas, Adriano Schincariol. Outra dificuldade poderá vir da concorrência, a começar da Ambev, dona de 69% das vendas nacionais de

cerveja e conhecida por um time de executivos com perfil implacável com os competidores. Além disso, a Kirin terá pela frente a Petrópolis, dona da cerveja Itaipava, que tem quase a mesma participação de mercado, de 10,2%. Por último, espera-se uma reação da Heineken, que detém 8,4% de participação de mercado e entrou no país por meio da compra da divisão de cervejas da mexicana Femsa, em um negócio fechado no início de 2010. Mas o que deve tirar o sono dos executivos da Kirin é a disputa interna na família Schincariol. Donos de 49,5% da empresa, os primos Gilberto, Daniela e José Augusto Schincariol levaram a aquisição para a Justiça sob a alegação de que teriam direito de preferência, ou seja, deveriam ter sido consultados primeiro a respeito do interesse dos sócios da Aleadri-Shinni de se desfazer das ações. Os representantes jurídicos de Adriano e Alexandre dizem que essa cláusula contratual não existe. O caso saiu da Justiça de Itu (cidade do interior paulista onde fica a sede da Schincariol) e foi parar na Câmara de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, que, no fechamento desta edição, decidiu manter a decisão da Justiça ituana de suspender a venda para a Kirin.

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SENJI MIYAKE, PRESIDENTE DA KIRIN, ESTÁ DE OLHO NO POTENCIAL DE VENDAS OFERECIDO PELO BRASIL

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NEGÓCIOS Infraestrutura

Investimentos

a todo vapor

ESQUECIDO POR DÉCADAS, O SETOR METROFERROVIÁRIO VOLTA A CHAMAR A ATENÇÃO DO GOVERNO E DA INICIATIVA PRIVADA expansão da economia brasileira, os eventos que o país receberá nos próximos anos e a necessidade de melhorar a mobilidade urbana têm impulsionado um setor que por décadas ficou praticamente esquecido no Brasil: o metroferroviário. Se a previsão do governo e da iniciativa privada se confirmar, serão investidos, nos próximos anos, algumas dezenas de bilhões de reais na área. A iniciativa privada – tanto nacional quanto estrangeira – está atenta ao momento favorável e vê no país uma oportunidade para aumentar a receita e

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ampliar os negócios com o crescimento da demanda por vagões e locomotivas. A Bombardier Transportation, divisão de equipamentos para transporte da gigante canadense, é uma das empresas que miram o Brasil. Entre os contratos que a companhia assinou recentemente no país estão a renovação dos trens da Linha 1 do Metrô de São Paulo, cujo primeiro carro já está em fase de homologação, e o projeto de expansão da Linha 2 – também do metrô paulistano –, que ligará a Cidade Tiradentes à Vila Prudente, na Zona Leste da cidade. Neste último, previsto para operar em ple-

na capacidade em 2014, o trajeto será feito por meio do monotrilho – sistema constituído por um único trilho, que opera em vias elevadas. É nessa área, aliás, que a Bombardier pretende focar sua estratégia. “Queremos transformar o país em um centro de competência para monotrilhos”, garante o português Luís Ramos, diretor de Comunicação e Relações Institucionais da empresa para a Europa do Sul, Brasil e Índia. Segundo Ramos, o primeiro dos 54 trens previstos para essa linha já está em construção, em Kingston, no Canadá, onde também está par-

Fotos: 1 - Divulgação; 2 - Helia Scheppa/Agência Estado

GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

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te da equipe que trabalha na fábrica de Hortolândia, no interior paulista, para treinamento. O restante dos trens será fabricado no Brasil. “Nossa previsão é termos entre 60% e 70% de conteúdo nacional”, diz Ramos. A Bombardier também assinou um acordo com a SuperVia, operadora do serviço de trens urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, para fornecer um sistema que reduzirá o intervalo de circulação entre os veículos. Além disso, prospecta negócios com o metrô de Lima, no Peru. “A América Latina entendeu que a ferrovia é o meio de transporte mais eficaz para acompanhar o crescimento da região”, afirma.

MUITOS PROJETOS A escolha da Bombardier pelo Brasil foi seguida por outros competidores. Em meados de agosto, o grupo brasileiro MPE e a Scomi, sediada na Malásia, anunciaram a construção de uma fábrica no Rio de Janeiro para produzir 24 trens, que atenderão a Linha 17 do metrô de São Paulo – ligação do aeroporto de Congonhas à rede metroferroviária –, em um contrato de R$ 1,35 bilhão.

Fotos: Divulgação

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A BOMBARDIER FECHOU ACORDO COM O METRÔ DE SP PARA A RENOVAÇÃO DOS CARROS DA LINHA 1

O SETOR PRECISA DE INVESTIMENTOS DE R$ 500 BILHÕES NOS PRÓXIMOS DEZ ANOS PARA REVERTER O QUADRO NEGATIVO 2

Quem também tem planos para o Brasil é a Progress Rail Services, subsidiária da americana Caterpillar. Sem divulgar investimentos, a empresa anunciou que abrirá uma fábrica de locomotivas em Sete Lagoas (MG), com

50 mil quilômetros deve ser o tamanho da malha ferroviária do Brasil em 2025 projeção de gerar 600 empregos. A japonesa Hitachi é outra multinacional que admitiu ter planos para o país. Já a espanhola CAF (Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles) investiu R$ 200 milhões na instalação de uma fábrica de trens em Hortolândia (SP), para aumentar sua atuação no país. Segundo projeções da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), com os projetos em andamento, a malha ferroviária brasileira deve passar dos atuais 29 mil quilômetros para 50 mil quilômetros em 2025. De 2008 a 2023, segundo o PNLT (Plano Nacional de Logística e Transportes), elaborado pelo Ministério dos Transportes, em cooperação com o Ministério da Defesa, seria necessário investir R$ 150,1 bilhões nas ferrovias do país. O valor é bem aquém do que alguns especialistas acreditam ser preciso aportar para colocar a malha em

boas condições. Essa é a avaliação do professor Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral. “Precisaríamos de investimentos da ordem de R$ 500 bilhões nos próximos dez anos para reverter o quadro negativo no setor de transporte de carga e passageiros”, calcula Resende.

LEGISLAÇÃO O aumento de investimentos metroferroviários tem a ver com uma decisão do governo federal, que publicou, em julho, um novo marco regulatório para o setor. As regras permitem o uso da capacidade ociosa de uma linha férrea operada por uma empresa por concorrentes, desde que tenham os próprios vagões e trens, e garante que uma concessionária possa receber ou entregar cargas na malha de outro concessionário. Outra medida estudada pelo Legislativo é um projeto de lei (PL) que busca incluir os bens destinados ao serviço de transporte ferroviário de passageiros no Regime Tributário para Incentivo à Modernização e à Ampliação da Estrutura Portuária, o chamado Reporto. Até o fechamento desta edição, o PL, de autoria do deputado Leonardo Quintão (PMDB/MG), aguardava parecer na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara. Caso aprovado, o projeto possibilitará às empresas concessionárias ou responsáveis pela construção da malha ferroviária adquirir trilhos, carros de passageiros, locomotivas e outros equipamentos e materiais sem o recolhimento de contribuições como PIS/Pasep e Cofins. A isenção já é aplicada para portos e transporte ferroviário de cargas. Setembro, 2011 AméricaEconomia 43

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NEGÓCIOS Educação

De carona no real forte DÓLAR EM BAIXA INCENTIVA A PROCURA POR PROGRAMAS DE INTERCÂMBIO CHIARA QUINTÃO, DE SÃO PAULO

epois de uma temporada de intercâmbio de seis meses nos Estados Unidos, o estudante Pedro Moretti, 18 anos, voltou a São Paulo no fim de junho. Na bagagem, trouxe um iMac, uma câmera, um aparelho de GPS, roupas e mais roupas, além da experiência de ter morado e estudado por três meses na Filadélfia, por dois meses em San Diego e por um mês no Havaí. A viagem para estudar fora, com o objetivo de melhorar o inglês, estava planejada fazia tempo. Mas, se não fosse o real valorizado, a estadia seria mais curta, de quatro meses, e com mais restrições nos gastos com as compras. O iMac, por exemplo, teria ficado apenas na lista dos desejos. “O dólar baixo ajudou bastante, graças a isso meus pais puderam mandar mais dinheiro”, conta o estudante. Assim como Moretti, outros estudantes e jovens profissionais têm aproveitado o real valorizado para buscar programas de intercâmbio como possibilidade de experiência no exterior

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e qualificação. De acordo com dados da Belta (Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais), o número de brasileiros que participam de programas de intercâmbio deve chegar a 210 mil em 2011, 23,5% a mais que os 170 mil do ano passado e 50% superior ao de 2009. Programas de idiomas respondem por 40% do total de intercâmbios e são procurados, principalmente, pelo público de 17 a 27 anos, segundo a Belta. O interesse é maior por cursos de inglês, principalmente no Canadá e nos Estados Unidos. Os países de língua inglesa abocanham a fatia de 70% do total. No STB (Student Travel Bureau), os pacotes de intercâmbio cresceram 40% no primeiro semestre, em boa parte graças à cotação do real.“Pessoas antes sem acesso a esses programas agora podem viajar por causa do dólar baixo”, diz a diretora-executiva do STB, Santuza Bicalho. Para quem vai comprar alguns dólares para uma viagem curta de férias,

uma queda de 5% a 10% na cotação da moeda pode não parecer muito. Mas, para aqueles que vão se comprometer com cifras maiores, como para bancar uma viagem de estudo de alguns meses, o real forte faz toda a diferença. Quem comprou, em maio passado, um programa de intercâmbio de férias da STB com duração de três semanas em Malibu (Estados Unidos) pagou R$ 8,6 mil. Um ano antes, essa mesma viagem teria custado quase 12% mais, ou cerca de R$ 1 mil – diferença suficiente para adquirir um iPad e alguns presentes para os amigos. Para muitos estudantes, o câmbio atual é fator preponderante na decisão de comprar pacotes para períodos mais longos. Essa foi uma das razões para o aumento de 60% no faturamento da agência de intercâmbio Experimento no primeiro semestre. Não só os adolescentes têm impulsionado as vendas de pacotes de intercâmbio, mas também os profissionais que querem melhorar a comunicação

Foto: Arquivo pessoal

O CÂMBIO FEZ COM QUE PEDRO MORETTI PUDESSE PASSAR MAIS TEMPO NOS EUA E COMPRASSE UM iMAC

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em outro idioma. “As empresas têm exigido cada vez mais dos candidatos. A vivência no exterior aponta que o profissional é mais flexível e adaptável. Os headhunters levam em conta quem tem experiência fora”, diz o gerente de Treinamento da Experimento, Maurício Pivetta. Segundo o executivo, muitas empresas incentivam seus profissionais a ter esse tipo de vivência. “Às vezes, os empregadores pagam uma parte das despesas ou até liberam os funcionários para as férias por um período maior.”

Em queda livre

ESTABILIDADE

Valor médio do dólar em 2011 (em R$)

Além do câmbio, a estabilidade econômica é fundamental no momento de decidir por um curso no exterior. “Com a economia estável, as pessoas têm mais confiança para planejar o que farão no longo prazo”, diz a presidente da Belta, Maura Leão. Há quem defenda até que a estabilidade é mais importante que o câmbio. “O intercâmbio não é um produto adquirido por impulso. A decisão é tomada com, no mínimo, seis meses de antecedência”, diz o sócio-diretor da CI, Celso Garcia. Na avaliação de Garcia, a oportunidade de os interessados terem no currículo a experiência no exterior é mais valiosa do que a economia gerada pelo câmbio. “Variações de 15% ou 20% na cotação do dólar não são o fator preponderante de tomada de decisão quando se considera o tipo de produto e o perfil do cliente”, diz. Mas há quem considere que o esforço do governo para enfraquecer o real e melhorar a vida dos exportadores possa ter alguma influência no mercado de intercâmbios. O gerente da área de Tributação da Hays, consultoria especializada em recrutar profissionais para média e alta gerência, Bruno Lourenço, avalia que, em caso de reversão do comportamento do real, pode haver queda na procura por esse tipo de programa. “Vai cair, mas não tanto, por causa da exigência do mercado. O nível gerencial, por exemplo, demanda, no mínimo, inglês avançado.”

Cotação média anual do dólar comercial para compra (em R$) 2,92

2,43 2,17 1,99

1,94

2004

2005

1,67

2006

1,66

1,83

2007

1,75

2008

2009

2010

1,65 1,61 1,58

janeiro

fevereiro

março

1,58

abril

maio

junho

1,56

julho

Fonte: Banco Central

210 mil

De malas prontas

2011*

Número de brasileiros em programas de intercâmbio

170 mil 2010

140 mil 2009

120 mil 2008

85 mil 71 mil 54 mil 42 mil

2007

2006

2005

2004

* projeção

Fonte: Belta

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NEGÓCIOS Internacionalização

AZCONA TEM PLANOS DE ABRIR UNIDADES DA KIDZANIA NA AMÉRICA DO NORTE

Hora de exportar O MÉXICO SE INSPIRA NO EXEMPLO DAS FRANQUIAS BRASILEIRAS PARA EXPANDIR SUAS MARCAS

modelo de expansão internacional das franquias brasileiras tem servido de inspiração para empresas mexicanas. Ao todo, 68 redes do Brasil, ou 5% do total, optaram por ir além das fronteiras e operam em 49 países. No México, a internacionalização é menor: apenas 30 redes de franquia (ou 2% do total) conseguiram se expandir para o exterior. Segundo Rafael Manzo, diretor do Programa Nacional de Franquias do México (órgão subordinado à Secretaria de Eco-

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nomia), quem cresceu fora do país não contou com ajuda governamental, o que deve mudar. “Já começamos a trabalhar a questão. Neste ano, teremos um pavilhão na Feira Andina de Negócios e Franquias de Bogotá [que acontece neste mês]”, afirma. A franquia mais inovadora no México é a Kidzania, fundada por Xavier López Azcona, que partiu para a internacionalização. Trata-se de um grande parque temático infantil onde as crianças brincam de ser adultas: trabalham

como padeiros na empresa Bimbo e são banqueiros no BBVA, por exemplo. A cadeia mexicana está presente em 14 países, incluindo Brasil, Japão, Tailândia e Arábia Saudita. No mundo das franquias, há diferentes modelos de expansão internacional. Pode ser por meio da escolha de um master-franqueado, responsável pelo desenvolvimento do negócio por meio de franqueados locais, por exemplo. A Kidzania decidiu partir para o mercado norte-americano como opera-

Foto: Gilberto Contreras

DAVID SANTA CRUZ, DA CIDADE DO MÉXICO

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dora do negócio. E, para encontrar um parceiro estratégico no país, contratou uma equipe de executivos locais, entre os quais se destaca Cammie Dunaway, ex-vice-presidente da Nintendo. Se, por um lado, o México ainda tem menos franquias internacionalizadas que o Brasil, por outro, é mais aberto a bandeiras estrangeiras. De acordo com um estudo realizado em 2008 pela consultoria mexicana Alcazar & Aranday, para o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o número de franquias internacionais no México chegava a 21%, enquanto no Brasil era de apenas 11%, e na Espanha, de 15%. Outra particularidade das franquias mexicanas é o apoio estatal. “Temos uma política pública consistente e uma agência especializada para promover as franquias”, afirma Manzo. O diretor explica que o programa foi criado com três objetivos: gerar novas fran-

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30 redes de franquia mexicanas já têm operações internacionais quias, aumentar o interesse dos mexicanos por esse tipo de negócio e consolidar as franquias já existentes. No México, há cerca de mil marcas e mais de 60 mil estabelecimentos do gênero. Já no Brasil existem 1.855 marcas, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), e 86.365 unidades. Em torno de 80% do orçamento do Programa Nacional de Franquias do México destina-se à aquisição de no-

vas franquias, com créditos de até US$ 20 mil e sem a cobrança de juros. Por que tanto entusiasmo e generosidade fiscal? Segundo dados do governo mexicano e da Associação Mexicana de Franquias (AMF), a taxa de sobrevivência de uma franquia é de 90%, nos primeiros dois anos. No quinto ano de operação, mais de 70% das franquias tendem a continuar com as portas abertas. Já em um negócio convencional, 80% quebram antes de completar o segundo ano de operação. O programa mexicano busca dar a estabilidade necessária tanto ao empregado quanto aos investidores. Em muitos casos, são pessoas que apostam suas economias ou a soma recebida depois de demissão na busca de um negócio que lhes permita recomeçar. “Uma franquia tem uma marca reconhecida e um modelo viável, o que lhe permite replicar sua experiência”, afirma Diego Elizarrarás, presidente da AMF.

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NEGÓCIOS Tecnologia

Cresce a família do

MAIOR PRODUTOR MUNDIAL DE CANA-DE-AÇÚCAR, O BRASIL TEM VANTAGEM TECNOLÓGICA

etanol CANA-DE-AÇÚCAR VAI ALÉM DO COMBUSTÍVEL E CONQUISTA INDÚSTRIA QUÍMICA NATALIA GÓMEZ, DE SÃO PAULO

magine o mundo sem petróleo. Difícil? Comece pelas embalagens plásticas na cozinha e no banheiro de casa. Agora imagine que esse material possa ser produzido a partir de uma matéria-prima renovável. Parece um exercício de futurologia, mas essa substituição já é feita, em pequena escala, no Brasil. Projetos que utilizam canade-açúcar ou álcool para fabricar produtos químicos antes derivados do petróleo começam a despontar, e alguns já aparecem nas prateleiras das lojas: estão presentes em produtos da Nestlé, na embalagem do xampu Pantene e em itens da linha da Natura. Além do plástico verde usado em embalagens, surgem lubrificantes renováveis e aditivos para gasolina. A partir de 2013, virão outros tipos de plástico, voltados para os setores automotivo e eletroeletrônico, todos com base no álcool da cana. O mercado ainda engatinha, mas o movimento não tem volta: a família do etanol combustível, estrela internacional, está crescendo e vive um momento de grande efervescência tecnológica, com uma gama crescente de produtos para uso industrial. Usada de forma tímida nas últimas

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décadas, a tecnologia chama a atenção por causa do apelo sustentável e do ciclo de alta do petróleo nos últimos anos. Avança com rapidez e promete ganhar corpo com investimentos de empresas nacionais e estrangeiras. Pioneira nesse mercado, a Braskem inaugurou, em setembro de 2010, uma unidade produtora de polietileno verde, em Triunfo (RS). A indústria compra etanol no mercado para produzir um gás chamado eteno. A partir do eteno, fabrica polietileno verde, que, em alguns casos, é 100% derivado do etanol e, em outros, leva um porcentual de algum monômero que ainda não é verde. Apesar de não ser biodegradável, a vantagem do plástico verde é sua origem renovável. Enquanto a cana captura gás carbônico da atmosfera durante a fotossíntese, o plástico tradicional gera emissão do gás em sua produção. Para cada quilo de plástico verde produzido, são absorvidos da natureza 2,5 quilos de gás carbônico. No plástico convencional, são gerados 2,5 quilos de gás por quilo de plástico fabricado. A tecnologia de conversão de eta-

nol para eteno já existia no mercado, mas a Braskem desenvolveu um processo para obter eteno com maior grau de pureza, necessário para produzir o plástico. “Fizemos eteno nos anos 1990, quando o petróleo estava mais caro, mas não produzíamos o polietileno”, explica o gerente de Marketing e Inteligência de Químicos Verdes da Braskem, Rodrigo Belloli. Hoje, a companhia vende o plástico para uso em embalagens no setor alimentício, de higiene e limpeza. Os maiores volumes são destinados à exportação, em especial para a Europa. Alguns dos clientes da Braskem são a P&G, a Natura e a Nestlé. A Nestlé lançou, em meados de agosto, em parceria com a Tetra Pak e a própria Braskem, uma nova tampa para a caixa de leite Ninho feita com o plástico verde. A expectativa da Braskem é de que o mercado interno também se desenvolva, nos

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Foto: Divulgação

próximos anos, pois seus clientes têm grande apetite pelo Brasil. A produção em Triunfo é de 200 mil toneladas de polietileno verde por ano. Por enquanto, a capacidade é suficiente para atender o mercado, mas a Braskem pretende iniciar novos investimentos para seguir na liderança quando a demanda aumentar. Até lá, a companhia planeja produzir outro tipo de insumo verde: polipropileno a partir do etanol. Enquanto o polietileno é mais usado em embalagens, seu parente polipropileno tem aplicações nos setores automotivo e eletroeletrônico. A nova unidade de produção, ainda sem local definido, receberá investimentos de US$ 100 milhões e terá capacidade mínima de 30 mil toneladas ao ano. Belloli, da Braskem, explica que a rota de produção do polipropileno não é tão madura e precisa passar por melhorias. Para isso, a empresa realiza es-

tudos em parceria com a Unicamp e o Laboratório Nacional de Biotecnologia. “Ninguém produz esse material no mundo”, conta. A operação está prevista para começar em 2013. Outra inovação produzida pela empresa é o ETBE, aditivo usado na gasolina feito de metanol e fabricado desde 2010. Mais um investidor com planos para esse mercado é a americana Dow Chemical. Em julho, a Dow e a trading japonesa Mitsui anunciaram uma joint venture para construir o complexo industrial em Santa Vitória (MG) com o objetivo de produzir polietileno a partir do etanol. A Mitsui terá 50% da operação de cana da Dow em Santa Vitória. Segundo o diretor de Negócios para Alternativas Verdes e de Desenvolvimento de Novos Negócios da Dow para a América Latina, Luis Cirihal, os biopolímeros poderão ser aplicados como matéria-prima para embalagens

de alimentos, higiene e saúde. A usina terá capacidade de produção de 240 mil metros cúbicos de etanol por ano. “O projeto vem ao encontro do objetivo da Dow de desenvolver soluções de baixo carbono para atender aos desafios globais de energia e mudanças climáticas.” A empresa anunciou o projeto em 2007, mas a crise financeira de 2008 e as dificuldades com parceiros afetaram seu andamento. Com a expansão do mercado de plásticos, a Dow retomou seus planos na área. A americana Amyris é outra protagonista no desenvolvimento de insumos industriais derivados da cana. Criada por pesquisadores da Universidade da Califórnia, teve como primeiro investidor a Fundação Bill & Melinda Gates. A Amyris não utiliza etanol, mas caldo de cana. A partir da modificação genética em uma levedura utilizada na produção de álcool combustível, chegou Setembro, 2011 AméricaEconomia 49

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NEGÓCIOS Tecnologia

COM UMA PLANTA DE FARNECENO EM OPERAÇÃO, A AMYRIS PLANEJA INAUGURAR MAIS DUAS UNIDADES EM 2012

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a uma substância chamada farneceno, capaz de substituir derivados de petróleo em produtos como lubrificantes para carros, cosméticos, fragrâncias, sabores e solventes. A Amyris fabrica dez milhões de litros de farneceno em Piracicaba (SP) e tem duas outras unidades em construção. Uma delas, em parceria com o Grupo São Martinho, produzirá cerca de 100 milhões de litros por ano. A

1,2 bilhão de litros por ano é o mercado de etanol para indústrias químicas e farmacêuticas

outra, com a Usina Paraíso, em Brotas (SP), terá capacidade para 50 milhões de litros. Ambas serão inauguradas em 2012, segundo o vice-presidente da empresa no Brasil, Roel Collier. A operação da Amyris no Brasil já conta com vários contratos de venda para gigantes como P&G, Firmenich (do setor de fragrâncias), Gruppo Mossi & Ghisolfi (polímeros e aditivos plásticos) e Soliance, multinacional fabricante de cosméticos. Recentemente, a Amyris também anunciou joint venture com a Cosan, batizada de Novvi. O objetivo da empresa é desenvolver, produzir e comercializar mundialmente óleos básicos renováveis feitos a partir do farneceno. Outro projeto inovador é conduzido pela Usina da Pedra, em Serrana (SP), onde uma unidade-piloto produz cerca de 50 toneladas de plástico biodegradável polihidroxibutirato (PHB) por ano a partir da cana. A produção é destinada ao desenvolvimento de aplicações baseadas no PHB, por meio de parce-

rias com empresas, centros de pesquisa e universidades no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Segundo o administrador do projeto, Eduardo Brondi, a empresa planeja criar uma indústria para a venda do produto, mas a capacidade ainda não está definida. O projeto é controlado pelos grupos Pedra Agroindustrial S/A e Balbo. O plástico produzido pela Usina da Pedra é 100% biodegradável. “Em contato com o meio ambiente e sob determinadas condições, degrada-se e transforma-se nos elementos naturais que o compõem, fechando assim o ciclo de vida sem nenhum tipo de impacto negativo à natureza”, explica Brondi. Ele pode ser aplicado em peças automotivas, embalagens de cosméticos, brinquedos, tubetes para crescimento de eucalipto, copos e talheres, calçados e cartões de crédito. Hoje, existe uma tecnologia similar, mas à base de glicose de milho e com a utilização de bactérias geneticamente modificadas, nos Estados Unidos e na China.

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Fotos: 1 - Divulgação; 2 e 3 - Mathias Cramer/Divulgação

MATÉRIA-PRIMA O consumo na indústria alcoolquímica ainda é pequeno, mas o quadro deve mudar nos próximos anos. O mercado de etanol para as indústrias químicas e farmacêuticas movimenta no país 1,2 bilhão de litros por ano, volume que pode dobrar ou até triplicar na próxima década. A participação do segmento no consumo de etanol é de 5%, mas deve chegar a 10% ou 15% em cinco anos, diz José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia, produtora de etanol, açúcar e energia elétrica criada há quatro anos pela Odebrecht. Segundo Grubisich, o mercado tende a crescer significativamente porque muitas empresas estão pesquisando opções para substituir a matéria-prima derivada de petróleo por um insumo limpo e renovável. A ETH é um dos fornecedores de etanol para a Braskem, que consome 460 milhões de litros do combustível por ano. Apesar da atual crise na oferta de etanol combustível no Brasil, os empresários se mostram otimistas quanto ao abastecimento de cana e etanol para uso industrial. Um dos motivos é que os projetos da indústria alcoolquímica vão maturar de forma gradual nos próximos anos, tempo suficiente para que a oferta volte a aumentar. Outra motivação adicional é que os preços praticados nesse mercado devem atrair os fornecedores. A precificação tende a ter uma lógica diferente da aplicada ao etanol combustível, pois esse compete com a gasolina, que tem os preços controlados pelo governo e estão abaixo dos preços internacionais. A matéria-prima voltada à indústria deverá ser melhor precificada devido ao maior valor agregado dos produtos e da sua destinação para o mercado externo, embora o volume seja menor. “Ocorrerá uma segmentação do mercado, com diferentes lógicas de preços e rentabilidade”, diz o presidente da ETH. A ETH é uma das que mais têm investido em aumento de produção no Brasil. Foram R$ 6 bilhões nos últimos quatro anos. A empresa pretende inves-

tir mais R$ 2 bilhões nos próximos 18 meses. A meta é chegar a 40 milhões de toneladas de moagem, com produção de 3 bilhões de litros de etanol, conquistando a liderança no país. Outra tendência é que as empresas alcoolquímicas invistam em sua própria produção de insumo. A Amyris acredita que a crise de oferta de matéria-prima é momentânea, mas não descarta a possibilidade de investir em verticalização. Collier afirma que poderá atuar diretamente na produção dos insumos para expandir no setor sucroalcooleiro. “Os planos incluem assegurar acesso à matéria-prima, seja via contratos de longo prazo ou aquisição.”

HISTÓRICO Curiosamente, registros do uso da alcoolquímica na indústria nacional remontam à década de 1940. Até a inauguração das centrais petroquímicas, na década de 1970, empresas como Salgema, Union Carbide, Eletrocloro, Solvay e Companhia Alcoolquímica Nacional utilizaram o etanol como matéria-prima para fabricar eteno, insumo de produção de polímeros como o polietileno e o PVC. No entanto, o avanço das petroquímicas nos anos 1970 afetou a competitividade desse mercado, que ficou à mercê das altas e baixas nos preços do petróleo e à concessão e eliminação de subsídios para o etanol.

O interesse pela alcoolquímica voltou à tona em 2004, com o forte ciclo de alta dos preços do petróleo, que atingiu o pico de US$ 148 por barril em 2008. A crescente preocupação global com os fatores ambientais também atraiu atenção para esse setor. Segundo o consultor de Emissões e Tecnologia da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Alfred Szwarc, a exaustão das reservas conhecidas de petróleo e o fato de a exploração das grandes reservas que vêm sendo descobertas envolver maiores riscos ambientais e custos mais elevados também incentivam a indústria química a diversificar as suas fontes de matérias-primas e a buscar alternativas. Desta vez, o mercado acredita que não se trata de uma aposta passageira. A diferença é que a expansão do uso dos carros flex trouxe grandes investimentos para o setor produtivo da cana-de-açúcar, elevando esse insumo para outro patamar. “O mercado para combustível levou a indústria da cana a grandes escalas e à consolidação”, afirma Belloli. “A questão da sustentabilidade também está mais em pauta.” Maior produtor mundial de cana-de-açúcar, o Brasil tem vantagens. Produtos sustentáveis também podem ser feitos a partir de milho e beterraba, mas a eficiência energética da cana é maior. Mais uma razão para esperar uma transformação do setor nos próximos anos.

NA FÁBRICA DE TRIUNFO (RS), A BRASKEM PRODUZ A MATÉRIA-PRIMA USADA NO PLÁSTICO VERDE

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CAPA Crise

A BOLSA DE NOVA YORK CAIU 5,5% APÓS A S&P REBAIXAR O RATING DOS EUA

APERT EM OS CINTOS O BRASIL TEM A CHANCE DE PROVAR QUE PODE SE SAIR BEM DIANTE DE UMA ECONOMIA GLOBAL EM FRANGALHOS. PARA EMPRESÁRIOS, SEM MEXER NO DÓLAR E NO CÂMBIO, HÁ RISCOS CHIARA QUINTÃO, DE SÃO PAULO

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gências de rating classificam riscos de crédito de governos e empresas. Parte do trabalho é checar, periodicamente, se as condições de risco continuam iguais ou mudaram, o que pode significar manutenção ou revisão da nota de avaliação. Esse acompanhamento da capacidade de governos e empresas honrarem seus compromissos influencia, por exemplo, condições de taxas de juros e prazos definidos na contratação de uma dívida, além da atratividade de investimentos no mercado financeiro. Não por acaso, a decisão da S&P (Standard & Poor’s) de rebaixar, pela primeira vez na história, a nota da dívida americana, que passou de AAA para AA+, teve um efeito devastador na economia mundial. O anúncio foi feito na noite da sexta-feira, 5 de agosto, quando as bolsas de valores já estavam fechadas. No pregão seguinte, na segunda-feira, dia 8, os mercados fecharam em baixa em resposta às incertezas quanto ao rumo da economia global. O presidente americano, Barack Obama, bem que buscou esfriar o mercado ao tentar passar um clima de confiança, mas não colou. “Não importa o que alguma agência possa dizer. Nós sempre fomos e sempre seremos um país AAA. Os mercados continuam a acreditar na nossa condição de crédito AAA. De fato, Warren Buffet [megainvestidor americano], que sabe uma coisa ou outra de bons investimentos, afirmou que, se houvesse um rating AAAA, seria dado aos EUA.” A turbulência deflagrada pela nota da S&P chegou quando o mercado ainda digeria o acordo fechado entre democratas e republicanos para renegociar a dívida dos Estados Unidos. E mais. Veio em um momento em que governantes europeus ainda buscam soluções para os problemas fiscais de vários países da zona do euro e em que a perspectiva é de menor crescimento das economias centrais. Na BM&FBovespa, a reação dos investidores não foi diferente da observada em outras bolsas – queda forte dos índices, seguida de oscilação dos

Fotos: 1 - Jan Cobb Photography/Getty Images; 2 - Jewel Samad/AFP

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OBAMA: “SEREMOS SEMPRE UM PAÍS TRIPLE A”. SERÁ?

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preços das ações negociadas. Isso não significa, porém, entendimento de que a economia real do Brasil foi contaminada pela turbulência dos Estados Unidos e da Europa. A avaliação geral é que o país está tão ou mais preparado para uma crise mundial do que em 2008. Empresários e economistas ouvidos por AméricaEconomia consideram que, pelo menos por enquanto, o país está preservado da crise que se acirra lá fora, e a expectativa é de manutenção dos planos das companhias. Mas o setor produtivo alerta para dois problemas que, mesmo em tempos de calmaria, costumam tirar o sono: câmbio e taxa de juros. O fato de o governo não ter alterado as diretrizes para esses dois fatores foi a principal crítica ao pacote de desoneração Brasil Maior, anunciado pelo go-

A piora do cenário internacional elevou os custos de captação de recursos, mas as empresas dizem não estar preocupadas

verno no começo de agosto e cujo objetivo é elevar a competitividade do setor produtivo, com foco na inovação tecnológica e na agregação de valor. “Com esse câmbio e esses juros, o governo dizer que vai incentivar a inovação ajuda, mas não resolve. Não foi por investir em inovação que a China se tornou a maior produtora e exportadora do mundo”, diz Mario Bernardini, assessor econômico da presidência da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). Para a Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, o câmbio é um problema para as exportações embarcadas a partir do Brasil. “Nossa empresa tem investido mais em inovação e automação, para diminuir os custos e fazer frente à valorização da moeda brasileira, mas precisamos de mais”, afirma José Rubens de la Rosa, diretor geral da Marcopolo. Rubens Menin, presidente da MRV Engenharia, ressalta que a competitividade do país depende de “juros mais baixos, câmbio mais realista e carga tributária menor”. “O governo está consciente de tudo, mas não sei que prioridade dará a essas mudanças. O dólar não pode cair mais”, diz. Cláudio Hamilton, coordenador Setembro, 2011 AméricaEconomia 53

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CAPA Crise

Após rebaixar a nota da dívida americana de AAA para AA+, a S&P (Standard & Poor’s) foi alvo de uma enxurrada de críticas. Até a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, partiu em defesa da saúde financeira americana: “Não compartilhamos da avaliação precipitada e, eu diria, não correta da agência que diminuiu o grau de valorização de crédito dos Estados Unidos”, afirmou. Em coluna publi3 cada internacionalmente em 9 de agosto, o economista e prêmio Nobel Paul Krugman descarregou muita munição na agência, à qual atribuiu “falta de REGINA NUNES, credibilidade”. PRESIDENTE DA S&P NO BRASIL Krugman se referiu às mancadas da S&P. Em 2008, a agência concedeu ao banco americano Lehman Brothers uma nota A um mês antes de o banco quebrar e deflagrar o pânico global. O equívoco mais recente foi no episódio que resultou na redução da nota da dívida americana. A S&P enviou ao Tesouro americano um rascunho da nota que seria mais tarde divulgada, em que os técnicos notaram um erro grosseiro de cálculo das projeções dos gastos públicos de US$ 2 trilhões. A agência revisou o cálculo, mas manteve a decisão de rebaixamento. “Rating não é feito para se concordar, mas para ser uma régua que possibilite ao investidor entender diferentes capacidades de pagamentos”, diz a presidente da S&P no Brasil, Regina Nunes. Segundo ela, a classificação dos Estados Unidos de AA+ significa que não se vislumbra a possibilidade de o país ser incapaz de pagar suas contas. (C.Q.)

de Finanças Públicas da Dimac (Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas), do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), acredita que a equipe econômica está sensível ao momento. “Se necessário, o governo lançará um arsenal anticíclico que inclui redução da taxa de juros. Mas o que queremos é a queda dos juros, mesmo em cenários mais otimistas”, afirma. Em visita ao Congresso, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, disse que, agora, com a inflação aparentemente controlada, “há espaço” para a redução da taxa de juros. Tradicional defensor da queda dos juros, o professor da Unicamp e consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) Julio Gomes de Almeida diz que o ideal seria a taxa básica de juros, a Selic, estar mais baixa, mas não é hora de o governo fazer alterações. “Esse instrumento deve ser usado quando a visão sobre o que está acontecendo estiver mais clara”, diz. Ao falar do câmbio, Mantega preferiu direcionar as discussões para o âmbito global. “O câmbio é um fatorchave que determina a competitividade dos países. É um tema central, que nos traz muita preocupação. A OMC [Organização Mundial do Comércio] não está preparada para combater o sub-

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sídio cambial”, disse aos congressistas. O ministro deu sinais de que pode haver mais medidas de desoneração da cadeia produtiva com o objetivo de evitar que os efeitos de um travamento da economia global sejam sentidos no Brasil. Segundo ele, a redução de tributos é um forte aliado no aumento da competitividade.

COMMODITIES Um incentivo importante para o corte dos juros pode vir da queda mais acentuada dos preços das commodities. Após fortes altas em 2009 e 2010, houve um arrefecimento do boom de commodities nos últimos meses. As cotações de metais, têxteis e de alimentos começaram a cair em abril, em resposta à percepção de que o crescimento dos EUA e da Europa seria menor que o esperado. Os preços internacionais se refletem no mercado doméstico, o que significa que as quedas lá fora contribuem para reduzir as pressões inflacionárias no país. “Se os preços internacionais de commodities caem, é possível tomar medidas para fomentar a demanda, como reduzir a taxa de juros. Isso facilita o crédito e diminui a pressão sobre as contas públicas”, diz Hamilton, do Ipea. A redução dos preços das commodities e a menor expansão esperada para

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“A Petrobras não prevê alterar o plano de investir US$ 224,7 bilhões até 2015, mas pode adiar a venda de participações em empresas”

“Os fundamentos para a construção civil: demanda, crescimento de renda, queda do desemprego e crédito para o setor, continuam fortes”

José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras

Rubens Menin, presidente da MRV

Fotos: 3 e 5 - Divulgação; 4 - Agência Petrobras

Decisão da S&P de rebaixar EUA é alvo de críticas

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Fotos: 6 - Zhang Wei/AFP; 7 - Sérgio Zacchi/Divulgação; 8 - Gladstone Campos/Divulgação; 9 - Divulgação

a economia mundial levaram a LCA Consultores a revisar, no primeiro dia útil após o rebaixamento da nota dos EUA, sua projeção do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2012 de 4% para 3,7%. Se, para o controle da inflação, essa queda de preços é vista como positiva, para a balança comercial brasileira pode haver encolhimento da receita de exportações, já que as commodities respondem por boa parte da pauta de embarques. Mas, segundo o economista da LCA Fábio Romão, ainda que a balança possa ser “um pouco afetada”, os preços não vão despencar, pois a China, maior compradora das commodities brasileiras, continua crescendo. Durante teleconferência para a apresentação de resultados, Rodrigo Campos, diretor de Relações com Investidores da ALL (América Latina Logística), disse que a empresa não trabalha com o cenário de redução da área plantada de grãos (por causa de uma eventual queda no preço das commodities). Segundo o executivo, os produtores estão muito capitalizados com a alta dos preços e não devem diminuir os investimentos. Para empresas como a Vale, não há como descartar o risco de desaceleração da economia chinesa, muito dependente do que ocorre nos EUA. Isso, é claro,

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A QUEDA DOS PREÇOS DAS COMMODITIES AJUDA A REDUZIR PRESSÕES INFLACIONÁRIAS

pode impactar no balanço da empresa, que exporta cerca de 50% da produção de minério de ferro para o país asiático. No entanto, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente da companhia, Murilo Ferreira, disse: “Não tivemos nenhum pedido de cancelamento de embarque, nenhum pedido de transferência de datas de embarque”. Ex-economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman lembra a dependência chinesa dos EUA: “Os americanos respondem por uma parte grande da dinâmica de crescimento da China”.

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Na avaliação de Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Política Econômica, a tendência para as commodities dependerá do quanto os países asiáticos terão de ajustar suas taxas de crescimento. “Assim como todos os emergentes, o papel da China é aliviar a tendência recessiva global”, diz.

INVESTIMENTOS A vida pode ficar mais difícil não apenas para quem depende diretamente da China, mas também para empresas

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“Vamos manter a previsão de investimentos para 2011, de R$ 3,5 bilhões, mesmo com a economia internacional fragilizada”

“Não planejamos alterar investimentos, mas consideramos não ficar com quatro aeronaves adicionais previstas, caso o quadro se agrave”

“Uma redução do setor de consumo pelo endurecimento das condições de acesso ao crédito privado é o impacto mais preocupante que poderia haver”

Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano

Líbano Barroso, presidente da TAM

Jacinto Caverstany, vice-presidente da BT para Ibéria e América Latina

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CAPA Crise

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INCERTEZAS SE REFLETEM EM MERCADO MUITO VOLÁTIL

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pado, e o dia a dia”, ressalva. O plano de investimentos da Marcopolo prevê R$ 300 milhões até 2015. “Temos geração de caixa suficiente para bancar os investimentos, além da ajuda do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]”, explica. O Grupo Melitta também não tem intenção de reduzir os investimentos de R$ 59 milhões programados para o Brasil em 2011, segundo o presidente Thomas Bentz. “O Brasil ainda é menos afetado pela crise em comparação à

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Europa e aos Estados Unidos”, diz. Na avaliação do executivo, é difícil dizer “quando e como” o país será atingido pela má fase da economia mundial. Também do setor de alimentos, a JBS-Friboi pretende manter os projetos, segundo o conselheiro e ex-presidente da companhia José Batista Júnior. Mas, se necessário, poderá adequar sua produção, por exemplo, por meio do fechamento temporário de alguma fábrica. Segundo o diretor-presidente da companhia, Wesley Mendonça Batista, o

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“Não estamos planejando nenhuma mudança substancial do nosso planejamento estratégico e não houve pedidos de cancelamento de embarque”

“No país, o setor de cosméticos é um dos menos afetados pela crise. Mesmo em período de turbulência, o consumidor não abre mão de se cuidar”

“Mantemos nosso plano de investimentos no curto prazo, mas, em caso de confirmação de piora do cenário mundial, seremos mais cautelosos”

Murilo Ferreira, presidente da Vale

Nicolas Fischer, presidente da operação da Nívea no Brasil

Carlos Fadigas, presidente da Braskem

Fotos: 10 - Mauricio Lima/AFP; 11 - Divulgação; 12 - Pedro Dias; 13 - Divulgação

que dependem de captação de recursos para irrigar o caixa. “É evidente que um agravamento da crise teria como consequência uma dificuldade crescente para obter financiamento externo, ainda que seu efeito seja limitado”, opina Jacinto Cavestany, vice-presidente da BT para a Ibéria e a América Latina. Mas companhias como MRV Engenharia e Braskem dizem não estar preocupadas com esse encarecimento, em virtude de suas condições de caixa. “As empresas estão muito mais capitalizadas que antes. No último trimestre de 2008, a MRV tinha caixa de R$ 180 milhões. Hoje, temos R$ 1,2 bilhão”, diz o presidente da MRV, Rubens Menin. A Braskem mantém seu plano para o curto prazo. “Mas, em caso de confirmação de piora do cenário mundial, seremos mais cautelosos”, pondera o presidente Carlos Fadigas. Os investimentos programados da Braskem para 2011 somam R$ 1,6 bilhão. José Rubens de la Rosa, da Marcopolo, diz que ainda é cedo para qualquer tipo de reavaliação no plano de negócios da empresa. “Num primeiro momento, a mudança do cenário internacional não foi sentida, mas há uma defasagem entre a tomada de decisão em nosso setor, que trabalha na base de encomendas e de planejamento anteci-

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Diferenças em relação a 2008

Fotos: 14 e 15 - Divulgação; 16 - Eugenio Goulart/Divulgação

Ninguém projeta as dimensões da nova crise que afeta as economias centrais, mas a percepção, até o momento, é de que as proporções da turbulência de 2008 não se repetirá. A instabilidade atual resulta da desaceleração do crescimento da Europa e dos Estados Unidos e da dúvida se o governo americano conseguirá cumprir seus compromissos. Foi acirrada também pelo rebaixamento da nota da dívida dos EUA de AAA para AA+ pela S&P (Standard & Poor’s). Em 2008, a crise resultou do agravamento dos problemas decorrentes das hipotecas de segunda linha nos Estados Unidos, o chamado subprime e teve como símbolo a quebra do Lehman Brothers. Segundo o consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e professor da Unicamp Julio Gomes de Almeida, o ambiente atual não se assemelha ao de três anos atrás, mas “ninguém sabe o tamanho da crise”. A piora do cenário ocorreria em caso de “falência de bancos e quedas abruptas no consumo, no investimento e no crédito”. Nem o rebaixamento do rating da dívida soberana do governo do Japão, de Aa2 para Aa3 (com perspectiva estável), anunciado pela agência de classificação de risco Moody’s, em 23 de agosto, 18 dias depois de a economia americana cair em desgraça, teve um impacto significativo no atual cenário. As bolsas asiáticas reagiram mal nos primeiros dias, mas depois voltaram a se recuperar. A única possibilidade de o ambiente atual se tornar semelhante ao vivido após a quebra do Lehman Brothers, segundo o vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Política Econômica, Otaviano Canuto, é se ocorrer uma crise bancária na Alemanha e na França. “Mas quero crer que a vulnerabilidade dos bancos alemães e franceses não seja tamanha.” O presidente do CFA Institute (associação mundial que congrega os analistas de mercado), John Rogers, diz acreditar que a volatilidade continuará no futuro próximo. “Há uma grande dose de incerteza nas mentes dos participantes do mercado. Mais incerteza se manifesta com maior volatilidade tanto de um dia para o outro quando durante o mesmo pregão”, diz Rogers. (C.Q.)

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plano de investimentos para 2012 não está fechado, mas há expectativa de “redução significativa”, em decorrência da necessidade de aportes menores por causa da conclusão de projetos que estão em andamento. O setor da construção civil, muito dependente de financiamento bancário, tem sido, nos últimos anos, um dos alavancadores da economia nacional. Em 2008, no auge da crise, os bancos fecharam a torneira do crédito no Brasil, e o governo incentivou a liberação de recursos por meio dos bancos públicos. Segundo o diretor e cofundador da BRFE (Brazilian Finance & Real Estate), Fabio Nogueira, de modo geral, os bancos não têm sinalizado que pretendem elevar taxas ou reduzir prazos. “O financiamento imobiliário é o que tem menor inadimplência entre os produtos de crédito”, lembra Nogueira. Mas, por mais que as empresas reiterem a intenção de manter investimentos e que não se fale em escassez de crédito, até o governo considera a possibilidade de o Brasil crescer menos que o previsto. Nas estimativas de Almeida, da Unicamp, a expansão do PIB brasileiro (o Produto Interno Bruto), que deveria ser de 4% em 2011, será de 3%. Bernardini, da Abimaq, trabalha com uma meta maior. “Esperava-se entre

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“É muito prematuro comentar sobre a crise. Nós não sentimos absolutamente nada nesse momento. Vamos aguardar”

“A mudança do cenário internacional não foi sentida nos negócios, mas há uma defasagem entre a tomada de decisão e o dia a dia”

“Não pretendemos reduzir investimentos no Brasil em função da crise. É difícil dizer quando e como o país será atingido”

Marco Túlio Pellegrini, VP para o Mercado de Aviação Executiva da Embraer

José Rubens de la Rosa, diretor geral da Marcopolo

Thomas Bentz, presidente do Grupo Melitta

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CAPA Crise Enquanto isso, na zona do euro

SITUAÇÃO BRASILEIRA O indicador mais citado quando se compara os dois momentos de turbulências é o crescimento das reservas internacionais do Brasil. Em 15 de setembro de 2008, quando o banco americano Lehman Brothers pediu concordata, o país tinha US$ 207,6 milhões em reservas internacionais. No dia em que a S&P rebaixou a nota americana, as reservas brasileiras estavam 68% maiores e somavam US$ 348,5 milhões. “As reservas nunca estiveram tão altas, as contas públicas estão em dia, o sistema financeiro, robusto, e a economia, crescendo rapidamente. O país está bastante bem posicionado para enfrentar a crise, caso ela venha a nós”, diz o coordenador de Finanças Públicas da Dimac, Claudio Hamilton. A agência S&P até elevou de estável para positiva a perspectiva para a nota do Brasil em moeda local, em 25 de agosto. Em maio, a agência tinha feito a mesma elevação de perspectiva para a classificação do crédito soberano em moeda estrangeira. “No cenário atual, quando se considera como os EUA e a Europa estão, mantemos o rating brasileiro”, diz a presidente da S&P no país, Regina Nunes. Ela afirma que o país está mais preparado em relação às condições políticas, monetárias e fiscais para enfrentar as turbulências internacionais agora do que antes do agravamento da crise financeira internacional, em 2008. Especialistas em economia internacional, como Canuto, do Banco Mundial, avaliam que haverá menos reflexos da crise no Brasil do que se viu três anos atrás: “O país está tão preparado quanto em 2008”, acredita. Com a colaboração de Adriana Chaves, Graziele Dal-Bó e Paula Pacheco, de São Paulo.

Enquanto os Estados Unidos tentavam dar sinais de que poderiam se recuperar, ainda que num ritmo mais lento, algumas economias da Europa deixavam – e ainda deixam – bem claro que o fundo do buraco está próximo. É o caso da Grécia, da Espanha, de Portugal e da Itália, que, segundo diz o ditado, estão mais quebrados que arroz de quinta. O economista Alexandre Schwartsman comenta: “A economia americana dava sinais de perda de fôlego ao se comparar os números de geração de emprego do primeiro com o segundo semestre. As famílias continuavam endividadas, o consumo andava de lado e não se via a recuperação do preço dos imóveis. Ainda assim, não se esperava uma situação como a de depois da S&P”. No mês passado, Angela Merkel, chanceler da Alemanha, e Nicolas Sarkozy, presidente da França, reuniram-se para tentar buscar uma alternativa que arraste menos países da zona do euro para o caos econômico. Os mercados europeus imaginavam que se decidiria por um aumento do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (uma espécie de fonte de socorro aos países de economia menor, que podem obter até € 60 bilhões de empréstimo), que hoje conta com € 440 bilhões (chegando a € 750 bilhões se somadas as contribuições da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional). Seria um sinal de boa vontade para resgatar os países à beira do abismo. Torcia-se também pela possibilidade de criar um bônus europeu que seria trocado pelos papéis das dívidas dos países encalacrados. Mas Sarkozy e Angela Merkel optaram por outras medidas, como o aumento da governança da zona do euro e a adoção da chamada “regra de ouro” nos 17 países que adotam a moeda única. A exemplo do que é feito na Alemanha, a regra, ainda não transformada em lei, obrigaria todo o bloco a equilibrar seus orçamentos nacionais e evitar o aumento das dívidas. Longe do que o mercado imaginava como rázoavel, o encontro não gerou boas notícias. Sob o clima de aversão ao risco e temor de que haja uma sucessão de governos insolventes, sem condições de honrar com suas dívidas, o euro voltou a se desvalorizar em relação ao dólar, e as bolsas europeias continuaram instáveis. Na mesma semana do encontro entre os dois líderes, um fato curioso. Segundo levantamento da Thomson Reuters, na sexta-feira 19 de agosto, a companhia Apple valia tanto quanto todos os 32 maiores bancos da zona do euro – resultado de uma queda acentuada no preço das ações de instituições financeiras, incluindo Santander, BNP Paribas, Deutsche Bank e Unicredit, diante do preço estável dos papéis da empresa americana de tecnologia. (P.P.)

ANGELA MERKEL E SARKOZY PEDEM MAIS GOVERNANÇA NA ZONA DO EURO

Foto: Philippe Wojazer/AFP

3,5% e 4% de crescimento para este ano. Agora, a expectativa está mais próxima de 3,5%”, diz o assessor econômico.

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opinião

A bolha Obama

ma bolha ronda a economia mundial. Não é a da crise da dívida dos Estados Unidos nem a do possível colapso da União Europeia. A bolha da vez é a de Barack Obama e, se a ventania atual não mudar, ela está em vias de estourar. Poucas vezes na história política recente da mais poderosa democracia do planeta se viu uma carreira política se desmanchar tão espetacularmente e a olhos vistos. Sim, Richard Nixon, de tanto enlamear a disputa eleitoral, foi forçado a renunciar à Presidência, e Jimmy Carter jamais se recuperou da desastrada tentativa de sequestrar um senhor de guerra da Somália, episódio que deixou 18 soldados mortos e a imagem do país em farrapos. Mas os dois foram meros figurantes frente a Obama, que em apenas um mandato presidiu duas guerras malogradas e a pane da maior economia do mundo. Ainda assistiu, pasmo, ao bate-boca legislativo que tirou do país o título de devedor exemplar e por pouco não provocou a mãe de todas as moratórias – o que certamente levaria o resto do globo à lona. Claro, há atenuantes. Obama herdou e não inventou os desgastantes e caríssimos conflitos no Iraque e no Afeganistão, que hoje se esforça para encerrar. Não assinou o colapso do mercado de hipotecas de 2008 e compartilha a culpa do quase calote da dívida épica americana tanto com os ineptos de seu próprio partido quanto com os radicais do Tea Party republicano, que mais parecem uma seita do que legisladores ponderados.

Ilustração: Samuel Casal

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Mas na política a desgraça recai em quem está de plantão. Foi por essa regra que Obama chegou à Casa Branca. Com o carisma de pastor evangélico e sua biografia inusitada, levitou acima da mesmice do jogo político americano, lotada de figurões tradicionais com marqueteiros caros e ideias pobres. Seu refrão de campanha, “Sim, nós podemos”, caía como um bálsamo para um eleitorado cansado da rotina “quebrada” de Washington. O mundo entrou no embalo. A cada pódio que o jovem líder subiu, uma nova América parecia se desenhar. Logo no tenro segundo ano de seu mandato veio o prêmio Nobel. O que diria a vetusta Academia sueca agora? De fato, Obama também cavou seu próprio buraco. Seu pacote “anticíclico” de estímulos contra a recessão foi de fato um presentão aos cardeais do partido democrático, recheado de emendas para ganhar companheiros e opositores relutantes. Estimulou muito pouco a economia e, mesmo assim, foi criticado por ser mesquinho demais. Depois, empunhou a bandeira polêmica da reforma do sistema de saúde pública, que logo foi desfigurada com concessões à oposição e até hoje teve poucos adeptos. Também trabalhou noite e dia para implementar o mercado de carbono, uma ideia certa em hora errada. O fracasso dos “empregos verdes” – em que um posto de trabalho custa centenas de milhares de dólares – está apenas começando a aparecer na imprensa. A resposta veio nas urnas. No ano passado, candidatos democratas perderam o controle da Câmara dos Deputados e, com ela, a iniciativa soberana na legislatura. O Tea Party, com excêntricas figuras como Sarah Palin, é fácil de ironizar. Mas insistiram em um ponto vital e solenemente ignorado: a contabilidade. O governo federal gasta demais há décadas. A conta não fecha desde os anos 1960, quando se lançou o Great Society, ambicioso programa de Welfare, cujos encargos só cresceram, independentemente do empenho econômico. Não é preciso tomar o chá dos republicanos para saber que a gastança custa caro demais. Filtrando todo o ruído partidário, a única coisa que realmente importa aos americanos hoje é o emprego. E há 20 anos a economia americana não consegue criá-los de forma sustentada. Pior, em quatro de cada seis empregos gerados entre 1990 e 2008, o patrão era o governo ou o setor de saúde, justamente os setores que mais patinam agora, segundo Michael Spence – outro prêmio Nobel, este da Economia. A senha para a política americana é a habilidade ou não de criar empregos. Senão Obama certamente perderá o dele.

MAC MARGOLIS é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil, outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

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CAPA Crise

Contra a crise, o toma lá, dá cá ASSUSTADO COM O POSSÍVEL CONTÁGIO DA ECONOMIA BRASILEIRA, GOVERNO LANÇA MEDIDAS DE PROTEÇÃO SOB A PRESSÃO DA CHANTAGEM PARLAMENTAR

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A INDÚSTRIA TÊXTIL FOI UMA DAS BENEFICIADAS PELO PACOTE DE AJUDA DO GOVERNO

governo brasileiro traçou as metas para enfrentar a crise econômica mundial. Lançou programas, fez afagos na indústria, deu ordens para conter os gastos e barrar de vez projetos que tramitam no Congresso e que podem aumentar os custos da máquina pública. Tudo caminhava em clima de otimismo até deputados e senadores ouvirem da cúpula econômica, e da própria presidente Dilma Rousseff, que o futuro dessas estratégias estava nas mãos do parlamento. A afirmativa, que chegou em tom de apelos, deu início a uma ampla ro-

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dada de chantagens políticas e ameaças de que, por aqui, pode ser tão difícil convencer o Congresso a aprovar as medidas anticrise quanto foi nos Estados Unidos. Apesar de nenhum parlamentar ter disposição para bancar a responsabilidade do ônus político dos efeitos da crise, houve o entendimento disseminado de que essa era a hora de pressionar o governo a atender aos pedidos de liberação de emendas parlamentares – dinheiro federal que eles mandam para estados e municípios – e nomeações de indicados dos partidos para cargos nos

segundo e terceiro escalões do Executivo. “Há muita pressão no parlamento para que nossos pedidos sejam atendidos. Temos explicado que é difícil pedir aos deputados que votem o que é de interesse do governo sem dizer se haverácontrapartida”, explicou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, que comanda a segunda maior bancada dentre os 513 deputados. As pressões para que o governo atenda às demandas legislativas começaram em 10 de agosto, depois que a presidente disse a líderes que compõem a base aliada no Congresso que precisa da ajuda deles para aprovar medidas fundamentais para que o país enfrente a crise mundial. Durante a reunião do grupo denominado Conselho Político, os aliados ouviram apelos e afirmações de Dilma Rousseff sobre a importância deles e de suas bancadas para viabilizar os planos governistas. No encontro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o Executivo precisa garantir a aprovação, por exemplo, da proposta que mantém a DRU (Desvinculação das Receitas da União) e que isso terá de ser feito rapidamente. A DRU permite ao governo desvincular 20% do orçamento para gastar como quiser. Na avaliação de Mantega, somente com a flexibilidade de caixa será possível tomar medidas anticrise rapidamente. “Precisamos manter uma relação boa com o Con-

Foto 17: Agliberto Lima/Agência Estado

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gresso. Achamos que os Estados Unidos só chegaram a esse estágio de dificuldades porque não puderam contar com o parlamento no momento certo”, afirmou Mantega aos aliados.

PEDIDOS Em vez de deixarem o encontro com a presidente certos de que pautariam os temas defendidos pela equipe econômica do governo, como geralmente acontece, os políticos dos partidos da base de apoio saíram do Palácio do Planalto anunciando uma “operação tartaruga” nas votações até que Dilma trate o Congresso com a “atenção merecida”.

tuais obrigatórios que União, estados e municípios devem investir em saúde (Emenda 29) são tratados agora como a moeda de troca entre Executivo e Legislativo. “Ou tem PEC 300, que é um compromisso nosso, ou não tem DRU”, resume o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

PROVIDÊNCIAS Enquanto busca uma saída para negociar com o Congresso a aprovação de projetos considerados vitais para enfrentar a crise, o governo lança programas para aquecer a economia nacional. O plano Brasil Maior, por exemplo, 19

MANTEGA: ESTRATÉGIA É DESONERAR A PRODUÇÃO

A lista de medidas adotadas pelo governo no pacote anticrise também inclui a ampliação do programa do Simples Nacional (Supersimples). Destinado às micro e pequenas empresas, o projeto prevê um teto maior de faturamento para a inclusão das empresas no programa. Mantega diz que as medidas emergenciais, somadas ao cenário econômico brasileiro, devem garantir que o Brasil passe pela crise menos suscetível aos efeitos negativos dela do que aconteceu em 2008. Segundo o ministro da Fazenda, o otimismo se deve principalmente ao elevado volume de reservas internacionais. “Temos a experiência da recente crise e, na política monetária, há graus de manobras para serem usados. Coisa que os Estados Unidos não têm”, afirmou. A equipe econômica do governo diz que a crença na perspectiva de que o Brasil sofrerá menos os ônus da crise mundial também leva em conta a melhoria dos indicadores fiscais e o fato de o país contar com um mercado interno expressivo.

CRÍTICAS 18

DILMA QUER DIÁLOGO COM OS PARTIDOS

Fotos: 18 - Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr; 19 - Wilson Dias/ABr

LEGENDA DE FOTO: GUE FEUM ALIS DIP ELIS

Leia-se: até que a presidente nomeie os indicados dos partidos para cargos no governo e libere dinheiro das emendas apresentadas por eles. A resposta às chantagens veio rapidamente. Dois dias depois das ameaças de paralisar as votações, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, anunciou a liberação de R$ 1 bilhão em emendas, e Dilma Rousseff iniciou uma rodada de conversas com a cúpula dos partidos políticos. Apesar da reação do Palácio do Planalto, as ameaças do Congresso de aprovar propostas consideradas de risco pela equipe econômica do governo ainda não foram dirimidas. O projeto que estabelece um piso salarial para policiais e bombeiros de todo o país (PEC 300) e o que aumenta os percen-

é considerado pela equipe econômica um pacote de bondades para a indústria que prevê benefícios tributários, como a continuidade da desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para bens de capital, material de construção, caminhões e veículos comerciais leves. Além disso, altera de 20% para zero a contribuição patronal do INSS para confecções, calçados, móveis e softwares, setores sensíveis ao câmbio e intensivos em mão de obra. “A ideia é reduzir essa contribuição para alguns setores em forma de projetopiloto. A desoneração, nessa primeira etapa, pode chegar a um terço do imposto devido. Esperamos que isso reduza a informalidade e desonere as exportações”, disse o ministro da Fazenda ao apresentar o plano aos congressistas.

O discurso otimista do governo contrasta com as críticas que as medidas emergenciais adotadas têm sofrido. Para o economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, o maior erro do Executivo é adotar atitudes de intervenção na economia sem avaliar cuidadosamente quais os riscos e os efeitos delas. A maior crítica do especialista é à MP 539/11, que concede ao CMN (Conselho Monetário Nacional) o poder de determinar margem maior de garantia para operações no mercado de derivativos. Os derivativos são instrumentos financeiros cujo valor de negociação é baseado no preço futuro de algum outro ativo, como ações, câmbio ou juros. “Essa proposta é o AI-5 do mercado de derivativos. Um absurdo. O governo deve intervir se necessário, mas com a percepção exata das consequências que os erros podem ter”, opina. Setembro, 2011 AméricaEconomia 61

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DEBATES Política

AS DEMISSÕES CONTRARIAM INTERESSES DOS PARTIDOS QUE APOIAM O GOVERNO E COLOCAM DILMA EM UMA SITUAÇÃO DELICADA

Será

que ela aguenta?

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herança deixada pelo ex-presidente Lula à sua sucessora Dilma Rousseff incluiu uma ampla rede de corrupção instalada nos ministérios. Disposta a acabar com nebulosos esquemas montados por partidos aliados que favoreciam a governabilidade da gestão anterior, Dilma decidiu mudar a estrutura estabelecida e realizou a maior troca de integrantes do primeiro escalão nos primeiros meses de um mandato presidencial. Em oito meses, quatro ministros herdados da gestão anterior foram substituídos. As alterações na composição do poder estão sendo vendidas para a opinião pública como uma faxina e têm rendido bons frutos à popularidade de

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quem acaba de estrear na política e vivia da popularidade do antecessor. Ao tentar imprimir a marca da intolerância com os conchavos e esquemas montados na máquina pública, Dilma tem enfrentado as legendas aliadas ao demitir indicados de gente que a ajudou a se eleger e, principalmente, que pode interferir no Congresso e gerar instabilidade na pauta de votações de interesse do governo. Até o fechamento desta edição, o último ato foi a demissão do então ministro da Agricultura Wagner Rossi, ligado ao vice-presidente da República, Michel Temer, e homem-forte do PMDB. Rossi submergiu numa sequência de acusações de corrupção, que en-

volviam desde cobrança de propina até uso de jatinho de empresas interessadas em fazer negócios com o ministério. Dilma inicialmente preferiu a cautela no tratamento das acusações contra Wagner Rossi e foi acusada por outros partidos da base aliada de dar tratamento privilegiado aos integrantes do PMDB. A presidente se viu pressionada a padronizar a conduta adotada contra o PR, quando as acusações de corrupção no Ministério dos Transportes derrubaram Alfredo Nascimento do comando da pasta, em julho, causando, em seguida, a demissão de outros 24 funcionários e diretores. “A questão nesse processo foi a forma de conduzir o caso. Não havia processo

Fotos: 1 - Wilton Junior/Agência Estado

FAXINA NO GOVERNO AMEAÇA DIFICULTAR RELAÇÃO ENTRE DILMA E A BASE ALIADA IZABELLE AZEVEDO, DE BRASÍLIA

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judicial ou provas contra eles. Tentaram dizer que a corrupção fazia parte do PR. Isso nos incomodou e nos fez repensar o papel de integrante da base aliada”, conta o líder da legenda na Câmara, deputado Lincoln Portela. Chateado pela punição, o PR anunciou independência e sua saída do grupo de partidos da base do governo no Congresso. Uma semana depois do anúncio, no entanto, o discurso de revolta começou a esfriar porque a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, chamou a cúpula do PR para uma conversa e prometeu dar atenção aos pleitos da bancada. Uma reconciliação que não surpreende, dadas as vantagens que a amizade com a máquina pública podem proporcionar a um político. Depois da saída de Nascimento, Dilma substituiu o ministro da Defesa, Nelson Jobim, outra herança do governo Lula. Jobim deixou a pasta sem acusações de corrupção. O problema foram as declarações públicas de que não fora eleitor da presidente a quem servia, tendo preferido votar em José Serra, do PSDB. Em seguida, Jobim voltou a sur-

preender a cúpula governista ao fazer críticas abertas às ministras Gleisi Roffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). “Acredito que a presidente tem mostrado qual é sua posição. Ela espera um pouco, analisa os casos. Alguns ministros ficam nos cargos, outros, não. É o jogo político, e ela começou a traçar o próprio perfil e a mostrar como pretende governar”, opina o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira. Na semana em que Dilma batia cabeça no Palácio do Planalto para administrar mais denúncias contra o primeiro escalão, Lula, com dificuldades de “desencarnar” do cargo, como ele diz, recebia dois ministros na sede do Instituto Cidadania, em São Paulo: Fernando Haddad, da Educação, e Luís Inácio Adams, advogado-geral da União. Em ambos os encontros, tratou-se de assuntos relacionados às duas pastas.

ALIADOS Cortar de seu governo nomes indicados de outros partidos e acusados de corrupção tem sido bem mais fácil para a presi-

dente Dilma Rousseff do que foi afastar o primeiro ministro. Antonio Palocci, que ocupava a Casa Civil e acumulava poder e prestígio, era da confiança da presidente, que deixou para ele a função de cuidar da articulação política, função de que Dilma nunca gostou. Palocci foi acusado de multiplicar em 20 vezes seu patrimônio por consequência de trabalhos de consultoria realizados enquanto era deputado federal. Apesar de ter sido inocentado pelo Ministério Público Federal, a presidente se viu obrigada a substituir Palocci pela petista Gleisi Roffmann. A saída do então ministro do cargo mais importante da Esplanada dos Ministérios foi interpretada como um sinal de que Dilma não pouparia os amigos da degola diante de suspeitas de corrupção. Aquele 7 de junho foi o início de uma faxina, que tem despertado admiração de alguns e indignação de políticos acostumados a fazer dos órgãos públicos mesas de negociações. Um rompimento com os velhos métodos de comandar o país, que pode ter o alto custo da ingovernabilidade.

Os eliminados Fotos: 2 - Mauricio Lima/AFP; 3 - Dorivan Marinho/Getty Images; 4 e 5 - Celso Junior/Agência Estado

Antonio Palocci

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Pressionado pela oposição e pela opinião pública, o petista deixou a Casa Civil em 7 de junho, 23 dias depois do início das denúncias de que havia multiplicado seu patrimônio em 20 vezes entre 2006 e 2010. O Procurador-Geral da República disse que não havia provas contra ele. Mesmo assim, Dilma preferiu afastá-lo.

Alfredo Nascimento

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O senador pelo PR estava no comando do Ministério dos Transportes desde 2004. Em 7 de julho, ele deixou o cargo acusado de envolvimento no esquema de pagamento de propina para caciques do PR em troca de contratos de obras. A crise se agravou após suspeitas de enriquecimento ilícito de seu filho.

Nelson Jobim

Wagner Rossi

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Deixou o cargo de ministro da Defesa, ocupado desde julho de 2007, em 5 de agosto, depois de fazer críticas às ministras Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti. Em reportagem publicada na revista Piauí, Jobim qualificou Ideli Salvatti como “fraquinha” e disse que Gleisi Hoffmann nem sequer conhecia Brasília.

Saiu do comando do Ministério da Agricultura em 17 de agosto, depois de ter sido acusado de participar de um esquema de cobrança de propina no ministério e de ter viajado de carona em jatinho da Ourofino Agronegócio, empresa com interesses no ministério e ligações com o ministro e sua família.

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ESPECIAL Investimento

Um negócio

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Fotos: 1 - Shutterstock; 2 - Toni Pires

bilionário

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COM CAPTAÇÕES QUE DEVEM CHEGAR AOS US$ 20 BILHÕES ATÉ 2012, INDÚSTRIA DE PRIVATE EQUITY DESLANCHA NA REGIÃO E ATRAI NOVOS FUNDOS GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO agravamento da crise econômica internacional, desencadeado após o rebaixamento histórico da nota da dívida americana pela agência Standard & Poor’s e o consequente derretimento das bolsas em todo o mundo no começo de agosto, parece não ter desanimado uma das indústrias de maior crescimento na América Latina, em especial no Brasil, nos últimos anos: a de private equity. Private equity são fundos que investem em empresas com alto potencial de crescimento, cuja participação nos negócios dura entre sete e dez anos. Depois, é preciso fazer o desinvestimento, que pode ser por meio de um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) ou da venda para um comprador estratégico. Esses fundos conseguem entregar aos investidores retornos que giram em torno de 25% anuais. Para efeito de comparação, nos últimos cinco anos, quem investiu na Bovespa teve retorno de 12% ao ano, ou seja, menos da metade do que conseguiu quem apostou nos fundos de private equity. Não por acaso, esses investimentos têm batido um recorde atrás do outro na região. No Brasil, duas das principais gestoras anunciaram recentemente captações dos dois maiores fundos voltados ao país. A Vinci Partners captou US$ 1,4 bilhão, e o BTG Pactual, US$ 1,6 bilhão. São US$ 3 bilhões à espera de boas ideias e bom retorno. Até o fechamento desta edição, a Gávea, gestora do expresidente do Banco Central Armínio Fraga, estava em processo de captação de outro fundo, que deve chegar a US$ 2 bilhões. Segundo Piero Minardi, sócio da Gávea, a condição para fechar negócio é que a empresa atue no Brasil. “Não focamos nenhum setor. Queremos um sócio bom, e só”,

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MINARDI, DA GÁVEA: GESTORA ESTÁ EM FASE DE CAPTAÇÃO PARA UM FUNDO QUE DEVE CHEGAR A US$ 2 BILHÕES

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diz. Fundada em 2006, a Gávea tem US$ 2,5 bilhões investidos em 30 negócios diferentes.

TERRENO FÉRTIL “A soma desses três valores [os negócios recentes de Gávea, BTG e Vinci] é igual a tudo o que havia disponível para ser investido no país no ano de 2005”, compara o professor Adalberto Brandão, responsável pelo GVcepe (Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital) da Fundação Getulio Vargas. Em meados de agosto, o Pátria Investimentos também fez uma captação bilionária: US$ 1,25 bilhão para investir em empresas em processo de consolidação. Duas semanas antes, o Pátria já havia concluído um fundo de US$ 1 bilhão voltado a ativos imobiliários. Seg undo o estudo “A Indústria de Private Equity e Venture Ca-

pital – 2º Censo Brasileiro”, divulgado em junho pelo GVcepe e pela ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), os recursos disponíveis para serem investidos no Brasil chegaram a US$ 36 bilhões em 2009, sete vezes mais do que existia no começo dos anos 2000 (US$ 5 bilhões). Estima-se que outros US$ 20 bilhões devam ser captados por esses fundos até 2012. “O Brasil oferece um terreno muito fértil. Temos muitas empresas familiares que demandam investimento para crescer. Mas o negócio precisa ser atrativo para esses fundos”, afirma Fábio Matsui, sócio-diretor da Cypress, assessoria financeira em processos de fusão e aquisição. O volume de investimentos segue o mesmo ritmo dos valores captados. É o que mostra um levantamento da Ernst & Young divulgado em julho. Setembro, 2011 AméricaEconomia 65

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ESPECIAL Investimento 36

Ritmo acelerado Evolução do capital comprometido em private equity no Brasil (US$ bilhões)

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Foram US$ 6,6 bilhões em transações realizadas com empresas da América Latina em 2010, representando um crescimento de 404% em relação aos dados do ano anterior. Somente o Brasil recebeu US$ 4,6 bilhões do total destinado à região. Colômbia, Peru, Chile e México também se destacaram, segundo a consultoria.

CENÁRIO POSITIVO “Isso é resultado de fatores que envolvem uma economia mais estável do que nos países desenvolvidos e o próprio crescimento da classe média na região, que impulsiona o consumo”, explica Carlos Asciutti, sócio da Área de Transações da Ernst & Young Terco.

404% foi o crescimento nas transações com empresas da AL em 2010

Somados a isso ainda estão os eventos esportivos previstos para o Brasil nos próximos anos, que dependerão muito de investimento em infraestrutura. “Para levar seus projetos adiante, as empresas necessitarão de dinheiro. E os fundos de private são uma ótima opção”, afirma Sidney Chameh, presidente da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital). Outros setores que estão na mira das gestoras são os ligados a projetos do pré-sal, à cleantech (tecnologia limpa) e os voltados ao consumo e à tecnologia. A Tivit, empresa de tecnologia fundada pelo ex-tenista Luiz Mattar, foi uma das que receberam aporte desse tipo de fundo. A Apax desembolsou, em maio do ano passado, R$ 1,6 bilhão para ficar com 97% da Tivit. Os outros 3% continuam nas mãos de Mattar, que também segue como presidente da companhia e do Conselho. Mas essa não foi a primeira vez que a empresa do ex-tenista recebeu dinheiro de fundos de private equity. “Desde o início, tivemos investimento do Votorantim e do Pátria”, afirma o executivo. Contar com sócios como esses foi essencial para que a Tivit alcançasse o crescimento esperado por seu fundador, passan-

do de um capital inicial de R$ 150 mil, feito a partir de 1998 (quando ainda era a Telefutura), para um faturamento de R$ 1,4 bilhão no ano passado. O plano, agora, é dobrar o tamanho da empresa nos próximos quatro anos. “O que atraiu esses fundos para a Tivit foi o fato de termos uma geração de caixa sustentável, com boa rentabilidade e governança”, acredita Mattar. Mas essa não é uma indústria voltada apenas ao mundo dos bilhões. As gestoras de fundos de venture capital (que investem em empresas em estágios mais iniciais) também estão de olho no bom momento dos países latino-americanos. A gestora Warehouse, por exemplo, planeja captar R$ 70 milhões até o final do ano. “Temos preferência por empresas focadas em tecnologia e tecnologias limpas, como serviços de reciclagem e biocombustíveis”, afirma Moises Herszenhorn, um dos sócios da gestora. Das 300 propostas que a equipe recebeu nos últimos dez meses, três foram transformadas em investimento. Um deles é o iFood, serviço de entrega de restaurantes pela internet, lançado em maio deste ano pelos empresários Patrick Sigrist, Felipe Fioravante,

Foto: Divulgação

Fonte: GVcepe

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Eduardo Baer e Guilherme Bonifácio. Com o aporte de R$ 3,1 milhões feito pelo Warehouse, os sócios do iFood esperam ter 700 restaurantes conveniados até o final do ano e expandir o serviço – que hoje é restrito a São Paulo e Rio de Janeiro – para Salvador, Campinas, Jundiaí, ABC paulista, Guarulhos e Curitiba. Até 2016, pretendem chegar a 7 mil restaurantes, espalhados por todos os estados brasileiros. Hoje, são 230 restaurantes online, que, juntos, registram 12,5 mil pedidos por mês. De cada um deles, os sócios do iFood recebem 10%. “Tínhamos uma meta de crescimento ambiciosa e somente com recursos próprios sabíamos que não conseguiríamos alcançá-la tão facilmente. Então, montamos um plano de negócios e levamos para o Warehouse. Eles ficaram interessados e investiram na nossa ideia”, conta Felipe Fioravante. Para ele, ter um plano bem estruturado, com objetivos definidos e pessoal capacitado para desempenhar as funções, fez toda a diferença na hora de receber o investimento. Além de profissionalizar a gestão e

a governança corporativa das empresas investidas, os especialistas defendem que os fundos de private equity ajudam as companhias a se preparar melhor para ingressar no mercado acionário. Isso explica por que a participação desses fundos nos processos de fusões e aquisições passou de 10%, em 2002, para cerca de 30%, em 2010. “No biênio 2006/2007, no qual tivemos recorde de IPOs, um terço das aberturas de capital foram de empresas que tinham investimento de fundos de private equity”, afirma Asciutti, da Ernst & Young.

O OUTRO LADO Mas, como todos os movimentos que rondam o mundo dos negócios, os investimentos feitos por fundos de private equity e venture capital têm suas armadilhas. A principal delas, contam os analistas, é o fato de o empresário não estar preparado para receber um sócio. “Muitas dessas empresas são familiares, e os fundadores costumam tomar as decisões sozinhos. Com a entrada de um fundo de private equity, o empreendedor precisa ter em mente que ele terá de

MATTAR VENDEU O CONTROLE DA TIVIT AO APAX POR US$ 1,6 BILHÃO DEPOIS DE INVESTIR R$ 150 MIL

3.931 propostas foram recebidas em 2009

43%

O difícil processo de seleção* Segundo as gestoras, apenas 1% das propostas são convertidas em investimento

1% * respostas fornecidas por 88 organizações gestoras (60% do universo) em dezembro de 2009 referentes aos dados de janeiro a dezembro de 2009

2%

1.681

foram analisadas

92 delas foram submetidas à análise de dados contábeis

50 investimentos foram realizados

Fonte: GVcepe

Setembro, 2011 AméricaEconomia 67

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25.08.11 23:49:54


ESPECIAL Investimento dividir a palavra final. Geralmente os conflitos são bem resolvidos, pois as duas partes têm um único objetivo: levar a empresa ao crescimento, mas é preciso estar muito atento a isso”, afirma Michel Hannas, sócio da Table Partners, consultoria de estratégia. Outros problemas aparecem quando a gestora não avalia bem o setor no qual pretende entrar ou quando o próprio negócio não cresce tanto quanto o esperado pelos investidores. Um dos insucessos mais recentes foi amargado pela GP, uma das maiores gestoras do país, conhecida pelo apetite em comprar participações em empresas, mudar a gestão e depois revender as ações com grandes lucros. No caso da Imbra, porém, a exceção passou por cima da regra. Os 78% que a gestora detinha na empresa de implantes dentários foram vendidos para o grupo empresarial Arbeir, no ano passado, por um valor simbólico de US$ 1. Ao que tudo indica, a GP teve dificuldades em enfrentar um mercado pulverizado e, muitas vezes, informal. Embora não existam números consolidados de quantos casos dão errado e quais podem ser considerados cases de sucesso, quem estuda a área garante que dá para contar nos dedos as incursões malsucedidas. “São pessoas que estudam muito o mercado no qual vão entrar”, diz Hannas. O bom desempenho tem criado um novo modelo de negócio: o de fundos que investem nos próprios fundos de private equity, e não diretamente nas empresas. É o caso da Ocroma, criada há três anos. “Nós po-

Participação crescente

No topo da lista

Relação entre investimento em private equity e PIB (em %)

O setor de serviços é o mais atrativo* 80%

Serviços

2009

2010 Saúde

73%

Infraestrutura

73%

0,34

Reino Unido

1,13 0,43

EUA

0,9 0,57 0,63

Israel

0,32 0,44

Índia Brasil

0,06 0,23

China

0,13 0,16

Rússia

0,02 0,1

Polônia

0,01 0,08

Fonte: Emerging Markets Private Equity Association (Empea)

demos investir tanto em fundos já existentes quanto nas empresas, em parceria com outros gestores”, explica o sócio Leonardo Ribeiro. Para ele, o grande diferencial é a aposta na diversificação. Os investidores da Ocroma são pessoas que venderam suas empresas ou fizeram um IPO e estão capitalizadas para destinar seu dinheiro a outros negócios.

QUE CRISE? Mas um cenário tão positivo não poderia esfriar com a crise internacional? Os especialistas acreditam que não.

67%

Consumo

60%

Educação Óleo e Gás

47%

Agronegócio

33%

Imobiliário

33%

Indústria

13%

Outros

13%

* Pesquisa feita entre fevereiro e abril de 2011 com 15 gestores de fundos e 10 investidores Fonte: Brazilian Private Equity: Moving Centre Stage, Insead & PwC

“Enquanto as perspectivas da economia latino-americana, principalmente brasileira, estiverem boas, haverá espaço para os fundos de private crescerem”, afirma Hannas, da Table Partners. Já para Minardi, da Gávea, um reflexo possível poderia ser a redução no preço dos ativos. “Eles ficariam em um patamar mais real, menos sobrevalorizado do que acontece hoje.” Então, pelo menos até a próxima década, a expectativa é de que o momento continuará bom para os gestores de fundo. Resta saber se as empresas estão preparadas para receber todo esse investimento.

Fartura latino-americana De olho nas oportunidades geradas pela economia estável na maior parte dos países latino-americanos, as gestoras estrangeiras também voltam seus radares para a região. O fundo de investimento americano The Carlyle Group, por exemplo, anunciou, em meados de junho, a captação de dois fundos, totalizando US$ 1 bilhão de capital, para aquisições e investimentos de growth capital (tipo de fundo que oferece ao investidor um tíquete médio inferior ao de um private equity tradicional) no Brasil e na América do Sul: o CSABF (Carlyle South America Buyout Fund), com foco na América do Sul e um total de US$ 776 milhões de capital comprometido; e um fundo criado em parceria com o Banco do Brasil, com R$ 360 milhões de capital comprometido, para investir, em conjunto com o CSABF, em negócios no Brasil. Outras movimentações envolveram a compra, por gestoras estrangeiras, de participações nas gestoras nacionais, como a entrada, em setembro de 2010, da Blackstone na Pátria Investimentos e a aquisição, pelo J.P.Morgan, em outubro do ano passado, do controle da Gávea.

68 AméricaEconomia Setembro, 2011

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FINANÇAS Integração

COM A UNIÃO ENTRE AS BOLSAS DE COLÔMBIA, CHILE E PERU, A APOSTA É GANHAR MUSCULATURA

1

O MERCADO DE CAPITAIS REGIONAL GANHA ESCALA E SE MOSTRA EM CONDIÇÕES DE ATENDER EMPRESAS E INVESTIDORES BÁRBARA VIGNAUX, DE BUENOS AIRES

chileno Jorge Errázuriz ainda se recorda dos anos 1980, quando, na Bolsa de Santiago, era impossível fazer oferta de ações superiores a US$ 50 milhões. Errázuriz é CEO da Celfin Capital, maior corretora de valores do Chile e uma das principais empresas de administração de ativos da América Latina. Hoje, o mesmo tipo de operação seria bem diferente. O mesmo se pode dizer de outro mercado, o colombiano. Desde 2001, quando as três bolsas do país se fundiram em uma única instituição, “o volume diário de negociação de ações se multiplicou por 25, o valor de mercado, por 10 ou 12 vezes, e o índice de valores da bolsa cresceu mais de 1.000%”, contou Juan Pablo Córdoba, CEO da bolsa colombiana de valores,

O

em uma mesa-redonda sobre a integração financeira regional durante o Fórum das Multilatinas, promovido pela AméricaEconomia em Santiago. A palavra-chave do auge das bolsas da América Latina é escala. E sua expressão mais recente e promissora é o Mila (Mercado Integrado Latino-Americano), formado por Colômbia, Chile e Peru. Seus protagonistas o apontam como um exemplo de integração: pragmático, motivado por resultados e livre das pressões e das negociações do setor público. A integração das bolsas dos três países tem o precedente de um crescente número de negócios transnacionais. No Chile, por exemplo, parte da infraestrutura viária, portuária e aeroportuária foi construída por consórcios

Fotos: 1 - Paolo Aguilar/ EFE; 2 - Mauricio Lima/AFP

Cada vez mais atraente

70 AméricaEconomia Setembro, 2011

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25.08.11 23:52:21


privados com a participação de várias multinacionais. A novidade é que elas não são mais majoritariamente espanholas ou americanas. No ano passado, o Chile recebeu importantes investimentos vindos de Peru e Colômbia – os mais importantes da história, com a venda da produtora de cimentos Melón ao grupo peruano Brescia e a outorga da concessão da rodovia Santiago-Puerto Montt à colombiana ISA (Interconexión Eléctrica S.A). Ao se expandir para os países vizinhos, as empresas do continente geram “uma necessidade objetiva de ter serviços financeiros à altura”, diz Guillermo Larraín, ex-superintendente da Bolsa de Valores do Chile. As perspectivas são enormes. Apenas na Colômbia, os projetos em infraestrutura têm projeção de alcançar o valor de US$ 50 bilhões nos próximos dez anos. Mas, além do Mila, a integração financeira e das bolsas na América Latina passa em grande medida por resolver duas interrogações, relacionadas à operação de seus maiores protagonistas. O mercado mexicano continua dominado pelas aplicações em renda fixa, e se reprovam seus vínculos muito privilegiados com os Estados Unidos. O Brasil ainda precisa ser convincente em querer compartilhar sua posição hegemônica, que compreende 40% da economia do continente. “A ideia da integração financeira não é que todo o mundo vá para o Brasil e o mercado financeiro se torne brasileiro, mas sim promover uma rede de nós interconectados, sem renunciar à soberania de cada um”, afirma Juan Pablo Córdoba, presidente da Bolsa de Valores da Colômbia. Para Paulo Oliveira, diretor geral da Brain (Brasil Investimentos & Negócios), “a questão não é o Brasil ser grande, mas os demais serem pequenos. Em relação a ativos bancários, fundos de investimentos e mercado de capitais, a América Latina representa apenas 3% a 5% do mundo”. A BM&FBovespa tem procurado uma expansão progressiva. Por exemplo, por meio de acordos com a Bolsa

de Comércio de Santiago, a Bolsa de Valores da Colômbia e a do México. Córdoba reconhece que a Colômbia, apesar do desenvolvimento dos últimos dez anos, “continua sendo um jogador pequeno em âmbito regional e global”. O mesmo ocorre com o Chile. “Temos de fazer como a Suíça e pensar que o mercado é o mundo”, afirma Alfredo Capote, CEO do Goldman Sachs Investment Banking no México De fato, existe uma demanda global da América Latina, reconhece Daniel Gamba, CEO da gestora de fundos BlackRock para o continente. “Mas os investidores globais que querem colocar dinheiro no setor de energia ou de telecomunicações na região sempre me perguntam: onde as ações estão listadas?” Essa é uma pergunta que Gamba ainda tem dificuldade para responder: “Há pouca liquidez e acesso restrito a muito poucos instru-

Um dos desafios é captar as economias das novas classes médias na região 2

A BOLSA BRASILEIRA PRECISA DE VOLUME DE NEGÓCIOS PARA GANHAR PROJEÇÃO

mentos; a pessoa acaba fazendo essas operações em Nova York ou Londres”. Com o Mila, o que se busca é justamente gerar “um círculo virtuoso da liquidez em âmbito regional para poder chamar a atenção de atores externos”, enfatiza Córdoba.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA A região, em seu conjunto, enfrenta dois desafios que, embora não sejam de natureza financeira, influirão fortemente em sua capacidade de atrair capitais locais e estrangeiros. O primeiro consiste em captar as economias das novas classes médias surgidas com o crescimento econômico da última década: “Há dezenas de milhões de latino-americanos que têm dinheiro para investir e não o fazem. É preciso promover a educação financeira”, afirma Oliveira, da Brain. O Banco Mundial está desenvolvendo seu projeto mais importante de educação financeira nas escolas do Brasil, a fim de ensinar às crianças como planejar e economizar. “Isso é um pouco intangível, mas é fundamental”, destaca Oliveira. A Colômbia é um bom exemplo de amadurecimento, reconhece Alfredo Capote, do Goldman Sachs: “É impressionante como as empresas colombianas buscam capitais por meio de anúncios em seus próprios jornais”. O segundo desafio é a boa governança em âmbito público. “Um dos grandes ativos que temos no Chile é um baixo nível de corrupção”, destaca Jorge Errázuriz, da Celfin Capital. Em um espectro maior, a avaliação é diferente, segundo Larraín: “A América Latina está muito longe de todas as médias aceitáveis nos padrões internacionais de corrupção ou transparência do mercado de valores”. O desafio consistirá em assentar as bases para o desenvolvimento duradouro na América Latina por meio de uma melhora na distribuição de renda, acompanhada de uma luta genuína contra a corrupção, conseguindo, assim, a consolidação de uma classe média educada para o mercado de capitais. Setembro, 2011 AméricaEconomia 71

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FINANÇAS Investimentos

Tijolo de

papel

epois de amargar perdas na bolsa de valores durante a crise de 2008, o funcionário público Silvano Ferreira, 53 anos, decidiu transferir parte dos seus recursos investidos em ações para o setor imobiliário. Sua intenção era comprar salas comerciais para aluguel e aproveitar o grande boom de demanda nessa área. Mas, enquanto estudava o novo investimento, descobriu que poderia chegar ao

D

mesmo objetivo sem tanta dor de cabeça, como lidar com inquilinos e com a falta de liquidez. Naquele mesmo ano, comprou suas primeiras cotas em um fundo imobiliário. Hoje, é cotista de dez fundos imobiliários, que investem nas áreas comerciais, de shopping centers e outras modalidades. Para Ferreira, a grande vantagem é a possibilidade de fracionar o investimento. “Se eu tiver algum problema e precisar vender,

Foto: Shutterstock

MERCADO DE FUNDOS IMOBILIÁRIOS COMEÇA A GANHAR MUSCULATURA NO BRASIL NATALIA GÓMEZ, DE SÃO PAULO

72 AméricaEconomia Setembro, 2011

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26.08.11 00:01:44


cotistas. Além de permitir um aporte inicial infinitamente menor, os fundos oferecem a possibilidade de diversificar. O investidor pode colocar suas economias em setores diferentes, como shopping centers, escritórios comerciais, segmento residencial, hotéis, flats e hospitais, acompanhando as tendências do setor imobiliário. Praticamente incipiente até 2008, esse mercado tem avançado rapidamente desde que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) deu mais liberdade aos gestores desses fundos, permitindo o investimento em títulos imobiliários como letras hipotecárias, CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e LCI (Letras de Crédito Imobiliário). Além disso, permitiu que o gestor atuasse como um incorporador imobiliário, contratando construtoras para levantar projetos, sem restringir-se à compra de empreendimentos prontos, segundo o diretor de Desenvolvimento e Relações Institucionais da BM&FBovespa, Emilio Otranto Neto. A resposta foi positiva. Em 2008, o volume de negócios era de R$ 143,6 milhões, total que saltou para R$ 379 milhões no ano passado. Somente

Mais opções para o investidor Registro de fundos imobiliários autorizados a negociar na BM&FBovespa

56

48

31 25

posso me desfazer de apenas uma parcela das cotas. Se tivesse comprado uma sala, teria de vender todo o ativo”, explica. A atual ameaça de recessão da economia americana, que novamente compromete o rendimento em bolsa, reforçou a estratégia do investidor. Assim como Ferreira, milhares de brasileiros despertaram para a possibilidade de investir no setor imobiliário por meio de fundos, que agrupam investidores para aplicar em um ou mais imóveis. Estes são alugados, e o rendimento mensal é distribuído aos

2008

Fonte: BM&FBovespa

2009

2010

2011*

* até 31/07/2011

Setembro, 2011 AméricaEconomia 73

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26.08.11 00:02:11


FINANÇAS Investimentos

72%

dos investidores em fundos imobiliários, no Brasil, são pessoas físicas

ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA Até o momento, as pessoas físicas têm sido o grande motor desse segmento. Hoje, elas representam 71,6% dos investidores nesse tipo de aplicação, seguidas por fundos de investimento, que respondem por 10% do total. Estrangeiros e fundos de pensão também têm apetite por essa modalidade, embora sua participação atual ainda seja pequena (6%). De acordo com os especialistas, a isenção do imposto de renda na distribuição dos rendimentos para pessoas físicas é o gran-

Mais adesões

21.216

Evolução do número de investidores em fundos imobiliários no país

8.315 5.960

0 201 9 200

8 200

74 AméricaEconomia Setembro, 2011

de atrativo do mercado. A isenção vale para fundos listados em bolsa que tenham mais de 50 cotistas, desde que o cotista não tenha mais de 10% das cotas. Uma alíquota de 20% de imposto de renda incide sobre o ganho de capital, quando o investidor vende suas cotas. Mesmo assim, é grande a vantagem sobre o aluguel dos imóveis, em que o dono paga 27,5% sobre a receita do aluguel. Além da vantagem fiscal, os investidores também são atraídos pela administração profissional dos fundos, que dá mais poder de barganha na negociação com os inquilinos. O educador financeiro Mauro Calil, autor do livro A Receita do Bolo, sobre finanças pessoais, explica que a proteção legal é maior nos fundos do que no investimento direto em imóveis porque o patrimônio do fundo não se mistura com o patrimônio do administrador. A sinergia de recursos é outro atrativo, já que, com o dinheiro de vários cotistas, é possível comprar projetos maiores e melhores. Um dos grandes players do setor é a Brazilian Mortgages, com R$ 5,5 bilhões sob sua gestão, distribuídos em 30 fundos imobiliários, dos quais 19 são listados em bolsa. Segundo o superintendente de Fundos da Brazilian Mortgages, Rodrigo Mennocchi, a demanda das últimas ofertas tem superado o previsto pela gestora. Um exemplo é o produto BC Fundo de Fundos, que, em janeiro, preparou sua terceira emissão, no valor de R$ 100 milhões. A procura foi tão grande que a oferta foi amplia29.192 da para R$ 115 milhões. Em julho, a Brazilian Mortgages ofertou R$ 60 milhões ao varejo com o fundo BM Cenesp, mas a demanda foi superior a R$ 100 milhões. De acordo com Mennocchi, a oferta foi fechada em uma semana e atraiu 2,7 mil cotistas. Os recursos captados pelo fundo serão aplicados na compra de uma participação de 23,8% no Centro Empresarial de São Paulo, localizado no bair1* 201 ro de Santo Amaro, na capital paulista, pertencente ao fundo Brazilian Capital Real Estate Fund I. “Os investido* até 31/07/2011 res estão apostando nesse tipo de papel Fonte: BM&FBovespa porque experimentam as vantagens dos grandes empreendimentos com um ticket pequeno, isenção fiscal e têm a porta de saída na bolsa.”

Fotos: Divulgação

nos primeiros sete meses deste ano, os investimentos superaram o total de 2010, com volume financeiro de R$ 462,9 milhões. Em número de negócios, o mercado passou de 6,7 mil, em 2008, para mais de 37 mil, em 2011 (de janeiro a julho), de acordo com dados da BM&FBovespa. Para Otranto Neto, essa é apenas “a ponta do iceberg”, pois o potencial desse mercado é grande. Durante workshop realizado em julho, na bolsa, ele afirmou que os fundos imobiliários podem movimentar entre R$ 700 milhões e R$ 1 bilhão neste ano no Brasil.


OTRANTO NETO: FUNDOS IMOBILIÁRIOS MOVIMENTARÃO ATÉ R$ 1 BI ESTE ANO; ABAIXO: JK FINANCIAL CENTER. PARTE DO PRÉDIO É ATRELADA AO FII DA RIO BRAVO

Atualmente, há 114 fundos imobiliários registrados na CVM, com um patrimônio líquido total de aproximadamente R$ 10 bilhões. Desses, 56 fundos têm registro na bolsa e acumulam R$ 6,2 bilhões em patrimônio. Uma tendência recente é a diversificação dos tipos de fundo, que investem não apenas no setor comercial, mas em recebíveis imobiliários, no setor residencial, hospitais e galpões comerciais. Outra tendência é a criação de fundos com gestão ativa, que não estão atrelados a apenas um ativo, mas estão constantemente atentos a novas aquisições. Segundo a gerente de Investimentos Imobiliários da gestora de recursos Rio Bravo, Anita Spichler Scal, a gestora já tem dois fundos com gestão ativa dentro da sua carteira de 30 fundos. O primeiro, chamado de Rio Bravo Renda Corporativa, começou com seis andares do edifício JK Financial Center, mas pediu autorização dos cotistas para aumentar o patrimônio e fazer novas aquisições, voltadas para lajes corporativas de alto padrão (triple A). No início de 2010, o fundo captou R$ 34 milhões, que foram investidos na compra do oitavo andar do Edifício Jatobá, na Avenida Luís Carlos Berrini, locado para a Kraft Foods Brasil. Outra compra foi o 10º andar do edifício Parque Paulista, na Alameda Santos (também na Zona Sul da capital paulista), alugado pela resseguradora Swiss Re. Hoje, a Rio Bravo conta com mais um fundo com esse perfil, o Daycoval Renda Itaplan, que compra imóveis comerciais sem a exigência de ser triple A. No momento, a gestora estrutura o terceiro fundo com esse perfil, que deve ser lançado no final do ano. De acordo com Anita, os fundos imobiliários serão uma

alternativa para a captação de recursos por parte das incorporadoras no longo prazo. Hoje, o setor é financiado pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), mas, nos próximos anos, os recursos da poupança serão insuficientes para financiar o mercado. “No futuro, a incorporadora poderá buscar recursos por meio de um fundo imobiliário, não há entraves para isso”, afirma.

DESAFIOS Enquanto se expande rapidamente, o mercado também passa por transformações. A CVM colocou em audiência pública uma minuta de norma contábil, propondo uma nova regra na avaliação dos empreendimentos dos fundos de investimento imobiliário. O prazo para sugestões terminou em 18 de julho, e a CVM está avaliando os comentários do mercado. Hoje, a valorização ou desvalorização de um imóvel não se reflete necessariamente no valor da cota do fundo, pois os imóveis são registrados por seu valor de custo, descontada a depreciação, e não pelo valor de mercado. Segundo o analista de normas contábeis da CVM, Osvaldo Zanetti, a proposta é que o imóvel seja contabilizado a um valor justo. “Com isso, o valor patrimonial da cota vai se aproximar do valor de mercado”, explica. A mudança vale para os imóveis voltados para renda, e não para venda. A questão da comunicação dos fundos com o mercado também é alvo de discussão. O gerente de Acompanhamento de Fundos Estruturados da autarquia, Claudio Maes, Setembro, 2011 AméricaEconomia 75

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26.08.11 19:57:42


FINANÇAS Investimentos conta que existe a intenção de aprimorar a prestação de informações, mas as conversas na área técnica ainda são embrionárias. O objetivo dessas mudanças seria tornar os demonstrativos financeiros mais “completos e complexos”. Outro ponto em debate é a adoção de formadores de mercado, que são agentes contratados para garantir um mínimo de negócios, assegurando que o investidor encontrará comprador para os papéis quando quiser vendê-los. A bolsa recomenda a adoção desse instrumento, e muitos fundos concordam, mas ainda não há um acordo sobre quem arcará com as despesas – os cotistas do fundo ou o gestor . Isso porque as normas da CVM restringem os encargos que podem ser pagos pelos fundos.

Atrativos Benefícios fiscais a pessoa física: isenção de imposto de renda sobre os rendimentos mensais recebidos por cotistas de FIIs (fundos de investimentos imobiliários). Diversificação: por meio de FIIs, os investidores diversificam o risco ao fazer aportes em diferentes setores, como shoppings, indústria, hotéis e imóveis residenciais. O risco de inadimplência também é diversificado entre diferentes locatários. Acesso ao mercado imobiliário: os FIIs permitem que pequenos investidores tenham acesso a empreendimentos imobiliários antes inalcansáveis, por causa do tamanho do investimento requerido para diferentes perfis de imóveis. Administração especializada: a escolha de imóveis de qualidade e boas oportunidades de investimento ficam a cargo de profissionais competentes e com experiência no setor. Fracionamento: o investidor pode vender no mercado secundário apenas a quantidade de cotas desejadas, e não liquidar todo o investimento, como é o caso do investimento direto em imóveis. Ganhos de escala: investindo em FIIs, o pequeno investidor consegue condições semelhantes às dos grandes investidores, por causa do maior poder de negociação. Praticidade: o investidor não precisa se preocupar pessoalmente com as obrigações e os procedimentos necessários na compra/venda de imóveis, tais como certidões e escrituras. Fonte: XP Investimentos

Sobe o volume financeiro Negociação de fundos imobiliários na BM&FBovespa

Número de negócios

Volume Financeiro (R$ milhões)

2008

6.793

143,5

2009

9.508

229,0

2010

24.983

379,1

2011 *

37.337

463,0

Ano

*Jan. a Jul. de 2011 Fonte: BM&FBovespa

Desvantagens Diferentemente do mercado de imóveis, não há possibilidade de ganhar quando outra pessoa precisa de liquidez. Por exemplo, uma pessoa com problemas financeiros pode vender o imóvel abaixo do preço de mercado, o que seria um bom negócio para o comprador. Nos fundos, não há chance de compra e venda rápida para aproveitar alguma situação vantajosa de mercado. É preciso pagar 20% de imposto de renda sobre ganho de capital. Em bolsa, há isenção para vendas de até R$ 20 mil no mês. É renda variável porque a cota sobe e cai, como se fossem ações, embora a volatilidade observada seja menor do que no mercado de ações. Especialistas recomendam cautela na compra de fundos de recebíveis imobiliários. Antes de comprar fundo, o investidor deve se informar, conhecer o estatuto ou procurar uma assessoria profissional. A regulação brasileira é mais prudente do que em outros países, mas o mercado apresenta riscos. Fonte: Mauro Calil

76 AméricaEconomia Setembro, 2011

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COM SEGUROS CADA VEZ MAIS DIVERSIFICADOS, AS COMPANHIAS GANHAM MERCADO COM COBERTURAS QUE ATENDEM DA BAIXA RENDA A SHOWS DE ARTISTAS INTERNACIONAIS ADRIANA CHAVES, DE SÃO PAULO

organização do Rock in Rio criou uma espécie de antídoto contra os já célebres atrasos de uma das principais atrações desta edição do festival. A banda Guns N’ Roses foi obrigada a assinar uma cláusula que estabelece multa caso o vocalista Axl Rose demore a pisar no palco no próximo dia 2 de outubro. O valor não foi divulgado, mas a medida tem como objetivo evitar tumultos na plateia e eventuais ações judiciais. Embora esse tipo de acerto seja pouco usual, cada vez mais produtores e organizadores de eventos recorrem a mecanismos para evitar problemas. Se no passado era mais comum assumir apenas a responsabilidade civil dos eventos, hoje várias seguradoras oferecem produtos específicos, com seguros variados contra co atrasos, cancelamentos, não comparecimento do artista artista, danos à estrutura, à plateia e a terceiros, além de outras even eventualidades. “Tradic “Tradicionalmente, as coberturas de seguros eram segmentadas, o que tornava o seguro difícil de ser contratado. Há cerca de cinco anos, começaram a ser vendidos produtos integrados. O período coincidiu com o aumento de shows internacionai ternacionais no país”, afirma o diretor-gerente da Berkley International Brasil, José Bailone Júnior. Só em m maio, a Berkley fechou contrato para os shows de Paul McCartney, McCa no Rio de Janeiro, e da ex-Hannah Montana Miley C Cirus, no Rio e em São Paulo. Juntas, as apresentações tiveram seguros de R$ 17 milhões. Se, por u um lado, os megasshows trazem maior exposição, por outro podem p resultar em uma conta alta para a seguradora. Por isso isso, a Berkley prefere focar em eventos de pequeno e médio porte portes. Segundo Bailone, é preciso avaliar se a atração pode trazer danos à imagem da companhia. “Fazemos grandes shows, mas levando em conta a reputação do artista.” A Liber Liberty Seguros também aposta parte de suas fichas na área de eventos. eve O último Réveillon de Copacabana teve um seguro de R R$ 10 milhões para cobrir eventuais danos ao público, aos artis artistas, à montagem do palco e a eventuais problemas com fogos d de artifício, entre outros incidentes. A companhia assinou, em maio deste ano, um contrato com a Fifa (Federação Interna Internacional de Futebol), tornando-se patrocinadora e seguradora nacional dos jogos da Copa do Mundo de 2014. O contrato abrange ab ainda a Copa das Confederações de 2013. “Mesmo não estando envolvidos nas obras para a Copa, fazemos parte da organização do evento e queremos o seu sucesso. Por isso, ajudamos na gestão e na prevenção de riscos”, diz o diretor comercial da Liberty, Luciano Calheiros.

Fotos: 1 - M. Rossi/Divulgação; ivulgação; 2 - Wagner Mèier/Fotoarena/Folhapress; 3 - Rafael Andrade/Folhapress; 4 - Kazuhiro Nogi/AFP

A

SEM CRISE Os grandes eventos são apenas uma fatia desse mercado cada vez mais aquecido. De 2005 a 2010, o setor de seguros no Brasil aumentou não só o valor total de arrecadação dos segurados (de R$ 94 bilhões para R$ 184 bilhões, um crescimento de 95%), como sua participação no PIB (Produto Interno Bruto), que pulou de 4,40% para 5,17% (veja quadros). Até 2015, a expectativa é que o segmento amplie essa participação em todo o mundo, puxada principalmente pelos mercados emergentes, que devem crescer entre US$ 650 bilhões e US$ 900 bilhões e superar a projeção dos mercados maduros (de US$ 400 bilhões para US$ 600 bilhões), segundo estudo da consultoria Accenture. Na avaliação do líder da área de seguros da Accenture para a América Latina, Raphael de Carvalho, a evolução nesse mercado está centrada em três forças motrizes: o aumento do poder de consumo da população, principalmente com a expansão da classe média, o desenvolvimento das pequenas e médias empresas e o aumento da demanda por seguros para obras de infraestrutura. “O setor vem crescendo cerca de dois dígitos ao ano, acompanhando a evolução da economia. Não há motivos para acreditar em uma inversão.” E, se os seguros de pessoas e de veículos ainda representam a maior fatia da arrecadação, novas demandas devem ganhar força graças aos seguros de grandes riscos, ligados a obras, considerando os projetos da segunda fase do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do pré-sal, da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. “Já há obras em execução, e outros projetos terão de sair do papel”, afirma Carvalho. A Accenture pesquisa agora o consumidor final. De cara, já constatou que as pessoas estão mais propensas a fazer seguros. Cresce o interesse pela compra desse tipo de produto pela internet. “Isso está ligado às primeiras conquistas, principalmente de produtos duráveis, com grande valor agregado. Tanto que subiu a procura por garantia estendida e seguro para veículos”, diz o executivo da Accenture.

GRANDES OBRAS O aquecimento do setor da construção civil também gerou negócios para as seguradoras. A Liberty Seguros encerrou 2009 com US$ 7,5 milhões em pagamentos de segurados apenas em riscos ligados à construção. Em 2010, o valor ficou em US$ 11 milhões; aumento de 46,5%. Os produtos englobam cobertura completa de danos físicos de riscos de energia; cobertura para riscos de construção; garantia; transporte marítimo; infraestrutura; e responsabilidade de executivos. Setembro, 2011 AméricaEconomia 81

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26.08.11 00:15:38


ESPECIAL Estratégia Predomínio do seguro pessoal Participação por categoria de seguro no total arrecadado pelas seguradoras*

30% Pessoas

23% Automóvel

9% Patrimonial

38% Demais

* Os números incluem seguros de vida, planos de previdência privada e outras apólices, como as de viagem e turismo. Não computa segmento de saúde, sob responsabilidade da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) Fonte: Susep, no período entre janeiro e maio de 2011

CATÁSTROFES Os efeitos das mudanças climáticas também têm gerado negócios paras as seguradoras. No primeiro semestre deste ano, as perdas seguradas com catástrofes naturais no mundo somaram R$ 60 bilhões, incluindo enchentes na Austrália, terremotos na Nova Zelândia e no Japão. Com as previsões de intensificação dos furacões, principalmente na Costa Norte do Atlântico, as seguradoras e resseguradoras já pensam em mecanismos para reduzir as perdas. O setor estuda títulos emitidos pelas seguradoras e resseguradoras nos quais dividem com investidores os riscos de catástrofes, os chamados Cat bonds, e cobertura indexada ao clima. Só na região serrana do Rio de Janeiro, os prejuízos com as chuvas no início do ano totalizaram R$ 614 milhões, segundo o Tribunal de Contas do Estado. Os temporais também trouxeram prejuízos de R$ 250 milhões em Minas Gerais. Na cidade de São Paulo, a Fiesp (Federação das Indústrias do Es-

Entre os contratos de 2010 nesse segmento estão algumas coberturas para a hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO), e a termelétrica de Itaqui, em São Luís (MA). A Liberty também participa de operações de infraestrutura, óleo e gás, incluindo projetos de companhias como Vale e Petrobras, e é a seguradora das obras do novo terminal do Porto de Santos (SP). “As seguradoras e resseguradoras se sentem atraídas pelo Brasil por conta das obras. A crise internacional deve acentuar a oferta de companhias estrangeiras no país. Só que, como a oferta é grande, os preços caem. Está bom para os clientes”, diz Ângelo Colombo, diretor de Grandes Riscos da Allianz. A Berkley também entrou nesse Evolução constante nicho e responde pelo seguro de risCrescimento do setor, incluindo saúde suplementar co de engenharia da obra da ponte sobre o Rio Madeira, orçada em R$ 210 milhões (PAC). Neste ano, a empresa Valor pago projeta crescer 17% no setor, mas despelos segurados Participação taca maior participação – em volume (R$ bilhões) no PIB (%) 5,17 de contratos – do setor privado. 5,12 Apesar de garantir outras grandes 4,80 obras – como ampliação da capacida184 4,79 de de subida da serra de Teresópolis e duplicação da adutora da Baixada 161 4,52 146 Santista –, o filão está nos projetos 4,40 menores. “Nosso diferencial é a agili127 dade, o que muitas vezes se perde em 107 grandes negócios. Nos menores, há 94 maior capacidade de resseguro e melhor margem de lucro”, disse José Bai2005 2006 2007 2008 2009 2010 lone, da Berkley. Fonte: Balanço Social/Informe 2010, CNSeg

Fotos: 5 - Eliênio Nascimento/Folhapress; 6 - Agência Petrobras

Obras de infraestrutura e eventos como a Copa de 2014 geram boas oportunidades

82 AméricaEconomia Setembro, 2011

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5

6

GRANDES OBRAS, COMO A HIDRELÉTRICA DE JIRAU (À ESQUERDA) E OS PROJETOS DA PETROBRAS (ACIMA), TÊM GERADO CONTRATOS CONTRA RISCOS

tado de São Paulo) calcula que a cada mês de chuvas em excesso há uma perda de R$ 1,3 bilhão para as empresas. “No cenário internacional, as seguradoras estão atuando na margem de lucro. Com o mercado globalizado, o Brasil é a bola da vez. Se houver catástrofes, e os investidores precisarem rever as margens, vão procurar um porto seguro”, afirma Colombo.

CLÁSSICOS E CLASSE C

Apagão de talentos no setor seguros A exemplo de outros setores, o mercado de seguros e resseguros também sofre com a falta de talentos. Os investimentos em infraestrutura alavancaram os seguros. Agora, as companhias têm problemas para formar equipes. Um levantamento feito pela Fesa, empresa de recrutamento de altos executivos da América Latina, aponta que a procura por profissionais mais seniores tem sido intensa, e isso se reflete no aumento do faturamento para esse setor, que foi de 183%. Segundo Thayanie Ujino, diretora da Fesa para Seguros e Resseguros, a entrada de diversas start-ups (empresa embrionária sustentável, com potencial de crescimento acelerado) e o redesenho de unidades de negócios que buscam reestruturação visando atender o mercado geraram uma procura maior por profissionais de nível gerencial e de diretoria. “A demanda aumentou para posições de liderança e especialmente para cargos específicos desse mercado, como em área de Sinistros, Atuarial e Técnica/Subscrição. O próprio perfil do executivo mudou”, explica a executiva.

Uma das explicações da Accenture para o maior faturamento das seguradoras é a migração das classes D e E para a classe C, com maior renda e poder de compra. Em cinco anos, a classe média quase duplicou, passando de 62,7 milhões de pessoas para 101,6 milhões. Também houve aumento da camada A/B, que pulou de 26,42 milhões para 42,19 milhões. Já a D/E caiu de 92,94 milhões para 47,95 milhões, segundo dados do Instituto Ipsos, especializado em pesquisas. Atualmente, a classe média representa mais de 53% da população, e estima-se que, em 2014, chegará a 56%, contra 28% da D/E e 16% da A/B. Para o presidente executivo da SulAmérica, Thomaz Cabral de Menezes, os resultados – embora não possam ser medidos isoladamente – já indicam maior participação da classe C no consumo de seguros. No primeiro semestre, a companhia cresceu 16,2%. A maior alta foi na área de seguros de saúde, com 19,5%. “É mais fácil não ter do que ter e deixar de ter. Uma vez que a classe C adquiriu a primeira televisão, o primeiro carro, dificilmente vai abrir mão disso. Vai querer proteger a casa, buscar um seguro de vida para a família e se planejar.” Apesar da carteira variada da SulAmérica, o seguro saúde e odontologia representou 66% dos prêmios da companhia no segundo trimestre deste ano, seguido por automóveis (23,8%), ramos elementares (5,2%) – que garantem perdas, danos ou responsabilidades sobre objetos ou pessoas (exceto planos Setembro, 2011 AméricaEconomia 83

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26.08.11 00:16:32


ESPECIAL Estratégia CICLO VIRTUOSO

Quanto o setor deve crescer em 2015

Mercados emergentes

entre US$ 650 e US$ 900 bi

Mercados maduros

Expansão da classe média e de PMEs deram origem a novos tipos de coberturas vida), como em situações de incêndio, roubo e danos elétricos – e de pessoas (5,1%), que engloba vida e previdência. Após pesquisa com consumidores, o Itaú Seguros detectou que os clientes demandam seguros de vida e acidentes pessoais mais simples, com benefícios básicos e objetivos. Por isso, colocou dois produtos – Vida (que cobre morte, invalidez permanente por acidente e doenças graves) e Acidentes Pessoais (com internação 24 horas independentemente do convênio médico do cliente) – no lugar dos sete anteriores. São destaques no subsegmento de seguros do Itaú a carteira de vida e acidentes pessoais, que corresponde a cerca de 50% dos valores pagos pelos segurados, e a de garantia estendida, que equivale a mais de 20%. Além disso, de janeiro a maio a companhia cresceu 123% no segmento seguro-viagens. Há ainda o seguro-educação, que expandiu 28% no mesmo período. Os microsseguros para as classes C, D e E também ganharam importância. Lançada em 2009 pela Bradesco Seguros, a linha popular oferece diferentes opções de seguros de vida, funerário e residencial, a partir de mensalidades de R$ 3,50. “Desde 2009, fizemos 80 pesquisas em sete cidades para identificar comportamentos e linguagens. Seguro está relacionado a coisas ruins, e quisemos mudar isso. E as necessidades são diferentes. No Morro Dona Marta [na cidade do Rio de Janeiro] não há roubo, mas o local precisa de proteção contra raios, incêndios e explosões”, diz o diretor executivo da Bradesco Seguros, Eugênio Velasques. Segundo o diretor, o aumento da renda e o acesso à informação ajudaram a promover uma mudança cultural. “As pessoas estão mais conscientes da importância de planejar a longo prazo e sobre a percepção do risco. Podemos dividir entre antes e depois do Plano Real. As classes populares não querem voltar atrás das aspirações e sabem que não têm direito de errar.”

O aquecimento da economia também influenciou na geração de emprego e na abertura de pequenas e médias empresas (PME). “Houve maior formalização, e o plano de saúde é um entre dos fatores de atração e retenção de US$ 400 e funcionários. Os pequenos empresáUS$ 600 bi rios passaram a oferecer o benefício. As grandes obras também vão ofeFonte: Accenture recer oportunidades de venda de seguros graças ao aumento de empregados, criando um ciclo virtuoso. O país cresce acima da média mundial com essa indústria ainda subaproveitada”, ressalta Menezes. Após mapear segmentos com maior potencial e tendência a adquirir seguros, a Liberty montou um pacote de coberturas dirigido a pequenas e médias empresas. São mais de 30 opções de cobertura oferecidas para cada segmento, incluindo a perda de lucros em caso de sinistros, que podem ser contratadas adicionalmente às coberturas tradicionais de roubo, furto, incêndio e danos elétricos. A linha existe desde 2009 e registrou expansão de 15% no ano passado. Os seguros são voltados a bares, restaurantes, hotéis e pousadas, consultórios, escritórios, escolas, bufês, padarias, cafeterias, floriculturas, pet shops, clínicas de estética e lavanderias. As coberturas preveem, por exemplo, perdas e danos causados a vacinas por problemas de refrigeração, prejuízos por problemas hidráulicos em lavanderias e interrupção do acesso online de floriculturas com venda pela internet. CHUVAS CAUSARAM PREJUÍZOS DE R$ 614 MILHÕES NO RIO DE JANEIRO

Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

Projeção otimista

84 AméricaEconomia Setembro, 2011

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26.08.11 00:16:55



ESPECIAL Ranking de Hospitais

Os melhores em 3D SAIBA QUEM MAIS SE DESTACOU NO 3º RANKING DOS MELHORES HOSPITAIS E CLÍNICAS DA AMÉRICA LATINA ANDRÉS ALMEIDA FARGA, DA AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

C

dade do Paciente, é interessante notar que as declarações de taxas de infecções intra-hospitalares mais baixas se dão nos hospitais que ocupam o primeiro (do 1º ao 15º) e o último (do 31º

ao 45º) segmentos do ranking. É possível que o menor número de comunicados sobre infecções não se deva a uma menor ocorrência, mas sim a um registro menos eficaz.

Foto: Zé Gabriel

otidianamente, hospitais e clínicas da América Latina e de todo o mundo precisam equilibrar-se em uma linha complexa entre qualidade do atendimento e eficiência no uso dos recursos. Nada fácil, quando o que está em jogo é a saúde dos pacientes e dos balanços. A eficiência hospitalar é justamente uma das dimensões deste 3º Ranking dos Melhores Hospitais e Clínicas da América Latina, que utiliza critérios financeiros comuns a qualquer organização complexa, além de mensurar a eficácia dos departamentos de qualidade desses hospitais. Os 45 hospitais e clínicas que se classificaram na lista dos melhores forneceram aos pesquisadores da AméricaEconomía Intelligence uma grande quantidade de dados, que permitem analisar o dilema de como administrar o atendimento de qualidade, racionalizando custos. Assim, surgem números interessantes, como os 61,8% de taxa média de ocupação de salas de cirurgia no conjunto de hospitais do ranking. A cifra é superior à média entre os hospitais privados, de 58,8%. Há ainda outras cinco dimensões que compõem o ranking. Em Gestão de Conhecimento, critério que trata da maneira como os hospitais geram, obtêm e difundem o saber médico, destacam-se o paulistano Hospital Israelita Albert Einstein (1º lugar desde 2009), com 641 publicações, enquanto a Clínica Alemana (2ª posição), de Santiago, tem 397 publicações. No indicador Segurança e Digni-

86 AméricaEconomia Setembro, 2011

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25.08.11 23:28:58


Em Capital Humano, temos um raio X da formação dos médicos dos hospitais do ranking. Segundo a pesquisa, 85,1% dos médicos desses hospitais têm pelo menos uma especialidade. Capacidade é a dimensão que permite ponderar os diferentes hospitais segundo sua carga e complexidade. Aqui, a principal unidade de medida são os ingressos anuais, isto é, a quantidade de pacientes hospitalizados que uma instituição recebe. Na comparação, apenas dos hospitais que participaram das duas últimas edições do ranking, registra-se um aumento exíguo na média de internações por ano: de 1,7%.

MOVIMENTOS Nesta edição, acrescentamos 15 hospitais à relação de 2010, com destaque para a chegada dos brasileiros Hospital Samaritano de São Paulo (6º) e Moinhos de Vento de Porto Alegre (9º), assim como dos colombianos Fundación Cardioinfantil de Bogotá (10º) e Fundación Cardiovascular de Colômbia (14º). Outra novidade interessante é a chegada expressiva ao ranking de hospitais colombianos, que somam, nesta edição, 14 instituições. Dessas, cinco não estavam listadas na edição do ano passado – um reflexo da busca do setor hospitalar do país por posicionar-se em

um andar mais alto de reconhecimento e prestígio. De fato, na categoria Prestígio – construída a partir de consultas a executivos e médicos e da avaliação de lacunas, conquistas e alianças dos hospitais – os centros médicos colombianos aumentaram sua média de 24,9 pontos para 33,1. Outro movimento interessante é o do Médica Sur, um dos mais respeitados hospitais do México, que passou do 23º para o 12º posto neste ano, dada uma reformulação completa, em 2010, dos mecanismos de produção de seus dados. “Fizemos uma reengenharia na área de qualidade, o que levou o hospital a ter mais controle quanto ao manejo e a disposição de indicadores”, afirmou Juan Carlos López, diretor de Qualidade da Médica Sur. Este não é um ranking de relatórios, por mais metodologicamente insubstituíveis que eles sejam. Nesta terceira edição do Ranking dos Melhores Hospitais e Clínicas há, porém, brechas nas curvas de aprendizagem não apenas na elaboração de relatórios, mas também nos sistemas aplicados pelos hospitais no conhecimento de dados relevantes para sua própria gestão.

Fotos: Divulgação

OS AUSENTES

O HOSPITAL ALBERT EINSTEIN REPETIU O PRIMEIRO LUGAR

Além do TEC de Monterrey e de todos aqueles que têm joint commission (certificação internacional no setor da saúde) no México (hospitais ABC e Cima, Christus Muguerza, México Americano e OCA), ainda são muitos os hospitais que merecem estar nesta lista. Segundo pesquisas aplicadas pela AméricaEconomía Intelligence junto a médicos, executivos e outras fontes relevantes, na lista de respostas incompletas dos questionários encontram-se, na Argentina, os hospitais Dr. René Favaloro, Italiano e Garraham. Sem dúvida, trata-se de três grandes navios que deveriam complementar a esquadra argentina, que hoje tem como símbolos os hospitais Alemán (11º) e Universitario Austral (15º). Setembro, 2011 AméricaEconomia 87

AE 403 ranking hospitais3 V1.indd 3

25.08.11 23:29:21


ESPECIAL Ranking de Hospitais

RK 11

RK 10

HOSPITAL OU CLÍNICA

PAÍS

CIDADE

TIPO DE HOSPITAL

Nº INTERNAÇÕES DE 2010

MÉDICOS*** Nº

FT% (*)

Nº DEMÉDICOS POR 100 INTERNAÇÕES

Nº DE ANESTESISTAS POR SALA DE OPERAÇÃO

N° ENFERMEIRAS COM GRAU UNIVERSITÁRIO

Nº LEITOS

1

1 HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN

BRA

SÃO PAULO

PRIVADO

43.241

931

49,1

2,15

15,31

937

577

2

2

CLÍNICA ALEMANA

CHI

SANTIAGO

PRIVADO

37.820

745

53,6

1,97

2,28

449

330

3

4

FUNDACIÓN SANTA FÉ

COL

BOGOTÁ

UNIV. PRIVADO1

13.188

310

61,3

2,35

3,27

225

205

4

3

CLÍNICA LAS CONDES

CHI

SANTIAGO

PRIVADO

23.584

472

76,1

2,00

2,86

391

253

5

5

HOSPITAL CLÍNICA BÍBLICA

C.RI

SAN JOSÉ

PRIVADO

4.642

217

91,7

4,67

5,73

96

110

6

HOSPITAL SAMARITANO DE SÃO PAULO

BRA

SÃO PAULO

PRIVADO

14.500

1.429

1,7

9,86

6,18

215

211

7

9

HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ

BRA

SÃO PAULO

PRIVADO

16.545

86

3,5

0,52

2,69

255

281

8

7

FUNDACIÓN VALLE DEL LILI

COL

CALI

UNIV. PRIVADO1

17.832

353

97,1

1,98

2,18

290

436

9

HOSPITAL MOINHOS DE VENTO

BRA

PORTO ALEGRE

PRIVADO

17.687

164

63,4

0,93

19,17

151

278

10

FUNDACIÓN CARDIOINFANTIL

COL

BOGOTÁ

UNIV. PRIVADO1

13.569

318

49,7

2,34

2,00

278

300

11

11

HOSPITAL ALEMÁN

ARG

BUENOS AIRES

PRIVADO

13.411

576

100,0

4,29

2,08

62

186

12

23

MÉDICA SUR

MÉX

CID. MÉXICO

PRIVADO

14.814

311

49,8

2,10

6,88

86

170

13

10

SANATORIO AMERICANO

URU

MONTEVIDÉU

PRIVADO

8.997

370

95,4

4,11

12,00

87

148

14

FUNDACIÓN CARDIOVASCULAR DE COLOMBIA

COL

SANTANDER

PRIVADO

3.861

140

73,6

3,63

1,83

158

193

15

16

HOSPITAL UNIVERSITARIO AUSTRAL

ARG

BUENOS AIRES

UNIV. PRIVADO1

9.190

567

41,4

6,17

2,50

141

138

16

13

HOSPITAL CLÍNICO U. DE CHILE

CHI

SANTIAGO

UNIV. PÚBLICO1

23.610

528

22,0

2,24

1,48

290

607

17

18

SAN VICENTE DE PAÚL MEDELLÍN

COL

MEDELLÍN

PRIVADO

21.041

310

83,5

1,47

1,82

139

655

18

21

HOSPITAL SAN IGNACIO DE BOGOTÁ

COL

BOGOTÁ

UNIV. PRIVADO1

22.293

288

74,7

1,29

4,62

180

289

19

29

CLÍNICA ANGLOAMERICANA

PER

LIMA

PRIVADO

4.550

136

83,1

2,99

1,50

101

64

20

19

POLICLÍNICA METROPOLITANA

VEN

CARACAS

PRIVADO

12.175

325

85,2

2,67

2,21

297

208

21

24

CLÍNICA RICARDO PALMA

PER

LIMA

PRIVADO

15.706

323

15,8

2,06

2,00

167

156

22

22

HOSPITAL GENERAL DE MEDELLÍN

COL

MEDELLÍN

PÚBLICO

17.329

262

29,4

1,51

1,74

100

409

23

CLÍNICA INTERNACIONAL

PER

LIMA

PRIVADO

13.475

409

34,0

3,04

2,71

212

181

24

20

HOSPITAL PABLO TOBÓN URIBE

COL

MEDELLÍN

PRIVADO

12.093

300

60,7

2,48

2,08

160

317 123

25

CENTRO MÉDICO IMBANACO

COL

CALI

PRIVADO

8.306

201

87,6

2,42

2,38

78

26

14

HOSPITAL ÁNGELES LAS LOMAS

MÉX

CID. MÉXICO

PRIVADO

9.068

623

16,1

6,87

2,00

33

211

27

30

CLÍNICA LAS AMÉRICAS

COL

MEDELLÍN

PRIVADO

12.488

91

73,6

0,73

3,86

117

213

28

27

HOSPITAL BANDEIRANTES

BRA

SÃO PAULO

PRIVADO

13.789

113

52,2

0,82

5,78

122

239

29

15

HOSPITAL ÁNGELES EL PEDREGAL

MÉX

CID. MÉXICO

PRIVADO

14.129

401

16,1

2,83

3,09

40

212

30

25

HOSPITAL SÓTERO DEL RÍO

CHI

SANTIAGO

PÚBLICO

43.821

270

40,1

0,62

1,54

386

733

31

HOSPITAL ÁNGELES MOCEL

MÉX

CID. MÉXICO

PRIVADO

6.446

935

16,1

14,50

1,78

32

116

32

31

CLÍNICA LEÓN XIII

COL

MEDELLÍN

UNIV. PÚBLICO1

23.457

579

52,3

2,47

2,67

452

632

33

32

HOSPITAL SAN RAFAEL DE ALAJUELA

C.RI

ALAJUELA

PÚBLICO

16.669

154

88,3

0,92

1,50

140

310

34

HOSPITAL LUIS VERNAZA

EQU

GUAYAQUIL

PRIVADO

21.007

277

37,2

1,32

3,09

184

838

35

INSTIT. DE ORTOPEDIA INFANTIL ROOSEVELT

COL

BOGOTÁ

UNIV. PRIVADO1

6.073

109

67,0

1,79

1,75

25

118 220

36

HOSPITAL EDMUNDO VASCONCELOS

BRA

SÃO PAULO

PRIVADO

12.146

746

31,9

6,14

7,60

118

37

GRUPO HOSPITALARIO KENNEDY

EQU

GUAYAQUIL

PRIVADO

15.111

14

78,6

0,09

0,77

104

331

38

28

HOSPITAL DE LOS VALLES

EQU

QUITO

PRIVADO

4.682

38

97,4

0,81

2,00

86

101

39

HOSPITAL EL CRUCE

ARG

BUENOS AIRES

PRIVADO

3.113

268

100,0

8,61

2,75

89

119

40

HOSPITAL ÁNGELES PUEBLA

MÉX

CID. MÉXICO

PRIVADO

9.881

623

16,1

6,31

1,17

30

103

41

CLÍNICA DEL SOL

ARG

BUENOS AIRES

PRIVADO

10.426

61

91,8

0,59

0,20

45

51

42

MEDERI

COL

BOGOTÁ

UNIV. PRIVADO1

35.193

428

100,0

1,22

0,00

241

727

43

CLÍNICA DEL OCCIDENTE

COL

BOGOTÁ

PRIVADO

12.891

203

5,4

1,57

5,00

67

168

44

CLÍNICA BAZTERRICA

ARG

BUENOS AIRES

PRIVADO

8.300

77

100,0

0,93

0,13

29

138

45

HOSPITAL ALBERTO HURTADO

CHI

SANTIAGO

PÚBLICO

24.323

280

61,1

1,15

1,46

153

381

*FT: Full time; **Paper ISI: Institute for Scientific Information; ***Não inclui médicos residentes; (1) Universitário

88 AméricaEconomia Setembro, 2011

AE 403 ranking hospitais3.indd 4

25.08.11 23:37:15


Nº DE ENFERMEIRAS COM GRAU UNIV. POR CADA 10 LEITOS

OCUPAÇÃO LEITOS (%)

PAPERS ISI PUBLICADOS (20082011)**

HORAS DIÁRIAS DE VISITA NA INTERNAÇÃO GERAL

M2 CONSTRUÍDOS

16,24

83,4

641

24

13,61

77,0

397

24

10,98

96,0

37

15,45

69,3

SUBÍNDICES DE QUALIDADE GESTÃO CAPACIEFICIDO CONHEDADE ÊNCIA CIMENTO

PUBLICAÇÃO DE RESULTADOS CLÍNICOS ADVERSOS NA WEB

SEGURANÇA

285.076

SIM

100,00

84,3

100,0

100,0

131.654

NÃO

92,05

100,0

75,5

88,9

24

24.070

SIM

83,53

98,9

76,8

77

24

95.573

NÃO

97,08

82,4

CAPITAL HUMANO

PRESTÍGIO

ÍNDICE DE QUALIDADE 2011

94,8

85,0

94,05

87,1

100,0

90,70

83,2

89,5

70,2

85,27

69,5

75,2

87,2

86,2

83,63

8,73

61,0

0

12

35.829

NÃO

92,95

93,9

55,8

48,8

80,9

65,1

77,34

10,19

70,2

6

14

32.000

NÃO

87,39

77,1

68,3

62,0

94,1

51,3

75,51

9,07

83,3

0

24

72.000

NÃO

85,19

69,6

69,5

60,5

91,5

55,8

73,39

6,65

84,0

42

11

80.000

SIM

71,00

87,7

66,6

74,0

83,3

46,3

73,36

5,43

85,0

0

9

84.000

NÃO

90,10

78,1

57,6

74,5

90,9

25,9

72,70

9,27

86,4

40

11

54.200

NÃO

67,85

89,5

61,1

77,8

100,0

18,9

71,22

3,33

84,0

0

12

28.500

NÃO

74,40

74,6

59,8

58,1

81,2

72,9

70,44

5,06

68,0

22

11

103.154

NÃO

79,42

57,2

64,0

72,6

96,0

58,1

69,63

5,88

72,0

71

4

8.083

NÃO

67,14

93,1

51,6

71,0

75,0

45,5

69,55

8,19

75,0

45

9

15.116

NÃO

84,97

77,0

48,3

63,7

95,9

30,3

69,16

10,22

89,7

80

9

22.000

NÃO

68,96

73,2

56,0

66,0

94,4

38,3

66,62

4,78

67,4

299

1

55.420

NÃO

75,46

63,4

63,3

76,0

70,5

42,6

66,28

2,12

94,1

1

2

54.000

SIM

77,43

55,8

52,7

72,2

95,9

51,2

65,78

6,23

93,5

11

10

23.000

NÃO

65,29

69,3

57,4

83,8

97,6

24,5

65,70

15,78

74,7

0

13

8.384

NÃO

63,87

87,2

47,4

49,5

89,3

42,2

65,34

14,28

65,0

66

16

56.000

NÃO

62,98

84,2

56,3

74,0

74,0

23,2

65,18

10,71

88,9

5

24

40.245

NÃO

59,79

78,5

59,7

56,0

85,9

43,8

65,07

2,44

87,3

8

4

43.913

SIM

78,53

75,4

51,6

50,5

90,1

21,0

65,00

11,71

77,0

2

1

15.924

SIM

60,37

79,7

54,7

66,5

84,5

39,2

64,96

5,05

89,4

25

10

40.011

SIM

75,34

59,6

58,8

61,5

89,5

43,1

64,90

6,34

87,7

9

12

29.313

NÃO

79,71

61,1

61,2

58,0

89,8

23,8

64,66

1,56

34,0

19

12

72.000

NÃO

77,31

63,0

52,9

71,0

84,7

32,0

64,44

5,49

79,5

6

12

24.400

NÃO

76,47

62,9

59,5

52,4

83,4

34,4

63,78

5,10

85,0

4

13

28.000

NÃO

66,02

63,3

55,0

78,3

95,9

29,9

63,75

1,89

55,9

0

14

110.000

NÃO

73,14

64,2

55,7

68,1

81,2

29,4

63,34

5,27

81,4

0

7

35.000

SIM

62,50

60,7

64,6

72,2

92,6

28,2

63,01

2,76

72,0

0

13

23.000

NÃO

70,57

68,1

52,4

68,1

82,5

25,4

62,74

7,15

94,8

0

10

41.220

NÃO

74,94

55,6

51,4

70,9

91,7

18,8

61,25

4,52

94,0

2

4

39.375

SIM

69,27

60,7

50,5

69,4

84,6

17,9

59,79

2,20

71,3

39

3

52.202

SIM

69,90

48,4

55,9

72,3

80,2

22,3

58,21

2,12

75,6

4

10

26.000

SIM

71,73

69,1

36,4

58,5

80,7

17,3

58,15

5,36

74,5

6

12

26.100

NÃO

63,27

53,6

58,6

58,5

81,9

24,6

57,45

3,14

91,0

5

13

53.000

NÃO

68,73

43,2

58,5

49,6

88,9

27,2

56,26

8,51

57,3

0

10

21.778

NÃO

48,54

69,6

49,7

72,0

75,2

20,5

56,24

7,48

81,9

0

3

22.000

NÃO

54,55

49,2

47,0

67,9

90,3

18,2

52,98

2,91

34,0

0

12

34.144

NÃO

63,71

53,1

50,7

45,3

66,6

19,9

52,52

8,82

90,1

0

6

8.529

NÃO

69,18

48,6

42,5

22,9

87,4

18,4

50,82

3,31

34,0

0

10

56.195

NÃO

59,46

38,9

55,5

58,6

48,1

23,5

48,73

3,99

91,0

0

10

11.000

NÃO

54,55

52,9

37,8

25,7

98,4

18,6

48,70

2,10

86,0

0

7

12.400

NÃO

59,01

40,5

44,3

22,9

74,5

42,0

47,69

4,02

86,3

0

8

34.118

NÃO

53,78

37,5

46,2

39,8

65,1

25,3

45,09

Setembro, 2011 AméricaEconomia 89

AE 403 ranking hospitais3.indd 5

25.08.11 23:37:41


ESPECIAL Ranking de Hospitais

Números do setor Fatores como idade dos médicos e produção de papers ISI ajudam a compor a nota final

Sabedoria da experiência Média de idade dos médicos full time, segundo tipo de hospital FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

70 62 60

56

54

55

50 50

45

42

42

40

Cuidado aprofundado

30

Média de reuniões anuais de comitês de Ética e Controle de Infecções

20 10

FONTE: PESQUISA COM MÉDICOS/ AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

45

0

PRIVADO

PÚBLICO

UNIV. PÚBLICO Média de idade Hospital com média máxima

42

Gestão do conhecimento

40

37

Os 15 hospitais com maior produção de papers ISI (2008-2011)

35

FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

30

HOSP. ISRAELITA ALBERT EINSTEIN CLÍNICA ALEMANA HOSP. CLÍNICO U. DE CHILE HOSP. UNIVERSITARIO AUSTRAL CLÍNICA LAS CONDES SANATORIO AMERICANO POLICLÍNICA METROPOLITANA FUND. CARDIOVASCULAR DE COL. FUND. VALLE DEL LILI FUND. CARDIOINFANTIL HOSP. LUIS VERNAZA FUND. SANTA FÉ HOSP. PABLO TOBÓN URIBE MÉDICA SUR HOSP. ÁNGELES LAS LOMAS

25 20

20 15 14 13

14 12

10

10

9

13 10

7

PERU

MÉXICO

COLÔMBIA

CHILE

BRASIL

ARGENTINA

5 0

UNIV. PRIVADO

Comitê de Ética Comitê de infecções intra-hospitalar

641 397 299 80 77 71 66 45 42 40 39 37 35 22 19 0

100

200

300

400

500

600

700

Mensuração de destaques Nota dada à importância dos seguintes fatores na atenção hospitalar (escala de 1 a 5) FONTE: PESQUISA COM LEITORES E MÉDICOS/AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

6 4,70 4,30

4,76 4,36

0 Segurança hospitalar

Tratamento ao paciente

5

4,57 4,78

4,32

4,61

4,47

4,44

4,69

4,02

4,69 4,31

4,35

4,65

4,43 4,11

4,46 3,92

4 3 2 1 Excelência da equipe médica

Excelência da equipe de enfermaria

Capacidade de Conhecimento médico gestão da clínica ou do hospital

Capacidade de realizar múltiplos diagnósticos e tratamentos

Disponibilidade de alta tecnologia

Boa relação custo-benefício

Alto prestígio

Leitores Médicos

90 AméricaEconomia Setembro, 2011

AE 403 ranking hospitais3 V1.indd 6

25.08.11 23:30:43


Especialistas versus usuários Quais países têm os melhores hospitais e clínicas?

19,1%

BRASIL CHILE ARGENTINA MÉXICO COLÔMBIA CUBA

1,1% 2,4%

COSTA RICA

0,5% 0,0%

PERU

0,7% 2,0%

1,7% 2,3%

0,0%

2,1% 0,5%

10,7%

5,0%

4,2%

10,0%

6,6%

15,0%

11,6% 8,3%

15,3%

20,0%

18,7%

25,0%

13,9%

30,0%

Médicos Leitores

21,2%

35,0%

27,6% 29,7%

FONTE: PESQUISA COM LEITORES E MÉDICOS/AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

URUGUAI PORTO OUTROS RICO

Esquadrão da qualidade Os 10 hospitais com mais profissionais em departamentos de qualidade FONTE: AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

Fund. Cardioinfantil

18

Hosp. Israelita Albert Einstein

18 15

Médica Sur San Vicente de Paúl Medellín

13

Hosp. San Ignacio de Bogotá

12

Hosp. Alemán

12

Clínica Internacional

12

Fund. Valle de Lili

12

Mederi

10

Fund. Santa Fé

10 0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

No Brasil, faltam os hospitais Sírio-Libanês – sem dúvida, o mais prestigioso de São Paulo, junto do top 1 de nossa lista, o Hospital Israelita Albert Einstein –, do Coração, Copa D’or, do Câncer I e do Câncer II, Paulistano, Total-Cor, São José, o carioca Hospital São Vicente de Paulo, que neste ano declinou sua participação, e o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, que, desta vez, não foi medido, pois, pela terceira vez, não entregou os dados de maneira correta. Outros hospitais relevantes e ausentes são o Metropolitano de Quito (que estreia na Joint Commission International), o Británico, de Montevidéu, o Hospital de Clínicas Caracas e o Hospital San Juan de Dios, de San José, que declinaram participar neste ano. Também deveriam estar os sul-americanos hospitais Clínico de la Universidad Católica de Chile, San Felipe e San Pablo, ambos de Lima, e o Centro Médico de Caracas. E os centro-americanos e caribenhos Hermanos Ameijeiras, de Havana, Metropolitano Vivian Pellas, de Manágua, e Hospital Hotel La Católica, de San José, além de uma lista de hospitais panamenhos recomendados pelo Ministério da Saúde do Panamá, com quem tentamos entrar em contato, sem sucesso. Colaborou Fernando Valencia.

20

Top of mind Quais são os melhores hospitais da América Latina?

Leitores Médicos

Clínica Fund. Ricardo Santa Fé Palma de Bogotá

3,54% 2,19%

8,01% 1,54% 2,53% Hosp. Clinico U. de Chile

2,40%

1,49% 2,68% Centro Médico ABC

0,55% 2,46%

0,73% 2,77%

Hosp. Hosp. das Clínica Alemão Clínicas de AngloameOswaldo São Paulo ricana Cruz

2,77%

Hosp. SírioLibanês

5,92%

Hosp. Israelita Albert Einstein

3,33% 3,22%

Hosp. Hermanos Ameijeiras

4,70% 3,35%

0,69% 3,62%

Clínica Clínica Las Hosp. Clíni- Hosp. Alemana Condes de co de la U. Alemán Santiago Católica de Chile

6,10% 3,44%

2,29% 4,05%

4,55% 7,45%

6,95% 8,43%

12,00% 10,00% 8,00% 6,00% 4,00% 2,00% 0,00%

6,88% 9,58%

FONTE: PESQUISA COM LEITORES E MÉDICOS/AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

Hosp. Italiano

Setembro, 2011 AméricaEconomia 91

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ESPECIAL Ranking de Hospitais

Quais são os melhores hospitais de seu país?

Melhores hospitais do Chile, segundo chilenos (% de menções)

FONTE: PESQUISA COM LEITORES/ AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

Melhores hospitais do Brasil, segundo os brasileiros (% de menções) Hosp. Beneficiência Portuguesa 2,7%

Hosp. Copa D’Or 2,7%

Hosp. São Luiz 3,6% Hosp. Samaritano 5,4%

Outros 17,9%

Hosp. Alemão Oswaldo Cruz 10,7%

Hosp. Israelita Albert Einstein 22,3%

Hosp. das Clínicas São Paulo 15,2% Hosp. Sírio -Libanês 19,6%

Melhores hospitais da Colômbia, segundo colombianos (% de menções) Hosp. General de Medellín 3%

Outros 22%

Centro Médico Imbanaco 4% Clínica de las Américas 5% Fund. Cardiovascular de Col 5%

Fund. Santa Fé de Bogotá 17% Fund. Hospitalaria San Vicente de Paulo 13% Hosp. Pablo Tobón Uribe 11%

Fund. Clínica Shaio 10% Hosp. Univ. de San Ignacio 5% Fund.Clínica Valle de Lili 5%

Melhores hospitais do México, segundo mexicanos (% de menções) Hosp. Español 6% Centro Médico Nac. 20 de Nov. 7% Hosp. San José TEC de Monterrey 8% Hosp. Los Ángeles de las Lomas 9% Inst. Nac. de Ciencias Médicas y Nutrición Salvador Zubirán 10%

Hosp. Christus Murgueza 5% Outros 25%

Centro Médico ABC 18% Médica Sur 12%

Outros Clínica Indisa 11,2% 3,7% Hosp. Clínico U. de Chile 7,6%

Clínica Alemana 27,5%

Clínica Santa María 10,7%

Clínica Las Condes 19,5%

Hosp. Clínico U. Católica 19,8%

Melhores hospitais do Peru, segundo peruanos (% de menções) Clínica Javier Prado 4% Hosp. Almenara Irigoyen 4% Clínica San Pablo 6% Clínica El Golf 7% Hosp. Edgardo Rebagliati Martins 7% Clínica Internacional 8%

Clínica Good Hope 3% Outros 17% Clínica Ricardo Palma 16%

Clínica Angloaméricana 15% Clínica San Felipe 13%

COMO FAZEMOS O RANKING Caso queira obter o relatório metodológico completo, entre em contato com intelligence@americaeconomia.com Quais hospitais podem participar: Qualquer hospital ou clínica latino-americano de alta complexidade que preste múltiplos serviços em uma ampla gama de especialidades médicas, e que tenha sido mencionado como referência pelos Ministérios da Saúde de Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, Cuba, Equador, México, Panamá, Peru, Uruguai ou Venezuela, ou ainda outras fontes pertinentes. Podem ser tanto públicos e privados quanto universitários. No total, foram convidadas mais de 190 entidades desses países. Quais hospitais participaram: Os hospitais e clínicas que enviaram um elevado volume de dados relevantes por meio de respostas a um questionário que reúne informações-chave em relação a seis dimensões da qualidade hospitalar, além de um conjunto de documentos que endossam tais informações. O que mede o ranking: Segurança e Dignidade do Paciente (25%) trata dos indicadores de processos e dos resultados que permitem minimizar riscos hospitalares, além do quesito transparência. Em Capital Humano (25%), considera-se a análise da equipe médica, de enfermaria e a governança hospitalar. Capacidade (20%) trata dos indicadores e da quantidade de pacientes ambulatoriais, leitos, especialidades e subespecialidades médicas, exames laboratoriais e cirurgias, além de investimentos. Gestão do Conhecimento (10%) trata dos indicadores que permitem medir a capacidade de gerar, obter e difundir a vanguarda do saber médico na entidade. A Eficiência (10%) considera variáveis de eficiência médica, como taxas de ocupação de leitos ou salas de cirurgia, eficiência financeira (balanços e demonstrações de resultados) e os mecanismos de gestão da qualidade. E Prestígio (10%) leva em consideração, por meio de pesquisas, a opinião dos médicos dos hospitais participantes e dos leitores de AméricaEconomia inscritos no portal web, e os marcos, conquistas e alianças estratégicas alcançadas pelas entidades.

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Fator bilheteria Os hospitais com a melhor relação custo-benefício, segundo executivos latino-americanos por país (% de menções) FONTE: PESQUISA COM LEITORES/ AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

ARGENTINA HOSPITAL ITALIANO DE BUENOS AIRES 25,0% HOSPITAL ALEMÁN 21,4% HOSPITAL UNIVERSITARIO DR. RENÉ FAVALORO 14,3% BRASIL HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ HOSPITAL COPA D’OR

15,2% 12,1% 9,1%

COLÔMBIA HOSPITAL PABLO TOBÓN URIBE FUNDACIÓN SANTA FE DE BOGOTÁ FUNDACIÓN CLÍNICA SHAIO

15,5% 14,1% 9,9%

COSTA RICA HOSPITAL CLÍNICA BÍBLICA HOSPITAL MÉXICO HOSPITAL HOTEL LA CATÓLICA

33,3% 25,9% 22,2%

CHILE HOSPITAL CLÍNICO U. CATÓLICA CLÍNICA SANTA MARÍA HOSPITAL CLÍNICO U. DE CHILE

26,1% 19,4% 17,6%

EQUADOR HOSPITAL METROPOLITANO GRUPO HOSPITALARIO KENNEDY HOSPITAL DE CLÍNICAS PICHINCHA

26,9% 15,4% 15,4%

MÉXICO HOSPITAL ESPAÑOL CENTRO MÉDICO ABC INSTITUTO SALVADOR ZUBIRÁN

17,1% 14,5% 11,8%

PANAMÁ HOSPITAL NACIONAL HOSPITAL SAN FERNANDO HOSPITAL PUNTA PACÍFICA

41,7% 33,3% 16,7%

PERU CLÍNICA RICARDO PALMA CLÍNICA EL GOLF CLÍNICA INTERNACIONAL

18,6% 12,6% 12,6%

Foto: Shutterstock

URUGUAI HOSPITAL BRITÁNICO 63,6% SANATORIO AMERICANO 22,7% ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE SOCORROS MUTUOS 9,1% VENEZUELA CENTRO MÉDICO DOCENTE LA TRINIDAD POLICLÍNICA METROPOLITANA CENTRO MÉDICO DE CARACAS

33,3% 25,0% 12,5%

Saúde, um paciente que precisa de cura LISTA DE VÍTIMAS DE ERROS CRESCE COM RELAÇÃO RUIM ENTRE MÉDICOS E PLANOS DE SAÚDE E SEM INVESTIMENTOS PÚBLICOS PAULA PACHECO, DE SÃO PAULO SUFICIENTES Setembro, 2011 AméricaEconomia 93

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ESPECIAL Ranking de Hospitais

o Brasil, há uma escassez de estatísticas sobre a incidência de erros médicos e a demanda que essas falhas geram no Poder Judiciário. Mas o fato é que o excesso de cursos de Medicina, a baixa qualificação dos profissionais de saúde e uma oferta hospitalar aquém da demanda são componentes importantes quando se analisa a crescente insatisfação no atendimento médico. “Há um aumento da demanda pelos serviços de saúde, graças ao crescimento da população. Somam-se a isso a falta de investimentos para oferecer uma assistência de qualidade, a insuficiência de médicos qualificados e a baixa remuneração por parte dos planos de saúde”, analisa Antonio Carlos Roselli, presidente da Comissão de Direito da Saúde e Responsabilidade Médico-Hospitalar da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), da seccional do estado de São Paulo. O advogado se refere à atual disputa, que colocou em campos opostos, de maneira acintosa, os médicos e as operadoras de planos de saúde. Está agendado, para este mês, um protesto nacional dos médicos, que deixarão de atender por um dia os clientes de alguns planos de saúde. O objetivo é pressionar por melhor remuneração e condições de trabalho. Segundo Roselli, em média, um profissional recebe da empresa de plano de saúde R$ 27 por consulta. Depois de descontos de despesas e pagamento de impostos, ele embolsa cerca de R$ 12. “Um médico que ganha pouco e atende basicamente em sua clínica tem de trabalhar muito mais, em vários lugares, para conseguir uma renda mínima. Acaba mais vulnerável a erros e tem menos oportunidade de se atualizar”, analisa o representante da OAB. Esse não é um problema exclusivo do Brasil. Emilio Posadas Sarmiento, que integrou o Tribunal de Ética Médica de Bogotá entre 1998 e 2007, afirma que as condições de pagamento na

N

Colômbia são pouco adequadas para o tempo de estudo necessário em Medicina. “As empresas promotoras de saúde [conhecidas na Colômbia como EPS] fixam um valor, e este é extraordinariamente baixo”, afirma Posadas. “Um médico de uma EPS geralmente recebe uma média de US$ 29 por consulta, enquanto uma consulta particular fica entre US$ 69 e US$ 114.” Apesar do aumento da demanda judicial na área médica, Roselli não acredita que o Brasil possa pegar carona na realidade dos Estados Unidos e ter uma avalanche de processos decorrentes de erros médicos.

Os casos mais comuns de erros médicos estão relacionados a problemas na área de ginecologia e obstetrícia “Há uma tendência mundial de judicialização de tudo, mas o Brasil não vai viver a mesma realidade dos EUA. Aqui, por bom senso do Judiciário, não temos a tradição de indenizações milionárias, e isso acaba, de alguma forma, inibindo um aumento ainda maior de ações contra médicos, hospitais e planos de saúde”, opina Roselli.

PUNIÇÃO Célia Destri, advogada, é presidente da Associação de Vítimas de Erros Médicos, fundada em 1991, no Rio de Janeiro. Segundo a especialista, o Código de Defesa do Consumidor, criado em 1990, é o principal apoio encontrado por pessoas que se sentiram lesadas na área da saúde. “O assunto passa a

ser tratado como um problema de prestação de serviço, não como uma mera culpa”, explica. A entidade é especializada no atendimento jurídico a pessoas que se sentem vítimas de erros médicos. Segundo Célia, os casos mais comuns estão relacionados a problemas na área de ginecologia e obstetrícia. São mulheres que morrem no parto, bebês que passam da hora de nascer e ficam com paralisia cerebral e tantos outros acidentes terríveis. Recentemente, uma das clientes de Célia conseguiu, depois de uma década de briga na Justiça, uma indenização de R$ 550 mil (em valores corrigidos). Durante o parto, a equipe médica errou ao aplicar dois tipos de anestesia. O bebê nasceu bem, e hoje é uma adolescente. Cátia, a mãe, vive em estado vegetativo e, a partir da decisão da Justiça, terá direito a receber uma pensão mensal de dez salários mínimos, ou cerca de R$ 5 mil. “Há uma carência generalizada, de equipamentos, de recursos humanos, tanto no atendimento público, pelo qual passam mais brasileiros, quanto no serviço privado. Outro dia, tive de levar lençóis de casa para minha tia, que estava internada no Hospital de Andaraí [no Rio]”, conta a presidente da associação. Coordenador da Câmara de Bioética do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Reinaldo Ayres diz que o último levantamento feito pela entidade mostrou que, entre 2000 e 2006, houve um aumento de 75% no número de denúncias contra médicos recebido pela entidade. “Mas é inquestionável que o Brasil é uma referência em várias áreas da saúde, como a de cirurgia plástica, tratamento de aids, cirurgias cardíacas. Tanto que o país é um dos destinos do que se chama de turismo da saúde”, argumenta. Com a colaboração de Jenny Gonzáles, de Bogotá, e Carlos Tromben, de Santiago.

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Além do bisturi ECONOMIA ESTÁVEL NA AMÉRICA LATINA INCENTIVA A INOVAÇÃO HOSPITALAR, E FABRICANTES MIRAM A REGIÃO GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

O EINSTEIN CONTA COM NOVE ROBÔS DE ALTA TECNOLOGIA, QUE CUSTARAM ENTRE US$ 80 MIL E US$ 250 MIL

ão Paulo, 10 de agosto de 2011. Dois dias depois de ser internado por causa de um infarto, Luan Rodrigues, 55 anos, apresenta um quadro de fibrilação ventricular – quando o coração para de bombear sangue para o corpo. A equipe, for-

Foto: Zé Gabriel

S

mada por médicos e enfermeiros do Hospital Israelita Albert Einstein, tenta de todas as formas reverter a situação, mas, infelizmente, Luan não resiste e morre. A situação descrita acima poderia até ser algo comum no ambiente hospi-

talar, se não fosse por um detalhe: o paciente em questão aqui não é real, mas sim um robô. Um dos nove que o hospital Albert Einstein utiliza em seus treinamentos e que custaram entre US$ 80 mil e US$ 250 mil. Todos eles fazem parte do Centro de Simulação RealísSetembro, 2011 AméricaEconomia 95

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ESPECIAL Ranking de Hospitais

A DIGITALIZAÇÃO DE DIAGNÓSTICOS É UMA DAS APOSTAS DA CARESTREAM

uma ideia, enquanto um tomógrafo normal tem de quatro a 16 detectores, o Aquilion conta com 320. Mas o que isso significa em termos práticos? “Em menos de meio segundo, você consegue fazer a imagem de um crânio. Já a imagem do coração, que normalmente leva

de oito a dez batimentos para aparecer, é feita em um único batimento com esse tomógrafo”, explica César Nomura, médico radiologista da área de Imagem Cardiovascular do Albert Einstein. A imagem oferecida pelo equipamento é tão perfeita que o médico consegue ver calcificações muito pequenas no coração do paciente, o que em um equipamento tradicional não seria possível. Com isso, o risco de infarto, por exemplo, pode ser diagnosticado com muito mais precisão.

ROBÔ-CIRURGIÃO No meio de tantos equipamentos de última geração, um deles tem chamado a atenção. É o recém-chegado robô Da Vinci. Por meio de imagens 3D em alta resolução, ele é utilizado para fazer cirurgias menos invasivas. O sistema é formado por três unidades: a primeira é a mesa de operação com o robô, composto por quatro braços poliarticulados, com flexibilidade de 1 360º e movimentos precisos. Na ponta de um desses braços, há uma câmera que capta imagens em 3D. Os outros três braços manipulam pinças cirúrgicas, movimentadas pela máquina, reproduzindo as sutilezas do cirurgião. A segunda unidade é um console inspirado nos simuladores de voo, no qual os médicos recebem as imagens 3D de alta definição e realizam os movimentos operatórios com as próprias mãos, que são transmitidos para o robô. Completando o sistema, há um conjunto de hardware externo. Iguais a ele, existem apenas quatro no Brasil. Entre os principais benefícios estão cortes menores, recuperação mais rápida, diminuição das dores e de complicações pós-cirúrgicas. Desde o primeiro procedimento,

em 2008, o Einstein já utilizou o robô-cirurgião em cerca de 600 intervenções, em especialidades como cardiologia, urologia, cabeça e pescoço, aparelho digestivo e tórax. “A diferença nos resultados para o paciente oncológico, por exemplo, é grande, já que a alta, que seria dada em sete dias, é antecipada em quatro dias, e, em duas ou três semanas, ele pode voltar às atividades do dia a dia. No procedimento convencional, isso levaria um mês ou mais”, explica Ricardo Santos, cirurgião e coordenador do Centro de Cirurgia Torácica Minimamente Invasiva do Hospital Albert Einstein.

FÁBRICA DE LUCROS Iniciativas como a do Einstein, que, em 2010, destinou 2% de sua receita de R$ 1,1 bilhão para a área de tecnologia de informação, têm levado os grandes fabricantes mundiais de equipamentos hospitalares a cobiçar o potencial da América Latina. Para o staff da GE Healthcare, a região é prioritária. Enquanto nos Estados Unidos e na Europa a expectativa é crescer apenas um dígito nos próximos anos, para a América Latina a expansão esperada não fica abaixo dos 20%. “Você tem mais gente na chamada classe média e trocando o SUS [Sistema Único de Saúde] pelo convênio. Assim, a demanda por exames aumenta, e é preciso comprar mais equipamentos. É um ciclo virtuoso”, comemora Rogerio Patrus, presidente da GE Healthcare na América Latina. Com o objetivo de aproximar a empresa dos clientes – aqueles potenciais e os que já têm pedidos em carteira –, a multinacional americana criou, há seis meses, sete regiões independentes, entre elas a América Latina. A demanda por máquinas está tão boa na região que o Brasil foi escolhido para receber o quinto centro de tecnologia da GE no mundo – que atenderá outros segmentos dentro do grupo. Em fase de projeto, o centro consu-

Fotos: 1 - Divulgação; 2 - Zé Gabriel

tica, inaugurado em 2007, no qual o Einstein investiu US$ 3,5 milhões. Segundo a gerente da Área de Treinamento, Cristina Mazoi, que trabalha há 23 anos no hospital, mais de 20 mil profissionais já foram treinados. Além da utilização de robôs, o centro – que ocupa 13 salas no primeiro subsolo do hospital – também conta com o know-how de atores. É com eles que os médicos simulam a notificação de más notícias, como a identificação de um câncer ou a morte de algum parente. “A melhora nos procedimentos é visível. Toda a vez que você vivencia algo, acaba guardando mais as informações”, afirma Cristina. As inovações no dia a dia do Einstein não param por aí. O hospital é uma das referências na América Latina no uso de tecnologias no ambiente hospitalar. Estão no Einstein, por exemplo, dois dos três Aquilion One em uso na região, considerado a última geração da família dos tomógrafos. Para se ter

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miu investimentos de US$ 100 milhões e será construído no Rio de Janeiro. Além disso, a unidade fabril da empresa em Contagem (MG), que já fabrica aparelhos de raio X e de mamografia, está em fase de qualificação para produzir outros produtos nacionalmente. “As necessidades aqui são diferentes daquelas lá de fora, então queremos aproximar a produção dos nossos clientes”, explica o executivo. Outra multinacional que decidiu au2 mentar seus negócios na América Latina é a Carestream, antiga divisão de saúde da Kodak. Segundo Robert Eisenbraun, diretor geral da empresa no Brasil, historicamente a região nunca havia despertado muito interesse da sede, nos Estados Unidos. “Isso começou a mudar no ano passado. Hoje, já somos a segunda região para o grupo, em termos de faturamento”, diz Eisenbraun. O executivo estima um crescimento de receita entre 5% e 10%, na América Latina, neste ano. Grande parte desse percentual será resultado dos investimentos feitos pela companhia nos equipamentos responsáveis pela digitalização de diagnósticos. “O DRX, equipamento lançado por nós no ano passado, que, acoplado a um aparelho de raio X tradicional, digitaliza a imagem, está sendo um sucesso de vendas. Se pensarmos em um mercado como o brasileiro, com cerca de 20 mil equipamentos de raio X, sendo a maior parte ainda analógica, o potencial de mercado é muito grande”, afirma o diretor geral da Carestream no Brasil. A aposta da multinacional americana nos sistemas de armazena-

Um hospital tecnológico Evolução do número de cirurgias robóticas no Albert Einstein 2008

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2009

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2010

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Fonte: Relatório de Responsabilidade Corporativa 2010/ Albert Einstein

mento e comunicação de imagem (o PACS, na sigla em inglês) parece ser acertada. Segundo estudo da consultoria internacional Frost & Sullivan, a receita do PACS no Brasil deverá chegar aos US$ 69 milhões em 2014. Em 2009, as vendas desses equipamentos somavam US$ 17,7 milhões. Isso representa um salto de quase 300%.

POTENCIAL Quem também tem aumentado seus investimentos no setor de saúde é a holandesa Philips. A área já responde por 25% da receita no Brasil. Globalmente, o segmento de healthcare tem uma participação de 34% nas vendas da companhia. Nos últimos dois anos, foram mais de US$ 300 milhões dedicados à aquisição de empresas na área de fabricação de equipamentos médicos no Brasil. “Além de uma situação macroeconômica positiva na região, os incentivos do governo para a compra desses aparelhos têm ajudado nas vendas”, afirma Ricardo Martins, gerente de Marketing Clínico da Philips para a América Latina.

E não são só os grandes conglomerados internacionais que pegam carona nessa onda. A catarinense Pixeon, especializada no desenvolvimento de soluções em diagnóstico digital por imagem, fundada em 2003, também tem expandido sua atuação pela América Latina. A empresa, que no Brasil atende a clientes como o Hospital São Camilo, de São Paulo, a Santa Casa, de Porto Alegre, e o Hospital da Unicamp, em Campinas (SP), acaba de chegar à Argentina, onde implantou suas soluções no hospital universitário Fundación Favaloro, em Buenos Aires. O carro-chefe da Pixeon é o PACS Aurora, um sistema de gestão de imagens médicas com tecnologia 100% nacional. Por meio dele, é possível digitalizar, armazenar e transmitir imagens geradas em qualquer equipamento de diagnóstico, como ultrassonografia, endoscopia, tomografia, ressonância magnética, raio X e mamografia. “Nós apostamos na área de clínicas de médio porte, que representa 70% do mercado”, conta Fernando Peixoto, diretor da companhia. Setembro, 2011 AméricaEconomia 97

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opinião

m 2003, 72% dos computadores comercializados no Brasil vinham do mercado cinza. Não tinham garantia, às vezes eram montados no fundo do quintal, com peças contrabandeadas. Com isso, as cinco maiores empresas que operavam legalmente no Brasil não tinham mais do que 15% de participação nas vendas de equipamentos. O governo brasileiro recebeu, naquela época, a visita de um alto executivo da Dell, que tinha fábrica no Rio Grande do Sul. Ele reclamou que a empresa não conseguia usar a capacidade de produção por causa da competição desleal de empresas do mercado paralelo. Diante de uma realidade daquelas, o jeito foi passar a exportar parte dos equipamentos para a África do Sul. Aquela era a única fábrica da Dell que dava prejuízo. Depois de várias reuniões com o setor eletroeletrônico, chegou-se à conclusão de que a única maneira de baixar os preços dos computadores no Brasil seria com a redução de tributos. O resultado seria aumentar a economia de escala das fábricas. Foi necessário um ano e meio de conversas para convencer a Receita Federal e o Ministério da Fazenda dos benefícios e do provável aumento de arrecadação. Na rodada final, uma frase cunhada pelo então presidente Lula ficou gravada em minha memória. Foi uma espécie de estímulo para vencer a resistência da equipe da Fazenda, que argumentava que haveria perda de arrecadação. Lula disse: “Você não abre mão daquilo que não tem”. Afinal, dois terços dos computadores vendidos no país não pagavam imposto. Não deu outra. Com a mudança nas regras, novos players, inclusive nacionais, puderam se destacar. É o caso da Positivo, que chegou a liderar o mercado brasileiro com vendas de mais de 1 milhão de computadores por ano. Ao mesmo tempo, os brasileiros passaram a ter em casa computadores mais modernos. No ano passado, pela primeira vez, a venda de computadores superou a de televisores no país. A redução de cerca de 12% de PIS/Cofins aumentou a arrecadação. Com maior volume de produção, o Brasil pas-

E

LUIZ FERNANDO FURLAN foi ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003/2007).

sou, em pouco tempo, ao posto de terceiro maior mercado de computadores, depois de Estados Unidos e Japão. No entanto, um dos pontos mais marcantes dessa nova fase da tecnologia é a conectividade disseminada entre famílias de baixa renda. O acesso ao conhecimento faz com que uma geração inteira melhore seu nível de educação e, principalmente, de empregabilidade. É possível que o país só veja essas mudanças pelo retrovisor, daqui a alguns anos. Os investimentos em massa em banda larga, que, absurdamente, são tributados em alguns estados com até 40% de imposto, devem ser estimulados com incentivos. Sabe-se da carência de mão de obra especializada. Normalmente são necessários anos para treinar profissionais. Está claro, com isso, que há um descasamento entre a população desempregada, menos de 6%, e as oportunidades de trabalho, que estão abundantes, por falta de capacitação básica. Um jovem que, durante o período escolar, pode usar ferramentas modernas em sua educação terá oportunidade de preencher esse lapso de especialistas em tecnologia, engenheiros e cientistas de que o Brasil precisa para se tornar um país de primeiro mundo. Vale ressaltar o entusiasmo visto no Ministério de Ciência e Tecnologia em usar a pasta para projetar o país em um horizonte de primeiro mundo. Isso traz otimismo quanto ao futuro. Incluo nesse contexto o acordo feito entre o Ministério das Comunicações e as empresas de telecom. Paulo Bernardo colocou no ministério uma visão pragmática. A presidente Dilma também orientou sobre a necessidade de uma banda larga de, no mínimo, um megabite de velocidade. Certamente essa mudança vai acelerar a inclusão digital no Brasil. Essa história é um bom exemplo de como um problema econômico do país foi resolvido por uma política de governo aliada ao setor produtivo, que gerou resultados além do esperado, inclusive com a possibilidade de o Brasil estar mais próximo de ingressar no seleto clube das novas tecnologias, com a chance de atrair empresas que no passado não consideravam nosso país no mapa de seus investimentos. Algumas já se sentiram estimuladas a instalar no Brasil seus centros de pesquisa e inovação de última geração.

Ilustração: Samuel Casal

O que uma mudança tributária pode fazer

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