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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 03 - Edição 01 Agosto - 2013
Entrevistada: Renata Trovarelli
Entrevistadora: Cintia C. B. M. da Rocha
TEMA: RELACIOMENTO AMOROSO
Psicóloga Comportamental, atualmente trabalha no IACEP - Londrina realizando atendimento de crianças, adolescentes e adultos. Além da clínica trabalha como Psicóloga Organizacional, prestando consultoria na área de Recrutamento & Seleção e Treinamento, também é Analista de Gestão de Pessoas em uma organização privada. É formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e está finalizando a especialização em Clínica Comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (ITCR-Campinas).
Renata, percebemos atualmente o peso que o relacionamento amoroso tem para algumas pessoas. Parece que estar sozinho (a) tornou-se sinônimo de infelicidade para algumas pessoas. Você tem percebido isso na sua prática clínica?
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Sim, homens e mulheres (de todas as idades) têm chego à clínica por este motivo, não se sentem felizes por não estarem em um relacionamento amoroso. Essas pessoas quando buscam a psicoterapia possuem questionamentos do tipo, “O que eu tenho de errado?”, “Por que todo mundo pode ser feliz e eu não?”, elas condicionam a felicidade a um único objetivo, ter um companheiro (a), e quando este objetivo “demora” a ser alcançado o sofrimento surge. Para muitas pessoas estar sozinho virou sim sinônimo de sofrimento e acredito que algumas condições tem possibilitado que isso aconteça.
Sobre quais condições você está se referindo? Desde que começamos a ter consciência sobre o mundo que nos cerca, percebermos que grande parte das pessoas vive em pares (pai e mãe), (avó e avô), (tio e tia). Nos é ensinado, desde criança, que o natural quando nos tornarmos adultos é dividirmos a vida com outra pessoa, para constituição de família. Em muitas famílias, as meninas já são preparadas para ser esposas e os meninos para ser os maridos e, com seus papéis, a priori, definidos, estas crianças quando crescem não veem outra possibilidade a não ser achar a outra pessoa. Além da cultura familiar também temos outras influências, como a da mídia, que a todo o momento passa a ideia, através de filmes, novelas, músicas, de que a felicidade está condicionada ao relacionamento amoroso. Ou encontramos a “metade da laranja” ou estamos fadados a infelicidade. Você quer exemplos de como essa mensagem é passada? Praticamente todas as músicas românticas (de todos os estilos), falam de solidão e tristeza devido ausência da pessoa amada. Os filmes e novelas também não fogem a regra, o script é sempre o mesmo, os protagonistas sofrem e vivem apuros até encontrar a pessoa amada e o vilão acaba sozinho. Sem exceção, o final feliz só acontece quando o casal fica junto. Percebe como muitos contextos nos levam a pensar a mesma coisa? Qual o
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recado implícito em todos esses exemplos? Que sozinho ninguém será feliz. Todas essas influências levam muitas pessoas a buscar no outro a felicidade. E quando a vida real foge dos padrões exigidos vem o sofrimento e o sentimento de inadequação.
Já que você citou músicas, há um trecho de uma música de Tom Jobim que diz “é impossível ser feliz sozinho”. Você concorda com esse compositor? Eu discordo do compositor, se “sozinho” estiver se referindo exclusivamente a relacionamento amoroso. Nós, como seres sociais, sentimos prazer nas relações com outras pessoas, seja em um relacionamento amoroso ou não. Então porque restringir a felicidade a um único tipo de relacionamento?
Durante a entrevista você disse que há outros caminhos para a felicidade. Quais caminhos devemos seguir? Temos que ampliar as possibilidades para a felicidade e não reduzi-las, depositar todas as expectativas em um relacionamento é no mínimo tornar menor as chances de ser feliz. Em um relacionamento amoroso podemos ser felizes, mas há também outras possibilidades. Ter um bom grupo de amigos, desenvolver uma habilidade que ainda não temos, tocar um instrumento musical, ouvir uma música que nos agrada, batalhar por alguma causa social, praticar um esporte, ler um livro, ter um trabalho que nos traga satisfação, ter um bom relacionamento com os familiares, todas as essas situações podem trazer felicidade. Cada um precisa descobrir quais são as situações que o fazem bem e estar disposto a conhecer outras possibilidades. Temos sempre que lembrar que se escolhemos dividir nossa vida com outra pessoa é porque gostamos dela, não porque necessitamos. Não há problemas em querer relacionar-se de forma amorosa com alguém, o problema
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está em achar que essa é a única forma possível para ser feliz.
E como você ensina isso a uma pessoa que te procura para fazer psicoterapia? Sempre que alguém procura por psicoterapia é preciso ter ciência que foi em busca de mudanças, o processo terapêutico é um processo contínuo de modificação, no modo de pensar e principalmente no modo de agir. Quando eu recebo um (a) cliente com esse tipo de queixa, um dos primeiros passos é levá-lo (a) a reflexão, pensamentos do tipo “sozinho(a) eu não serei feliz” têm raízes culturais e também tem razões decorrentes da história de vida pessoal. No entanto, essa é uma autoregra do cliente que não descreve a realidade e traz sofrimento a ele. Durante o processo terapêutico, eu como psicóloga ajudo o cliente a desfazer as autoregras disfuncionais e a desenvolver regras mais funcionais. Outro ponto que eu trabalho com as pessoas que chegam a clínica dizendo que sentem-se infelizes por estarem sozinhos, ou outras queixas semelhantes, é o autoconhecimento. Levar o cliente a conhecer-se permite que ele descubra quais são os determinantes do seu comportamento, tanto aqueles que o levam a sofrer como aqueles que trazem satisfação, aumentando, dessa forma, as chances do cliente se engajar em situações que lhe tragam mais satisfação, não ficando dependente apenas de um companheiro para sentir-se feliz. Posso te dizer que, na psicoterapia, é possível trabalhar de várias formas, vai depender muito das particularidades de cada pessoa e os resultados, em sua grande maioria, são satisfatórios. É importante frisar que sofrimento resultante de autoregras disfuncionais como as levantadas nessa entrevista são comuns, e ser comum é diferente de ser fácil. Sofrimento é um sentimento que todos nós estamos sujeitos durante a vida, porém quando o sofrimento passa a interferir na vida a ponto de prejudicar as atividades do dia-a-dia (o rendimento na escola/faculdade, a
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produtividade do trabalho, o sono, a alimentação, o humor, etc) é um indicativo de que sozinho será mais difícil de lidar com essa situação. Nesses casos a ajuda de um psicólogo pode ser de grande importância. O que fazemos é permitir que o cliente visualize quais são os determinantes de seu comportamento, tanto aqueles que o levam a sofrer como aqueles que o trazem satisfação e promovem seu desenvolvimento. Eu também ajudo o cliente a descobrir formas particulares dele ser feliz sem, necessariamente, a presença de um companheiro (no sentindo de um relacionamento amoroso). Diante disso, se por acaso esse companheiro vir a aparecer, o cliente não se relacionará com ele apenas para não ficar sozinho, como se não tivesse outra escolha, como acontece hoje em dia. Fico preocupada por que vejo relacionamentos amorosos que se mantém principalmente pelo horror que as pessoas têm de ficarem sozinhas. Se elas aprendem que não ter um par amoroso não significa ser sozinho, que podem ter outros tipos de relacionamentos sociais (amigos, companheiros de trabalho, de esporte, de igreja, de escola/ faculdade, de lazer, etc) elas formatam outro estilo de vida e um outro conceito de felicidade.
Para fechar nossa entrevista, você poderia nos dizer uma frase que englobasse essa sua perspectiva? Sim. A felicidade não depende de uma pessoa em sua vida, mas da forma como você mesmo maneja sua vida!
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Entrevistadora: Cintia Cristiane Morais Bobroff da Rocha Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Santos (Unisantos) e especialista em Saúde Mental e Psicologia Organizacional e do Trabalho pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua como psicóloga clínica no IACEP, realizando atendimento a adultos. Tem experiência também na área organizacional.
Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br
Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes