EU MULHER: O AUTOCONHECIMENTO E O UNIVERSO FEMININO

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EU MULHER: O AUTOCONHECIMENTO E O UNIVERSO FEMININO Nione Torres1

Às vésperas de mais uma comemoração do Dia Internacional da Mulher estas linhas são apenas uma tentativa de trazer um pequeno olhar sobre um tema atualmente objeto de vasto interesse: o “conhece-te a ti mesmo” – ou seja, autoconhecimento desse ser humano chamado mulher. Iniciamos a partir de um fato inquestionável: a mulher vem conquistando muito (e cada vez mais) espaço dentro de todos os cenários pertinentes à vida humana. Óbvio que consequências virão; entre elas, uma sobressai sendo foco de muita atenção: o surgimento de novas formas de relacionamento entre as pessoas. Dessa forma, hoje é possível enxergar claramente intensas modificações na família, na educação dos filhos, na relação conjugal, no mercado de trabalho.

Há uma nova família...um novo lar...um novo cenário sócio

profissional...novas formas de trocas, enfim. Tanto que estudos recentes apontam que a transformação do papel feminino na sociedade pode ser considerada o principal fator desencadeante das transformações afetivas na contemporaneidade. Entretanto,

esses

novos

paradigmas

trouxeram

também

(e

evidentemente) conflitos, dicotomias e muitos anseios para o universo feminino. Um exemplo? É fácil: nós, mulheres, continuamos construindo nossa

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Mestre em Psicologia Clínica pela PUC Campinas, psicóloga e supervisora clínica do IACEP.


rede de exigências e de auto exigências, queremos fazer tudo que queremos fazer e, ainda, almejamos fazer tudo de forma perfeita. O que não deixa de ter a função de lidarmos com nossa própria culpa - nossa ambivalência, muitas vezes, é extrema; ou seja, de um lado, está o que aprendemos (ser esposa e ser mãe) e, por outro lado, o que todo nosso ser anseia e solicita (ser mulher, ser profissional e poder desenvolver todas nossas capacidades). Aqui, um parênteses: consideramos que esse denso fator é reflexo de um processo sociocultural que, ao mesmo tempo que quer uma nova mulher (qual seja, atuante, provedora e participativa) também a pune quando ela não corresponde às expectativas, por menor que sejam. Entendemos que o caminho que a mulher tem a percorrer para aprender a conciliar esse emaranhado de papéis lidando com seus sentimentos e suas percepções e buscando o equilíbrio (será isso possível?) nas múltiplas demandas e, ao mesmo tempo, a se reconhecer como um ser único é o autoconhecimento (o milenar e tão atual “conhece-te a ti mesmo” ou, algo como “Eu Mulher”). Autoconhecimento aqui, resumidamente, definido como a habilidade do indivíduo de se auto-observar e autodescrever tanto com relação às suas atitudes quanto aos seus pensamento e sentimentos. Em outras palavras, seria aprendermos a ter autoconsciência de nossos padrões

comportamentais,

a

refletirmos

sobre

nossos

problemas,

a

identificarmos nossos sentimentos, emoções e vontades, assim como o que queremos e como buscar, a compartilharmos dúvidas e emoções, a dar conta da dor e da delícia de ser quem somos para que possamos mudar o que não queremos mais em nossas vidas. Estudiosos já assinalaram que quando o ser humano se conhece verdadeiramente estará em mais condições de buscar uma vida coerente com quem realmente é. A primeira e maior consequência do nosso autoconhecimento (nos referindo notadamente ao universo feminino) é que aprendemos a ter maior autocontrole sobre nossas ações, tornando assim mais eficazes nossas escolhas. Outras, tão importantes quanto, merecem ser citadas: a) através do autoconhecimento passamos a conhecer as características positivas da nossa


pessoa podendo usá-las, assim, em nosso favor; b) ao mesmo tempo, aprendemos a enxergar nossas limitações e, dessa maneira, termos a chance de modificá-las; c) assim como ele (o autoconhecimento)nos proporciona o desenvolvimento de novas competências e habilidades, além de aprendizagens de estratégias que possam gerar maior equilíbrio entre as demandas existentes, os papéis desenvolvidos, os sentimentos, etc. Evidentemente, como resultado haverá um fortalecimento de nossa autoconfiança e, principalmente, de nossa autoestima (geralmente amamos e confiamos apenas em quem conhecemos muito, não é mesmo?). Fica claro que estou aqui falando também do “Eu mulher”. Ou seja, o “Eu mulher” seria o mesmo que dizer: “estou consciente do conciliar de tantos papéis assumidos e outorgados (ser mãe, esposa, administrar o lar, trabalhar, prover, estudar, lidar com a própria feminilidade e sexualidade, ser cidadã, ser saudável

e

desenvolver

tantas

outras

habilidades

necessárias)

com

sentimentos e com consequências.” Todos esses aspectos poderão resultar numa aprendizagem diária, constante e permanente (assim como é um processo de autoconhecimento) de comportamentos saudáveis, tais como: a)estabelecer limites; b)saber dizer “não”; c)eleger prioridades e delegar tarefas; d)delimitar seus espaços; e e)aceitar que não existem (difícil pensar que um dia existirá, na verdade) receitas para manter um equilíbrio perfeito entre vida pessoal, familiar e profissional e que, vivenciar, inclusive, certo desequilíbrio, num momento ou outro, numa dessas áreas não é catastrófico, e que apesar de não ser desejável, é absolutamente natural. Enfim, o “Eu mulher” a partir de seu nível de autoconsciência, poderá gerar mais resiliência às mulheres, que por sua vez, pode trazer como maior ganho, o exercício de serem seres humanos melhores a cada dia, e que entre infinitos aspectos, conseguem honrar seus próprios valores, além de compartilharem com o mundo o seu potencial dando, assim, um sentido de vida cada vez mais significativo para si própria e para aqueles ao seu redor.


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