Conversa de psicologo 22

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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 22 - Edição 01 Março 2015

Entrevistada: Nicole Calsavara Tomazella

TEMA: A toxidade do trabalho: quando trabalhar atrapalha a vida das pessoas

Nicole Calsavara Tomazella, psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina, com pós graduação em Dinâmica de Grupos pela SBDG e em Gestão de RH pela PUC-PR. É Coach de Carreira certificada pelo CCF em Toronto, no Canadá. Atua com jovens e profissionais que estão insatisfeitos ou em dúvidas com sua carreira. CRP 08/13220 1. Nicole, eu tenho a sensação, até pelo que acompanhamos nas notícias e vemos nos consultórios, que tem muitas pessoas insatisfeitas com seus trabalhos hoje em dia. É isso mesmo? O que está acontecendo?


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Pesquisas pelo mundo afora demonstram que mais de 70% dos trabalhadores estão insatisfeitos com sua carreira. Sensação de que não têm mais energia para trabalhar, que todos os dias é uma “segunda daquelas”, que cada dia trabalha-se mais, com cada vez menos resultado e reconhecimento pelos seus esforços, são constantes. Esses profissionais ficam ansiosos ao ter que acordar pela manhã e pensar que precisam sair para trabalhar. Ficam esperando aflitos pelo final de semana, pelas férias, por um dia de folga... Pode ser que você, leitor, esteja sentindo isso, ou que tenha amigos que falem sobre isso com você. Como você pode ver pelas pesquisas, você não está sozinho nessa. Para entender o que vem acontecendo, podemos olhar a situação sob alguns aspectos, mas eu vou apresentar dois deles: a)

De um lado, temos os fatores externos. Algumas pesquisas realizadas pelo

mundo buscaram identificar quais deles causam maior índice de estresse nos trabalhadores, e os principais são: frequência alta de viagens, incertezas sobre o potencial de crescimento, lidar com público em geral, competitividade do mercado, esforços físicos exigidos para a função, condições climáticas no ambiente de trabalho, alto índice de desafios encontrados, alto índice de exposição, jornada de trabalho rígida e/ou extensa, falta de autonomia, relacionamento com colegas de trabalho, excesso de trabalho, pressão por resultados e busca pela perfeição. A lista é grande, e pode ser que você se perceba inserido em um ambiente que tenha muitos desses fatores. b) De outro lado, temos os fatores internos. Isso significa que você, e todas as pessoas que estão ao seu redor, apresentam expectativas diferentes em relação ao trabalho que querem desenvolver. Ou seja, cada um tem objetivos e sonhos diferentes para seu desenvolvimento profissional. A maioria das pessoas que me procura para desenvolver sua carreira falam, inicialmente, de conquista da independência financeira, mostrar para os outros que é capaz e competente, interesse em comprar um apartamento, trocar de carro. Mas quando eu busco


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compreender melhor esse “lado interno”, a maioria tem dificuldades em responder o que realmente buscam, ou seja, por que o trabalho é importante, o que ele proporciona. 2. Bom, pelo o que você está falando, as pessoas não estão conseguindo lidar com todos esses fatores externos, e não identificam o que buscam internamente nas suas relações de trabalho, é isso? Exato, da mesmo forma que lidar com aqueles fatores externos faz com que muitos sintam-se desmotivados no trabalho, sabemos de histórias de grande empreendedores de sucesso que lidaram, e ainda lidam, com muito desses fatores. Então, qual seria a diferença? O ponto é justamente a identificação dos objetivos de trabalho que cada um consegue estabelecer. Como disse, as pessoas me procuram para livrar-se da dor que o trabalho o trás. E quando eu pergunto o que querem, poucos conseguem responder com facilidade. A pergunta que tem que ser feita sobre o que você realmente quer em seu trabalho é o seguinte: “O que isso vai proporcionar pra você?”, ou seja, porque seu trabalho é importante em sua vida? Cada pessoa pode olhar seu trabalho de uma maneira, e pra facilitar a compreensão, vou dividir isso em 3 possibilidades: trabalho visto como emprego, como carreira ou como missão. Pessoas que encaram o trabalho como emprego, o veem como um fardo, e o salário é a recompensa. Essas pessoas trabalham porque precisam, e estão sempre na expectativa do tempo que poderão passar fora do trabalho. Quem vê o trabalho como uma carreira, trabalha não só por necessidade, mas também para progredir e ter sucesso. Elas se envolvem no trabalho e querem ser bem sucedidas. E as pessoas com uma missão veem o trabalho como um fim por si só. Seu


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trabalho não é gratificante devido à recompensas externas, mas porque sentem que contribuem para um bem maior, aplicando seus pontos fortes, ou seus talentos, em um trabalho que lhes oferece senso de propósito. 3. A profissão que a pessoa escolheu interfere nisso? Isso é independente do trabalho / profissão que a pessoa exerce. Por exemplo, eu conheço médicos que trabalham apenas pelo dinheiro. Que se esforçam muito para fazer o que precisa ser feito durante o trabalho, recebem o seu salário, e estão em busca apenas do momento que poderão parar de trabalhar. Querem preparar uma aposentadoria forte, e que possam parar o quanto antes. Da mesma forma, conheço zeladoras que realizam o trabalho delas com imenso amor. Que todos os dias gostam de deixar sua “marca” e carinho pelos locais que limpam, que sentem-se importante pelo papel que desempenham. E parar de trabalhar não é algo que passa pela cabeça delas. Agora, escolher uma profissão qualquer, porque está na moda, porque os pais obrigaram a fazer aquele curso, ou porque foi o que apareceu no momento, ai sim interfere. Se a pessoa não consegue se sentir conectada com o que aquela profissão pode trazer de benefícios pra ela, ela se desmotiva mais facilmente. Se pudéssemos colocar isso em uma fórmula matemática, seria algo do gênero: Felicidade profissional = Intenções + Esforços Você pode se esforçar, trabalhar muito, fazer o trabalho dos outros, mas se você não tem uma intenção positiva a respeito do seu trabalho, apenas o esforço não te trará felicidade. Principalmente porque, sem saber porque o trabalho é importante pra você, você não sabe avaliar o que você suporta passar ou não. Todos precisam passar por desafios em seus trabalhos, mas você só consegue enxergar o motivo de lidar com esses fatores externos se você realmente entender a propósito que está por trás, e que essas questões te ajudarão a crescer, a ser melhor reconhecido, e a atingir seus objetivos.


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4. E então, o que fazer? Já que as pessoas não sabem o que querem, o que elas podem fazer? O autoconhecimento é o ponto de partida para descobrirmos o que fazer em nossa carreira. Para ilustrar a importância disso, imagine que você está saindo de viagem, e vai traçar a rota em um GPS. A primeira informação que ele te pede é o ponto de partida. Você não consegue ir pra lugar algum se você não sabe onde está. Por isso se conhecer é fundamental para se desenvolver e poder ser feliz no trabalho. Algumas perguntas que podem te ajudar em relação ao autoconhecimento profissional: Se eu não tivesse que trabalhar para ganhar a vida, o que eu gostaria de fazer? Se eu ganhasse na loteria, o que iria me satisfazer? Se um gênio realizasse os meus desejos e me desse o que eu quisesse em quantidade ilimitada, o que eu pediria? Quando você desvincula o trabalho do “eu preciso disso”, você realmente consegue se conectar com o que realmente busca em sua carreira. Algumas pessoas se assustam por darem respostas completamente diferentes do que fazem hoje, e por isso buscamos o significado dessas respostas, ou seja: o que isso vai te proporcionar? E assim, conseguimos ter uma carreira de sucesso e sermos felizes. Eu já fui parte daquela estatística que apresentei no começo, e hoje sou imensamente grata e feliz por e estar fora dela. E você também pode fazer algo por você, para também sair da estatística. E para finalizar, quero deixar uma frase que gosto muito: “Sucesso sem felicidade é igual a fracasso”. Que você consiga buscar o seu trabalho e ser feliz com o que você entrega.


Entrevistadora: Lilian Juliani Estudante de graduação no segundo ano de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina- UEL. Atualmente estagiária do IACEP – Instituto de Análise do Comportamento em Estudos e Psicologia e colaboradora voluntária do projeto de extensão “Sensibilizarte: a arte como instrumento para humanização na formação e no cuidado em saúde” na frente de Contação de Histórias da Universidade Estadual de Londrina- UEL. Membro da comissão de estudantes do Conselho Regional de Londrina (CRP).


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Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br

Coordenação editorial: Lilian Juliani e Renata Trovarelli


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