Conversa de Psicólogo- Assertividade

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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 23 - Edição 01 Abril 2015

Entrevistada:

Priscilla Araújo Taccola TEMA: Assertividade Graduada pela Universidade Estadual de Londrina – UEL e Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo – USP/SP como bolsista Capes tendo como Orientadora a Profª Drª Sonia Beatriz Meyer. Atua como Psicóloga Clínica de Adultos no IACEP e como supervisora de Atendimentos Clínicos. Atua também como docente do Centro Universitário Filadélfia, além de ministrar aulas de especialização em Análise do Comportamento. Realiza pesquisas na área de análise de processos terapêuticos e além de ministrar cursos e palestras a comunidade acadêmica como ao público leigo. CRP 08/09743 “O marido sai do trabalho às 18h e vai para casa. Ao chegar em casa, senta na frente da TV e fica lá. A mulher ao sair do trabalho passa para pegar o filho na escola, vai a padaria buscar o lanche da noite, chega em casa, arruma a mesa do


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lanche, ajuda o filho a fazer tarefa, põe a roupa na máquina de lavar, prepara o filho para dormir (dá banho, escova os dentes, põe pijama e arruma a cama dele. Às vezes lê um livro para o filho dormir). O marido saiu da frente da TV para tomar um lanche e voltou para a frente da TV. Ao irem dormir o marido a procura para fazer sexo e ela fala que está muito cansada. O marido reclama, diz que também está cansado pois trabalhou o dia inteiro e fala algo do tipo “não ser uma boa mulher”. A esposa fica extremamente magoada, xinga o marido, fala que ele é um folgado, egoísta, que ela não quer que ele encoste mais a mão nela, daí em diante. E fica um clima ruim entre os dois por dias...” Esse exemplo é fictício, porém é mais rotineiro que imaginamos. E acontece por ausência de ASSERTIVIDADE. Esse é nosso tema de hoje, entender mais sobre como um padrão assertivo de comportamento pode trazer mais qualidade de vida não só ao interlocutor (aquele que inicia a comunicação), mas para todos os que com ele se relacionam, em diferentes contextos. Há pouco tempo li uma frase na internet que me chamou a atenção: “10% dos conflitos são causados pela diferença de opinião e 90% é devido ao tom de voz” (desconheço o autor). Vivencio o problema de comunicação todos os dias em minha prática clínica. Os clientes geralmente se queixam que não são entendidos e sentem-se incompreendidos. Quando peço para me relatarem o que realmente aconteceu em uma situação eles verbalizam que “eu perdi a paciência mesmo, xinguei, briguei, reclamei, fiquei dias de mal, fiquei triste, chateado, chorei...etc.” e por total falta de consciência do que causa esse padrão de comportamento, acabam vivenciando um grande desconforto nas relações, chegando a extremos que poderiam ser evitados se conhecessem e praticassem o que chamamos de “padrão assertivo de comunicação”. Na vida, todos os dias passamos por situações nas quais às vezes somos


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mocinhos, vezes vilões. Da mesma maneira, todos já pudemos experimentar momentos nos quais, por mais profundo e problemático que seja o motivo de uma conversa, sentimos leveza e chegamos ao objetivo com tranquilidade. A boa notícia é que, percebendo o contexto e nossos sentimentos, podemos escolher como vamos nos comportar frente as diversas situações do dia a dia e, sabendo disso, podemos treinar a nova postura até que se torne um novo padrão de comportamento. A

forma

“ideal”

de

se

comportar

é

conhecida

na

psicologia

como

ASSERTIVIDADE: um padrão de comportamento no qual o indivíduo se expressa de maneira adequada, ou seja, expressa sentimentos e pensamentos respeitando a si mesmo e não desrespeitando o outro. Segundo Alberti & Emmons (apud Falcone, 2000) o comportamento assertivo é “aquele que torna a pessoa capaz de agir em seus próprios interesses, a se afirmar sem ansiedade indevida, a expressar sentimentos sinceros sem constrangimento, ou a exercitar seus próprios direitos” (p. 18). A pessoa assertiva procura atingir seus objetivos preservando sempre que possível a relação, consegue avaliar o próprio comportamento (olhando para si e para o outro); expressa sua opinião, consegue discordar do grupo e defender seus direitos sem ofender o outro. Sente-se valorizado por fazer suas próprias escolhas, considerando as opiniões alheias; sente-se satisfeito consigo mesmo; mantém contato visual com o interlocutor; fala fluentemente em tom audível; tem gestos e posturas apropriadas. Para consolidar um comportamento assertivo, o indivíduo precisa olhar, avaliar o contexto e entender o que está acontecendo, para assim escolher a melhor forma e momento de se expressar. A literatura aponta 3 padrões de comportamentos: Passivo, Assertivo e Agressivo.


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O padrão passivo é caracterizado por não expressar o que está pensando, guardar para si seus sentimentos, achar que não vai adiantar nada falar, prefere “não arrumar confusão”. Desta forma, normalmente sente-se desrespeitada, sente que nunca as coisas são do seu jeito, fica magoada, ansiosa, deprimida e geralmente não atinge seus objetivos. Usando nossa personagem do exemplo inicial, se aquela esposa fosse passiva não iria responder ao marido, iria dormir chorando, achando que está tudo errado na sua vida mas no dia seguinte iria fazer tudo como fez no dia anterior e pode ser que fizesse sexo com o marido no dia seguinte “para ser uma boa esposa”. E a consequência imediata disso é a “aprovação do marido”, porém a consequência a longo prazo é que estaria sempre fazendo o que o outro quer sem respeitar a sua própria vontade. E se ela não se respeita o outro não vai respeitá-la. Normalmente as pessoas com padrão passivo são pessoas consideradas “fáceis” de conviver. O padrão agressivo é o oposto do passivo. É o padrão onde o indivíduo “não leva desaforo para casa”, ele briga, “responde na lata”, geralmente fala alto, ofende seu interlocutor e quer sempre que as coisas sejam do seu jeito. Nesse padrão normalmente as pessoas atingem seus objetivos, porém à custa do outro, desrespeitam o outro. Normalmente tem um padrão autoritário e quer sempre que as coisas sejam feitas do seu jeito. Não aceita diferenças de opinião e está sempre pronto para responder. A consequência a longo prazo é que o interlocutor se afasta, é considerado uma pessoa “difícil” de conviver e normalmente sente raiva e ansiedade. Nossa personagem foi agressiva, brigou, xingou e não considerou o ponto de vista do marido. No entanto o tipo de comportamento não é sempre o mesmo. Nós podemos ser passivos ou agressivos de acordo com um contexto. Uma mesma pessoa pode ter um padrão mais assertivo no ambiente de trabalho por exemplo e ser mais agressivo na relação com o cônjuge. A maneira que vamos nos comportar


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depende de uma escolha, muitas vezes não pensada mas que, como falamos acima, pode sim ser acertada se consciente. Pensando que nosso alvo é aprender e praticar comportamentos assertivos, vamos a modelos de comportamentos conforme sugerem Del Prette e Del Prette (1999): Asserção básica – é aquela onde o indivíduo expressa seus sentimentos, defende seus direitos e emite suas opiniões. Isso resume o que viemos falando até agora. Asserção Empática – ouve-se o que o outro tem a dizer, leva-se em consideração tais colocações, porém, coloca-se a própria opinião, discordando/ concordando com o que foi dito. Antes de expressar como se sente, pense a respeito do outro, tente se colocar no lugar dele, escute o que ele tem a dizer, reflita sobre isso, e depois se expresse. Não responda sem pensar e sem enxergar o outro. Asserção Crescente – busca-se inicialmente a resposta assertiva mínima e se aumenta o grau de assertividade apenas se as anteriores não funcionam. Muitas vezes quando estamos tentando mudar a forma de nos relacionar as pessoas não consegue e/ou não respondem a isso. Então devemos continuar com a postura assertiva, aumentando a asserção sempre que necessário. No processo de mudança algumas vezes é difícil o outro perceber e respeitar a mudança. Tendem a se comportar conosco como sempre fizeram, assim se faz necessário manter a mudança e não voltar a agir da maneira como fazia anteriormente pois assim estaria mais uma vez reforçando o comportamento inadequado do interlocutor. Asserção de Confronto – apontar ao outro que ele está errado, porém de uma maneira não agressiva. Fazendo colocações sobre contradições ou erros que o outro cometeu, de maneira clara, sem acusações. Lembre-se estamos falando de comportamento e não do outro como um todo. Ao invés de colocar “Você é arrogante” diga “assim você está se comportando de maneira arrogante, e fica difícil conversar com você”.


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Asserção no uso do EU (ou na linguagem do EU) – a pessoa descreve a situação, o comportamento e as consequências do comportamento em questão, expressa o que sente e pensa, além de dizer que expectativas tem sobre o relacionamento em termos de futuro. Essa, para mim, é uma das asserções que mais deveria ser colocada em prática. Quando estamos falando de nós o outro se dispõe mais a ouvir. Se nossa personagem do exemplo inicial tivesse agido de maneira assertiva, teria sido mais ou menos assim: “Eu tenho trabalhado bastante, colaboro com as despesas de casa, cuido da casa e do nosso filho também. Tem dias em que estou muito cansada. Hoje por exemplo eu fiz isso, isso e isso (contaria algumas tarefas). Estou me sentindo exausta. Sei que sexo é um ponto importante na nossa relação. Gosto e quero fazer sexo com você, porém em alguns momentos estou tão cansada que nem penso em sexo. Talvez se a gente pensasse em maneira de facilitar as coisas ou agilizar as coisas em casa para que não fiquemos tão cansados e assim podermos nos curtir mais. Você consegue pensar em alguma maneira que a gente possa melhorar isso? Talvez se a gente fizer isso junto as coisas possam ficar melhor. O que você acha?” Perceba a diferença? Mudar a forma de falar pode nos poupar de muitos problemas que temos no nosso dia-a-dia (que já são muitos)! Assertividade é um processo consciente de tomada de decisão. Se escolher a maneira mais equilibrada e funcional em seu dia a dia, verá como todas suas relações interpessoais vão melhorar continuamente. Haverá ganhos para você, para os que convive no trabalho e outros locais e principalmente para os que tanto ama!


Entrevistadora: Luana Regina Soares Estudante de graduação no quinto ano de Psicologia na Pitágoras. Atualmente estagiária do IACEP – Instituto de Análise do Comportamento em Estudos e Psicologia .


Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br

Coordenação editorial: Lilian Juliani e Renata Trovarelli


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