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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 04 - Edição 01 Agosto - 2013
Entrevistada: Rafaela Conde de Souza
Entrevistadora: Luciana Zanella Gusmão
TEMA: A IMPORTÂNCIA DA DINÂMICA DE GRUPO PARA O DESENVOLVIMENTO DO REPERTÓRIO COMPORTAMENTAL DO CLIENTE
Psicóloga Comportamental, atualmente trabalha no IACEP – Londrina realizando atendimento infantil, de adolescentes e adulto. Além da experiência em clínica, possui experiência na área organizacional, hospitalar, escolar e como palestrante, prestando cursos sobre desenvolvimento de repertório comportamental através da exposição de alguns conceitos básicos da Análise do Comportamento e temas específicos trabalhados em dinâmicas de grupo. É formada prela Universidade Filadélfia (UniFil), dando início a especialização em Psicologia Hospitalar pela Universidade Filadélfia (UniFil).
Quais são seus objetivos dentro da psicologia?
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Bom, atualmente estou trabalhando na clínica, entretanto, confesso que adoro trabalhar com grupos. Tive a oportunidade de ter contato com a dinâmica de grupo em um estágio que fiz durante 3 anos e simplesmente me apaixonei. A Análise do Comportamento em si, já é apaixonante, mas ver tudo aquilo que aprendi na teoria se aplicar a prática e ter resultados positivos para a maioria dos clientes, é inexplicável. Acho fascinante como o grupo influência no comportamento das pessoas, independente se é de uma forma positiva ou negativa, afinal, somos seres sociais. A pergunta intrigante é “por que isso acontece? Por que para algumas pessoas o contato com a dinâmica de grupo é extremamente reforçador e por que para outras, acaba sendo punitivo? ” Para responder essas questões, devemos olhar para a funcionalidade do comportamento, ou seja, fazer uma análise funcional permite identificar as variáveis importantes para a ocorrência de um fenômeno. Costumamos dizer que os comportamentos são adaptativos. Outro fator importante é que quando digo “o ser humano é um ser social”, refiro-me ao fato de que nós, humanos, somos os únicos animais que não sobrevivem sem que alguém cuide de nós, desde cedo, necessitamos estar inseridos em um grupo.
Afinal, o que é dinâmica de grupo? A dinâmica de grupo é uma ferramenta usada pela psicologia que permite que o profissional seja capaz de identificar as habilidades e características dos participantes, assim como as dificuldades encontradas por eles como, por exemplo, falta de assertividade. O grupo permite também, que algumas habilidades sejam desenvolvidas, que os participantes ampliem suas visões a partir do relato com outros membros do grupo, pois podem se identificar e conseguir visualizar aspectos que não enxergavam antes. É importante deixar claro que, para cada objetivo geral, existe um tipo de dinâmica condizente com a busca de objetivos propostas pelo aplicador. Entre elas estão as dinâmicas de
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quebra-gelo, as de conteúdo e as de relaxamento, porém, dentro desses tipos, há uma gama de dinâmicas que são aplicadas de acordo com o público-alvo e com as necessidades do grupo.
Como saber qual dinâmica é adequada para qual situação? Bom, a forma mais eficaz de decidir a dinâmica que melhor se encaixa em determinada situação é ter definido o objetivo da aplicação e observar as necessidades que cada grupo apresenta. Por exemplo, se um profissional vai aplicar uma dinâmica de grupo para uma vaga de emprego, onde nenhum dos candidatos se conhecem, mas que precisarão conviver uns com os outros no ambiente de trabalho, eu aconselho fazer uma dinâmica que chamamos de “quebra-gelo”, pois elas têm o objetivo de desenvolver a interação entre os participantes. Entretanto, ao discutir os resultados, o profissional pode e deve acrescentar outros objetivos, como liderança, ou qualidades desejáveis para a ocupação do cargo disponível. Quando se trata de palestras, o palestrante discute sobre um tema específico e nesses casos, indico que a dinâmica de grupo seja voltada para o tema escolhido pelo palestrante. Ou seja, se palestra for sobre relacionamentos interpessoais é importante usar uma dinâmica que envolva a interação entre os participantes. Dessa forma, além de possibilitar a interação dos participantes, pode-se encontrar uma maneira de “prender” a atenção dos mesmos e fixar melhor o conteúdo transmitido através da vivência. É preciso lembrar que os participantes podem aprender sim com a teoria, mas a aprendizagem é mais efetiva quando percorrem o caminho por si mesmos. Enfim, a gama de dinâmicas de grupo é imensa e pode ser muito eficiente se bem trabalhada! E a facilidade com a qual conseguimos achá-las, tanto em livros, quanto na internet, permite que usemos várias dinâmicas com vários focos pertinentes as necessidades do grupo e daquilo que queremos trabalhar com eles. Vale deixar claro que, um profissional
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pode fazer a mesma dinâmica, bem mais que 2 vezes com os grupos, discutindo outros objetivos e obtendo resultados totalmente diferentes.
Qual é a importância da dinâmica de grupo para o desenvolvimento do repertório comportamental do cliente? Como dito anteriormente, o ser humano é um ser social. Isso significa que desde o momento em que nascemos, somos inseridos em um grupo, começando pelo nosso grupo primário: nossa família. A partir daí, cada fase de nossas vidas, nos inserimos em mais um contexto, em um grupo, seja na escola, seja o grupo esportivo, a igreja que frequentamos, o trabalho, enfim. Exatamente por isso que a dinâmica de grupo é importante, viver em grupo é comum ao ser humano. Se o ser humano já tende a viver em grupo, usar o grupo terapêutico como uma ferramenta de ensino que envolve planejamento e metas só pode ser bem sucedido se o trabalho for bem feito. Skinner sempre afirmou que o homem age e modifica o mundo, sendo também modificado pelas consequências de sua ação. Essa modificação, tanto do homem, como agente na natureza, como do homem modificado por ela, influência no desenvolvimento do repertório comportamental do cliente, já que a interação do mesmo com o mundo acontece a todo o momento nos mais diversificados contextos, devendo ser incluído também os contextos de relações
sociais.
autoconhecimento,
Algumas
habilidades
assertividade,
sociais,
responsabilidade,
como
por
integração,
exemplo, tolerância,
cooperação, polidez, entre outras, precisam ser desenvolvidas para que se permita a ampliação do repertório comportamental do participante em seu cotidiano. A vivência em grupo não só facilita essa aprendizagem, mas torna-se essencial para o desenvolvimento de um repertório comportamental complexo do cliente. Por meio da vivência em grupo, pode-se possibilitar atingir os domínios afetivo, cognitivo e psicomotor dos integrantes do grupo.
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Rafaela, nós sabemos que muitas pessoas sentem-se desconfortáveis quando expostas a um grupo, principalmente quando precisam ser avaliadas. Você pode nos passar algumas dicas para facilitar a nossa participação nas dinâmicas? Veja bem, realmente, estarmos em uma situação, onde nos sentimos avaliados pode ser extremamente aversivo. A avaliação em si, pode ocasionar vários sentimentos e emoções desconfortáveis. Ainda sobre essa questão de ser avaliado, como o grupo tem um papel importante em nossas vidas, estar inserido nele, ou seja, ser aceito por ele, também torna-se pertinente e necessário. A possibilidade de não conseguir interagir com o grupo pode causar uma das queixas mais comuns dos clientes: a ansiedade. O que todos nós precisamos entender é que, primeiramente, nós, analistas do comportamento, não acreditamos que a ansiedade seja causadora de um comportamento, ela é uma consequência a eventos que estão ocorrendo no ambiente, como o fato de você sentir dor depois de bater o dedinho do pé na porta. As pessoas precisam entender que sentir a ansiedade é normal. É desconfortável? Com certeza! Todas as sensações fisiológicas que vem junto com ela são desagradáveis, como: taquicardia, sudorese, boca seca, dor no peito, dificuldade para respirar, etc. Para tudo isso há uma explicação, trata-se do corpo entrando em estado de ativação para deixar a pessoa em alerta para possíveis perigos. Agora você deve estar pensando: “Mas como devo me comportar quando eu for exposto a um grupo e sentir tudo isso?”. Algumas dicas podem ajudar: durante uma dinâmica de grupo, aceite sua ansiedade como algo normal, esperado. Ao sentir ansiedade lembre-se: estranho é não sentir ansiedade em momentos importantes de sua vida. Lutar contra ou tentar eliminá-la pode ser um tiro no próprio pé! A ansiedade pode ser produtiva, a depender da forma como for encarada, ela nos deixa alerta, claro que se for moderada. Então, se começar a ficar desconfortável para você, respire fundo e bem devagar para aumentar a entrada de oxigênio. Se você pensar na avaliação
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que está sendo feita sobre você, lembre-se: todos na sala estão na sua mesma situação. Alguns têm mais facilidade, outros não, mas no final das contas, estão no mesmo barco. Tente colocar sua opinião, mesmo que seja apenas uma frase simples. Isso pode te ajudar a adquirir mais confiança para se expor. No entanto, cuide para não interromper quem estiver falando, isso pode atrapalhar o entrosamento do grupo. Além disso, venha descansado para a dinâmica de grupo, pois ela pode exigir um pouco de você fisicamente, esteja disponível para realmente participar da dinâmica. Entenda que simplesmente estar presente não será o suficiente, apenas o seu envolvimento real na vivência pode levar ao sucesso. Use roupas adequadas, ou seja, que te deixem confortáveis para se movimentar de acordo com o que for solicitado, sem se preocupar. Não há nada pior que ser prejudicado, ao não conseguir fazer o que foi proposto, por causa das roupas que está usando. Outra dica importante, não chegue atrasado. Se você perde o começo da explicação, todo o resto fica desconexo, podendo até aumentar demais a ansiedade.
Entrevistadora: Luciana Zanella Gusmão Psicóloga Clínica, especialista em Análise do Comportamento e Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência pela UFPR. Atua no IACEP com atendimento clínico individual, casal e família. É supervisora dos atendimentos psicológicos a adultos do projeto social do IACEP. Atuou como psicóloga na Política Pública de Assistência Social e atua na área de Gestão Pública/Desenvolvimento de Pessoas da Prefeitura de Londrina. É Docente do curso de psicologia e administração da PUC-Londrina e de cursos de pós- graduação em psicologia – UniFil, Faculdade Teológica Sul Americana e PUC-Londrina.
CRP 08/06382
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Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes