CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 1
CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 06 - Edição 01 Agosto - 2013
Entrevistada: Nione Torres
TEMA: MULHER: SUA VIDA... SEUS CAMINHOS...
Graduada em formação em Psicologia pelo Centro de Estudos Superiores de Londrina (atualmente UNIFIL). Especialista em Docência no Ensino Superior pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em Psicologia Clinica na área de Analise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Criou o Instituto de Analise do Comportamento e Estudos e Psicoterapia (IACEP), onde atua até a presente data como psicoterapeuta e supervisora clínica. Sócia fundadora da Sociedade Brasileira de Stress e Qualidade de Vida e membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental. Autora de vários capítulos de livros e artigos relacionados a área de psicologia clínica no Brasil e no exterior. Docente de cursos de Pós graduação em Universidades. Coordenadora e Supervisora de Projetos de Atendimento Psicoterapêutico de Adultos a Comunidade de baixa renda (mantidos pelo IACEP). CRP 08/02333
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 2
A multiplicidade de papéis influencia a vida da mulher e da família? De que forma? O que se enxerga de
positivo e
negativo nisso? (ou seja, que
consequências trazem?) Em primeiro lugar, é preciso que se diga que esta multiplicidade de papéis pode ter sido estimulada por uma somatória de fatores, tais como, ações, necessidades emocionais e sentimentos (por exemplo: inquietude,) que estiveram presentes na vida da mulher por longos e longos anos e que podem, inclusive, ter desencadeado a aprendizagem de novas capacidades e habilidades. Vejamos: cabia unicamente à mulher tomar sua vida nas mãos e, ela assim o fez. O retorno positivo de todo este processo é observável. Hoje, mais do que nunca, a mulher tem a autoconsciência de que sua identidade não vem apenas de seus papéis de esposa e mãe. Surge, então, esta nova mulher e com ela os seus mais diversos papéis – que, por sua vez, trouxeram novas formas de relacionamento entre os seres: homens, mulheres e crianças. Atualmente, no mundo todo há o desenho de uma nova família, um novo lar, novas formas de trocas. Porém, como todo ganho ou escolha envolve também algum tipo de perda, esta nova mulher está mais vulnerável ao stress e, muitas vezes, em níveis exacerbados, gerando outros problemas, como: tensão, ansiedade, desânimo, etc., os quais acabam por comprometer suas relações, principalmente conjugal ou familiar, assim como podendo acarretar à mulher, no futuro, problemas de saúde.
Lidar com todos estes papéis e ainda manter a qualidade de vida é algo possível de acontecer? Para lidar com todos estes aspectos é, antes de mais nada, necessário que a mulher aprenda a fazer um acordo com ela mesma, no sentido de aprender (e, ao mesmo tempo, aceitar) que manter um equilíbrio perfeito (sempre perfeito!) entre
Página 3
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
vida pessoal, familiar e profissional é um auto-engano. Isto significa que vivenciar um certo desequilíbrio numa dessas áreas por um determinado período não é catastrófico, e que, apesar de não desejável, é até natural. É difícil lidar com este aspecto porque continuamos construindo nossa rede de exigências e autoexigências, queremos fazer o que queremos fazer e, além disso, almejamos fazer tudo muito bem feito. Logicamente a função aqui seria lidarmos com nossa própria culpa, já que nossa ambivalência é muito grande; ou seja, de um lado está o que aprendemos (ser mãe e esposa) e do outro, o que todo nosso ser anseia e solicita (ser mulher, profissional e desenvolver nossas capacidades) o que não deixa de ser um reflexo de um processo sócio-cultural que ao mesmo tempo que quer uma nova mulher, atuante, provedora e participativa, também a pune quando ela não corresponde às expectativas, por menor que sejam. Conciliar esse emaranhado de papéis, sentimentos e consequências e manter a qualidade de vida é, sem dúvida, uma aprendizagem diária. Na verdade, a mulher precisa ir em busca de um outro caminho: ela precisa aprender a estabelecer limites, saber dizer “não”, eleger prioridades e delegar tarefas, delimitar seus espaços, desenvolver a auto-estima, participar, por exemplo, de grupos terapêuticos que promovam o autocrescimento da mulher e, acima de tudo, compreender e aceitar que não existem (e parece que não vai existir jamais) receitas para o desenvolvimento feminino, a não ser, talvez, através de seu autoconhecimento.
De que maneira acontece a convivência dos filhos e marido com relação a esta multiplicidade de papéis e de que forma contribuir? Ser independente significa, basicamente, arcar com as próprias culpas (conviver com elas!) ou com as consequências dos próprios atos e, não
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 4
significa ser auto-suficiente 24 horas por dia. A mulher pode e precisa recorrer ao compartilhamento e à cumplicidade com o marido e com os filhos. Compreendemos que dessa forma, trabalhar, estudar, prover, administrar o lar, lidar com a própria feminilidade e sexualidade, ser cidadã, ser saudável e ainda desenvolver outras habilidades podem ser alcançadas. Temos observado que com esta nova mulher vem surgindo um novo homem, também mais autoconsciente dos seus “papéis”. Podemos citar alguns exemplos: esse homem poderá estar ao lado da mulher nas tarefas domésticas, na administração do lar e na vida dos filhos, nas compras; mais presente e atuante nos cuidados com os filhos. Na verdade, o homem, assim, torna-se um grande parceiro. Os filhos, por sua vez, podem aprender comportamentos de independência mais facilmente, como preparar o próprio lanche, ficarem atentos aos horários de suas atividades diárias, envolverem-se mais responsavelmente nos cuidados com os irmãos menores. Com isso, eles aprendem a desenvolver outras habilidades, como: compartilhar e aceitar dar limites, apoiar, cooperar, lidar com frustrações. Neste sentido, não há como desconsiderar um ganho extremamente relevante: compartilhar e criar cumplicidade geram vínculos fortalecidos e construtivos, além de intimidade emocional. A relação familiar pode torna-se mais valorizada e saudável. Enfim, os caminhos percorridos pela mulher, hoje, podem trazer maior satisfação emocional e importante bem-estar físico que, por sua vez, gerarão conseqüências positivas no que se refere tanto à sua qualidade de vida quanto de sua família.
Parte desta entrevista foi publicada no Jornal Folha de Londrina (Folhinha da Sexta).
CONVERSA DE PSICÓLOGO
Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br
IACEP
Página 5
Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes