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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 09 - Edição 01 Setembro - 2013
Entrevistada:
Entrevistadora:
Mariana de Toledo Chagas
Nione Torres
TEMA: ANSIEDADE, UMA VILÃ? Mariana Chagas: Psicóloga, mestre em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua em clínica com crianças, adolescentes e adultos no IACEP Londrina. Além disso, atua na área acadêmica, sendo ex-docente do curso de psicologia da UEL e atualmente ministrando aulas no Instituto de Ensino Superior de Londrina (INESUL). Olá, Mariana. De início, gostaria de saber um pouco sobre seu interesse pela Psicologia e pela área clínica. Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa e um tópico me chamava muito a atenção era o comportamento humano. Lembro-me de sempre observar as pessoas e tentar entender porque agiam como agiam. Essa foi uma das maiores motivações para escolher cursar Psicologia. Durante a graduação, fui me dando conta de que esse conhecimento não servia apenas para matar minha curiosidade, mas também
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para que eu pudesse ajudar as pessoas. Comecei a me envolver com a clínica através de projetos e estágios e me apaixonei. Desde minha formação, venho atuando com diversos tipos de casos, com crianças, adolescentes, adultos, individualmente e em grupos terapêuticos. Tenho desenvolvido trabalhos principalmente em quadros de transtornos psiquiátricos, tais como: depressão, ansiedade, transtornos de personalidade, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos alimentares, entre outros. O que você está chamando de transtorno? Costumamos usar o termo transtorno para descrever um conjunto de comportamentos de uma pessoa que se apresenta de maneira muito frequente ou intensa, levando a um comprometimento em sua vida diária e ao sofrimento da mesma e de outros à sua volta. Vamos tomar como exemplo um comportamento simples e cotidiano, como lavar as mãos. Ele pode ser considerado como típico de um transtorno? Depende de quantas vezes ou como a pessoa lava as mãos e, principalmente, se esse hábito está trazendo algum tipo de prejuízo para a própria pessoa e para as que estão a sua volta. Você citou a ansiedade. Para a Psicologia, ela sempre é considerada um transtorno? Antes de qualquer coisa, acho importante descrever o que estou chamando de ansiedade. A ansiedade é um conjunto de respostas do nosso organismo frente a algumas situações que sinalizam um possível perigo, denominamos de ansiogênicas. Dentre essas respostas, podemos citar tanto reações físicas (por exemplo: pupilas dilatadas, boca seca, contrações musculares, aceleração do ritmo cardíaco, transpiração excessiva) quanto reações como hipervigilância, dificuldades de concentração, alterações do ciclo de sono, perda de memória, tontura, dores de estômago, entre outras. Por mais que a ansiedade pareça algo bem ruim, costumo sempre explicar aos
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meus clientes sua origem e a sua importância. Essas respostas que descrevi surgiram como reações de defesa de vários animais diante de situações de perigo no ambiente. Aqueles mais sensíveis a esses perigos apresentavam mais chances de sobrevivência e sucesso, e assim, as respostas de ansiedade passaram a ter valor adaptativo. Vamos a um exemplo prático: antes de começar uma prova difícil, um pouco de ansiedade é útil, já que nos deixa mais atentos à situação. No entanto, se essa resposta se tornar muito frequente ou intensa, pode vir a atrapalhar o desempenho em atividades do dia-a-dia, se tornando um transtorno. Todos nós nos sentimos ansiosos em alguns momentos de nossas vidas, mas é importante destacar que a forma como essa condição emocional se manifesta é bastante individual. Você citou que algumas situações são ansiogênicas, ou seja, provocam ansiedade. Quais são elas? Elas são as mesmas para todos nós? Algumas situações são comuns ao surgimento das reações de ansiedade. Dentre elas, podem-se citar situações de conflito, situações novas ou desconhecidas, situações de frustração e situações em que o indivíduo é submetido a sofrimento ou dor. No entanto, assim como a manifestação da ansiedade, é muito individual, isso também ocorre com as situações que a provoca. Uma pessoa se sente ansiosa para tirar carteira de motorista, outra para usar o elevador, uma terceira para falar em público, e assim por diante. Cada caso é um caso e depende da historia de vida, ou seja, das experiências que cada pessoa passou ao longo de diversas fases de sua vida. Quais os principais transtornos de ansiedade e quais suas características? Os transtornos de ansiedade mais comuns são o Transtorno de Ansiedade Generalizada, o Transtorno do Pânico, com ou sem Agorafobia, o Transtorno de Ansiedade Social e as Fobias Específicas. O Transtorno de Ansiedade Generalizada acontece quando há apresentação de
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respostas de ansiedade e preocupação excessivas frente a inúmeras situações ou atividades. É como se a pessoa passasse o tempo todo ansiosa e sem nem saber identificar o porque. O Transtorno do Pânico é caracterizado pela ocorrência frequente de ataques de pânico. Nesses ataques, surge abruptamente um medo intenso, que atinge um pico em minutos, diante da(s) palpitações, sudorese, tremores, entre outros. Pessoas com essa queixa verbalizam que sentem que vão enlouquecer, perder o controle ou até mesmo morrer durante os ataques. A Agorafobia pode ser apresentada de maneira isolada ou acompanhando o Transtorno do Pânico. Ela se caracteriza por um medo intenso diante de situações como, por exemplo, ir a praças, cinemas, shoppings, andar de ônibus lotado, estar no meio de multidões. O Transtorno de Ansiedade Social ocorre quando as respostas de medo surgem frente a situações sociais em que a pessoa pode ser avaliada de alguma forma pelos outros, tais como conversar, comer em público, fazer discursos ou palestras. Nas Fobias Específicas, há um medo ou ansiedade excessivos diante de objetos ou situações específicos, como altura, cobras, sangue, entre outros. O tratamento psicológico deve ser buscado apenas quando há um desses transtornos? Como ele é realizado? Não. Como já citei, os transtornos de ansiedade ocorrem quando as reações de ansiedade são muito extremas. Algumas pessoas apresentam um grau de ansiedade não tão elevado em termos de freqüência e intensidade, mas que acaba trazendo algum sofrimento. Essas pessoas também podem buscar ajuda psicológica, visando uma maior qualidade de vida. Muitas pessoas acreditam que buscar uma ajuda, seja psicológica deve ocorrer em casos extremos, eu não concordo com essa visão. Quando a pessoa percebe que não esta conseguindo resolver um problema sozinha e que isso esta incomodando, não importa o tamanho do sofrimento, será muito importante buscar ajuda profissional. Em alguns casos, é recomendado que, juntamente com o tratamento
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psicológico, seja consultado um médico psiquiatra, que pode indicar o uso de alguma medicação. Os remédios podem aliviar alguns sintomas, restabelecer o ciclo de sono, entre outros, o que pode ajudar até mesmo no processo psicoterápico. Mas lembre-se: o tratamento medicamentoso só deve ser realizado com o acompanhamento de um profissional especializado! Ao controlar alguns sintomas, a medicação permite que a pessoa possa investir em si mesma: no sentido de reaprender a organizar sua forma de agir e consequentemente a sua vida. Com relação à psicoterapia, muitos clientes têm a ilusão de que o tratamento vai ajudá-los a se livrar da ansiedade de maneira imediata. Costumo brincar com meus clientes que, se pudesse, usaria uma varinha mágica. É preciso que o terapeuta ressalte que este é um trabalho a médio ou longo prazo. Durante esse processo, busca-se identificar as situações que vem gerando ansiedade, perceber quais as principais atitudes dos clientes quando se sentem ansiosos e os efeitos que essas atitudes estão gerando em suas vidas. Diante disso, torna-se possível desenvolver estratégias alternativas para lidar com circunstâncias relacionadas ao surgimento dessas reações e o treinamento de habilidades específicas, como as sociais, as de resolução de problemas e tomada de decisões, conforme a necessidade de cada caso. Resumindo, o tratamento psicológico ajuda o cliente a perceber que a ansiedade em si não é o problema e auxilia a encontrar meios mais efetivos para lidar com essa e outras condições emocionais. Certo Mariana. Gostaria de dizer mais alguma coisa para fechar nosso batepapo?` Gostaria apenas de lembrar a todos que a ansiedade, assim como outros sentimentos, é parte de nossa condição enquanto seres humanos. Ela é importante para nossa sobrevivência, é preciso aprender a lidar com ela e não extingui-la de sua vida. Não será possível eliminá-la, mesmo que a pessoa queira e muitos passam a vida tentando fazer isso sem sucesso. Nossa vida é marcada
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por momentos bons e ruins, mas ser feliz não está relacionado a viver sem a ansiedade ou sem qualquer tipo de dor. Muito pelo contrário, quando aprendemos formas de viver com a ansiedade, nossa vida se torna muito mais rica e interessante.
Entrevistadora: Nione Torres Graduada em formação em Psicologia pelo Centro de Estudos Superiores de Londrina (atualmente UNIFIL). Especialista em Docência no Ensino Superior pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em Psicologia Clinica na área de Analise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Criou o Instituto de Analise do Comportamento e Estudos e Psicoterapia (IACEP), onde atua até a presente data como psicoterapeuta e supervisora clínica. Sócia fundadora da Sociedade Brasileira de Stress e Qualidade de Vida e membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental. Autora de vários capítulos de livros e artigos relacionados a área de psicologia clínica no Brasil e no exterior. Docente de cursos de Pós graduação em Universidades. Coordenadora e Supervisora de Projetos de Atendimento Psicoterapêutico de Adultos a Comunidade de baixa renda (mantidos pelo IACEP). CRP 08/02333
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Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br
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Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes