Conversa de psicólogo - outubro 2013 - vol 11

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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 11 - Edição 01 Outubro - 2013

Entrevistada:

Cristhiane de Almeida Mitsi

Entrevistadora:

Mariana de Toledo Chagas

TEMA: TRISTEZA OU DEPRESSÃO? Psicóloga analista do comportamento, pós-graduada pela Universidade Estadual de Londrina em Psicoterapia na Análise do Comportamento e mestre em Análise do Comportamento também pela Universidade Estadual de Londrina. Atuou na Saúde Pública de Londrina, como membro da equipe do NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família em 2010/2011. Desde 2001, atua na área clínica, no IACEP Londrina, trabalhando com adultos. Quais são os seus interesses dentro da psicologia Cristhiane? Estudar e compreender a Análise do Comportamento sempre foi o que me prendeu ao curso de Psicologia. No final do meu terceiro ano iniciei atividades em clínica particular, como estagiária, foi quando conheci a Nione Torres. Quando me formei já me tornei sócia-proprietária do IACEP junto com ela e a Myrna (que hoje está no IACEP de Ribeirão Preto). Fiquei até 2008 atuando em clínica com adultos,


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organizando eventos, ministrando cursos e supervisões e administrando o IACEP. Depois fiquei um período fora de Londrina, retornando como sublocatária do IACEP em 2010, onde atuo até os dias de hoje. Quando retornei em 2010, trabalhei também no NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família, na época era uma prestação de serviço terceirizado para a Prefeitura Municipal de Londrina. Lá atuei em 2010/2011, conhecendo um pouco da saúde pública e engatinhando no trabalho como psicóloga nessa área. Área essa pela qual me apaixonei tanto quanto a clínica. Um setor com público muito diferenciado da clínica particular e com um trabalho multiprofissional muito bom. Em sua experiência qual o maior motivo da procura por ajuda? Na experiência como psicóloga clínica e na área da saúde pública me deparei com diversos tipos de casos. Porém, o que vem me chamando muito a atenção é o quanto recebemos casos diagnosticados como depressão, tanto em um segmento quanto no outro. Principalmente na saúde pública, por haver um trabalho multidisciplinar, observa-se uma dificuldade em diagnosticar corretamente um caso de depressão. Não digo isso fazendo críticas aos outros profissionais, digo em função de uma ampla gama de variáveis que dificultam a identificação correta. Observo que as pessoas, hoje em dia, não conseguem lidar com situações difíceis, que lhe trazem sentimentos de tristeza e desamparo, o que é normal na vida de qualquer pessoa. Mas que hoje parece incomodar de uma forma tão perturbadora que as pessoas buscam ajuda médica para se livrarem desses sentimentos. Eu costumo explicar que chorar, se sentir desamparado, triste, com uma sensação de que gostaria de sumir é natural frente a determinadas situações. E como diferenciar uma tristeza de uma Depressão? Como disse, tristeza é um fenômeno normal que faz parte da vida de todos nós. Tristeza tem duração limitada e conseguimos, naturalmente, reagir com alegria se algum estímulo agradável acontecer no dia a dia. Já a Depressão


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precisa ser avaliada com critérios diagnósticos que nos mostram os sintomas, o tempo que os sintomas estão ocorrendo, a frequência e a prevalência. A Depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer atividade, mesmo diante daquelas que antes causavam prazer. É um transtorno que pode, ou não, vir acompanhado do sentimento de tristeza e prejudica o funcionamento da pessoa em seu dia a dia, afetando a vida social e de trabalho. Dessa forma, podemos dizer que Depressão é um estado “patológico”, uma condição que foge do padrão natural de ficar triste frente alguns eventos da vida e com o passar do tempo conseguir seguir em frente, se reerguer. Ou seja, tristeza é um sentimento natural a todos os seres humanos e ela aparecerá regularmente em vários momentos da vida. Então, quais os sintomas da Depressão? Fatores como: isolamento social, distúrbios do sono, diminuição da libido, alterações do apetite, falta de interesse, falta de vontade para realizar atividades básicas e outras queixas variadas, como dores generalizadas, tonturas, falta de ar, palpitações, cujas causas não sejam explicadas por outras doenças, podem indicar um diagnóstico de Depressão. Lembrando que é um conjunto de sintomas que leva ao diagnóstico, além do tempo que eles persistem. Os sintomas depressivos são muito variados entre as pessoas. Porém, três sintomas fazem a diferença para um diagnóstico: (1) uma autoestima rebaixadíssima, com autodepreciação, autoacusação, sentimento de inferioridade/incompetência, culpa, rejeição; (2) grande desinteresse ou apatia, que varia de indivíduo para indivíduo, mas que na maioria das vezes observa-se lentidão e dificuldade para suportar tarefas do dia a dia, grande perda da capacidade de tomar iniciativas, preguiça/fadiga fora do normal; (3) a perda do prazer, falta de ânimo para realizar até mesmo atividades que antes eram demasiadamente prazerosas para a pessoa. E isso tudo pode, (ou não), vir acompanhado com sentimento de querer morrer, e ideações suicidas.


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Identificar o que nos deixa triste parece mais fácil. Mas e a Depressão? Quais são as causas? A depressão pode acontecer mediante as mesmas causas de uma tristeza, por exemplo. Um evento negativo pode acontecer e a pessoa não conseguir lidar com seu estado de tristeza e isso levar a Depressão. A morte de alguém, um término de relacionamento, por exemplo, podem deixar uma pessoa triste, como também pode acarretar uma depressão. De acordo com a Análise do Comportamento observamos alguns aspectos importantes em pessoas que apresentam depressão. Trabalhamos com algumas hipóteses, uma delas é a de que o que antes era “bom” e “produzia prazer”, ou seja, as consequências que aumentavam a probabilidade de ocorrência de alguns comportamentos (as quais chamamos de estímulos reforçadores), hoje, por algum motivo, não acontecem mais. Podemos supor que a mudança no ambiente da pessoa possa não mais disponibilizar tais reforçadores ou que os reforçadores poderiam até continuar disponíveis no ambiente, mas a pessoa não estaria conseguindo ter acesso a eles por falta de habilidades, como por exemplo, uma pessoa que deixa de participar de um grupo social por ser tímida demais. Também se deve levar em conta que nos estados depressivos são observadas disfunções na bioquímica do cérebro e que isso vem acarretar e manifestações comportamentais. Por isso, muitas vezes, a partir de um diagnóstico médico, a Depressão é tratada com medicamentos próprios. E a recomendação para psicoterapia também se faz presente. É um trabalho em conjunto que maximiza os a melhora da qualidade de vida do cliente.

Cris, você falou em tratamento com medicamentos. Como fica essa interação de tratamento médico e psicoterapia? Essa interação é importante. A conversa entre profissionais a respeito de casos só traz benefícios ao cliente. O médico trata das disfunções bioquímicas do organismo da pessoa e o psicólogo das causas ambientais e das possibilidades de


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mudança. O conjunto faz a diferença. Não é raro nos depararmos com profissionais, tanto médicos quanto psicólogos, apontando sobre a atenção com diagnóstico de Depressão. A correria do dia a dia tem levado muitas pessoas aos consultórios médicos, o que tem acarretado ao uso excessivo de antidepressivos. De modo geral, o que percebemos é que encaminhamento para avaliação psicológica é realizado, mas depois da pessoa ser medicada. Acredito que exista uma consciência de que apenas tomar uma medicação e não identificar a causa do sofrimento não resolverá o problema. Porém, em alguns casos ainda é possível perceber que não se avalia o histórico e o que tem causado a tristeza ou a depressão em si, há uma busca por soluções imediatas. E aí mora o perigo. Li algumas entrevistas de outros profissionais a respeito da Depressão e alguns apontam justamente para isso: um diagnóstico rápido, sem levar em conta o histórico dessa possível depressão e, assim, o uso excessivo de antidepressivos. Isso me preocupa. É fato que, muitas vezes, a própria pessoa vai em busca do que é mais fácil: tomar remédio e curar o que incomoda. E isso é mantido porque ela realmente sai do consultório com uma receita medicamentosa. Porém, apesar de serem indispensáveis em determinados casos, os medicamentos em si aliviam os sintomas, mas não tratam a causa. O que pode implicar em recorrências do estado depressivo mais tarde. E, no caso de uma tristeza, o medicamento seria certamente dispensável. Como disse, é importante a conversa entre os profissionais sobre os casos, porém isso acontece menos do que deveria, principalmente na saúde pública (por vários os motivos). Infelizmente, a psicoterapia ainda é uma consequência disso tudo e raramente a primeira alternativa. Em que a Análise do Comportamento pode ajudar no tratamento da Depressão? A Análise do Comportamento tem um papel importante no tratamento da Depressão. Avaliar o histórico de vida, o histórico da Depressão, o que vem


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mantendo o estado depressivo e traçar planos de ação para buscar novos reforçadores para o cliente é fundamental. A pessoa que está em um estado depressivo não consegue enxergar saída. Uma vez recebi uma pessoa extremamente abatida, chorando muito, dizendo estar sem vontade de fazer nada, sem perspectiva de vida, e já fazia meses. Características condizentes com um caso depressivo. Porém, ao conversar com ela e levantar o histórico, ela me relatou que havia sido traída. Dedicou-se quase 30 anos à família e há poucos meses havia descoberto uma traição. Essa pessoa viveu todos esses anos apoiando no casamento e de repente o mundo de sabou. Em 3 sessões ela já estava com um objetivo traçado. O estado depressivo em que se encontrava era por se sentir totalmente sem rumo, perdida, e só precisava de uma direção. A partir do momento em que se sentiu amparada e começou a compreender tudo o que havia acontecido e o que ela poderia fazer, ela começou a melhorar. É preciso lembrar que nossa cultura pouco nos estimula a pensar sobre nós mesmo e por isso muitas vezes precisamos de um lugar e uma pessoa que nos oriente nesse percurso. No caso dessa pessoa, não precisou de medicamentos. A psicoterapia vai levar a descoberta das reais causas do estado que a pessoa se encontra de hoje, seja uma tristeza ou realmente um caso de Depressão. A compreensão das causas/mantenedores e estratégias de mudanças serão foco da terapia. A busca por situações que proporcionem prazer, a reinserção na vida social, a busca de ajuda de familiares/amigos, fazem parte dessas estratégias. Mas cada caso é um caso e tais estratégias mudarão conforme a necessidade de cada pessoa. A etapa de avaliação é muito importante para que se delineie a melhor intervenção para o caso.


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Entrevistadora: Mariana de Toledo Chagas Mariana Chagas: Psicóloga, mestre em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua em clínica com crianças, adolescentes e adultos no IACEP Londrina. Além disso, atua na área acadêmica, sendo ex-docente do curso de psicologia da UEL e atualmente ministrando aulas no Instituto de Ensino Superior de Londrina (INESUL).

Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br

Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes


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