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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 12 - Edição 01 Outubro - 2013
Entrevistada:
Entrevistadora:
Priscilla Araújo Taccola
Renata Trovarelli
TEMA: ESCRAVAS DA BELEZA...UMA TRISTE REALIDADE.
Psicóloga analista do comportamento, mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo – USP/SP. Atua na área clínica como psicóloga de adultos no IACEP Londrina, onde também é sócia-proprietária. Na área acadêmica atua como docente na Universidade Filadélfia (Unifil) desde 2010 e como docente em cursos de Especialização. Também foi colaboradora do Departamento de Análise do Comportamento (PGAC-UEL) entre 2007 - 2011.
Olá Priscilla, gostaria de iniciar nosso bate papo com você nos dizendo quais são seus objetivos dentro da psicologia? Desde muito cedo sempre ouvia as pessoas a minha volta dizendo que eu tinha muita habilidade em escutar as pessoas, que as pessoas me buscavam para
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desabafar e comecei a perceber que eu poderia utilizar isso como uma forma de ajudar o outro. Ajudar o outro foi um ponto que fez com que eu escolhesse a psicologia. Sempre me incomodou ver o outro em sofrimento. E na faculdade me apaixonei pela análise do comportamento, foi como se tirassem uma venda de meus olhos. Percebi que o conhecimento sobre o comportamento humano nos possibilita mudar, agir sobre o mundo, modificá-lo e ser modificado por ele (Skinner). E desde então é isso que eu busco: ajudar as pessoas a perceberem que elas próprias são capazes de modificar suas vidas de forma a buscar maneiras mais felizes de viver.
Olá Priscilla, gostaria que você falasse um pouco sobre como você vê a questão da beleza atualmente? Cada vez mais me chama a atenção o fato de muitas mulheres relatarem se sentir feia. O relato sempre vem associado à perfeição. Se você pergunta as mulheres se elas são bonitas, a resposta é sobre algo que gostariam de mudar, por exemplo: “gostaria que meus olhos fossem mais abertos”, “meu cabelo é feio”, “preciso emagrecer”. O problema em questão não é o querer melhorar. O problema é tornar-se escrava da beleza. É o não se sentir bonita se tudo não estiver perfeito. “Não vou sair de casa, pois nenhuma roupa ficou bonita em mim”, “Ele não me ama, pois sou feia”. Estes são alguns exemplos de análises simplistas que as mulheres vem fazendo a respeito de si. Elas esquecem que a beleza não está na perfeição, mas sim no conjunto da obra. Perfeitas nós nunca seremos. Amadas, felizes, realizadas sim. Isso se pode alcançar. Enquanto se olha somente para a beleza esquece-se de olhar para outras variáveis significativas que acontecem na vida. Ser inteligente, bem sucedida, altruísta, simpática, divertida, parece que nada disso têm importância. Precisa-se enxergar que somos um conjunto de característica e é o conjunto que faz com que sejamos amadas, por nós e pelo
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outros e não apenas uma única variável (que é a beleza).
Priscilla, por que você acha que a situação chegou a esse ponto? Uma análise da cultura mostra a influência social nas sociedades ocidentais de estereótipos femininos associados ao corpo magro. Além disso, há a cultura de que ser magro é apenas uma questão de “força de vontade”, desconsiderando as variáveis biológicas e outros fatores envolvidos de história de vida de cada indivíduo. Desta forma, passa-se a idéia errônea de que você não é magro porque quer, ou “é fraco” e não consegue se controlar. A sociedade reforça os comportamentos relacionados ao emagrecimento. Observem: sempre que alguém emagrece, o outro percebe, elogia e valoriza esse comportamento. Isso se torna um problema, pois quando o processo é ao contrário, quando se tem um aumento de peso, a pessoa sente-se inadequada, criticada, como se o outro não a aceitasse ou valorizasse por ela não estar magra (ou tão magra quanto gostaria). Casos mais comuns estão relacionados a não aceitação de si, como possível de ser amada por não ser bela, ou tão bela como gostaria. Casos mais graves e que tem aumentado de freqüência estão relacionados aos transtornos alimentares. Como a psicóloga Mariana Chagas comentou em sua entrevista os transtornos são um conjuntos de comportamentos que a pessoa apresenta com muita freqüência ou intensidade e que trás um prejuízo significativo em sua vida. Entre os transtornos mais comuns associados à beleza estão a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.
Você poderia nos explicar um pouco sobre a anorexia? A anorexia nervosa se caracteriza por uma distorção da percepção corporal e uma redução da quantidade de alimento ingerido resultando em um baixo peso
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esperado para idade e altura. Pessoas com este transtorno têm muito medo de ganhar peso e este medo geralmente não é aliviado pela perda de peso. Há uma distorção da vivência e a importância do peso e da forma corporal. Apesar de fazerem tudo para perder peso e perderem realmente, a pessoa ainda se sente gorda. Acha que qualquer coisa que comer vai ser transformar em gordura. A pessoa pensa que é gorda, é como se os próprios olhos a iludissem quando ela se olha no espelho. Sempre que a pessoa se olha no espelho parece que ainda não está magra o suficiente ou que ainda precisa “só perder mais um pouquinho de peso”. Essa distorção é séria e grave, pode levar a distúrbios metabólicos e até a morte. Nesses casos não adianta falar para ela que ela está muito magra, não adianta começar a aparecer os ossos. A percepção que a pessoa que sofre de anorexia tem é de que está gorda, ou de que não está magra o suficiente. O grande engano é achar que emagrecendo será feliz. Nesses casos, no processo de emagrecer a pessoa geralmente acaba se afastando dos amigos, pois quase todos os eventos sociais envolvem comidas, não consegue mais realizar suas atividades de maneira adequada, pois está sempre pensando ou no seu corpo ou em comida, esquiva-se de contatos com a família, pois precisa esconder que está de “regime”, esquiva-se de qualquer condição que vá confrontar o fato de estar emagrecendo ou situação que envolvam comida. Ao se isolar de relações prazerosas, sente-se mais infeliz e cada vez mais atribui a sua felicidade a perda de peso. Sinais como a perda rápida de peso, perda de cabelo, unhas quebradiças, perda de memória, alteração de pele, desmaios, penugem estão freqüentemente associados a esse quadro.
Gostaria também de pedir para você nos falar um pouco sobre a bulimia. Na bulimia nervosa a principal característica é o ciclo jejuar, comer em excesso, vomitar e jejuar novamente. A pessoa parece que está presa a uma
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armadilha. Normalmente inicia-se com a tentativa de fazer regime. Há uma restrição temporária da alimentação, por vezes passa-se fome, e ao comer iniciase um ataque “de comilança”, onde a pessoa não consegue ter o controle do parar de comer e geralmente não consegue se lembrar de tudo o que comeu. Então vem o mal estar e a culpa por ter comido. Nesse momento a tentativa é de eliminar essa sensação e envolve-se em comportamentos para diminuir esse mal estar, que pode ser vomitando (o mais comum), porém pode ser através do uso de laxantes, diuréticos, atividades físicas excessivas, etc. Ao realizar esses comportamentos vem a sensação de alívio e bem estar. E se inicia novamente a restrição alimentar “preciso me controlar”, “não vou comer até amanhã”, “olha o tanto que já comi hoje”. Não percebem que ao jejuar aumenta a probabilidade de ter um ataque de comilança novamente e assim o ciclo se mantém. A profusão de informações que a internet nos proporciona por vezes pode ser prejudicial. Pode acreditar, há sites que ensinam como disfarçar os comportamentos anoréxicos e bulímicos. Assim como aqueles sites que ensinam ter uma beleza “perfeita”. Por vezes coloca-se em risco a vida em função de atingir esse ideal imaginário de beleza.
Mas então, como fazemos para nos sentirmos bem com nós mesma? Deve-se fugir da armadilha de achar que existe formula mágica ou dietas milagrosas para se sentir bonita e bem. Isso se deve a um conjunto de variáveis que a pessoa precisa identificar e aprender como alcançá-los. Estar bem se deve a um conjunto de comportamentos que você precisa apresentar, como: conhecer-se muito bem, realizar atividades prazerosas (você gosta de alguma coisa que faz? É reconhecida? Sente-se bem?), se relacionar com pessoas de quem gosta e que gostam de você (Quem são as pessoas com quem você se relaciona: amigos, namorado (a), esposo (a)? Eles são pessoas que te fazem bem? Você faz bem a
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?), cuidar da alimentação de maneira adequada, realizar atividades físicas, enfim, sentir prazer em cuidar de você em várias frentes: física, social, afetiva, etc. Muitas pessoas não conseguem cuidar de si mesmas dessa forma e precisam do auxilio de um psicólogo para chegar lá. É importante reconhecer quando precisa de ajuda, e os familiares e amigos são importantes nesse processo. Ser belo nunca pode ser mais importante do que ser feliz. De qualquer forma, lembre-se: ser bonita é mais do que ser impecável fisicamente. Erro seu se você acha que apenas a beleza física te completará... ouço muitas pessoas dizendo “o vazio ainda esta lá”. Não basta estar impecável fisicamente, você precisa estar de bem com a vida, com você para atingir a beleza no seu mais puro significado.
Entrevistadora: Renata Trovarelli Psicóloga Comportamental, atualmente trabalha no IACEP Londrina realizando atendimento de crianças, adolescentes e adultos. Além da clínica trabalha como Psicóloga Organizacional, prestando consultoria na área de Recrutamento & Seleção e Treinamento, também é Analista de Gestão de Pessoas em uma organização privada. É formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e está finalizando a especialização em Clínica Comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (ITCR-Campinas).
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Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br
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Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes