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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 13 - Edição 01 Novembro - 2013
Entrevistada:
Entrevistadora:
Luciana Helena Silva
Géssica Denora Ribeiro
MEU FILHO É AUTISTA, E AGORA?
Luciana Helena Silva. Sócia – Proprietária, Psicóloga e Supervisora Clínica no IACEP.
Psicóloga Escolar na Escola Caviúna – Educação Infantil e Ensino
Fundamental, na Modalidade Educação Especial- APAE de Rolândia. Especialista em Neuropsicopedagogia. CRP 08/15219
Olá Luciana Helena, hoje em dia ainda nos deparamos com um número pequeno de profissionais que trabalham com Espectro Autista, quais são as suas áreas de atuação e como se interessou por trabalhar com pessoas com formas tão particulares de interagir? Atuo na APAE de Rolândia na função de psicóloga escolar, também na área clínica e coordeno, juntamente com a psic. Patrícia Motta, o curso “PRÁTICAS
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EDUCATIVAS” voltado para a capacitação de profissionais da área da educação sob o enfoque da Análise do Comportamento. Minha experiência com pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) começou com as avaliações que realizo na APAE-Rolândia
e, inúmeras vezes, me deparei com pais/familiares
extremamente angustiados após o diagnóstico. E os sentimentos associados e questionamentos eram diversos: Por que com meu filho(a)?; “isso pega?”; meu filho vai aprender a ler e a escrever?; Eu sou culpado (a)?; Isso tem cura?; Ele(a) vai ter uma vida independente? Eu era igual ao meu filho quando criança...é só uma fase .... Acredito que muitos que estejam lendo este entrevista,
e já passou por uma
experiência parecida, se identificaram, pelo menos em parte, com estas descrições. E um dos grandes fatores para que um diagnóstico de Espectro Autista seja tão aterrorizador e torturante para quem recebe é a falta de conhecimento e informação sobre o assunto.
Ainda há uma grande dificuldade, com conceitos equivocados, por parte da sociedade e familiares, de melhor compreender uma pessoa autista. O que você pensa sobre isso? Durante muito tempo, sem parâmetros mais criteriosos, sem o recurso da tecnologia, com informações limitadas sobre o quadro, a falta de conhecimento deu lugar para o MITO e muitas concepções errôneas sobre o Espectro Autista (Autismo, Asperger, Rett, entre outros), deu espaço para linhas de raciocínios equivocadas o que prejudicou os avanços sobre a etiologia, diagnóstico, tratamento e prognóstico nesta área, o que acarretou na formação de sérios preconceitos com relação a pessoa autista e, pior, a marginalização social destas pessoas e seus familiares. Nas últimas décadas, com o avanço da neurociência, têm aumentado, de forma significativa, as pesquisas e publicações nesta área. O
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aumento do
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conhecimento e divulgação sobre o TEA favorece o diagnóstico
precoce, apesar de ainda, muitos profissionais que lidam com o Desenvolvimento Infantil estarem despreparados para realizá-lo de forma rápida possibilitando a estimulação adequada, pois o quanto antes isso for feito, aumenta-se as chances de melhor prognóstico/evolução .
O que é o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)? O Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é uma doença, e sim uma síndrome clínica de causa biológica caracterizada por comprometimento em três domínios principais: dificuldade na interação social, linguagem e comunicação, e comportamentos (estereotipia, padrões repetitivos). O seu início ocorre durante o período de máximo desenvolvimento cerebral, ou seja, antes dos 3 anos de idade, e o grau de comprometimento varia desde um quadro com funções cognitivas normais até outro de extrema
gravidade. As causas são múltiplas e
frequentemente desconhecidas (ANTONIUK, 2012). No Brasil, estima-se que temos cerca de 1 milhão e 500 mil pessoas com TEA.
Como podemos contribuir para ajudar o desenvolvimento psico-afetivo, linguagem, cognitivo e social das pessoas com diagnóstico de TEA? Hoje, com base em pesquisas neurocientíficas, sabe-se, que a estimulação adequada é fundamental em todas as fases da vida, mas os primeiros cincos anos são primordiais para o desenvolvimento e processo de aprendizagem, através da neuroplasticidade,
favorecendo mudanças significativas no funcionamento
cerebral e, consequentemente, aumenta-se a chance de melhoras no prognóstico. É extremamente importante que o diagnóstico seja feito precocemente e o programa de tratamento multiprofissional colocado em prática.
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Como o processo de aprendizagem acontece a partir da interação do indivíduo (aspectos orgânicos e psicológicos) com o meio em que vive (o contexto familiar, escolar e terapêutico, assim como o ambiente físico), mudanças em tais contextos apresentam um papel essencialmente importante para ajudar a pessoa com autismo sendo fundamental uma parceria entre estes ambientes/profissionais com um trabalho coeso e um programa individualizado a partir de uma avaliação detalhada das potencialidades e dificuldades que este indivíduo/criança apresenta. Uma metodologia e filosofia de Trabalho que tem demonstrado excelentes resultados com a pessoa que apresenta TEA
é o ABA (“Applied Behavior
Analysis”). A tradução para o português é “Análise do Comportamento Aplicada”, este método Canadá
tem apresentado excelentes resultados em países como EUA e
e começou a ser difundido em nosso país, pois além de levar em
consideração os diversos contextos em que o autista vive, se comunica e interage, apresenta bases científicas e práticas consolidadas. O ABA tem como objetivo ajudar o autista a desenvolver novas habilidades concentrando-se em aumentar os comportamentos
que estão em déficits e diminuir aqueles inapropriados e
repetitivos.
E a família? O que precisa fazer par ajudar um ente querido com este diagnóstico? É
extremamente
importante
procurar
ajuda
junto
a
profissionais
especializados (psicólogos, neuropsicólogos, neuropediatra, psiquiatra infantil, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional, entre outros) e começar imediatamente o tratamento
indicado.
A
avaliação
neuropsicológica,
com
enfoque
no
desenvolvimento, é fundamental para a elaboração de um programa de estimulação individualizado para a necessidade da criança. Na maioria dos casos, a família precisa de apoio psicológico para lidar com questões emocionais geradas
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a partir do diagnóstico e para o processo de adaptação referente à mudança na rotina destes pais e irmãos em função da demanda do tratamento. E por fim, estar disposto a colaborar com o tratamento buscando sempre colocar em prática as orientações passadas pela equipe multiprofissional que acompanha a criança/ pessoa com TEA. Portanto, descobrir que aquela pessoa, que tínhamos tantos planos para o futuro, tem Transtorno do Espectro Autismo, não significa o fim, mas um recomeço para descobrir um ser humano particular que se amado, respeitado e estimulado da forma como necessita ampliará os nossos horizontes quebrando algumas idéias pré-concebidas e limitadas de sucesso e felicidade.
Referências: KEINERT, M.H.J.M; ANTONIUK, S.A. Espectro Autista: o que é? O que fazer? Ed. Íthala. Curitiba, 2012. Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais -DSM-IV. American Psychiatric Association. Manole
Entrevistadora: Géssica Denora Ribeiro Psicóloga Analista do Comportamento no IACEP, graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina e voluntária na Clínica Escola de Psicologia da mesma instituição. Pós graduanda do curso de especialização em Psicologia: Análise do Comportamento Aplicada, pelo Centro Universitário Filadélfia. Tem experiência em capacitação de pais e professores e intervenções psicoterápicas em grupo, pautadas na Análise do Comportamento e em avaliação neuropsicológica e intervenção psicopedagógica com crianças e adolescentes. Atua como psicoterapeuta clínica de crianças, adolescentes e adultos e atualmente está aprimorando-se em estudos no campo da psicologia educacional.
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Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes