Conversa de psicólogo 14

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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 14 - Edição 01 Dezembro - 2013

Entrevistada:

Kellen M. Escaraboto

Entrevistadora:

Laís Rodrigues Paes

EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA CRIANÇAS

Kellen Martins Escaraboto Fernandes é graduada pela Universidade Estadual de Londrina e Pós graduada por esta mesma universidade em Psicologia Clínica Comportamental e pela UNOPAR em Educação Especial. Mestranda em Neuropsicologia Clínica. Atua como Psicóloga Escolar no Colégio Interativa de Londrina/PR e como Psicóloga Clínica no IACEP. Professora de Pós Graduação em Psicopedagogia, Educação Especial, metodologia do Ensino Superior e Neuropsicopedagogia na UNOPAR/ Londrina, FACESI e Faculdades Iguaçu. Ministra cursos e palestras, tendo como parceiros o Sistema Maxi de Ensino, SESC, SENAC e Colégios da rede Marista, além de Escolas Municipais e Estaduais. Autora de diversos artigos e publicações, secretaria da ABENEPI – Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil – Núcleo Londrina e supervisora clinica do Grupo de Estudos e Supervisão em terapia Infantil/IACEP.


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Qual a importância de se tratar educação financeira na infância? Ao preparar as crianças para lidar com dinheiro estamos ensinando-as não apenas a administração de finanças, mas, principalmente, educando-as para serem capazes de administrar seus desejos, vontades e as ensinado alguns comportamentos importantes como “fazer escolhas”, “resolver problemas” e “esperar”, “empenhar-se para algum objetivo” e “tolerar a frustração”. Lidar com o perceber o que desejo, com o que tenho vontade de ter ou fazer e com os limites impostos pelo ambiente para a realização destes desejos é fundamental na vida, uma vez que muitas pessoas apresentam muitas dificuldades para equilibrar o querer e o ter. A educação financeira colabora para que estas crianças possam tornar-se adultos seguros, responsáveis e equilibrados, capazes de assumirem as rédeas de uma vida independente e, para isso, capazes de saber organizar seu dinheiro e, consequentemente, suas vidas. Existe alguma idade que seja mais adequada para o início do trabalho? Não existe uma idade limite para iniciar a educação financeira. Desde cedo os pais podem ajudar a criança a compreender, por exemplo, que é importante não desperdiçar dinheiro (tendo como exemplo pequenas economias domésticas que fazem a diferença como na hora de tomar banho, colocar uma determinada quantidade de alimento no prato ou fazer uma lista de supermercado). Também podem mostrar aos filhos que existem coisas “caras e baratas”, fazendo algumas análises importantes sobre o comportamento de compra de brinquedos, por exemplo. Não pode ser vergonhoso para os pais dizerem aos filhos que não podem comprar alguma coisa porque naquele momento não tem condições de fazê-lo. Outro passo importante é ensinar a criança a prestar atenção ao dinheiro e ao modo como este deve ser conservado (não rasgando, riscando, amassando, por exemplo). Vale a pena lembrar que nós só cuidamos e respeitamos aquilo que


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conhecemos bem e com o dinheiro não é diferente. Outro ponto importante relaciona-se a responsabilidade social e ética em relação ao ganho e uso do dinheiro. Os pais precisam mostrar que o mesmo é importante, que realiza e satisfaz muitas de nossas vontades, porém não podem colocar o dinheiro como condição principal na vida. Isso acontece, por exemplo, na adolescência quando vivenciam o conflito entre a escolha da profissão e a remuneração proporcionada pela mesma. Sabe-se que muitos profissionais felizes e realizados são muito bem remunerados, porém o contrário nem sempre é verdadeiro. A mesada pode ser usada como instrumento para esse tipo de orientação? É o único instrumento? A mesada é um recurso, mas não deve ser o único. É importante que os pais entendam que existem outras formas de educar financeiramente e, neste sentido, a melhor educação é a que se faz pelo exemplo. Algumas sugestões envolvem o ensinar a criança a distinguir coisas que compramos porque queremos de coisas que compramos porque precisamos pois, muito da habilidade financeira, tanto na vida adulta quanto na infância, depende de sermos capazes de fazer esta diferenciação. Muitos educadores argumentam que a mesada não deve ser dada, e sim conquistada pela criança. Isso é feito para preparar a criança para o mundo adulto, em que não se ganha dinheiro, mas é preciso trabalhar para recebêlo. Esse argumento está correto? Esta condição está corretíssima, porém existe um cuidado que deve ser tomado. As tarefas estipuladas a criança devem ser condizentes com a idade que ela apresenta e devem estar muito claras e bem combinadas, ou seja, deve acontecer um contrato verbal, anterior à condição. Outro ponto que deve ser cuidado relaciona-se ao fato dos pais diferenciarem estas tarefas ou combinados de outras situações que, no cotidiano da família, já


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deveriam ser sua responsabilidade como guardar seus brinquedos, sapatos ou colocar a mochila no lugar ou estudar, por exemplo. Isso não tem que ser pago, pois faz parte da responsabilidade da criança. Com meu filho estabelecemos este contrato. Existe um pagamento mensal de mesada (adequado a sua faixa etária – 10 anos) o qual é correspondido pela condição de que ele ajude a lavar a louça e varrer o quintal, sempre que for solicitado a fazê-lo. Quando não faz, uma parte do valor é retirada e ele entende assim as conseqüências das suas escolhas, pois, se um dia escolher não ir trabalhar, seu salário também será descontado da folha de pagamento. Outra questão importante é a necessidade de que os pais entendam que, mais do que recompensar tais atividades pelo dinheiro a criança precisa ser elogiada pelo seu esforço em ajudar. O elogio tem um valor extremamente significativo na vida da criança. Com meu filho, por exemplo, vivencio situações em que nem lhe peço para lavar a louça. Ele realiza a atividade e fica esperando que eu perceba e o elogie, como um presente, um agrado e penso que isso também tem um sentido importante na educação porque senão a relação fica somente estabelecida pela condição de troca e nunca de afeto. Finalmente, o último ponto que merece destaque relaciona-se a necessidade do acompanhamento de como o dinheiro da mesada vai ser gasto e, neste contexto, pode-se aproveitar a situação para ensinar a criança a poupar. Pode-se propor que ela gaste uma parte do dinheiro e guarde o restante em uma poupança com um objetivo maior a médio prazo, como a compra de um brinquedo ou de um tênis. Isso favorece a condição do desenvolvimento da tolerância à frustração, sobre o desenvolvimento emocional da espera, uma vez que não podemos ter tudo o que desejamos na nossa vida.


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Entrevistadora: Laís Rodrigues Paes Estudante do 5˚ ano de psicologia da UNIFIL. Participa do Projeto de Atendimento em Psicologia Escolar no Colégio Interativa de Londrina, em Projeto de Atendimento Clínico Adulto e Infantojuvenil na UNIFIL. Participa do Projeto de Atendimento de Adolescentes que encontram-se em situação de vulnerabilidade. Realiza atividade de Acompanhamento Terapêutico com famílias, crianças e desenvolvimento atípico. No IACEP atua como coordenadora de estagiários.

Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br

Coordenação editorial: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Revisão: Bruna Aguiar e Laís R. Paes Projeto gráfico e diagramação: Laís R. Paes


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