Conversa de psicólogo vol 15 - setembro 2014

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CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 15 - Edição 01 Setembro - 2014

Entrevistada: Renata Trovarelli

TEMA: SÓ AMOR NÃO BASTA! ALGUMAS HABILIDADES SÃO INDISPENSÁVEIS PARA A VIDA A DOIS

Psicóloga Comportamental, atualmente trabalha no IACEP-Londrina realizando atendimentos com crianças, adolescentes e adultos. Além de Psicóloga clínica, é Consultora de Gestão de Pessoas, pela Ideia Consultoria. É formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e especialista em Clínica Comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (ITCR-Campinas).

Renata, é perceptível que os casamentos e os relacionamentos em geral estão cada vez durando menos, em sua opinião o que pode estar contribuindo para términos tão precoces? A sociedade tem passado por muitas transformações em um curto espaço de tempo, e estas de alguma forma estão alterando o modo de se comportar do ser humano. Somos diariamente bombardeados por muitas informações, e estamos reagindo sem pensar nas consequências dos nossos comportamentos. Diariamente somos expostos aos ideais de consumo, que nos ensina a querer


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sempre o novo, o mais moderno. Hoje não basta ter um celular para se comunicar, ele precisa ser o último lançamento! Esse ideal de consumo parece ter se generalizado para as relações humanas, a sociedade não tem descartado somente produtos, pessoas também entraram nesse rol. Muitos passaram a buscar o companheiro perfeito, e vivem em busca de um amor romântico idealizado. Quando se deparam com o primeiro defeito do outro, logo tratam de sair do relacionamento. Essa situação tem se tornado muito comum, e por isso vemos atualmente tantos relacionamentos que não resistem as primeiras dificuldades.

Você está dizendo que as pessoas estão mais seletivas? Não, sempre foi e ainda é importante buscar um companheiro(a) que tenha afinidades, é de suma importância que em um relacionamento haja carinho, atração física, valores em comum, no entanto, o que tem ocorrido é a busca por um companheiro(a) idealizado, e tudo o que é idealizado não tem defeitos. É aí que reside o erro! Relacionamentos não são perfeitos e pessoas também não. Passada a fase da paixão (aquela fase gostosa onde o frio na barriga é constante, a vontade de estar com o outro é a primeira vontade do dia) a situação muda. O olhar para outro torna-se mais real, e é ai que os primeiros defeitos começam a ficar perceptíveis, grande parte dos relacionamentos terminam nesse momento. Parece que muitas pessoas não estão mais dispostas a ceder, a compreender, a mudar, a aceitar, ao deparar-se com o primeiro conflito o próximo passo tem sido a separação. Perceba, que o que está acontecendo não é uma seleção saudável de quem será o companheiro (namorado(a), marido/esposa), mas sim uma exclusão de qualquer desconforto. Há pesquisas que mostram que o grupo no qual número de divórcios tem mais crescido no Brasil é o de casais que permaneceram juntos pelo período de 1 a 4 anos. Esse dado parece demonstrar que já nos primeiros conflitos do casal, a solução para muitos tem sido a separação.

Quais os problemas em manter “hábitos de consumos” nos relacionamentos


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podem gerar para pessoas com esses hábitos? Levar esses “hábitos de consumo” para a vida amorosa pode gerar consequências pouco vantajosas. Uma delas é a dificuldade em manter um relacionamento amoroso satisfatório a longo prazo. Pessoas com esse padrão de comportamento trocam sempre de parceiros(as) e, se conseguem chegar ao casamento, esse tem curta durabilidade. Além de não conseguirem manter-se em relacionamentos, essas pessoas perdem a chance de desenvolver comportamentos de tolerância, empatia e comunicação. Comportamentos importantes para todos os relacionamento, não apenas os afetivo-amorosos.

Renata quais estratégias podem ser usadas para que os relacionamentos não entrem na mesma categoria de produtos e dessa forma não sejam descartados como tal? Primeiramente é lembrar que pessoas sem defeitos não existem, é ilusão achar que vamos encontrar alguém exatamente do modo que sonhamos, é importante lembrar que Príncipes Encantados existem apenas nos contos de fadas e nas novelas. Não estou dizendo que é para aceitar se relacionar com qualquer pessoa (é preciso ter afinidades), mas é preciso refletir quais defeitos são suportáveis para cada um, e saber que alguns destes pode estar presente no seu relacionamento. Existem algumas habilidades que se presentes no casal, aumentam muito as chances dos relacionamentos darem certo, vou me restringir nessa entrevista sobre uma dessas habilidades, a comunicação. Em minha prática clínica tenho percebido que essa habilidade é uma das mais importantes para que um relacionamento seja saudável e bem sucedido. Percebo que muitas pessoas quando chegam a terapia e relatam sobre seus problemas com os parceiros, ou sobre os problemas do parceiro(a), na maioria das vezes a comunicação do casal é pobre ou inexistente. Muitos não conseguem dizer ao companheiro o que sentem, não elogiam, não fazem pedidos, vivem a espera que o outro adivinhe quais são suas vontades.


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Esperar que o companheiro(a) se comporte da maneira que você espera sem ao menos comunicá-lo pode gerar uma frustração muito grande, e é no mínimo injusto, pois o que é óbvio e importante para você, nem sempre será óbvio e importante ao outro. O parceiro precisa saber quais são suas necessidades para poder se comportar, e para que ele(a) saiba é preciso comunicar. Casais que não conversam tem grandes chances de serem infelizes. Por isso comunique, fale, dialogue, as chances do seu relacionamento ser duradouro e prazeroso com certeza serão maiores.

É possível ser desenvolvida essa habilidade que você está chamando de comunicação? Com certeza, e a terapia pode ser uma excelente aliada nesse processo. Muitos casais em crise não conseguem identificar que o problema pode estar na comunicação, inexistente ou falha. Normalmente colocam a culpa do fracasso do relacionamento no companheiro, no defeito do outro. É importante lembrar que o fracasso de um relacionamento nunca é determinado por apenas uma das partes do casal, ambos tem responsabilidades. Desenvolver a comunicação significa perceber o que sua fala ou a falta dela pode estar causando no outro. A apatia do companheiro pode ser sinalizada e novos posturas podem ser solicitadas, o comportamento adequado pode deixar de aparecer por não estar sendo valorizado. A maioria das transformações que podem ocorrer em um relacionamento passam pelo crivo da comunicação e se essa habilidade não estiver bem desenvolvida as chances de quaisquer alterações são reduzidas. Finalizo essa entrevista ressaltando a importância de cada um refletir sobre seus próprios comportamentos em seus relacionamentos. Relacionamentos bem sucedidos requerem pessoas habilidosas em comunicar, em entender, em mudar, em aceitar. Encontrar a pessoa “certa” é apenas o primeiro passo para se construir um bom relacionamento, após o primeiro encontro é que começa o desafio.


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Entrevistadora: Cintia Cristiane Morais Bobroff da Rocha Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Santos (Unisantos) e especialista em Saúde Mental e Psicologia Organizacional e do Trabalho pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua como psicóloga clínica no IACEP, realizando atendimento a adultos. Tem experiência também na área organizacional.

Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br

Coordenação editorial: Laís R. Paes e Renata Trovarelli


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