CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 1
CONVERSA DE PSICÓLOGO Volume 17 - Edição 01 Novembro - 2014
Entrevistada:
Mayara Petri Martins
TEMA: ANSIEDADE
Mayara Petri Martins. Psicóloga analista do comportamento, CRP 08/18798, formada pela Universidade Filadélfia (Unifil), cursando Pós-Graduação em Neuropsicologiana (SAPIENS, Londrina). Atua na área clínica como psicóloga infantil, de adolescentes e de adultos no IACEP-Londrina. Atua também na Clínica de Endocrinologia e Nutrição (CEN) em Londrina, onde desenvolve trabalhos com pacientes com sobre-peso e obesos que buscam, por meio da cirurgia bariátrica ou de outros recursos, o autocontrole. Realiza também atendimento com pacientes diabéticos que buscam autocontrole. Atualmente esta se engajando na área acadêmica.
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 2
Mayara, tornou-se rotineiro nos consultórios médicos e em clínicas psicológicas as pessoas chegarem com a queixa de ansiedade. Como a Psicologia entende a ansiedade? A ansiedade é uma sensação vivenciada por todos os seres humanos, em pelo menos algum momento de suas vidas. Ela é uma reação natural do ser humano frente algumas situações, mais comumente situações tidas como aversivas. A ansiedade é sentida de diferentes formas e com diferentes intensidades por cada pessoa, geralmente ela é vivenciada quando nos sentimos ameaçados ou diante de uma situação nova. Muitas situações agradáveis, também podem gerar ansiedade, principalmente quando envolvem espera. Consideramos dessa forma a ansiedade como uma reação natural do organismo, porém quando esta ansiedade passa a ser muito frequente, desconfortável e a atrapalhar a rotina de vida das pessoas, ela pode ser considerada como patológica. O DSM IV (manual de categorização os transtornos mentais) sinaliza como os principais sintomas da ansiedade: o aumento dos batimentos cardíacos, elevação da pressão arterial, alteração na respiração, sudorese, tremores, sensação de falta de ar ou asfixia, dor ou desconforto torácico, náusea, desconforto abdominal, vertigem, sensação de formigamento. Os indivíduos que sentem-se ansiosos geralmente relatam esses sintomas queixando-se de coração acelerado, frios constantes na barriga, nó na garganta, entre outros. Esses sintomas relatados por aqueles que sentem-se ansiosos, são resultados de uma alteração do organismo frente a situação consideradas perigosas (sendo esses perigos reais ou imaginários), esse é um mecanismo de sobrevivência, mantido evolutivamente. Nossos ancestrais, da idade da pedra, enfrentavam perigos reais diariamente, suas rotinas eram baseadas em caçar para se alimentar e fugir ou lutar de predadores. Para obter mais eficiência nesse contexto de luta-fuga, algumas
Página 3
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
alterações o organismo tinha que sofrer: o coração acelerado possibilita um maior fluxo sanguíneo, para melhorar a oxigenação nos tecidos. Há também um redirecionamento do fluxo sanguíneo, que reduz o sangue em partes do corpo como pele e dedos, e um aumento de sangue nos músculos, que ajuda na preparação para ação. Isso era necessário porque se o indivíduo fosse atacado ou ferido, não morreria de hemorragia. Todas essas mudanças internas geram uma palidez na pele, frios nas mãos e pés, dormências ou formigamentos. Quando há o aumento da velocidade e profundidade da respiração, oxigenam-se os tecidos, preparando-os para ação, o que pode levar a sensação de falta de ar, dores e pressões no peito. Ainda ocorre uma redução real do fluxo sanguíneo na cabeça, causando tontura, visão borrada, confusão, fuga da realidade e sensações fortes de frio e calor, não sendo prejudicial a saúde por ser uma quantidade insignificante. Quando há o aumento de transpiração a pele fica escorregadia, o que na época dos nossos ancestrais eram importante, pois dificultava o predador agarrar esse corpo, também evitando um superaquecimento do organismo, resfriando-o. As pupilas dilatam para que entre mais luz, podendo causar uma visão borrada ou com manchas. A diminuição da saliva causa uma boca seca. Redução do sistema digestivo gera náusea, sensação de estomago pesado e ainda constipação e diarreia. Naquela época todas essas reações aumentavam as chances de sobrevivência dos indivíduos. Evolutivamente essas características foram mantidas e por isso ainda nos tempos atuais as sentimos, porém as reações fisiológicas ainda se fazem presentes, não mais em situações de fuga ou luta, mas em situações que são encaradas como difíceis para alguns, como ministrar uma palestra, uma reunião com o chefe, um encontro afetivo, entre outros. Quais os prejuízos que a ansiedade pode causar as pessoas que a sentem? Como essas reações de luta-fuga mobilizam a ativação geral do metabolismo corporal, é comum a pessoa sentir-se cansada e esgotada, porém é importante saber que essas reações não causam prejuízos nenhum ao corpo, desde que
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 4
aconteçam de maneira moderada. Em situações consideradas ansiogênicas, a concentração pode ficar prejudicada, pois o organismo esta procurando ameaças reais, o que leva a “problemas de memória”. Porém se a ansiedade for moderada pode até nos auxiliar, gerando melhor desempenho em uma tarefa, fazendo com que o individuo busque saídas para a situação em que se encontra, promovendo um enfrentamento saudável. Ao contrario, se a ansiedade não for correspondente com a situação em que o individuo esta enfrentando, sendo desproporcional, frequente, intensa, causando prejuízos no cotidiano e gerando sofrimento considerável é necessário buscar auxílio médico e psicológico, pois o corpo começa a se debilitar, uma vez que toda essa ativação estressa o organismo. Assim podem surgir doenças como psoríase, diabetes, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, impotência sexual ou baixa libido, herpes, infecções ginecológicas, tumores, gastrite, perda ou ganho de peso, humor depressivo, pressão alta, queda na qualidade de vida, insônia, baixa produtividade no trabalho, irritação, tensão, angustia, consumo de álcool, drogas e tabaco e até mesmo, dependendo do grau do estresse gerado pela ansiedade em excesso, pode levar a doenças e debilitação total do corpo, levando à morte. Como a psicologia clínica vê a ansiedade? E como pode auxiliar as pessoas que passam por esse problema? A psicologia comportamental vê a ansiedade como fruto da percepção de algo ameaçador e é essa percepção que deve ser avaliada. Para os analistas do comportamento a análise funcional é fundamental e é através dela que o cliente tem chances de compreender porque está se sentindo ansioso e a partir dessa compreensão tem condições de alterar seus comportamentos e ambiente para que o problema seja sanado. A atuação do psicólogo é imprescindível para identificação de comportamentos disfuncionais, ou seja, comportamentos que
Página 5
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
estão possibilitando o aparecimento de sintomas ansiosos. Outras técnicas que podem ser utilizadas são: dessenssibilização, exposição, supressão da resposta, relaxamento. O psicólogo comportamental auxiliará seu cliente a identificar as situações que causam ansiedade e a desenvolver comportamentos mais adequados frente a essas situações. O psicólogo ainda pode usar técnicas para que o cliente enfrente essas situações gradativamente, a fim de que situações ansiogênicas se enfraqueça, melhorando sobremaneira sua qualidade de vida. A alimentação pode influenciar na ansiedade? Com certeza a alimentação pode influenciar no nosso nível de ansiedade, a maioria das mulheres de TPM, por exemplo, sentem necessidade de comer alimentos gordurosos, como chocolate e sorvete. Esses alimentos liberam hormônios que combatem o cortisol, hormônio liberado pelo estresse. Alguns alimentos possuem aminoácidos e vitaminas que podem auxiliar a diminuir o estresse, combatendo a ansiedade e aumentando o nível de serotonina, responsável pelo bem estar e relaxamento. Como frutas cítricas, leite, ovos e derivados magros, carboidratos, bananas, carnes e peixes, chocolate, espinafre. Assim é ideal procurar também auxilio de um nutricionista. É possível tentar driblar a ansiedade com relaxamento e meditação? O relaxamento e a meditação auxiliam muito no combate à ansiedade. Quando nos sentimos ansiosos podemos tentar identificar os pensamentos exagerados vendo se correspondem com a situação para ver o que realmente está acontecendo. Aceitar o sentimento de ansiedade como sendo um sentimento natural devido a situações que nos ameaçam, necessário para nossa defesa. Parar de lutar contra a ansiedade querendo controlá-la, diminuí-la ou eliminá-la (essas tentativas levam ao fracasso, uma vez que não temos controle sobre emoções e
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 6
pensamentos). Perceba que quanto menos quiser senti-la, mas sentirá. Para isso a meditação é fundamental. Ainda é importante prestar atenção na sua respiração. Quando ansiosos diminuímos a ventilação em nossos pulmões nos tornando mais ansiosos ainda. Portanto respire fundo, certamente isso ajudará. Faça-o inspirando o ar pelo nariz e soltando pela boca. Relaxamentos que envolvem o controle da respiração são ótimos nestes momentos. Minha dica esta relacionado ao yoga, uma atividade de respiração e meditação. Os exercícios físicos podem auxiliar no controle da ansiedade? Sim, atividades físicas são fundamentais para combater a ansiedade, uma vez que liberam hormônios que combatem o cortisol, hormônio liberado pelo estresse. Ainda existem pequenas atividades que o indivíduo pode fazer para se sentir menos estressado e consequentemente menos ansioso. Se você está no trabalho e não pode sair para fazer uma atividade física, é legal colocar uma música que goste, ver fotos que agradam, realizar pequeno exercício de respiração. Se você gosta de plantas, leve uma, se possível, e quando sentir que esta ficando estressado, vá cuidar dela. Faça uma massagem. Tenha um hobby. Práticas simples como essas podem auxiliar muito nestes momentos. O importante é sair do foco e realizar uma atividade que seja prazerosa. É possível reverter a ansiedade patológica? Com certeza, dependendo do nível de ansiedade é muito importante procurar atendimento medico, pois os medicamentos podem auxiliar no tratamento. Costumo dizer que o medicamento é como uma muleta que nos auxilia a andar quando nosso pé está machucado, e a terapia é a fisioterapia que auxilia nosso pé a se firmar novamente. Uma vez ter firmado podemos soltar as muletas, mas não antes disso, pois se soltarmos antes poderemos cair. A ansiedade é crucial para nossa existência, e a forma como lidamos com ela é aprendida. Nós psicólogos podemos auxiliar na forma como as pessoas percebem as situações ansiosas, ou
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Página 7
porque as percebem dessa forma, revertendo assim a forma patológica de lidar com a mesma. Finalizo afirmando que a ansiedade é uma emoção natural, porém a procura de um psicólogo e/ou um psiquiatra pode ser fundamental quando essa emoção estiver prejudicando a qualidade de vida.
Entrevistadora: Géssica Denora Ribeiro Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina – UEL (PR), com habilitação em bacharel e formação de psicólogo. Pós-graduada no Curso de Especialização em Psicologia: Análise do Comportamento Aplicada, pelo Centro Universitário Filadélfia – UniFiL (PR). Pós-graduanda em Neuropedagogia na Educação pelo Grupo Rhema Educação/FATEC – Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí. Tem experiência em capacitação de pais e professores e intervenções psicoterápicas em grupo pautadas na Análise do Comportamento. Em avaliação neuropsicológica e intervenção psicopedagógica. Atua como Psicóloga Clínica de crianças, adolescentes, jovens e adultos no Instituto de Análise do Comportamento em Estudos e Psicoterapia (IACEP).
Página 8
CONVERSA DE PSICÓLOGO
IACEP
Rua: Malba Tahan, 420 Londrina – Paraná. Fone (43) 3029-8001 E-mail: iacep@iacep.com.br www.iacep.com.br
Coordenação editorial: Laís R. Paes e Renata Trovarelli