Revista
Tai Chi Brasil
Edição nº 13 | Out - Nov - Dez / 2011 | Distribuição gratuita e dirigida
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Entrevista com o Mestre Liu Chih Ming
Tai Chi Chuan - Eu Pratico!
Fotos de amigos prestigiando o “Grupo Tai Chi Curitiba” “As camisetas realmente ficaram lindas. É o Tai Chi promovendo a união entre os povos e regiões distantes.” BethLi. Uberlândia, MG
Foto: Newton, Angélica, Jô e Elli. Curitiba, PR
BethLi e Sara Uberlândia, MG
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Lenira, Vera e Anderson Curitiba, PR
Anjee Momoi Inúbia Paulista, SP Giordano, Levis e Celeste Curitiba, PR
Levis e Anderson Curitiba, PR
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Tai Chi Curitiba by levis litz
Nelson Santos, SP
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Revista
Tai Chi Brasil
Sumário
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Curitiba - Paraná - Brasil Edição nº 13 | 2011 ® Todos os direitos reservados Registro nº 401.197
4° ofício de registro de documentos
Editor: Levis Litz Capa: demonstração de Tai Chi com espada pelo Mestre Liu Chih Ming no Centro Cultural São Paulo. Foto/Cortesia Acervo: Tarcísio Tatit Sapienza. Colaboraram nesta edição Alex Dong, Anderson Rosa, Angela Soci, Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan - AIPT, CXWTABR, Estevam Ribeiro, CEMETRAC, Liu Chih Ming, Mateus e Luciana Maia, Roque Severino, Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan - SBTCC, Tai Chi Chuan BhMg e Tarcísio Tatit Sapienza. Agradecimentos Anjee Momoi, Aristein Woo, Arthur Dalmaso, BethLi, Giordano Tosi, Fernando, Liga Mineira Estilo Yang de Tai Chi Chuan, Patrícia Kavamoto, Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, Elli nowatzki, Flávio Prado, IFTB - Instituto de Formação em Taijiquan - Brasília, Núcleo Shandong, Equilibrius - Ribeirão Preto, Rodrigo Apolloni, Grupo Tai Chi Curitiba. Revisão Valesca Giordano Litz e Viviane Giordano Contato
revistataichibrasil@hotmail.com levislitz@gmail.com Jornalista responsável diplomado
levis litz - mtb 3865/15/52v pr
Distribuição gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações voluntárias gratuitas. Não são de responsabilidade desta revista os artigos de opinião e também as opiniões emitidas em entrevistas e depoimentos, por não representarem, necessariamente, o pensamento do editor. Por questões de espaço, objetividade e clareza, a equipe editorial reserva-se o direito de resumir os textos recebidos. Foto com pouca definição é de responsabilidade do autor. Os exemplares impressos em papel excedentes desta publicação serão doados para bibliotecas públicas.
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Mestre Liu Chih Ming
Entrevista com um mestre que adota os princípios taoístas como postura de vida e tem a intenção de ajudar as pessoas
20 “Wude” - O código de ética e moral
Diretrizes que se apresentam aos estudantes e instrutores de Tai Chi Chuan e de todas as artes marciais
25 O tempo das coisas
O Tai Chi Chuan como uma prática corporal que se estende não somente pelo corpo, mas também pela mente e pelo espírito
28 Chen Xiao Wang
Convivência e aprendizado com o Guardião do Taijiquan da família Chen
32 Quem pode ensinar tai chi chuan?
Entendimento jurídico aponta para livre atuação em Tai Chi Chuan, independente de formação acadêmica
35 Mestre Alex Dong
Foto em destaque - um incentivo a prática do Tai Chi com espada SEÇÕES 2 4 6 16 27
TAI CHI - EU PRATICO MENSAGENS & CARTAS EDITORIAL RTCB NOTAS TAI CHI - REPRESENTAÇÕES
Mensagens & Cartas
Revista Tai Chi Brasil. Curitiba - Paraná - Brasil. revistataichibrasil@hotmail.com | editor: levislitz@gmail.com Por questões de espaço e coerência, a equipe editorial reserva-se o direito de editar mensagens, depoimentos, fotos e textos recebidos.
Estilo Wu Tai Ji Quan Olá! Meu nome é Christiano e sou praticante de tai ji quan aqui em Curitiba! Primeiro gostaria de agradecer ao Levis e sua equipe por essa revista que sempre nos inspira e fortalece em nossa prática, realmente fez a diferença! Foi através dessa força que quis ir em busca de mais conhecimento! O estilo que pratico é muito escasso de professores, a minha professora aqui em Curitiba se aposentou e ela me deu dicas de que encontraria professores desse estilo talvez em São Paulo, onde foi o aprendizado dela com o Mestre Wu! Portanto, se algum aluno ou descendentes que ministram aulas desse estilo lerem essa carta gostaria de entrar em contato para possível encontro e troca de experiências, bem como a possibilidade de realizarmos workshops e seminários! Agradecido por essa oportunidade! Um abraço forte a todos! Christiano dy Lima Naturoterapeuta, Curador quântico e praticante de Tai Ji Tel: (41) 9607-1013 naturocris@yahoo.com.br “Recebi a revista e fiquei encantada ao ver meu comentário publicado na RTCB. Obrigada pela gentileza. A Revista ficou “ótima”, você como sempre fez um excelente trabalho. Já estou fazendo a maior propaganda divulgando as revistas entre meus amigos. Com certeza elas irão auxiliar a todos, que como eu, tem vontade de aprender e levarão belíssimos conhecimentos
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aqueles que não fazem nem idéia dos benefícios da prática da arte do Tai Chi Chuan. Mais uma vez obrigada e PARABÉNS a todos pelo brilhante trabalho.” Rosângela Souza Emerick Manhumirim. MG “Parabéns amigo e obrigado pela publicação, a revista deste mês esta muito linda. Parabéns a todos.” Geraldo Cerqueira Salvador, BA “Parabéns! Obrigada por compartilhar este tesouro!” Ivana Barbosa São Lourenço, MG “Professor Levis, muito grata pela revista. Excelente, como sempre divulgaremos. Abraço fraterno.” Teresinha Pereira Praça da Harmonia, Brasília, DF “Parabéns Levis... ótima edição, sobretudo a matéria que ilustra o código de ética.” Marco Aurélio Associação Chi Lum Tao Jandaia do Sul – PR” “Parabéns, a revista está muito boa, acho até que dois dos tópicos, como os do Roque Severino e o do Marcio Lacerda, poderiam ser mais comentados por todos nós taichistas. Um com relação às devidas medidas da tradição e o outro com o taichi nos dias de hoje , no trânsito. Seria bem legal, ambos
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fazem parte do que nos diz respeito como taichistas do séc. XXI.” Estevam Ribeiro Rio de Janeiro, RJ “Hola Levis: He revisado las dos revistas electrónicas que me enviaste y realmente estan muy buenas, puedo apreciar un excelente nivel profesional, te felicito por que eres el mejor periodista en artes marciales que he conocido durante mis más de 40 años de experiencia. Te comento que soy discípulo directo del Gran Maestro Zhen Zhenglei, a quien conocí en 1992 em Japón, donde viví 6 años y también fuí instructor de Tai chi de la Asociación Chino Japonesa de Osaka. También conozco muy bien al Maestro Wang Hai Jun, he recibido instrucciones de él varias veces en la China, donde viajo todos los años. Es un excelente Maestro y un gran amigo.” Juan Vásquez S. Presidente y Director Técnico de la Asociación Latinoamericana de tai Chi Chuan - Estilo Chen Peru “Olá Levis, sou fã da sua revista de tai chi desde a primeira edição. Sou de Indaiatuba que tem grupo que ensina o estilo Yang. Meus parabéns mais uma vez pelas edições das revistas de tai chi, é uma ótima oportunidade para quem gosta do assunto e poder ficar de alguma forma informado sobre essa prática tão maravilhosa.” Caio Cesar Oliveira Indaiatuba
Giordano e Fernando, praticantes de Tai Chi Chuan e leitores da RTCB.
“Tenho acompanhado no facebook as várias matérias sobre o Tai Chi Chuan. Parabéns pelas revistas. São muito bons os artigos e matérias. Fonte para conhecimento e aprendizagem. Hoje estou fazendo o curso de Tai Chi Chuan estilo Yang tradicional - forma antiga, com o Mestre Adriano em Porto Alegre CCTao. Parabéns pelo belo trabalho que está sendo desenvolvido. Todos estão de parabéns.” André Luiz Krause Rio Grande do Sul “You are doing a fantastic job of promoting taijiquan and you have my heartfelt support.” Niall O`Floinn Irlanda “Desejo todo sucesso possível a revista de vocês para a divulgação do Tai Chi! Parabéns!” Garanhuns, PE
“Olá amigos! Que excelente é a Revista Tai Chi Brasil! Felicitações!” Sela Florianópolis, SC “Ficou ótima a Revista. A capa então, lindíssima. Encomendei na gráfica 100 exemplares para serem distribuídos nas academias e espaços afins aqui em Minas para divulgar o seu trabalho. Parabéns colega!” Bethli Uberlândia, MG “Recebi o exemplar da Revista e ela está com ótima qualidade! Parabéns pelo seu trabalho! Agora temos um Fórum (www.sgi.org.br) onde você pode divulgar este trabalho para milhares de pessoas que acessam mensalmente nossa página. Fique a vontade para fazer esta divulgação!
Para nós será um prazer colaborar para a difusão do Tai Chi! Giordano Cimadon Curitiba, PR “Muito agradecido por mais um belo exemplar da revista. Grande contribuição para o enriquecimento do TCC no Brasil.” Marcello Giffoni Belo Horizonte, MG “Recebi a Revista Tai Chi Brasil, esta ótima! Parabéns pelo seu trabalho e dedicação.” Nair Curitiba, PR “Salve, Levis! Parabéns pela publicação - a comunidade de praticantes de Tai-Chi e Kung-Fu precisa cultivar o espírito crítico e sua publicação é um bom caminho para isso - grande abraço! Senda Arte Marcial Chinesa Curitiba, PR
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Editorial
No Brasil do Tai Chi: diversidade, respeito e coerência
Compartilhar seus conhecimentos sobre tai chi chuan é uma missão à qual muitos professores e praticantes dessa arte já estão engajados há muito tempo - que bacana! Isso é digno de elogio, reverência e aplauso. É importante observar que o tai chi no Brasil é cheio de contrastes, com estilos diversos, ricas experiências e, naturalmente, opiniões diferentes. Nesta edição, alguns artigos reforçam esse sentimento em relação ao tai chi. Tantas histórias, tantas impressões e cada um com sua maneira de ver e transmitir. Dessa maneira, o leitor pode conhecer um pouco melhor o que acontece em nosso gigantesco terrritório verde e amarelo. No entanto, um leitor da RTCB, com um olhar mais acurado, pode sentir falta em suas páginas de um determinado evento, a menção de alguma escola ou grupo ou de um texto sobre seu mestre etc. Que fique bem claro que, se não foi publicado pela RTCB, é porque sua equipe editorial não ficou sabendo ou não obteve acesso à informação ou justamente por seguir a ética e respeito, não foi autorizada a publicar. A RTCB também atua com coerência, não publica nada relacionado a algum eventual leitor mal intencionado, que tenta denegrir o trabalho da RTCB e questiona sua seriedade, profissionalismo e postura ética da revista e de seu editor; seja em público, no Orkut ou no FaceBook. Contudo, podem ter a certeza que a Revista Tai Chi Brasil faz, como sempre, a sua parte, trazendo enfoques diversificados naquilo que une todos nós, leitores e praticantes, com boa intenção no coração: o tai chi. Enfim, acreditamos que esse é um importante passo para compreender a realidade que permeia o tai chi, desde o Monte Caburaí ao extremo sul, o Chuí.
Um grande abraço e boa leitura,
Levis Litz editor
jornalista diplomado
Contato - Também no FaceBook Revista Tai Chi Brasil - RTCB . página na internet: www.RevistaTaiChiBrasil.com.br . e-mail: revistataichibrasil@hotmail.com Editor - Levis Litz . e-mail: levislitz@gmail.com . página na internet: www.TaiChiCuritiba.com.br ----------------------------------------------------------------------------------
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Revista Tai Chi Brasil Bibliotecas & Acervos Campinas, SP Equilibrius - Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental Av. Oscar Pedroso Orta, 222. Barão Geraldo.
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Centro de Estudos da Medicina Chinesa Av. Júlio de Castilhos, 1501. Sala 32. Centro
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Biblioteca Pública do Paraná Rua Cândido Lopes, 133. Centro. Biblioteca Hideo Handa Praça do Japão. Água Verde. Academia Paramitta Av. Visc do Rio Branco, 84. Mercês. Colégio Estadual do Paraná Rua João Gualberto, 250. Alto da Glória. Colégio Medianeira Av. José Richa, nº 10546. Prado Velho. Instituto Fu Hok | BackStage R. Guido Straube,52-B. Vila Izabel. Nutribioforma R. Jaime Balão,1150. Casa 1. Hugo Lange. SESC Paraná – Unidade Água Verde Av. República Argentina, 944. Água Verde.
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Equilibrius - Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental Rua Cerqueira César, 1825. Jd. Sumaré.
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Espaço Bem Estar (Yoga e Tai Chi Chuan) Av. Pe. Antonio José dos Santos, 1371. Brooklin Novo. Peng Lai Brasil - Artes Marciais Tradicionais Chinesas. Av. Deputado Emílio Carlos, 121. B. do Limão. Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan Rua José Maria Lisboa, 612, Sala 7.
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Entrevista com o Mestre Liu Chih Ming Por Tarcísio Tatit Sapienza
APRESENTAÇÃO
Mestre Liu Chih Ming nasceu em 1948 em Taiyuan, capital da província de Shanxi, no norte da China. Cresceu e estudou em Taiwan (República da China), onde formouse no China Medical College. Em 1979 veio para o Brasil com sua família a convite de seu pai, Mestre Liu Pai Lin, que já vivia aqui desde 1975. Mora na cidade de São Paulo, onde dirige o CEMETRAC - Centro de Estudos de Medicina Tradicional e Cultura Chinesa. Desde que chegou ao Brasil dedica-se profundamente à divulgação das Artes Marciais Internas (Tai Chi Chuan e Baguazhang), da Medicina Tradicional Chinesa, das práticas de Chi Kung, da Meditação Taoísta e do Tao como caminho de iluminação. Sua postura de ensino caracteriza-se por trabalhar de maMeditação Taoísta neira integrada todo este conhecimento. Representa as linhagens taoístas Porta do Dragão (Longmen pai), Montanha Dourada (Jinshan pai) e Kun Lun Chien Shan. Além de seu pai, teve como mestres Yang Yu Zhen, Wang Yen Nien, Wang Shu Jin e Liu Pei Zhong. Aprendeu medicina chinesa com Xiu Yang Zhai, da renomada linhagem de Agulha de Ouro. Participa ativamente das iniciativas de regulamentação profissional da Acupuntura no Brasil desde a década de 1980. Atualmente é Vice-Presidente de Honra da Federação Mundial de Acupuntura e Moxabustão (WFAS) e membro do Conselho Executivo da Federação Mundial das Sociedades de Medicina Chinesa (WFCMS). Mestre Liu Chih Ming adota os princípios taoístas como postura de vida. A intenção de ajudar as pessoas o mobiliza na direção de divulgar seu conhecimento. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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Revista Tai Chi Brasil | Tarcísio Tatit Sapienza O que é o Tai Chi Chuan para o senhor? Mestre Liu Chih Ming - O ideograma “Tai” ( ) significa muito superior, muito grande, até o máximo. O ideograma “Chi” ( ) significa sem limites. Assim, “Tai Chi” pode ser entendido como uma grandeza sem limites. Muitas pessoas sabem que o ideograma “Chuan” ( ) significa punho, mas não percebem que nele há outros significados. Na parte de baixo encontramos a representação da mão e na de cima a do ser humano. Você, o ser humano que aparece em Chuan, precisa saber usar sua mão para administrar e equilibrar Yin e Yang. Ao buscar a grandeza máxima sem limites, quando suas mãos adquirem a habilidade de dominar Yin e Yang, nasce o Tai Chi Chuan ( ). Qual é a importância da prática do Tai Chi Chuan? Zhang San Feng, o mestre que originou o Tai Chi Chuan, ensina que o sentido mais importante desta prática é promover a saúde e proporcionar a longevidade. Ele fala a todos os heróis deste mundo que lutar não é a sua finalidade principal. É uma arte marcial voltada para a defesa. Quando há uma necessidade real, num caso muito urgente, muito necessário, o praticante pode utilizá-la para se defender. Na nossa vida o mais importante é a saúde, se você não tem saúde então não tem nada. O Tai Chi Chuan ajuda a gente a ter muita saúde. Assim você pode ajudar as pessoas, auxiliar a população a ter mais
saúde e viver em harmonia. O sentido maior da prática de Tai Chi Chuan é aprender a praticar o Tao, a compreender o Tao e iluminar-se. Qual é a principal qualidade que um praticante de Tai Chi Chuan deve desenvolver? O praticante de Tai Chi Chuan deve saber que esta é uma arte da sabedoria: você tem que desenvolver sua própria sabedoria. É uma arte da compaixão: você precisa cultivar a qualidade da compaixão, saber amar e criar harmonia com todo mundo, com todos os seres vivos. É uma arte da saúde: ao manter uma boa saúde você tem mais possibilidade de ajudar os outros. É também uma arte da felicidade: proporciona um bom estado à mente, com muita luz interior, evita a depressão. Praticar Tai Chi Chuan permite trabalhar todas essas qualidades. O equilíbrio de Yin e Yang traz muita paz e harmonia, dificilmente você vai entrar em conflitos. Também pode desenvolver sua capacidade de influir positivamente nas outras pessoas, de transmitir equilíbrio. Assim, naturalmente, todo mundo também se transforma, a sociedade vai se modificando e o país muda. Que conselhos daria para aqueles que estão começando a praticar Tai Chi? Para os iniciantes minha primeira sugestão é procurar um bom orientador. Ao escolher o professor recomendo conhecer a história de sua linhagem. Você precisa saber
Mestres Liu Chih Ming e Liu Pai Lin (Poesia)
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qual é a fonte da água que vai tomar. Além de aprender os movimentos e suas aplicações você precisa saber da teoria, dos benefícios de cada movimento. O I Ching orienta: “o sábio precisa aprender do movimento constante do Céu, ele não para.” É muito importante praticar o Tai Chi Chuan com constância. É necessário dedicar tempo à prática, é um treino para a vida toda, não apenas para quando se está doente. É importante conhecer um segredo de nosso mestre, o espírito do Tai Chi Chuan: você não pode usar força. Usa o quê? Usa sua intenção, sem usar força. O movimento deve fluir contínuo como o da água de um rio que se dirige ao mar, não pode ter interrupções. É preciso ser natural, saber respeitar-se ao realizar o Tai Chi Chuan. O corpo, a natureza e a condição física de cada pessoa são diferentes. Você não pode pensar: “Ah!, eu vi alguém que faz um movimento mais difícil, assim deve ser melhor.” Não é, porque Tai Chi significa ser natural: respiração natural e movimento natural. Qual é tempo mínimo, por semana, que recomenda praticar o Tai Chi Chuan? Recomendo de uma hora até uma hora e meia de prática diária. Quando sua energia interior unida ao vento da respiração ativa seu fogo interno, aí você começa a transpirar naturalmente. O tempo ideal de treino é quando ocorre esta transpiração leve. Este tempo não precisa ser dedicado apenas à arte marcial. Por exemplo, de manhã você pode começar com a prática da meditação e seguir com a respiração dos Seis Sons, o treinamento das Doze Sedas, o Ba Duan Jin, o Chi Kung Taoísta e o Tai Chi Chuan. Para quem é muito ocupado, muito dedicado ao trabalho, tem muito serviço, enfrenta muita correria e não pode parar para praticar todos os dias, minha sugestão é treinar no mínimo três vezes por semana.
Por que há poucos jovens engajados na prática do Tai Chi Chuan? Hoje os jovens não encontram tempo para praticar Tai Chi Chuan: tem que estudar, fazer lição de casa, prestar vestibular, ir a muitas festas de noite e também namorar. A maioria não gosta do que parece ser lento, prefere as coisas mais modernas, rápidas e coloridas. Por ainda não manifestarem problemas de saúde não sabem apreciar a preciosidade destes ensinamentos, não entendem porque deveriam praticá-lo. O Tai Chi Chuan é uma prática muito importante para o jovem que queira ter mais saúde, ser mais bonito, ter mais força, mais luz de vida. Assim poderá estudar melhor, abrir sua inteligência para que o estudo na escola seja perfeito. O aprendizado do Tai Chi ensina a manter o equilíbrio emocional e a viver em paz e harmonia com todo mundo, na escola e em casa. Os jovens que já praticam Tai Chi Chuan tem uma visão muito profunda, muito sábia, percebem como ele é precioso. Por isto desde cedo seguem o treinamento, parece que veem a prática como um tesouro, não param de buscar este caminho, de praticar, de aprender. Poucos jovens tem esta visão. Eles trazem uma semente antiga, uma consciência de outra vida: já aprendeu, já sabe como o Tai Chi é bom. O aspecto terapêutico da prática do Tai Chi a torna mais indicada para idosos? A prática de Tai Chi Chuan é uma arte marcial que favorece a circulação adequada da energia pelos canais energéticos e colaterais (jing luo), os mesmos meridianos trabalhados pela Acupuntura. Podemos aumentar nossa imunidade e prevenir as doenças ao equilibrar a energia (Chi) e o sangue (Xue) e estabelecer
Centenário de nascimento do Mestre Liu Pai Lin www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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“EMPURRAR”
Baguazhang “Condor estende as asas” a harmonia entre o Yin e o Yang do corpo, os órgãos e vísceras (zang fu). Atualmente há muitas pesquisas internacionais que comprovam seus benefícios para os idosos. Quem pratica Tai Chi Chuan pode retardar seu envelhecimento. A respiração profunda ativa o fogo de vida e tonifica a energia dos rins. A fabricação natural de hormônios é estimulada, mantendo o equilíbrio hormonal. O treinamento regular ajuda a tonificar os músculos, tendões e ossos e permite evitar as quedas e fraturas que fazem tanto mal para saúde do idoso. A movimentação suave estimula a fabricação do líquido que lubrifica nossas articulações, como o cotovelo e o joelho, assim facilita os movimentos e previne os problemas de reumatismo, artrite e artrose. Por ser uma forma de meditação em movimento, o Tai Chi Chuan pode acalmar as pessoas, sossegar a mente e ajudar todos a dormirem mais tranquilos. Também pode evitar os problemas de depressão, ativar a memória e prevenir o alzheimer. Com que idade começou a praticar Tai Chi Chuan? Quais suas memórias mais antigas? Como era a sua prática? Comecei a praticar Tai Chi Chuan com seis anos, aprendendo com o Mestre Pai Lin. Meu pai era muito disciplinado, normalmente fazia o despertador tocar sempre às quatro e meia da manhã. Ele acordava
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e levantava para fazer exercícios na cama, como as práticas de alongamento. Eu acordava mas fingia ainda estar dormindo. Ele começava indo beber água, descia e depois fica ao meu lado, andando, andando, andando, mas ainda não queria acordar o filho. Mais ou menos às cinco horas ele me acordava: “levantar, tem que levantar!” Não podia ir dormir muito tarde porque ele sempre me chamava bem cedo. Às vezes minha mãe pedia que não acordasse seu filho, ainda muito pequeno. Ele respondia: “tem que treinar, tem que treinar!”. Aí eu acordava e ia andar junto com ele. Antes de sair de casa meu pai sempre me preparava um copo de água morna, isto eu nunca esqueço: água morna, não gelada, sempre morna. Falava “tem que beber água antes de sair de casa comigo”. Eu passava com ele um bom tempo. Durante o inverno saíamos ainda em meio da escuridão e caminhávamos meia hora para subir a montanha. O treino começava sempre pela respiração para eliminar o turvo e receber a energia pura. Captávamos energia de céu, da terra, do sol e até das árvores. A seguir treinávamos Ba Duan Jin e alguns exercícios de Chi Kung e depois praticávamos Tai Chi. A medida que fui crescendo começamos a praticar também o empurrar as mãos (Tui Shou) e outras artes marciais. Minha memória nunca esquece desta cena: o sol a nascer, os passarinhos cantando, muitos insetos cantando no verão... Estes sons, esta cena, ainda estão na minha cabeça, entre as lembranças mais antigas. Quem foram seus mestres? O primeiro mestre é meu pai, Liu Pai Lin, o mestre de minha vida. Seu irmão de linhagem Yang Yu Zhen é meu segundo mestre. Ele presidiu a Associação Internacional de Tai Chi Chuan de Taiwan (República da China). Papai morava em Taichung, no centro da ilha, e ele morava na capital Taipei, ao norte. Agradeço a ele por me acolher em sua casa na época que cursei a faculdade de tecnologia, tinha então cerca de 22 anos. Como meu pai, de manhã ele sempre treinava comigo. Ensinou-me o
“Tai Chi Chuan da tradição secreta da família Yang” e a Espada Tai Chi. Meu terceiro mestre é Wang Shu Jin, da terceira geração de Baguazhang. Ele me ensinou Baguazhang, a “Espada dupla de baguazhang”, a “Espada do yang absoluto” e a mesma forma de Tai Chi Chuan ensinada pelo Mestre Chen Pan Ling. Wang Yen Nien, também irmão de linhagem de meu pai, é meu mestre de Tui Shou. Mestre Yang Yu Zhen sempre me levava para treinar no local onde ele orientava a prática de Tui Shou, o congresso legislativo do governo de Taiwan. Meu mestre de Acupuntura e Medicina Chinesa é Xiu Yang Zhai, uma influência muito importante em minha vida. Depois do casamento morei e trabalhei na capital de Taipei, lá aprendi acupuntura com este mestre da linhagem da Agulha de Ouro. Estudava de noite e nos fins de semana, contando sempre com a ajuda e compreensão de minha senhora Liu Lin Po Ju. Ao voltar para Taichung aproveitei a oportunidade para aprender junto com papai e Mestre Yang Yu Zhen práticas internas meditativas (neigong) com Mestre Liu Pei Zhong, representante de uma linhagem taoísta especial, a linhagem de Kun Lun. Pode contar alguma situação engraçada ou curiosa envolvendo o Tai Chi Chuan? Papai me contou diversas histórias de seu mestre, Zhang Qin Ling (1887-1967). Ele trabalhava como general em Taiyuan, capital da província de Shanxi, quando teve a oportunidade de aprender com este grande mestre. Ele contava que na época do famoso Mestre Yang Cheng Fu (1883-1936), muitos vinham de longe para desafiá-lo a comprovar qual mais forte. Ele recusou-se a lutar com uma pessoa muito incomoda e insistente que o provocava a brigar dizendo não aceitava seu desafio por ter medo. Zhang Qin Ling saiu e apresentou-se dizendo que não era um discípulo, apenas trabalhava naquela
Movimento: “Moça graciosa trabalha a lançadeira” www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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Retratos dos Mestres do Mestre Liu Chih Ming
Yang Jian Hou
Wang Shu Jin
Wang Yen Nien
Liu Pei Zhong
Zhang Qin Ling Yang Yu Zhen
Xiu Yang Zhai
casa, mas se fosse vencido depois o desafiante poderia lutar com o mestre. Ele já tinha muito conhecimento, aprendido pela observação. O desafiante falou: “você não é nada, nem mesmo é discípulo, deve ser bem fraco.” Quando os dois entraram em combate, no contato de braço com braço o adversário logo teve um osso quebrado e fugiu rapidamente ao perceber que naquele lugar havia muitas pessoas especiais. Outra história interessante é de quando Zhang Qin Ling ensinava o movimento de Tai Chi Chuan “Acompanhar a cauda do pássaro” (Lan que wei). Ele pegou um passarinho na mão para demonstrar para papai. Quando o passarinho está querendo voar, primeiro tem que se encaixar na mão, sedimentar, depois consegue voar. Mas quando o passarinho tentava se encaixar o mestre descia sua mão, quando queria voltar a subir ele acompanhava seu movimento, sem deixar o passarinho levantar voo. Para falar deste movimento é preciso conhecer esta teoria, o significado de seu nome. Você está mexendo a mão acompanhando o passarinho mas nunca deixa que ele saia de seu controle, quando ele quer voar você equilibra Yin Yang para que ele nunca tenha pontos de apoio, ele sempre fica no vazio, sem pontos fixos para conseguir voar. Você tem de praticar este nível de sensibilidade ao “Acompanhar a cauda do pássaro”. O que é ba gua? O Ba Gua (ou Pa Kua) é uma representação dos 8 fenômenos do mundo material, da natureza, incluindo: Céu, Terra, Água, Fogo, Trovão, Montanha, Vento e Lago.
Foi criado por Fu Xi, um grande taoísta que viveu há quase 6 mil anos. Entre as referências escritas mais antigas a este conceito encontramos as explicações de Confúcio para o I Ching. Os trigramas do Ba Gua são construídos a partir da combinação de linhas Yin e Yang: as linhas yang são as cheias, as yin as quebradas. O Baguazhang é uma arte marcial de origem taoísta. Não há registros históricos de quando foi criado. Dong Hai Chuan, o primeiro mestre reconhecido desta linhagem, viveu na China durante a dinastia Qing e declarou ter aprendido esta arte marcial com dois taoístas na montanha. Esta arte utiliza movimentos em torno de círculos para realizar combinações correspondentes aos oito trigramas (Ba Gua) que representam a natureza do universo. Ao realizar estas mutações de Yin Yang em todas as direções emprega movimentos circulares da palma como defesa e ataque. O aprendiz pode compreender melhor as mutações das energias Yin Yang, saber mais do passado e do futuro e aprofundar-se na busca da iluminação.
Baguazhang - Seminário - Palma Simples
Abraçar o Universo - China.
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Em alguma ocasião precisou empregar seu conhecimento de artes marciais como defesa pessoal? Sempre preferi evitar conflitos, são desnecessários. Quando nos mantemos em paz não há necessidade de
Além da harmonia com a sua própria família, terá muito harmonia com as outras pessoas. As pessoas próximas, como seus colegas de trabalho, também vão sentir isto em você. Quando é manifesto o respeito ao outro, a outra pessoa também sabe te respeitar. Assim podem ser evitadas muitas brigas.
Baguazhang com duas espadas lutar com outras pessoas. Como diz Zhang San Feng, no aprendizado do Tai Chi Chuan, a luta é um aspecto secundário, o mais importante é a saúde e longevidade do praticante. Ele orienta todos os heróis deste mundo a considerar esta arte desta forma. Mas há ocasiões onde você pode precisar utilizar esta arte marcial para lutar. Quando não se conhece sua aplicação o Tai Chi Chuan pode aparentar ser muito yin, mas quando aplicados seus movimentos são muito fortes e poderosos. Cada movimento pode deixar instantaneamente a pessoa machucada ou caída. Há três tipos de ocasião que justificam lutar: em casos urgentes ligados com a segurança nacional de seu próprio país, o país deve ser colocado em primeiro lugar; nas situações que envolvem a segurança de muitas pessoas, se você pode salvá-los também deve usar seu conhecimento; ou quando você testemunha um crime e tem 100% de certeza da possibilidade de vencer um bandido sem arriscar ninguém, quando você vê que ele não tem muita força nem arma, você pode aplicar sua arte marcial. Como consegue equilibrar a sua vida cotidiana familiar com o Tai Chi Chuan? Tai Chi Chuan é uma prática de sabedoria. É uma arte marcial de compaixão. É uma prática de saúde. É uma arte marcial de alegria e felicidade. É uma arte marcial para manter a paz. Se você sempre pratica Tai Chi Chuan, então vai se transformando, vai mudando, fica mais sábio, com mais compaixão, mais saúde, mais felicidade e paz.
Como era conviver com o Mestre Liu Pai Lin? Mestre Pai Lin foi general, por isto quando jovem usava regras de disciplina, como todo militar. Eu lembro que na juventude era muito rigoroso, ele tinha que olhar todas as coisas, e se não estivesse certo então agia com muito rigor. Mas ele era muito carinhoso comigo. Quando meu pai tornou-se general, quase aos quarenta anos, nasceu este filho, por isto ele me chamava desde pequeno de “filho velho”. Na China daquela época os casais costumavam casar cedo e ter filhos bem jovens. Até hoje ainda me lembro dele me chamar assim. Desde criança ele cuidava de mim, eu estava sempre perto dele. Ele costumava carregar uma foto minha, era muito, muito bom. Eu ainda me lembro que na cidade de Taichung, todas as vezes que voltávamos do treino matinal eu ganhava uma coxa de frango assado quando passávamos por uma loja do caminho. Assim o filho estava sempre feliz, e o pai também. O que caracteriza o Tai Chi Chuan Pai Lin? O Tai Chi Chuan Pai Lin tem um caráter muito especial. Para entender você precisa compreender seu outro nome: Tao Kung Chuan. O mestre do Mestre Liu Pei Zhong, que viveu em Pequim no Palácio da Cidade Proibida, denominou assim sua arte. Quando ensinou a Liu Pei Zhong falou: “esta arte marcial de Tai Chi Chuan tem como nome Tao Kung Chuan, chama-se prática de Tao.” Internamente, este treinamento permite desenvolver uma grande sabedoria. Externamente, pela movimentação e pela respiração despertamos nossos três tesouros originais: o espírito original (shen); a energia original (chi); e a essência original (jing). Por meio da respiração e da intenção ativamos os 12 meridianos comuns e os 8 meridianos extraordinários possibilitando uma circulação perfeita de sangue e energia. Nossa energia interior pode ser combinada com as do Céu, da Terra, e de todos seres vivos da natureza, assim permitindo realizar a união de Céu, Ser Humano e Terra. O Tai Chi Chuan Pai Lin tem este caráter. É uma prática de Tao Kung Chuan. Seu objetivo final é desenvolver a sabedoria e utilizar nossa energia interna para integrar Céu, Ser Humano e Terra e assim alcançar a união com o Tao. Quando você assiste uma demonstração de Tai Chi Chuan Pai Lin, com certeza repara que já no início há algumas diferenças em relação aos outros estilos de Tai Chi Chuan. O Tao Kung Chuan tem movimentos característicos que não existem em outros estilos, como:
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“Abraçar o universo” (ou “Postura da àrvore”), “Unir os três tesouros”, “Balançar Yin Yang” e “Rolar o Tai Chi”. Estes movimentos diferentes são ligados à linhagem de Kun Lun, à transmissão do Mestre Liu Pei Zhong. Poderia nos falar mais do Mestre Zhang Qin Ling e da prática de Yangjia Michuan Taijiquan, a “tradição secreta da família Yang”? Quando o Mestre Yang Jian Hou (1839–1917), filho do criador do estilo Yang de Tai Chi Chuan, viu Zhang Qin Ling defender a honra da família e derrotar seu desafiante, decidiu recebê-lo como discípulo. Chamou-o de noite para dentro de sua cela e disse: “você cuidou de nossa família, manteve nossa fama de invencibilidade, por isto eu vou te ensinar agora os segredos do Tai Chi Chuan.” Estes segredos são realmente muito preciosos, naquela época os conhecimentos mais profundos eram ensinadas apenas para os discípulos mais próximos. Wang Yen Nien e meu pai trabalharam como militares no mesmo lugar e tiveram a oportunidade de aprender com Mestre Zhang Qin Ling esta forma de Tai Chi Chuan, o estilo secreto da linhagem Yang. Mestre Liu Pai Lin, Mestre Wang Yen Nien e Mestre Yang Yu Zhen praticaram este estilo secreto de Tai Chi Chuan ensinado por Zhang Qin Ling. Após aprender com Mestre Liu Pei Zhong meu pai incorporou ao início de sua prática movimentos diferentes, próprios do Tao Kung Chuan, ligados ao conhecimento do Tao. Quais são os requisitos para um praticante de Tai Chi Pai Lin tornar-se professor? Este é um assunto muito importante. Pai Lin já passou, mas os treinamentos desta linhagem são práticas preciosas que precisam ter continuidade.
Captando energia
Muitos aprenderam Tai Chi Pai Lin, mas como saber quem tem nível, quem tem qualidade para ser bom professor? Para ter condição de ensinar os outros, você tem que saber realizar os movimentos corretamente, conhecer os aspectos teóricos e também precisa ser uma pessoa muito boa. Os discípulos e os alunos que passaram pela formação taoísta com Mestre Pai Lin, aprenderam este Tai Chi Chuan, passaram muitos anos praticando, já tem sua própria experiência de movimento e um conhecimento profundo da teoria tem condições de serem bons professores de Tai Chi Pai Lin. Antes de sua passagem meu pai conversou comigo
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da necessidade de no futuro criar uma avaliação. Para realizar esta orientação de Mestre Pai Lin criei no CEMETRAC um departamento para examinar os interessados em ter um certificado de qualificação profissional em Tai Chi Chuan Pai Lin. Realizo anualmente exames práticos e teóricos. São prérequisitos ter boa saúde física e mental e também ser uma pessoa com boa conduta. Quem já prática há muitos anos e considera que tem uma boa prática, pode vir e me mostrar. Com a passagem de seu pai o senhor assumiu a missão de dar continuidade à divulgação dos conhecimentos taoístas de sua linhagem no Brasil? Sim. Meu pai antes de passar me falou: “Filho, você aprendeu muito com diversos mestres, eu mesmo te levei a fazer a iniciação com a maioria deles. Não precisa se preocupar em divulgar apenas o conhecimento que eu transmiti. Você pode ensinar tranquilamente as coisas que aprendeu com os outros mestres, não precisa cuidar só de minha parte. Tem muita coisa que não pude fazer, mas você tem de realizar.” Para ser fiel aos ensinamentos do Mestre Pai Lin é preciso ter uma visão tão ampla quanto a dele. O caminho taoísta não é limitado, é muito amplo, nele há muito tesouros preciosos. Eu assumi esta missão a pedido de meu pai, continuarei a divulgar os conhecimentos taoístas de nossa linhagem para ajudar o povo brasileiro a ter mais saúde, mais felicidade e mais paz. Ele realmente me preparou para cumprir este objetivo, esta missão, desde o início. Ele me disse: “você tem de aprender três coisas, a medicina do equilíbrio, a arte marcial interior e os treinamento taoístas de busca da iluminação”. Para seguir a orientação de meu pai eu deixei a faculdade de tecnologia e uma profissão boa no governo, recomecei a vida passando pelo exame para estudar medicina chinesa, escolhi sózinho apenas meu mestre de acupuntura. Estas três referências indicaram meu destino. Eu gostaria de continuar a divulgar estes tesouros e de ajudar os meus alunos a seguir o caminho que combina estes três aspectos do conhecimento taoísta. Esta é a minha missão. Pode comentar a homenagem que a RTCB fez ao dedicar a primeira edição ao Mestre Liu Pai Lin? Eu apreciei muito, fiquei emocionado ao ver esta edição. É um trabalho muito bom, com diversas informações para os leitores conhecerem mais sobre a linhagem de treinamento e prática de Tai Chi Chuan do Mestre Liu Pai Lin. Gostaria de agradecer a Revista Tai
Chi Brasil e de parabenizá-la por seu sucesso no trabalho de divulgação do Tai Chi. Espero que seja cada vez mais lida e conhecida pelas pessoas. Alguma mensagem para os leitores da RTCB? Mantenham sempre a mente tranquila e estável. Lao Zi diz: “o espírito humano tem afinidade com a pureza e serenidade, mas o coração é inquieto, é sempre atraído pelos desejos. Uma pessoa sábia precisa reduzir seus desejos não necessários ao mínimo.” Recomendo a todos meditar. O primeiro passo é cortar os desejos desnecessários e deixar o coração retornar à serenidade. Quando o coração está sereno o espírito naturalmente volta a ser puro. Este caminho é muito simples, inicialmente talvez você precise de um pouquinho de intenção para cortar estes desejos, depois apenas permitir-se ficar mais calmo. Quando pensamos demais a energia vital dispersa-se de dentro para fora, num movimento centrífugo. Ao retornarmos à luz original a energia se renova e preservamos a saúde. Vivam sua vida diária em harmonia com a natureza. Combinem seus horários com os da natureza, de noite não durmam tarde: procurem sempre dormir antes das onze horas para preservar a energia e a vitalidade. Mantenham uma alimentação regular e natural, sempre ingerindo os alimentos mais naturais disponíveis. Cuidem de alimentar-se das cinco cores, dos cinco sabores, para assim fortalecerem seus cinco órgãos e vísceras. Pratiquem atividades físicas para regular e equilibrar a saúde. Para manter a energia escolham um exercício para fazer todos os dias, como o caminhar. Pessoalmente, recomendo escolher praticar Tai Chi Chuan. Sempre pensem coisas boas e realizem boas ações. Não façam maldades, sempre respeitem os outros e cultivem a compaixão, assim vocês poderão viver vidas plenas de saúde, felicidade e paz. Eu desejo a todos os leitores muita saúde, muita felicidade e muita paz.
Mestre Liu Chih Ming
CEMETRAC - Centro de Estudos de Medicina Tradicional e Cultura Chinesa. Rua Pirapitingüi, 156 - Liberdade, São Paulo - Tel. (11) 3209-8189
www.cemetrac.com.br -----------------------------------------
O Mestre Liu indica aos interessados em aprender Tai Chi Pai Lin que consultem a lista de locais de prática disponível no blog: “Aprender Tai Chi” http://aprendertaichi.blogspot.com
Texto do Mestre Liu Chih Ming Poema de filho para pai Meu pai aprendeu com o grande mestre supremo Lao Zi, que partiu da porta da China a outros lugares para transmitir a essência dos ensinamentos taoístas. Veio à América do Sul, ao Brasil, com uma nuvem de compaixão. Sua transmissão caiu como chuva e regou as sementes taoístas aqui semeadas, para que ainda cresçam muito. Seguiu o caminho dos antigos seres iluminados que vieram a este mundo com a missão de orientar o futuro e transmitir ensinamentos a serem passados de geração em geração. Seu coração é livre e sábio, muito redondo. Senhor de uma visão global muito ampla, sem nenhum apego. Ao partir, trocou seu corpo físico de general, a nobreza e a coragem de seus ossos, por um novo corpo iluminado.
A foto reproduzida no quadro em que o Mestre Liu escreveu a poesia foi feita no Brasil para uma revista pouco tempo após sua chegada a São Paulo, cerca de 1981. O texto foi escrito em 2001 como homenagem da cerimônia realizada no Memorial do Mestre Liu Pai Lin, no CEMETRAC, um ano após sua passagem (2/2/2000). Agradecimento A equipe RTCB agradece imensamente a colaboração de Tarcísio Tatit Sapienza e do Mestre Liu Chih Ming. Fotos: Acervo/Tarcísio Tatit Sapienza. [Comente este texto: revistataichibrasil@hotmail.com]
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RTCB Notas Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
práticas do tai chi chuan na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. Contato: Bethli - ligamineiradetaichichuan@gmail.com.
Brasilia, DF
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[Tai Chi Chuan] Por ser um treinamento de baixo custo, com aplicabilidade versátil, pode ser incorporado nos programas de exercícios para pessoas idosas, cardiopatas e hipertensas. “Trata-se de uma das Práticas Integrativas de Saúde (PIS) que fazem parte do Núcleo de Medicina Natural e Terapêutica de Integração da Secretaria de Saúde do DF, na modalidade práticas corporais”, afirma a gerente do Centro de Saúde nº 4, Tânia Marcial. Segundo a gerente, são reconhecidas pelo Ministério da Saúde como parte integrante da saúde integral da pessoa, pois promovem bem-estar físico e mental aos praticantes. Por Patrícia Kavamoto [Fonte: http://www. saude.df.gov.br/003/00301009. asp?ttCD_CHAVE=156782].
Curitiba, PR
Tornar-se um representante oficial do Tai Chi da Família Yang em Curitiba São Paulo, SP
Programa de Práticas Integrativas e Complementares na Rede Pública
A Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan (SBTCC) tem interesse em ter sua representatividade do Tai Chi da Família Yang na cidade de Curitiba. Para tanto, os interessados devem fazer o curso de “Capacitação Profissional no Tai Chi Chuan da Família Yang”, realizado pela entidade. Maiores informações: www.sbtcc.org.br
Uberlândia, MG
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A Liga Mineira de Tai Chi Chuan está engajada no Projeto que abrirá as portas no Programa de Práticas Integrativas e Complementares na Rede Pública, bem como na divulgação em massa das
A importância do aprendizado das armas nas artes marciais chinesas e a
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compreensão da cultura chinesa ao entender o significado da Dança do Leão
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Aconteceu na Escola de Tai Chi Paramitta, 18 de setembro, uma belíssima apresentação de Dança do Leão, da Escola Senda de Curitiba, sob a orientação do professor Rodrigo Apolloni e a participação de seus alunos: (Michèlle, Claudinei, Wilsterman, Celia, , Thiago e Juliano). A performance foi realizada após palestra/aula do Professor Apolloni para alunos do curso de Especialização Lato Sensu em Tai Chi Chuan. O tema foi sobre “A importância do aprendizado das armas nas artes marciais chinesas e a relevância da compreensão da cultura chinesa ao entender o significado da Dança do Leão”. Também houve demonstrações de utilizações e aplicações de armas em que os alunos da Senda demonstraram técnicas de sabre. O momento contou com a presença também dos professores Jorge Jefremovas e Edecir Martins. O professor Rodrigo Apolloni é praticande de Tai Chi Chuan e Kung-Fu (Shaolin do Norte) desde 1985. É mestre em Ciência da Religão pela PUC-SP e doutorando em Sociologia pela UFPR.
RTCB Notas II Contato: rwapolloni@gmail.com | www.shaolincuritiba.com.br
Uberlândia, Minas Gerais, on-de foi votado o Projeto de Lei instituindo no calendário Oficial de Eventos do Município o Dia Mundial do Tai Chi, a ser realizado no último sábado do mês de abril. O Projeto foi apresentado pelo Dr. Adriano Zago e membros da Liga Mineira de Tai Chi Chuan em Uberlândia. Contato: Bethli - ligamineiradetaichichuan@ gmail.com. -------------------------
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Projeto de Lei institui, no calendário Oficial de Eventos do Município, o Dia Mundial do Tai Chi Chuan
Audiência pública sobre Práticas Integrativas e Complementares no estado do Paraná. Curitiba, PR
Uberlândia, MG
Dia 05/10/2011 - Data marcada para uma Audiência Pública na Câmara de Vereadores de
A Presidente da Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan, Elli Nowatzki, acompanhada por outro Diretor da mesma entidade, José Tarcisio Aguilar, e o prof. Jorge Jefremovas, professor da Academia Senda, compareceram em segunda audiência pública no dia 13 de setembro, na Assembléia Legislativa do estado do Paraná (Plenarinho) para dar apoio a Luci Hayashi, representando as práticas corporais chinesas.
Seminário Internacional de Tai Chi Chuan com o Mestre Yang Jun Ribeirão Preto, SP De 11 à 16 de novembro de 2011 no SESC Pinheiros em São Paulo, SP. Mestre Yang Jun mais uma vez prestigia o Brasil na transmissão do Tai Chi Chuan da Família Yang. Excelente oportunidade para receber ensinamentos diretos de um mestre de uma tradição viva. Um grande grupo será formado para ir de Ribeirão Preto para São Paulo para aprender com o mestre. Veja todas as informações sobre este seminário no site: www.taichichuan. com.br -------------------------
Senda - 20 anos Curitiba, PR A Senda - Escola de KungFu, Tai-Chi e Chi Kung está com-
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RTCB Notas III pletando vinte anos. A caligrafia foi produzida especialmente para a celebração. Todos os praticantes de KF e TCC estão convidados a festejar conosco. Informações: www. shaolincuritiba.com.br
ano que vem já está marcado para os dias 7, 8, 9 e 10 de setembro, com o ganho de mais um dia, totalizando 20 horas de seminário. “Tai Chi Chuan BhMg” é uma escola de Tai Chi Chuan tradicional da família Dong - www.taichichuanbhmg. com.br - Contato: taichichuanbh@ gmail.com. Também leia um pouco mais sobre o Mestre Alex Dong em entrevista concedida a Revista Tai Chi Brasil (www.RevistaTaiChiBrasil.com.br), edição nº 6.
Associação de Tai Chi Chuan (AIPT) presta homenagem ao Vereador Mário Celso Cunha
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Mestre Alex Dong no Brasil Belo Horizonte, MG O evento se realizou nos dias 3, 4 e 5 de setembro em Belo Horizonte, MG, no clube da AABB (Associação Atlética do Banco do Brasil) de Belo Horizonte, com o apoio daquela entidade. Foi um sucesso com participação de praticantes de Porto Alegre e de São Paulo. A boa notícia é que inclusive o do
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Instructorado superior en Yang Tai Chi Chuan y Qi Gong
Curitiba, PR
Argentina Modalidad intensiva semipresencial. Todo lo referido a la técnica, terapéutica y teoría de estas fascinantes disciplinas chinas. 18 módulos de completa formación. Cierre de Inscripción a valores promocionales, 5 de octubre. Se requiere inscribirse previamente. Av Córdoba 1819 esq Callao, CABA - www.centrolikan.com.ar.
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No dia 11 de agosto, a Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan (AIPT) conferiu - representada por sua presidente Elli Nowaztki - uma certificação de homenagem ao vereador de Curitiba Mário Celso Cunha, com Votos de Congratulações e Louvor pelo bom trabalho que vem realizando na promoção do bem estar e melhoria da qualidade de vida na comunidade curitibana, especialmente com o seu incentivo e apoio ao reconhecimento do “Dia Mundial do Tai Chi Chuan” na capital do Paraná. AIPT: www.aipt.org.br
RTCB Notas IV Tai Chi Chuan Uma Via Para o Tao Brasília, DF O IFTB - Instituto de Formação em Taijiquan de Brasília convida seus alunos e professores para o lançamento do Documentário “Tai Chi Chuan : uma via para o Tao”. O IFTB participou das gravações das imagens e é um dos apoiadores desta iniciativa, tão importante para a divulgação e promoção da prática do Taijiquan e sua filosofia. O Documentário é fruto de uma ação conjunta da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, através do Museu Nacional do Conjunto Cultural de Brasília,
com a Associação Being Tao e seus parceiros, em comemoração aos 37 anos da prática do Taijiquan na Praça da Harmonia Universal, em Brasília. Data: 06/10 [quinta] - 20h. Local: Museu Nacional do Conjunto Cultural de Brasília. Entrada Franca. Informações: cursoiftb@gmail.com -------------------------
3º Torneio de Tai Chi Curitiba, PR O Instituto Fu Hok de Cultura Marcial Chinesa em parceria com a AIPT - Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan, realizou o III Torneio de Confraternização entre Praticantes de Tai Chi Chuan. O evento, que foi
prestigiado pelas principais escolas de Tai Chi Chuan de Curitiba, ocorreu dia 25 de setembro, na Praça Oswaldo Cruz.
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“Wude” - Código de Ética e Moral Por Roque Severino
(Continuação)
No artigo anterior apresentei a forma de como nós devemos apresentar e olhar a figura do Mestre. A partir deste artigo então lhes apresento as diretrizes que se apresentam aos estudantes e instrutores não só de Tai Chi Chuan e sim de todas as artes marciais. E meu desejo que possam aproveitar estes ensinamentos.
1 - SEJA HONESTO E MANTENHA SUAS PROMESSAS Quando falamos sobre o Tao do Tai Chi Chuan, falamos principalmente sobre as práticas de: 1 - Escutar os ensinamentos. 2 - Contemplar o significado daquilo que ouvimos e 3 - meditar sobre o significado daquilo que entendemos. Usamos essa forma de ouvir, contemplar e meditar para trazer o ensinamento à nossa experiência de vida , desta forma estas três atividades são da maior importância.
que é aprender já torna-se humilde e um verdadeiro colaborador de seu professor na arte de ensinar aos seus colegas principiantes. Este é o aluno que é difícil de encontrar. Hoje em dia, encontramos muitos que, apenas conhecendo um pouco a forma de Tai Chi, já se autodenominam mestres, obrigando seus alunos a serem chamados de mestres. O verdadeiro Mestre não obriga ninguém a chamá-lo assim, simplesmente o aluno por si só sabe que ele está na presença de um mestre. Não esqueçamos que o verdadeiro poder da prática do Tai Chi Chuan consiste em sermos capazes de domar nossa própria mente.
“Não esqueçamos que o verdadeiro poder da prática do Tai Chi Chuan consiste em sermos capazes de domar nossa própria mente.”
Escutar os ensinamentos quer dizer escutar com o coração e não com a mente discursiva. Dentro deste contexto nós podemos encontrar três tipos de alunos que se assemelham a três copos: a - O primeiro tipo de aluno é como um copo que está de boca para cima, porém está rachado, aos poucos esquece todo o ensinamento oferecido pelo seu professor. b - O segundo tipo de aluno é como um copo que está de boca para cima, porém tem veneno dentro, tudo o que ele escuta o reinterpreta de acordo com a sua conveniência pessoal, adulterando e comprometendo os ensinamentos originais. Mistura suas interpretações próprias sem sequer se dar o trabalho de conferir se sua abordagem é correta ou não. c - O terceiro tipo de aluno é aquele que todos nos devemos tentar ser, ou seja aquele que escuta com o seu coração, treina em silêncio e quando encontra uma dificuldade imediatamente pergunta ao seu mestre. Ele, ao mesmo tempo, ao comprovar o difícil
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Se tudo o que fizermos for treinar mecanicamente as posturas, ou treinar de tempos em tempos, isso pode ser benéfico, mas não será o suficiente para domar nossas mentes e atingir uma realização maior. Em vez disso, para domar nossas mentes, necessitamos nos observar e compreender o porque – por exemplo – não conseguimos assimilar um ensinamento em especial quando o mesmo implica em relaxar e realizar um movimento circular. Assim, o fator primário para termos sucesso em domar nossas mentes está atrelado a treinar corretamente as posturas fixas, ser capazes de realmente escutar as indicações de nosso professor, e depois tentar seguir aos outros seja no treino da forma ou no treino a dois (tue shou). Em especial, no treino a dois, encontramos muitas dificuldades, sejam elas externas (no aprendizado da técnica) e internas (no tocante ao relacionamentos com os nossos colegas), estas dificuldades nos mostram o que deve ser trabalhado e transformado.
Neste momento, o treino do Tai Chi Chuan adquire praticamente o estágio da Meditação em Movimento, entendendo a palavra Meditação como um sistema que nos leva a prestar atenção aos nossos estados mentais, por este motivo antigamente o Tai Chi Chuan era conhecido como o treino do “Zen em pe”. Também o aluno deve encontrar a real motivação ao treinar o Tai Chi Chuan, ou seja, a razão fundamental do seu treino. Aqui é que torna-se necessária a verdadeira honestidade, seja para com a arte, seja para com o nosso Mestre e amigos de treino. Meu primeiro mestre, no ano de 1973, o Sr. Ma Tsun Kuen, sempre nos falava, “se você me pede bala eu lhe darei bala”. Isto ele respondeu a um aluno que lhe perguntou porque ele falava de que o Tai Chi Chuan outorgava poder as pessoas. Ele respondeu que as pessoas queriam aprender Tai Chi Chuan para ter poder pessoal. Não quer dizer que ele gostava disso, isso era o que seus alunos queriam. Então a honestidade tanto do professor como do aluno é profundamente importante. O aluno deve falar para o seu professor o porque quer treinar Tai Chi Chuan e o que espera conseguir com dito treino, e o professor deve ser capaz de falar para seu
aluno se ele tem ou não capacidade de ajudá-lo nesse caminhar. Hoje em dia, muitas vezes encontramos que tanto o aluno como o professor não tem suas intenções claras e definidas. Lembremos que a mais alta meta em treinar Tai Chi não é querer matar nem ferir alguém e sim é convencer o inimigo a ser nosso amigo, isto não é um subterfúgio para vencer o mesmo, é o sincero sentimento de que não há necessidade nenhuma de que sejamos inimigos de alguém. Também esta meta, dentro do treino específico do Tai Chi Chuan, surge do coração compassivo que olha as emoções aflitivas e o sofrimento que as mesmas causam aos seres, então o verdadeiro praticante de Tai Chi Chuan se compromete a não ser ele a fonte de sofrimento e sim assume o compromisso de ajudar aos outros a encontrarem uma saída aos seus próprios sofrimentos. Nunca um bom praticante acusa aos outros, ele simplesmente ajuda aos outros. O Sr. Buda nos fala: “Quando nos relacionamos com os seres, devemos pensar em três coisas fundamentais. Vou ser causa de sofrimento? continua na próxima página...
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Se sim, então devemos ponderar. a - Sobre o nosso próprio sofrimento, b - sobre o sofrimento causado ao outro e c - sobre o sofrimento aumentado e compartilhado que surge desse relacionamento “ Para isto é necessário uma profunda honestidade. Ser honesto consigo mesmo, ser severo consigo mesmo e compassivo com os demais. Como diz Sua Santidade o XVII Karmapa Orgyen Trinle Dorje: “Se você pudesse apenas desistir de pensar sobre o que você pode fazer para se tornar famoso ou para conseguir engrandecer seu nome e, em vez disso, se dedicar à felicidade em vidas futuras e, não apenas isso, à atingir a budeidade - se você fizesse isso, então isto seria uma prática genuína do caminho espiritual” “ Não sendo assim, simplesmente sentar dizendo que está meditando, ou simplesmente passar os olhos em um livro espiritual de nada vai lhe servir.” O mesmo se aplica ao Tai Chi Chuan, treinar para o dia de amanhã poder ter cinco relações sexuais por semana será como perder toda uma fortuna acumulada numa vida inteira, num dia de corridas de cavalo. Uma perda inestimável. Diz S.Santidade: “O ponto principal é que, se queremos ser praticantes espirituais verdadeiros, precisamos nos tornar praticantes independentes, pessoas que realmente sabem como praticar aprendendo a ser totalmente diretos e honestos com nós mesmos. Poderíamos pensar que vamos poder estar sempre sentados em frente a nosso mestre e praticar o dharma sempre recebendo conselhos dele ou dela sobre o que devemos ou não fazer. Mas se sempre necessitarmos de orientação, nem sempre vamos ter próximo a nós alguém que nos possa dá-la”. ”Sendo assim, temos que aprender a prestar atenção ao que está acontecendo em nossas mentes e identificar quais são os nossos defeitos, quais são nossas qualidades, e de que maneira se distingue defeitos de qualidades. Em vez de olharmos continuamente para algo que está fora de nós, temos que desenvolver a capacidade de prestar atenção de maneira cuidadosa e perspicaz àquilo que está acontecendo dentro de nós, de maneira que possamos nos tornar capazes, praticantes espirituais autônomos”. Reflitamos sobre isto!
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2 - SEJA VIRTUOSO E JUSTO
Um místico do Sec.VII – Guru Rimpoche - falou: “Ser virtuoso não apenas significa vestir mantos amarelos; significa temer o amadurecimento do karma”. No tocante ao treino do Tai Chi Chuan, o treino da virtude está intimamente ligado ao caminho dos instrutores qualificados. Muitas vezes os mesmos possuem técnicas que lhes possibilitam se sobressair sobre os seus alunos ou outros instrutores menores. Este momento é muito perigoso, porque a arrogância venenosa de se sentir “superior” ou o “único conhecedor da verdade” torna o instrutor em questão um manipulador dos fracos. A partir deste momento é que este pretenso instrutor passa a demonstrar um caráter grosseiro, violento e imoral. Tivemos um caso aqui em São Paulo em 1990, quando tive de ir comprar uma passagem de avião, numa companhia de turismo, o atendente, ao me perguntar qual era minha profissão, lhe respondi que era instrutor de Tai Chi Chuan e ele passou a me agredir verbalmente. Quando lhe perguntei o que tinha acontecido, me respondeu que tinha sido aluno de um instrutor de Tai Chi Chuan que tinha golpeado ele utilizando-se das técnicas do Tai Chi. A partir deste incidente, ele começou uma campanha de esclarecer ao seu público o quanto era ruim treinar o Tai Chi Chuan. Vale dizer que nunca se recuperou deste incidente. Os mantos amarelos são, no Oriente, símbolo das pessoas instruídas e em especial dos eruditos Budistas e Confucionistas, muitos deles falam constantemente da lei da ação e da reação (karma) porém, ao olharmos seu comportamento mais de perto, percebemos que eles não acreditam naquilo que ensinam aos seus alunos, já que infringem constantemente esta lei de retribuição. Ao ensinar Tai Chi Chuan aos nossos amigos, nos apresentamos aos mesmos ou como eruditos, ou como mestres de técnica, ao mesmo tempo nos tornamos confidentes, amigos íntimos, um pouco psicólogos, um pouco padres. Os alunos muitas vezes depositam em nossas mãos as suas frustrações, sonhos e fantasias. Se não pudermos suportar, ainda que seja minimamente, este fardo, então não seja um instrutor de Tai Chi Chuan, seja simplesmente um aluno. Para se tornar um verdadeiro professor de
Tai Chi Chuan o mesmo deve aceitar o compromisso interno de ser Virtuosos no início, no meio e no fim de sua vida. Tem um pequeno poema que nos incentiva a trilhar este caminho que nos fala:
“Tendo abandonado completamente os quatro tipos de preguiça, Que me impedem de obter virtudes não ainda atingidas E de melhorar ainda mais aquelas que já tenho, Possa eu desempenhar um esforço jubiloso nas práticas virtuosas.” Prestem atenção que aqui falam “quatro preguiças” e quais são? A primeira é a pura falta de vontade de se fazer qualquer coisa. A segunda é quando sempre deixamos para amanhã o que deveríamos fazer hoje. A terceira é a pior de todas, que e somente realizar coisas negativas, desprezar aquele que faz coisas positivas e induzir os outros a fazer o negativo
em detrimento do positivo. Isso é realmente uma forma muito ativa de preguiça e muito disseminada na nossa sociedade moderna. Fazemos qualquer coisa para incrementar nosso estilo de vida com carros, aviões, celulares, computadores , etc..., e nunca encontramos tempo para treinar. No entanto, sempre encontramos tempo para fazer fofocas inúteis, jogar, bater papo, ver televisão, ler jornal, ir a bares e discotecas e ficar até muito tarde da noite. Em outras palavras, para fazer todas aquelas coisas mundanas que em última análise em nada colaboram com o nosso desenvolvimento interno nem no nosso crescimento espiritual. O quarto tipo de preguiça é quando dizemos: “Ah! não sou capaz de fazer isso” ou ainda “esse trabalho é muito difícil para mim”. Esse tipo de preguiça cria bloqueios na nossa mente e nos torna pessoas passivas, aumentando assim a percepção de nossas fraquezas, o que nos leva diretamente ao fracasso e a termos raiva daquele que consegue alguma coisa de positiva. Também nos fala do “Esforço Jubiloso”, ou seja, o Entusiasmo, que é o antídoto para a apatia e a continua na próxima página...
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preguiça. O verdadeiro entusiasmo surge de termos uma real comunicação com a fonte da nutrição espiritual. Não adianta falar do espírito e dos mestres, olhar filmes de kung fu e Tai Chi, sonhar com um relacionamento de mestre e discípulo se não somos capazes de estar ao lado de um. Professor Roque Severino Na próxima com o Mestre Yang Zhenduo edição estarei apresentando mais dois itens do Wu De, ou o Código de Ética do Tai Chi Chuan, espero que estas palavras sejam de inspiração para todos os praticantes e instrutores desta arte maravilhosa. Todo o material relacionado ao
Wu De, me foi pedido pelo Mestre Yang Jun, Quinto Patriarca da Família Yang de Tai Chi Chuan, para formar parte do código de ética dos alunos e professores do Ocidente. Aproveitem! Que tudo seja auspicioso!
Prof. Roque Severino Diretor Fundador Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan SBTCC www.sbtcc.org.br [Comente este texto:revistataichibrasil@hotmail.com]
Aniversário do Espaço Bem-Estar Setembro, além de ter sido comemorado o aniversário de Ganesh - um dos deuses mais queridos e populares do hinduísmo, o deus da sorte e da prosperidade, foi também o aniversário do Espaço Bem-Estar. Parabéns a todos pela amizade, conversas, aprendizado e o convívio agradável das aulas e encontros.
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O tempo das coisas Por Anderson Rosa (Fr. Goya) O Tai Chi Chuan é uma prática corporal que se estende não somente pelo corpo, mas também pela mente e pelo espírito. As pessoas começam sua prática por diversas razões, que nem sempre são as mesmas. Alguns apenas para se movimentar, outros para um exercício leve (doce ilusão...), outros pelo alongamento, outros por ser considerado um exercício exótico, outros por desenvolvimento pessoal, outros para acalmar a mente e outros motivos mais que podem ser elencados numa longa lista. A primeira coisa que se percebe da primeira vez que você começa a praticar o Tai Chi Chuan é que você não tem a menor noção de como seu corpo funciona e que ele insiste em lhe desobedecer. No meu caso, eu tive a nítida sensação de que meu corpo havia brigado com o resto do meu ser e simplesmente fazia o que ele bem entendia. Devo dizer que na minha cabeça o movimento estava perfeito. Movimentos arredondados, suavidade, transições perfeitas. Olhando no espelho... parecia um boneco de posto no olho do furacão. Nas primeiras aulas a frustração era enorme. Mesmo depois que consegui reproduzir de forma babuínica os 18 movimentos do estilo Chen ainda assim a imagem do boneco de posto me assombrava (assombra?). E da mesma forma que a maioria das pessoas, depois de aprender os 18 movimentos, queria aprender mais: Lao Jia Yi Lu (a forma longa do estilo Chen), espada, sabre e mais o que viesse pela frente. Mas o problema todo é que o boneco de posto estava lá, sobrevivendo às minhas custas. Rezei, meditei, fiz alongamento, aumentei a intensidade, e... Nada. Absolutamente nada. Pelo menos da forma que eu entendia como nada. Nenhuma mudança radical, nada maravilhoso, nenhum super alongamento. Eu queria todos os benefícios prometidos na divulgação sobre as maravilhas do Tai Chi Chuan, mas que para mim eram tão distantes como ir à Lua. E queria rápido, muito rápido. Mas daí, uma coisa interessante aconteceu. Teve um dia no qual eu estava muito cansado e com o corpo dolorido por práticas do dia anterior, então resolvi pegar um pouco mais “leve” e não fui até o meu limite. Na verdade, meu professor já havia me orientado a esse respeito, mas como muitos, ignorei
sua sabedoria, substituindo-a pela minha teimosia. Alguns podem dizer que o que veio depois disso é uma obviedade, mas não é bem assim. Curiosamente, eu me senti melhor com essa prática um pouco mais leve e, no dia seguinte, consegui ir um pouco mais adiante no esforço. E depois de alguns dias consegui ir mais adiante ainda. E com isso, semana após semana, os resultados começaram a aparecer. O que houve de diferente que não vinha acontecendo até então? Depois de atingido o objetivo é mais fácil explicar. O processo é relativamente simples, basta entender o próprio conceito por trás do Tai Chi Chuan. Quando dizemos “leve” não estamos nos referindo a frouxidão. Fazer de forma frouxa é perder a conexão que existe entre o superior e inferior, o lado esquerdo e o lado direito. Por exemplo: fazer um exercício de forma mais leve não quer dizer sem esforço. Simplesmente quer dizer “não forçar até o limite máximo”. Para explicar de forma didática, convém utilizar a imagem da suspensão de um carro. Digamos que a carga máxima que o portamalas de determinado veículo pode carregar é de 250 quilos. Este valor se refere à carga “máxima” e não a carga diária que o veículo transportará. Se você utiliza o veículo com um mínimo de carga, a suspensão irá durar bastante tempo. Se você diariamente carregar a carga máxima, em pouquíssimo tempo a suspensão irá se danificar. E o mesmo raciocínio serve para o corpo. Se você sobrecarrega o corpo constantemente, ele em breve ficará doente. Mas se ao invés disso, você utilizar o bom-senso e a leveza, seu corpo será capaz de ir muito mais longe. Diante dessa percepção em especial fui capaz de deduzir que ao mesmo tempo em que aumenta a intensidade dos exercícios, deve-se deixar uma margem de segurança, ou uma margem de crescimento. O que isso quer dizer? Se você constantemente está no limite, então não haverá espaço para o crescimento e o desenvolvimento. É importante entender que não se deve forçar os limites, mas sim ampliar os limites. Se você deixa um espaço para o crescimento, naturalmente os limites se expandem. Dito de uma forma budista: se esticar demais a corda, ela arrebenta, se deixar frouxa demais, ela não toca. É preciso afinar o instrumento, que é o nosso corpo. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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No Tao Te Ching, no cap. 11 diz: “Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda: Através dessa não-existência Existe a utilidade do veículo” (...) [1] Segundo Mestre Wu “É preciso existir um espaço no interior e no exterior da manifestação para que ela possa se expressar e interagir com o mundo. (...)A primeira estrofe do poema remete às carroças que existiam na China, há três mil anos. Suas rodas eram construídas com madeira e cordas, onde um círculo pequeno é circundado por um círculo maior e os dois se unem através de raios de madeira que convergem para o centro, dispostos de forma equidistante, e presos com cordas aos dois círculos. Entre os dois, e em volta de cada raio existe um espaço vazio que torna leve o peso da roda; circundando a roda existe um espaço vazio, a própria estrada, pelo qual avança, enquanto se movimenta; e no centro da roda, no interior do círculo menor, existe um espaço vazio por onde passa o eixo que liga a roda ao corpo da carroça e onde a roda se apoia, para girar. Esta é a utilidade destes vazios, ou não-existências, referidos ao valor ou à existência da roda: permitir o movimento da carroça. Se não existisse o vazio no centro da roda, ela não poderia unir-se à carroça, então seria um objeto sem utilidade [2]; (…) se não existisse um espaço vazio em torno da roda, a carroça não teria utilidade porque não poderia movimentar-se pelo mundo [3]”. Durante a prática, durante a alternância constante entre cheio e vazio, superior e inferior por exemplo, existe um breve momento em que o Tao se manifesta no praticante. Manifestar ou cultivar o Qi (energia) no corpo é algo que só irá acontecer se houver um espaço (o vazio) ali (no corpo). Ou seja: se você faz sua prática sempre no limite da sua capacidade, não apenas você limita o seu aprendizado, como evita que o o Qi se
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manifeste no corpo. Como ele irá se manifestar se não houver um espaço onde isso possa ser feito? Enquanto não soubermos alternar o cheio e o vazio, praticar com leveza, nosso corpo irá se ressentir com dores inesperadas, falta de avanço na qualidade da prática e incapacidade de cultivar a energia de modo correto. Sozinhos, é muito difícil ter esta percepção. Por isso é um aprendizado. Para evitar a confusão, o melhor é sempre contar com um professor bem preparado, que com certeza irá orientar a melhor forma de resolver essas e outras situações que possam surgir durante seu aprendizado da forma. Ser bem orientado é um dos passos mais importantes para o aprendizado. Além disso, saber respeitar as orientações do seu professor e tentar perceber o próprio corpo durante o movimento, trará resultados práticos mais confiáveis e seguros. Dito isso, creio que só resta me despedir e esperar que todos encontrem alguma utilidade para essas percepções que trouxe do meu aprendizado pessoal. [1]. Cherng, Wu Jyh, TAO TE CHING, Ed. Mauad X, 2011, Rio de Janeiro, pág. 75. [2]. Grifo do autor da matéria. (N.E.) [3]. Idem, pp.: 75-77.
Prof. Anderson Rosa Fr. Goya http://www.cih.org.br http://oraculo.cih.org.br [Comente este texto:revistataichibrasil@hotmail.com]
Tai Chi - Representações No sentido de informar é que achamos relevante observar que o leitor da RTCB tenha certeza de que as mensagens aqui publicadas são sem edição ou cortes para não denotar favorecimento ou parcialidade. O nosso objetivo é sincero e sério em prol do Tai Chi, não temos a pretensão de criar qualquer tipo de incômodo, basta ver como a ética e bom caráter da linha editorial tem primado pela excelência jornalística ao longo da trajetória de 13 edições da RTCB. Desta forma é que nós trabalhamos - com seriedade, respeito e coerência. --------------------------Sobre as representações do Estilo Yang Tradicional da Família em São Paulo Por Angela Soci: “A Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan, comunica que seu quadro de instrutores credenciados está em constante atualização devido ao sistema de “renovação anual
mediante avaliações técnicas e teóricas realizadas pelos instrutores junto a diretoria da entidade”. Provas de rankeamento, e provas de revalidação de Certificados são feitas anualmente para garantir a qualidade das instruções oferecidas. Assim a lista anual de Instrutores Credenciados está em constante modificação. Portanto, para ter conhecimento dos instrutores credenciados e avalizados pela SBTCC, entre em contato direto com a diretora Profª Angela Soci através do email: angelasoci@ sbtcc.org.br”.
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Sobre as representações do Tai Chi Pai Lin no Brasil Por Tarcísio Tatit Sapienza: “Tai Chi Pai Lin é mais que um estilo de Tai Chi Chuan. É o nome do conjunto de práticas de origem taoísta introduzidas no Brasil pelo Mestre Liu Pai Lin. É um aprendizado que integra medicina tradicional chinesa, filosofia taoísta, meditação Tao In, movimentos suaves de Chi Kung e as artes marciais interiores Tai Chi Chuan e Ba Gua Zhang.
Mestre Liu Pai Lin ofereceu esta formação a alunos e discípulos em cursos realizados em seu instituto em São Paulo, em seminários em São Roque, em cursos promovidos pela UNIPAZ em diversas capitais do Brasil, e também na Argentina e no México. No blog Aprender Tai Chi (http://aprendertaichi.blogspot. com) há uma lista atualizada de locais de aprendizado mantidos por esta comunidade. Os praticantes dedicados a divulgar o Tai Chi Pai Lin são individualmente responsáveis pela fidelidade à transmissão. Com a passagem do Mestre Pai Lin no ano 2000, seu filho Mestre Liu Chih Ming assumiu a missão de dar continuidade à divulgação das práticas taoístas da linhagem no Brasil. Para garantir a qualidade da transmissão destas artes realiza provas práticas e teóricas de qualificação em: Tai Chi Chuan Pai Lin, Ba Gua Zhang, Tai Chi Espada, Ba Gua Espada e Chi Kung Taoísta. Informações sobre a avaliação anual de certificação podem ser obtidas no CEMETRAC (Centro de Estudos de Medicina Tradicional e Cultura Chinesa), em: http://www.cemetrac.com.br”.
SESC Água Verde Curitiba - Paraná 3 TURMAS Às 2ªs, 4ªs e 6ªs: das 08h às 09h Às 3ªs e 5ªs: das 18h20 às 19h20 Às 5ªs: das 16h30 às 18h www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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Chen Xiao Wang
Convivência e aprendizado com o Guardião do Taijiquan da família Chen Por Estevam Ribeiro Atual “Gate Keeper” da 19ª geração do clã dos Chen, de Chenjiagou, Hennan, China e, portanto, de família tradicional de artistas marciais, cujo ancestral, Chen Wang Ting, fora o criador da arte do Taijiquan. Chen Xiao Wang é considerado patrimônio vivo pelo governo chinês. Este artigo propõe um relato parcial do encontro e da convivência que tive, nos últimos 15 anos, com este grande Mestre.
O primeiro contato
O meu primeiro contato com o Mestre Chen Xiao Wang foi em Abril de 1995, em seu workshop anual em Amsterdam. Mestre Chen estava hospedado na casa de um amigo e professor de Taiji, Oscar Muñoz. Oscar era na época o organizador e representante do Mestre Chen Xiao Wang na Holanda. Conheci Oscar um ano antes, praticando no Wondelpark em Amsterdam. Esta cidade fazia parte de minha rota regular enquanto comissário de bordo da Varig, profissão que eu exercia na época. Minha impressão ao ver o Mestre Chen
Oscar Muñoz, Chen Xiaowang, Estevam Ribeiro Amsterdam 1995
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Xiao Wang pela primeira vez era a de estar diante de um homem forte e compacto como um urso; e desconcertantemente silencioso. Lembro de tê-lo encontrado no apartamento de Oscar e andarmos juntos até o local do workshop, uns dois quarteirões, num silencio absoluto, sem que nada desnecessário fosse dito. O workshop era sobre energia espiral, CHAN SI GONG. Eu já tinha tido um contato muito bom com esta arte através do mestre George Xu, em S. Francisco, três anos antes. Chan Si Gong (energia espiral) era um assunto sobre o qual eu já vinha pesquisando a algum tempo em outras artes, como Bagua Zhang e Mulan Quan. Mas é o estilo Chen de Taijiquan que trabalha este Qi Gong da maneira mais eficaz. No entanto, a forma com que o Mestre Chen Xiao Wang abordou o assunto era muito mais simples e profunda. Os exercícios, em menor número e de execução aparentemente mais simples, foram se revelando ao longo do workshope, a partir de então, a própria essência da arte do Taijiquan. No dia seguinte, eu tinha aula particular agendada com o mestre. Eu podia escolher a matéria, então escolhi a forma de competição do estilo Chen de 56 posturas. Mestre Chen pediu que eu mostrasse a forma toda, o que eu fiz com aquela nítida sensação de estar sendo observado por várias gerações de mestres encarnados ali. Mestre Chen, sem mudar a expressão do rosto, disse: not bad..., you can improve... Depois começou as correções. Nos próximos 45 minutos não passamos da 3a postura... Era tanta informação que eu fiquei na
dúvida se conseguiria absorver tudo, a qual ele rebateu dizendo: don’t worry, your body-mind will remember. O que mais me impressionava era que Mestre Chen Xiao Wang exalava uma força de concentração excepcional. Ele insiste sobre esse ponto com todo seu trabalho. Não há uma vez em que ele, antes de começar qualquer forma, não nos faça parar, fechar os olhos, acalmar a mente e escutar atrás: “listen behind; calm your mind.” Depois da 3ª postura ele mandou que eu seguisse a forma e só me parou para fazer correções demonstrativas. Determinadas posturas da 56, justamente por derivarem da Xin Jia, devem ser feitas conforme a forma tradicional, que na verdade é mais elaborada que a 56. Posturas como a Garça, Passo em diagonal e Chicote são nitidamente simplificadas na 56. Na metade da aula em diante, Mestre Chen fez questão de demonstrar. A partir daquele momento não se tratava mais de me corrigir, mas de demonstrar claramente como estas posturas deveriam ser executadas para que eu entendesse. Desde então venho praticando a 56 com esta interpretação e, apesar de ser ligeiramente diferente da 56 “oficial”, com este estilo de execução ganhei medalha de ouro no Campeonato Brasileiro de Taijiquan estilo Chen pela Confederação Brasileira de Wushu e Kung Fu de 2003 em Goiânia e medalha de ouro na mesma categoria no Campeonato Estadual Carioca de 2004. No dia seguinte minha aula particular seria sobre a forma combinada de 48 posturas. Como o Oscar havia me dito, mestre Chen aceita orientá-lo em qualquer estilo. Se você fosse, por exemplo, como já havia acontecido antes, e também aconteceu nesse seminário, um praticante de Karate ou qualquer outra arte marcial, ele lhe dava orientação demonstrando não só o taiji dentro das outras artes, mas como usar o taiji para melhorar o nível de prática nessas artes. A partir daí então, eu queria que ele analisasse o meu estilo Yang. Como a forma de 48 posturas tem 60% de posturas do Yang, mas também de outros estilos, inclusive o Chen, senti que seria uma maneira de ir mais fundo nas possibilidades do Taiji, sem ficar limitado a um estilo. Mestre Chen pediu que eu executasse a forma e diferentemente da maioria dos professores de Taiji, que dizem para você esquecer tudo que já aprendeu antes, ele me deixou fazer da minha maneira e foi me parando a cada dois ou três movimentos, para me ajustar; ‘’fixing
the frame”, como ele disse, serviria para a terceira via de aprendizado. Segundo ele, nós aprendemos Taiji principalmente de três maneiras. A primeira é a visual. O professor faz, você olha, e tenta fazer parecido. A maior parte das informações no início do aprendizado são apreendidas dessa forma. A segunda é auditiva. As explicações teóricas, comparações, metáforas e a história , enfim toda a parte mental é entendida dessa maneira. A terceira é táctil. O professor, com as próprias mãos, corrige e é aí que você sente o Qi . A sensação energética se faz presente. . A única vez que eu havia experimentado este método antes tinha sido com a mestra SHEN HAI MIN, mesmo assim de vez em quando, pois os chineses têm muita cerimônia no tocar os outros. Mestre Chen não, a cada postura ele gastava ao menos uns cinco minutos corrigindo, esperando que a energia “settle down” se equalizasse. Sem este tipo de correção, segundo ele, o externo poderia até estar bom, mas o interno tomaria muito mais tempo. Então, naqueles paradoxos típicos do Taiji, ele gastava muito mais tempo em algumas posturas “paradas”, para eu poder progredir mais rápido! Depois desta aula, que tínhamos feito num pequeno parque a beira d’um canal, como tantos em Amsterdam, voltamos caminhando em silêncio por uns dois quarteirões, até que resolvi arriscar uma pergunta mais pessoal: Qual era a forma mais importante no estilo Chen. Ele então respondeu que, assim como www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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todas as árvores dependem de suas raízes, tudo que se conhece hoje em dia no estilo Chen deriva da Laojia. Esta é então a forma mais importante. Ainda em 1995, em setembro, fui escalado para meu terceiro baseamento em Hong Kong. Hong Kong nos anos 90 era como um shopping de estilos de Taiji, Qi Gong, Wushu, danças folclóricas etc. Em todos os parques e em qualquer espaço a céu aberto, todos os dias de manhã, você pode ver um espetáculo Taiji. Ali eu tinha meus primeiros professores de estilo Chen e, quando nos reencontramos, eles sabendo que eu tinha estado com Chen Xiao Wang, estavam curiosos em saber o quanto eu tinha me aprofundado no estilo Chen. Quando então mostrei aos meus amigos a minha evolução no estilo Chen tradicional, e especialmente na 56, fui motivo de curiosidade e aprovação. Foi quando eu percebi o efeito que o nome do CHEN XIAO WANG causava no mundo do Taiji chinês, de qualquer estilo, pois, entre meus amigos chineses de Hong kong, há os que praticam outros estilos, como WU, YANG, assim como aqueles que só praticam as formas modernas, 24, 48, 42, e todos, sem exceção, ficaram admirados de como um brasileiro, poderia ter acesso a alguém como Chen Xiao Wang. É como se nós conhecêssemos um estrangeiro amante de futebol que tivesse tido a oportunidade de ter aulas com mestres deste esporte/arte como o Pelé, ou o Zico. Só voltei a encontrar o mestre de novo no ano seguinte, em 1996, em Amsterdam.
Amsterdam 1996
Em 1996 o tema do seminário era espada Chen e LAO JIA. Esta, com certeza, a forma preferida do mestre, pelo que pude constatar. Quando eu comecei a estudar o estilo Chen em Hong Kong, três anos antes, a minha maior dificuldade não eram as posturas baixas, nem os saltos, nem as emissões de energia. Meu maior desafio era conseguir o efeito que eu só conseguia sentir no estilo Yang. O de sentir-me ao mesmo tempo energizado e relaxado. Depois de três anos de prática na XIN JIA ainda sentia que estava gastando mais energia do que o necessário.
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Ao entrar em contato pela primeira vez com a LAO JIA descobri porque os mestres de Chenjiagou insistem que comecemos o aprendizado por ela. É realmente a matriz de todos os estilos de Taiji que conhecemos. Embora menos chamativa que a XIN JIA, o seu trabalho energético é mais profundo, gerando os benefícios que tornaram o Taiji tão popular, a soma de um exercício que é ao mesmo tempo relaxante e energético. Na Espada Chen fomos guiados no detalhamento e pude então perceber a riqueza desta forma, emocionante e precisa. Nas aulas particulares escolhi o Sabre Chen. Primeiro, pela afinidade que tenho com o Sabre mais do que com a Espada; segundo, porque o Sabre Chen não tem semelhança com nenhum outro estilo e, sendo explicitamente marcial, é ao mesmo tempo fácil e direto. Na forma não há nenhuma postura que cause dúvida sobre a sua aplicabilidade. É também um ótimo exercício cardiovascular. Se comparado com as formas de mãos, o seu ritmo se aproxima mais das Formas Pao Chui (Xin Jia e Lao Jia). Nos dias das aulas particulares fazia muito frio e chovia, então tivemos de fazê-las no apartamento do Oscar, para ser mais específico, no quarto onde o mestre estava hospedado, que era pequeno. Quando eu lhe perguntei se não estava muito apertado para a forma do sabre, ele respondeu com a frase que para mim resume a atitude deste mestre perante a vida: “ANY PROBLEM, NO PROBLEM”. E começamos.
Mestre Chen mostrou cada postura em suas três principais dimensões. Estática, em Zhan Zhuang, para dar potência ao Qi. Depois a forma em movimento lento para ajustar o fluxo do Qi e, por último, em velocidade regular (rápido) para dar ritmo ao Qi. Num quarto pequeno, a necessidade de precisão para não derrubar ou quebrar nenhum dos objetos ou móveis era um treino a mais. No terceiro dia chegamos ao fim da forma. Para então exemplificar e ilustrar uma das posturas, “Girar o corpo e cortar”, que envolve um salto de 180 graus e ao mesmo tempo gira e corta com o sabre num plano vertical, Mestre Chen começou a executá-la numa aceleração crescente, com um acréscimo de Fa Jin a cada aterrissagem. De repente eu estava num canto do quarto me encolhendo, imaginando se por acidente aquela hélice em que tinha se transformado o sabre me atingisse, se meu seguro saúde de comissário de bordo cobriria este tipo de incidente. Desnecessário dizer que o sabre girou com precisão e não tocou em nada. Meu espírito, extremamente alerta, despertou. No final do seminário, a nossa introdução à LAO JIA não deixou a desejar. Começava naquele
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momento o contato com a “forma matriz” de todas as outras formas de TaiJi que se conhece hoje em dia. Estes primeiros contatos foram determinantes para eu perceber que queria ser seu aluno, e que sua didática era a que mais transmitia em toda a sua extensão os princípios do Taijiquan. A partir de então continuei a seguir o mestre Chen em seus seminários em cidades para as quais eu voava regularmente, Nova York, Londres, Miami e Amsterdam. Durante este seminário de Amsterdam, ainda em 1996, fizemos o convite formal ao mestre para vir dar o seminário no Brasil, o qual ele aceitou. Começaria então o projeto de introduzir, pela primeira vez no Brasil, o estilo Chen Tradicional. Idealizado pelos Professores Estevam Ribeiro e Begoña Javares, este projeto foi realizado, em outubro de 1998, pelo Grupo Gesto Cotidiano, na cidade de Petrópolis, RJ. Para deixar sólida esta introdução, o mestre Chen concordou em realizar workshops no Brasil nos anos seguintes, de 1998 a 2002, designando Estevam Ribeiro e Begoña Javares representantes de sua associação no Brasil (CXWTABR).
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Quem pode ensinar Tai Chi Chuan? Entendimento jurídico aponta para livre atuação em Tai Chi Chuan, independente de formação acadêmica. O ensino e prática de Tai Chi Chuan, arte marcial milenar de origem chinesa, que trabalha os aspectos éticos, morais, sociais, espirituais e físicos dos praticantes, não está vinculado a nenhum curso acadêmico em particular, tais como “Educação Física”, “Fisioterapia” e afins. Esse é o entendimento do Projeto de Lei nº 7370/2002 – que desde 2007 está arquivado na Câmara Federal – de autoria do então deputado Luiz Antônio Fleury Filho, que acrescenta Parágrafo Único ao art. 2º da Lei 9.696, de 1º de setembro de 1998, dispondo que “não estão sujeitos à fiscalização dos Conselhos previstos nesta Lei [tais como Conselho Regional de Educação Física etc] os profissionais de danças, artes marciais e ioga, seus instrutores, professores e academias”. O PL teve como relatora a deputada Alice Portugal (PC do B/BA), que deu parecer favorável a indicação, por entender que na Lei 9.696/1998 não houve claridade quanto ao raio de atuação tanto do Conselho Federal de Educação Física, quanto dos conselhos regionais no que concerne a prática de dança, artes marciais, ioga (veja mais detalhes abaixo). Apesar do Projeto de Lei se encontrar arquivado, sem previsão de entrar em pauta, alguns itens chamaram a atenção, sobretudo o amplo entendimento jurídico de que a arte marcial, como o Tai Chi Chuan e tantas outras, não pode ficar sob a tutela de conselhos regulares, já que a atividade transcende a mera “atividade física” em si, e se configura como uma prática de valores que vão além de um conhecimento acadêmico auto-regulado. Até enquanto não houver um parecer conclusivo ao PL 7379/2002, o que vale é o entendimento jurídico. Para que não reste dúvida sobre a liberdade de profissão para a prática de artes marciais como o Tai Chi Chuan, enquanto a Lei não for clara a esse respeito – já que a Lei 9696/98 não pode contemplar esta e outras áreas, da forma que está – o que vale é o entendimento jurídico. E, de acordo com os pareceres abaixo, o leitor poderá perceber claramente que a Justiça entende que a prática de Tai Chi Chuan vai muito além da simples atividade física. Desta forma, os instrutores que fizerem um curso de formação em instituições reconhecidamente de valor ético/cultural, como a Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental – www.sbtcc.org.br –, que representa para a América Latina o Estilo da Família
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Yang, estarão habilitados a ministrar aulas, dentro de suas habilidades e especializações. Projeto de Lei nº 7370/2002, de autoria do Deputado Luiz Antônio Fleury Filho, que acrescenta Parágrafo Único ao art. 2º da Lei 9.696, de 1º de setembro de 1998, dispondo que “não estão sujeitos à fiscalização dos Conselhos previstos nesta Lei [tais como Conselho Regional de Educação Física, etc, etc – destaque nosso] os profissionais de danças, artes marciais e ioga, seus instrutores, professores e academias”, foi remetido à relatoria da deputada Alice Portugal, na Câmara Federal, que além de ter acatado a observação, para que fosse proferido seu parecer. (Encontra-se arquivado desde 2007). Apenas a lei poderá impor restrições a esta liberdade [de profissão. Neste caso, como a lei 9696/98 não é clara quanto à atuação direta nas artes marciais, não pode atuar neste setor – destaque nosso], conforme ensina o eminente constitucionalista José Afonso da Silva, ao comentar o dispositivo constitucional: Ora, quem pratica dança, ioga, capoeira, método pilates, profissionalmente ou por lazer, não objetiva um aumento de massa muscular, da flexibilidade corporal ou da capacidade aeróbica. Na dança, como na capoeira, a atividade física é apenas um meio para o exercício de uma arte que, em muitos casos, representa típica manifestação da cultura brasileira. A ioga, por sua vez, é uma atividade que busca o equilíbrio mental e corporal através de exercícios basicamente respiratórios e de concentração. Assim, a exigência de diploma de curso superior de Educação Física para professores de frevo, capoeira, maracatu, catira, xaxado, conga, entre outras típicas manifestações da cultura popular brasileira, viola os referidos princípios constitucionais, desestimulando, ainda, a prática dessas manifestações culturais que são geralmente desenvolvidas de forma espontânea e informal. De acordo com relatório da deputada federal Alice Portugal, ao projeto de Lei nº 7370/2002, as artes marciais (tai chi chuan, karatê, judô, tae-kwon-do, kickboxing, jiu-jitsu, etc.), embora naturalmente envolvam movimentação corporal, não são atividades próprias do profissional de educação física. Antes de atividade corporal, as artes marciais possuem ensinamentos teóricos que consubstanciam, até mesmo, um modo do artista marcial portar-se perante as mais diversas situações. Não é por acaso a denominação utilizada de arte marcial. Este tipo de artista não é um praticante de educação física, pois
assim como na dança e na ioga, não objetiva diretamente um aprimoramento físico, mas a inserção em princípios próprios de longa tradição. Ainda de acordo com Alice Portugal, a proposta das artes marciais, bem como da ioga, é oferecer evolução espiritual e física, integração harmônica entre corpo e mente, preocupando-se com a higidez mental e psicológica. Cada arte marcial possui uma história própria, cujos princípios norteadores foram sedimentados ao longo dos anos. Assim, o professor de artes marciais deve transmitir conhecimentos teóricos e padrões de comportamentos, os quais não são oferecidos em um curso superior de Educação Física. A Procuradoria dos Direitos do Cidadão do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios emitiu Recomendação Nº 5, de 2 de outubro de 2001, na qual recomenda ao Conselho Regional de Educação Física “que se abstenha, imediatamente, de realizar os atos acima indicados ou quaisquer outros que objetivem, direta ou indiretamente, exercer persuasão ilegítima sobre as academias e professores de artes marciais e dança, para que estes se inscrevam perante a entidade, sob pena de responsabilidade civil e penal, na forma da lei”. Diz a recomendação: “CONSIDERANDO que entre os direitos e garantias fundamentais constitucionais encontra-se o de livre exercício de qualquer trabalho ofício ou profissão (artigo 5o, XIII, da Constituição Federal); CONSIDERANDO que é dever do /estado garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais, devendo apoiar e incentivar a difusão das manifestações culturais (artigo 215, da Constituição Federal); CONSIDERANDO que a Lei 9.696/98, disciplinadora do exercício da profissão de Educação Física, não abrange, até porque incorreria em vício de inconstitucionalidade, os professores de artes marciais e de dança; CONSIDERANDO que chegou ao conheci-mento desta Procuradoria Distrital dos Direitos dos Cidadãos que o Conselho Regional de Educação Física da 7a Região (Distrito Federal) tem exercido pressão ilegítima, consubstanciada em realização de “auto de orientação e fiscalização”, perante diversas academias do Distrito Federal (e de outros estados), para que estas exijam o registro profissional dos respectivos professores de artes marciais e de dança perante a entidade (Procedimento de Investigação Preliminar no 08190.017324/01-17); CONSIDERANDO que a Lei 9.696/98 não conferiu aos Conselhos Regionais de Educação Física qualquer atribuição no sentido de orientar, fiscalizar ou multar academias e/ou professores de artes marciais e dança;
CONSIDERANDO que a atuação irregular do Conselho de Educação Física da 7a Região tem ofendido, indiretamente, interesses coletivos dos consumidores regularmente matriculados em inúmeras academias do Distrito Federal; CONSIDERANDO que a postura do Conselho de Educação Física da 7a Região macula a liberdade profissional, garantida constitucionalmente, dos professores de artes marciais e de dança; CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público a defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores (art. 129, III, da Constituição Federal e artigos 81 e 82 da Lei no 8.078/90); CONSIDERANDO que incumbe a Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão a tutela irrestrita da defesa dos direitos do cidadão; resolve: A Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão do Ministério Público do Distrito Federal, com fundamento no artigo 129, III, da Constituição Federal e artigo 6º, XX, da Lei Complementar Federal no 75/93, RECOMENDAR ao Conselho Regional de Educação Física da 7ª Região que se abstenha imediatamente, de realizar os atos acima indicados ou quaisquer outros que objetivem, direta ou indiretamente, exercer persuasão ilegítima sobre as academias e professores de artes marciais e dança, para que estes se inscrevam perante a entidade, sob pena de responsabilidade civil e penal, na forma da lei. Oficie-se a todas academias estabelecidas no Distrito Federal para que tenham ciência da presente recomendação, bem como para que informem, pessoalmente ou por escrito, eventual descumprimento do seu teor pelo Conselho Regional de Educação Física da 7a Região.” No mesmo rumo, a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região manteve a liminar, concedida pela 9ª Vara Federal do Rio de Janeiro nos autos de uma ação civil pública iniciada pelo Ministério Público Federal, que impede o Conselho Regional de Educação Física da 1ª Região – CREF (atuante no Rio e Espírito Santo) e seu Presidente de obrigar os professores dos ramos de ioga, dança e artes marciais a se inscreverem no conselho para poder dar aulas. A decisão, dada em um agravo de instrumento (recurso utilizado pelo CREF para tentar derrubar a liminar), também isenta tais profissionais da obrigação de freqüentar um curso de nivelamento promovido pelo CREF para se ajustarem ao perfil do profissional de educação física e impede a cobrança de anuidades relativas à filiação compulsória que se faria. A relatora do agravo, Juíza Federal Valéria Albuquerque, entendeu que “a ioga, a dança e as artes marciais não são atividades próprias do setor de educação física, pois têm características distintas de formação”. Além disso, a magistrada destacou que essas áreas têm
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seus órgãos próprios de fiscalização e não podem se submeter ao controle do CREF. Também o Desembargador Federal Juiz Márcio Moraes, da 19ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, julgando o processo nº 22003.61.00.016690-1, cujos autores são a Federação Paulista de Aikido e a Confederação Brasileira de Aikido, antecipou a tutela recursal e deferiu o pedido de liminar, “determinando que o Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo se abstenha de exigir o registro da Federação Paulista de Aikido e do Instituto Takemussu, bem como de seus dirigentes e filiados”. Ainda no Estado de São Paulo, a juíza Luciana Alves Henrique, da 18ª Vara Federal Cível, julgando ação civil pública proposta pelo procurador da República Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, concedeu liminar que proíbe o Conselho Regional de Educação Física (CREF) de São Paulo de exigir a inscrição em seus quadros e a cobrança de anuidade dos profissionais de dança, ioga, artes marciais e capoeira para que eles possam exercer suas atividades. Também foi proibido ao CREF cobrar valores e tomar medidas administrativas contra academias que mantenham tais profissionais não inscritos em seus quadros. Em sua sentença, a Magistrada afirma que “a cobrança de anuidade e a exigência de inscrição no Conselho Federal de Educação Física ferem os princípios de legalidade e da liberdade de trabalho”. A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região por sua vez, manteve liminar, concedida pela 9ª Vara Federal/RJ nos autos de uma ação civil pública iniciada pelo Ministério Público Federal, que impede o Conselho Regional de Educação Física da 1ª Região – CREF (atuante no Rio e Espírito Santo) e seu Presidente de obrigar os professores dos ramos de ioga, dança e artes marciais a se inscreverem no conselho para poder dar aulas. A decisão, em agravo de instrumento, também isenta tais profissionais da obrigação de freqüentar um curso de nivelamento promovido pelo CREF para se ajustarem ao perfil do profissional de educação física e impede a cobrança de anuidades relativas à filiação compulsória que se faria.
A Juíza Federal Dra. Eliana Borges de Melo Marcelo, da 3ª Vara Cível Federal de Campinas (SP), examinando ação movida pelo Ministério Público Federal contra o Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo, deferiu pedido liminar, “determinando ao CREF/SP que se abstenha de exigir registro dos profissionais não graduados em Educação Física nos termos da Resolução nº 046/02, bem como de fiscalizar os estabelecimentos dedicados exclusivamente a estas atividades (dança, capoeira, ioga e artes marciais)”. No Estado do Paraná, a Juíza Graziela Soares, da 1ª Vara Federal de Curitiba, julgando ação impetrada pelo Ministério Público Federal contra o Conselho Regional de Educação Física do Estado do Paraná, deferiu a liminar e “determinou ao CREF/PR que se abstenha de exigir o registro e a inscrição dos profissionais não graduados em Educação Física, nos termos da Resolução do CONFEF de nº 046/02”. Outro exemplo de sentença proferida contra as pretensões do CONFEF e de suas secções regionais se deu na 6ª Vara Federal de Florianópolis, onde o Juiz Federal Jurandir Borges Pinheiro, julgando Mandado de Segurança impetrado por Rosemari Pacheco, “concedeu a Segurança para o fim de determinar as autoridades coatoras (Conselho Regional de Educação Física do Estado do Paraná) que se abstenha de adotar quaisquer procedimentos destinados à fiscalização, notificação e imposição de multas à impetrante, assegurando-lhe o direito ao pleno exercício de seu ministério como instrutora de ioga”. Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan SBTCC: www.sbtcc.org.br ----------------------------------------------------------- Apoio: Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan - AIPT (www.aipt.org.br), Revista Tai Chi Brasil (www.RevistaTaiChiBrasil.com.br) e Grupo Tai Chi Curitiba (www.TaiChiCuritiba.com.br) [Comente este texto:revistataichibrasil@hotmail.com]
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