REVISTA
DESDE 2009
Tai Chi Brasil Edição nº 30 - Distribuição on-line gratuita e dirigida
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“A China é a fonte do Tai Chi Chuan, entender a cultura e o pensamento in loco é uma possibilidade única.” Castro Junior
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EDITORIAL
Tai Chi é muito bom
Tai Chi Chuan Taijiquan
Todos os adeptos do Tai Chi - deixando à parte as diferenças dos estilos, da finalidade a que se busca (se é terapêutica, marcial ou puro prazer) estão de acordo em uma coisa: como essa arte é apaixonante. Poder praticar sozinho ou em grupo, nas escolas ou em meio à natureza, são coisas que apenas quem vivencia pode falar. E quanto mais você se entrega à “sinfonia” de seus movimentos, mais perceptivo você se torna, chegando ao limiar de uma intangível “oitava superior”.
CAPA Castro Junior Foto: Acervo Castro Junior
Como é bonito observar a evolução da consonância coletiva (sinergia) dessa “orquestra”, que se torna sublime desde seus primeiros “acordes” (Yu Bei Shi - Preparação), até o sopro final (Tai Ji Shou Shi - Encerramento). Tai Chi é energia! Tai Chi é vida! Tai Chi é tudo! Boa leitura! Levis Litz Editor
Aos leitores da RTCB
Papel ou digital? A opção é sua! Visite a nossa página na internet em www.RevistaTaiChiBrasil.com.br. Você poderá ler a versão digital na tela do seu computador ou então baixar gratuitamente para ler mais tarde. Se preferir a versão em papel, basta baixar (fazer um “download”) e imprimir. Essa opção é a preferida de alguns colecionadores. A escolha é sua!
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EXPEDIENTE
Cenas & Momentos Bastidores
Um encontro entre adeptos do Tai Chi Chuan na China ... o professor Castro Junior se encontrou com o editor da Revista Tai Chi Brasil nas cidades de Taiyuan e Pequim (foto) em 2012.
Professora Voluntária Lisandra Falcão ... levando o Tai Chi para uma Unidade de Saúde e sendo voluntária para a comunidade na Praça do Tai Chi em Curitiba.
Revista
Tai Chi Brasil www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Curitiba - Paraná - Brasil Edição nº 30 | Julho / 2018 ® Todos os direitos reservados Registro nº 401.197 / 2009 4° ofício de registro de documentos
Editor: Levis Litz
CNPJ: 20.259.228/0001-08
Capa Castro Junior Foto/Divulgação: Acervo Castro Junior
SBTCC, Tiago Gutierrez (Piracicaba), Unidade de Saúde Menonitas (Curitiba) e Zhong Centro em Harmonia (São Paulo).
Revisão Valesca Giordano
Revista Tai Chi Brasil em Facebook / Grupo Revista Tai Chi Brasil
Colaboraram voluntariamente nesta edição Bryam Dissenha (Itajaí) Castro Junior (São Paulo) Claudio Montenegro (Joinville) Débora Pires Siles (Curitiba) Lisandra Falcão (Curitiba) Paula Faro (São Paulo)
revistataichibrasil@hotmail.com www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Agradecimentos Angela Soci, (São Paulo), Equilibrius (Ribeirão Preto), Estevam Ribeiro (Rio de Janeiro), Fernanda Franco (São Paulo), Fotos e Rumos.com, Grupo Tai Chi Curitiba, Niall O’Floinn (Galway, Irlanda),
Jornalista responsável Levis Litz - mtb 3865/15/52v pr LevisLitz@TaiChiCuritiba.com.br LevisLitz@hotmail.com Facebook, Twitter, Instagram: Levis Litz WhatsApp e Telegram: +55 41 98409-6858 www.TaiChiCuritiba.com.br www.FotoseRumos.com ---------------------------------------www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
A Revista Tai Chi Brasil é um publicação de distribuição on-line gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações concedidas de forma voluntária e gratuitas. Imagens com pouca definição são de responsabilidade de seus autores. Não é de responsabilidade desta publicação os artigos de opinião, fotos de divulgação, anúncios e também as opiniões emitidas em entrevistas e depoimentos, por não representarem, necessariamente, o pensamento do editor. Por questões de espaço, objetividade e clareza, a equipe editorial reserva-se o direito de resumir os textos recebidos e editar as imagens. A menção do conteúdo da RTCB pode ser feita desde que informada e citada a fonte.
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SUMÁRIO
03 __ Editorial
12 ENTREVISTA
Em busca das raízes Aos leitores da RTCB
04 __ Expediente
Castro Junior
Cenas & Momentos Bastidores
08 __ Mensagens
Leitores Tai Chi em revista por aí
09 __ Rádio Corredor
Nas ondas do Yin Yang
12 __ Entrevista
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O ímpeto de poder ir a fundo no estudo do Tai Chi Chuan, da cultura e da lígua chinesa
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Artigo Tai Chi - Um estilo de vida... mais saudável Débora Pires Siles
28 __
Vivência Tai Chi em uma Unidade de Saúde Lisandra Falcão
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Castro Junior
Ilustração Para inspirar a criança que habita em você a praticar Tai Chi Chuan Bryam Dissenha
Tai Chi Chuan Pratique! A corrida constante contra o relógio, a competição acirrada e a busca em ter sempre mais, nos distanciam dos outros, da natureza e de nós mesmos. Para volar ao equilíbrio e/ou mantê-lo, dê um tempo a você e pratique Tai Chi Chuan - a técnica que ajuda a equilibrar o fluxo energético do corpo. Desta forma, proporciona mais saúde, qualidade de vida e harmonia consigo mesmo, com os demais seres e com o universo. No Brasil procure no Google e você encontrará vários instrutores capacitados que podem conduzi-lo pelos caminhos do Tai Chi. Esta é uma mensagem dos amigos e praticantes de Tai Chi Chuan
MENSAGENS TAI CHI EM REVISTA POR AÍ Que há muita gente lendo a Revista Tai Chi Brasil por aí... Isso tem!
Memória / Homenagem Capa da Edição nº 08 - Novembro de 2010 com o Mestre Chen Zhonghua em destaque
Qual é o seu comentário sobre a Revista Tai Chi Brasil?
“Muito bom ver Aristein na capa. Bela entrevista mostrando o potencial do Tai Chi como prática de saúde no SUS. Parabéns pelo trabalho. Abraços e Sorrisos.” Marcello Giffoni. Minas Gerais “Agradeço ao Prof. Levis Litz pelo trabalho e o espaço para divulgar o Tai Chi Chuan no Brasil. Parabéns por mais esta publicação da Revista Tai Chi Brasil. Fico sempre feliz em poder colaborar.”, Paula Faro, São Paulo, SP
Desde a primeira de 2009 até esta edição de 2018. Quanta coisa já foi publicada, quantas dicas, curiosidades, matérias, fotografias, artigos e a boa notícia é que sempre poderemos reler qualquer edição. Seja impressa ou digital, nas folhas de papel ou na tela de um computador ou celular... Se você é um desses admiradores do nosso trabalho, escreva para nós, comente, compartilhe... Envie sua mensagem ou uma foto lendo a Revista Tai Chi Brasil! Olhe aí... a Lisandra, uma professora de Tai Chi, na Praça do Tai Chi, em Curitiba, prestigiando a nossa Revista Tai Chi Brasil.
“Excelente, Levis. Parabéns por mais esta edição.” Fernando De Lazzari, Ribeirão Preto, SP “Muito legal! Como sempre a revista está excelente!” Claudio Montenegro, Jonville, SC “Olá, parabéns pela excelente revista.” José Fernando. São Paulo, SP “Vivaaaaaa!!! Grande Levis! Que seu trabalho continue enriquecendo o Tai Chi no Brasil e que sempre lhe traga, de retorno, sucesso e alegrias!” Aristein Woo (Brasília, DF)
Deixe seu recado... facebook / Revista Tai Chi Brasil Mande sua mensagem... e-mails / RevistaTaiChiBrasil@hotmail.com / LevisLitz@hotmail.com
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RÁDIO CORREDOR
Nas ondas do
Yin e Yang
Treino coletivo aberto
Grupo Tai Chi Pai Lin
Salvador - Bahia Interessados se encontram no 1º sábado de cada mês para
um treino coletivo aberto no espaço do Zôo, Alto de Ondina, às 06h00 da manhã. O Programa de Estudos Abertos acontece na última sexta do mês às 18h30 na Biblioteca Central. grupotaichipailin.ba@gmail.com
Livro
Ribeirão Preto - SP
Mestre Yang Jun
09, 10 e 11
novembro
www.taichichuan.com.br
- Em breve!
Tai Chi - Porque praticar! Essa obra é o fruto de uma série de entrevistas suscintas e curtas que o autor fez ao longo de vários anos para uma das questões mais formuladas por aqueles que desconhecem a arte do Tai Chi - Por que praticar? Eis, à luz das palavras, comentários, vivências, opiniões, estudos, pesquisas e experiências de mestres, professores, instrutores, profissionais da saúde e adeptos do Brasil, China, Chile, Estados Unidos, Argentina e de outros países. Entre os entrevistados, Fritjof Capra, autor do livro: O Tao da Física.
Em breve: www.FotoseRumos.com www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 9
Palestra gratuita
Livro
Tai Chi Chuan e Nossa Vida Diária
Viagens de uma Mônada
com Ângela Soci
entre poesias e fotografias, com a passagem “À Sombra de um Pinheiro”, o autor faz uma homenagem ao Tai Chi Chuan em comunhão com suas raízes.
Brasília
27 de julho 19h00
Informações
sbtccbrasilia@gmail.com - www.yangbrasilia.com
Seminários
Estilo Chen de Tai Chi julho de 2018
www.FotoseRumos.com
Tai Chi Pai Lin Espaço Luz São Paulo - SP Atividades retornam dia 30 de julho - Teto novo!
www.taichipailin.com.br
Niall O’Floinn da Irlanda mestre de Tai Chi 13ª geração Curitiba (PR), Campo Mourão (PR) Vitória (ES)
Contato ebenvenutti.taichi@gmail.com
www.chentaichibrasil.com.br 10 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Tai Chi Chuan Equilíbrio e Vitalidade “Venha praticar você também, agende uma aula experimental” Professora Elenice Benvenutti
Aulas em grupos e individuais Curitiba - PR
Foto com Shifu Niall O’ Floinn na postura “Proteger o coração com o punho”.
Postura “Guardião do templo socando o pilão” na apresentação da “Forma dos 18 movimentos” do estilo Chen de Tai Chi Chuan da linhagem Chen Zheng Lei no evento de recepção do grão-mestre Wang Hai Jun em Curitiba.
Curitiba - Whatsapp (41) 99724-4984 (Tim) ebenvenutti.taichi@gmail.com
O ímpeto de poder ir a fundo no estudo do Tai Chi Chuan, da cultura e da língua chinesa...
“A prática verdadeira do Tai Chi Chuan nos ajuda a entender melhor o mundo, a vida, nosso corpo, nossa energia, o ir e vir que a tudo permeia. Assim como aprendemos a movimentar o corpo, aprendemos a nos movimentar na vida. O Tai Chi Chuan, com a filosofia e a cultura que o permeia, nos traz a possibilidade de enxergar o mundo por uma outra ótica.” Confira mais na entrevista sobre o que pensa o prof. Castro Junior.
Vale a pena!
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ENTREVISTA
CASTRO JUNIOR Por Levis Litz Fotos: Divulgação/Acervo Castro Junior
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ENTREVISTA
Prof. Castro Junior Yang Yazhong
Natural de Ribeirão Preto, SP, licenciado em Educação Física pela UNICAMP em 2007, e com uma energia sem fim, esse jovem e promissor professor de Tai Chi Chuan, Chi Kung, cultura e idioma chinês, atualmente está vivendo na cidade de São Paulo. Possui - com apenas 34 anos de idade - um notório reconhecimento dos praticantes de Tai Chi da Família Yang. Viveu entre eles na China e faz parte de um grupo de professores de Tai Chi Chuan da maior seriedade no cenário nacional. O que o Tai Chi representa para você? O Tai Chi Chuan é uma, dentre as inúmeras possibilidades existentes de treinamento do potencial humano. Não sei se encontrei o Tai Chi Chuan ou o Tai Chi Chuan me encontrou, na verdade nos encontramos. E isto fez e faz muito sentido no meu viver. Quando encontramos algo que nos faz sentido na vida temos que nos esforçar continuamente nisto, custe o que custa. No momento da morte, se arrepender da vida é o momento mais difícil que podemos enfrentar, não podemos nos arrepender de nosso viver. Naturalmente no processo ao qual nos dedicamos vamos descobrindo o caminho a ser trilhado, o caminho não está pronto, somos nós que o fazemos, temos mestres e amigos que nos ajudam neste caminhar. Pessoalmente, já não é mais possível imaginar minha vida sem o Tai Chi Chuan. Hoje, tenho minha prática pessoal, um aprendizado sem fim e busco compartilhar o pouco que tenho com meus alunos e amigos, incentivando a experimentação pessoal de cada um e buscando não atrapalhar o caminho alheio. Qual é o propósito do Tai Chi? A prática verdadeira do Tai Chi Chuan nos ajuda a entender melhor o mundo, a vida, nosso corpo, nossa energia, o ir e vir que a tudo permeia. Assim como aprendemos a movimentar o corpo, aprendemos a nos movimentar na vida. O Tai Chi Chuan, com a filosofia e a cultura que o permeia, nos traz a possibilidade de enxergar o mundo por uma outra ótica. 14 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Os benefícios tão extensamente abordados, e hoje em dia, cientificamente comprovados, não se limitam ao uso da sua técnica no corpo físico, Tai Chi é algo muito maior! Como o Tai Chi influencia em sua vida pessoal? No começo nos familiarizamos com a técnica, pouco a pouco começamos a entender sua fundamentação e seus princípios, depois disto o que entendemos deve ser testado e testado até que aquilo seja expressado naturalmente. Quando aprender a avançar e recolher começou a fazer parte do dia a dia, ali comecei a perceber que o Tai Chi começou a fazer parte da vida. Mas, há muitos níveis, quando me comparo com meus mestres me sinto como um eterno principiante. Continuar treinando e estudando sem fim é a solução para que isto faça parte da vida até o último momento. Você já praticou uma outra arte marcial? Sim, desde criança tive contato com judô, karatê, aikido, kung fu e outras trocas muito ricas com diversos estilos e professores. Cada arte e cada professor mostram um aspecto distinto, manter a mente aberta e deixar os preconceitos de lado nos ajudam a entender um outro ponto de vista. Isto é muito útil. Aprendi com o cozinheiro, com amigos e com os mendigos. E qual foi a razão de buscar o Tai Chi? Na infância e na adolescência passei por momentos muito difíceis em certos aspectos, olhava para a vida e não conseguia entender a razão de tanto sofrimento e tanta tristeza. Me lembro que um dia, angustiado e esgotado com tudo isto, pensei: “a felicidade não pode depender exclusivamente dos outros e das condições externas. Deve haver um modo de se encontrar a paz por dentro”, ali tomei a decisão de procurar a solução, o remédio. Após isto, as portas se abriram, conheci e continuo conhecendo pessoas que me ajudam nesta busca. Estar em contato com os mestres e companheiros de prática faz com que tudo isto seja compartilhado e faça mais sentido. A comunidade de praticantes é extremamente importante neste sentido, cada um compartilha um pouco do que tem. Temos que nos unir e ajudar uns aos outros, minimizar as diferenças e nos focarmos no propósito comum que temos. Outro ponto é entender que, no processo de aprofundamento da prática, vamos descobrindo questões ainda não esperadas, consequentemente nossas “razões” também mudam, é preciso estar aberto para as mudanças. Qual foi a alegria que o Tai Chi trouxe à sua vida? O Tai Chi é uma prática de alegria, da descoberta da alegria dentro do conflito. Confúcio disse algo como: “acumule uma pedra por dia, no fim construa um castelo”, cada momento de prática é uma pedra acumulada, um
momento transformado em alegria. Muitas vezes isto traz confusão no entendimento do principiante e parece até mesmo ser uma propaganda enganosa. Costumo brincar com meus alunos sobre isto: “você achava que ia chegar aqui e relaxar, ‘ficar zen’, haha. Você foi enganado! Desculpe te avisar só agora, depois que você já pagou a mensalidade! (risos)”. É óbvio que a pessoa não foi enganada! Assim como não podemos dizer que o médico nos enganou com o remédio que não fez o efeito desejado na primeira dose. É preciso tomar o remédio contínua e corretamente. O último ponto de mestre Yang Chengfu diz: “tranquilidade no movimento”. Último, na cultura chinesa quer dizer recomeço. Voltemos ao primeiro princípio, levante a cabeça. O primeiro momento em que isto me fez mais sentido foi no período em que eu estava me preparando para o vestibular. Me lembro de chegar para as aulas de Tai Chi Chuan muitas vezes exausto, sem vontade nenhuma de praticar, preocupado, cheio de coisas na cabeça e toda a pressão daquele momento. Ao fim da aula eu me perguntava: onde foi todo aquele cansaço e confusão? Aquilo foi extremamente transformador e me motivou a seguir adiante. Hoje posso dizer, é possível transformar a tristeza em alegria, a confusão em sabedoria, pela prática.
Foto: Fernanda Franco
Você já utilizou o Tai Chi Chuan para se defender? Sim. Me lembro de várias situações. Mas, as mais importantes não são as de conflito físico, de luta, são as de conseguir se reequilibrar nas situações de conflito com as situações que a vida nos traz. Quando a mente está equilibrada, no centro, as situações de conflito são evitadas e transformadas. Na real situação de embate é preciso estar presente, atento também às consequências de nossos ato, achar o momento adequado e o como agir. As vezes o não agir é a melhor saída, se desvencilhar do confronto direto, dar tempo, e por fim, quem sabe, conseguir transformar o inimigo em amigo. Isto é possível. Você obteve resultados de saúde do Tai Chi? Sem dúvida, tive e continuo recebendo estes benefícios. Quanto mais praticamos, maiores os benefícios. Temos dois momentos neste caso: o treino individual e o treino em duplas. No individual temos a oportunidade de olhar para dentro e entender o movimento interno. No treino com o oponente temos a oportunidade de conhecer ao outro. Treinar com muitas pessoas diferentes nos traz a habilidade cada vez mais profunda do lidar com a diversidade. No segundo caso, quanto mais nos esquecemos de nós para conhecer ao outro, mais nos conhecemos. O movimento precisa se adaptar ao outro, o outro ao um e, a partir daí, temos infinitas possibilidades neste treinamento de sensibilidade. Para isto, também é preciso se entender o conceito de saúde dentro do pensamento chinês e a formatação de sua medicina. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 15
Fotos/Divulgação: Acervo Castro Junior
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Por que as pessoas procuram o Tai Chi? A maioria busca por “saúde” e é preciso entender o desenvolvimento histórico do Tai Chi Chuan para isto. O termo “saúde” é muito relativo e complexo. Em nossa ideia básica de saúde ocidental, em geral, temos a noção de senso comum de que alguém “sem doenças” é “saudável”. Ou poderíamos usar o conceito da OMS (Organização Mundial de Saúde): “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. A partir desta premissa poderíamos fazer duas perguntas fundamentais: Será que existe alguém realmente saudável? O que é “bem-estar físico, mental e social”? A segunda pergunta ainda nos permite perguntar o que é este “completo bem-estar”? Sinceramente, não sei responder, ainda estou descobrindo. Mas, gostaria de deixar aqui, dentro de meu limitado entendimento, uma contribuição sobre esta reflexão. Primeiro, é preciso dizer que isto exigiria externamente muito estudo e internamente muita investigação. O olhar sobre o corpo dentro de nosso modelo ocidental e eurocêntrico nos traz uma noção, o pensamento chinês nos traz outra. Ambas visões, a princípio, podem parecer extremamente opostas. Mas, assim como Yin e Yang, podem ser entendidas como complementares. Como complementares, são úteis uma à outra. De forma simples, se sofremos um grave acidente de carro e chegamos à emergência de um hospital, certamente queremos um bom cirurgião, mas isto não quer dizer que um bom acupunturista não possa nos ajudar no processo de recuperação. Se temos problemas de saúde que nenhum exame laboratorial, nenhum aparelho ou médico de medicina ocidental resolve, podemos nos utilizar da MTC (Medicina Tradicional Chinesa) e, há inúmeras comprovações, milenares, e hoje em dia, científicas a respeito destes benefícios, sejam físicos, mentais ou emocionais. O ser humano é muito complexo e ao mesmo tempo muito simples. Mas, em minha experiência, se sua motivação para a prática do Tai Chi Chuan é saúde, autoconhecimento, marcial ou espiritual, independente de sua motivação de resultados com a prática, é preciso dizer que não há como se separar uma coisa da outra. Didaticamente, para um entendimento intelectual, a princípio, até se permite a separação, mas não há como se separar o corpo, da energia, do pensamento, das emoções, daquilo que nos rodeia etc., tudo nos influencia e é influenciado. É preciso ir fundo nisto para achar seu ponto de partida e não se limitar a um único aspecto da arte do Tai Chi Chuan, por mais que os outros aspectos não façam sentido neste momento. Para este entendimento precisamos de dois aspectos: treino e estudo, orientação de um bom professor e uma experiência pessoal.
“O discípulo pergunta ao mestre: - Mestre, como sei se estou no caminho correto? - Se esforce em fazer o que é correto. - Mas, mestre, como sei se estou fazendo o correto? - Cometa erros!
Foto: Fernanda Franco
O Tai Chi Chuan nos ensina isto a cada passo, em cada correção de pés e mãos.”
Quais os estilos de Tai Chi que você teve contato? Me dediquei desde o começo ao estilo tradicional da Família Yang, passados meus preconceitos iniciais tive a oportunidade de conhecer pessoas de diversos estilos e trocar experiências em diferentes níveis. De alguma maneira, por vias e veículos diferentes, todos nós estamos tentando entender algo em comum, por mais que estejamos em momentos e lugares diferentes, acredito que, respeitar as inúmeras possibilidades de expressão da arte é muito importante e saudável, diferentes pessoas e linhas possuem distintas motivações e focos. O estilo Yang para mim foi um encontro, tenho um link com a linhagem, é preciso encontrar seu lugar. Percebo cada vez mais que não existe melhor ou pior, existem diferentes, e cada lugar pode nos suprir de modo distinto. Porém, diria que o erro comum é achar que entenderemos isto rapidamente e que a responsabilidade é sempre do outro, cada um de nós deve procurar sua maneira de contribuir com empenho para ajudar na harmonia da comunidade de praticantes. Que mestres de Tai Chi você já teve contato? Conheci alguns, de vários estilos e variações, mas estive focado no estilo da Família Yang. Comecei com prof. Fernando de Lazzari, que me apresentou aos Professores Roque Enrique Severino e Ângela Soci, que
me apresentaram ao Mestre Yang Jun, na China tive a oportunidade de treinar um pouco com seu avô Gran Mestre Yang Zhenduo e com seu neto Yang Bin, que me apresentou a mestre Song Bin, que me recebeu como discípulo na família. E continuo conhecendo outros, com coração aberto podemos aprender algo. Esta pergunta me fez pensar na minha própria história dentro do Tai Chi Chuan e o que aprendi com os diferentes mestres e professores, na China conheci inúmeros mestres de linhagens não famosas também. Sou muito grato por cada um! Você já presenciou algum fato engraçado na prática do Tai Chi? Vários, mas não me lembro de nada muito interessante. Aliás, as pessoas sempre tiram sarro de mim porque sou péssimo em contar piadas, sempre tenho que avisar que a piada acabou, aí as pessoas riem. (risos) Você está associado a qual instituição de Tai Chi? Sou membro e Instrutor Afiliado da International Yang Family Tai Chi Chuan Association. Você, além de professor, também é discípulo. O que é ser um discípulo de Tai Chi? Esta me parece uma pergunta muito simples e muito complexa ao mesmo tempo. De forma simples www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 17
Foto: Fernanda Franco
é apenas uma responsabilidade, algo já assumido de coração e depois a responsabilidade aceita dentro de uma cerimônia formal e de reconhecimento social, para isto é preciso entender os votos que o discípulo assume. De forma mais complexa é o adentrar no coração da família que te recebe. Como toda família, com seres humanos, há dificuldades, porém, assim como em nossas famílias, é o amor que nos une, é o propósito comum que nos une, é o objetivo de poder compartilhar algo bom e útil para o mundo que nos une. Todos estes pontos fazem parte do aprender a arte do Tai Chi Chuan, aprender no caminhar e assumir o levar adiante uma tradição. Se for conveniente e me permitir, gostaria de sugerir dois textos que podem explicar um pouco a este respeito, o primeiro, e mais simples, é uma entrevista que concedi ao informativo No.7 do centro de Ribeirão Preto, disponível em www.taichichuan.com.br/arqdoc/ informativo_07.pdf. O segundo, com um texto muito mais belamente construído é de minha irmã Paula Faro, em seu blog: www.aartedenutriravida.com/p/a-porta-para-ocaminho.html Qual é o seu conselho para quem pretende se tornar um professor de Tai Chi? Tenha amor e paciência com seus alunos, aprenda humildemente junto com eles, cada obstáculo é um aprendizado, não se permita desistir. Ajude os mestres, os irmãos e irmãs de prática e pense que a transmissão deste conhecimento ajudará a muitas pessoas e ficará na história. Você disponibiliza o Tai Chiem algum espaço? Atualmente ofereço aulas particulares, aulas em grupos e cursos onde me convidam, ajudo nos cursos de instrutores de Tai Chi Chuan dos centros da Família Yang em São Paulo e Ribeirão Preto e em seus representantes ao redor do Brasil. Neste momento, minha dedicação à vida acadêmica não me permite dar muitas aulas regulares, mas, o farei quando possível. 18 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
O que você acha de atividades gratuitas de Tai Chi que vários professores disponibilizam e m locais públicos? Diferentes professores possuem diferentes habilidades e perspectivas no desenvolvimento e disseminação da prática. Os espaços públicos são muito importantes para atingir pessoas que, muitas vezes, não têm acesso às aulas formais em centros de Tai Chi Chuan. Salientaria 2 pontos: a qualidade e fundamentação destas práticas oferecidas devem ser priorizadas, não podemos fazer algo de qualquer maneira porque é um espaço gratuito. Segundo: o incentivo a que as práticas sejam reconhecidas, não apenas como trabalho voluntário, o reconhecimento dos professores por meio de incentivo governamental, políticas públicas e discussão para se criar um espaço de ensino com qualidade. Os professores precisam manter seu estudo e ter instruções dos mais experientes para que possam progredir e possam consequentemente compartilhar com seus alunos, um curso não forma um professor, é preciso estudar constantemente. Tai Chi Chuan não é fast food, é uma prática que precisa de tempo e esforço para ser entendida e, consequentemente, se obter os benefícios. Como surgiu a ideia de você ir para a China? Desejo de adolescente de poder ir a fundo no estudo do Tai Chi Chuan, da cultura e da língua chinesa, retornar para contribuir no Brasil e na América Latina. O incentivo de meus professores foi fundamental para isso. As portas se abrem quando nossos mestres nos oferecem amor no trilhar do caminho. A China é a fonte do Tai Chi Chuan, entender a cultura e o pensamento in loco é uma possibilidade única. Não consegui imaginar nem de perto como realmente poderia ser, o que aconteceu foi infinitamente maior, em todos os sentidos. Quando você foi? Fui no começo de 2011 e retornei em 2015. Foram quase 5 anos que parecem décadas. Por dentro me parece muito mais, cada ano parecia equivaler a muitos anos, difícil calcular. E quanto à acolhida, como aconteceu? Diferentes pessoas te acolhem de modo diferente, ser acolhido com amor e sofrer preconceitos faz parte da experiência humana. Passei os melhores e piores momentos de minha vida na China. Quando retornei ao Brasil e minha mãe foi a uma palestra em que conto sobre estas experiências, ela se chocou e me perguntou: “Por que você não contava dos problemas? Você faria novamente”? Respondi algo como: “Contar dos problemas em um desabafo pode ajudar a aliviar o peso e a refletir, mas não traz soluções, é preciso focar no remédio. Faria tudo novamente, porque um ano de China para mim é o equivalente a muitos anos de Brasil”. Mas, esta é minha
Foto: Fernanda Franco
experiência pessoal e sou muito grato por todos os chineses e os inúmeros estrangeiros do mundo inteiro que conheci, aprendi um pouco com cada encontro. A China é o nome de um país, assim como Brasil é o nome de um país. Brasileiro ou chinês são apenas rótulos identitários para uma pessoa que nasceu em um país ou outro. Somos todos seres humanos, todos buscando ser felizes aos trancos e barrancos, sofrendo e buscando entender a vida, o resto são apenas tentativas de se descrever algo. Se tirarmos nossas peles e não nos preocuparmos com a nacionalidade escrita no passaporte, podemos ser mais felizes e aprender mais. Tive a experiência de trabalhar com relações internacionais na área de intercâmbio em uma universidade e em uma empresa chinesa, estar neste meio de diversas nacionalidades permite observar muitas coisas interessantes. Por exemplo, diante de uma situação de problema, cada pessoa reage de modo distinto, observamos que aqueles que foram educados e formatados dentro de uma cultura comum possuem semelhanças no seu agir, isto parece um tanto óbvio de se dizer. Porém, ainda podemos observar muitas nuances dentro da mesma “aparente formatação”. Ou seja, ainda podemos ver muitas formas distintas do reagir, do buscar soluções e do agir. Assim, entender algo como bom ou ruim é muito relativo, relativo a inúmeros aspectos, mas principalmente daquele que enxerga a situação na qual se submete. Aquilo que era entendido como uma boa acolhida para alguns, era visto como uma má acolhida para outros. Para quais lugares da China você foi? Fui inicialmente para a cidade de Taiyuan, na província de Shanxi, morei lá por 4 anos, os 2 primeiros estudei e trabalhei em uma universidade que me acolheu. Taiyuan fica a aproximadamente 500 km a oeste de Pequim. Cidade onde mora o mestre Yang Zhenduo e seu neto, Yang Bin, a quem mestre Yang Jun me indicou inicialmente para estudar. Após poucas semanas mestre
Yang Bin me apresentou formalmente a mestre Song Bin, fomos visitá-lo em sua cidade, Feng Yang, que fica a umas duas horas de Taiyuan. Foi um encontro de almas, como ele diz: “wo men you yuanfen”, difícil de se traduzir, “nós temos Yuanfen”, que significa que temos um link, uma conexão, difícil de se descrever. No quarto ano de China estava difícil conseguir visto e trabalho, então me mudei para Foshan, na província do Cantão. A cidade é muito boa e moderna, capital da cerâmica e das artes marciais na China, berço de IP Man e Huang Feihong. Tive um choque cultural dentro da própria China. Após algum tempo mestre Song Bin montou um centro de Tai Chi Chuan na cidade de Guanzhou, capital da província. Eu passava meus finais de semana e às vezes, durante a semana, treinando e estudando com ele e os amigos. Isto também responde um pouco sobre a relação mestre-discípulo, ele me tratava como um filho, dormíamos no mesmo lugar, comíamos do mesmo e estudávamos o mesmo. Neste dia-a-dia, na convivência se vai aprendendo, nada diferente de qualquer outra coisa que fazemos na vida. A única diferença é que acordava às cinco horas da manhã e treinava e estudava até meia-noite em média, dependia da ocasião. Procede aquela imagem de que na China todos praticam Tai Chi em todos os lugares? Obviamente vemos mais que no Brasil, mas vemos mais pessoas comendo miojo que praticando Tai Chi Chuan (risos). Há menos pessoas praticando Tai Chi Chuan que futebol no Brasil. Isto depende do local e se há um professor ensinando. Tem algum fato curioso que você tenha visto por lá? Uma vez estava indo com meu mestre para minha casa e atravessamos um parque grande que ficava bem ao lado de casa, eu apreciava ver o movimento do parque da sacada de casa tomando chá. Os chineses fazem muitas atividades distintas nos parques e praças, é muito bonito de se assistir. O Mestre Song Bin olhou um grupo de praticantes de Tai Chi Chuan na praça e disse: “ni kan, kong de, shenme dou meiyou le” (olhe, é vazio, não há nada ali). Ele continuou andando e me deixou sozinho olhando. Isto me trouxe uma reflexão, ter o olho puxado, ter a genética ou ter nascido na China, não são condições para se entender o que é Tai Chi Chuan. Isto deve ficar muito claro para nós ocidentais: temos as mesmas condições! Basta praticar e estudar! Quais foram as dificuldades de adaptação que você sentiu por ser brasileiro? No começo todas. Mas, depois, como qualquer estrangeiro, temos que nos adaptar, e isso nunca acaba, assim como não acaba no Brasil, sempre temos que nos adaptar. No começo, olhar para um cardápio, pedir algo sem saber o que virá e comer sem se saber www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 19
“Diferentes professores possuem diferentes habilidades e perspectivas no desenvolvimento e disseminação da prática. Os espaços públicos são muito importantes para atingir pessoas que, muitas vezes, não têm acesso às aulas formais em centros de Tai Chi Chuan.”
Fotos/Divulgação: Acervo Castro Junior
o que é, certamente mexe com você por dentro, tanto emocionalmente como fisicamente (risos). Depois de uns quatro meses, sabendo um pouco da língua, eu já estava fazendo o primeiro mochilão, é divertido se aventurar e não saber o que vai acontecer. Que conselho você daria a quem pretende estudar Tai Chi Chuan na China? É fundamental se preparar bem para uma viagem para a China, saber inglês não é nem o mínimo suficiente. Resumidamente eu diria, se você quer estudar Tai Chi Chuan na China, peça as referências a seu professor, cair de paraquedas, sem indicações, pode ser uma perda de tempo e dinheiro. Você lançou um blog, qual é a sua intenção? Algo simples, apenas o desejo de compartilhar as informações sobre Tai Chi Chuan e áreas correlatas. Sugestões de mudanças e posts são muito bem-vindas! No começo eu não queria fazer um blog, queria apenas um site “cartão de visita”, mas aí tive o incentivo e a grande oportunidade de ter uma querida aluna, a webmaster e designer, que me incentivou muito nisto, sou muito grato à querida Honin por esta grande ajuda. Desejo que as pessoas possam encontrar algo útil ali dentro. 20 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Qual é a importância de uma publicação como a Revista Tai Chi Brasil? Sou suspeito (risos)! Para falar sobre a revista é preciso falar do coração que a movimenta. Uma pessoa que une, sem preconceitos e rancores, a grande família de Tai Chi Chuan do Brasil e da língua portuguesa. Muito obrigado ao jornalista/editor por seu trabalho! No futuro, estas revistas estarão nos museus de Tai Chi Chuan pelo mundo! Sob a ótica de quem pratica Tai Chi Chuan, nestes momentos politicamente conturbados, o que você comentaria a respeito? Me sinto um ignorante para fazer abordagens políticas, deixo apenas uma singela contribuição. Como comentei, acredito que a decisão sobre o que se fazer, quando ir e quando vir é da pessoa, deve ser respeitada, mesmo que não entendamos a posição escolhida. Ouvir é yin, fazer exteriormente é yang. Se em um momento conturbado a pessoa se retira em uma caverna para meditar ou vai para a rua lutar, é decisão dela, as consequências serão assumidas por ela e pelos outros também, seja direta ou indiretamente. Mas, neste processo é preciso que olhemos nossa motivação,
Fotos/Divulgação: Acervo Castro Junior
ou seja, o motivo que nos guia numa decisão ou outra, para um lugar ou outro. Uma mente confusa é como uma folha ao vento. A prática nos ajuda a acalmar a mente e perceber o momento e a forma de agir. Isto é aprendido inicialmente no treinamento individual e depois na relação com o oponente. É um aprendizado sem fim. Se queremos paz temos que nos focar em entender e praticar a paz, se queremos honestidade é o mesmo. Lutar contra o que consideramos errado é nutrir o erro. Tenho conversado constantemente sobre isto com as pessoas, desde que voltei ao Brasil vejo muitos lutando “contra a corrupção”, mas vejo poucos lutando “a favor da honestidade”. Se queremos um país honesto temos que nos esforçar em sermos honestos. É preciso ter clareza mental para saber o que realmente queremos. O discípulo pergunta ao mestre: - Mestre, como sei se estou no caminho correto? - Se esforce em fazer o que é correto. - Mas, mestre, como sei se estou fazendo o correto? - Cometa erros! O Tai Chi Chuan nos ensina isto a cada passo, em cada correção de pés e mãos. O treinamento do que chamamos de meditação em movimento está aí. Aceitar os limites, superar os limites, se perdoar no erro e continuar se superando, isto é “duan lian”, forjar ferro em fogo. Apenas compartilho um pouco da minha experiência pessoal, estou aprendendo e descobrindo o mesmo. Bem, pode ser que tudo que eu tenha falado aqui esteja errado, então, espero que possamos aprender uns com os outros com estas contradições. Agradeço pela oportunidade e espero que alguma contribuição possa ser útil. Um abraço a todos os leitores! Desejo muita saúde e felicidade a todos!
Professor Castro Junior
Blog: www.centroemharmonia.com.br E-mail: zhong@centroemharmonia.com.br www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 21
“No Upaddha Sutta Buda diz a Ananda que ter bons amigos é toda a vida santa. Na minha jornada pelo Tai Chi Chuan da Família Yang fui afortunada por encontrar um verdadeiro amigo e irmão de coração. Agradeço por podermos compartilhar e crescer juntos nesta arte a qual nos dedicamos com afinco e que tanto nos apaixona.“ Paula Faro, Yáng yaxīn Professora de Tai Chi Chuan Discípula do Mestre Yang Jun
Foto: Fernanda Franco
Parque Nacional Zhangjiajie, Província de Hunan - China.
“No início do ano 2000 tive a boa surpresa de receber um aluno jovem, o José Luís de Castro Júnior, que na época tinha apenas 16 anos de idade. Era muito raro pessoas nesta idade se interessarem pela arte do Tai Chi Chuan. Me lembro que desde o início ele sempre foi um aluno muito esforçado, interessado e disciplinado. Hoje vejo que o Tai Chi Chuan já fazia parte do Espírito dele. Com o passar do tempo criamos uma forte e sincera amizade e, em 2005, fizemos uma parceria, na qual o Júnior começou a representar o EQUILIBRIUS Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental na cidade de Campinas, abrindo uma filial do Centro. De lá para cá participamos de inúmeros eventos e treinamentos de Tai Chi Chuan, no Brasil, na China e em outros países. Tivemos excelentes momentos, experiências e vivências juntos. E sempre trabalhamos juntos para ensinar e divulgar o Tai Chi Chuan da Família Yang e promover a sabedoria da Cultura Chinesa. O Júnior é uma pessoa exemplar, com um excelente caráter, que vive a vida com uma conduta correta, sempre de bom humor e tentando evoluir em todos os aspectos de sua vida. Sou grato pela amizade e companheirismo que sempre cultivamos. É um privilégio conhecer e viver com pessoas sinceras, íntegras e verdadeiras como o nossso querido amigo Júnior. Acredito que as pessoas entram em nossa vida não por acaso, e não é por acaso que elas permanecem.” Fernando De Lazzari
“O professor Castro Junior é um irmão e um grande amigo, nos conhecemos há cerca de 10 anos durante um treinamento de Tai Chi Chuan no Jardim do Dharma, em Cotia, SP. Alguns anos depois ele foi morar na China com o objetivo de estudar o idioma e a cultura da China, além de se aprofundar no treinamento de Tai Chi Chuan. Durante um evento de Tai Chi Chuan na China com um grupo de brasileiros, tivemos o privilégio de ter o professor Junior como nosso guia, fato que enriqueceu e facilitou muito a nossa experência na terra do Tai Chi. Depois de alguns anos morando na China, o prof. Junior retornou para o Brasil e tive a oportunidade de trazê-lo duas vezes para Joinville, a fim de ministrar cursos e workshops de Tai Chi Chuan e cultura chinesa para meus alunos e pessoas interessadas. Sempre demonstrando muita competência e conhecimento, conduziu os cursos com muito sucesso, transformando os alunos em amigos, que com frequência perguntam quando será o próximo curso do Prof. Junior.”, Claudio Montenegro 22 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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Livro Revelações e o Sagrado no Xamanismo
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ARTIGO
Tai Chi - um estilo de vida... ...mais saudável A médica e jornalista Débora Pires Siles é natural da cidade de Centenário do Sul, PR, e vive em Curitiba há um ano e seis meses. Escolheu o Tai Chi para sua vida, porque começou a estudar sobre as práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa após iniciar seu curso em acupuntura. Desta forma, acabou se interessando pelos efeitos terapêuticos que o Tai Chi proporciona: “resolvi experimentar e estou bastante satisfeita com os resultados mesmo num curto período de tempo”, conta. O seu orientador é o diretor do Grupo Tai Chi Curitiba: “Faço aula da Forma dos 18 Movimentos, uma vez por semana, e as aulas de Chi Kung aos sábados na Praça do Tai Chi. Assim que iniciei as práticas já percebi que o Tai Chi traz junto um estilo de vida todo diferente. Quem chega para se matricular numa aula de Tai Chi está buscando algo a mais que simplesmente uma atividade física. Talvez seja difícil de colocar em palavras, mas é uma certa busca por equilíbrio, algo tão difícil de encontrar nos dias de hoje. Tanto na escola quanto na Praça do Tai Chi só tenho tido ótimos momentos de convivência e aprendizado”, revela a praticante que profissionalmente acompanhou a professora Lisandra que ministra vivências relacionadas ao Tai Chi. “Acompanhei por um mês, em maio. A ideia de acompanhar a professora Lisandra é uma proposta diferente, estou lá para ver a aplicação do Tai Chi na Atenção Primária em Saúde, pois o Tai Chi faz parte das Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde, previsto por uma política nacional de mesmo nome. Como sou residente em Medicina de Família e Comunidade e estou me especializando em Acupuntura, tenho interesse em unir essas duas coisas que confluem no cuidado integral da pessoa. Nesse sentido, vejo um grande potencial no Tai Chi, o que estou podendo comprovar de perto ao acompanhar o grupo da Lisandra na Unidade Menonitas, em Curitiba”, diz. Sobre essa experiência, Débora complementa: “Sempre chego mais cedo para as aulas e fico conversando um pouco com os alunos da Lisandra. Desde o primeiro dia percebi a energia boa que circula entre aqueles alunos. São na maioria idosos, muitos com problemas osteoarticulares, outros que chegaram lá por depressão e ansiedade. Vejo a participação de homens que não é tão comum nos demais grupos que já tive a oportunidade de conhecer e isso me chamou a atenção desde o início. Tem jovens também, em menor número, mas muito integrados com os de mais idade. Escutei histórias de pessoas que deixaram de tomar remédios controlados em altas doses para dormir, pessoas que reduziram consideravelmente níveis de ansiedade e estresse, melhoraram das dores em joelhos, ombros, entre outras, pessoas que melhoraram na questão do equilíbrio, e além de tudo isso, o que acho mais sensacional é a conexão que se cria no grupo, se tornaram amigos, frequentam as casas uns dos outros, dividem seus problemas, contam as novidades. Esse ganho na sociabilidade eu acho
simplesmente fantástico. Como profissional de saúde fico realmente muito impressionada com o alcance do Tai Chi na saúde das pessoas”. “Acredito ser de suma importância a divulgação do Tai Chi Chuan e seus benefícios para a promoção à saúde e melhora na qualidade de vida das pessoas, pois trata-se de uma prática corporal da Medicina Tradicional Chinesa que apresenta uma perspectiva mais holística de atenção em saúde, unindo promoção e cuidado terapêutico, com comprovações científicas sobre seus benefícios. Essas práticas foram incluídas nas PICs do PNPIC na década passada e ainda hoje são ofertadas em um número muito restrito de municípios do país, dentro da Estratégia de Saúde da Família. É uma atividade que preconiza a integração entre razão, intuição, sensibilidade e sentidos, promove o autoconhecimento e assim se torna um recurso de enorme potencial no intuito de trabalhar o protagonismo, a responsabilidade e a autonomia do cuidado de si. É uma atividade acessível, de custo quase nulo, basicamente sem contra-indicações de participação que propicia um estilo de vida mais saudável, além de apresentar caráter coletivo, proporcionando a convivência e o desenvolvimento de laços de amizade entre os praticantes, com isso transformando o momento da atividade de saúde em um momento de encontro e sociabilidade.” Débora Pires Siles www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 27
bem-estar
O Tai Chi em uma Unidade de Saúde O Tai Chi foi uma das escolhas para a vida, da fisioterapeuta Lisandra Falcão, natural do Rio de Janeiro e há 16 anos vivendo em Curitiba. Ela possui quatro pós-graduações, sendo uma delas em acupuntura. Adepta há alguns anos do Tai Chi, é voluntária na Praça do Tai Chi. Aprecia a prática, porque seus movimentos promovem a manutenção do bem-estar físico e faz a parte da Medicina Tradicional Chinesa. “Atividades coletivas auxiliam muito na saúde biopsicossocial, escolhi para isto o Tai Chi, pois além de ser uma prática que tenho afinidade, diversos estudos científicos demonstram seus benefícios, como redução de queda em idosos, dor crônica e ansiedade”, complementa.
“O que mais me chamou a atenção foi um relato de uma mulher de cerca de 50 anos que me falou: meu psiquiatra disse que isto aqui fez minha mente acordar”. Ela orienta o Tai Chi há um ano no espaço de saúde da Unidade de Saúde Menonitas, duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras, às 07h30min. Numa sala utilizada para diversos fins, a prática do Tai Chi é aberta ao público em geral: “a faixa etária dos frequentadores é entre 40 e 87 anos
e temos uma adesão maior de mulheres acima de 50 anos. Em média comparecem 12 pessoas”, diz. “Apesar de não utilizar nenhum instrumento de avaliação específico, os relatos dos que frequentam regularmente são sempre de sentiremse melhor. Observam melhora no desempenho de atividades do dia a dia, como limpar a casa, sair para fazer compras, mas, o que mais me chamou a atenção foi um relato de uma mulher de cerca de 50 anos que me falou: meu psiquiatra disse que isto aqui fez minha mente acordar”. Lisandra conta que não houve dificuldades para implementar o Tai Chi na Unidade, porém o espaço físico é limitado: “muitas vezes não ampliamos a divulgação por receio de não comportar a todos”. Aos profissionais de saúde que gostariam de ser voluntários em atividades que envolvam o Tai Chi a dica da fisioterapeuta e professora é: “Comecem, sem medo. Com uma simples divulgação no bairro e na própria Unidade de Saúde, o público adere.”, finaliza.
Revista Tai Chi Brasil - Por que você acha que as pessoas deveriam que praticar Tai Chi? Lisandra: “Nosso país está se tornando cada vez mais longevo e o Tai Chi é uma opção de atividade de fácil acesso para um número grande de pessoas. Não há necessidade de locais ou aparelhos especiais, que, por vezes, são limitadores à atividade, principalmente quando falamos de usuários do Sistema Único de Saúde.” 28 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
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Ilustração por Bryam Dissenha
Instagram: bryamdissenha
Para inspirar a criança que habita em você a praticar Tai Chi Chuan
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Novo Blog Tai Chi Chuan e Chi Kung
www.centroemharmonia.com.br centroemharmonia
Yang Yazhong
Prof. Castro Júnior Lançou recentemente seu blog “Zhong - Centro em Harmonia”, com informações e links muito úteis aos que apreciam a arte do Tai Chi Chuan, a cultura, a língua e o pensamento chineses. Em 2014, foi reconhecido na China como discípulo do mestre Song Bin, 5a geração da Família Yang de Tai Chi Chuan, discípulo do Gran Mestre Yang Zhenduo. Retornou ao Brasil em junho de 2015, iniciando de forma ativa seus esforços no ensino e propagação do Tai Chi Chuan e da cultura chinesa pelo país, com intenção de difundir o Tai Chi Chuan por toda a América Latina. Atualmente prof. Castro Junior reside na cidade de São Paulo e viaja pelo Brasil dando palestras, cursos e seminários. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 31
Livro: Viagens de uma Mônada
Mônada - Pela percepção as mônadas representam todas as coisas do universo; cada uma espelha todo o universo. Esse livro apresenta poesias - inclusive de Tai Chi, fotografias, contos, vivências, fatos, relatos e passagens de vida do premiado autor, que viajou por mais de 60 países. Ele saiu de sua cidade natal e fez conexões com outros cantos, recantos e encantos do planeta.
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