REVISTA
Desde 2009
Tai Chi Brasil
Edição nº 29 - Distribuição on-line gratuita e dirigida - www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
“O Tai Chi Chuan motivou-me a aprender mais acerca da cultura dos meus antepassados e aproximou-me ainda mais do meu pai.” Aristein Woo
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EDITORIAL
Em busca das raízes
Tai Chi Chuan TaiJiQuan
Que sensação boa quando estamos envolvidos na confecção de mais uma edição da Revista Tai Chi Brasil! Gostaríamos muito de poder publicá-la com mais frequência, visitar as escolas de Tai Chi desse Brasil afora, entrevistar seus professores, estar presente para cobrir eventos... Entretanto, enquanto não há verba para isso, vamos ao sabor do vento e da paixão, deixar que as ondas do Ying e Yang nos carreguem - sempre para frente.
CAPA Aristein Woo - Brasília, DF Foto: Arnaldo Saldanha
Enquanto navegamos, para nosso deleite, essa edição traz uma interessante entrevista com o instrutor Aristein Woo, de Brasília, e vários artigos muito bons - com diferentes visões - sobre o que permeia a arte do Tai Chi. Então... Caro leitor... O que está esperando? Vá para a próxima página e tenha uma boa leitura! Bom Tai Chi! Levis Litz Editor
Aos leitores da RTCB
Papel ou digital? A escolha é sua! Visite a nossa página na internet em www.RevistaTaiChiBrasil.com.br. Você poderá ler a versão digital na tela do seu computador ou então baixar gratuitamente para ler mais tarde. Se preferir a versão em papel, basta baixar (fazer um “download”) e imprimir. Essa opção é a preferida de alguns colecionadores. A escolha é sua!
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EXPEDIENTE
Cenas & Momentos Cidade de Galway, Irlanda ... foi nessa residência, em maio de 2009, que o editor se inspirou e obteve a ideia de criar uma revista brasileira voltada ao Tai Chi. Poucos meses depois nascia a Revista Tai Chi Brasil. Na foto, adeptos do Tai Chi, Mestre Niall O’Floinn, o editor e a praticante Siobhan.
Ti Er Qi (Salto Duplo) ... o prof. Estevam Ribeiro escreve a respeito desse salto na página 22. Na foto: o editor da Revista Tai Chi Brasil praticando Ti Er Qi (tendo ainda muito a aprender). Praia de Maresias, SP.
Castro Júnior e Fernando De Lazzari ... dois professores de Tai Chi Chuan com o editor da RTCB (ao centro) - presentes no campeonato de “Kung Fu Wu Shu”, na cidade de São Paulo, 2008.
Revista
Tai Chi Brasil www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Curitiba - Paraná - Brasil Edição nº 29 | Abril / 2018 ® Todos os direitos reservados Registro nº 401.197 / 2009 4° ofício de registro de documentos
Editor: Levis Litz
CNPJ: 20.259.228/0001-08
Capa Aristein Woo Foto: Arnaldo Saldanha
Paulo S. Orti, Rejane, SBTCC, Stephanie Fonseca, Zenaide Silva Rodrigues; GERPIS / DAEAP / COAPS / SAIS / SES-DF.
Revisão Valesca Giordano
Revista Tai Chi Brasil em Facebook: Grupo Revista Tai Chi Brasil
Colaboraram nesta edição Aristein Woo, Elenice Benvenutti, Estevam Ribeiro, Hiran Cassou, José Luiz Castro Junior, Niall O’Floinn e Paula Faro
revistataichibrasil@hotmail.com www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Agradecimentos Angela Soci, Arnaldo Saldanha, Zhong Centro em Harmonia, Célia e Arthur Dalmaso, CIPA/AR e CIPA/URPT - SENAC/PR, Claudio Montenegro, Equilibrius, Espaço Bem Estar (SP), Jennifer Rochavetz, José Luis Arnedo. Juarez Francisco da Silva, Nilva Maria de Borba Azevedo,
Jornalista responsável Levis Litz - mtb 3865/15/52v pr LevisLitz@TaiChiCuritiba.com.br LevisLitz@gmail.com Facebook, Twitter, Instagram: Levis Litz WhatsApp e Telegram: +55 41 98409-6858 www.TaiChiCuritiba.com.br www.FotoseRumos.com ---------------------------------------www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
A Revista Tai Chi Brasil é um publicação de distribuição on-line gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações concedidas de forma voluntária e gratuitas. Imagens com pouca definição são de responsabilidade de seus autores. Não é de responsabilidade desta publicação os artigos de opinião, fotos de divulgação, anúncios e também as opiniões emitidas em entrevistas e depoimentos, por não representarem, necessariamente, o pensamento do editor. Por questões de espaço, objetividade e clareza, a equipe editorial reserva-se o direito de resumir os textos recebidos e editar as imagens. A menção do conteúdo da RTCB pode ser feita desde que informada e citada a fonte.
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Tai Chi Chuan Equilíbrio e Vitalidade “Venha praticar você também, agende uma aula experimental” Professora Elenice Benvenutti
Aulas em grupos e individuais Curitiba - PR
Foto com Shifu Niall O’ Floinn na postura “Proteger o coração com o punho”.
Postura “Guardião do templo socando o pilão” na apresentação da “Forma dos 18 movimentos” do estilo Chen de Tai Chi Chuan da linhagem Chen Zheng Lei no evento de recepção do grão-mestre Wang Hai Jun em Curitiba.
Curitiba - Whatsapp (41) 99724-4984 (Tim) ebenvenutti.taichi@gmail.com www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 5
SUMÁRIO
Mestre Woo, Martinha - facilitadora de Tai Chi Chuan da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e o professor Aristein
12 ENTREVISTA Aristein Woo
03 __ Editorial
Em busca das raízes Aos leitores da RTCB
04 __ Expediente
Cenas & Momentos
08 __ Mensagens
Leitores Tai Chi em revista por aí
09 __ Rádio Corredor
Nas ondas do Yin Yang
10
12 __ Entrevista
22 __ 26 __
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32 __
A valoração à saúde, à cultura e às raízes de Aristein Woo
Ti Er Qi (Chute Duplo) Estevam Ribeiro A porta para o caminho Paula Faro Aspectos sobre o Tai Chi Niall O’Floinn
MENSAGENS TAI CHI EM REVISTA POR AÍ Que há muita gente lendo a Revista Tai Chi Brasil por aí... Isso tem! Desde a primeira de 2009 até esta edição de 2018... Quanta coisa já foi publicada, quantas dicas, curiosidades, matérias, fotografias, artigos e a boa notícia é que sempre poderemos reler qualquer edição.
Memória / Homenagem Capa da Edição nº 13 - Outubro de 2011 com o Mestre Liu Chih Ming em destaque
Qual é o seu comentário sobre a Revista Tai Chi Brasil?
“A Revista Tai Chi Brasil é uma referência única para o Tai Chi Chuan do Brasil. Além do conteúdo, sempre enriquecedor, ela é um canal de informações e compartilhamento, rompendo posições sectárias e promovendo a integração de todos os praticantes de Tai Chi Chuan.” Aristein Woo (Brasília, DF) “Parabéns por conseguir manter viva a revista” Tarcísio Tatit Sapienza (São Paulo, SP)
Seja impressa ou digital, nas folhas de papel ou na tela de um computador ou celular... Se você é um desses admiradores do nosso trabalho, escreva para nós, comente, compartilhe... Envie sua mensagem ou uma foto lendo a Revista Tai Chi Brasil! Olhe aí... o empresário Dorival, um adepto do Tai Chi Chuan, prestigiando a nossa Revista Tai Chi Brasil.
“É fundamental! Gosto da ideia de ter uma revista séria, destinada à divulgação da nossa arte, escrita por alguém que também pratica. (...) Sinto- me representado pela Revista Tai Chi Brasil.” Zel Mir dos Santos (Rio de Janeiro, RJ) “Importante fonte de consulta para todos os praticantes de Tai Chi, sempre que posso encaminho aos meus alunos. Penso que é uma fonte riquíssima de leitura, sem sombra de dúvidas. É uma roda de leitura também, faz-se necessário essa socialização do saber. ” Marcos Henrique de Oliveira Tavares
Deixe seu recado... facebook / Revista Tai Chi Brasil Mande sua mensagem... e-mails / RevistaTaiChiBrasil@hotmail.com / LevisLitz@gmail.com
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RÁDIO CORREDOR
Nas ondas do
Yin e Yang
Tai Chi Chuan
em
Buenos Aires
Na Argentina tem uma escola com mais de 30 anos de experiência em artes marciais e disciplinas destinadas a melhorar a saúde. É a Escuela de TaiChi Chen - Asociacion Argentina de Wushu LongHuQuan. Seus alunos são solicitados a trabalhar em instituições municipais e privadas, como hospitais, clínicas, comunidades, entre outros. Os alunos têm uma base muito sólida de conhecimentos teóricos e práticos, baseados em informações confiáveis, o que permite o avanço nos diferentes níveis de formação de nível profissional. Da mesma forma, entendem que o instrutor deve ser um comunicador que gere as ferramentas necessárias para a dinâmica de grupo, pedagogia, anatomia, consciência corporal, prevenção de lesões e treinamento em geral. Considera-se importante aprender a avaliar os alunos, motivar e desenvolver a liderança pessoal e de equipe, bem como desenvolver projetos como o ensino desde a infância, até a preparação de atletas de alto rendimento para competições internacionais, ajudando a promover o futuro pessoal e profissional do praticante. Os instrutores que dominam o programa devem ser capazes de transmitir aos seus alunos o domínio das técnicas que irão ensinar. Fonte: José Luis Arnedo, e-mail: info@chentaichi.com.ar
São Paulo
Aulas Gratuitas O site do Espaço Bem Estar (www. taichichuanyang.org) divulga em sua página que há aulas gratuitas de Tai Chi Chuan às terças-feiras, às 15h30, na UBS (Jardim Edite) e às quartas-feiras, às 08h15, na Praça Gentil Falcão (Brooklin). O Espaço Bem Estar, em São Paulo, foi criado em setembro de 2007, por Célia e Arthur Dalmaso, graduados pela Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Terapias Orientais, para o ensino de Tai Chi Chuan estilo Yang Tradicional e massagem Shiatsu. Tel: (11) 5103-0420 e (11) 99185-8830; e-mail: artg@uol.com.br
SENAC/PR apresentou
Tai Chi aos funcionários Na Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho SIPAT 2018, promovida pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho - CIPA/AR e CIPA/UEPT 01, o SENAC/PR disponibilizou a prática do Tai Chi Chuan aos funcionários, sob a orientação do prof. Levis Litz do Grupo Tai Chi Curitiba. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 9
Palestra Gratuita
Mestra Fang Hong “Uma Visão Feminina sobre os 10 Princípios do Mestre Yang Chengfu” - Palestra Gratuita a ser oferecida na sede da SBTCC no dia 1 de Junho, às 19h00. A figura feminina dentro das Famílias Tradicionais Chinesas sempre foi muito importante. As mulheres exercem seu poder de forma suave e em sua maioria muito discretas. Na Família Yang todas as mulheres praticavam e ainda praticam o Tai Chi Chuan de forma intensiva e participam ativamente da formação das escolas e métodos de ensino. Nos dias 02 e 03 de Junho acontecerá o Seminário Inédito da Forma Essencial do Tai Chi Chuan da Família Yang, com 10 horas de aulas. A Forma Essencial foi criada com o objetivo importante de servir como um primeiro passo para praticantes de Tai Chi Chuan por um lado e ao mesmo tempo como Forma para apresentação em torneios e demonstrações. Com 22 movimentos essenciais que surgem da Forma 103, a Forma Essencial permite ao praticante ter contato com todos os ingredientes do Tai Chi Chuan Tradicional. Seu conteúdo equilibrado coloca em evidência todas as técnicas utilizadas no Tai Chi Chuan da Família Yang, abrange ingredientes para o melhoramento geral da saúde e permite, também, o desenvolvimento das habilidades requeridas para torneios e demonstrações. Este Seminário, primeiro no mundo, oferecido pela Mestra Fang Hong, visa aproximar novos praticantes e ao mesmo tempo oferecer treinamento técnico para aqueles que desejem participar do Torneio Internacional que acontecerá na China em 2019 entre os meses de Julho/Agosto (data a confirmar). Mestra Fang Hong - esposa do Mestre Yang Jun - teve seu aprendizado do Tai Chi Chuan com o Mestre Yang Zhenduo (patriarca atual da família e avô do Mestre Yang Jun). Seus conhecimentos e experiência acerca da arte tem sido aprofundados sistematicamente na medida em que dirigiu o Centro Yang Chengfu de Seattle, EUA, e atualmente lidera junto ao Mestre Yang Jun o Centro de Treinamentos na cidade de Kunming na China, onde dedica-se a oferecer ensinamentos a seus discípulos chineses. Informações: http://sbtcc.org.br
Seminário
Mestre Chen Ziqiang
São Paulo 18, 19, 20 e 22 de maio Informações seminario@shaosheng.com.br ou (11) 3596-4750 10 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Praça do Tai Chi disponibiliza
Tai Chi Chuan e Chi Kung para a comunidade As atividades abertas - que envolvem 5 professores voluntários de Tai Chi Chuan e Chi Kung, acontecem aos sábados, às 09h30, desde que não chova. No local também há 2 “Passos Mágicos” para praticantes. Basta chegar e participar. É livre! É grátis! Av. Água Verde esquina com Rua Guilherme Pugsley, Curitiba, PR. Facebook/PracadoTaiChi
Livro
O Universo do Tai Chi Chuan do Prof. Roque Enrique Severino - obra que aborda, numa leitura agradável e fluida, aspectos históricos relevantes e aprofundamento filosófico dos pilares fundamentais que dão base à arte do Tai Chi Chuan
Livro Revelações e o Sagrado no Xamanismo
Adquira o seu exemplar!
Uma edição
... pelo e-mail: contato@totemtalentos.com.br ... whatsapp: (48) 99942-0768 ... site: https://totemtalentos.com.br/produto/revelacoes-e-o-sagrado-no-xamanismo/
A valoração à saúde, à cultura e às raízes de...
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ENTREVISTA
ARISTEIN WOO Por Levis Litz Fotos: Divulgação/Acervo Aristein Woo; Arnaldo Saldanha; Encontros de Tai Chi da Secretaria de Saúde. Tai Chi SES-DF
Responsável Técnico do Tai Chi Chuan - GERPIS / DAEAP / COAPS / SAIS / SES-DF, Aristein Woo, natural de Brasília, DF, do signo de Áries na tradição Ocidental e Cachorro na tradição Oriental, compartilha conosco um pouco de sua vida. Que tal conhecer um pouco mais sobre as raízes e as atividades desse dedicado instrutor de Tai Chi Chuan? Confira a entrevista... www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 13
RTCB ENTREVISTA Aristein Woo responde... O que o Tai Chi representa para você? É um tesouro da cultura chinesa, uma ponte para a sabedoria milenar do Oriente. É uma prática corporal que expressa essa sabedoria através dos movimentos e da visão de mundo desenvolvida pelo praticante. É uma técnica de autodefesa, sendo um dos estilos internos de Wushu. É uma prática de autocuidado, que leva o praticante a conhecer mais o seu corpo e a sua mente, desenvolver uma melhor postura e melhor controle dos músculos, tendões e articulações, adquirir mais tranquilidade para lidar com situações de estresse, harmonizar e fortalecer os Zangfu (Órgãos Internos na Medicina Tradicional Chinesa). É uma prática de promoção de saúde, favorecendo a formação de vínculos sociais entre os membros de um grupo de praticantes, empoderando-os para a identificação de situações particulares àquela comunidade e para a resolução coletiva dos eventuais problemas. Na sua opinião, qual é o propósito do Tai Chi? O Tai Chi é multifacetado, com múltiplas aplicações possíveis. Ele mesmo não tem um propósito. O propósito é criado pelo praticante de Tai Chi Chuan. Um jovem que deseja aprender uma arte marcial tradicional, encontra esse propósito no Tai Chi Chuan. Um senhor de 70 anos, portador de doença de Parkinson, que deseja melhorar o equilíbrio corporal, vai encontrar esse propósito em sua prática. Quando o Tai Chi fez parte de sua vida? Quando criança, via meu pai indo praticar o Tai Chi na praça, observava ele lendo livros sobre Tai Chi, mas não me sentia cativado por aquela atividade. Com o passar do tempo, eventualmente participava dos treinos abertos que ele ministrava - principalmente em datas comemorativas (Dia dos Pais, aniversários, etc.), risos.... Somente por volta dos 13 ou 14 anos comecei a perceber um valor intrínseco à prática. Comecei a participar com mais regularidade e notei que minhas crises de asma foram abrandando até desaparecerem. Aos 19 anos meu pai me encarregou de dirigir as práticas abertas diárias no período noturno, o que me motivou ainda mais a aprofundar o conhecimento e a técnica do Tai Chi Chuan. Você já praticou uma arte marcial além do Tai Chi Chuan? Quando criança, Judo e Aikido. Depois de adulto, breves incursões no Kendo e uma reaproximação com o Aikido. Todas as artes marciais tradicionais apresentam um caminho de aprimoramento físico, mental e espiritual. Todas são dignas de respeito e admiração. 14 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
E qual foi a razão de buscar o Tai Chi? A minha motivação inicial foi a saúde. Tinha crises asmáticas frequentes e observei a minha melhora ao longo do tempo. O Tai Chi Chuan, por sua vez, motivou-me a aprender mais acerca da cultura dos meus antepassados e aproximou-me ainda mais do meu pai. Como não aprendemos chinês na infância - minha mãe era brasileira e passávamos a maior parte do tempo com ela, a minha comunicação verbal com meu pai era bastante limitada - usamos o português no nível em que ele pôde dominar sem ter estudado a língua, complementando com recursos não verbais. O Tai Chi tornou-se um meio e um motivo para comunicação entre nós e me estimulou o aprendizado da língua chinesa. Como o Tai Chi influencia em sua vida pessoal? Eu fui uma criança muito tímida e retraída, e a tendência ao retraimento e à evitação de qualquer tipo de confronto continuam na fase adulta. Uso o Tai Chi Chuan para promover relações saudáveis com as pessoas, e costumo fazer uma analogia disso com os quatro primeiros “Jing” do Tai Chi Chuan (Peng, Lu, Ji, An): estabeleço meu espaço, identifico a proximidade de uma interação social e a conduzo de maneira saudável, concluída essa interação, retorno ao centro, e reestabeleço meu espaço. Qual foi a maior alegria que o Tai Chi trouxe à sua vida? Com certeza, viajar à China com o meu pai. Foi em 2001. Eu, o prof. Magno Bueno e o prof. Siegfried Elsner éramos diretores de uma escola de Tai Chi Chuan e organizamos uma viagem à China com a nossa turma de formandos do curso, com cerca de 50 pessoas. Meu pai foi como convidado homenageado. Foi também a primeira vez em que ele foi à China continental (já que nasceu e cresceu em Taiwan). Tivemos momentos únicos, plenos de emoção, conversamos só em chinês durante toda a viagem (e aí foi a vez dele ser condescendente e se adequar ao nível intermediário de proficiência em mandarim, risos). Conhecemos a Beijing moderna, passamos uma semana em Chenjiagou, onde fizemos amizade com o mestre Huang Mantang, visitamos lugares históricos e conhecemos o dia-a-dia dos moradores locais. Inesquecível. Você ou algum dos seus alunos já precisou utilizar o Tai Chi Chuan como defesa pessoal? Não num confronto pessoal. Mas uma enfermeira, já instrutora de Tai Chi Chuan, atribui à pratica ter se safado de um grave acidente. Durante uma excursão em área de mata fechada, subindo uma encosta montanhosa, a pessoa que ia à frente dela desprendeu uma pedra de uns 10kg que rolou na direção dessa enfermeira. Numa fração de segundo, ela firmou-se no chão, girou o tronco, e com as duas mãos desviou a rocha, evitando que a mesma atingisse sua tíbia e ocasionasse uma fratura.
“O Tai Chi é multifacetado, com múltiplas aplicações possíveis. Ele mesmo não tem um propósito. O propósito é criado pelo praticante de Tai Chi Chuan.”
“Os relatos que realmente gosto de ouvir dos meus alunos são os benefícios que o Tai Chi promoveram em sua vida diária”
“Todas as artes marciais tradicionais apresentam um caminho de aprimoramento físico, mental e espiritual. Todas são dignas de respeito e admiração.” www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 15
Você obteve resultados de saúde da prática do Tai Chi? Eu mesmo tive, primeiramente com a asma, como contei. Sou, também, portador de Tremor Essencial (TE), uma condição genética que provoca um tremor fino de extremidades (e que frustra minhas tentativas de treinar a caligrafia chinesa com o pincel). Essa condição causa estranhamento às pessoas que desconhecem o fato e isso gera ansiedade em mim (sou humano também), reforçando ainda mais o tremor. O Tai Chi Chuan tanto diminui a minha ansiedade, que é o fator secundário do tremor, quando torna os meus movimentos mais suaves e harmônicos no geral. Quais os estilos de Tai Chi que você já tomou contato? O estilo Yang, inicialmente através dos 24 movimentos, e também já treinei a forma de 108; e participei de alguns seminários de estilo Chen (Laojia). Qual é o seu estilo de Tai Chi e por que optou por ele? Optei pelo estilo Yang, porque o meu foco principal é a divulgação do Tai Chi Chuan como Prática Integrativa em Saúde. Na minha opinião, os movimentos do estilo Yang são mais fáceis de serem aprendidos por pessoas de todas as idades. Você já presenciou algum fato engraçado ou curioso na prática do Tai Chi? Conte pra gente. Não foi algo engraçado, nem durante uma prática, mas creio que vale a menção pelo inusitado. Em meados dos anos 90, eu era membro da Igreja Batista. No fim do ano, o coral iria apresentar uma cantata com o tema da criação do mundo. Pediram-me, então, que fizesse uns movimentos suaves como os do Tai Chi Chuan, mas que não fosse Tai Chi Chuan, para representar o Espírito de Deus pairando sobre as águas (Gênesis 1). O resultado foi aprovado na apresentação. Cite um momento marcante que o Tai Chi proporcionou. Dentre muitos, foi a libertação da timidez, que foi algo mais ou menos instantâneo. Quando iniciei o treinamento da primeira turma de instrutores de Tai Chi Chuan na Secretaria de Saúde, estava bastante ansioso e temeroso pela exposição ao público. Porém, conforme a apresentação teórica foi se desenrolando, fui me sentindo bem seguro, como nunca antes havia me sentido. A fala passou a ser mais natural, não seguindo um “script” previamente elaborado, consegui agregar humor à fala e todos, modéstia à parte, ficaram bastante satisfeitos. Atualmente, sinto-me mais à vontade na frente de um auditório do que numa conversa simples com três ou quatro pessoas. Você está associado a alguma instituição de Tai Chi? Atualmente estou associado à Associação Being Tao (originalmente “Associação Cultural Brasil-China”), instituição fundada por meu pai nos anos 80 para a 16 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
promoção da prática no Brasil. Já participei, com os professores Magno Bueno e Siegfried Elsner, do Instituto de Formação em Taijiquan de Brasília (agora, Instituto Taolu) até ser chamado para o serviço público, em 2011. Na sua opinião, por que as pessoas procuram o Tai Chi? Pelo que observo em Brasília, as pessoas procuram o Tai Chi por causa de ansiedade ou problemas de sono, e para pertencerem a um grupo com o qual se identificam. O Tai Chi Chuan adquiriu uma imagem, não totalmente correta, de “Exercícios para Idosos”. A população está envelhecendo, e é uma geração que dedicou-se aos filhos e agora, com os filhos já independentes, busca uma atividade para fazer. É uma geração, também, que dispõe de mais tempo do que os filhos (que trabalham) e os netos (que estudam). Ao virem para o grupo de Tai Chi Chuan, essas pessoas com mais de 60 anos encontram outros da mesma faixa etária e com perspectiva de vida semelhante. Creio que esses são a grande maioria, embora haja jovens, claro, com os mais variados interesses - profissionalização, defesa pessoal, busca espiritual, etc. Por que as pessoas devem praticar Tai Chi? As pessoas devem praticar Tai Chi por ser uma prática incrivelmente versátil. Quem busca aprimorar-se fisicamente, pode graduar o esforço despendido na atividade fazendo os movimentos em base mais alta ou mais baixa, com movimentos mais ou menos vigorosos. Quem busca uma prática contemplativa e de mergulho interior, também vai encontrar esse caminho no Tai Chi. Quem quer fazer amigos que fazem alguma atividade corporal juntos e depois se reúnem para conversar, tocar violão e compartilhar conhecimentos e pontos de vista, também pode se identificar com a prática. Qual é o seu conselho para aqueles que pretendem se tornar um professor de Tai Chi? Seja sempre um aprendiz. Nunca deixe de aprender - com renomados mestres e com os seus próprios discípulos. Sempre considere o universo desconhecido do Tai Chi muito maior do que tudo aquilo que você conhece ou imagina. Tenha critérios firmes e bem estabelecidos do seu caminho dentro do Tai Chi Chuan, para não ficar apenas na superfície visível da prática e para escolher o seu professor e o que aprender. É proveitoso, a partir de um estágio, definir com que estilo você mais se identifica e aprofundarse nele. Não se prenda a um único professor; você pode ter um professor que é a sua referência maior, mas permita-se aprender com outros professores também. Para um bom desenvolvimento do praticante do Tai Chi, qual é a sua dica? Persistência, observação e curiosidade. Não desista, incorpore a prática no seu dia-a-dia de maneira tão firme quanto o ato de tomar banho e escovar os dentes.
“Optei pelo estilo Yang, porque o meu foco principal é a divulgação do Tai Chi Chuan como Prática Integrativa em Saúde. Na minha opinião, os movimentos do estilo Yang são mais fáceis de serem aprendidos por pessoas de todas as idades.” Observe a si mesmo, observe o seu professor, observe o ensinamento da natureza no dia-a-dia. Seja curioso, vá em busca do conhecimento; não pare de buscar respostas só porque alguém com autoridade lhe deu uma resposta pronta. Em que espaço você disponibiliza Tai Chi? Atualmente, na sede da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e no CERPIS - Centro de Referência em Práticas Integrativas em Saúde. São serviços do SUS, oferecidos à população geral, mantidos por servidores concursados do Estado. Como foi o início da interação da atividade do Tai Chi no SUS? Em 2005, a Associação Cultural Brasil-China (agora Associação Being Tao), que apoia a prática de Tai Chi Chuan dirigida pelo mestre Woo, enviou um ofício à Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal (SES-DF), convidando os servidores para participarem gratuitamente de uma capacitação em Tai Chi Chuan a fim de oferecerem essa prática nos hospitais e centros de saúde. E quanto à acolhida, como aconteceu? O que a Associação não sabia à época é que existia, dentro do organograma da Secretaria de Saúde, o
Núcleo de Medicina Natural e Terapêuticas de Integração (NUMENATI). Assim, a iniciativa encontrou um interlocutor plenamente alinhado com o intento. Na época, as práticas de Acupuntura, Homeopatia, Automassagem e Lian Gong já eram oferecidas regularmente pelo Sistema Único de Saúde do Distrito Federal (SUS-DF), sendo geridas pelo NUMENATI. A partir desse primeiro contato, foram realizados diversos ajustes necessários no projeto de implantação até que, em 2006, foram realizados a Oficina de Sensibilização e o primeiro Curso de Capacitação em Tai Chi Chuan. Em 2009 fui aprovado em concurso público para o cargo de médico acupunturista da SES-DF e tomei posse em 2011, assumindo, também, a coordenação técnica do Tai Chi Chuan. De que forma ocorreu a implementação do Tai Chi Chuan? Na SES-DF, diferente de outros estados, praticamente todos os profissionais são servidores públicos. Assim, a implantação do Tai Chi Chuan se deu pela capacitação do pessoal próprio do órgão público, e não pela contratação de instrutores externos. As Práticas Integrativas em Saúde (PIS) existem na SES-DF desde os anos 1980, por isso já contávamos com um quantitativo de servidores adeptos ou sensibilizados a esse tipo de prática, o que muito facilitou www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 17
“ Remédio vulgar é a erva,
o ramo, a raiz, a pele. Remédio mediano é a bebida, a comida, o vestuário, a moradia. Remédio maior é purificar a mente e fortalecer o corpo. ” Citação de Woo Chen-Hsiang Avô do Aristein o nosso trabalho no início. Mesmo assim, havia um grande desconhecimento do valor das PIS como ferramentas de promoção de saúde, prevenção de agravos e tratamento de doenças. Ao longo do tempo, esse desconhecimento tem diminuído, mas ainda é necessária uma ação constante de esclarecimento, divulgação e convencimento junto aos gestores e serviços. O Tai Chi Chuan e as demais 15 PIS integram, atualmente, uma gerência (Gerência de Práticas Integrativas em Saúde - GERPIS) dentro do Organograma da SES, e atuam de maneira conjunta e integrada na manutenção e disseminação dessas práticas em todo o SUS-DF. Essa ação coletiva fortalece muito cada uma das PIS individualmente. É um ponto positivo muito importante. Quais foram as dificuldades que surgiram? As dificuldades encontradas, além do desconhecimento já relatado, estão relacionadas à situação do trabalhador e à sua relação com a gestão da unidade onde ele está lotado. Muitas dessas dificuldades foram suplantadas, ao menos em parte, com regulamentos estabelecidos pela GERPIS. Na seleção dos servidores a serem capacitados, não são aceitos aqueles que estão próximos da aposentadoria, porque a intenção é que o serviço de Tai Chi Chuan, uma vez implantado na unidade de saúde, tenha longevidade. Também são impedidos de participarem aqueles que já foram capacitados em mais de duas PIS. A justificativa é que o servidor vai usar parte de sua carga horária oferecendo a prática, como mais uma das ações de saúde que ele deve desempenhar no exercício da sua função, seja como médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, nutricionista, agente de saúde, etc. Por exemplo, a escala de um técnico de enfermagem pode englobar a oferta da prática, a sala de vacinas e o apoio aos consultórios, e ele tem que dar conta de tudo isso. Se ele for encarregado de oferecer muitas práticas, os outros serviços ficam comprometidos. 18 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Há algum acompanhamento nesse sentido? Os servidores, uma vez capacitados, ficam, obrigatoriamente, sujeitos a um acompanhamento constante por parte do Responsável Técnico Distrital, e sabem que “o aprendizado acontece de maneira contínua, prolongando-se além da capacitação, por todo o tempo em que o indivíduo se dedicar à prática”, conforme impresso na seção de Tai Chi Chuan do nosso catálogo anual de atividades educativas em PIS. Esse acompanhamento é um processo de educação permanente, onde nos reunimos para aprofundar temas teóricos e filosóficos, treinar a forma e aprender como desenvolver a prática como um serviço de saúde oferecido no contexto do SUS. As dificuldades existem, mas é um dentre outros cenários possíveis... Cada estado e cada município tem a sua realidade local, e fomos favorecidos pelo fato do Distrito Federal já ter as PIS institucionalizadas há décadas, mas acredito que esse relato pode ajudar àqueles que querem implantar o Tai Chi Chuan como um serviço de saúde pública. Como alguém pode entrar em contato com você? O mais prático é no Facebook! [aristein.woo] Na sua opinião, qual é a importância de uma publicação como a Revista Tai Chi Brasil? A Revista Tai Chi Brasil é uma referência única para o Tai Chi Chuan do Brasil. Além do conteúdo, sempre enriquecedor, ela é um canal de informações e compartilhamento, rompendo posições sectárias e promovendo a integração de todos os praticantes de Tai Chi Chuan. Em momentos conturbados que acontecem atualmente no Brasil e no mundo, há pessoas que acreditam que os praticantes de Tai Chi Chuan devem permanecer numa linha mais “zen”, que não devem se envolver em movimentos sociais, qual é a sua opinião a respeito? A minha opinião é que: (1) o praticante de Tai Chi Chuan, como membro da sociedade, deve ter preocupação social sim. Ele não entra em confronto direto, mas busca diminuir o sofrimento daqueles ao seu alcance, a partir de iniciativas pessoais - doações, por exemplo - ou por meio de movimentos coletivos e luta por implantação de políticas de justiça social. (2) a prática de Tai Chi Chuan em grupo deve empoderar os indivíduos que dela participam, a fim de desenvolver a auto-consciência - de seu estado orgânico, emocional e social - e promovendo a solução coletiva de problemas da comunidade em particular.
“Tai Chi Chuan: arte marcial interna, fundamentada na teoria dos meridianos da Medicina Tradicional Chinesa. É praticado em pé, com mínimo contato corporal entre os praticantes. A concentração nas posturas e na regulação da respiração produz calma, equilíbrio emocional e maior consciência corporal; enquanto o padrão de movimentos promove o fortalecimento dos tendões e articulações e é um exercício aeróbico leve, possibilitando a participação de pessoas sedentárias e idosas.” Coordenação Técnica de Tai Chi Chuan/GERPIS
“Sou praticamente de Tai Chi Chuan há 7 anos. Antes era uma pessoa sem muita motivação, com articulações bem rígidas. Passei por um período em que me sentia deprimida. Quando comecei a praticar o Tai Chi Chuan, foi como uma janela que se abre num dia ensolarado. Hoje minhas articulações são bem flexíveis, não sinto dor em nenhuma parte do corpo, minha motivação tornou-se um combustível. Adquiri uma calma interna e aprendi a respirar adequadamente. Esta prática coordenada com movimentos leves, suaves e respiração correta, me fez olhar para dentro de mim e perceber a beleza interna que há em mim e no meu semelhante. Sou eternamente grata ao Mestre Aristein Woo, pela sua dedicação, competência e simplicidade por ter me apresentado o Tai Chi Chuan. Hoje, para mim essa prática é um estilo de vida.” Nilva Maria de Borba Azevedo Depoimentos de usuários do SUS que praticam Tai Chi Chuan nas unidades de saúde “Quero falar da maravilha na minha vida a prática do Tai Chi. Quando comecei sentia fortes dores no abdômem por conta de uma endometriose que tratava há anos. Com a prática, minha qualidade de vida teve melhora significativa, pois hoje não sinto nada, inclusive os focos desapareceram. E com os exames de rotina que fiz no final do ano passado, meu médico me disse que os focos da endometriose haviam desaparecido. Essa é uma das melhorias que tive. Posso mencionar também o equilíbrio do meu emocional que por diversos fatores estava abalado e hoje encontra-se estável. Quero aqui agradecer a Deus primeiro e em seguida a um anjo chamado Eliana, que com toda sua gentileza e carinho desenvolve essa trabalho sensacional que é o Tai Chi. Meu muito obrigada, por tudo. Minha vida hoje em dia é outra. Tai Chi é vida.” Rejane
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FOTOS / ARISTEIN WOO
"Navego com o meu barco em direção à outra margem. Cuido para não bater nas pedras do rio - pode rachar ou furar o casco, ou causar um dano que leve a um desastre mais tarde. Cuido para não levar nada além do necessário peso demais dificulta a navegação, ainda mais se a carga é de adereços e bandeirolas. Cuido para manter o rumo - é a outra margem o meu objetivo, ainda que por vezes tenha de desviar de tempestades ou cruzar fortes correntezas. Só tenho um barco, então a manutenção constante é essencial. Em essência, o que está a bordo é mais importante que o barco. Mas sem barco, como chegar do outro lado?" Aristein Woo
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“Aos 40 anos recebi um diagnóstico de uma doença (Síndrome de Shogren), infelizmente incurável. Tenho que usar remédios para sempre, entre eles, corticóides, então entrei em depressão. Foi aí que conheci o Tai Chi Chuan e comecei a fazer os exercícios. Foi um remédio maravilhoso! Hoje estou com 56 anos, não tenho nenhuma sequela nas minhas articulações (efeito provável para quem faz uso contínuo de corticóides). Este ano, em meus exames de rotina, minha reumatologista perguntou o que estava fazendo, pois estava com todas minhas taxas de saúde em perfeita ordem. Disse a ela que praticava Tai Chi Chuan. Ela, então, me incentivou a nunca deixar, pois em meu organismo a resposta é excelente. Tenho muito a agradecer minha instrutora por sua dedicação e paciência, pois nos orienta com muita delicadeza, faz os movimentos repetidas vezes e até parece que está flutuando. Obrigada instrutora Nilva por tamanha dedicação! Eu recomendo, pois minha insônia também está controlada. Como seria bom se nosso Ministério da Educação, incluísse (Tai Chi Chuan) como matéria na Educação Física de nossas crianças, pois teríamos jovens com mentes bem mais saudáveis.” Zenaide Silva Rodrigues
Fotos Divulgação / Aristein Woo
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Ti Er Qi Chute Duplo “Se queres ir para cima, procure primeiro ir para baixo” Por Estevam Ribeiro texto e fotos
Embora algumas posturas como o “ chicote”, “Garça branca abre as asas”, “Separar a crina do cavalo” e outras sejam comum a vários estilos de Taijiquan, certas posturas só são encontradas em determinados estilos. Por ser o mais antigo, o estilo Chen tem um maior numero dessas posturas . É o caso de Ti Er Qi ou “Chute Duplo”. Esta postura é o complemento da anterior , “Socar para baixo” exprimindo Yin e Yang conforme os clássicos onde se diz: “se queres ir para cima, procure primeiro ir para baixo”. Chen Xin, o grande teórico da família Chen, no seu “ Cânone ilustrado do Taijiquan da família Chen “assinala que esta postura exige muita energia , e que, portanto é necessário acumular o Jin (energia interna) durante e logo após o soco para baixo, de maneira que ao começar o Chute duplo o corpo possa acompanhar o Qi ascendente sem tensões para que este 22 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
se una ao Shen (espírito) e junto com o corpo realize a tríade, Jin, Qi, Shen. Ti Er Qi é uma defesa-ataque contra um oponente que o ataca por trás. Depois do soco para baixo, você deve virar rapidamente usando a energia ascendente e leve. Daí a importância da leveza. Se usarmos força excessiva a energia leve fica comprometida. Há principalmente duas formas de realizar o Ti Er Qi. A primeira, mais tradicional, consiste de: ao lançar a perna esquerda para cima: para gerar o impulso do chute que vai ser dado pelo pé direito, a perna esquerda sobe quase esticada. Na segunda, a perna esquerda sobe dobrada impulsionada pelo joelho. A primeira não sobe tanto, mas gera mais força de impacto. No segundo método, por utilizar mais a energia da leveza, sobe-se mais alto, mas o impacto é mais leve. Esta é a técnica mais utilizada pelos praticantes do Wushu moderno, pois é mais bonita de se ver.
Quanto ao simbolismo da postura em relação ao Yi Jing, Chen Xin o relaciona a dois diferentes hexagramas, primeiro à Zheng (Incitar) cuja imagem é o Trovão. Este primeiro Hexagrama tem uma correlação evidente e contém também a advertência de todo cuidado que deve ser tomado antes de um movimento tão súbito. O segundo hexagrama é Sui, Seguir, que é uma das energias essenciais no Tui Shou, seguir os movimentos do oponente. Sui é formado pelos trigramas Zhen (trovão de novo) abaixo de Tui, (lago, bruma e vale) que evoca a energia da alegria e da comunicação fluida. Segundo Chen Xin, este segundo hexagrama implica na ideia da força Jin em sintonia com o grande espírito. “Embora a postura esteja escondida atrás da máscara da delicadeza e da leveza (Tui), na verdade ela é capaz de gerar medo fazendo tudo tremer (Zhen) num raio de cem milhas”.
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A porta para o caminho Por Paula Faro texto e fotos
“Ao usarmos os Ritos, a Harmonia é o que há de mais precioso. Na Harmonia estava a beleza do caminho dos reis ancestrais.”
Confúcio, Analectos
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Em 2012, o Mestre Yang Jun, 5˚ detentor da Linhagem de Tai Chi Chuan da Família Yang, realizou sua primeira cerimônia de discípulos em Taiyuan, na Província de Shanxi, China. A cerimônia foi realizada em um suntuoso hotel, em um salão grande, de proporções típicas chinesas. Ao fundo da sala, um grande painel com a imagem dos antepassados da Família Yang: Mestre Yang Luchan ao centro, Mestre Yang Jianhou à direita e Mestre Yang Chengfu à esquerda. Abaixo destas imagens, uma pequena mesa com flores, velas vermelhas (uma de cada lado) e um incensário ao centro. Atrás desta mesa, uma maior, com frutas e doces, todos os elementos compondo o altar em oferecimento aos ancestrais. Ao lado direito, sentados, estão Mestre Yang Jun, Mestra Fang Hong (sua esposa), Mestre Yang Zhenduo e a Senhora Rudi (esposa do Mestre Yang Zhenduo). Ao lado esquerdo, estão as testemunhas que devem assinar o termo de compromisso dos discípulos: Mestre Yang Bin, Mestra Chen Juan, Mestre Ma Hailong e Mestre Sun Yongtian.
Quando o Mestre Yang Zhenduo, avô do Mestre Yang Jun, e quarta geração detentora da linhagem da Família Yang, entra na sala, é ovacionado pelo público. Ele conduzirá parte da cerimônia. Todas as cerimônias de discípulos da Família Yang seguem este mesmo protocolo resumido aqui. Haverá algumas alterações devido ao local, datas, tempos, circunstâncias, mas a estrutura básica permanece. Para começar, Mestre Yang Jun e Mestra Fang Hong pedem autorização para o Mestre Yang Zhenduo para aceitarem novos discípulos na família. Eles oferecem incenso e Mestre Yang Zhenduo se dirige ao altar abaixo das imagens dos ancestrais. Uma parte inicial deste ritual diz respeito aos antepassados da Família. Os mestres e posteriormente os discípulos prestarão respeito e reverências a eles. No início da cerimônia, Mestre Yang Zhenduo pede autorização aos antepassados para que aquelas pessoas sejam aceitas e entrem na Família. Todos os discípulos são apresentados e fazem uma reverência para os presentes na cerimônia. São chamados um a um pelo nome que receberam daquele que agora se tornará seu Shifu (pai-professor), levam o sobrenome da Família - Yang, um nome designando esta geração de discípulos Ya, e um último nome particularmente escolhido por Shifu e Shimu. Mestre Yang Zhenduo esteve presente em 2012 e 2015. É tocante estar em sua presença, especialmente nesta cerimônia. Este foi um momento bastante importante e eu diria até que um marco histórico na continuidade da transmissão da linhagem de uma Família de Tai Chi Chuan. A primeira geração de discípulos do Mestre Yang Jun foi composta na sua maioria por ocidentais, alguns dos pioneiros na difusão dos ensinamentos da Família Yang fora da China. Além destes, estavam também presentes os dois filhos do Mestre Yang Jun: Yang Yaning e Yang Yajie. E entre americanos, italianos e um canadense, dois brasileiros: Roque Severino e Angela Soci precursores na difusão do Tai Chi Chuan da Família Yang no Brasil e diretores do Centro Yang Chengfu São Paulo. Sem dúvida sua contribuição para a difusão desta arte resulta em termos hoje doze brasileiros discípulos da Família Yang no Brasil. Alguns nomes que a primeira geração traz são bastante significativos: Zhi é sabedoria, Zhong lealdade, Jing calma, Ren humanidade, Yi honestidade, De virtude e Li polidez. Quatro das cinco virtudes de Confúcio, ensinamento que dá a base para toda a conduta marcial (o Wude) e os ensinamentos mais reverenciados pelos Mestres de todas artes marciais. Antes de vangloriar-se por excelência técnica ou habilidade, o discípulo deve se esmerar em polir seu coração e espírito baseando sua conduta nestas virtudes. A quinta virtude não veio com a primeira geração de discípulos mas com a segunda em 2014 - Xin que significa fidelidade e integridade. Em 2014, desta vez nos Estados www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 27
Unidos, Mestre Yang Jun recebe sete novos discípulos, entre eles Fernando De Lazzari, diretor do Centro Yang Chengfu de Ribeirão Preto. As cerimônias foram realizadas publicamente e havia muitas pessoas presentes. Elas acontecem em meio a outros eventos organizados pelo Mestre Yang Jun e a Associação Internacional de Tai Chi Chuan da Família Yang. Seguindo o protocolo, os discípulos se ajoelham e fazem três reverências. A cerimônia segue os padrões da tradição chinesa. Haverá oferenda de incenso e o koutou, uma reverência que expressa gratidão e respeito para com o Professor e a Linhagem. Entrega-se um envelope vermelho contendo uma carta de compromisso. Cada um dos discípulos oferecerá chá ao Mestre e a Mestra que passam a ser chamados de Shifu e Shimu - professor pai e professora mãe. O chá é oferecido em um gesto delicado que é acompanhado da frase em chinês: Shifu e Shimu qing cha; eles aceitam e tomam um pequeno gole. Uma linhagem tradicional de Arte Marcial tem como característica a transmissão oral. Não há livros ou documentos escritos sobre o processo que envolve a recepção de discípulos por um mestre. E geralmente cada família ou linhagem tem suas próprias regras que vem sendo passadas de geração para geração dentro da Família. Existe também muita especulação ao redor do significado e da relação que se estabelece entre mestre e discípulo. Com certeza o cinema e a literatura exploraram isto ao máximo levando ao espectador ou ao aficionado por artes marciais a criar um certo romantismo exagerado em torno do assunto. De fato, este é um momento importante tanto para o Mestre, sua Família e os discípulos, já que o compromisso maior que se estabelece é a difusão dos ensinamentos. Talvez seja este o principal direcionamento que se dê ao discipulado. Assumir a responsabilidade de levar adiante a linhagem e os ensinamentos propagando a arte. 28 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Desde 2012 até este ano (2018) houve cinco cerimônias que receberam dentro da Família Yang de Tai Chi Chuan cinco gerações de discípulos (2014, 2015, 2017 e 2018) através do Mestre Yang Jun. Mas não é apenas o detentor da linhagem que pode convidar seus alunos para adentrar o portão da Família. Alunos muito antigos do Mestre Yang Zhenduo, como o Mestre Song Bin abriu as portas para o discipulado em 2014 na cerimônia onde esteve presente um brasileiro, único entre os chineses: José Luiz de Castro Junior (Instrutor de Tai Chi Chuan). Mestre Song Bin é um dos maiores expoentes na difusão do Tai Chi Chuan da Família Yang na China. Após a entrega do envelope, o Mestre dá ao discípulo um certificado e uma caixa contendo dentro uma espada, objeto reverenciado pela cultura chinesa, símbolo de refinamento e da busca pela excelência. Novamente fazem-se reverências, agora todos juntos, já como uma Família. A estrutura da Família obedece também a princípios confucionistas. Cada membro da Família tem um lugar na hierarquia. Primeiro os ancestrais, depois o avô e a avó e então o Shifu e a Shimu. Os tios e tias são tanto o irmão do Mestre Yang Jun assim também como os discípulos do Mestre Yang Zhenduo. Na estrutura familiar tudo está organizado pela posição hierárquica de cada um e não pela idade. Entre os irmãos estão os irmãos e irmãs mais velhos e os irmãos e irmãs mais novos. Deve-se respeitar esta hierarquia e os protocolos que cabem a ela. No momento final o Mestre faz um discurso e os discípulos, com a mão direita sobre o coração, leem em voz alta um juramento enfatizando o compromisso de coração que todos fazem com a linhagem, com o Mestre e com o ideal que isto representa. Na carta compromisso escrita pelos nove discípulos da terceira geração e lida em voz alta na cerimônia realizada na China em 2015, está escrito: “Cada
um de nós presentes aqui hoje é um pequeno anel em uma corrente que conecta o passado ao futuro. Enquanto trabalharmos juntos e não nos separarmos um dos outros, esta corrente dará a volta ao mundo conectando as pessoas em todas as partes. Prometemos trabalhar juntos e dar apoio aos ideais da Família Yang, do nosso Shifu e nossa Shimu. Trabalharemos juntos para preservar os métodos e o alto padrão estabelecido pela Família Yang.” Compartilhamos algo em comum com os nossos mestres do presente, passado e futuro. A missão e o desejo de levar o conhecimento e o Tai Chi Chuan da Família Yang para a humanidade. Perante as dificuldades, os obstáculos, as agressividades e intempéries da vida e do mundo, este é o momento de um grande abraço, um abraço fraterno, receptivo, sabemos que perante o compromisso que estabelecemos levaremos adiante o coração da linhagem com cuidado e responsabilidade. Em 2017, pela primeira vez, Mestre Yang Jun e Mestra Fang Hong recebem 20 discípulos chineses em cerimônia realizada na cidade de Kunming na China. E, em cerimônia realizada em Datong, recebem mais 45 novos discípulos, entre eles 34 chineses, 2 Iranianos, 1 Italiano, 1 de Madagascar e 7 brasileiros. Entre os brasileiros estão Jefferson Iitako Duarte, Valeria Sanchez, Claudio Montenegro, Andrea Muchão, Adriano Carneiro da Rocha, Tobias Velho, Davi Garritano (Instrutores de Tai Chi Chuan). www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 29
Os discípulos da terceira geração reconhecem a importância do Tai Chi Chuan em suas vidas e com gratidão em seu compromisso expressam: “Nos sentimos especialmente gratos que a nossa jornada no Tai Chi Chuan nos conduziu ao Mestre Yang Zhenduo e ao Shifu. Nossas vidas foram profundamente transformadas pela experiência do aprendizado do Tai Chi Chuan diretamente dos detentores da linhagem.” Acredito que no coração de todos e de cada discípulo o sentimento é o mesmo. Não apenas daquele que se tornou discípulo de um mestre, conectado a uma Família, a uma linhagem. Mas no coração de todo ser humano que encontra a sua essência através de um ofício que lhe permite realizar o seu próprio ser. Este que se torna discípulo do seu caminho, que abre as portas do conhecimento e da realização da vida preenchese de alegria. A alegria e a satisfação de seguir um caminho que está em sintonia com o seu ser transborda e beneficia os que estão a sua volta. Não é uma questão de status, título, diploma, reconhecimento, colocação, tratase sobretudo de um compromisso, de uma responsabilidade. Primeiro compromisso consigo mesmo, compromisso com os princípios, com os valores que aquela linhagem carrega, compromisso com aquilo que o mestre representa, com os ensinamentos que ele transmite através de si mesmo, de sua conduta, na forma como ele se relaciona com o mundo, no mundo, com as pessoas. Exemplos a serem seguidos nos espelhamos nos Mestres, e no nosso Mestre e Mestra para dar continuidade ao Tai Chi Chuan da Família Yang. “Vimos como Shifu e Shimu tratam a todos com respeito e generosidade. Embora sejamos, como indivíduos, diferentes, de diferentes culturas e tradições, vocês sempre fizeram o esforço para nos compreender. Sempre nos mostraram carinho e paciência. Shifu e Shimu vimos quão honrados são em suas palavras e ações. Vimos o quão duro trabalham e nunca vimos vocês desistirem. Somos inspirados a seguir o seu exemplo.” (Carta Compromisso, 2015). Tornar-se discípulo é reconhecer na sua própria humanidade a irmandade, o amor fraterno e a virtude do respeito, da benevolência, e do cuidado ao próximo.
Paula Faro (Yang Yaxin) é instrutora de Tai Chi Chuan e discípula direta do Mestre Yang Jun
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Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental Yang Chengfu Tai Chi Chuan Center - São Paulo - Brasil Desde 1978 ensinando no Brasil Representantes para a América Latina da Associação Internacional de Tai Chi Chuan da Família Yang
Seminário Especial com a Mestra Fang Hong em 2018 Palestra Gratuita e Seminário da Forma Essencial 01 de junho, sexta-feira, às 19h00. Palestra a ser oferecida na sede da SBTCC. A Mestra Fang Hong terá muito o que compartilhar com seu vasto conhecimento sobre os 10 Princípios do Tai Chi Chuan! Local: Sede da SBTCC - José Maria Lisboa 612 - sl 07- SP
Dias 02 e 03 de Junho - sábado e domingo - das 09h00 as 12h00 e das 15h00 às 17h00. Seminário inédito da Forma Essencial do Tai Chi Chuan da Família Yang. “Uma Visão Feminina sobre os 10 Princípios do Mestre Yang Chengfu”. Local: Ginásio do Colégio Assunção Colégio Assunção - Alameda Lorena 665 - São Paulo - SP. Mestra Fang Hong - esposa do Mestre Yang Jun - teve seu aprendizado do Tai Chi Chuan com o Mestre Yang Zhenduo (patriarca atual da família e avô do Mestre Yang Jun). Tivemos a oportunidade por duas vezes aqui no Brasil, em 2012 e 2013 de compartilhar da alegria e simpatia da Mestra Fang Hong quando da transmissão de seus conhecimentos em dois seminários de Forma Longa e agora, em 2018, pela terceira vez, ela nos brindará com a Forma Essencial do Tai Chi Chuan da Família Yang! Imperdível!!
Tai Chi Chuan Marcial - 5 dias em Imersão
Prof Claudio Mingarini Diretor do Yang Chengfu Center - Roma - Italia De 11 a 15 de Julho de 2018
Local: Zhi Jing Xuan – Centro de Formação e Treinamento de Instrutores de Tai Chi Chuan da Família Yang - Sede Campestre - Rua das Gabirobas, 316 - Bairro das Cerejeiras - Cotia - SP Ao trazer sua vasta experiência pela quinta vez consecutiva, o Prof Claudio Mingarini retorna ao Brasil para compartilhar seus conhecimentos sobre os aspectos Marciais do Tai Chi Chuan da Família Yang. Programação: Estudo e análise dos Clássicos do TAI CHI CHUAN • “ Tai Chi Chuan Lun “, de Wang Chung Yueh (Wang Tsung Yueh ) • O Segredo de Recuar e Emitir • De Shou Ge | TUI SHOU - Rotinas para 1 º , 2 º e 3 º nível - Aplicações e Neutralização das 8 Energias. Exercícios de Dong Jin e Ting Jing = compreender e ouvir a energia - DA SHOU - como aplicar o Tui Shou para ataques. Ensinamento básicos de ataques dados na Forma 103. Emprego e análise, no ataque e na defesa, as diferentes técnicas de punho , palma, cotovelo e ombro . Cintura ( Yao ) uso e significado. Técnicas de quadril. Chutes diretos e redondos e usar o joelho na prática e no combate. Aplicação de técnicas diferentes - técnicas individuais e combinadas. Recomendamos o uso de luvas de saco. TAIJI GONG - Exercícios para a coordenação , absorção e emissãode energia. Para a aplicação consciente das 3 Harmonias ( San Tiao ) e os 10 princípios essenciais. JIA YONG FA DA – Prática simples e combinada das principais aplicações da 1 ª e 2ª parte do Yang Forma Longa Tradicional. TÉCNICA DE CONTROLE E LIBERAÇÃO (PROJEÇÃO) essenciais no ensino da Forma 103. Sequência de aplicações seguindo os movimentos da Forma Longa 103 em detalhes realizado em duplas. SAN SHOU & AUTO DEFESA - exercícios tradicionais e modernos para treinamento de combate e defesa.
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Aspectos sobre o Tai Chi Por Niall O’Floinn texto e foto
Foto: Mestre Niall O”Floinn na postura da Forma de Sabre Duplo Estilo Chen. Praia de Claddagh*, Galway, Irlanda.
“Enrolar o Fio de Seda” ou “Chan Si Gong” é o nome dado ao método espiral de movimento em todas as formas do Tai Chi Estilo Chen. Foi desenvolvido em práticas simples de movimento único para permitir que grupos de iniciantes tenham seu primeiro acesso ao Estilo Chen de Tai Chi. Permite que o aluno tenha tempo de ver o professor e copiálo fazendo movimentos simples e permitindo que o professor tenha tempo de corrigir o aluno. O corpo todo se move em arcos e curvas e a energia interna se move em espirais. Depois de muito tempo soltando seu corpo, afundando, respirando naturalmente e desenvolvendo “peng 32 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
jin”, você desenvolverá um tipo muito completo de energia interna que é muito benéfico para sua saúde. Quando chegar a um certo nível, você desenvolverá 3 tipos de força: “Xuan Guan” é como uma roda de carroça girando rápido o suficiente para gerar uma forte força centrífuga. Você pode usar um bastão ou pedra para atingi-lo, mas no momento em que você faz contato, o objeto é atingido. Não há parte do seu corpo que não seja redonda. Cada parte é como um punho e pode bater de volta. A segunda força é “Chuan Tou”. Esta é a força em espiral que explode e penetra como uma bala disparada. É como uma catapulta e pedra.
Quando você carrega e dispara é tão rápido, porque não há nada além de ar para parar ou desacelerar a força da pedra arremessada. Quando você usa força para acertar, você cria uma energia forte em seus braços. Não há elasticidade ou resiliência e sua velocidade é afetada. Em 1981, o grão-mestre Chen Xiao Wang e o grão-mestre Chen Zheng Lei foram testados por cientistas esportivos de Chengdu, China, e descobriram que sua atividade muscular ao fazer “FaJin” (exteriorização da energia) passava de tensão corporal total para relaxamento em 0,05 segundos, o que significa que eles poderiam recarregar e liberar energia várias vezes e de
diferentes partes do corpo. O terceiro tipo de força é “Hua jie”. Quando o corpo está cheio de “qi”, você está ciente do que está acontecendo ao seu redor sem visualmente ter que vê-lo. É uma espécie de sensibilidade. Quando algo te toca, você tem uma reação imediata do corpo inteiro e pode sentir a quantidade de força sendo usada (pesada ou leve), a direção de onde vem (para cima, para baixo, esquerda, direita, frente ou para trás) e quando você toca o oponente você pode imediatamente “ver” onde ele está indo - para cima, baixo, esquerda, direita, frente ou para trás. Seu “qi” pode entrar em seus lugares vazios como a água. É um tipo leve de força que pode aderir, manter e neutralizar a força do outro. A respeito em ter uma boa habilidade (gong fu) nas formas com treinamento, observe as regras. Quanto menos erro, mais forte é o sentimento. Deixe a natureza seguir seu curso e não se apresse. Em vez disso, concentre sua mente mais em ir mais fundo em seu corpo. Não force a obtenção do “gong fu”. Significa “tempo e esforço”. Ao arrancar uma muda da terra, não fará com que ela se transforme em uma flor mais cedo. No entanto, se o solo não for fértil e não receber luz ou água, também não crescerá. Portanto, encontrar um professor qualificado, preste muita atenção para tentar entender “o que” e “como” praticar e depois treinar até você suar muito e ficar cansado. Sobre a importância de que os professores e alunos de Tai Chi tenham consciência do sistema de energia, acupontos e meridianos, digo que você não precisa pensar nessas coisas. Se o seu “neiqi”(energia interna) não estiver cheio, então não importa o quanto você pense sobre ele ou leia sobre isso, será inútil. É como pensar, falar e assistir ao futebol não fará de você um jogador de futebol profissional com habilidade profissional. É a prática do tai chi feita
corretamente que irá abrir todas as passagens e meridianos do corpo. Não é importante ter conhecimento de onde no corpo isso acontecerá, porque acontecerá naturalmente, se você praticar corretamente. Se você ler, você terá conhecimento, mas sem prática nunca acontecerá. Pode ser interessante e inspirador saber, mas eu diria que conhecimento pode ser uma coisa perigosa e levar o praticante a iludir sobre si mesmo. Todos os estilos tradicionais de Tai Chi treinam o “qi”. Existem aqueles praticantes que conhecem o caminho certo e aqueles que não conhecem. Sobre a questão se o Qigong é mais adequado para treinar o “qi” do que o Tai Chi, o “Qigong” é um termo relativamente novo para artes, algumas das quais têm mais de 2.000 anos. Originalmente, eles eram chamados “Daoyin” ou “Neigong”. Se você pratica Tai Chi e não sabe como treinar “qi”, então não é Tai Chi. Todos os movimentos do autêntico Tai Chi estão treinando para o “qi”. Praticar “Zhan Zhuang” é bom para desenvolver energia interna. Às vezes movimentos mais simplificados são ensinados a ajudar os alunos iniciantes a sentirem seu “qi”. Com o tempo, essas sensações estarão presentes, mesmo quando se fizer movimentos e formas complexas. A respeito da energia oriunda do Tai Chi, ela é chamada de “qi prénatal”, que é a energia que temos no útero da mãe. À medida que crescemos, desenvolvemos o “qi pós-natal”. Tai Chi é um processo de aumentar e tornar mais completo o nosso “qi pré-natal”, abrindo os canais do corpo. É somente através da prática contínua e constante que o “qi” é acumulado. Quanto mais você praticar, mais sentirá “qi” e se encherá de “qi”. Se você não está praticando para acumular “qi”, mas apenas fazendo coreografias de formas e aprendendo “Empurrar com as mãos” e aplicações marciais pelo youtube,
então obviamente você vai estagnar e se você não praticar por 6 meses a 1 ano, sua sensação desaparecerá. O corpo inteiro deve ter a sensação de inflar com o ar como um pneu. Ajudará a conectar seu corpo e você poderá convocar facilmente qualquer parte de seu corpo em resposta às demandas de conflito ou neutralizar ou atacar um oponente. Essa energia também pode ler a energia de outra pessoa e detectar fraqueza, fluxo, concentração e força através do toque e consciência sensorial extra. Você não pode retardar os movimentos de “kung fu shaolin” ou “wushu” e isso se torna o Tai Chi. O movimento lento e suave do Tai Chi é muito enganoso. Na verdade, é cheio de energia interna, mas requer treinamento específico para desenvolver essa força do “qi”. O movimento lento e suave é um método, mas não o objetivo do Tai Chi. Para usá-lo efetivamente como uma arte marcial, você precisa treinar poder explosivo e praticar com parceiros assim que os fundamentos forem estabelecidos ao lado da prática inicial. Mas este movimento explosivo é apenas a aparência externa óbvia e você descobrirá muito mais e não pensará da mesma forma, depois de treinar com mestres genuínos. O renomado grão-mestre Chen Zheng Lei passou quase 12 anos aprendendo a forma de “Lao Jia Yi Lu” para treinar seu “qi” e construir seus fundamentos. Sobre a graduação em Tai Chi, existe um sistema chamado “Duanwei”, que inicialmente era rigoroso, mas com o tempo tornou-se negligente, por isso perdeu muita credibilidade com os praticantes sérios. É mais confiável pesquisar quem são os portadores padrão do Tai Chi e reconhecidos na China continental (não Taiwan e Hong Kong) e que são reconhecidos fora da China pelas principais famílias do Tai Chi. Muitas pessoas são muito boas em autopromoção e até são famosas, mas isso não significa que sejam habilidosas. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 33
Eu criei um sistema para marcar a progressão dos alunos. É um sistema para incentivar os alunos e diferenciar entre a habilidade e a conclusão da Forma. Eu uso uma linha do tempo de 18 anos do iniciante ao mestre. Esta é a quantidade de tempo que o criador do Estilo Yang, Yang Lu Chan, passou aprendendo Chen Estilo Tai Chi de Chen Changxing, (embora existam outros números não acurados) que desenvolveu a forma Lao Jia Yi Lu, que foi uma síntese das formas mais antigas desenvolvidas pelo criador de Tai Chi, Chen Wang Ting. Se alguém praticou 15 ou 20 formas por dia sob a orientação correta de um Mestre, então isto é realisticamente o menor tempo possível para alcançar o alto nível de “Gong Fu”. A maioria das pessoas, que hoje são praticantes sérias, praticam apenas 5 a 10 formas, então você precisa dobrar esse tempo. A maioria das pessoas não vai praticar muitas horas diárias ou não tem acesso aos mestres, é por isso que há milhões de praticantes e apenas centenas de mestres de nível superior. Então, para reconhecer os esforços das pessoas enquanto medimos realisticamente a habilidade real, temos um sistema que ensina o “Lao Jia Yi Lu” durante todo o percurso em diferentes níveis e diferentes formas em diferentes estágios. Por exemplo, nós temos: Principiantes - Nível 1, Ji Ben Gong, Daoyin, Tu Na e Chan Si Gong; Correções de nível 2 em Chan Si Gong e Chan Si Gong incluindo passadas; Forma abreviada de 13 movimentos do Grandmaster Wang Hai Jun, nível 3; Aprimoramento (préintermediário) - Nível 1, Forma dos 18 Movimentos do grão-mestre Chen Zheng Lei; Nível 2, Lao Jia Yi Lu forma completa; Nível 3, Lao jia correções / técnica de espada; Forma de espada (3 anos de formação de professores podem começar nesta fase); Intermediário - Nível 1, Correção
de forma de espada / correção do Lao Jia, Técnica de sabre / Sabre / Punho de canhão; Nível 2, Correção Lao Jia Forma de competição, Empurrar com as mãos Estágio 2; Nível 3, Arma longa Guan Dao, lança ou bastão Correção Lao Jia, Preparação daqueles que desejam competir em campeonatos mundiais ou competições internacionais. Revisão de todo material anterior aprendido; Avançado - Nível 1, Xin jia yi lu. Correção Lao Jia; Nível 2, Arma longa, Lao Jia, correção e treinamento de força; Nível 3, Sabres duplos. Correção Lao Jia Empurrar com as mãos Estágio 3; Nível prémestre - Nível 1, Indiscutivelmente pode ser chamado de Shifu Nível 2. Discípulo Nível 3. Estudante interno; Nível de Maestria - Nível 1, Mestre (não precisa mais de correção física do professor). Ainda pode aprender através da própria prática, ensinando os alunos e conversando com os mesmos. Nível 2, Mestre Avançado. Cerca de 200 entre todos os 6 estilos. Mais da metade vindo do estilo Chen. Nível 3 Grão-Mestre. Embora exista flexibilidade neste sistema e este seja um esboço muito breve de algo mais complexo, deve ser aparente que se alguém apenas aprende uma forma de sabre duplo, isto obviamente não é um aluno avançado de nível 3, pois não possui um nível de habilidade correspondente. O “Lao Jia Yi Lu” e igualmente se alguém for chamado de “Shifu” depois de apenas 4 anos de prática, esta não é a nossa definição de “Shifu”, mas não é certo ou errado. Nós chamaríamos a pessoa de “Laoshi”, mas não discutiremos com aqueles que assumem títulos e habilidades além de suas conquistas reais. “Shifu” é um termo para alguém que tem um certo nível de maestria. Outras pessoas fazem isso de forma diferente, mas isso é algo que funciona para nos mantermos de acordo com os padrões vindos das
famílias chinesas de Tai Chi. Algumas pessoas não escolhem se tornar discípulos ou ensinar discípulos. Este é apenas o caminho tradicional para aqueles que seguem a tradição da família e precisam ser reconhecidos como um portador padrão. Ensinamentos de nível superior não seriam recusados a estudantes sinceros se não desejassem se tornar discípulos. A única razão que um professor pode ter para se recusar a compartilhar tudo é se eles sentissem que o caráter de um estudante não era adequado para as transmissões mais secretas da arte. Nos últimos 10 anos venho ensinando Tai Chi no Brasil e tenho visto uma grande melhoria na habilidade das pessoas devido aos professores que desejam melhorar seus conhecimentos fazendo aulas com mestres e o entendimento das pessoas graças a publicações como a Revista Tai Chi Brasil. O conselho que tenho para os estudantes no Brasil é que eu acho que estão no caminho certo. Apenas não se esqueçam de encontrar um bom professor e de praticar muito. Curiosidade - A localização da fotografia no início desse artigo - com o Mestre Niall O’Floinn numa postura de sabre duplo do estilo Chen, é na praia de Claddagh, em Galway, Irlanda. O Claddagh era um assentamento celta onde um rei local tinha um famoso anel chamado de “Anel Claddagh”. O anel tem uma coroa real sobre duas mãos que se unem ao coração. Lealdade (mãos unidas) representa a amizade e o coração representa o amor. Na Irlanda, se você é solteiro, usa o coração direcionado para fora, mas se você for casado ou num relacionamento sério, você usa o coração voltado para dentro.
A Revista Tai Chi Brasil é um publicação de distribuição gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações concedidas de forma voluntária e gratuita. Somos adeptos da liberdade de expressão, entretanto não é de responsabilidade desta publicação os artigos de opinião, por não representarem necessariamente o pensamento do editor.
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Yang Yazhong
Prof. Castro Júnior Lançou recentemente seu blog “Zhong - Centro em Harmonia”, com informações e links muito úteis aos que apreciam a arte do Tai Chi Chuan, a cultura, a língua e o pensamento chineses. Em 2014, foi reconhecido na China como discípulo do mestre Song Bin, 5a geração da Família Yang de Tai Chi Chuan, discípulo do Gran Mestre Yang Zhenduo. Retornou ao Brasil em junho de 2015, iniciando de forma ativa seus esforços no ensino e propagação do Tai Chi Chuan e da cultura chinesa pelo país, com intenção de difundir o Tai Chi Chuan por toda a América Latina. Atualmente prof. Castro Junior reside na cidade de São Paulo e viaja pelo Brasil dando palestras, cursos e seminários.