Revista Tai Chi Brasil - 34

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Revista

Tai Chi Brasil RevistaTaiChiBrasil.com.br

Edição nº 34 - Distribuição on-line gratuita e dirigida

BaXi TaiJi


Taijiquan

ou

Taijiquan?

A escrita chinesa se expressa através de ideogramas e não como as letras do nosso alfabeto. A escrita oficial (Pinyin) é Taijiquan, enquanto que Tai Chi Chuan se tornou uma forma popular. É importante saber que a pronúncia da escrita Taijiquan em português é diferente da escrita oficial. Portanto, é incorreto falarmos: [Tai Gi Kuan]. Uma pronúncia similar ao original é: [Tai Tchi Tchuan].

Tai Chi Chuan Taijiquan Tai Chi Chuan

Tai Chi Chuan

A escrita ao lado foi uma cortesia do Prof. Nelson Smythe Jr., da Academia do Traço, ao editor da RTCB. É perceptível a sutil convergência evolutiva dos nomes Taijiquan & Tai Chi Chuan.

Taijiquan

Tai Chi Chuan

Tai Chi Chuan

Tai Chi Chuan

Tai Chi Chuan

FIQUE POR DENTRO


EDITORIAL

CAPA

Postura de Taijiquan Chenjiagou - China Por Levis Litz

A Revista Tai Chi Brasil e a inspiração na Fênix

Taijiquan

Eram quase cinco horas da manhã, quando aconteceu um insight, um pensamento. Das cinzas da memória resnasceu o ímpeto da continuidade. Se não é possível alçar voos altos, que voemos então como as asas permitem. E assim, renascemos. “Que seja infinito enquanto dure!”. Nessa edição, em tempos de distanciamento social provocado pela Covid-19, apresentamos muitas dicas para o leitor se aventurar pelo mundo virtual para praticar taijiquan, assistir palestras, entrevistas, apresentações, debates, conversas... Temos a primorosa colaboração do David Gaffney, com um artigo sobre a percepção das seis harmonias do taijiquan, e a generosidade do texto do Gil Rodrigues sobre suas escolhas na arte de viver no caminho do taijiquan. Imbuídos pela alegria de que o TaiJi (Tai Chi) foi oficialmente reconhecido pela UNESCO como patrimônio cultural imaterial da humanidade, publicamos uma mensagem de Natal, que fizemos aos amigos de Brasília, DF, agora, extensivo a todos vocês. Como no Yin e Yang, a continuidade do fim gera um novo começo. Boa leitura! Bom TaiJi! Bom Natal! Bom 2021!

Levis Litz Editor

Aos leitores da RTCB

Papel ou digital? A opção é sua! Visite a nossa página na internet em www.RevistaTaiChiBrasil.com.br. Você poderá ler a versão digital na tela do seu computador ou então baixar gratuitamente para ler mais tarde. Se preferir a versão em papel, basta baixar (fazer um “download”) e imprimir. Essa alternativa é a preferida de alguns colecionadores.


EXPEDIENTE

Cenas • Momentos

& Bastidores

Na Confraternização de Natal da Praça da Harmonia Universal Participação do editor da Revista Tai Chi Brasil com uma mensagem de Natal que pode ser lida nesta edição, adaptada aos leitores da RTCB.

Um momento com o mestre Yang Zhenduo ... Taiyuan, China. O editor da Revista Tai Chi Brasil teve a grata oportunidade de reverenciar, através de um olhar, o terceiro filho de Yang Chengfu, mestre Yang Zhenduo. Foto: Levis Litz | China

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Tai Chi Brasil www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Curitiba - Paraná - Brasil Edição nº 34 | Dezembro / 2020 ® Todos os direitos reservados Registro nº 401.197 / 2009 4° ofício de registro de documentos

Editor: Levis Litz

CNPJ: 20.259.228/0001-08

Capa Chenjiagou - China Levis Litz Revisão Valesca Giordano Colaboração David Gaffney, Gil Rodrigues Julia Ruiz, Nelson Smythe Jr. Agradecimentos Alexandre Nascimento, Anderson Rosa Angela Soci, Aristein Woo Chang Whan, Estevam Ribeiro Fádua Gustin, Giulliano Silva Jerusha Chang, José Carlos Natal de Moraes Filho, Mestre Woo Moacir Yau, Magno Bueno Manuella Prestes, Marcos Tavares Marcus Maia, Neila Santos, Nelson Polak Renato Frade, Tan Xiao Tatiana Cruz, Teresinha Pereira

Academia do Traço Associação Tai Chi Pai Lin Instituto Frade Praça da Harmonia Universal TaiJi Sem Fronteiras Taolu Cultura Oriental Grupo Tai Chi Curitiba Grupo ToTao Shao Sheng Cultural Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan Yau Tai Chi Chuan In Memoriam Roque Severino| Yang Zhenduo Revista Tai Chi Brasil www.RevistaTaiChiBrasil.com.br Jornalista responsável Levis Litz - mtb 3865/15/52v pr LevisLitz@hotmail.com ---------------------------------------RevistaTaiChiBrasil.com.br

A Revista Tai Chi Brasil é um publicação de distribuição on-line gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações concedidas de forma voluntária e gratuitas. Imagens com pouca definição são de responsabilidade de seus autores. Não é de responsabilidade desta publicação os artigos de opinião, fotos de divulgação, anúncios e também as opiniões emitidas em entrevistas e depoimentos, por não representarem, necessariamente, o pensamento do editor. Por questões de espaço, objetividade e clareza, a equipe editorial reserva-se o direito de resumir os textos recebidos e editar as imagens. A menção do conteúdo da RTCB pode ser feita desde que citada a fonte.


MENSAGEM DE NATAL

Feliz Tai Chi! Feliz Natal! Mensagem do editor da Revista Tai Chi Brasil aos praticantes de TaiJi (Tai Chi).

“Olá, saudações para todos vocês! É sempre uma alegria para o coração, uma certeza para o cérebro, um benefício para o corpo, quando nos reunimos em prol da paz, da solidariedade, do cultivo da empatia e do amor. Principalmente quando a prática do TaiJi se torna o vetor de tantas coisas boas que a humanidade possui.

E é com essa dinâmica do Yin e Yang que o TaiJi se apresenta. Faz o caminho que percorremos. Cada um individualmente com sua singularidade e todos num coletivo em prol do bem comum. E como é muito bom, mesmo à distância, trilhar esse caminho com vocês. Agradeço de coração essa oportunidade de poder deixar aqui meu grande abraço, respeito e reverência a vocês.

O TaiJi, bem como sabemos, acalma as nossas mentes, aquieta o nosso ser, nutre a sublime união do homem com a natureza.

Um feliz TaiJi! Um feliz Natal! Fiquem bem! Um abraço a todos!”

O TaiJi não disssocia, não fragmenta, não desconstrói, pelo contrário, ele faz parte do caminho. É também o caminho, que nos leva à união, ao discernimento maior e ao equilíbrio.

Levis Litz Editor

A união do interno com o externo, do inspirar e expirar, do expandir e do recolher, do belo com a razão, da ciência com a poesia, do saber com a saúde.

Revista Tai Chi Brasil

Nota - Essa mensagem foi transmitida originalmente no evento de Confraternização de Natal da Praça da Harmonia Universal, 6 de dezembro, em Brasília, DF, e adaptada aos leitores da RTCB.

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www.RevistaTaiChiBrasil.com.br 5


SUMÁRIO

07 TaiJi Sem Fronteiras It’s evolution, baby!

02 __ Fique por dentro

Tai Chi Chuan ou Taijiquan?

03 __ Editorial

A Revista Tai Chi Brasil e a inspiração na Fênix

Cenas • Momentos & Bastidores

04 __ Expediente 05 __

Mensagem de Natal Feliz Tai Chi! Feliz Natal!

08 __ Comentários & Opiniões

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09 __

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Leitores

In Memoriam Mestres do Passado Referências do Presente Artigo Percebendo as Seis Harmonias do Taijiquan

19 __ A Experiência

19

Wang Hao: o Rei Bom

De geração em geração

Aprender o Taijiquan da família Chen

20 __ Artigo

24 __ Relato

29 __ Taiji on-line

30

30 __

Práticas abertas e gratuitas

Entrevistas on-line A Arte de Viver: Conversas sobre Tai Chi


PARA O BEM COMUM

TaiJi Sem Fronteiras

• ENTREVISTAS • PRÁTICAS • PALESTRAS • DEBATES • MARATONAS • MUITO MAIS

O TaiJi Sem Fronteiras foi criado no dia 06 de junho de 2020. É um projeto independente, sem fins lucrativos. Tem como objetivo promover o TaiJi em todas as suas ramificações de natureza cultural, artística, filosófica, científica, corporal e educacional.

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MENSAGENS TAI CHI EM REVISTA POR AÍ

Memória | Homenagem Capa da Edição nº 2 - Novembro de 2009

Comentários A Revista Tai Chi Brasil foi ímpar no país em divulgar, difundir e promover o TaiJi como conceito integrador e as suas múltiplas escolas, estilos, tradições, teorias e práticas. Pela sua qualidade de forma e de conteúdo, pela amplitude dos temas abordados, sinto como se a semente do TaiJi Sem Fronteiras tenha sido mesmo a Revista Tai Chi Brasil. Parabéns pela iniciativa desse número especial!!! Marcus Maia

Parabéns por essa incrível e importante iniciativa, dentro dessa nova geração de informática, a Família Marcial agradece. Alexandre Nascimento Parabéns! Neila Santos Bela iniciativa! Marcos Tavares Parabéns pelo maravilhoso trabalho. Tan Xiao

Que tem muita gente lendo a Revista Tai Chi Brasil por aí... Isso tem! Quanta coisa já foi publicada, quantas dicas, curiosidades, matérias, fotografias, artigos... a boa notícia é que sempre poderemos reler qualquer edição. Seja digital, nas folhas de papel ou na tela de um computador... Se você é um desses admiradores do nosso trabalho, escreva para nós, comente, compartilhe... Participe! Revista Tai Chi Brasil no FaceBook

PATRIMÔNIO CULTURAL A ESPERA DE MAIS DE 10 ANOS O TaiJi (Tai Chi) foi reconhecido mundialmente como “Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO”. Uma alegria para os milhões de praticantes em todo o planeta.


IN MEMORIAM

Mestres do Passado Referências para o Presente • Roque Severino Um amigo do Taiji. Autor de vários livros. Uma pessoa ímpar. Foi diretor da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan SBTCC e discípulo direto do mestre Yang Jun - neto do mestre Yang Zhenduo, da

linhagem da Família Yang.

• Yang Zhenduo Um exemplo de dedicação, generosidade e ética, com uma vida inteira dedicada à difusão do Taijiquan da Família Yang, visando os mais altos potenciais que possamos desenvolver.

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ARTIGO

Percebendo as Seis Harmonias do Taijiquan Texto David Gaffney Tradução Levis Litz

Uma expressão comum no Taijiquan é que os praticantes devem perceber as “seis harmonias” (liu he) para que sua prática seja bem-sucedida. O que isso significa e de onde vem a expressão?

Na perspectiva de um indivíduo que englobava todo o universo. O termo foi posteriormente absorvido por diferentes aspectos da cultura chinesa, incluindo o feng shui e o zodíaco chinês, e seu significado evoluiu para “seis harmonias”. Por exemplo, os doze animais do zodíaco chinês são divididos em seis pares compatíveis; então, se você nasceu no ano do dragão, seria aconselhável combinar com um nascido galo (fênix) e evitar alguém do ano do cão, a fim de otimizar suas chances de ter um relacionamento feliz. Inevitavelmente, as artes marciais chinesas também incorporaram o conceito em sua teoria de treinamento.

Uma das primeiras referências ao termo liu he pode ser encontrada no clássico taoísta de Zhuangzi. Sua grande obra literária, concluída em algum momento no final do século 4 aC, é considerada a segunda apenas do Daodejing de Laozi dentro do cânone taoísta. Neste contexto, referiase a “seis direções” - acima (céu), abaixo (terra), frente, atrás, esquerda e direita.

O principal objetivo da prática das artes marciais é alcançar resultados práticos superiores. As seis harmonias referem-se à sincronização de todos os aspectos de um indivíduo - desde as partes físicas externas do corpo, até os aspectos internos, como respiração, intenção e os sentidos. Eles são frequentemente (de forma simples) divididos em três harmonias externas (wai san he) e três

Quais são as seis harmonias?

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David Gaffney


harmonias internas (nei san he). As harmonias externas são as conexões entre as mãos e pés, os cotovelos e joelhos e os ombros e quadris, que podem ser desenvolvidas para abranger a coordenação do pé esquerdo com a mão direita, o joelho esquerdo com o cotovelo direito, e o quadril esquerdo com o ombro direito e vice-versa. As três harmonias internas referem-se às conexões entre xin (coração), yi (intenção), qi (energia intrínseca) e li (força física), que englobam os elementos mais sutis e menos concretos das harmonias. As harmonias internas estão divididas em três pares: em primeiro lugar, a conexão entre xin e yi, ou seja, o aspecto emocional da mente e seu aspecto de planejamento lógico; em segundo lugar, a conexão entre o yi e o qi, ou seja, o uníssono da intenção e as qualidades energéticas do corpo. A mente é utilizada para conduzir e manter as qualidades essenciais como relaxamento (song), afundamento (chen) e expansão (peng); e em terceiro lugar, a conexão entre qi e li, ou seja, a união dos aspectos mentais e energéticos do corpo às suas qualidades físicas.

complementares dentro do corpo. Há um ditado que diz: “se há um movimento para cima, haverá um movimento para baixo; se houver um movimento para frente, haverá um movimento para trás; e se houver um movimento para a esquerda, haverá um movimento para a direita.” A metodologia do sistema é projetada para trazer todos os fatores opostos em um estado de equilíbrio onde eles possam coexistir em harmonia. Ao mesmo tempo, todas as ações são naturais e não forçadas, complementares sem contradição ou atrito. Por exemplo, há abertura dentro de fechamento e vice-versa, um exemplo simples sendo a posição final da postura dan bian (chicote simples). Na postura obviamente “aberta” no encadeamento com os pés e as mãos bem afastados; dentro da abertura ocorre o fechamento sutil entre os ombros e quadris, cotovelos e joelhos etc; o dang (virilha) está contido ou “acondicionado”; o tórax fica sutilmente recolhido etc.

Em termos práticos, qualquer coisa que leve à integração do corpo e da mente move o indivíduo ao longo do caminho para a realização das seis harmonias. O Taijiquan tem seu próprio método para cultivar esse tipo de desenvolvimento holístico. No passado, vários professores descobriram várias maneiras de explicar este processo.

O segundo método principal de treinamento do Taijiquan é o uso do relaxamento (song), sem a qual a harmonização não é possível. Buscando uma mente calma e a intenção, o praticante “permite” que todo o interior do corpo relaxe. Tudo engloba os movimentos, os músculos, as articulações, os órgãos e a própria mente. O relaxamento porporciona benefícios em termos da aplicação marcial e manutenção da saúde. Permitir que o processo ocorra naturalmente requer muita paciência e total confiança de que o método acabará levando ao resultado desejado. Um dos principais pilares do pensamento chinês e do Taijiquan é o princípio taoísta mencionado anteriormente. O pensamento taoísta afirma que a natureza é como é.

Utilizando a lentidão para transformar o corpo No treinamento de Taijiquan, o início do processo de transformação é o aumento da percepção. O uso da lentidão como método primário de treinamento é uma forma de “desacelerar o tempo” para que os praticantes possam desenvolver uma consciência acurada das diferentes forças antagônicas e das ações

Solto e natural

Tudo tem seu próprio lugar natural e finalidade que só pode ser desvirtuado ao


ser rotulado e definido. A filosofia taoísta defende o alinhamento com o dao - ser natural. O grande mestre da décima sétima geração Chen Fake, ao ensinar, costumava usar a frase “ting qi ziran”. Isso pode ser traduzido literalmente como “ouvir a natureza” ou simplesmente deixar acontecer naturalmente. Em vez de tentar forçar as coisas, o processo de relaxamento mente-corpo segue uma sequência natural e previsível. Conforme a mente relaxa, as emoções se acalmam e o corpo começa a relaxar.

excelente. É comum ver alunos inexperientes com sobrancelhas franzidas e olhos muito focados ou, inversamente, realizando suas rotinas com olhos embotados e desfocados. No primeiro caso, a mente não está relaxada e, inevitavelmente, o corpo não está relaxado; e no segundo exemplo os olhos estão vagando e não alinhados com as ações ou intenção. Chen Xin concluiu que o “espírito é refletido pelos olhos, mãos e coração”.

Da perspectiva do Taijiquan, Chen Xiaowang descreveu o natural como um estado em que cada parte do corpo é capaz de fazer o que deve fazer. Isso parece aparentemente simples; no entanto, é tudo menos isso. O que realmente significa é que todos os movimentos são realizados sem atrito ou contradição. Saindo de um estado completamente equilibrado, um praticante habilidoso não faz uso de qualquer esforço inútil ou desnecessário.

Uma metáfora comum usada para descrever a integração do corpo é considerá-la composta de cinco arcos - o torso, os braços esquerdo e direito e as pernas direita e esquerda. Cada um dos arcos é estabelecido colocando a intenção na função precisa de suas diferentes partes. Os praticantes são ensinados a relaxar a raiz, a usar o centro para fixar a posição e a garantir que a energia vá para a extremidade. Assim, para que o braço seja considerado um arco, as seguintes ações devem ocorrer: o ombro (raiz) está relaxado e solto, a intenção é colocada em fixar a posição do cotovelo (centro) e, finalmente, os punhos assentam para deixar que a energia vá para a mão (extremidade). O mesmo acontece com as pernas: o kua está relaxado, a posição é fixada pelo joelho e a energia é guiada para descer até os pés. Como um arqueiro prestes a lançar sua flecha, a força é gerada ao esticar e combinar as duas pontas do arco e controlar sua força por meio da mão central ou cabo. O arco do torso é criado usando a cintura como alça, ao mesmo tempo que levanta o topo da cabeça para elevar a parte superior da coluna e permite que o cóccix afunde. Individualmente, cada arco tem a capacidade de armazenar e emitir força. Combinar os cinco arcos numa forma que a base para um corpo jin inteiro concentrado e poderoso. Quando colocado em uso, diz-se: “O corpo é como um arco e a energia é como uma flecha.”

Envolvendo os sentidos Para integrar totalmente os aspectos mentais e físicos, todos os sentidos devem estar envolvidos. Em sua explicação ilustrada da família Chen, Taijiquan, Chen Xin escreveu “os ouvidos ouvem as oito direções” e os “olhos fixos olhando para a frente, brilhando nas quatro direções”. O ato de ouvir uma área logo atrás da cabeça ajuda o praticante a: manter uma postura ereta; e focar a mente de modo a estar simultaneamente ciente de seu próprio estado postural e energético e de seu ambiente imediato. Nas artes marciais chinesas, diz-se que os olhos refletem o estado do espírito de uma pessoa (shen). Eles devem dar um ar de alerta e confiança, conforme descrito na frase conhecida, “o espírito deve ser como um gato perseguindo um rato”. Novamente, este é um ato de equilíbrio

Os cinco arcos


Wai San He - As Três Harmonias Externas

Movimento das três seções A filosofia chinesa usa o conceito de san cai ou “três poderes” para descrever a relação entre o céu e a terra e o lugar do homem equilibrado entre esses dois extremos. Chen Taijiquan também usa a “teoria do movimento das três seções” para compreender e treinar a integração de todo o corpo. O estrategista militar Sunzi comparou a estratégia às ações de uma cobra.

Ele considerou a maneira pela qual os soldados em movimento, de uma coluna em marcha, devem manter contato entre a cabeça e a cauda. Se eles puderem ser separados, então a derrota é provável. De forma semelhante, o Taijiquan divide o corpo em seções superior, meio e inferior ou “raiz, meio e pontas”. Começando da perspectiva do corpo inteiro e depois dividindo-o em unidades progressivamente menores. Para o corpo como um todo: a seção superior ou


cabeça é o comandante que fornece o foco e a direção; a seção intermediária ou tronco liga a parte superior do corpo à parte inferior, enquanto o dantian atua como o ponto central de coordenação; a parte inferior, dos quadris até os pés, proporciona enraizamento e estabilidade. O braço é dividido da mesma maneira: o ombro é a raiz, o cotovelo é o meio e a mão é a ponta. Para a mão, o pulso é a raiz, a palma é o meio e os dedos são a ponta. A mesma divisão pode ser feita para o tronco, cabeça, pernas etc. A ideia é focar nas três partes que atuam em cooperação uma com a outra.

Reflexões sobre a integração do corpo Tendo treinado com diferentes professores de Chenjiagou ao longo dos anos, ouvi várias explicações que foram dadas para nos orientar sobre como integrar o corpo:

• O conceito de “Três Levantamentos” é comum a todas as artes marciais internas: o ponto baihui, no topo da cabeça, deve estar suspenso levemente: a língua é levantada suavemente para tocar o palato superior e huiyin ou períneo é levantado suavemente. O resto do corpo se solta e afunda.

Reflexões finais Não devemos perder de vista o fato de que, embora separemos e classifiquemos todos os diferentes elementos em pares ou listas etc., em última análise, todas as coisas mencionadas devem acontecer ao mesmo tempo. Eles são separados por uma questão de clareza. A seguir estão algumas dicas no caminho para desenvolver as seis harmonias:

• “Os ossos sobem e a carne desce” ou, alternativamente, a frase pode ser descrita como “pendurar a carne dos ossos”.

• Embora os alunos inexperientes frequentemente estejam absorvidos em aprender coisas novas - a coreografia das formas, diferentes exercícios de treinamento etc. -, é útil tentar entender as regras essenciais do Taijiquan o mais rápido possível. Para começar, não precisa ser muito complicado. A ênfase deve ser colocada em requisitos macro, tais como: garantir que o corpo esteja ereto e não inclinado em alguma direção não natural; manter os quadris e ombros nivelados e relaxados; afrouxando os ombros e encolhendo os cotovelos; geralmente tentando certificarse de que cada postura é arredondada em vez de angular; e acalmar a mente de qualquer sensação de pressa.

• Embora a maioria dos praticantes esteja ciente da necessidade de direcionar o qi ao dantian, há um ditado que diz que “três pesos” são necessários: isto é, que as mãos, calcanhares e dantian devem estar pesados. Isso demonstra a capacidade de afundar jin onde é necessário e ser capaz de distinguir entre peso e rigidez.

• Uma vez que os princípios básicos tenham sido estabelecidos, eles devem ser desenvolvidos. A fonte do movimento coordenado do Taijiquan é o movimento do desenrolando a seda (chansijin). Uma explicação completa sobre isso daria para escrever outro artigo. Basta dizer que o praticante trabalha no sentido de um

• Os calcanhares afundam no chão enquanto a “parte de trás dos calcanhares” [tendão de Aquiles] sobe; os quadris são soltos e relaxados enquanto a parte inferior da coluna sobe; os ombros relaxam enquanto o pescoço sobe. Para ser bem claro quando dizemos “subir” é uma função da intenção e não deve ser forçado.


movimento circular e tridimensional, desprovido de linhas retas ou ângulos agudos. Em um nível prático, a energia do desenrolando a seda ajuda a abrir as articulações do corpo, aumenta a flexibilidade e permite que a energia do corpo flua suavemente. À medida que o desenrolando a seda se torna mais refinado, as diferentes partes do corpo tornam-se gradualmente mais coordenadas. • Aprofundar mais para entender o “propósito” pretendido dos movimentos. “Finalidade” não significa aplicações simples, uma -a-uma, para as diferentes posturas. Em vez disso, trabalhar para colocar em prática conceitos como: o movimento vem dos pés, é dirigido pela cintura e expresso pelas mãos; pesado na parte inferior e leve no topo; força equilibrada em oito direções; use a intenção, não a força. Todos esses são meios de considerar e treinar o corpo como um todo.

San Cai - Os três poderes Fonte: Explicação ilustrada de Chen Xin sobre o Taijiquan da família Chen

• Em todos os momentos durante o treinamento, priorize a precisão em todas as dimensões: ser preciso na postura, direção, peso, rota do movimento, trabalho dos pés etc. Quando você atinge o estágio onde todas as posições estão corretas e os movimentos se tornam


espontâneos e suaves, a coordenação de diferentes partes do corpo começa a evoluir naturalmente. A habilidade e os movimentos holísticos podem ser ainda mais aprimorados, prestando-se atenção ao tempo e ao ritmo de cada ação. Com o tempo, os princípios tornam-se gradualmente internalizados conforme o praticante se torna ciente do que está acontecendo dentro do corpo e não se concentra nos braços externos, pernas etc.

É importante não prestar atenção em uma coisa às custas de outra. Um ditado comum do Taijiquan alerta que “ao se concentrar em uma coisa, você perde dez mil coisas”. Durante o processo de perceber as seis harmonias, há uma evolução do bruto ao refinado, partindo de requisitos simples e indo em direção ao mais complexo. Um dos paradoxos do Taijiquan é que, enquanto nos pedem, por um lado, que separemos minuciosamente cada parte do corpo, por outro lado somos impelidos a ver o corpo como um todo. Ao longo do processo, é importante não prestar atenção em uma coisa às custas de outra. Um ditado comum

do Taijiquan alerta que “ao se concentrar em uma coisa, você perde dez mil coisas”. É fácil se fixar em um aspecto que você acha atraente, seja um fajin explosivo, postura baixa ou movimento fluido. Mas eles só podem ser alcançados integrando os muitos aspectos do corpo em uma única unidade harmoniosa, em que as harmonias internas e externas sejam percebidas, a parte superior e a inferior do corpo estejam sincronizadas e a energia conectada e circulando livremente por todo o corpo.

David Gaffney pratica artes marciais asiáticas desde 1980. É praticante do estilo Chen de Taijiquan há muito tempo, viajou muitas vezes à China para aprender no local de nascimento da arte. Recebeu a certificação de instrutor pela Escola Chenjiagou de Taijiquan e o nível de 6˚ Duan pela Associação Chinesa de Wu Shu. Ele ensina na Europa e nos EUA. É coautor de vários livros sobre Taijiquan do estilo Chen, entre eles, A Essência do Taijiquan, disponível na Amazon, em português. Mais informações em: chentaijiquangb.com


PARA LER - EM INGLÊS

Talking Chen Taijiquan - O Livro! -

Esta obra, publicada no idioma inglês, de autoria de David Gaffney, é espectacular e lindamente ilustrada. É uma verdadeira obra de arte que abrange, teorias, entrevistas, perguntas técnicas, pensamentos e as situações sobre o Taijiquan na China e no mundo. Disponível na Amazon.

O AUTOR - David Gaffney é um praticante de longa data do estilo Chen de Taijiquan. Ele ensina o Chen Taijiquan na Europa e nos EUA. Possui certificação de instrutor na Escola Chenjiagou de Taijiquan em Henan, China. Escreveu vários livros sobre o tema. Em seus trabalhos anteriores, escritos em coautoria com Davidine Siaw-Voon Sim, encontram-se os livros Chen Taijiquan: Masters and Methods, Chen Taijiquan: The Source of Taiji Boxing e A Essência do Taijiquan. Este último está disponível no idioma português, na Amazon.

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A EXPERIÊNCIA - O AFETO

Wang Hao

O Rei Bom

Encontros, quando se tem presença genuína, são sempre recheados de afeto. A vida, por meio de nossas escolhas, nos coloca a caminhar, nos coloca diante de caminhos que nos permite aprender constantemente. Viver nos ensina a estar, a ter e a ser. O que, cada vez mais, precisamos é ter consciência de que para ser é preciso estar atento, presente, latente e a fim de ver-sentir tudo que se manifesta diante do caminho, diante da jornada. E falando em jornada, em dezembro de 2018, realizei um grande sonho, voltar a China, a Aldeia Chenjiagou, voltar a escola do meu Shifu Chen Ziqiang, com um grupo de amigos e alunos, uma possibilidade ímpar para continuar o aprendizado sobre o Taiji e sobre o Tajiquan da família Chen. Tenho certeza de que todos que aqui estiveram levaram em seus corações as histórias, as imagens, o gosto da comida, o olhar das crianças e jovens que por aqui vivem e treinam arduamente e claro, levaram também no corpo as duras e deliciosas dores, pois como já disse o meu Shiye: “não existe atalhados para desenvolvimento do Taijiquan é preciso praticar diligentemente” pois só assim teremos êxito. Iniciei o texto escrevendo sobre encontro, afeto, presença, caminho e sobre SER, TER e ESTAR e não posso deixar de escrever algo que a já tempos tenho manifestado diante de mim, dos outros e claro da vida, falo de gratidão, que para mim é sinônimo de amor, benevolência e compaixão. Quando manifestamos gratidão a nós, ao outro e a vida, estamos criando uma onda potente de amor, benevolência e compaixão. A foto que acompanha esse texto é uma de tantas que foram capturadas na Aldeia da família Chen e como disse aos meus alunos e amigos: em Chenjiagou é possível aprender em cada canto da vila, em cada gesto manifesto, em cada olhar, em cada persona por meio da singularidade do corpo e movimento e sim, aprendemos muito sobre leveza, pausa, pureza e amor filial e com as crianças, a exemplo da foto, aprendemos a ser caminho, ter sentido o nosso caminhar, estar disposto a seguir caminhando, mesmo diante das adversidades. Sou grato a esse pequeno grande mestre cujo nome é Wang Hao, tradução livre “Rei bom”. Rei de coração bom, eu pude senti-lo. Gil Rodrigues


ARTIGO

De geração em geração Texto Gil Rodrigues e Julia Ruiz Fotos: Acervo Gil Rodrigues

Em dezembro de 2020, tivemos a notícia da definitiva inclusão do taijiquan na lista representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, mantida pela UNESCO. A lista crescente, criada em 2005, tem como objetivo promover a proteção daqueles elementos da cultura e da memória dos povos que vão muito além de objetos que podem ser guardados pelos museus. Afirma que o maior patrimônio da humanidade são as manifestações culturais vivas, os saberes e as práticas que geram sentidos de comunidade e continuidade.

Segundo a UNESCO, para que se reconheça um elemento cultural como patrimônio imaterial, é importante que se trate de algo que perdura no tempo, “transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em resposta a seu ambiente, à sua interação com a natureza e a sua história”. O taijiquan, como era de se imaginar, atende esse critério, já que se trata de uma arte marcial tradicional criada no século XVII e praticada até hoje em seu lugar de origem (Chenjiagou, Henan, China) assim como ao redor do mundo. Mas qual é a importância, para nós, praticantes no Brasil, desse caráter tradicional da nossa arte? Em um lugar tão distante de Chenjiagou, com uma cultura tão diferente (também valiosa), enfrentando os desafios que nos são colocados por nossa própria história, porque deveríamos querer seguir uma linhagem tradicional, em vez de extrair do tai chi apenas aquilo que parece imediatamente mais útil e atraente? Podemos tomar como exemplo a relação de discipulado. O vínculo entre mestre e discípulo, os modos de transmissão e os rituais que definem

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tradicionalmente essa relação, são considerados fundamentais nas artes marciais chinesas. Porque precisos ter um mestre, seguir uma linha técnica e didática, me limitar a treinar os taolus de um só estilo, se posso frequentar seminários internacionais, consultar arquivos abundantes em vídeo e beber de todas as fontes disponíveis on-line para desenvolver meu próprio trabalho e oferecer a meus alunos aquilo que aprendi? A Escola Chenjiagou Brasil, braço da Chenjiagou Taijiquan Xuexiao, é fruto do velho caminho do discipulado. O diretor Gil Rodrigues, nascido no interior de Alagoas, tornou-se discípulo de Chen Ziqiang em 2015, ajoelhando-se diante dele em uma cerimônia conduzida pelos anciãos do vilarejo, no templo da Família Chen em Chenjiagou. Após a cerimônia diante da dúvida do discípulo sobre suas novas obrigações, o mestre resumiu: venha todo ano até a vila para treinar com sua família.


Um ano mais tarde, a escola brasileira é fundada com a primeira vinda do mestre, para oferecer seminários no Rio e em São Paulo. Nunca nos cansamos falar aos alunos sobre nosso mestre. Quando nos apresentam uma dúvida, o primeiro lugar onde buscamos respostas é nas falas e nas correções feitas por ele. Fazemos tudo que está ao nosso alcance para trazê-lo anualmente ao Brasil, com o objetivo principal de que nossos alunos tenham contato com o mestre, recebam suas instruções, correções e observem em primeira mão como seu corpo se move. Ele nos fala das exigências internas e externas da prática: posição, respiração e pensamento. Insiste na simplicidade, na diligência no estudo do movimento: atenção, repetição. Nenhuma energia mística cairá, como a maçã de Newton, nas nossas cabeças. Bobagem ficar tentando sentir algo especial, é preciso concentrar-se em fazer: repetir, observar, escutar, memorizar as sensações do movimento, investigar variações. Induzindo com o toque pequenos ajustes nas posturas, pede sempre que nosso corpo se reorganize. Nos mostra como a complexidade de cada movimento pode ser detalhada ao infinito. Mais de uma vez durante os seminários, o mestre lembra que não basta imitar a forma exterior sem esse trabalho reflexivo, sem essa atenção interna a cada gesto. Não devemos guardar na memória a imagem do movimento que ele executa, explica: os corpos são diferentes, as constituições ósseas são diferentes, por isso as linhas nunca serão iguais. O que devemos guardar do mestre são as sensações que o treino que ele conduziu provocou no nosso corpo: essas

são iguais para todo mundo, diz ele, as pernas ardendo, o cansaço. Demonstra suas correções nos corpos dos colegas e do seu discípulo: o outro, como nós, treme. Os troncos de diferentes tamanhos, formas e idades se inclinam para frente quando as pernas se cansam; todo braço se inquieta, toda respiração se altera. Vinte gerações de tradição do Taijiquan de Chenjiagou não são uma curiosidade folclórica. São horas incontáveis de trabalho de mestres e aprendizes empenhados na pesquisa do movimento. Com certeza houve suor e fogo, dor e beleza, surpresa e frustração em cada uma delas. Não esperamos que nossos alunos se movam todos da mesma maneira, façam tudo igual ao mestre. Isso não é possível nem desejável. O que queremos é que a experiência compartilhada de treino, de um certo modo de treino, fortaleça o sentido de comunidade e continuidade, que não começa em Chen Ziqiang, nem termina na nossa escola.

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Nas discussões da UNESCO sobre a definição do que seja patrimônio imaterial, vários especialistas questionaram o termo “tradição” e propuseram alternativas muito inspiradoras como: “transmissão”, “memória coletiva”, “experiência compartilhada”, “identidade comunitária” e “continuidade histórica” . Se tornar discípulo não é uma finalidade, não serve para adquirir conteúdos exclusivos a serem replicados. O que interessa é o elo que se cria quando discípulo e mestre se comprometem com aquela experiência compartilhada, cada um do seu lugar. A inclusão do taijiquan na lista representativa do Patrimônio Imaterial da Humanidade, ajuda a lembrar o que é mais valioso para nossa escola: construir pela experiência compartilhada da prática, uma comunidade capaz de seguir vivenciando, transmitindo e recriando um verdadeiro tesouro, que atravessa o tempo e as fronteiras. _______________________

i “CRITERIA FOR INSCRIPTION ON THE LISTS ESTABLISHED BY THE 2003 CONVENTION FOR THE SAFEGUARDING OF THE INTANGIBLE CULTURAL HERITAGE”, Relatório da Reunião de Especialistas da UNESCO, Dezembro de 2005. Disponível em: https://ich.unesco.org/doc/src/00035-EN.pdf ii Idem


RELATO

Aprender o Taijiquan da família Chen Gil Rodrigues Fotos: Acervo Gil Rodrigues

“Ao encontrar um (Homem) Virtuoso, [deve-se] pensar como igualar-se a ele. Ao encontrar um [homem] sem virtudes, [deve-se] olhar para dentro de si mesmo e refletir”. Confúcio - Os Analectos, 4:17

Comecei a praticar Kung Fu ainda em casa, inspirado pelos filmes clássicos chineses que a televisão brasileira exibia. Com doze ou treze anos consegui me matricular em uma escola. As aulas naquela época duravam duas horas e eram muito intensas para o condicionamento e o desenvolvimento da força física. Logo que comecei a treinar, o Kung Fu já despertou meu interesse pela história e cultura das artes marciais chinesas, o que me levou a querer conhecer mais sobre o budismo e o taoísmo. 24

Assim também fui ficando curioso sobre as ideias e práticas que tratavam a arte marcial como algo que ia além do treinamento físico. Me interessava pelo assunto da “energia”, ou Qi, que aparecia na fala dos meus professores e nas leituras que fazia. Através de livros tive meu primeiro contato com as práticas de Qi Gong e com o Taijiquan. Assim me interessei por praticar aquela arte, querendo entender melhor como era possível unir o trabalho físico, que chamamos de trabalho “externo”, e o trabalho de concentração que chamamos de “interno”. Aos dezesseis anos fiz minha primeira aula de Taijiquan. A lentidão dos movimentos foi um grande desafio para quem estava acostumado com a dinâmica do Kung Fu, mas minha curiosidade pelos princípios de respiração e energia me levaram a persistir na prática, até que a rapidez deixasse de ser uma necessidade para mim. Em uma primeira impressão, pareciam práticas muito diferentes, mas com o passar do tempo fui entendendo que era possível


encontrar as respostas que buscava nas duas modalidades. Tanto nos movimentos rápidos quanto nos movimentos lentos há princípios e fundamentos que vão além do desempenho esportivo. No estilo Chen, a que me dedico hoje, há movimentos suaves e explosivos: o que há de especial neles não é a velocidade e sim o modo de executá-los, sempre em conexão com nosso corpo, expandindo nossa consciência corporal, buscando presença nas articulações, nos músculos, nos tendões e na respiração. Comecei no Taijiquan com o Mestre Vagner Tome, que ensinava uma variação do estilo Yang. Meu primeiro professor tinha conhecimento amplo também do Kung Fu e do Aikido, por isso já comecei no Taijiquan por um caminho marcial. Nas aulas, o mestre Vagner nos ensinava a criar bases fortes, em treinos duros, com exigência de posturas baixas e estabilidade. Isso foi valioso na minha formação nos 20 anos de prática de estilo Yang. No entanto, a técnica da família Chen no trabalho da base foi novamente um grande

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desafio. Se tivesse que destacar um elemento que diferencia o sistema Chen do Taijiquan que eu praticava antes, seria certamente a exigência ainda maior de tônus muscular da base e a atenção minuciosa que damos ao papel das articulações, em particular as articulações do quadril. Esse trabalho se aprofunda, trazendo mais abertura e consciência para essa região. Desde as primeiras aulas, vejo em meus alunos a mesma surpresa que experimentei um dia, ao descobrir o quanto o estilo Chen é exigente. É uma prática marcial que pede ganho de tônus, soltura das articulações, dos tendões e da musculatura. Enfrentar essa exigência física pode até ser algo assustador para quem espera do Taijiquan apenas suavidade e “relaxamento”.

Assim, desde o primeiro contato, o estilo pede muita entrega, presença e persistência. Cada aula começa com um trabalho cuidadoso que chamamos de séries dos tendões. Essa nomenclatura, que vem do chinês, mostra que esse trabalho inicial vai além do que costumamos chamar aqui de “ginástica”, “alongamento” ou “aquecimento”. Esses exercícios não são apenas uma preparação, são carregados de princípios: já estamos trabalhando ali o tônus muscular, de enraizamento dos pés no chão, a percepção do eixo de equilíbrio e o movimento consciente a partir do centro do corpo. Quando realizado com atenção e presença, todo trabalho para ganhar mobilidade nas articulações e tendões é também trabalho de cultivo e


circulação da energia vital (Qi Gong). O mestre Chen Ziqiang, de quem me tornei discípulo, afirma que qualquer prática realizada com consciência do corpo e da respiração, promovendo aquecimento e mobilizando os sistemas e órgãos internos, pode ser considerada uma prática de Qi Gong. Assim, vejo que encontrei no estilo Chen um caminho em que os aspectos “externo” e “interno” estão unidos em um sistema de treinamento que carrega os conhecimentos de mais de 20 gerações de praticantes, mestres e discípulos. O sistema tradicional de treinamento da família Chen transforma nossa maneira de trabalhar o Qi ao mesmo tempo em que transforma nossa condição corporal pela prática. Na medida em que as aulas vão avançando, o corpo e a mente reconhecem esse trabalho, percebemos melhor sua importância e passamos a dar valor às exigências e dificuldades: é graças a isso que ganhamos a base necessária e nos aproximamos dos fundamentos do Taijiquan. A sua prática oferece contato com princípios e orientações que podem nos ajudar a aprofundar essa jornada. Se parecem muito complexos é porque falam de coisas que só podem ser conhecidas na prática, através da dedicação, da repetição, da atenção e da entrega. Todos os dias é preciso aprender e aprender a aprender. Caminhando é que se faz o caminho.

Gil Rodrigues Professor de Taijiquan da família Chen Discípulo do mestre Chen Ziqiang 20˚ geração ShaoSheng.com.br


L A N Ç A M E N T O

TAIJIQUAN

DA FAMÍLIA

CHEN ORIGEM E FUNDAMENTOS

O livro escrito pelo Mestre Chen Ziqiang é um guia na escola principal em Chenjiagou na China. A sua primeira edição em português foi lançada sob a coordenação do Professor Gil Rodrigues, fundador da Escola Chenjiagou de Taijiquan Brasil.

Para adquirir o seu exemplar envie uma mensagem para: giltaichi@gmail.com ou WhatsApp: 11 9.8338-7664.

ChenjiagouTaijiBR

chentaijibr

www.tjqxx.com.br

Escola Chenjiagou de Taijiquan Brasil


PARA TODOS OS GOSTOS

Taijiquan Práticas abertas e gratuitas on-line Em tempos de pandemia e distanciamento social, o mundo despertou para as práticas on-line.

. Praça da Harmonia Universal Mestres Woo e Aristein . Yau Tai Chi Chuan Prof. Moacir Yau . TaiJi Sem Fronteiras Diversos professores . Profa. Fádua Gustin . Frater Goya Prof. Anderson Rosa . Profa. Tatiana Cruz . Taolu Cultura Oriental Prof. Magno Bueno

As atividades envolvem taijiquan (Tai Chi Chuan), qigong (chi kung), entre outras expressões corporais chinesas. Ao lado destacamos algumas, mas confira na página da Revista Tai Chi Brasil no Facebook as atividades, com links, que vão sendo compartilhadas.

Instagram . Prof. Giulliano Silva . Assoc. Tai Chi Pai Lin - Espaço Luz Mestra Jerusha Chang . Shao Sheng Cultural Prof. Gil Rodrigues FaceBook . Grupo ToTao Profa. Chang Whan . Prof. Estevam Ribeiro

AVISO IMPORTANTE - As atividades são de responsabilidade, única e exclusiva, do próprio orientador. A Revista Tai Chi Brasil não propõe substituir a recomendação de um médico. Para atividades relativas à saúde, nossa orientação é consultar um profissisonal credenciado.

Nota - Algumas atividades são transmitidas em mais de uma rede social.

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PARA ASSISTIR - ENTREVISTAS

A Arte de Viver

Conversas sobre Tai Chi Percebam como é importante o maravilhoso trabalho realizado pelo prof. Gil Rodrigues. Arte de Viver é um projeto que carinhosamente o prof. Gil chamou de Arte de Viver Conversas sobre Tai Chi. A ideia foi de conhecer um pouco da história de cada convidado e também falar sobre este momento de distanciamento social causado pela pandemia. As conversas estão disponíveis no Instagram gil_chentaiji Gil Rodrigues é professor de Taijiquan da família Chen e estudioso da Cultura Chinesa. Discípulo do mestre Chen Ziqiang 20˚ geração. ShaoSheng.com.br

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PARA PRATICAR - GRUPO

Tai Chi Curitiba Junte-se a nós! Direcionada ao público comum, sem a pretensão de se igualar a uma aula presencial - tão importante para os devidos ajustes corporais necessários aos praticantes -, o prof. Levis Litz oferece, de forma simples, básica e leve, práticas de 40 minutos, pelo aplicativo ZOOM. Devido à pandemia global, as atividades presenciais do Grupo Tai Chi Curitiba a portas fechadas estão suspensas por tempo indeterminado. Entretanto, a oportunidade - à distância, para mexer o corpo de uma maneira diferente sob a perspectiva da dinâmica do Yin e Yang se fez necessária e presente. As práticas, que vão desde os fundamentos necessários para a prática do Taijiquan (Tai Chi Chuan), envolvem movimentos da Forma dos 18 Movimentos - do grão-mestre Chen Zhenglei, Forma Tradicional da Família Chen (LaoJi Yi Lu), Qigong (Chi Kung), TaiJi Jian (Tai Chi com espada), TaiJi Shan (Tai Chi com leque), entre outros. Há também vídeos e textos complementares, conversas e suporte, exclusivamente aos alunos, sobre aspectos teóricos que auxiliam no entendimento das práticas e noções fundamentais de mandarim.

O valor mensal permite acesso em todas as atividades. É um investimento no bem-estar, qualidade de vida e conhecimento. O bacana é que praticantes de outras cidades também estão se juntando a nós. É o TaiJi (Tai Chi) indo muito além das fronteiras! Para saber mais . FaceBook: Tai Chi Curitiba - Prof. Levis Litz . Instagram: Tai Chi Curitiba Levis Litz . Site: TaiChiCuritiba.com.br Qualquer dúvida adicional pergunte diretamente ao prof. Levis Litz: WhatsApp (41) 98409-6858. • Experiência certificada • Inovação constante • Seriedade & Bom humor • Reconhecimento oficial • Filantropia por décadas


PARA PRESENTEAR

Tai Chi: Porque praticar! Milhões de pessoas ao redor do planeta praticam Tai Chi, mas por quê? Segundo a conceituada “Harvard Medical School”, a prática do Tai Chi está entre os 5 melhores exercícios para ter uma boa saúde. Esse livro de bolso é o resultado de uma série de depoimentos de mestres e profissionais da saúde que revelam os motivos que levam as pessoas a praticarem Tai Chi.

Disponível: Clube de Autores.com.br Amazon.com.br


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