Revista Tai Chi Brasil - 15

Page 1

2009

REVISTA

2012

Tai Chi Brasil Edição nº 15 | Abr - Mai - Jun / 2012 | Distribuição gratuita e dirigida

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

A trajetória de uma brasileira dentro de uma família tradicional chinesa de tai chi chuan

Sendo corrigida pelo Mestre Yang Zhenduo na China

Prêmio oferecido pelo mestre Yang Jun aos profs Roque e Angela

Aulas particulares na casa do Grão-mestre Yang Zhenduo


Tai chi chuan (Taijiquan) - Pratique!

Alfie Schütz Taijiquan Estilo Chen Berlim Alemanha Foto: Acervo/Alfie Schütz

http://chen-taiji.de.to


Revista Tai Chi Brasil

Sumário

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

7

Curitiba - Paraná - Brasil Edição nº 15 | 2012 ® Todos os direitos reservados Registro nº 401.197

4° ofício de registro de documentos

Editor: Levis Litz Capa Professora Angela Soci com o Grão-mestre Yang Zhenduo e o mestre Yang Jun, Itália. Foto: Acervo / Angela Soci. Colaboraram nesta edição Alfie Schütz, Anderson Rosa, Angela Freitas, Angela Soci, Aparecido de Lira, BethLi, Bruno Davanzo, CXWTABR, Eliane Cardoso, Elli Nowatzki, Estevam Ribeiro, Krishna Raza Giulia Fontes, Patricio Casco, Paula Faro, Roque Severino e Soraya Lacerda. Agradecimentos Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan - AIPT, David Gaffney, Davidine Siaw-Voon Sim Equilibrius - Ribeirão Preto, Fotos e Rumos, Gesto Cotidiano - Petrópolis, Grupo Tai Chi Curitiba e Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan Revisão Valesca Giordano Litz Viviane Giordano Contato

revistataichibrasil@hotmail.com levislitz@gmail.com Jornalista responsável

levis litz - mtb 3865/15/52v pr Distribuição gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações voluntárias gratuitas. Foto com pouca definição é de responsabilidade do autor. Não são de responsabilidade desta revista os artigos de opinião e também as opiniões emitidas em entrevistas e depoimentos, por não representarem, necessariamente, o pensamento do editor. Por questões de espaço, objetividade e clareza, a equipe editorial reserva-se o direito de resumir os textos recebidos.

A trajetória de uma brasileira dentro de uma família tradicional chinesa de tai chi chuan

Angela Soci

12 O dia mundial do tai chi chuan

BethLi

15 Meu caminho no tai chi chuan

Krishna Raza

16 “Wude” - Código de Ética e Moral

Roque Severino

18 O 7º tratado de Cheng Man-Ching

Aparecido de Lira e Eliane Cardoso

22 Código de Ética da Família Chen

Estevam Ribeiro

23 Os 10 princípios de Yang Cheng Fu (Ponto 10)

Bruno Davanzo

25 A China que me conquistou

Soraya Lacerda

28 Tai chi chuan e sua vida profissional

Anderson Rosa

31 RTCB entrevista a profª. Luciana Maia

Giulia Fontes

33 Tai chi chuan e os campos morfogenéticos

Patricio Casco

35 Tai chi chuan - a minha trajetória

Elli Nowatzki

SEÇÕES 4 6 13

MENSAGENS & CARTAS EDITORIAL RTCB NOTAS


Mensagens e Cartas Revista Tai Chi Brasil : revistataichibrasil@hotmail.com | editor: levislitz@gmail.com Por questões de espaço, a equipe editorial reserva-se o direito de editar mensagens, depoimentos, fotos e textos recebidos.

“Ler a edição 14 da Revista TaichiBrasil, como brasileira e praticante de TaiJiQuan, sinto gratidão e contentamento saber que temos aqui em nosso país, professores brasileiros de excelente nível. Sinto-me um pouco aluna do Prof. Estevam Ribeiro ao ler sobre sua rica vivência e aprendizado com o Mestre Chen Xiao Wang, a maneira como vive e fielmente representa a CXWTABR e nos depoimentos de seus alunos sobre seu trabalho no ensino e transmissão da arte. Na mesma edição, recebemos novamente os ensinamentos do Prof. Roque Enrique Severino, lembrando a importância da reflexão e da autoconsciência, de suma importância para a prática do TJQ enquanto caminho de paz, equilíbrio e harmonia. E, para arrematar, a contagiante alegria de Paula Faro ao falar da grande Família Yang e seu importante trabalho. Independente do estilo de Taichi, somos gratos por esses valorosos seres humanos que se propõe com força, garra, fé e entusiasmo a ensinar e divulgar a um número cada vez maior de pessoas a arte e o caminho do TJQ. E, incluindo nesse rol de pessoas valorosas o Prof. Levis Litz, que, por sua intensa vivência e amor a prática e generosidade em divulgar, buscar informações, contatos, nos presenteia com a revista (RTCB), onde podemos ver a dimensão e a importância do que acontece e de que somos muitos nesse caminho, uns aprendendo com os outros, enriquecendo a nossa jornada.” Professora Elli Nowatzki Curitiba, PR

4

Maria Otília, psicóloga e praticante de Tai Chi Chuan. Foto: Acervo LL

“Hi, Estevam. We’ve never met, but I feel I know you from the posts over the past couple of years. I just wanted to say that Grandmaster Chen Xiaowang should be proud of you, as I’m sure he is. You are exceptional at promoting Chen Taiji in ways that are fresh and engaging. And you demonstrate the concept of constancy that is so important to the Chinese (“Confucius also states: Those who do not know what constancy means cannot be magicians nor shamen” -- p. 195, Chen Xin’s “Canon of Chen Family Taijiquan.”). As I become more and more involved in Chen Taiji (I became a disciple last year of Grandmaster Chen Zhenglei), I appreciate those, like you, who go the extra mile to make sure that

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

quality Chen Taiji becomes betterknown throughout the world. And as one who has traveled twice to Brasil (my ex-wife is from Itu, São Paulo), I am glad to see that Chen Taiji has such firm roots there. What a beautiful country!” Jim Healy Cardiff-by-the-Sea, California, Estados Unidos “Professor Levis, muito grata pelo envio da excelente Revista e pela divulgação do Dvd Tai Chi Chuan uma Via para o Tao! Estamos divulgando. Votos de Fraternidade, Saúde e Paz! Com respeito.” Teresinha Pereira Brasília, DF


“Levis e toda a equipe de apoio da Revista Tai Chi Brasil, a sua iniciativa, dessa revista, é sensacional e maravilhosa. Atende todas as expectativas de professores e alunos dessa grande arte milenar e nos remete à informações de grandes mestres e de toda a história do Tai Chi Chuan. Informações essas que para muitos não seria possível de se obter e, além de tudo, une os praticantes do Brasil todo, não só incentivando-os cada vez mais, mas difundindo a prática cada vez mais, contribuindo em muito para melhora da saúde, do bem estar, harmonia e o amor, algo que em muito o Mestre Liu Pai Lin sempre se preocupou e nos ensinou, O Tai Chi Chuan é a prática do amor. Abraços cordiais.” Angela Freitas Instrutora de artes orientais Sorocaba, SP “Estou enviando esta mensagem com muito respeito, carinho, atenção e acima de tudo com muita generosidade. Por favor gostaria de poder ter a grande oportunidade de poder me cadastrar para poder receber a Revista Tai Chi Brasil. Esperando merecer-lhe a generosa compreensão, despeçome com um grande abraço de solidariedade. Obrigado.” Hermano Lopes Ibitinga, SP “A revista ficou super 10, aliás está ficando cada vez melhor, os conteúdos estão se aprofundando. Vi que tem várias pessoas de outros países da América Latina que estão recebendo e participando. Este trabalho que fazemos com o Tai Chi é algo realmente mágico e maravilhoso, e a Revista Tai Chi Brasil é um espaço que permite

que mais pessoas possam estar em contato com esta arte que tem um valor incomensurável. Sigamos cumprindo com nosso ideal de levá-lo para todos os cantos!” Paula Faro São Paulo, SP “Olá! Agradeço muito, mais uma vez, pelo envio da revista de Tai Chi Chuan. Tenho todas as edições e sou mais um felizardo colecionador dessa incrível revista. Treino Tai Chi Chuan e Chi Kung com um mestre chinês e aprecio muito essa obra. Um forte abraço e parabéns pelo trabalho!” André Ricardo “Que o seu trabalho seja cada vez mais divulgado e que ocupe o lugar que merece como um dos melhores meios de divulgação do Taijiquan. Muito obrigado, a publicação da revista com o meu artigo foi um presente de aniversário, a apresentação a diagramação, os comentários, impecáveis!” Estevam Ribeiro Rio de Janeiro, RJ “Estimado Levis, muito grato por mais este exemplar deste maravilhoso veículo de informações tão úteis. Sinto-me mais próximo de todos que praticam o Taichi através desta revista. Já repassei para meus amigos praticantes daqui do Recife. Um abraço cordial” Roger Recife, PE “Agradecido Levis pela sua dedicação e por compartilhar a sua revista. Desejo a você, a sua equipe e suas famílias, saúde, amor e felicidades! Um abraço fraterno.” Christiano dy Lima Curitiba, PR

“Olá, saudações! Primeiro quero parabenizá-lo pelo excelente trabalho feito por você em sua revista! E agradeço o envio periódico da mesma! Vi que convida os professores a mandarem matérias e fotos. Espero contribuir.” Prof. Krishna Raza Goiânia, GO “Agradecendo sempre a gentileza do envio. Desejo a todos vocês muito ´chi´, muita luz. Alegrias sempre. Saúde total. Muitas realizações e muita vida para nossa revista ´show´ que é maravilhosa sempre.” Professora Eda Machado Rio de Janeiro, RJ “Adorei a oportunidade de ler a revista Tai Chi Brasil pela Internet. Parabéns pela iniciativa!” Teresa Cristina Uberlândia, MG

“Edição muito boa!” Professor Alexandre Ribeiro Curitiba, PR

“Parabéns pela excelência da publicação. Sou professor de Tai Chi Chuan - estilo Yang, Ma Tsun Kuen, discípulo do Mestre Lalo - Salomón Bernardo Vinitsky, por sua vez, discípulo do Mestre Ma e estou iniciando o Núcleo Ma Tsun Kuen na Granja Viana, em São Paulo. Gostaria de manter contato com esta revista, de inestimável importância para o desenvolvimento do Tai Chi Chuan no Brasil, divulgando-a no meu espaço de ensino. Grande abraço fraternal. Patricio Casco São Paulo

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

5


Editorial Mantendo o alinhamento na postura Nesta edição chegamos ao recorde do número de páginas, ao todo 40 - que bom, não é mesmo? Também, com tantas colaborações não podia ser diferente: é a descrição da trajetória de uma brasileira dentro de uma família tradicional chinesa de tai chi chuan, é o dia mundial do tai chi se firmando no Brasil, são os caminhos e experiências de professores e praticantes, tem também a continuação do código de ética e moral, o comentário sobre os 10 princípios de Yang Cheng Fu e o Tratado de Cheng Man-Ching, as palavras apaixonadas de quem a China conquistou o coração, entre outros assuntos. Enfim, firmes e fortes continuamos seguindo e mantendo a postura. Gratuidade e qualidade O leitor assíduo da RTCB já sabe que somos uma publicação gratuita, com distribuição dirigida em duas versões digitais, ambas estão disponíveis em www.

RevistaTaiChiBrasil.com.br. Ali o leitor encontra dois links: um que o leva para uma leitura diretamente na internet e outro que o direciona para um arquivo em formato pdf para que possa baixar em seu computador. Contudo, se o leitor gosta de uma revista impressa para folhear suas páginas ou presentear os amigos e bibliotecas, sugerimos que leve a revista em arquivo num pen-drive ou cd para uma casa especializada em impressões e peça por uma cópia em formato de revista, folha A-3. Entretanto, se a impressão não é de sua preferência, vamos evitar o desperdício, inibindo a impressão e mantendo a Revista Tai Chi Brasil em formato digital, pois assim estaremos colaborando com a preservação do meio ambiente. Então, independente da sua opção, aproveite e desfrute da Revista Tai Chi Brasil, ela foi feita de coração, para você.

Enfim... Vamos ler?

Levis Litz o editor

Contato - Também no FaceBook Revista Tai Chi Brasil - RTCB

. website: www.RevistaTaiChiBrasil.com.br . e-mail: revistataichibrasil@hotmail.com Editor - Levis Litz

. e-mail: levislitz@gmail.com . na internet: www.TaiChiCuritiba.com.br | www.FotoseRumos.com ---------------------------------------------------------------------------------------------

Curitiba - Paraná - Brasil

6

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br


A trajetória de uma brasileira dentro de uma família tradicional chinesa de tai chi chuan No ano 1978, Maria Ângela Soci, aos 20 anos de idade, estudava psicologia no Rio de Janeiro e, por motivos familiares, mudou de endereço, retornando à sua cidade natal, São Paulo. Numa mudança drástica de objetivos de vida e em busca de ideais que tornassem sua vida mais significativa, Maria Ângela ingressou numa escola Livre de Filosofia em São Paulo, encontrando aí a Arte Chinesa Tai Chi Chuan. O encontro foi como uma retomada de algo que já fazia parte de sua vida; facilmente ela ingressou nas aulas e começou a usufruir dos benefícios da prática desta arte maravilhosa. Seu professor, que em dois anos tornou-se seu esposo, Roque Enrique Severino, levava adiante, no Brasil, aulas regulares e cursos de instrutores do Estilo da Família Yang. Ele mantinha um relacionamento muito próximo com o Mestre Liu Pai Lin e o convidava para compartilhar seus ensinamentos de Filosofia, Meditação Taoísta e I Ching dentro da escola onde dava suas aulas. A tradutora do Mestre Liu Pai Lin na época era a Professora Lucia Lee – atual introdutora e representante no Brasil do sistema Chinês Liang Gong, desenvolvido pelo médico Dr Zhuan. Naquela época, Lucia Lee vinha para traduzir o Mestre Liu Pai Lin e na primeira aula em que Maria Ângela estava presente houve um segundo reencontro. Na voz pausada e suave de Lucia, explicando o exercício da “pequena circulação celestial”, orientando o grupo a se acalmar, em sua tradução

ao Mestre estava contida toda a força de expressão que tocou o coração da jovem aprendiz e esse toque profundo lhe mostrou o caminho de vida que iria seguir a partir daquele momento. Seu pensamento foi: “Quero praticar isto para o resto da minha vida”! Esse instante marcou para sempre a vida de Maria Ângela que, a revelia de seus familiares, abandonou os estudos universitários convencionais para se dedicar totalmente ao aprendizado e ao estudo do Tai Chi Chuan. A partir de 1979, junto com o Professor Roque Severino, começou a desenvolver traduções dos poucos livros encontrados em nosso país que discorriam sobre a Arte do Tai Chi Chuan e esse contato intelectual, somado às práticas exaustivas oferecidas por seu professor, lhe ofereceu a base que apoiaria todo o seu desenvolvimento posterior dentro da Arte. A ligação do casal com a Família Yang seguia a história de Roque Severino, que havia iniciado seus estudos em Buenos Aires em 1972, com um Adido Cultural Chinês, Mestre Ma Tsun Kwen, que teve aulas diretas com o Mestre Yang Chengfu, terceira geração da Família Yang, antes de se estabelecer em Buenos Aires, Argentina. A técnica que praticavam trazia a tradição da Família Yang, desde o método de ensino no qual o Mestre exigia que os alunos decorassem os nomes em chinês da Forma praticada e desenvolvessem energia interna através de Posturas Zhang Zhuan (posturas fixas tradicionais para o exercício da calma mental) além de treinos de Fa Jing (emissão de energia), alongamento de articulações, desenvolvimento de tendões, estudo sobre as aplicações de cada uma das posturas etc.

Os treinos desenvolvidos por Roque aos seus alunos seguiam as instruções que havia recebido de seu Mestre, procurando manter o sistema mais tradicional possível,

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

7


enfatizando os aspectos marciais da arte. Maria Ângela foi a única aluna que, após 3 anos de treino aos finais de semana, concluiu o primeiro curso de instrutores oferecido pelo Prof. Roque em São Paulo. Em 1980 funda, junto com o Prof. Roque, o “centro de estudos do movimento” que ficou conhecido como a “academia da rua Augusta”, por sua localização peculiar, onde junto com o ensino e treino da arte estudava as filosofias pertencente ao Tai Chi Chuan, Budismo, Taoísmo, Confucionismo e I Ching. Com relação ao estudo das filosofias, participou da recepção e realizou inúmeros treinos com os Mestres Ryotan Tokuda - Zen Budismo escola Soto Senchu - Dokan Yanashigawa Budismo Tendai Shu – Yukyo Ponce – Budismo Shingon Shu – Mestre Sdeung Shan – Budismo Zen Rinzai, entre outros. Com relação aos ensinamentos de I Ching e Filosofia Taoista, Maria Angela participou de inúmeros encontros com o Mestre Liu Pai Lin e seu filho, doutor Liu Chi Ming, com quem mantém uma solida amizade. No tocante aos ensinamentos de Confúcio, participou da escola Ten Tao Tao Yuan, sempre ajudando nas traduções dos mestres e de inúmeros textos tradicionais.

8

Através do processo de divulgação da Arte, em 1987 o antigo Centro de estudos do Movimento se transformou na Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan. Como diretora da entidade, já oferecia cursos regulares, cursos de formação, aperfeiçoamentos, imersões, sempre buscando manter o estilo e o nome dos Mestres dos membros da Família Yang como fonte inspiradora dos ensinamentos. Neste processo, dando aulas e desenvolvendo suas técnicas, Maria Ângela foi se dando conta dos benefícios que a prática desta arte proporciona para a saúde humana. A variedade de faixas etárias dos alunos que frequentavam a SBTCC ofereceu subsídios para que posteriormente trabalhos científicos fossem desenvolvidos junto a Hospitais na cidade de São Paulo. A retomada do contato pessoal com os membros da Família Yang se deu em 1990. Num primeiro Seminário Internacional, o Mestre Yang Zhenduo (quarta geração da transmissão do estilo) foi convidado para ir aos Estados Unidos pela praticante Pat Rice (hoje, uma das diretoras da Associação Internacional da Família Yang), que organizava um evento chamado “Taste of China”. Naquele ano, o casal Roque e Ângela reuniu as economias que tinham para

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

tornar possível a viagem do Professor Roque Severino aos Estados Unidos. Ali, novamente um grande encontro aconteceu, especialmente porque Roque era um dos poucos praticantes que conhecia os nomes da Forma em chinês, e isso chamou muito a atenção do Mestre Yang Zhenduo e seu neto Mestre Yang Jun. Neste momento, de grande importância para a história do desenvolvimento do Tai Chi Chuan no Brasil, deu-se a oportunidade de que os Mestres, membros vivos da Família Yang, pudessem ter contato direto com brasileiros e latinos americanos interessados em praticar seu legado, a arte da Família Yang. Uma via de duas mãos se abriu completamente e a prática do Tai Chi Chuan da Família Yang, tendo como guia os membros diretos da Família, se estabelece dentro da SBTCC. Em sua busca por aperfeiçoamentos técnicos, Maria Ângela viajou duas vezes no ano de 1998, em Maio e em setembro, com a finalidade de se desenvolver tecnicamente dentro do estilo sob a supervisão direta do Mestre Yang Zhenduo. Uma grande aventura, que modificou completamente a visão e o entendimento que a praticante tinha sobre a arte até então. Na casa do Mestre Yang Zhenduo, as instruções particulares que teve, no método mais tradicional, exigiram que exercitasse toda a base de conhecimento e estrutura corporal que havia aprendido de seu professor até aquele momento, além do conhecimento sobre como se portar na frente de um Grão Mestre e sua família. Por questões econômicas e familiares, Maria Ângela fez essa viagem sozinha, o que para o Mestre Yang era algo realmente peculiar. Uma história interessante foi quando a Maria Angela chegou a residência do Grão Mestre Yang Zhenduo. Ele tinha como referência de praticante brasileiro o Prof Roque, que havia


estado nos Estados Unidos em 1990, e por isso, não estava esperando uma mulher para ser sua aluna. Quando viu uma menina franzina sorridente na sua porte falando que “queria aprender Tai Chi Chuan com Ele”, ficou surpreso e ao mesmo tempo ressabiado. Maria Ângela não entendia a dimensão do seu encontro com este Velho Mestre, que naquela época já contava com 73 anos. Como acordado via comunicações prévias, ele a convidou para entrar na sua residência e depois das apresentações, ainda desconfiado, lhe apresentou uma série de fotografias, lhe perguntando: “ Então você diz ser a esposa do Roque? Conhece alguém nessa foto?” Imediatamente Maria Ângela apontou a figura de Roque na foto e o Mestre sorriu um pouco e falou: “Bem já que você é a esposa do Roque, então mostra o que você sabe de Tai Chi Chuan”. Após lhe mostrar os três primeiros movimentos, o Grão Mestre falou para parar de mostrar e a convidou a iniciar os treinos pela madrugada do dia seguinte. No segundo encontro, em setembro de 1998, outro fato peculiar acontece. Maria Ângela teve o impulso de solicitar ensinamentos sobre o Tue Shou diretamente ao Mestre Yang Zhenduo. Tendo em vista o treinamento realizado em maio, o Mestre, com seu rosto bem sério, a convidou a treinar com ele, e após dois movimentos circulares, num rápido golpe o Grão-mestre fez Maria Ângela voar dois metros e cair sobre uma poltrona! Aí a aprendiz percebeu que tinha muito o que desenvolver antes de solicitar ensinamentos superiores a um Mestre desta categoria! Valorizando o sacrifício da aluna, o Mestre exigiu o máximo de suas capacidades corporais e psicológicas, com treinos manhã, tarde e noite, dando lições para serem aperfeiçoadas nos intervalos e revisões sistemáticas.

Os conteúdos exigidos foram: Forma 103, Forma Espada, Forma 49. O método utilizado pelo Mestre Yang Zhenduo foi o mais tradicional dentro da linhagem. Aulas particulares no jardim de sua casa, quatro horas pela manhã, quatro horas pela tarde, além dos treinos das correções, tarefas e exercícios que eram praticados e estudados nas horas intermediárias aos treinos com instrução direta. A relação Mestre-discípula, criada nestas duas oportunidades, deu um grande ânimo ao Mestre Yang Zhenduo, encorajando-o a ser cada vez mais exigente. De acordo as instruções do próprio Mestre Yang Zhenduo, os princípios mais importantes do Tai Chi Chuan devem ser sempre preservados e o trabalho milimétrico com a atenção nos detalhes dos movimentos, tem importância fundamental para que os princípios sejam compreendidos pelos praticantes. Ele diz: “Atualmente existem muitas pessoas praticando Tai Chi Chuan pelo mundo todo, mas muito poucos respeitam os princípios, o que lhes impede de colherem os resultados mais elevados em sua prática”. “Os princípios deixados por meu pai, Yang Chengfu, são o coração do Tai Chi Chuan, devem ser estudados e praticados cuidadosamente, com consciência, atenção e dedicação, para que a arte não se deturpe e perca o seu grande valor tanto externo, melhorando a saúde das pessoas, como interno, na formação do caráter dos indivíduos da sociedade atual”. No final do segundo encontro de treinamentos particulares, em setembro de 1998, o Mestre lhe disse: “Não pense que, porque teve aulas comigo aqui em minha casa, você é melhor ou superior a algum praticante de Tai Chi Chuan”. “O mais importante a se cultivar em nossa arte é a humildade”. “Assim,

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

9


volte para sua casa, para o seu país e, após o nosso terceiro encontro pessoal, você poderá começar a transmitir o Tai Chi Chuan da Família Yang oficialmente, representando a Família no Brasil.” De acordo com as palavras do Mestre, para que a aluna pudesse representar a Família no Brasil ainda faltava um encontro pessoal. Desta feita, Roque Severino e Maria Ângela Soci convidaram oficialmente o Mestre Yang Zhenduo para vir ao Brasil e selar esse relacionamento. Em julho de 1999, pela primeira vez na história, os Mestres Yang Zhenduo e Yang Jun vêm ao Brasil para o Primeiro Seminário Internacional de Tai Chi Chuan da Família Yang na America Latina. Um evento que marcou novamente o início de uma nova etapa no desenvolvimento do Tai Chi Chuan em nosso continente e da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan. A presença de 70 participantes deixou os mestres bastante impressionados, valorizando todo o trabalho anterior da SBTCC na difusão do estilo através do trabalho incansável do Professor Roque Severino e Maria Ângela Soci. Em outubro de 1999, a Associação Internacional de Tai Chi Chuan da Família Yang é fundada com sede em Seattle – Estados Unidos, e os Yang Chengfu Tai Chi Chuan Center se estabelecem em sete países, inclusive no Brasil, tendo como diretores a Professora Maria Ângela Soci e o Professor Roque Severino. Oficialmente então, a SBTCC inclui em seu estatuto o Yang Chengfu Tai Chi Chuan Center Brasil e passam a atuar em parceria. Nesta nova etapa, houve um desenvolvimento sistemático de diversas atividades que perduram até hoje: os cursos de formação de instrutores e o programa nacional da SBTCC tornaram-se modelo de

10

qualidade superior e foi escolhido para ser implementado no sistema de formação de Professores dentro da Associação Internacional da Família Yang. Também, a reputação deste curso de capacitação atrai todo ano, inúmeros brasileiros que vem dos diversos estados, tornando o curso um encontro nacional, onde cada um dos membros nos brinda com aspectos típicos de sua cultura regional. Outro item de destaque é que o curso oferecido pela Profª Maria Ângela e seu esposo, Prof. Roque, ultrapassou as fronteiras do Brasil, se estendendo a América Latina como um todo, recebendo alunos de Uruguai, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Panamá, Argentina, entre outros. E, dentro da Associação

Internacional do Tai Chi Chuan da Família Yang, ocupa o cargo de Diretora para América Latina, dando atendimentos aos diversos Centros Yang Chengfu do Continente. A Profª Maria Ângela, em sua incansável dedicação a difusão dos benefícios na saúde humana que o Tai Chi Chuan aporta, deu início a vários trabalhos de pesquisa com parcerias entre a SBTCC e o Hospital das Clínicas. Utilizando metodologia cientifica de acordo com os padrões internacionais os trabalhos têm demonstrado resultados e as publicações premiadas, aportando para a comprovação dos benefícios da prática do Tai Chi Chuan na saúde humana e a sua difusão nos diversos nichos da sociedade.

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Ao longo de todos estes anos, a Profª Maria Ângela foi convidada a participar de vários Simpósios Internacionais, com destaque para os trabalhos desenvolvidos no Brasil. Realizou a implantação de cursos de Tai Chi Chuan em diversos hospitais da cidade de São Paulo nos setores RH, Psiquiatria e Ortopedia. Como Diretora da SBTCC, mantém parcerias com empresas que oferecem planos de saúde e assistência médica, oferecendo as práticas do Tai Chi Chuan dentro de projetos de saúde preventiva, levando inúmeros benefícios ao setor da terceira idade. Na continuidade de todas essas atividades, o relacionamento entre a Profa Maria Ângela e o Prof. Roque Severino com os membros da Família Yang torna-se cada vez mais próximo, realizando seminários anuais no Brasil, que contam a cada encontro com mais alunos. Realiza uma vez por ano viagens à China e aos Estados Unidos para participar em campeonatos, assim como cursos de aperfeiçoamento particulares ao lado do Mestre Yang Jun e a Mestre Fang Hong e a partir deste desenvolvimento, atingiu o 6º ranking de graduação. Também, uma vez por ano, participa do encontro mundial de diretores de Centros Yang Chengfu colaborando para o engrandecimento da Associação Internacional, sendo a única voz do Brasil neste encontro. A palavra para se descrever o relacionamento com a Família Yang é “cultivo de confiança”. A cada ano que passa, o relacionamento torna-se mais estreito, onde a Profª. Maria Ângela constantemente recebe ensinamentos “a portas fechadas” com os mestres da Tradição. Estes ensinamentos particulares oferecidos de “Mente a Mente” colaboram em muito com a qualidade das instruções oferecidas aos alunos da


SBTCC e em especial aqueles que querem se comprometer com a sua capacitação profissional. Este relacionamento, calmo e persistente, vem ao encontro de um ensinamento que está contido nos Clássicos onde se afirma: “Deixe que o aluno conheça o seu Mestre por 9 anos”; “Deixe que o Mestre conheça seu aluno por 12 anos”. Já se passaram mais de 20 anos de relacionamento continuo, onde por várias vezes os Mestres testaram a Maria Ângela de várias formas. Agora estamos em 2012, desde 1990 o contato entre Maria Ângela e os Mestres da Família Yang tem se solidificado. Em julho próximo, a Família Yang Brasileira fará mais uma viagem a China e, desta vez, esta viagem estará marcada por um evento sem par na história do Tai Chi Chuan da Família Yang. A Profª Maria Ângela e o Prof. Roque Severino serão aceitos – através de uma cerimônia pública – como discípulos da Família Yang.

Esta é a primeira vez na história da Família que dois latino-americanos são recebidos dentro do seio da Família como seus discípulos. Também, quando o Grãomestre Yang Zhenduo visitou pela primeira vez o Brasil em 1999, tanto a Profª Maria Ângela como o Prof. Roque se comprometeram a trabalhar duramente para difundir a arte na América Latina, e em julho de 2012, os dois professores estarão

levando mais de 80 alunos brasileiros que estarão prestigiando o evento. O objetivo principal desta viagem é oferecer aos Mestres um presente: “O compromisso na prática da arte de sua família e a vontade de manter viva a tradição dentro dos padrões mais altos de ensino”. Na liderança deste grupo destacam-se os Professores Roque Severino e Maria Ângela Soci. -----------------------------------SBTCC - www.sbtcc.org.br

Forme parte de la Familia Yang! Aprendizaje y Perfeccionamiento de la Forma Tradicional de 103 Movimientos del Tai Chi Chuan de la Familia Yang del 21 de abril al 1 de maio del 2012. Curso en Español. La Sociedad Brasileira de Tai Chi Chuan y el Yang Chengfu Tai Chi Chuan Center, São Paulo, Brasil abren sus puertas para ofrecer a todo interesado un Curso de Aprendizaje e perfeccionamiento en la Forma Tradicional 103 del Tai Chi Chuan de La Familia Yang. El curso tiene duración de 10 días en sistema de inmersión, donde las técnicas principales de la Forma serán aprendidas y perfeccionadas. El curso es llevado a cabo en el Templo Budista de la tradición Tibetana, Jardim do Dharma. El hospedaje es en cuartos para tres personas con baños separados. La localidad se encuentra en una reserva forestal en una pequeña ciudad turística cerca de la gran ciudad de São Paulo. El ambiente es propicio a las practicas en sistema de inmersión. Visite el website del local del curso para tener una idea del local donde será el hospedaje: www.jardimdharma.org.br. Costos: Valor total USD 750,00. Ese costo cubre, hospedaje, alimentación e instrucción, y deberán ser pagos en la llegada. Para su inscripción solicite su ficha de inscripción. Para más informaciones mande un mail directamente a Profª Angela Soci: angelasoci@sbtcc.org.br

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

11


O dia mundial do tai chi chuan Por BethLi

É fato! Aconteceu a votação do dia Mundial do Tai Chi em Uberlândia pelos parlamentares da Câmara Municipal de Uberlândia. O projeto é de minha iniciativa, com parceria do Dr. Adriano Zago (representante oficial dos Direitos Humanos aqui em nossa cidade, que é um líder na Câmara Municipal), da Liga Mineira e Prefeitura Municipal de Uberlândia. Estavam presentes os 21 vereadores (total) e todos votaram a favor (unânime). Apresentei na plenária o que é a arte, seus benefícios e como esta pode ser aplicada em vários segmentos da sociedade uberlândense. Na plenária estavam vários convidados entre professores, políticos, artistas marciais, médicos e simpatizantes da arte. Foi realmente um momento histórico. Já venho tentando esta façanha a algum tempo e só agora consegui. Senti uma felicidade enorme. Enfim, tudo correu bem graças a Deus.

Diante desta nova lei e divulgação da mesma, já está aparecendo trabalhos sociais bem interessantes. Professora BethLi

ligamineiradetaichichuan@gmail.com

Lei n° 10.949 DE 04/11/2011 Institui o Dia Mundial do Tai Chi Chuan no Município de Uberlândia, MG A Câmara Municipal de Uberlândia no uso de suas atribuições,faz saber que aprovou e o Senhor Prefeito Sancionou a seguinte Lei: Artigo 1º: Fica instituido no Município de Uberlândia, MG, o Dia Mundial do Tai Chi Chuan, a ser comemorado no último sábado de Abril. Artigo 2º: Inclua-se na presente Lei, no calendário Oficial de Eventos do Município esta comemoração. Uberlândia, MG. 04/11/2011. Fotos: Acervo BethLi

12

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

GALERIA DE FOTOS


RTCB Notas Tai Chi Pai Lin Saúde e Longevidade Curitiba, PR

Seminário com o Grão-mestre Chen Xiao Wang

Brasília, DF

O professor Onofre informou que está abrindo uma nova turma de Tai Chi Chuan - Estilo Pai Lin, às terças-feiras, das 10h às 11h30, no Espaço Clorofila, na Rua Saldanha Marinho, 1110 - Centro. Curitiba. Para mais informações: e-mail harmovimento@onda.com.br ; Tel (41) 9974-3193. Boa sorte ao professor!

-------------------------

1º Campeonato ICMAC SULAMERICANO

Tai Chi Chuan Estilo Wu e Yang

Depois da viagem à China em 2011, o IFTB - Instituto de Formação em Taijiquan de Brasília, oferece outra oportunidade de aprimoramento da prática de Tai Chi Chuan. Em parceria com a WCTA-Br (CXWTABR), o IFTB promove em junho, em Portugal, um seminário com o Grão-mestre Chen Xiaowang, na cidade do Porto. Serão 4 dias para treinar a forma Lao Jia Yi Lu, dias 15 e 16, e a forma de Espada Chen, dias 17 e 18. Após o seminário, os participantes poderão optar por uma extensão turística de 3 dias para visitar Lisboa. Informações: http:// www.iftb-taijiquan.blogspot.com. br. Informações adicionais com Magno Bueno, diretor do IFTB, pelo telefone [61] 8418-3698 ou pelo email magnobueno8@gmail.com. Boa viagem aos amigos!

Região dos Lagos, RJ

O professor Marcelo Ramalho pratica o Tai Chi Chuan estilo Wu, da linhagem Wu Kao Hsiang, e estilo Yang há 15 anos. Obteve o grau de professor em 2001 sob a supervisão do mestre Osmar lannes. Ele vem desenvolvendo um trabalho na região dos lagos do Rio de Janeiro ajudando a difundir mais o Tai Chi Chuan, que segundo o professor, vem sendo muito bem aceito. Contato: (22) 9760-4445; marcelo.ramalho.80@gmail.com. Sucesso aos praticantes da Região dos Lagos!

Tatuí, SP

-------------------------

Será realizado nos dias 2 e 3 de junho o 1º Campeonato ICMAC SUL-AMERICANO, na cidade de Tatuí, São Paulo. Este campeonato terá competições de Taiji, Bagua e Hsing-I. Os organizadores estão convidando a participação de mestres, professores e alunos no evento. A organização se compromete a fazer um campeonato de qualidade, com julgamentos imparciais e diversas premiações. Informações: www. kungfuchampionship.com/brazil. Parabéns pelo evento, sucesso!

Mestre Chen Bing Santiago, Chile

Foto: WCTA-BR. Montagem: Soraya Lacerda Foto cedida por Soraya Lacerda

A escola chilena de Taijiquan, Chenshitaiji, em conjunto com a Associação de Chenjiagou de Taijiquan e o Mestre Chen Bing, convidam a todos para o seminário estilo Chen de Taijiquan a ser realizada em Santiago, no Chile, dias 15 e 21 de maio. O seminário é aberto ao público em geral e aos praticantes de Tai Chi de todos os estilos e estudantes de outras

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

13


disciplinas marciais. Contato: Professor Alberto Catalan. Escuela de Taichi Chenshitaiji. www.chentaichi. cl.

Parabéns ao Rafael Mocarzel, equipe e graduados.

Contato: Av. Liberdade, 113 – 3º andar (Metrô Liberdade). T: (11) 3105 – 7407 ou (11) 9631-3005; www.sociedadetaoista.com.br; www. nucleoelieteramos.blogspot.com

-------------------------

-------------------------

Dia Mundial do Tai Chi Chuan

Grão-mestre Chen Zheng Lei Albany, Estados Unidos

Curitiba, PR -------------------------

Tai Chi Pai Lin São Paulo, SP Curso de Formação Tai Chi Pai Lin e Curso de Tui Na especialmente elaborado para dar uma visão original e integral dessas práticas fundamentadas na teoria do Tao Te Ching e do I Ching. Jerusha Chang irá desenvolver os três aspectos do Tai Chi Pai Lin. Informações: Associação Tai Chi Pai Lin - Espaço Luz. www.taichipailin.com.br -------------------------

1ª Graduação em Tai Chi Chuan

A Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan - AIPT, informa que o mundo comemorará o Dia do Tai Chi Chuan no último sábado de abril. Haverá eventos em mais de 70 países. Fique ligado! www.aipt.org.br

Tai Chi Chuan na Sociedade Taoísta

Seminários com o Grãomestre Chen Zheng Lei serão realizados em Albany, NY, EUA. Os mesmos acontecerão no fim de semana de 28 de abril: Lao Jia Yi Lu e Tai Chi Espada Chen. Informações: john@asianartsgrp.com.

São Paulo, SP

-------------------------

A professora de Tai Chi Chuan Elieté Ramos, membro da International Yang Style Tai Chi Chuan: “Tai Ji Quan Yang - Escola Yang”, oferece aula experimental na Sociedade Taoísta em São Paulo.

Tai Chi Chuan ameniza sintomas da Doença de Parkinson

-------------------------

Niterói, RJ A Associação de Kung-Fu Shaolin de Niterói (AKSN / RJ) realizou no dia 11 de fevereiro deste ano seu primeiro exame de graduação em Tai Chi Chuan. Os alunos apresentaram posturas básicas, técnicas de mãos nuas, qi gong, educativos de espada, tui shou, entre outras técnicas.

14

Elieté trabalha com o Qi Gong, Tai Chi e Tui Ná para portadores com esclerose múltipla, e, segundo a professora, os resultados são surpreendentes.

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Ribeirão Preto, SP Pesquisa observou que a prática promove significativas melhoras em funções prejudicadas pela doença, como o equilíbrio e a flexibilidade. Estudo publicado no periódico “The New England Journal of Medicine” observou que a prática de Tai Chi Chuan provoca melhoras em pacientes com a Doença de Parkinson. Leia a notícia completa no site da EQUILIBRIUS - Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental: www. taichichuan.com.br.


Meu caminho no tai chi chuan Por Krishna Raza

Comecei com mestre Nan Pin Song (linhagem de Wudang e mestres como Sha Guo Zhang, Mah Ka Yi - China) em 1998, onde comecei meus estudos em xing yi chuan e tai chi chuan. Depois conheci e treinei com mestre Chen Guo Suo em SP (aperfeiçoando fundamentos do tai chi chen e chi kung e sua história, e melhorando o xing yi chuan também). Atualmente treino tai chi chen com si kung Gutembergue do Livramento - Bahia, linhagem do mestre Chen Xiao Wang. Ministro tai chi moderno também aos meus alunos, levando-os a competições comigo. Trabalho com tai chi laboral há alguns anos na empresa Pontal EngenhariaGoiânia , onde dou aulas aos funcionários dentro das obras de construção civil. Desde 1998 trabalhando com a nobre arte, levo o tai chi aqui em Goiânia a lugares da sociedade ainda pouco explorados: Hipermercado Extra, Correios, Justiça Federal de Goiás, Unati Go etc.

Tive a sorte e como presente da vida, conhecer por duas vezes, em 2008 e 2010, a montanha de Wudang até o seu cume e visitando monges taoístas pelos dias que pude estar lá. Foi uma experiência maravilhosa e única. Fui o primeiro atleta de tai chi em nível nacional e internacional a trazer títulos para Goiás e Goiânia em competições oficiais de Kung Fu WuShu CBKW. Pertenço a seleção brasileira de Kung Fu WuShu estilos internos CBKW desde 2004, onde participei de vários eventos nacionais e internacionais. Procuro levar o ensino do tai chi chuan pela sua essência de saúde, ética e educação, assim como defesa pessoal em grupos e instituições específicos desse assunto. Graças a Deus tenho muito a aprender, pois sou um grão de areia em meio a imensidão do tai chi chuan.

GALERIA DE FOTOS

Professor Krishna Raza www.espacotaogo.com.br Fotos: Acervo Krishna Raza

Wudang, China

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

15


“Wude” - Código de Ética e Moral

(Continuação)

Por Roque Severino

“Não seja truculento ou enganador” Não se aflija com a escassez: seja rico em sua mente. Não se aflija com a penúria: seja seu próprio senhor. A prática do Tai Chi é como um presente para nós, e isto não pode ser entendido pelos seres que possuem uma mente, que observam todos os acontecimentos como uma forma de negócio ou de comércio. O uso deste tipo de mente torna a pessoa hipócrita, que se utiliza das mil e uma formas de manipulação para tirar proveito de toda situação. Uma pessoa que tem esta mente não consegue se relacionar naturalmente com os seus parceiros, já que ele está sempre tentando tirar vantagens das situações. Este tipo de pessoa fica perto de um mestre para promover a si mesmo, tira fotos com o mestre, vem sempre as aulas, torna-se presente em tudo o que o Mestre realiza, porém quando este Mestre lhe pede um favor, é o primeiro a se esconder detrás de qualquer desculpa sem sentido, falha em seus compromissos mais leves – como por exemplo - chegar na hora certa. Esta proximidade com a figura do Mestre lhe confere a falsa ideia de que ele é um amigo íntimo do Mestre, passando a desrespeitá-lo na presença de outros alunos “não tão íntimos quanto ele”. Dorme nas suas aulas, até que começa a contradizer as palavras do Mestre. Quando o Mestre lhe mostra a sua pobre condição, este aluno é o primeiro a abandonar o Mestre

16

sob falsas pretensões e acusações. Não importa se ele – tendo este comportamento - espera por tesouros mundanos ou tesouros espirituais. Este homem sempre é e será um mendigo. Eis aqui uma história: Quando um velho rei teve três filhos, no momento dele passar o trono, não podia se decidir qual deles seria seu sucessor, então chamou no seus aposentos a todos eles e lhes deu um saco que continha sementes de flores, então falou para seus filhos que queria ver o que cada um iria fazer ao cabo de um ano com esse saco, isto iria decidir quem iria ficar com o trono. O primeiro filho, conhecendo o pai dele como um homem duro e exato, pensou em si mesmo, “eu não vou me arriscar”. Eu porei esta semente em um lugar seguro e assim quando o ano chegar lhe devolverei exatamente o que ele me deu. Ele verá minha prudência. Então, quando o ano chegou, o filho levou o pai dele ao armário onde a semente tinha sido armazenada, porém ratos tinham arrombado e comeram muita coisa, deixando o resto para apodrecer. O segundo filho tinha vendido a semente dele, tinha investido o dinheiro e tinha comprado três vezes a semente, então devolveu ao pai dele as sementes triplicadas. O Pai, ao olhar isto, riu e lhe falou: “Seu irmão está como uma criança que acumula para si mesmo as guloseimas dele, porém no processo de guardá-las acaba perdendo-as”.

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Você está como um homem maduro, pensa de acordo com o lucro. Vou ver agora o que o terceiro filho fez: bem, o terceiro filho levou o pai dele para uma carruagem e eles dirigiram da cidade a um campo vasto que estava florescendo com flores selvagens. O filho disse: “Pai, eu lancei todos suas sementes ao vento neste campo e agora as flores florescem para todos desfrutarem de sua cor e de seu cheiro”. “Além disto, eu juntei já 15 bolsas grandes de semente das flores e antes de a estação das chuvas haverá dúzias mais.” Abraçando o filho, o pai deu a ele a coroa. Num seminário de Tai Chi Chuan realizado em 2009, oferecemos uma carta a todos os presentes que explicava as diretrizes para realizar um treinamento dirigido aos instrutores – ou seja, pessoas mais comprometidas com o aprendizado da arte - que iria ser realizado a portas fechadas durante o ano de 2010. Este treinamento aconteceria uma vez por mês em nosso centro rural e era necessário ter 90% de presença, que outorgaria ao aluno a possibilidade de participar depois de um ensinamento a portas fechadas com o detentor da linhagem, Mestre Yang Jun. A maioria dos presentes decidiram o rumo a ser tomado, muitos começaram a vir e treinar, porém um aluno em especial participou do primeiro encontros e nos subsequentes começou a faltar, ou chegava tarde e saia cedo dos mesmos. Ou seja, não cumpriu o


mínimo exigido. Como ele não tomava o café da manhã com os outros, começou a barganhar descontos e passou a falar mais do que treinar. Passou o ano e quando o Mestre voltou para oferecer o seminário, este aluno nos enviou um e-mail pedindo se ele poderia participar do seminário a portas fechadas com o Mestre. Este tipo de atitude é chamado no Tai Chi Chuan de ser truculento e enganador. O ponto básico é que este tipo de aluno pensa que pode realmente enganar aos seus professores com sorrisos e tapinhas nas costas. Numa arte marcial, quando o aluno não segue as indicações do seu professor, ou fica na aula falando com seus colegas, está simplesmente ali para criar obstáculos ao Mestre e aos seus companheiros, lhes faz perder a oportunidade de ensinar e aprender, faz perder o tempo de vida a todos os implicados, confunde a mente de seus colegas, por último perde realmente a oportunidade de aprender alguma coisa produtiva e enobrecedora. Este tipo de aluno é aquele que quer fazer as práticas mais elevadas de início sem realizar bem feito os primeiros passos. Não escuta os ensinamentos, não tenta entender os mesmos, os reinterpreta a luz de seus próprios preconceitos, dorme na aula ou sua mente fica muito distraída sem

poder se concentrar. Também, ao ler muito de vários autores diferentes, adquire uma quantidade incrível de lixo que se mistura com a própria prática. Confia mais na sua pobre interpretação tirada do livro lido do que o exemplo de seu mestre. Tendo esta atitude, ele torna-se avaro com tudo o que lhe pertence: “Este é meu pensamento.” “Esta é minha ideia.” “Este é meu modo de fazer coisas.” “Esta é minha história pessoal.” “Este é meu currículo.” “Esta é minha ocupação.” “Eu viajei para China duas vezes e já mereço mais consideração do que aquele que nunca viajou”. “Eu mereço receber aulas de graça, porque sou o melhor”. Não só se agarra aos bens materiais, mas também se agarra as ideias, as identidades e até mesmo ao próprio mérito de ter realizado somente o que lhe convinha. Então nesse momento ele é profundamente pobre, avaro e mesquinho. Porém onde nasce esta mesquinhez? Há um buraco espiritual dentro, o qual nós tentamos encher colecionando coisas materiais, títulos, imagens de si e ideias. Mas nenhum destes trabalhos realmente nos preenche, ao contrário, aumenta ainda mais a nossa neura da pobreza, e a neura da pobreza aumenta ainda mais a nossa neura do apego, que aumenta ainda mais a neura do desejo, ganância, ciúmes, raiva etc, até que sentimos

ódio profundo por tudo e todos e até pela nossa própria existência, é então que ao realizar a prática do Tai Chi Chuan de forma correta nós estamos exercitando na generosidade ilimitada, que destrói a avareza que é a causa que nos leva a ser profundamente manipulados pela ilusão do mundo. Se você, lendo estas palavras, ou treinando numa academia, realiza todas práticas do Tai Chi Chuan, se você se comporta de uma forma afável, cordial, sempre sorrindo, porém ao sair do seu treino nem mesmo oferece um sorriso para uma garçonete em um restaurante ou então nega ajuda a um estranho, isso então é uma prática fraudulenta. O mais importante no treino do Tai Chi é estar sempre consciente de que tudo o que você faz, pensa ou fala tem de ser uma oferenda aos mestres da linhagem e a todos os seres que os rodeiam. Prof. Roque Severino Diretor Fundador Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental - SBTCC www.sbtcc.org.br -----------------------------------

Bibliografia E-Book: O Universo do Tai Chi Chuan. Prof. Roque Enrique Severino contatotaichi@sbtcc.org.br

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

17


O 7º tratado de Cheng Man-Ching Por Aparecido de Lira e Eliane Cardoso

“Energia e Física” A aplicação do ch’i e energia (chin) no Tai Chi Chuan é lento e contínuo, cíclico e repetitivo, circular e interconectado. É inesgotável. No universo, há coisas tão grandes quanto a órbita dos planetas e tão pequenas como as gotas da chuva ou do orvalho. Suas formas são todas esféricas, um sinal de sua natureza, sua essência, função, e a energia interna penetrante estão intimamente relacionadas com a arte do Tai Chi Chuan. Vamos analisar isso completamente. Um planeta é algo tão imenso que parece que nada poderia contê-lo. Por causa de sua forma esférica, ele pode ser mantido pelo ch’i e é capaz de girar. Se sua forma não fosse esférica, então apesar do poder do ch’i, ele não poderia ser mantido nem poderiam as inúmeras estrelas flutuar no espaço, todas girando. Por ser esférica, sua capacidade é maximizada e a sua área superficial minimizada. Mesmo que a menor gota de chuva ou orvalho contenha infinitas moléculas de água, esforçando-se para se dispersar. Como resultado, cada uma permanece em equilíbrio por causa de sua atração mútua. Enquanto sua superfície é expansiva, seu interior é coesivo e, portanto, não perde sua forma esférica, como o Tai Chi Chuan. A razão para isso, bem como sua essência e função, corresponde ao mistério do mundo natural explicado abaixo. Para ilustrar eu providenciei um diagrama.

18

Observando o diagrama acima, cada ponto de dentro da circunferência do círculo está equidistante do centro. É o que Moh Tzu chamava de “extensões iguais de um centro comum”. Além disso, a resistência à tensão na circunferência, mesmo a esfera sendo forte ou fraca, é igual em todos os pontos. Do contrário, não poderia manter-se na forma esférica. Assim, uma bola de borracha e uma bola de ferro são ambas esféricas, independentemente de seus pesos. Quando a força bater sobre sua superfície, nós sabemos que cada ponto da superfície é igual, cada ponto se moverá. Tocando um ponto, dez mil pontos responderão. Por isso, no Tai Chi Chuan nós não permitimos um oponente sentir e tocar-nos. Pela nossa forma ser esférica, eles não podem saber onde aplicar sua força. Quando a esfera gira, a mútua atração das moléculas resulta no que se chama força centrípeta e centrífuga.

Dos diagramas acima, a força originária do centro e expandindo-se para fora é chamada centrífuga, e a força na circunferência puxada do interior é chamada centrípeta. Se as duas forças não forem iguais, a forma arredondada não pode ser mantida. Por exemplo, deixe-nos amarrar uma pedra ou um pedaço de ferro a uma ponta de uma corda e segurar o outro lado em nossa mão. Se nós girarmos em torno de um círculo, então a mão é

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

o centro e a direção da força da pedra ou o pedaço de ferro esta de fora. É chamado de força centrífuga. Por causa da força de atração da corda ser para dentro, é chamada de centrípeta. Neste ponto, mesmo a corda não sendo forte, nós seremos capazes de observar uma força vigorosa resultando da tensão. A potência da força depende somente na velocidade da rotação. Então, isso é o princípio do “Empurrar das Mãos” do Tai Chi Chuan (Tui-shou), ou também chamado como “estilo puxando a serra” . Se a força centrípeta recebida for muito grande e encontra uma grande força centrífuga da mesma intensidade, então não importa quão grande é a força centrípeta, ela pode ser neutralizada. É o resultado da prática de princípio da esfera. Além disso, porque eu encontrei meu oponente com a força centrífuga, ele é incapaz de neutralizá-la e será jogado a uma longa distância. Portanto, estes toques somente em dois pontos, forças centrípetas e centrífugas, são aspectos da função da esfera. Além disso, a esfera também inclui a função quadrada, por conter um infinito número de triângulos equiláteros. O triângulo é, atualmente, a forma básica para construção do círculo. Veja as figuras abaixo.

A função do círculo está intimamente relacionada com os triângulos contidos nas esferas. Em física, aplicações disso podem ser


vistas em invenções como o cone e o parafuso. A partir disto, nós podemos verificar que a forma da esfera não é somente forte e possuidora da função de defesa negativa, ou resistente a força externa, mas por causa dos infinitos triângulos que contém, pode aplicar de qualquer posição a força de atração positiva. Se forçarmos a esfera a girar e colocarmos pressão a frente para atacar, então não há um quadrado distante da superfície que não tenha a função positiva de defesa. É similar ao tênis de mesa, onde um jogador ataca com a bola e seu adversário não sabe a correta técnica para responder, o ataque não pode resistir e a defesa é inevitável. É devido a pouca distância e velocidade do ataque que se demonstra a função do círculo contendo infinitos triângulos. Tai Chi Chuan, em relação ao círculo acima descrito, maximiza a função dos infinitos triângulos e o efeito é mais dramático. Sua defesa está baseada no princípio da esfera; sua ofensiva é ser triângulo em todos os lugares. Além disso, não há uma distância a qual não tenha o potencial ofensivo dos triângulos giratórios. Isto é porque, quando usado no ataque, o oponente vai achar muito difícil escapar. Além disso, às vezes, quando na ofensiva, pode-se transpor a função do círculo e subitamente transformálo em triângulo isósceles, cujas possibilidades de aplicação são igualmente amplos e cujo ataque é igualmente violento. Entretanto, nós ainda não deixamos a estrutura da esfera. Nas próximas figuras, podese verificar que em Tai Chi Chuan cada ação é ofensiva e cada ponto é defensivo. O positivo está contido no negativo. Isto também significa “meu oponente não me compreende, mas eu o entendo. Onde quer que ele vá, não achará outro igual”. O que foi discutido acima é a função ofensiva do círculo contendo infinitos triângulos.

Se, entretanto, nós conseguirmos nos defrontar com um ataque direto que cause uma concavidade no triângulo, qual então é a sua função? (Veja figura abaixo)

Se nós recebemos um ataque direto sem desvio para a esquerda ou direita, para cima ou para baixo, ignorando por um instante esquivas para direita ou esquerda, para cima ou para baixo e simplesmente endereçar o ataque por si mesmo, Tai Chi Chuan é capaz de explorar este violento ataque. É por isso que o I Ching denomina o trigrama K’an (O Abismo “o caminho está cheio de ciladas”) como ludibriar e o porquê dele ser o mais perigoso hexagrama. Também é a primeira razão por nomear esta arte “Tai Chi” (“O Grande Ultimato”). O significado é que se é capaz de causar agressão externa para dissolver-se no vazio. Quando o oponente percebe que ele tinha descansado no vazio e ficou preso, então ele não tem escolha, tem de virar ao contrário e tentar escapar. No exato momento em que ele busca se livrar, então usando a força de atração do meu abdômen, eu aplico instantaneamente a força de repulsão. Isso é o que estudos sobre Tai Chi Chuan chamam de desenraizar (t’i fang). “Fang” significa lançar energia e então, uma vez mais, retornar ao círculo. O oponente não tem tempo de agir e é arremessado

a uma grande distância. Esta é uma característica única do Tai Chi Chuan, chamada “lançar energia”. O oponente está submisso, ou também chamado de transformação. Submissão é uma conversão rápida; transformação é uma conversão lenta. No entanto, a conversão é a mesma. (Observe os diagramas abaixo).

Se o ponto o qual está quase recebendo o ataque se submeter insignificantemente, então a força externa deslizará para fora e será neutralizada. No momento que a força do oponente for neutralizada, os infinitos triângulos estarão girando e cada ângulo é um ataque potencial. É por isso que dizemos que tanto transformar ou submeter é atacar. O golpe é a emissão de energia. Deixenos perguntar, então: a energia está sendo usada para atacar ou repelir um oponente? (Veja as figuras abaixo).

Quando emitindo a energia, ela deve ser direcionada em uma linha reta contra o centro de gravidade de seu oponente. É como o princípio em física de aplicar força a uma esfera num alinhamento preciso com seu centro, que impede a rotação, podendo ser projetado como uma flecha ou projétil. É o princípio de emissão de energia no Tai Chi Chuan. De qualquer modo, quer esteja nossa energia direcionada para cima, horizontalmente, ou para baixo, tudo depende da posição da linha reta. Pode-se emitir energia à vontade e o sucesso é garantido. Meu professor, Yang Ch’eng-fu, sempre

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

19


me dizia que somente poderia emitir energia depois de achar a linha direta. A emissão se assemelha a atirar uma flecha, mas isto é somente para aqueles que conhecem profundamente a técnica de emissão de energia. O princípio da linha direta é facilmente compreendido, mas sua aplicação não é certeza de sucesso sem a compreensão completa e experiência por parte dos alunos, que devem se concentrar neste ponto e trabalhar conscientemente. Agora alguém poderia dizer: “eu entendo os princípios que você resumiu. Entretanto, imagine um homem tão forte quanto um boi, tão feroz como um tigre, tão traiçoeiro quanto um carneiro, ou tão voraz quanto um lobo lançando um arrojado ataque o qual golpeia como um raio de relâmpago, um verdadeiro temporal com raios e trovões abatendo sobre nós com tal velocidade que não há tempo de sequer cobrir os ouvidos. O que faríamos então?” Eu respondo que isto é uma questão crítica. O que eu resumi acima é precisamente a defesa contra o violência e voracidade. É mais fácil que bater em oponentes que são tímidos como ratos ou raposas. O método é completo no que já foi descrito. Para maior clareza, deixe-me descrever este princípio uma vez mais. O espaço ocupado por uma esfera é maior que qualquer outra forma de comparação da área de superfície. Mesmo um ataque de surpresa não pode ser mais que a soma de dois elementos: espaço e tempo. Se a velocidade desejada e eficácia não forem capazes de controlar tempo e espaço, então o ataque surpresa será o oposto de sua intenção, e ele atrai para si próprio uma precipitada defesa. Por que isso? Uma flecha sem força não pode penetrar um pedaço de seda. É por causa dos limites de espaço e também a duração do tempo, e por causa da maior superfície e espaço ocupado pela esfera. É que se afetarmos a velocidade, prolongando o espaço ou o tempo, então será uma perda de eficácia. Este é o princípio

20

do Tai Chi Chuan. Eu não resisto, mas rendo-me; eu não ofereço resistência direta, mas evasiva, provocando em meu oponente que sua velocidade e poder sejam quebrados insignificantemente. Então, seguindo sua posição, eu ataco, e nem mesmo a força requisitada para soprar o cabelo é desperdiçada. O oponente é autor de sua própria destruição dentro de um piscar de olhos. É o que os clássicos de Tai Chi Chuan chamam de “usando a força de cem gramas para repelir cem quilos”. Este é o completo significado do que eu havia descrito. Portanto, esta é uma única prova, mas existem níveis maiores. Como pode uma flecha ser capaz de voar cem passos e perfurar sete camadas de madeiras? Em primeiro lugar, grande força é exercida para curvar o arco e soltar a flecha. A força inicial fornece o impulso. A velocidade do movimento da flecha produz a força da velocidade. Se compararmos a força da velocidade com a força inicial, elas podem ser iguais, ou talvez, a velocidade pode ser maior. Por exemplo, se a força é de cinquenta quilos, então a força da velocidade produzida pode alcançar cem quilos. Se formos capazes de atingir cem quilos, então está entendido que a energia é o produto de força mais velocidade. Isto pode ser resumido pela seguinte fórmula de física: FORÇA x VELOCIDADE x TEMPO = ENERGIA. O que está implícito no Tai Chi Chuan por “usando cem gramas para repelir cem quilos” é simplesmente que cem gramas de energia são utilizados para desviar cem quilos de energia. É o que se explica por força multiplicada por velocidade multiplicada por tempo é igual a energia. Quando a energia é desviada e aproveitada, então o que se utiliza é força e velocidade? Daí então, se pode constatar que agressividade e voracidade sozinhos são falíveis. O poder do Tai Chi Chuan é mais fino que um pedaço de papel, enquanto que o oponente nos ataca com a força

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

precipitada como os rios Yangtze ou Amarelo. Qual seria a nossa defesa? Se confrontarmos esta força, não seria possível pará-la. Entretanto, se com nossa singela folha de papel, nós seguirmos a corrente, acompanhando a força e desviando dela, então como o papel pode ser destruído? Agora uma simples folha de papel pode ser considerada fina, mas usada com velocidade, como se anexada a um eixo de motor, provocandolhe a rotação, quando a velocidade alcançasse duas ou três mil rotações por minuto e então, subitamente o papel se soltasse, voando do eixo, poderia cortar um pedaço forte de madeira. Tai Chi Chuan começa sem força e chega a uma grande força. Esta ideia e princípio não podem ser negligenciados. Sua função está baseada no despertar o ch’i no tant’ien como as águas dos rios Yangtze e Amarelo, e aumentando com movimentos circulares. Apesar da força original ser muito insignificante, sua velocidade é ilimitada. Portanto, sua eficiência é extraordinária e realmente imensurável. Em complemento à função do triângulo isósceles, discutido acima, o estado ofensivo do círculo e sua rotação para a esquerda e direita, para cima e para baixo estão todos baseados na função da alavanca. Tai Chi Chuan toma o ponto de apoio como a mais importante parte da alavanca. É o que o Tai Chi Chuan chama de “equilíbrio central” (Observe as figuras abaixo)

Nos diagramas pode ser visto que com exceção do ponto de apoio, a alavanca está livre para se mover em qualquer direção, para esquerda ou direita, para cima ou para baixo e para


trás e para frente. Se, por exemplo, o lado direito é atacado, então o lado direito pode girar para trás. Se quando um lado está para ser atacado, nós alongamos a distância e estendemos o tempo, então a força agressiva de nosso oponente será completamente dissipada e reduz-se a nada. Agora, se a força recebida pelo lado direito da alavanca for, por exemplo, de cem quilos, então toda a força deste peso é transferido para o lado esquerdo. Como o lado direito da alavanca gira rapidamente para trás, a força do lado esquerdo da alavanca gira rapidamente para frente. Consequentemente, a força do oponente se volta contra ele, atacando-o, e antes mesmo que ele possa reagir, ele será repelido a uma grande distância. Este, então, é o método de emissão de energia no Tai Chi Chuan. É simples assim. Além disso, Tai Chi Chuan se sobressai dividindo a força do oponente, como também utilizando a função de combinar forças. (Observe as figuras abaixo)

Se um oponente pressionar para frente com duas mãos em um ataque frontal, fazendo contato com meus antebraços, então eu os trago juntos para formar um ângulo agudo, consequentemente, dissipando a força do meu oponente e reduzindo-a a nada. Ao mesmo tempo, com meus antebraços juntos, eu empresto a força feroz de meu oponente para contraatacá-lo em seu ponto vital. Isto é o que os clássicos de Tai Chi Chuan chamam “atraia-o e induza que a força dele caia no nada”. Unir e emitir. Este é um outro método. Complementando, Tai Chi Chuan também se sobressai desenraizando força, ou arrancando

sua raiz e então, lançando-o de forma que ambos os pés deixem o chão. Isto é o que os clássicos de Tai Chi Chuan chamam “se nós queremos levantar algo, nós devemos primeiramente aplicar uma força arrancando a raiz para quebrar e então podemos repelir com velocidade e segurança”. Este então é o principio do guindaste na física, da função da alavanca do macaco e assim por diante. (Observe a figura abaixo)

Neste diagrama, como a distância entre o ponto de apoio e o ponto de força aumenta, a força aplicada se reduz e a eficiência tornase maior. No Tai Chi Chuan, quando empregamos energia para desenraizar ou para emitir, nós pegamos o oponente do centro da gravidade e o ponto de contato – mãos ou punhos – se torna o ponto de apoio. Os pés e pernas são o ponto de força. Isto é porque no Tai Chi Chuan, quando nós emitimos energia, o ponto da energia cinética está nos pés. Isto significa que o movimento deverá ser enraizado nos pés, liberado através da perna, controlado pela cintura e manifestado através dos dedos. Mesmo sendo o oponente muito forte e imponente, ele não pode contar com esta vantagem, pois tão logo o contato é feito, ele é repelido a uma grande distância. Tudo depende da função da alavanca. Embora nós façamos contato com as mãos, o ponto do qual se emite a energia são os pés. Isto é certamente sutil e supremo. Uma pessoa pode gastar metade do esforço e executar duas vezes mais, e quanto mais avançado, cem, mil vezes mais. Não há absolutamente limite.

Resumindo o que tem sido falado acerca do movimento da energia no Tai Chi Chuan e os princípios da física: eles estão em completa correspondência e estão baseados nas leis da natureza. Apesar da origem do Tai Chi Chuan estar na filosofia, ele pode ser demonstrado pela ciência. No passado, os princípios do Tai Chi Chuan eram tão difíceis de se compreender que muitas pessoas se tornavam céticas. Aqui, utilizando a física para explicar o movimento da energia, apesar do Tai Chi Chuan estar enraizado na filosofia, se torna facilmente acessível sua compreensão. As teorias do movimento da energia e física são áreas de estudo profundo na arte do Tai Chi Chuan. Entretanto, se Tai Chi Chuan tem seus princípios, deve ter também suas aplicações. Se nós não pudermos aplicar, então os princípios não são dignos de estudo. Se nós buscamos a perfeita união da teoria e prática, então nós devemos meticulosamente examinar esta ideia, e somente então nós podemos compreender a maravilhosa função da energia em movimento. Escrevendo este capítulo do Tratado, aquela velha máxima sobre as transmissões secretas entre gerações de praticantes de Tai Chi Chuan, tem sido revelada sem omissões. Eu espero que os estudantes prestem especial atenção a isso. Professores Aparecido de Lira e Eliane Cardoso Diretores do Instituto Fu Hok de Cultura Marcial Chinesa www.institutofuhok.com.br

------------------

Bibliografia Master Cheng´s Thirteen Chapters On T´ai Chi Ch´üan. by Cheng Man-ch´ing translated by Douglas Wile Sweet Ch´i Press [Comente este texto: revistataichibrasil@hotmail.com]

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

21


Código de Ética da Família Chen Por Estevam Ribeiro

1. Adequação, dignidade para suportar e adaptar-se; 2. Respeito; 3. Justiça; 4. Correção; 5. Gentileza; 6. Nobreza; 7. Grandeza; 8. Coragem; 9. Honestidade; 10. Confiabilidade; 11. Sinceridade; 12. Moralidade.

22

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Chen Wang Ting Desenho em grafite – Estevam Ribeiro


Os 10 princípios de Yang Cheng Fu (Ponto 10) Por Bruno Davanzo

Ponto 10 - Procure a quietude no movimento. As escolas externas assumem que saltar é bom, de forma que toda a energia é usada; aí está o porque depois da prática todos estarem ofegantes. Tai Chi Chuan usa a quietude para controlar o movimento. Apesar do movimento, há também quietude. Portanto, praticando a forma, lentidão é melhor. Se ela é lenta, a inspiração e expiração são longas e profundas, e o “Chi” submerge no “Tantien”. Naturalmente não há prática mais injuriante que a do abarrotamento dos vasos sanguíneos. O aprendiz deveria ter cuidado em compreender isto, e então conseguiria o real significado. Essa é uma das características do Estilo Yang de Tai Chi Chuan, a execução dos movimentos de forma lenta. Aqui, Yang Cheng Fu aconselha diretamente, “praticando a forma, lentidão é melhor” e justifica lembrando da respiração. Eu incluo aqui a questão de coordenação e concentração. Quando estamos aprendendo os movimentos do kati, é muito importante fazer os movimentos de forma lenta, porque ajuda muito ao aluno na coordenação de todo o corpo. No ponto 7 se falou da coordenação de todo o corpo e da respiração, mas neste ponto temos a chave para atingir isso de forma plena. Muitas vezes, o principiante quer saber como é a respiração naquele movimento, onde eu inspiro, onde eu expiro. Se o seu corpo não está coordenado e relaxado, essa é uma preocupação que pode atrapalhar. Na verdade, alguns professores até evitam falar da respiração, pois ela vem de forma natural. Ou seja, se o seu corpo está relaxado, coordenado, a respiração é

natural, e se o movimento for lento, ”a inspiração e expiração são longas e profundas” sem esforço. Um exemplo clássico, quando você eleva os braços, o tórax naturalmente se expande, abrindo espaço para o ar, inspirando. Quando abaixa os braços, naturalmente expira. O seu corpo “pede” a respiração. Quando você pratica o Tai Chi de forma lenta, começa a “ouvir” como seu corpo “pede” naturalmente para respirar. Isso nos leva naturalmente a questão da concentração. Para “ouvir” seu corpo você naturalmente tem que estar concentrado nele. Minha experiência no início foi tentar trazer a respiração para junto do movimento lento, o que era muito díficil porque a respiração era curta. Depois houve um tempo em que a respiração e o movimento estavam juntos, com algum esforço. Enfim, quando o corpo realmente relaxou, a respiração se tornou mais profunda e naturalmente o movimento ficou lento acompanhando a respiração. Não perca seu tempo forçando a respiração, vá direto

para buscar o relaxamento do corpo, então a respiração será uma consequência. Uma armadilha na prática é “automatizar” a sequência e fazer os movimentos de forma lenta, mas sem concentração. Por favor, não se disperse, não entre em estado de torpor. É fácil perceber que os movimentos perdem a qualidade, o ponto 6 (intenção) não estará presente. Tai Chi não é como dirigir um carro, onde você aprende, coordena, automatiza e libera sua mente para outras coisas. No Tai Chi a mente deve estar presente o tempo todo, caso contrário, você regride na prática. Quando sua mente está focada, então ela naturalmente vem para um estado de serenidade, de paz mental. Trago aqui o conceito budista de paz mental porque ele nos ajuda a entender melhor nossa prática de Tai Chi. A paz mental é algo sempre presente, incessante. Nós não percebemos porque agitamos nossa mente, sempre querendo antecipar, prever o que pode acontecer, planejar, ou por outro lado, ficamos lembrando

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

23


do passado, ou simplesmente dispersos. Para diminuir esse ruído, desaceleramos, fazemos o movimento lento, porém focado, e então revelamos o estado natural da nossa mente, que é de paz e serenidade. Então percebemos a verdadeira prática, não estamos apenas fazendo um exercício físico, mas estamos treinando nossa mente. Podemos usar isto como um pano de fundo: temos essa clara intenção de que estamos treinando nossa mente. Quando executamos os movimentos com essa intenção, o movimento é uma expressão, como um termômetro, de nossos estados internos. Para que a nossa mente não se disperse, usamos um foco exato, sabemos exatamente onde ela deve se concentrar. Aqui temos usado o foco nos conselhos de Mestre Yang Cheng Fu. Quero salientar que manter o foco exato sem dispersão parece algo simples, mas de fato exige alguma dedicação. Integrando os pontos Quando você já estudou cada um dos pontos pode começar a integrá-los. A ideia é fazer com que todos eles estejam funcionando ao mesmo tempo. Vá adicionando

24

um a um, com tempo, até que todos estejam funcionando ao mesmo tempo. É maravilhoso acompanhar a sequência que Mestre Yang propõe: imagine como um fio suspendendo você pelo topo da cabeça (ponto 1), alinhando todo o seu corpo, trazendo você para um estado de atenção e presença. Relaxe, deixe o chi afundar para o tantien (ponto 2). Então comece os movimentos. A cintura está no comando (ponto 3) trazendo seu corpo para cheio e vazio (ponto 4). Nesses quatro primeiros, você já veio descendo da cabeça aos pés. Continuando a execução do kati, a cada movimento cuidando para que os cotovelos estejam para baixo e os ombros possam relaxar (ponto 5). Ao mesmo tempo que o corpo está relaxado, o movimento não perde intenção (ponto 6). Mantenha a coordenação em cima e embaixo (ponto 7), dentro e fora (ponto 8), movimento contínuo (ponto 9) e lento (ponto 10). Aqui sua prática ganha uma nova dimensão. Pense nos pontos, deixe eles funcionarem e então repouse sua mente.

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Esse “repousar” da mente é que ela permanece atenta, presente, observando o que acontece, mas já não há mais esforço no focar um dos pontos. A etapa de focar cada um foi necessária para que esses pontos fossem ativados, agora mantenha apenas a presença, esse estado de atenção. A primeira etapa é uma preparação, um desenvolvimento. Agora buscamos aprofundar a prática onde não há mais esforço, os pontos surgem naturalmente. Professor Bruno Davanzo Praticou e ensinou Tai Chi Chuan estilo Yang por mais de 20 anos, tendo estudado pela primeira vez com Professor Roque Severino. Depois continuou seus estudos com Professor Pan Yi Bo. Atualmente ensina Tai Chi Chuan estilo Chen, sendo aluno do Professor Niall O’Floinn. www.academiaparamitta.com.br -----------------Bibliografia TCC – Por uma vida longa e saudável Roque Severino Editora Ícone

[Comente este texto: revistataichibrasil@hotmail.com]


A China que me conquistou Por Soraya Lacerda

Conversando por estes dias com Shifu Magno Bueno e Shifu Estevam Ribeiro sobre a iminente partida deles para a China, me dei conta de que, há exatos 365 dias, eu estava na mesma vibe ansiosa, arrumando as malas para partir para o país do “Império do Meio”. Aquela foi uma viagem muito acalentada... Até porque eu sabia que um dia eu atravessaria o mundo, me jogando nesta aventura, antes mesmo de saber que eu me tornaria professora de Tai Chi Chuan. A prática do Tai Chi de forma mais dedicada simplesmente reforçou o desejo e acabou sendo aquele empurrão que faltava para a coisa toda tomar forma e tornar-se algo real. A viagem foi muito especial, pois além de ser algo muito almejado e planejado, foi também uma experiência compartilhada com queridos. Amigos de prática e de coração. Isso torna qualquer experiência, não só uma simples viagem, mas algo mais, por si só inesquecível. Minha contagem regressiva levou um ano e meio... Um ano e meio ansiando, pesquisando sobre o país e a cultura tão diferentes dos nossos; juntando e construindo um monte de expectativas, que hoje, olhando para trás, até acho um tantinho além da conta. Mas fazer o quê! Sou canceriana e sou mulher.

Treino matinal na “Vala” de Chenjiagou. Foto: Sales Saresu

“A new moon leads me To woods of dreams and I follow. A new world waits for me... My dream, my way! I see the sun I see the stars.” ‘China Rose’, Enya

Ainda assim, posso dizer com convicção que a China me conquistou! Conquistou-me apesar da distância [praticamente 24 de viagem, e no meu caso, sem dormir!]... Apesar do meu “anafalbetismo” literal, tendo que ser contornado na marra em muitas situações... Apesar da grande diferença cultural que, mesmo havendo nos preparado intensamente, ainda assim nos impactou absurdamente. Mas também me conquistou pela riqueza de sua história... pela força da tradição do seu povo... pela amplitude de tudo: do incrivelmente antigo, do absurdamente novo... e pela aura do Tao, ainda presente aqui e ali, não importando o que digam em contrário. Turismo à parte, três momentos foram a “cereja” do nosso “bolo” nesta viagem: a experiência com os treinamentos de Tai Chi Chuan, em Chenjiagou com o GM Chen Xiaowang; de meditação, em Huashan com Mestre Jan Silberstorff; e sermos recebidos em Louguantai por Ren Fa Rong, o principal representante do Taoísmo na China. Em Chenjiagou... Nos entregarmos ao Tai Chi, bem ali em seu berço, “bebendo da fonte”. Conhecer - e viver - a história dessa arte a que nos dedicamos, bem ali onde tudo começou, foi uma emoção marcante, revigorante, motivadora e enriquecedora! Somado a isso, outras duas coisas me marcaram muito na semana em que passamos na Vila Chen. Uma foi colocar realmente em teste, pela primeira vez, o meu Tai Chi. Não só minhas habilidades, mas a minha capacidade de vencer meus limites pessoais da prática. E deixo claro aqui: com mente e coração abertos, www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

25


Tirando dúvidas com o GM Xenxiaowang. Foto: Waldemir Barreto

Recebidos por Ren Fa Rong, em Louguantai. Foto: Soraya Lacerda

casados com a disposição para a entrega e a dedicação, não existe o “não posso”. Tudo é possível! Até mesmo conseguir treinar o dia todo, todo dia, em uma época bem fria, comer uma comida com a qual você não está lá muito acostumado e ainda assim ir dormir feliz, ansioso para que o dia seguinte se faça presente logo, e que tudo comece novamente! O segundo evento marcante foi treinar não só sob as serenas orientações do GM Chen Xiaowang, mas também ao lado de tanta gente boa! E não só os de olhinhos puxados, ou os companheiros de outros países, distantes da nossa realidade. Mas também, com a oportunidade de ver ali, um ao lado do outro, o nosso Laoshi Magno Bueno, o nosso Mestre ocidental Jan Silberstorff e o GM Chen Xiaowang; e poder constatar, ao vivo e a cores, que nossos mestres estão em perfeita consonância com aquele que é o guardião do estilo Chen. Confirmei, então, que estamos sim, muito bem servidos em nossa prática, obrigada! E que temos excelentes professores, podendo nos considerar, sem sombra de dúvida, privilegiados por sermos fruto de um trabalho sério, metódico e com retorno palpável e a olhos vistos! Isso é um forte combustível motivador para permanecermos no caminho que escolhemos do Tai Chi Chuan. Em Huashan... Fomos presenteados com outra experiência especial: o treinamento de Meditação Chen em um Templo,

aos pés das “Montanhas Floridas”. Para mim, que sempre quis aprender a meditar e nunca consegui aquietar minha inquietude, a meditação Chen foi uma adorável surpresa, coroada com a escalada da Montanha Huashan, coroada com seus mini templos e vistas de tirar o fôlego! Em Louguantai... fomos novamente presenteados com uma surpresa especial: ao visitar o templo onde Lao Tse supostamente escreveu o Tao Te King, soubemos que seríamos recebidos pessoalmente por Ren Fa Rong. Para se ter uma ideia de tamanha honra, basta saber que Ren Fa Rong está para o Taoísmo assim como o Papa está para o Cristianismo. Pelo fato dele viajar muito pelo mundo, as chances de encontrarmos com ele em Louguantai eram mínimas, para não dizer nulas. E menores ainda seriam as chances de sermos recebidos pessoalmente. Mas para nossa sorte ele não só estava, como fez questão de nos receber para uma agradável conversa sobre o Taoísmo e seus princípios. Lembrar de todos estes momentos não me deixa suspirante, tão pouco nostálgica, mas sim

26

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Treino diário com o GM Chen Xiaowang. Foto: Soraya Lacerda


aquece meu coração, pois sei que vivi momentos valiosos. E esse calor também me dá ânimo para pensar em voltar, num futuro não muito distante, para viver tudo de novo e mais outras tantas coisas... E quem sabe, mais cedo do que se espera? Afinal, as engrenagens do destino já foram postas em movimento novamente. Nossa escola, o IFTB [Instituto de Formação em Tai Chi Chuan de Brasília]

e a WCTA-BR [World Chen Xiaowang Taijiquan Association – Brasil] já começaram a planejar a viagem de 2013. Vamos? Professora Soraya Lacerda Pratica Tai Chi há 9 anos e é professora do IFTB – Instituto de Formação de Tai Chi Chuan de Brasília - www.iftb-taijiquan.blogspot.com

Foto Oficial do Seminário em Chenjiagou, diante do Templo de Chen Wanting. Foto: Chenjiagou Taijiquan School / Divulgação: Soraya Lacerda

Livro: A Essência do Tai Ji Quan David Gaffney & Davidine Siaw-Voon Sim Traduzido para o idioma português por Gabriela Morgado 302 Páginas - Ilustrado

Peça já o seu exemplar, vale a pena!!! Site de compra: www.blurb.com www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

27


Tai chi chuan e sua vida profissional Por Anderson Rosa

Recentemente a revista Exame publicou um artigo sobre “Sete Esportes que podem ajudar a alavancar sua carreira” (1). O Tai Chi Chuan é citado ali como uma prática que “tem relação direta com a meditação e com movimentos que exigem equilíbrio e concentração do praticante (2)”. Essas qualidades: equilíbrio e concentração, são duas qualidades muito apreciadas no dia a dia de profissionais que são submetidos constantemente a grandes pressões, como gerentes, diretores e todo tipo de profissional que precisa oferecer uma resposta quase imediata à uma situação e cujo resultado pode mudar todo panorama de um negócio. Vivemos em uma sociedade de alta velocidade, construída em fibra ótica, cabos de rede e computadores cada vez mais velozes, que na maioria das vezes ainda são mais lentos do que gostaríamos que fossem. É um contraste enorme com a graciosidade e lentidão do Tai Chi Chuan, que em seus movimentos valoriza não somente a postura e a concentração, mas o cultivo de um sentimento mais profundo, interno, que é a unidade entre a mente e o corpo. Essa unidade entre mente e corpo, na minha concepção pessoal como praticante de Tai Chi Chuan, é uma das grandes chaves que temos à nossa disposição para evitar desgastes desnecessários tanto na mente como no corpo. Diariamente, ao abrir o jornal, temos notícias de que a depressão é um dos grandes males do século XXI, afetando imensas parcelas da população que tenta desesperadoramente se agarrar a algum remédio

28

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

que traga tranquilidade e paz de espírito, diminua a pressão sanguínea e nos dê a felicidade. Buscamos uma saída mágica numa bula de remédio. Infelizmente, não há uma saída mágica para os nossos problemas diários. No entanto, podemos trabalhar preventivamente para evitar esses males. Uma das formas que podemos fazer isso é praticando Tai Chi Chuan. No mundo da tecnologia, é comum ver grandes atletas avaliando sua performance em vídeos de suas apresentações, procurando erros, para depois corrigí-los quadro-a-quadro. Se observarmos sob essa ótica, podemos dizer que a prática do Tai Chi Chuan, executada atenciosamente, de forma lenta e comedida, é uma forma de você prestar atenção em você mesmo, quadro-a-quadro, na busca de autoaperfeiçoamento. O maior pecado que cometemos em relação a nós mesmos, é deixarmos de prestar essa atenção em cada detalhe, cada movimento, cada pensamento. O autoabandono é uma forma de atrair para si as doenças. É bem conhecido o argumento que o Tai Chi Chuan beneficia a saúde. Isso é verdadeiro na medida em que a prática se torna consistente e constante. Pois, ao praticarmos a forma (seja ela qual for), sob uma orientação adequada, deixaremos de fazer as coisas automaticamente, levados pelo ritmo alucinado da vida diária. Não pratica-se Tai Chi apenas quando estamos fazendo a forma, mas também quando levamos a filosofia do Tai Chi Chuan (concentração, foco, contemplação, resiliência) para as outras atividades da


nossa vida diária. No Tai Chi aprendemos que devemos desviar a força do oponente e não oferecer resistência ao ataque. Devemos redirecionar a força para que ela não encontre o alvo. Se durante nossas atividades diárias, numa discussão profissional eu não consigo me conter e quando preciso resolver uma crise eu crio outra crise para resolver a primeira, então não estou praticando Tai Chi. E como seria essa prática então? Ao me deparar com a crise devo me focar, concentrar os esforços até que possa contemplar uma saída coerente. Vamos dar um exemplo: imagine que seu superior pediu que realizasse um grande relatório sobre as atividades do último semestre. Isso demandará um tempo e um certo esforço para realizar a tarefa. Quando você está quase terminando o relatório, ele avisa que a Matriz da empresa pediu que o relatório cobrisse não apenas os dois trimestres anteriores, mas um terceiro, totalizando nove meses de relatório. Ao invés de chutar a cadeira, reclamar do chefe, descontar nos colegas ou na família, um praticante de Tai Chi iria adequar os relatórios à nova demanda (separando por trimestre = organização) e iria complementar a informação de maneira adequada (=forma) e, se necessário, iria solicitar um tempo adicional para completar os dados restantes (resiliênci a=adequação=redirecionar). Inúmeros são os exemplos disponíveis. Podemos expandir os exemplos incluindo trânsito, situações familiares e toda a gama de situações a que estamos sujeitos na vida diária. Como estamos falando de vida profissional, vamos nos ater a este exemplo. Como praticante e professor de Tai Chi Chuan, percebo na prática constante do mesmo uma oportunidade que temos de aprender a redirecionar as tensões diárias para situações sob controle. Todos os traumas, situações mal resolvidas, ações não realizadas, tornam-se sinais e trazem doenças para o nosso corpo. Excesso de responsabilidades enrijecem a nuca; palavras não ditas dão dor de garganta; engolir situações mal digeridas afetam o estômago; sobrecarga de tarefas trazem problemas às costas; sujeição afeta nossos joelhos, e assim por diante. Na prática do Tai Chi Chuan, todas elas irão se manifestar na dificuldade que temos de realizar os movimentos da forma aprendida, por exemplo: quando há desconexão entre a parte superior do corpo e a inferior (movimentos descoordenados, ou a parte superior se move e a inferior está fixa ou atrasada) demonstra que nossos pensamentos tem dificuldade de encontrar expressão na prática. Se a cabeça está inclinada demais para baixo, ou bamboleante, é porque estamos com muitos pensamentos, de cabeça “pesada”, e assim por diante. Quando mexemos somente a parte

inferior do corpo e a superior fica parada ao invés de acompanhar o movimento como um todo, é porque agimos em excesso sem refletir o suficiente sobre a questão. À medida em que há um esforço do praticante em superar essas limitações, o mesmo começa a refletir-se na vida diária. Por exemplo: aquela discussão explosiva perde o sentido; antes de agir precipitadamente paro para pensar sobre as consequências; ao invés de começar as frases com “não”, eu busco uma alternativa menos traumática, etc. Ao invés de dizer: “- Não posso esquecer”, começo a usar: “- Preciso lembrar de...”. Ao invés de me sobrecarregar tentando resolver todos os problemas sozinho, busco ajuda de pessoas ao meu redor. São pequenas mudanças que farão grande diferença no seu dia a dia. E elas acontecerão naturalmente, refletindo a superação dos limites na prática do Tai Chi Chuan. A mente humana é como a água dentro de uma bacia que está sobre uma mesa: qualquer movimento na água agita sua limpidez tranquila. Buscar a prática diária do Tai Chi Chuan após um dia de trabalho estressante é uma forma de trazer a mente novamente ao estado de repouso. Temos em nosso corpo dois sistemas importantes: o simpático e o parassimpático. Ambos são parte do Sistema Nervoso Autônomo e possuem funções antagônicas. O Sistema Nervoso Simpático (SNS) é responsável pelo estado de alerta, respondendo a situações de estresse, como lutar ou fugir. Quando um leão precisa alcançar uma gazela, o Sistema Nervoso Simpático entra em ação para lhe dar a energia necessária. O mesmo é válido para a gazela, que precisa uma explosão de energia para fugir. Normalmente, esse estado de estresse deveria durar apenas alguns segundos ou minutos. Mas na nossa rotina somos bombardeados por situações limite: trânsito caótico, contas vencendo, aquele chefe que pressiona demais... E dessa forma mantemos o Sistema Nervoso Simpático ligado em todo o período ou na maior parte dele. O Sistema Nervoso Simpático é responsável pela aceleração dos batimentos cardíacos, pelo aumento da pressão arterial, da concentração de açúcar no sangue e pela ativação do metabolismo geral do corpo. Com ele ligado todo esse tempo, isso irá gerar a longo prazo: hipertensão, diabetes e uma série de outras doenças correlatas. O Sistema Nervoso Parassimpático (SNP) é responsável por estimular ações que permitem ao organismo responder a situações de calma, como fazer Tai Chi Chuan ou dormir. Essas ações são: a desaceleração dos batimentos cardíacos, diminuição da pressão arterial, a diminuição da adrenalina e a

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

29


diminuição do açúcar no sangue. Durante o estado normal do nosso leão ou da gazela, ambos permanecem em situação de relaxamento. Ele é que deveria estar ligado a maior parte do tempo, mesmo durante o nosso estado de vigília. Porém, devido às descargas hormonais sofridas pelos excessos do Sistema Nervoso Simpático durante o dia, ele passa a maior parte do tempo tentado minimizar essa ação, sobrando pouco ou nenhum tempo para fazer o que ele deve fazer: manter a calma. Isso é percebido em quadros de insônia, hipertensão, diabetes, depressão, AVC´s e tantas outras doenças que alcançam o ser humano moderno. Observe por exemplo um gato na sua rotina diária: ele permanece a maior parte do tempo em aparente descanso, mas se algo faz um barulho repentino próximo a ele ou chamando sua atenção, ele responde a isso quase instantaneamente. Esse estado é o desejado pelos praticantes de Tai Chi Chuan: manter o Sistema Nervoso Parassimpático atuando durante todo o tempo de vigília em estado de aparente repouso, ou ação na não-ação e ligar o Sistema Nervoso Simpático somente quando realmente necessário.

30

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

Por isso, sugiro aos profissionais que se sentem sobrecarregados pelas atividades diárias, que busquem na prática do Tai Chi Chuan uma forma de reaprender a viver. Com mais tranquilidade, concentração e capacidade de resiliência. No mercado de trabalho atual, esses profissionais tem muito mais a contribuir e possuem muito mais valor agregado à sua experiência profissional do que aquele que sucumbe às situações que se apresentam diante dele. Praticar Tai Chi Chuan diariamente vai ajudar a melhorar o seu sistema imunológico, acalmar a sua mente e, principalmente, apagar o alvo que a maioria das pessoas carrega nas costas, esperando para ser atingido em cheio pelas doenças ocupacionais. Prof. Anderson Rosa http://oraculo.cih.org.br ----------------- 1. http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/7-esportes-que-podem-ajudar-aalavancar-sua-carreira?p=8&fb_source=message#link - em 02/12/2011. 2. Idem. [Comente este texto: revistataichibrasil@hotmail.com]


RTCB entrevista a profª. Luciana Maia Por Giulia Fontes

A mineira Luciana Maia falou à Revista Tai Chi Brasil sobre sua experiência como professora e praticante de Tai Chi Chuan. Ela afirma que, mais que uma arte marcial, o Tai Chi é fonte de muito bem-estar e, além disso, uma maneira de diminuir a ansiedade e as expectativas diante dos percalços da vida. Revista Tai Chi Brasil (RTCB) – Como foi o seu primeiro contato com o Tai Chi Chuan (Tai Ji Quan)? Desde quando você o pratica?
 Professora Luciana Maia - Meu primeiro contato com o Tai Chi foi em Londres, com meu primeiro mestre: Mr. Koh. Ele era um mestre bastante rígido e queria ensinar os princípios da arte da mesma forma que nos tempos antigos. Os treinos duravam 6 horas e a gente tinha que suar a camisa para aprender. Acho que era isso que eu precisava naquela época e acabei aprendendo muito sobre disciplina, hierarquia e respeito com os colegas praticantes. Isso foi em 1990. RTCB – Qual estilo de Tai Chi Chuan você pratica? O que o diferencia dos demais estilos? Luciana Maia - Estilo Yang da família Dong. Não posso falar sobre outros estilos que não conheço, mas o estilo da família Dong é mais arredondado que o Yang tradicional, além de se usar muito a expansão e contração, o que traz um bem - estar incrível. RTCB – Como o Tai Chi Chuan interfere na sua vida pessoal? Você percebeu melhoras na sua qualidade de vida em decorrência de sua prática? Luciana Maia - É impossível praticar o Tai Chi sem que isso interfira na vida pessoal. A gente se adapta melhor às mudanças, aprendendo que tudo no universo está mudando o tempo todo. Com isso, a gente passa a ter maior consciência das situações e há uma diminuição da ansiedade e das expectativas. RTCB – Você já praticou ou pratica outras artes marciais? Luciana Maia - Sim, pratiquei o Aikido por 5 anos.

Mateus Maia, Alex Dong e Luciana Maia em Caraça, MG. Foto: Acervo / Mateus Maia.

RTCB – Você já precisou utilizar o Tai Chi Chuan como um meio de autodefesa?
 Luciana Maia - Na vida a gente tem que algumas vezes avançar, algumas ceder e algumas se esquivar. Este é o maior aprendizado do push-hands (empurrar com as mãos), por isso a gente nunca está pronto: está sempre aprendendo. RTCB – Você já participou de algum campeonato? Luciana Maia - Prefiro a prática sem campeonatos. O maior desafio é cada dia colocar um pouco de esforço no seu próprio desenvolvimento. RTCB – Qualquer um pode praticar esta arte marcial? Quais são as principais habilidades exigidas de um praticante?
 Luciana Maia - Qualquer pessoa pode praticar. A principal habilidade é a força de vontade, pois, através dela, as outras vão aparencendo aos poucos. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

31


Professora: Luciana Maia, da Escola Tai Chi Chuan BhMg. Belo Horizonte-MG. Postura: “A garça abre as asas”. Estilo:Yang da família Tung (Dong). Tung Ying Jie era discípulo do Yang Chen Fu, mas também estudou com Li Xiang Yuan, que era um discípulo de Hao Wei Jing fundador do estilo Hao Taiji. Este Taiji foi difundido no sudoeste asiático e nos Estados Unidos. Seu mais novo representante Alex Dong, é o mestre da escola e vem uma vez por ano ao Brasil ministrar um seminário. Foto: Acervo / Mateus Maia.

RTCB – Qual deve ser a motivação para que uma pessoa no Tai Chi Chuan – a busca por mais qualidade de vida ou por técnicas de autodefesa?
 Luciana Maia - A qualidade de vida sempre foi buscada pela humanidade, então não resta dúvida que ela prevalece. Se a pessoa consegue manter a calma diante de qualquer situação, já aprendeu muito e pode, assim, neutralizar ataques externos. RTCB – Quem você admira no Tai Chi Chuan?
 Luciana Maia - Alex Dong, pois, além de um ótimo representante da arte, ele tem paixão por ensinar.
 Se não fosse por mestres assim a arte não teria sido divulgada. RTCB – Qual foi o momento mais marcante na sua vida relacionado ao Tai Chi Chuan?
 Luciana Maia - São pequenas lembranças. Durante a prática, percebo que a natureza conversa através de pequenos sinais. RTCB – O que é preciso para ser professor? Luciana Maia - Para se tornar um bom professor

32

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

é necessário, além de ter um bom mestre, doação e muita paciência. A prática é a melhor escola. RTCB – Alguma dica para os nossos leitores? Luciana Maia - Procurem saber com quem você vai aprender: qual a linhagem de mestres que ele segue e se ele continua a estudar com seu mestre. RTCB – É importante que tenhamos no Brasil uma revista como a nossa que divulgue o Tai Chi?
 Luciana Maia - Sim, muito importante, porque, em nosso país, o desconhecimento sobre o Tai Chi Chuan e seus benefícios é muito grande. RTCB – Qual é a sua mensagem para os leitores?
 Luciana Maia - Para os praticantes, que valorizem muito esta arte que lhes foi passada, ensinando-a aos outros. Dessa forma, além de favorecer as pessoas, você também cresce muito. Para os que pretendem começar, inicie hoje sua busca por um bom professor. -------------------------------------------------A professora Luciana Maia mantém o site www.taichichuanbhmg.com.br, confira!


Tai chi chuan e os campos morfogenéticos Por Patricio Casco

Ao avançarmos no século XXI nos deparamos com a chave principal que abre a porta para novos conhecimentos: a integração entre as diversas linguagens e modalidades do saber, que são as artes, a filosofia, a ciência e a tradição. Ou seja, se quisermos compreender melhor a totalidade da nossa experiência, tal qual nós podemos alcançar, devemos ouvir igualmente mestres e cientistas, artistas e filósofos. Essa introdução é para situar este texto como uma tentativa de diálogo entre cientistas e mestres. No caso específico, encontrar pontos comuns entre a Teoria dos Campos Morfogenéticos da Biologia e a transmissão de conhecimentos das Artes Marciais, particularmente o Tai Chi Chuan. A Teoria dos Campos Morfogenéticos foi elaborada a partir dos anos setenta do século passado pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, da Universidade de Cambridge, para explicar a transferência de informação - para além do tempo-espaço - entre as formas vivas, o que nos inclui. Ou seja, o cientista descobriu como a forma dos seres vivos pode ser um campo informacional que nos liga aos nossos descendentes e ancestrais independentemente da continuidade espaço temporal, ou da presença de sinais físicos mensuráveis. Ao repetirmos determinados gestos ou condutas, nos ligamos às nossas linhagens não apenas biológicas, mas culturais, por meio da ressonância mórfica. Este conceito postula que ressoamos formas físicas, ideias e condutas, de maneira semelhante

a cordas que vibram ao serem expostas a outras que soam no mesmo tom. A expressão de tal ressonância pode ser explicada por meio da teoria dos campos, semelhantes aos magnéticos e eletromagnéticos. Ressonância por meio da Forma. Isso explica, em parte, a sensação que algumas pessoas sentem, por exemplo, na catedral de Notre Dame, quando se repete a liturgia que por séculos ecoou nos seus campanários, ou ao se ouvir o coro dos lamas tibetanos e seu canto polifônico. Em sua analogia, Sheldrake nos diz que podemos perceber a árvore formarse a partir da semente, ressoando com todas as formas anteriores e

“...o que pode servir de parâmetro para consagrar ou não uma escola ou estilo: a qualidade da transmissão...” posteriores da sua espécie e, em nível mais profundo, com toda a Natureza, para desenvolver-se como ser individual. Podemos também aqui situar a sensação de ligação para além do espaço tempo quando se pratica tai chi chuan como Arte Marcial Tradicional. Este é o ponto de ligação entre a Arte, a Tradição e a Ciência. Como Arte Marcial o Tai Chi Chuan vem sendo transmitido por gerações de mestres e discípulos que, desta maneira, constituem uma corrente para além do espaço tempo, integrando Oriente e Ocidente,

passado, presente e futuro, de maneira ininterrupta, constituindo aquilo que se denomina Tradição. Tal Tradição escapa aos manuais, vídeos, textos, livros, blogs etc, pois seu meio de transmissão não se dá por tais veículos. Só pode ser formada diretamente entre professor / aluno, mestre / discípulo. Cursos rápidos também não estabelecem este contato. Não podemos nos esquecer de que o Tai Chi Chuan, assim como o Shao Lin e o Wushu, faz parte de um amplo sistema denominado Kung Fu, termo chinês que pode ser traduzido como “trabalho duro” ou “aquilo que se obtém pela perseverança”, o que está além das Artes Marciais. Naturalmente, a árvore leva o seu tempo entre a semente e os primeiros frutos. Porém, diferentemente desta, podemos influenciar a forma e a natureza do nosso desenvolvimento, o que se dá por meio da ação e treinamento contínuo e na presença dos mestres e na ação dos seus discípulos. No Tai Chi Chuan utilizamos o termo forma para nos referirmos à coreografia que caracteriza cada estilo. A sequência dos movimentos e posturas vem sendo transmitida de geração em geração, com alterações feitas pelos mestres, sem que se perca sua essência. Como na Natureza, cada geração acrescenta algo àquela que a sucede, garantindo que haja evolução e que o conhecimento não fique estagnado. Ao mesmo tempo, procura-se manter a essência da Tradição de diversas maneiras. É certo que, como um

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

33


grande telefone sem fio, algumas informações vão se perdendo no caminho. Isso é o que pode servir de parâmetro para consagrar ou não uma escola ou estilo: a qualidade da transmissão entre seus atores. Aí é que entra a realização da Forma. Muito mais que textos ou vídeos, a linguagem que caracteriza o Tai Chi Chuan é o movimento. A transmissão do seu conhecimento está justamente na aplicação dos seus movimentos. Empurrar ou recolher, puxar ou expandir, são muito mais que ações físicas e proporcionam aos seus praticantes a conceituação prática de tais termos, sem interlocuções metafísicas. Ao realizarmos a Forma, nos conectamos por meio da ressonância mórfica (morphos = forma, em grego) com todos aqueles que nos antecederam e que também vão nos suceder. Quanto melhor realizamos a forma (e bota kung fu nisso) melhor nos conectamos para além do tempo e do espaço com nossos mestres e possíveis (por que não?) discípulos, que nada mais são que nossos mestres também. Daí a importância em considerar cada atitude desenvolvida durante o aprendizado como um elemento

de construção permanente de um canal de sintonia transcendental, que se dá por meio da ação corporal, no nosso caso o Tai Chi Chuan. A exposição contínua do indivíduo ao treinamento da forma e sua participação ativa deste em sua autoelaboração (corpomente-espírito) como praticante de uma Arte Tradicional, são como a semente enraizada em solo fértil, exposta ao regime de águas e temperatura adequadas ao seu desenvolvimento. Para ser uma boa árvore dessa espécie é necessário ressoar com todas aquelas com as quais compartilha sua natureza (aprendizagem), para além do tempo e do espaço, além de garantir que haja saúde (nutrição) para haver continuidade. A prática da forma nos fortalece, nos enraíza e melhora nossa ressonância com a Tradição. Aprendizagem (prática) e nutrição (física e espiritual) são como os polos complementares do símbolo Yin/Yang. Em última análise, aprendizagem é nutrição e vice-versa. Por isso, há que se considerar que alcançar uma boa saúde é uma primeira etapa para, efetivamente, começar a desfrutar dos benefícios de tal conexão.

Para terminar, coloco uma questão. A Tradição nos afirma que o Chi – conceito chinês antigo acerca da substância primordial que preenche todo o cosmo e aquilo que se aprende a absorver e manter durante a prática - é algo imensurável e transcendental, apesar de fisicamente sensível e perceptível pelo ser humano. Não existem explicações plausíveis no âmbito científico tradicional para a incorporação de tal conceito, por falta de estrutura teórica para isso, o que gera desconfiança naqueles treinados no método científico cartesiano. Não seria a Teoria dos Campos Morfogenéticos e sua desvinculação das relações causa/efeito e espaço/tempo, aquela destinada a legitimar e apontar as práticas corporais como fontes legítimas de conhecimento tradicional? Com a palavra os especialistas... Da minha parte, continuo a praticar a forma. Professor Patricio Casco Terapeuta corporal, professor de Educação Física e de Tai Chi Chuan - estilo Yang do Mestre Ma Tsun Kuen. www.taichipatriciocasco.sitepx.com [Comente este texto: revistataichibrasil@hotmail.com]

SESC Água Verde Curitiba - Paraná 2 TURMAS

Às 2ªs, 4ªs e 6ªs: das 08h às 09h Prof. Bruno Davanzo Às 3ªs e 5ªs: das 18h20 às 19h20 Prof. Levis Litz

34

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br


Tai chi chuan - a minha trajetória Por Elli Nowatzki

Foto: Acervo LL

prof. Wagner Schlichting. No dia 11 de março de 2003 (no mesmo dia foi fundada a Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi Chuan – AIPT) fui conhecer a aula, Professora Elli Nowatzki na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba. e esse dia ficou marcado profundamente em mim, Como a maioria das pois quando vi um pequeno grupo pessoas que procuram o Tai Chi de pessoas fazendo movimentos Chuan por motivos de saúde, bonitos, senti imediatamente que eu também busquei a prática encontrei, “achei”. Não sabia o como alternativa para aliviar os que, muito menos que naquele sintomas de artrose e em fase de momento a minha vida mudou pré-menopausa. Me foi dito que completamente. era doença degenerativa e um Comecei a frequentar as fisioterapeuta disse que ouviu aulas, não faltava uma, o professor dizer que exercícios chineses, Wagner era muito dedicado e mais especificamente Taichichuan, também exigente. Praticante poderiam ajudar. de Kung Fu, o qual aprendeu Trabalhei por muitos anos com mestre Lee Chung Deh, como costureira e bordadeira também terapeuta, e Taichichuan de alta costura, não cuidava de e acupuntura com mestre Pan Yi mim, e esse trabalho, por mais Bo. Com o passar do tempo, eu bonito que seja, é desgastante e sentia a dificuldade de aprender servia a futilidade das pessoas, e meus braços doíam muito, ao e eu me questionava sobre se o mesmo tempo eu gostava dos que eu fazia era realmente útil, se acrescentava para as pessoas, além movimentos, da harmonia do grupo, da tranquilidade que a de deixá-las bem vestidas. Sentia prática gerava, sempre saia feliz muitas dores nos ombros e nos braços, e na alma, e saí em busca do que seria esse tal de TCC. Depois de muita busca, pois o TCC não era conhecido, divulgado soube que tinha aulas na Rua da Cidadania, que é uma regional da prefeitura aqui em Curitiba, próximo da minha casa, havia recentemente começado e era um trabalho voluntário do

das aulas. O ensino era mais filosófico, e todo o meu mundo e meus conceitos vieram abaixo, e mais e mais eu queria aprender aqueles movimentos complicados. Aprendíamos os 24 movimentos da Forma de Pequim, e o método era ensinar a forma durante o ano, e no ano seguinte começava do início, e com alunos novos. No segundo ano comecei a divulgar pelo bairro, com bastante entusiasmo, eu já não sentia dores e aos poucos o professor me chamava para auxiliar, ficar em determinada postura enquanto explicava. No início do terceiro ano formamos um grupo com 56 pessoas. Eu não entendia o porquê as pessoas desistem com o tempo. Nesse período, o professor me emprestou o livro “Tai Chi Chuan, por uma vida longa e saudável” de Roque Severino, meu primeiro contato com a literatura e eu quis muito vivenciar o que seria a órbita microcósmica. Em meados de 2006 surgiu uma proposta de trabalho em Portugal para o professor e o grupo formado não quis interromper as aulas. Como eu estava há mais tempo, ficaria ali praticando junto, até o seu retorno. Mudou tudo, pois ele acertou trabalho por lá e o grupo insistiu que eu ensinasse

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

35


a forma até o final, pois eu sabia os movimentos. Nesse mesmo tempo, lá de Portugal, o professor me passou uma proposta que havia recebido para dar aulas de Taichi na cidade de Mafra, próxima a Curitiba, disse que não poderia, mas tinha uma aluna dele que poderia. A princípio encarei como aventura e com entusiasmo lá fui eu, coração na mão e em fevereiro de 2007, comecei a dar aulas em Mafra e formei também um novo grupo na Cidadania. Hoje sei o quanto fui ousada, talvez até irresponsável, mas as pessoas que foram meus alunos me ensinaram a ensinar. Dei aula em Mafra por dois anos e meio, começamos com treze pessoas e no final cinco pessoas, que me apoiavam e incentivavam a minha busca e meu esforço. Sabiam da minha limitação e nos guiamos pelo entusiasmo, pela vontade de praticar e aprender. Porém a responsabilidade pesou e eu buscava avidamente por conhecimento em livros, sites,vasculhava sebos, e quanto mais eu li mais eu sabia que nada

sabia, e fui ficando aflita. No site da SBTCC encontrei um artigo sobre como encontrar um bom professor, quase surtei, me senti a fraude em pessoa. Começou outra jornada, encontrar um professor para mim urgente e sai pela cidade em busca pelos endereços do site da AIPT, na época fotos e rumos, comecei a fazer aulas experimentais, conheci várias escolas, busquei algo que identificasse o que eu praticava. Aquela altura, já um bom tempo sozinha, estava quase criando um novo estilo. Aprendi Chi Kung, o que me ajudou muito, e repassava aos alunos. No fundo eu queria aprender e avançar no meu Taichi, sentia essa necessidade e tinha sob meus cuidados os alunos. Apesar do entusiasmo, sinceramente eu sofria e nas minhas andanças encontrei o professor Levis Litz dando aulas num parque aos domingos. Passei a frequentar, e expus a minha situação e ele me disse: Elli, você tem três escolhas, fugir e desistir, aprender tudo de novo ou continuar a ensinar do mesmo jeito. Reflita bastante, pense no macro, no longe e depois Foto: Acervo Elli Nowatzki

dania, Boqueirão, em Curitiba.

Professora Elli Nowatzki na Rua da Cida

36

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

decida”.Decidi e desde então me tornei sua aluna regular. Me ajudou revendo cada movimento da Forma dos 24 de Pequim, aprendi também a Forma do Pequeno Círculo, e ficava encantada com o tal estilo Chen que ele praticava. Além de ser meu professor nos tornamos amigos e ele sempre me incentivou e encorajou a continuar a minha jornada, o que lhe sou imensamente grata. A partir disso minha vida mudou. No final de 2008, no acaso, me foi entregue um folder sobre cursos da Alquimia Interna, sistema Mantak Chia, e lá estava escrito entre várias coisas, “abertura da órbita microcósmica”, e de novo senti, “achei”. Na época, vinha a Curitiba a instrutora sênior Ely Brito, que até hoje é minha grande mestre de vida e por quem tenho muito respeito e consideração. Durante dois anos pratiquei intensamente as posturas, as meditações, o que me deu estrutura e força para seguir no meu objetivo de aprender e ensinar Taichichuan. Completei até o penúltimo modulo avançado, faltando o Kan e Li, e fiz módulos complementares, incluindo Tao Yin. Aprendi também com Ely a estudar o I Ching. O que me convenceu no Sistema Mantak foi de que sem energia não realizamos nada e as pessoas precisam aprender a gerar a sua própria energia, não serem dependentes, tampouco levar 20-30 anos até começar a sentir. Eu precisava de energia, eu queria saber o significado do que eu lia, queria a prática e sou agradecida pelo bem que essa prática e conhecimento me trouxeram, além da meditação do sorriso, que é a base do sistema ser profundamente terapêutico.


Tudo aconteceu muito rápido nesse período, em abril de 2009 comecei o curso de Formação em Taichichuan pela Escola Brasileira de Medicina Chinesa – EBRAMEC, concluído em 2010,curso esse que me abriu um leque enorme, onde pude me aprofundar na história do Tai Chi Chuan e a assuntos relacionados, bem como vivenciar vários estilos e o convívio com os colegas. Comecei a dar aulas em vários outros locais e participava de oficinas, sempre com a vontade de transmitir o Taichi a um número maior de pessoas, acreditando sempre que estava fazendo um trabalho que contribuía para melhorar a vida das pessoas. Apresentei, com meus alunos de Mafra e Curitiba, a Forma de Pequim e Pequeno Círculo no Dia Mundial do Tai Chi Chuan e também no Torneio de Confraternização de Tai Chi Chuan, tremendo muito. No mesmo ano, recebemos em Curitiba o Prof. Niall, que visitou as escolas e também fez uma prática aberta na Rua da Cidadania. Nesse mesmo ano comecei a aprender a Forma dos 18 movimentos do estilo Chen. “Achei” de novo um caminho no Taichi, a alegria e o entusiasmo foram se intensificando.

Quando o professor Levis foi buscar a Lao Jia na Irlanda e a apresentou para nós, fiquei sem fôlego, estava ali o TCC descrito nos livros. Comecei a aprendê-la em setembro de 2010. Hoje ela é minha prática pessoal, estudo o TCC praticando, e sei e tenho certeza da grandeza que é descobrir a cada dia as sutilezas, as nuances e as possibilidades de cada movimento, e sei também que tenho muito pela frente. Sou aluna disciplinada, não falto, faça sol ou chuva, em cada aula aprendo algum detalhe que faz diferença, que acrescenta. O acaso me trouxe o estilo Chen, poderia ser outro, o importante é que encontrei na minha busca o que hoje sei, um TCC autêntico, o que me tranquiliza e me faz feliz. Participei dos três seminários do estilo Chen com o prof. Niall O`Floinn realizados em Curitiba e estou participando do curso de Formação de Instrutores de Taichichuan, na Escola Paramitta. Mudou muito nesses últimos anos e aos que hoje começam a dar aulas, ou que procuram se aperfeiçoar, tem a disposição material de estudo, acompanhamento de professores capacitados, informações e facilidades, que há tão pouco tempo não existia. O que é uma vitória.

No início, como professora, não aprendi didática nenhuma e nem qual seria a melhor, criei a minha própria, a partir de cada aluno, a partir da busca de cada pessoa. Cada uma traz consigo uma bagagem de vida e expectativas e cada um aprende de acordo com essa bagagem, seja a idade, saúde, nível de conhecimento, cultura e condição física. Aprendi que aprender TCC é igual para todos, ou seja, complicado, e nos tornamos iguais, e essa dificuldade une os praticantes, assim como a alegria por conseguir, por desenvolver os movimentos. Eu transmitia o que eu vivia como o meu Taichi, o resultado da minha prática, os benefícios e a alegria que eu sentia. Tive o prazer de numa turma ter um aluno de 15 anos, um de 22 anos, várias senhoras e algumas vovós, uma com 83 anos, ao todo eram vinte e sete alunos. Sempre desejei profundamente que o aluno, o ser humano ali presente pudesse se beneficiar por aprender e praticar TCC. Perceber nos alunos o contentamento, o progresso ao executarem sozinhos os movimentos, não tem preço. Sou grata a todos por confiarem no meu trabalho, muitos alunos se tornaram amigos, muitos deles grandes amigos para a vida toda, tenho certeza, estão no coração.

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

37


Muitas pessoas passaram pelas aulas na Cidadania, que é lugar de passagem. A semente do Taichi foi espalhada. No começo existia um grande desconhecimento e muito preconceito do que seria o TCC. Todos os anos eu solicitava junto a administração autorização para usar o espaço, que é publico, porém eu fazia questão. Lembro que alguém perguntou se eu usaria panos pretos e velas nas aulas, e eles não admitiriam confusão. Eu garantia que não aconteceria confusão, pelo contrário, por ser uma prática pacífica, a cidadania se beneficiaria. E sempre foi assim. Dei aulas ali até o final do ano de 2011. Neste ano de 2012, o Dia Mundial será comemorado na Rua da Cidadania, em parceria com a prefeitura, e a data faz parte do calendário oficial de eventos de 2012 da Secretaria Municipal de Esportes. Vitória da prática pacífica do TCC. Atualmente estou presidente da AIPT, que é uma associação de praticantes de TCC, e desde o meu início no Taichi serviu como referência, fonte de busca, e seu lema “para os que buscam um caminho natural, de paz e equilibrado”, sempre me acompanhou. Estamos crescendo e nos estruturando e com muito trabalho a ser feito. Vejo ainda uma grande distância entre muitos praticantes e também entre

38

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

e criativa, na qual a sociedade progredia e espiritualizava-se. Esse idealismo surgiu a milhares de anos na China, e estavam a procura da mais elevada forma de vida para o corpo e a mente. Assim nasceu a doutrina do Taichi.” O autor conclui dizendo: “Essa é a nossa herança”. Praticamos o estilo com o qual cada um se identifica, e temos em comum a história e a essência do TCC. Acredito que temos um grande tesouro nas mãos. Por mais que digam que é utopia da minha parte sonhar assim, não me importo, enquanto posso sonhar, sou impulsionada e movida para frente e não permito que me tirem a alegria, que é meu combustível e minha força. Ah sim, a artrose? Chamada popularmente de bico de papagaio, digo que eles voaram, foram libertados pela flexibilidade e suavidade da prática do taichi. Professora Elli Nowatzki ellitaichi@gmail.com Presidente da AIPT

www.aipt.org.br

Foto: Acervo LL

Professora Elli Nowatzki com o Shi Fu Niall O`Floinn. Foto: Acervo LL

professores, o que tem diminuído graças a internet, revistas e informativos, mas ainda é pouco. Falta união e reconhecimento de propósitos em relação ao trabalho com o Taichi, infelizmente existe egoísmo, disputa de quem é melhor, e isso não condiz com a prática, porém somos humanos, falhos e precisamos aprender. Meu sonho ou desejo é que a AIPT seja um lugar, um espaço onde praticantes de TCC se reconheçam iguais enquanto buscadores do caminho de equilíbrio, da paz, da saúde, da harmonia com o todo. Que seja um espaço de acolhida fraterna aos que através e com o TCC buscam o desenvolvimento humano e espiritual, onde as diferenças sejam respeitadas e que acrescentem e complementem para a construção de um mundo melhor. Que possamos trabalhar mais em prol do desenvolvimento do Taichi para beneficiar a sociedade na qual estamos inseridos, o que estamos fazendo com o Projeto Taichi nos Parques e Praças, com a adesão voluntária de vários professores. Apoiamos os cursos de capacitação, seminários, visando o aprofundamento e o estudo para aqueles que desejam evoluir e também trabalhar de forma responsável com TCC. Muitos tênis ainda precisam ser gastos, muita persistência, paciência e muito amor no coração precisa ser cultivado, só assim levaremos aos outros a verdadeira prática do Taichi. Na história da humanidade, grupos afins sempre se reúnem para compartilhar suas experiências, suas vivências, trabalhar pela causa, estudar e progredir. Waysun Liao comenta na introdução dos Clássicos dos Taichi, “(...) quando a natureza humana idealizada era estimulada, gerava-se uma civilização extremamente forte


Tai chi chuan - Pratique! Foto: Acervo Estevam Ribeiro

Levis Litz Tai Chi Chuan no Parque Lage em visita ao Rio de Janeiro www.TaiChiCuritiba.com.br

Foto: Acervo Angela Freitas

Angela Freitas Espada Tai Ji Centro de Filosofia Taoísta e Terapias Orientais Sorocaba, SP www.angela-freitas.com

www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

39



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.