REVISTA
desde 2009
Tai Chi Brasil
Foto: Acervo/ Sergio Luiz Villasboas.
Edição nº 18 - Distribuição gratuita e dirigida - www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
O professor Sergio Luiz Villasboas recebeu em 2007, da Câmara Municipal de Niterói, RJ, a Moção de Aplausos pela organização do Dia Mundial do Tai Chi e Chi Kung e em reconhecimento às suas importantes contribuições para a saúde pessoal e mental dos seus praticantes.
Tai Chi Chuan em Saquarema - Pratique! O professor Marcelo Ramalho ministra aulas de Tai Chi Chuan em Saquarema, sendo o único representante do Instituto Cultural Emei Shan em toda a Região dos Lagos. A técnica alivia tensão, melhora a respiração, concentração e proporciona mais equilíbrio para as atividades cotidianas. Contatos com o professor: Tel: (022) 9760-4445.
Tai Chi Chuan no Brasil - Pratique! A AIPT não é uma escola de Tai Chi, é uma associação, sem fins lucrativos, que ajuda a promover e a divulgar o Tai Chi em geral e suas escolas e grupos. Filie-se a AIPT e ajude a divulgar o Tai Chi você também!
WWW.AIPT.ORG.BR
Revista Tai Chi Brasil
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Curitiba - Paraná - Brasil Edição nº 18 | 2013 - Desde 2009 ® Todos os direitos reservados Registro nº 401.197 4° ofício de registro de documentos
Editor: Levis Litz CAPA Prof. Sergio Luiz Villasboas
Conteúdo 5 Entrevista com o Professor Sergio Luiz Villasboas Levis Litz 12 Tai Chi Chuan em Campo Mourão
Anderson Rosa
15 Wude - Código de Ética e Moral
Colaboraram nesta edição Anderson Rosa, Geraldo Cerqueira, Sergio Luiz Villasboas, Estevam Ribeiro, Levis Litz, Marcelo Ramalho e Roque Severino. Agradecimentos CXWTABR, Equilibrius - Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental, Escola de Tai Chi Paramitta, Espaço Bem-Estar, Fotos e Rumos, Asociación de Wushu & TaiChi LongHuQuan, Grupo Tai Chi Curitiba, TaoChia - Terapias e Artes Marciais e Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan - SBTCC. Revisão Valesca Giordano Litz | Viviane Giordano Contato revistataichibrasil@hotmail.com Jornalista responsável levis litz - mtb 3865/15/52v pr Distribuição gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações voluntárias gratuitas. Foto com pouca definição é de responsabilidade do autor. Não são de responsabilidade desta revista os artigos de opinião e também as opiniões emitidas em entrevistas e depoimentos, por não representarem, necessariamente, o pensamento do editor. Por questões de espaço, objetividade e clareza, a equipe editorial reserva-se o direito de resumir os textos recebidos.
Roque Severino
18 Seminário em Salvador com o grão-mestre Li Wing Kay Geraldo Cerqueira 20 Viagem a origem do Tai Chi Chuan Estevam Ribeiro Telhados em Wudang, China. Fotos: Levis Litz
Editorial
Tai chi na pauta com qualidade
Já está mais do que comprovado que a prática do tai chi chuan com qualidade permite que grupos e escolas possam fazer brasileiros melhores, com boa saúde e qualidade de vida. Com a ideia de trilhar um bom caminho, escolas, linhagens, associações e professores fomentam preceitos que incentivam seus alunos e praticantes. Nesta edição publicamos a última parte do importante código de ética e moral - Wu De, apresentada pelo professor da linhagem Yang Roque Severino. Temos também o primoroso relato do professor da linhagem Chen, Estevam Ribeiro, sobre sua estadia na Vila Chen. Enfim, a Revista Tai Chi Brasil continua engajada com o compromisso de ajudar o leitor a compreender melhor o tai chi chuan que se expande por nosso país. Um grande abraço, Levis Litz o editor
RTCB - Também no FaceBook Revista Tai Chi Brasil
. website: www.RevistaTaiChiBrasil.com.br . e-mail: revistataichibrasil@hotmail.com Editor - Levis Litz
. e-mail: levislitz@gmail.com, levislitz@hotmail.com . na internet: www.TaiChiCuritiba.com.br | www.FotoseRumos.com ---------------------------------------------------------------------------------------------
Curitiba - Paraná - Brasil
4
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Entrevista
Professor Sergio Luiz Villasboas
Revista Tai Chi Brasil (RTCB) – Como foi o seu envolvimento com as artes marciais? Sergio Villasboas (SLV) – Comecei a praticar Arte Marcial aos 9 anos de idade, com o Judo, Arte que, mesmo sem praticar há bastante tempo, gosto muito e até hoje costumo acompanhar os campeonatos. Naquela época, e acho que até hoje é mais ou menos assim, era comum os pais colocarem os filhos, meninos, para praticar Judo para “acalmar” ... “descarregar a energia”. O meu caso foi por aí. E lá se vão 50 anos! De qualquer forma, acho mesmo o Judo ideal para as crianças serem iniciadas nas Artes Marciais. RTCB – Você praticou outra arte marcial além do Tai Chi Chuan? SLV – Pratiquei Judo até minha adolescência, já adulto pratiquei Aikido por alguns poucos anos e o Tai Chi Chuan. RTCB – Como o Tai Chi Chuan entrou para a sua vida? SLV – Depois que comecei a praticar o Aikido, o meu primeiro contato com as Artes Marciais “internas”, comecei a me interessar mais sobre o assunto. Passei a buscar mais informações sobre o assunto: ler, conversar, estudar e pesquisar, tanto sobre o Aikido, mas também sobre as Artes Marciais em geral e, em especial, as Artes Internas. Foi isso que despertou minha admiração e meu interesse pelo Tai Chi Chuan, que comecei a praticar em 1995 e ao qual me dedico até hoje. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
5
RTCB – Qual é o estilo de Tai Chi Chuan que você pratica? SLV – Pratico o estilo tradicional da Família Yang e também algumas formas padronizadas do chamado “estilo de Pequim”. RTCB – Como você entrou em contato com esse estilo de Tai Chi Chuan? SLV – Comecei no Tai Chi Chuan aprendendo a forma longa do estilo Yang e a forma simplificada de 24 posturas. Mais tarde, comecei a participar de seminários com os Mestres Yang Zhenduo e Yang Jun, com quem aprendi o estilo tradicional da Família. RTCB – Como foi conhecer o grão-mestre Yang Zhenduo e o Mestre Yang Jun? SLV – Meu primeiro contato com o Mestre Yang Jun foi no ano 2000, num seminário em São Paulo, quando também conheci pessoalmente o Roque e a Angela Socci. Já o Mestre Yang Zhenduo eu conheci no ano seguinte, num seminário no Rio de Janeiro. Quanto às impressões que eles me deixaram nesses primeiros e nas demais vezes que tive contato com eles, foram as melhores possíveis. É uma experiência primorosa receber seus ensinamentos
6
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
diretamente. Mas, voltando ao primeiro contato com cada um deles, se eu tiver que destacar o que mais me chamou a atenção, a marca que ficou na memória foram as seguintes: a perfeita combinação de precisão com suavidade dos movimentos do Mestre Yang Jun e a inigualável simpatia e didática do Mestre Yang Zhenduo. RTCB – Alguém da sua família também pratica Tai Chi Chuan? SLV – Minha esposa foi minha aluna por algum tempo. Ela praticou até o oitavo mês de gravidez da nossa filha, quando teve que interromper. Desde então, o acúmulo dos afazeres de mãe, dona de casa e professora ainda não permitiram que ela retomasse a prática. Já minha filha, hoje com 10 anos, apesar de nunca ter feito nenhuma aula “formal”, as vezes, em casa, quando me vê treinando, espontaneamente ela começa a fazer junto, me imitando, e sempre que faço alguma aula pública ela participa ativamente. RTCB – Você já participou de algum campeonato Tai Chi Chuan? Onde e quando? Citar no máximo 5, se for o caso. SLV – Não.
RTCB – Você considera importante praticantes de Tai Chi Chuan participarem de campeonatos? SLV – Não. Eu não encaro o Tai Chi como um esporte de competição, na verdade, não o encaro nem como um esporte. Mas esta é a minha visão. Não tenho nada contra quem participa de campeonatos, mas não é a minha “praia”. RTCB – Houve algum momento engraçado que você tenha presenciado na prática do Tai Chi Chuan? SLV – Engraçado não, pelo menos na vida real. Mas, nos YouTubes da vida, a gente vê muita coisa engraçada, né? (risos) RTCB – Por que, na sua opinião, as pessoas deveriam praticar Tai Chi Chuan? SLV – Independente do aspecto marcial, das técnicas de defesa pessoal, os praticantes de Tai Chi Chuan, comprovadamente, apresentam características de saúde diferenciadas. Ele proporciona às pessoas um equilíbrio geral, através do fortalecimento do Ser, melhorando sua saúde e ajudando a atingir um nível adequado de satisfação pessoal, o qual refletirá positivamente nos mais diversos setores de seus relacionamentos e atividades pessoais, familiares, profissionais e sociais. RTCB – Qual é a principal qualidade que um praticante de Tai Chi Chuan deve desenvolver? SLV – Autocontrole. RTCB – Poderia citar algum momento marcante ou emocionante na sua vida que envolveu Tai Chi Chuan? SLV – Quando, em 2007, recebi da Câmara Municipal de Niterói, a Moção de Aplausos “pela organização do Dia Mundial do Tai Chi e Chi Kung e em reconhecimento às suas importantes contribuições para a saúde pessoal e mental dos seus praticantes”. Diploma esse que faço questão de dividir com todos os praticantes de Tai Chi Chuan. RTCB – Por que, de modo geral, as pessoas procuram o Tai Chi Chuan atualmente? SLV – Pelo que venho acompanhando, hoje em dia a grande maioria das pessoas procuram o Tai Chi Chuan por questões de saúde e qualidade de vida. Eu, por exemplo, tenho mais de um aluno que vieram por indicação médica.
RTCB - Algumas pessoas utilizam livros e vídeos para aprender Tai Chi Chuan justamente por não haver professores em suas localidades, qual é a sua opinião a respeito? SLV – Qualquer bom livro é sempre bem vindo, assim como um bom filme. No caso do Tai Chi Chuan, encontramos nos livros a história, a filosofia e a teoria geral, importantes para complementar nosso aprendizado prático, acho válido. Estudar nunca é demais. Nos vídeos podemos observar detalhes de posturas e movimentos, de forma a ajudar o nosso treinamento extra aula. Mas com bastante cuidado! Tem muita “bizarra” dando sopa na internet. Entendo que, por melhor que seja o livro ou o vídeo, eles não tem como substituir o Professor. RTCB - Em locais onde há professores, qual é a relevância da presença do professor no aprendizado do Tai Chi? SLV – O Professor é o guia. Ele não transmite apenas as técnicas. Ele tem por função orientar o aprendizado do aluno em vários aspectos, inclusive no próprio ritmo do aprendizado. Ele já trilhou esse caminho e, por isso, saberá o momento certo de ensinar cada coisa. No caso de ter alunos crianças, a responsabilidade do Professor é maior ainda, pois ele participa da formação do caráter do aluno e este deve aprender que luta não é briga, que o artista marcial tem que ter autocontrole para não se deixar levar pelas emoções negativas e usar sua técnica para agredir os outros. RTCB – Há pessoas que pensam que o Tai Chi Chuan é uma atividade somente para a terceira idade, o que você acha? SLV – É também, por que não? Afinal, faltam poucos meses para eu chegar lá (risos). Mas não apenas para idosos, é também para crianças, jovens e adultos, homens e mulheres. O Tai Chi Chuan é bom para todos! RTCB – Você já precisou utilizar as técnicas do Tai Chi Chuan como auto-defesa? SLV – Sim, mais de uma vez, mas nenhuma em uma situação de combate. Uma delas foi assim: estava andando na calçada de uma rua bem movimentada, com muito comércio, na zona sul de Niterói, quando, ao chegar em uma esquina, me deparei com uma mão vindo rapidamente na direção do meu rosto. Só depois entendi que o dono daquela mão tinha apontado a direção de um local para outra
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
7
pessoa que lhe tinha perguntado. Provavelmente eu iria levar uma “dedada” no olho. Naquele momento, por puro reflexo, executei, sem pensar, o movimento “mover as mãos como nuvens” com uma velocidade e precisão tal que cheguei a me surpreender, fazendo com que, ao tocar no braço do homem, o fiz girar, desequilibrando-o a ponto de ter que escorá-lo, colocando as mãos nos seus ombros. Ele me olhou surpreso, sem entender de imediato o que tinha ocorrido. Depois me pediu desculpas. Falei que estava tudo bem e segui o meu caminho. RTCB – Como foi a sua experiência como co-fundador da Federação de Wushu e Kungfu Tradicional do Estado do Rio de Janeiro? SLV – Com sinceridade, e por mais incrível que isso possa parecer, não sei lhe responder essa pergunta. As federações esportivas (ou desportivas), de um modo geral, são entidades privadas constituídas por clubes, associações e instituições esportivas, sendo sua função essencial para o desenvolvimento do desporto nacional, em especial no percurso da alta competição. Tem, portanto, como objetivo principal, entre outros, organizar e regulamentar as competições da respectiva modalidade, arbitragem etc. Ao ser convidado para participar da criação da FWKTERJ, de início relutei, tendo em vista a minha visão sobre o Tai Chi Chuan, mas acabei aceitando, dada a argumentação de outros professores amigos. Mas não posso negar que quase não participo das atividades da Federação.
8
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
RTCB - Há instituições que propagam que Tai Chi é Kung Fu e também há campeonatos de Kung Fu em que o Tai Chi Chuan é classificado como uma categoria. Na sua compreensão, seria correto ou não afirmar que Tai Chi Chuan é um estilo de Kung Fu? SLV – Na minha opinião, a confusão começa no próprio entendimento do que seja Kung Fu, do significado desse termo. Então, para facilitar esse entendimento, vejamos sua composição:
Kung = Obra + Força = Mérito | Fu = Homem + Grande + Céu = Mestre Kung Fu = Maestria, grande habilidade aquirida com mérito e esforço
Portanto, vemos que Kung Fu não é uma Arte Marcial ou um tipo ou técnica de luta. Há um equívoco na utilização desse termo no Ocidente. Daí, não pode ser o Tai Chi Chuan um estilo ou categoria de Kung Fu. Assim como, por exemplo, o Wing Shun, o Hung Gar e também o Judo, o Aikido etc. O Tai Chi Chuan é uma Arte Marcial em si.
RTCB – Como você vê a diferença e SLV – Niterói foi a cidade pioneira no relação entre praticantes populares regulares de Brasil na comemoração do Dia Mundial do Tai Chi Tai Chi Chuan do dia-a-dia e os que participam e Chi Kung. Aquele primeiro evento, em 2000, foi em campeonatos oficiais das federações e organizado pelos professores Marcus Maia e Chang confederação? Whan, dois bons amigos e parceiros. Os eventos SLV – Quem compete é atleta. E o treinamento dos primeiros anos foram informais, encontros de um atleta é diferente do treinamento de um não “domésticos”, contando com a participação de atleta. Os objetivos são outros. O atleta treina para poucos grupos “locais”, quando alguns professores se superar e para superar os outros competidores, o da cidade reuniam seus alunos e se juntavam para que não é o caso do praticante não atleta. Este treina praticar naquela data. Esses primeiros encontros foram para se aprimorar, para se desenvolver na Arte. Seu realizados no Parque da Cidade de Niterói. Um lugar objetivo pode ser realmente a prática de uma arte lindíssimo e tranquilo, no alto de uma colina, mas marcial como uma técnica de defesa pessoal, ou longe do grande público. Em 2003, contamos com a simplesmente o de praticar uma atividade física, para participação de outros grupos do Rio de Janeiro e o combater o sedentarismo, um auxílio terapêutico, número de participantes aumentou significativamente. um estilo de vida etc. A partir de 2004 transferimos Consequentemente, o foco é o evento do WTCQD para outro. “O Tai Chi Chuan o Campo de São Bento, um grande e bonito parque no nos ensina muitas coisas, nos RTCB – O Tai Chi maior bairro da zona sul Chuan está tendo um grande reeduca. Com ele reaprendemos a da cidade, quando fizemos, momento no Brasil e no respirar, corrigimos nossa postura, efetivamente, nosso primeiro mundo, o que você pensa grande evento, com o apoio da “desaceleramos” nosso ritmo disso? prefeitura e a participação de SLV – Acho ótimo. de vida etc. Isso tudo influencia diversos Grupos de praticantes Já era tempo! Vemos, cada diretamente não apenas a nossa de vários municípios do estado. vez mais, pessoas praticando Desde então nossos eventos Tai Chi Chuan. A internet vida, mas também a forma como do WTCQD são realizados lá, ajudou muito nesse processo. a encaramos. Ele pode realizar tendo em média a participação Mas ainda falta muito. Ainda uma transformação radical na de, aproximadamente, 200 temos muita coisa a fazer praticantes, de 16 a 20 grupos, para divulgar ainda mais e nossa existência. Para melhor!” e um público médio de 1500 popularizar de vez o Tai Chi pessoas. Chuan por aqui. Em 2007 foi promulgada a Lei Municipal, de autoria RTCB – Você é co-criador do World Tai do Vereador Carlos Magaldi, que reconheceu o Dia Chi & Qigong Day, poderia nos falar a respeito, o Mundial do Tai Chi e Chi Kung como data oficial em início, a ideia e como está sendo esta experiência? Niterói, passando a constar no Calendário Esportivo SLV – A criação do Dia Mundial do Tai e na Agenda Cultural da cidade. Contamos nos Chi e Chi Kung, em 1999, pelo professor nortenossos eventos com o apoio da Secretaria Municipal americano Bill Douglas, foi um marco importante de Esportes e do Restaurante Buzin Icaraí e a para a propagação do Tai Chi Chuan e do Chi Kung colaboração do Vereador Magaldi. Mas o que eu no Ocidente. Já no ano seguinte - 2000, foi realizada acho de mais legal no nosso evento em Niterói é que a primeira celebração do WTCQD no Brasil, aqui ele é aberto. Podem participar quaisquer grupos, de em Niterói – RJ, onde até hoje, anualmente, fazemos qualquer tamanho, de qualquer cidade, para apresentar um belíssimo evento. Para mim, é uma honra e um o Tai Chi de qualquer estilo ou linhagem. A proposta privilégio participar dessa história. é apresentar o Tai Chi em sua essência e plenitude, com suas inúmeras variações, sem estrelismos nem RTCB – Como é a experiência de ser o competições. Um encontro anual de confraternização, organizador do “Dia Mundial do Tai Chi e Chi onde os professores, alunos e praticantes em geral Kung” em Niterói? www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
9
possam trocar experiências e enriquecer seus conhecimentos e o público admirar a beleza e grandiosidade do Tai Chi Chuan. RTCB – Como professor de Tai Chi Chuan, como foi a sua experiência nesse sentido? SLV – Acho que, sem querer, respondi boa parte desta pergunta anteriormente. É uma experiência riquíssima. Sinto-me recompensado e gratificado ao término de cada evento. RTCB – O Tai Chi Chuan, além de ser a sua profissão, influencia em sua vida pessoal, como? SLV – O Tai Chi Chuan nos ensina muitas coisas, nos reeduca. Com ele reaprendemos a respirar, corrigimos nossa postura, “desaceleramos” nosso ritmo de vida etc. Isso tudo influencia diretamente não apenas a nossa vida, mas também a forma como a encaramos. Ele pode realizar uma transformação radical na nossa existência. Para melhor! RTCB – O que o motivou a criar o site: “Taochia – Terapias e Artes Orientais”? SLV – Essa história é curiosa. O site surgiu a partir das minhas anotações para estudo. Sempre estudei escrevendo e, com isso, cultivei o hábito de anotar tudo o que acho importante. Ao começar a organizar e passar a limpo essas anotações, me veio a ideia: por que não colocar isso num site para compartilhar essas informações? E, assim, surgiu meu primeiro site: www.taorientais.hpg.com.br, em hospedagem gratuita. Isso foi lá nos idos de 2001! Com o tempo, o conteúdo foi se avolumando, comecei e incluir fotos e depois vídeos, então eu tive que registrar um domínio e contratar uma hospedagem. Daí nasceu o site atual: www.taochia.pro.br. Acho que, de certa forma, consegui atingir meus objetivos, descritos na página de entrada do site: “Divulgar a Arte, descrever as técnicas, apresentar nosso trabalho e trocar experiências no campo das Artes Marciais e das Técnicas Terapêuticas orientais”. RTCB – Como, atualmente, são as suas aulas de Tai Chi Chuan? SLV – De um modo geral, minhas aulas são bem flexíveis. Dedico quase metade do tempo de aula à prática de exercícios chineses, principalmente Chi Kung, e o restante do tempo ao Tai Chi Chuan. Junto com a prática eu sempre procuro introduzir a teoria do que estamos aprendendo. É muito comum eu ficar com meus alunos durante um tempo, antes
10
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
ou depois das aulas, conversando sobre os conceitos e fundamentos históricos, culturais, filosóficos e da medicina tradicional chinesa, relacionados ao Tai Chi Chuan, ao Chi Kung e às práticas chinesas que realizamos nas aulas. RTCB - Qual é a média de idade dos seus alunos? SLV – Essa conta eu fiz para responder a pergunta. A média de idade dos meus alunos está em 46 anos. Atualmente, meu aluno mais novo tem 23 anos e o mais velho 72. RTCB - Qual é a sua metodologia de ensino que você utiliza em suas aulas? SLV – Não adoto nenhuma metodologia específica, seguindo métodos e técnicas de ensino pré-definidas. Busco utilizar aquelas que, para um determinado conteúdo, ou num determinado momento ou situação, facilitem e otimizem a qualidade e a motivação no processo ensinoaprendizagem. Oriento meus alunos a Observar – Imitar – Compreender – Deixar fluir, continuamente,
usando como argamassa nessa construção do conhecimento o Repetir...Repetir...Repetir... RTCB - O que você diria para os que querem iniciar a prática do Tai Chi Chuan? SLV – Procure um bom Professor, experiente, reconhecido e que respeite as tradições da sua Arte. RTCB – Qual é o seu conselho para aqueles que pretendem se tornar um professor de Tai Chi? SLV – Creio que essa decisão não é unilateral, apenas do interessado. Na minha visão, a primeira pessoa a identificar se alguém tem ou não condições de, um dia, começar a dar aulas, é o seu Professor, depois de um bom tempo acompanhando o seu desenvolvimento. Entendo que a formação de um Professor começa com um convite e não com uma inscrição espontânea em um curso de formação. RTCB – Qual é a dica para um bom desenvolvimento do praticante de Tai Chi Chuan? SLV – Entender que o aprendizado do Tai Chi Chuan é um processo de longo prazo. Ninguém aprende Tai Chi Chuan de um dia para o outro. Leva tempo. É necessário ter paciência, dedicação, perseverança e disciplina. RTCB – Você acha importante que os leitores do Brasil tenham uma publicação como a Revista Tai Chi Brasil? SLV – Com certeza. Foi uma das melhores coisas que já aconteceram no país para a divulgação do Tai Chi Chuan. Parabéns pela iniciativa e dedicação! RTCB – Você gostaria de enviar uma mensagem os leitores da RTCB? SLV – A saúde é o bem mais valioso; a longevidade a expressão máxima da sabedoria. E o Tai Chi Chuan é uma excelente prática para nos ajudar a alcançá-las.
RTCB – O que você considera relevante ser mencionado sobre o Tai Chi Chuan? SLV – Ensinar o Tai Chi Chuan, assim como qualquer outra coisa, é muito gratificante. Ensinando se aprende. Ensinamos aos alunos e eles nos ensinam. É uma troca constante. Não pode existir mais aquela história do “isso é segredo”, necessária em alguns momentos da história no passado, mas, infelizmente, ainda praticada por alguns atualmente. Temos que ter em mente que conhecimento não se leva para o túmulo, senão, ele morre conosco. Conhecimento e experiência devem ser transmitidos, compartilhados.
TAOCHIA - Terapias e Artes Orientais www.taochia.pro.br Esta página na internet tem o objetivo de divulgar a arte, descrever as técnicas, apresentar o trabalho e trocar experiências no campo das artes marciais e técnicas terapêuticas orientais. Por Sergio Luiz Villasboas: profissional de Educação Física, terapeuta holístico, Mestre Reiki, Shiatsuterapeuta e Professor de Artes Marciais Chinesas.
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
11
12
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Tai Chi Chuan na Argentina - Pratique!
Tai Chi Chuan Estilo Chen em Campo Mourão, Paraná
Por Anderson Rosa
Recentemente, me mudei para Campo Mourão, Paraná por motivos pessoais e profissionais. Ao chegar na cidade, que possui apenas 87 mil habitantes, já fui procurando espaços onde praticar Tai Chi Chuan e onde ensinar. Poucos dias depois, havia achado vários lugares onde poderia praticar em local aberto e percebi também, para minha surpresa, que não havia até entãonenhum professor ou praticante ‘oficial’ de Tai Chi Chuan (até o momentoninguém se apresentou em nenhum dos dois casos). Fui fazendo meus contatos para que pudesse praticar e dar aulas, uma vez que a escassez gera um mercado favorável. Fiz contatos com o SESC, Academias de Ginástica e Colégios Estaduais. Como ninguém na cidade havia sido apresentado formalmente ao Tai Chi, havia um misto de curiosidade e receio sobre a tal prática. Numa das academias, que oferece aulas de box chinês (sanda), MMA e Jiu Jitsu, ofereci a prática como uma forma de preparação física e recuperação de lesões. Muitos praticantes de Artes Marciais Externas acabam sofrendo lesões durante os impactos na sua prática. E essas lesões muitas vezes demoram para serem recuperadas adequadamente, afastando o praticante do seu treino e muitas vezes até mesmo abandona a prática. Outro item que levei em consideração são aqueles praticantes recém-chegados, que desejam praticar alguma atividade física e
pretendem usar esses esportes como uma forma de aliviar o estresse. Muitas dessas pessoas levam uma vida sedentária e se esquecem ou não sabem que é necessário um preparo prévio para esportes que exigem mais do físico. Então, ao começarem uma prática como Box Chinês, por exemplo, acabam considerando muito violento ou muito exigente e percebem que não darão conta da prática, desistindo no final do primeiro mês de aula. Pensando nesses dois casos citados acima, ofereci à academia justamente o Tai Chi Chuan como prática saudável, sem impacto e que pode auxiliar tanto na recuperação de lesões como no preparo daqueles que levam uma vida extremamente sedentária, mas desejam mudar isso. Como o tai chi pode ser praticado em vários níveis de dificuldade, ele permite que essas pessoas comecem em um nível bastante elementar da prática e com o tempo vá adquirindo um preparo melhor, permitindo atingir não apenas a saúde, mas um nível mais aprofundado na prática do Tai Chi Chuan. Esse argumento encontrou uma boa aceitação, pois evita que o aluno se distancie da academia: o iniciante pode fazer uma prática sem tanto impacto num nível inicial e aquele que está se recuperando de uma lesão, pode continuar praticando sem maiores prejuízos. E a academia mantém esses alunos por perto. Além disso, ofereci a prática no ambiente escolar, nas escolas públicas da rede estadual, dando continuidade ao projeto que já havia começado no Colégio Estadual do Paraná 2011/2012. A prática www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
13
voltada à comunidade escolar (alunos, professores, funcionários e comunidade próxima) tem como objetivo divulgar a prática como prática saudável. Ainda no que se refere à educação, ofereci a prática aos funcionários e professores do NRE-Núcleo Regional da Educação de Campo Mourão, uma prática regular duas vezes por semana, e além disso foi oferecido uma capacitação aos professores de educação física das Escolas Estaduais atendidos por este NRE. Com isso, foi realizada no dia 21 de novembro último uma prática de 2 horas para 128 professores da rede estadual de ensino, divididos em 4 grupos que se revezavam a cada 2h com o objetivo de conhecer a prática e levar a mesma para as escolas. Foram atendidos nesse dia 128 professores de 16 municípios e 62 escolas. E semanalmente, a prática ocorre também dentro do NRE, com professores e funcionários participando. A ideia deste pequeno artigo é compartilhar essas experiências, demonstrando que não importa o tamanho da cidade, não importa ser uma Professor Anderson Rosa e o prática desconhecida do público em geral, mas importa na verdade que com ShiFu (Mestre) Niall O`Floinn algum esforço e criatividade, muitas portas podem ser abertas, divulgando a prática do Tai Chi Chuan em todos os espaços onde haja pelo menos um adrenalinkbra@gmail.com http://taichiparana.wix.com/taichipr praticante de boa vontade. Sucesso, paz e compaixão a todos!
14
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
“Wude” - Código de Ética e Moral
(Continuação)
Por Roque Severino
“Não seja impaciente.” A paciência é uma das qualidades mais importantes entre os praticantes de artes marciais e em especial o Tai Chi Chuan. Basicamente nós queremos aprender a lutar,
porque inicialmente queremos bater em todo mundo, nos sentimos injustiçados perante a sociedade, nosso lar, entre nossos amigos. Então começamos a ter ciúmes daqueles que desfrutam de um pouco de mais felicidade que nós. Estes ciúmes nos tornam briguentos e competitivos. Por algum mistério, então procuramos uma escola de artes marciais e alguns de nós encontramos o Tai Chi Chuan, algo lento, quase que parando, outros encontram o Karate e assim por diante. Porém, o que nós não sabemos é que de alguma forma começaremos nossos estudos “apanhando” de nosso mestre e de nossos colegas mais avançados. No Tai Chi Chuan, em especial, nós não apanhamos de alguém, nós apanhamos de nós mesmos, de nossa própria ansiedade, nossa raiva, e todo tipo de fobias que constantemente nos acompanham. Já de início, temos de aprender a nos “aguentar” a nós mesmos assim como nós somos. Então, pouco a pouco, começamos a nos aceitar e aceitar os nossos companheiros de jornada, compreendemos que nossos colegas são seres humanos lidando com seus próprios
problemas. Aprendemos a não nos deixar perturbar pelas dificuldades que aparecem e desaparecem constantemente. No treino solo do Tai Chi Chuan, à medida que vamos compreendendo a forma a ser executada e a tornamos nossa, podemos observar que a suavidade e a continuidade dos seus movimentos são um poderoso instrumento que nos permite resolver os nossos problemas de forma quase que imediata, ao invés de nos fixar neles lhes adjudicando um valor exagerado. O fato de se treinar a “calma no Movimento” é realizar a virtude excelente da paciência que já não é somente uma proposta intelectual, ou um ideal a ser atingido num futuro distante, é a prática da virtude no “aqui e no agora”. Instantaneamente praticamos a paciência, que traz um beneficio a curto e a longo prazo no contexto de sua vida. Quando o aluno pratica a virtude, especialmente uma virtude tão poderosa quanto a paciência, ela infalivelmente resultará em grande felicidade no futuro, o que pode ser chamado a experiência do céu em nosso dia a dia . Através da raiva — cortando os sentimentos dos seus colegas e familiares —, através do desejo egoísta — pensando sobre os seus próprios desejos auto-centrados — e através da ignorância — falhando em entender qual comportamento é verdadeiramente prejudicial e qual é verdadeiramente útil ao ser humano, criará um sofrimento a curto e a longo prazo. O céu e o inferno não são lugares que existem fora de vocês. Ao invés disso, eles são os reflexos da positividade e da negatividade de nossas próprias mentes.
“Compreenda e aprecie a sua fonte de formação, nunca a esqueça ou torne-se ingrato.”
“A ingratidão é filha da soberba.” Miguel de Cervantes
Ao iniciar seus estudos do Tai Chi Chuan junto a um professor credenciado, os alunos encontram, seja nas livrarias como na internet, vasta literatura relacionada ao tema. Esta literatura cria um sentido de que estamos “por dentro” da disciplina que estamos começando a aprender, e que nos permite criar um
sentido de julgamento que nos vai “proteger” dos maus professores. A literatura nos outorga um sentido de segurança de que não seremos “passados para trás” por maus professores, que se utilizam da ignorância alheia para ganhar uns trocos. Este item torna-se necessário para criarmos um sentido de discriminação que nos possibilita uma boa escolha. Porém, dentre todos estes alunos, alguns não conseguem ultrapassar a desconfiança “saudável” e continuam seus estudos www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
15
mantendo esta poluição interna. Após um breve período de aulas, eles começam a comparar o que está escrito nos livros com os ensinamentos dos seus instrutores, criando assim um movimento velado de resistência e descrédito de seu professor. Passam a questionar os movimentos e suas aplicações, a metodologia de aula, chegam tarde às aulas e sob uma pretensa necessidade de apreender questionam o seu professor abertamente, comparando o mesmo com instrutores e mestres que eles olharam em diferentes vídeos, acentuando assim os aparentes defeitos em seu próprio professor. Quando participa de um seminário com o Mestre da linhagem, organiza encontros com seus colegas para falar mal de seu instrutor estabelecendo comparações com o próprio Mestre - sem entender que a atitude de convidar o Mestre para que compartilhe seus ensinamentos com todos os alunos da escola partiu de seu próprio professor, que bem poderia ficar quieto e seguir aprendendo solitariamente na casa do mestre. Então começa uma resistência silenciosa – porque na essência eles são covardes - e uma campanha de descrédito que chega até o momento em que os que pensam como ele abandonam a escola mãe e abrem uma “concorrente”. Este tipo de pessoa é como aqueles eruditos que, lendo um livro, passa a confiar mais na letra impressa do que na instrução oral de “ouvido a ouvido”. O Mestre Kalu Rimpoche diz: “De nada vale ler, estudar muito, e não colocar em prática. Primeiro, ler e estudar, depois, fazer a prática. Nisso, atenção e vigilância são absolutamente fundamentais.” “Lembre-se de que ter orgulho de algum estado alcançado é péssimo. O verdadeiro é tornar-se cada vez mais humilde. Com a prática, observe se sua
mente está sendo transformada ou não. Isso é que realmente importa. Se mudanças positivas não estão ocorrendo, você precisa mudar a sua prática! A prática tem a ver com a mente, e não com o aspecto físico. Independe da idade e da condição física.” Se você for um bom praticante, tendo confiança no Mestre, isso é muito melhor do que ler milhares de textos. A instrução vem de orelha a orelha, diretamente. O Mestre Gustavo Correia Pinto também nos diz: “Quem toma os textos como autoridade final, esquece que as escrituras surgem de experiências vividas e só imperfeitamente conseguem exprimi-las. Livros? A maior autoridade em textos canônicos são as traças. Devoram sânscrito, pali, chinês, tibetano, nenhuma língua viva ou morta lhes é obstáculo. Para elas, nenhum texto é de difícil digestão. Para as traças, há vida nos livros e cada frase é alimento. Textos são um tesouro de Dharma, uma jóia viva para aqueles que estudam para nos ajudar a entender o caminho que tentamos seguir. Mas quando as traças são ambiciosos intelectuais eruditos, o que devoram os envenena com a soberba. Fazem-se Imperadores de palavras e esquecem dos gestos gentis. Arrogamse autoridade pelo irrelevante que decoraram e já nem recordam o que importa. Porque sabem demais, ignoram a verdade simples. De nada valem todos os textos canônicos se a mente não estiver aberta à luz da Compaixão. Por outro lado, quando o coração se abre, lê textos sagrados em toda parte, em livros, nas nuvens que passam no céu, nas pedras que restam na terra.” Tendo esta atitude absolutamente errada, seguramente que não poderá entender esta última dica.
“Finalize o que faz com força, não apenas tenha um sólido início.” Nossa vida inteira é retratada numa simples aula de uma hora. Quantas vezes encontramos aqueles alunos que, ao iniciar seu treino de forma apaixonada, querem fazer cinco aulas por semana, falam maravilhas de que o Tai Chi é o milagre de suas vidas, porém ficam desapontados quando lhe recomendamos fazer somente duas aulas por semana, e após o
16
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
primeiro mês já desistem. O mesmo acontece em todos os campos do nosso viver, quantos sonhos tivemos e quantos realizamos. Quantas viagens realizamos procurando os mestres de nossos sonhos, para que nos ofereçam seus conselhos, mantras, sabedoria, sistemas de sermos felizes de forma instantânea e após um mês de tentativas pífias esquecemos todos os seus conselhos.
Jogamos no lixo do esquecimento e da apatia todo o tempo utilizado criando planos mirabolantes, todas as preocupações e as noites sem sono sonhando acordados de como o Mestre vais nos receber, que palavras vai nos falar, todo o investimento financeiro. Molestamos a todos os nossos amigos que perdem seu tempo de vida nos escutando pacientemente, nossa família ao lhe negar uma pequena ajuda, ainda que seja emocional, aos Mestres que visitamos para lhes pedir uma solução que nos ajude a sair do inferno que nós mesmos criamos. Tudo para quê? Para encontrar alguém que pense como nós… quando não o encontramos simplesmente o descartamos como uma escova de dente usada, e começamos novamente tudo outra vez, incansavelmente molestamos a todos os seres, até que a morte nos surpreende e somente no final descobrimos que nada temos. Como diria um poeta: “o último momento de nossa vida, tornasse o pior momento de nossa vida”. Então, no estudo e treino do Tai Chi Chuan, devemos entender que ele não é somente um treino dentro de uma academia e sim um sistema integral de filosofia e de forma de vida. Concluo aqui com as palavras do Mestre G. C. Pinto, que adaptei ao nosso contexto: “O que, então, significa para nós Ocidentais, ser Instrutor ou Mestre de Tai Chi Chuan? É viver como um aprendiz e servo da Luz que nos chama. Somos crianças sendo educadas pelos Mestres, somos barro sendo pelos espíritos moldado, trilhamos o caminho que nos leva. Nessa via da vida, tudo é sempre perfeito ao ensino à que se destina. Só aprender e servir é que importa. Alegria e dor, triunfo e fracasso, acerto e erro são fugazes quimeras humanas. Aprender sim é real e transforma. O processo de nossa transmutação espiritual está sendo
conduzido pelos Mestres da linhagem pelo Buddha ou como Você quiser chamá-lo desde sempre, através de tudo o que sucede.Nem mantras, nem mandalas, nem sutras, nem rituais, nem zazen ou jejuns podem o que pode a vida, na perfeição da sabedoria que permeia os acontecimentos. Não há outro Mestre senão a Luz de quem Gautama e todos os Santos Mestres foram discípulo e que nos instrui à toda hora, no desafio do que acontece. É na vida diária que estamos sendo treinados. O mundo inteiro é o lugar de prática, o Dojo.”
Prof. Roque Severino Diretor Fundador Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental - SBTCC www.sbtcc.org.br ---------------------------------------------
Bibliografia e-book: O Universo do Tai Chi Chuan. Prof. Roque Severino
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
17
Seminário em Salvador, Bahia, com o grão-mestre Li Wing Kay
Por Geraldo Cerqueira
Nos dias 23 e 24 de Novembro de 2012, o Centro Oriental de Terapias Holísticas, sob coordenação dos mestres e irmãos Alberto e Adilson França, foi realizado em Salvador um Seminário de Chi Kung terapêutico. Tivemos como ministrante o grãomestre Li Wing Kay, um dos mais renomados mestres em atividade no Brasil, com mais de 40 anos de experiência. Conhecido em todo o mundo por sua longa jornada de sucesso e dedicação à Medicina Tradicional Chinesa, sendo graduado no 10º DUAN pela The World Kuo Shu Federation (TWKSF), graduação máxima na América do Sul e reconhecida em 33 países, obtendo o título oficial de grão-mestre. No seminário, foi abordada a história do Chi Kung, seu significado, alguns dos seus estilos, um pouco da Filosofia Chinesa e o mais importante, "Nunca ir de encontro a natureza". O Chi Kung é uma arte muito antiga e poderosa, pois lida com treinamento e aplicação da energia cósmica, que serve para nossas inúmeras necessidades e pode ser utilizado por qualquer pessoa em qualquer idade, independe de religião ou cultura, depois de aprender a filosofia e a prática, só nos resta pôr em prática e viver bem e com saúde.
18
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Fotos Divlugação: Acervo Geraldo Cerqueira
Mestre Adilson França, Sifú Winne Li para a direita. e Mestre Alberto França, da esquerda
Mestre Adilson frança, Grão-mestre Li e Mestre Alberto frança, da esquerda para a direita.
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
19
Viagem à origem do Tai Chi Chuan
Texto e fotos - Estevam Ribeiro
Há trinta e sete anos atrás, em 1975, comecei a praticar a arte do Tai Chi Chuan. Não parei mais desde então. Como em todo estudo prolongado, o caminho, o tao, a pesquisa em si, se torna mais interessante do que os objetivos que vão mudando no decorrer do tempo. A partir de certo ponto tudo toma uma nova dimensão, quando o amadurecimento nos leva a perceber que a cada topo de montanha que conseguimos alcançar sempre nos apresentam a vista de uma cordilheira de outros topos mais altos que teremos para escalar. O que pode parecer desesperador para uns, é motivo de enorme prazer para outros, que encontram no desdobramento infinito da arte a possibilidade de progredir sempre. Um destes topos de montanha do caminho para os praticantes de Tai Chi Chuan se encontra numa.... Planície! Na grande planície do rio Amarelo, no norte da China, onde há mais de seis mil anos nasceu a civilização chinesa. 20
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Um voo sobre a região da Vila Chen
Estamos sobrevoando a planície central do rio Amarelo. Esta terra, habitada pelos chineses há milhares de anos, foi palco de enchentes e secas repetidamente através dos séculos. A vida desta região superpovoada nunca foi, e ainda não é, nada fácil. Aqui viveram as primeiras dinastias Xia, Shang e Zhou, com importantes sítios arqueológicos em toda a região. Aqui também está localizada Chenjiagou, mais um destes milhares de vilarejos. De avião podemos ver que os vilarejos são satélites das cidades maiores, em uma constelação infinita, até onde o olhar alcance. Após pousar em Zhengzhou, fomos diretamente para Chenjiagou. Chegamos ao final do dia ao vilarejo, onde há aproximadamente 370 anos atrás, um militar, Chen Wang Ting, pertencente a um clan de guerreiros, a família Chen, criou a arte marcial do Taijiquan. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
21
22
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Fato até pouco tempo atrás questionado, recentemente foi comprovado por uma equipe multidisciplinar de historiadores e oficializado, através de uma placa fundamental inaugurada pelo governo chinês em 2007, atestando que a arte marcial do Taijiquan (Tai Chi Chuan) nasceu de fato em Chenjiagou . Quando você ama uma arte, procurar suas raízes significa muitas vezes um movimento de redução. Significa se despojar de acessórios e imagens de interpretação, muitas vezes honestos e com valor, mas ainda assim, desdobramentos que no início eram abordados com muito mais objetividade e simplicidade. O Tai Chi Chuan é uma arte que se tornou polivalente e com tantas facetas, que fica fácil perder-se em castelos nas nuvens. Para complicar, o fato de ser uma arte chinesa, cria os maiores mal-entendidos quando traduzimos os seus conceitos mais básicos, sem falar dos mais complexos. Por isso, para mim, professor de Tai Chi Chuan há mais de 3 décadas , chegar a Chenjiagou foi muito importante. Não só por ser a cidade natal de meu mestre, de ser também a cidade natal do estilo que me dediquei, o estilo Chen, mas também e, principalmente, por estar no lugar deste planeta onde uma série de convergências na história da China fizeram nascer a arte do Taijiquan, da qual todos os milhões de praticantes neste planeta desfrutam diariamente. É como chegar à nascente de um rio que, grandes rios como o Amazonas, nascem em pequenas fontes. Além de praticante, gosto muito de história, e a do Taijiquan , com sua mistura de fatos e lendas se entrelaçando, sempre me cativou... Chenjiagou me apresentou o que eu procurava, o que me daria uma nova perspectiva, um denominador comum desta arte que hoje em dia já é praticada em vários países e que, em minha opinião, tem um papel importante a ser explorado no futuro da humanidade. Esta arte, simultaneamente marcial, filosófica e terapêutica nos ensina como é importante cultivar os princípios que definem e qualificam o Tai Chi aplicado através dos séculos, e como podemos continuar a divulgar e transmitir estes princípios, demonstrando esta vocação do Taijiquan enquanto arte global perante a perspectiva da história. Chenjiagou é esta mistura surpreendente de simplicidade e grandiosidade. Este pequeno vilarejo, entre muitos, tem em cada esquina centenas de anos convivendo com mestres e guerreiros, lutas, invasões, mudanças de política e perseverança nesta arte. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
23
Ao pensarmos em termos históricos do Taijiquan, Chenjiagou chega a dar vertigem. Desde Chen Wangting, cada geração produziu vários mestres de taijiquan, dos quais só ouvimos falar dos principais. Mesmo hoje em dia, percebemos que além dos famosos, existem vários desconhecidos de alta qualidade.
A Escola Ficamos na Escola do mestre Chen Xiao Wang, cujo diretor é seu irmão mais novo, Chen Xiao Xing e administrada pelo seu sobrinho, Chen Zhingqian. Chegamos já ao final da tarde e nossa primeira surpresa foi encontrarmos na porta da escola o grão mestre Chen Xiao Xing, irmão do grão-mestre Chen Xiao Wang e diretor da escola da família Chen. No nosso grupo éramos dez brasileiros. Iríamos ficar por oito dias com dois objetivos; tornarmo-nos discípulos (eu e a professora Ana Cloe) do grãomestre Chen Xiao Wang, na cerimônia anual de reverência aos seus antepassados e participarmos todos do workshop anual da Lao Jia (a mais antiga e importante forma de Tai Chi Chuan). Ficamos nos alojamentos da própria escola, que tem quartos grandes e confortáveis, com banheiro, aquecimento e uma vista incrível para o museu do Tai Chi Chuan, assim como para o pátio da escola, que em si é um espetáculo a parte.
Vista do museu do taijiquan, da janela do meu quarto.
24
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Chegamos dois dias antes do workshop, o que nos permitiu adaptarmo-nos ao ritmo do vilarejo. No segundo dia, chegou o grão-mestre Chen Xiao Wang. Ver o mestre Chen Xiao Wang em Chenjiagou é super interessante. Primeiro a fama e reverência que ele goza como imagem pública. Ele é um líder para milhares de pessoas, então, quando ele chega, é sempre acompanhado de uma comitiva de ajudantes, repórteres e admiradores. Mas uma vez que nos viu, fez questão de cumprimentar um a um dos seus alunos e com calma, mostrando-se hospitaleiro e acolhedor. Foi a primeira vez que o vi lá. Já sabia que lá era idolatrado e que seria difícil abordá-lo. No entanto, ele já foi me adiantando uma reunião para o próximo dia. Logo no terceiro dia, tivemos oportunidade de ter a reunião com o grão-mestre Chen Xiao Wang. Ele quis saber se estávamos todos bem e deixamos claro que sim e que nossa felicidade era grande de estarmos ali com ele , aprendendo e ao mesmo tempo sentindo-nos honrados desta oportunidade. Aos poucos iam chegando pessoas de todas as partes do mundo e da China também. E, apesar de não falarmos a mesma língua, estávamos ali pelo Taichi e Tai Chi era o que não faltava.
Pátio da escola com alunos treinando a Lao Jia
Crianças, adolescentes, adultos, velhos, homens e mulheres, chineses e estrangeiros, todos fazendo taichi em todos os lugares, a qualquer hora do dia. Às vezes tarde da noite, como pude presenciar uma vez voltando de um jantar, no escuro pátio da escola, vultos de praticantes silenciosos. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
25
Em Chenjiagou a prática é constante. Pode-se ver, além das grandes escolas, várias pequenas escolas, com cartazes mais modestos, em casas menores, mas todas ensinando Taijiquan estilo Chen. A escola em que estamos é uma espécie de internato para crianças e adolescentes, onde além do Taijiquan outras matérias regulares como matemática, geografia, chinês etc, são ensinadas. É possível ver que o taijiquan é a matéria preferida. Para aquelas crianças, ter sucesso ali é sinônimo de se tornar professor ou treinador e com isto ascender socialmente e poder ajudar seus pais no futuro. Existe uma espécie de comprometimento com a seriedade no estudo e na prática que nos tocou. Quando podíamos observar crianças estudando algumas das posturas que também praticamos, repetindo incansavelmente dezenas de vezes, eu pensava, será que um dia poderíamos ter algumas escolas assim? Com esta seriedade? Segundo o próprio mestre Chen Xiao Wang, ele acha que, como na sua época, havia vários fatores não favoráveis, hoje em dia, com a situação inversa, é mais do que esperado que estas gerações alcancem níveis superiores de Taijiquan. A escola, os alojamentos e o museu do Tai Chi junto com o prédio da administração formam um grande quarteirão, que são o centro das atenções do vilarejo.
O portal, a escola e a entrada do museu.
O museu Ao contornar este quarteirão podemos ver, pintados no muro externo do museu, dois símbolos fortes do Taijiquan; Fuxi e a Lao Jia Fu Xi ,o lendário imperador que teria inventado os rituais, o cozimento dos alimentos, a pecuária, a pesca e a representar com linhas Yin/Yang oito figuras simbólicas conhecidas como Bagua. 26
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
. Fu Xi teria visualizado estas linhas através da observação das marcas e linhas no casco de uma tartaruga e no dorso de um cavalo-dragão. Ele teria arranjado estas linhas Yin Yang em oito combinações de três linhas, o famoso Bagua do céu anterior.
Nesta representação, Fuxi é envolto pelo Bagua, do céu anterior, nesta pintura formado por uma onda resultante do encontro das águas de dois rios, um com a tartaruga e outro com o cavalo dragão. Esta referência a Fuxi no muro externo é o símbolo da filosofia na qual o Taijiquan se baseia. Ela imita as estampas a partir de baixo-relevos feitos nos vasos de bronze da dinastia Shang. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
27
Ainda no muro externo do museu encontramos a ilustração da Lao Jia Yi Lu.
Atrás de cada postura da Lao Jia podemos ver o Bagua do arranjo céu posterior. Estes dois arranjos correspondem respectivamente; o Bagua do céu anterior de Fu Xi ao mundo das ideias, ou mundo invisível e o Bagua do céu posterior ao mundo tangível das realizações. De autoria do rei Wen, que teria sido co-autor do Yi Jing junto com Fu Xi e posteriormente Confucius (o nome do rei Wen também significa linhas, escrita, cultura), este bagua representa a influência energética cíclica dos trigramas nos assuntos práticos, como a medicina, o feng shui e o Taijiquan. Em contra partida, o Bagua de Fuxi representa o mundo das ideias, posicionado também no muro externo, como uma espécie de talismã que evoca o perfeito equilíbrio das energias, guia e proteção a seus praticantes. A escolha do Bagua do céu posterior como fundo das posturas da Lao jia pontua o fato da Lao Jia ser a realização no mundo real, dos ideais de dinamização do Yin Yang ou Taiji. Dentro do museu, no pátio em frente do prédio principal, novamente encontramos o Bagua do céu posterior. Desta vez pontuando a função prática de um museu: ensinar, transmitir, preservar. 28
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Antes de chegar no pátio principal, podemos ver na foto acima os três portais. Segundo a guia que nos acompanhou na visita ao templo e museu, cada portal simboliza uma fase na progressão da prática do Taijiquan. O primeiro portal é o da prática e maestria do corpo nas posturas, o segundo da prática e maestria do Qi e o terceiro o da prática e maestria do espírito.
Professora Ana Cloe no terceiro portal, o da maestria do espírito (Shen) www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
29
O museu tem cinco andares, como os cinco níveis (elementos) e fica de frente para o sul, que mostra como tudo foi feito de acordo com os melhores aspectos do Feng Shui.
No terceiro andar são expostos o histórico e características dos outros estilos de Taijiquan além do estilo Chen. O teto é iluminado por um Bagua do céu posterior, pontuando que esta diversificação dos estilos é iluminada por princípios comuns, acima das diferenças naturais entre expressões da mesma arte. O museu do Taijiquan foi uma surpresa para mim. Não esperava por algo tão completo em termos de história, simbolismo, tratado com tanta maestria. Dentro da área do museu também se encontram o templo e o cemitério. No cemitério, onde o ritual de limpeza de túmulo e queima de oferendas é feito, podemos encontrar os túmulos e lápides de Chen Fake e Chen Zhao Xu, avô e pai de Chen Xiao Wang.
O cemitério durante a cerimônia de queima de oferendas 30
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
No templo dos ancestrais da família Chen são feitos alguns dos rituais mais importantes, entre os quais o discipulado.
Na frente do templo se encontra a imagem de bronze de Chen Wang Ting.
Aí também se encontram as lápides de Chen Chang Xing e Chen Xin, entre outros mestres famosos. Neste local tive uma sensação especial. Aqui estava eu, o espírito (shen) de um brasileiro no sec. XXI no único lugar deste planeta que habita os espíritos (Shen) dos grandes mestres de todos os tempos de Taijiquan desde o século XVII ... subitamente me dei conta de que muitos daqueles mestres usaram o Taijiquan como modo de defender o vilarejo com sucesso nos últimos 4 séculos, uma perspectiva difícil de ser imaginada sequer pelos milhões de seres humanos que hoje em dia praticam e desfrutam dos tesouros do Taijiquan. Temos de fazer o possível para que esta arte seja levada mais a sério no ocidente, essa é a mensagem que esta nascente, este chão, este templo nos mostra silenciosamente.
Professores Estevam Ribeiro e Ana Cloe, no templo de da família Chen em frente à estátua de Chen Wang Ting
Ao lado de Chen Wang Ting, em duas grandes lápides, estão escritos os ideogramas Te - potencialidade, virtude; e Wu, guerreiro, no sentido daquele que controla e apazigua a violência. O museu, o cemitério e o templo foram as três maravilhosas surpresas desta estadia.
Estevam Ribeiro 20ª geração, discípulo do grão-mestre Chen Xiao Wang. www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
31
Tai Chi Chuan em Curitiba - Pratique! Tai Chi Chuan Tai Chi Leque Tai Chi Espada Tai Chi Sabre
Grupo Tai Chi Curitiba
Prof. Levis Litz
Espaço Clorofila
www.TaiChiCuritiba.com.br Centro - Curitiba - Paraná