Fungos

Page 1


Os fungos são popularmente conhecidos como bolores, mofos, fermentos, levedos, orelhas-de-pau, trufas e cogumelos-de-chapéu (champignon). Formam um grupo numeroso, composto por aproximadamente duzentas mil espécies, as quais podem se proliferar nos mais diversos tipos de ambiente. Apresentam grande variedade de modos de vida, podendo viver como:

Saprófagos: quando obtêm seus alimentos decompondo organismos mortos.

Parasitas: quando se alimentam de substâncias que retiram dos organismos vivos nos quais se instalam, prejudicandoo ou podendo.

Mutualistas: estabelecem associações mutualísticas com outros organismos, em que ambos se beneficiam.

Predadores: quando capturam pequenos animais e deles se alimentam.


Nos quatro casos mencionados, os fungos liberam enzimas digestivas para fora de seus corpos, as quais atuam imediatamente no meio orgânico em que se instalam, degradando-o e convertendo-o em moléculas mais simples, as quais são absorvidas pelo fungo como uma solução aquosa.

Os fungos saprófagos são responsáveis por grande parte da degradação da matéria orgânica, propiciando a reciclagem de nutrientes. Juntamente com as bactérias saprófagas, eles compõem o grupos dos organismos decompositores, de grande importância ecológica. No processo da decomposição, a matéria orgânica contida em organismos mortos é devolvida ao ambiente, podendo ser novamente utilizada por outros organismos. Apesar desse aspecto positivo da decomposição, os fungos são responsáveis pelo apodrecimento de alimentos, de madeira utilizada em diferentes tipos de construções de tecidos, provocando sérios prejuízos econômicos. Os fungos parasitas provocam doenças em plantas e em animais, inclusive no homem.


Em muitos casos os fungos parasitas das plantas possuem hifas especializadas - haustórios - que penetram nas células do hospedeiro usando os estomas como porta de entrada para a estrutura vegetal. Das células da planta captam açúcares para a sua alimentação.

Dentre os fungos mutualísticos, existem os que vivem associados a raízes de plantas formando as micorrizas (mico= fungo; rizas = raízes). Nesses casos os fungos degradam materiais do solo, absorvem esses materiais degradados e os transferem à planta, propiciando-lhe um crescimento sadio. A planta, por sua vez, cede ao fungo certos açucares e aminoácidos de que ele necessita para viver.


Certos grupos de fungos podem estabelecer associações mutualísticas com cianobactérias ou com algas verdes, dando origem a organismos denominados líquens, os quais são associações simbióticas de mutualismo entre fungos e algas. Os fungos que formam liquens são majoritariamente ascomicetos (98%), sendo o restante, basidiomicetos. As algas envolvidas nesta associação são as clorofíceas e cianobactérias. Os fungos desta associação recebem o nome de micobionte e a alga, fotobionte, pois é o organismo fotossintetizante da associação. A natureza dupla do liquen é facilmente demonstrada através do cultivo separado de seus componentes. Na associação, os fungos tomam formas diferentes daquelas que tinham quando isolados e grande parte do corpo do liquen é formado pelo fungo.

folioso

crostoso

fruticoso

Os liquens apresentam três tipos de talos: o crostoso, o qual é semelhante a uma crosta e encontra-se fortemente aderido ao substrato; o folioso, cujo talo é semelhante a folhas; e o fruticoso, quando o talo é semelhante a um arbusto e se apresenta ereto.

Os esporos formados pelos fungos do liquen germinam quando entram em contato com alguma clorofícea ou cianobactéria. O liquen pode se reproduzir assexuadamente por sorédios, que são propágulos que contém células de algas e hifas do fungo, e por isídios, que são projeções do talo, parecido com verrugas. O liquen também pode se reproduzir por fragmentação do talo.


Os liquens possuem ampla distribuição e habitam as mais diferentes regiões. Normalmente organismos pioneiros em um local, pois sobrevivem em áreas de grande estresse ecológico. Podem viver superfícies de rochas, folhas, no solo, nos troncos de árvores, picos alpinos, etc. Existem liquens que são substratos para outros liquens.

A capacidade do líquen de viver em locais de alto estresse ecológico deve-se a sua alta capacidade de dessecação. Quando um líquen desseca, a fotossíntese é interrompida e ele não sofre pela alta iluminação, escassez de água ou altas temperaturas. Por conta desta baixa na taxa de fotossíntese, os liquens apresentam baixa taxa de crescimento. Os liquens também produzem ácidos que degradam rochas e ajudam na formação do solo, tornando-se organismos pioneiros em diversos ambientes. Esses ácidos também possuem ação citotóxica e antibiótica. Quando a associação é com uma cianobactéria, os liquens são fixadores de nitrogênio, sendo importantes fontes de nitrogênio para o solo. São extremamente sensíveis à poluição, sobrevivendo de bioindicadores de poluição, podendo indicar a qualidade do ar e até quantidade de metais pesados em áreas industriais.Algumas espécies são comestíveis, servindo de alimento para muitos animais.


Devido a popularidade dos fungos comestíveis, é comum a crença de que todo o fungo é macroscópico. Existem, porém, fungos microscópicos, unicelulares. Entre estes, pode ser citado o Saccharomyces Cerevisiae, o qual é utilizado para a fabricação de pão, cachaça, cerveja etc., graças à fermentação que realiza.

Saccharomyces Cerevisiae Os fungos unicelulares designam-se leveduras, são constituídos por uma única célula e apresentam um forma esférica ou oval, com tendência ao agrupamento e a constituição de colônias. Os fungos pluricelulares possuem uma característica morfológica que os diferencia dos demais seres vivos. Seu corpo é constituído por dois componentes: o corpo de frutificação é responsável pela reprodução do fungo, por meio de células reprodutoras especiais, os esporos, e o micélio é constituído por uma trama de filamentos, onde cada filamento é chamado de hifa.

Em geral, a parede celular dos fungos é complexa e constituída de quitina, a mesma substância encontrada no esqueleto dos artrópodes. O carboidrato de reserva energética da maioria dos fungos é o glicogênio, do mesmo modo que acontece com os animais.


Dependendo do grupo de fungos, as hifas podem apresentar diferentes tipos de organização. Nas hifas cenocíticas, presentes em fungos simples, o fio é contínuo e o citoplasma contém numerosos núcleos nele inserido. Fungos mais complexos, possuem hifas septadas, isto é, há paredes divisórias (septos) que separam o filamento internamente em segmentos mais ou menos parecidos. Em cada septo há poros que permitem o livre trânsito de material citoplasmático de um compartimento a outro.

A reprodução dos fungos pode ser assexuada ou sexuada. A reprodução assexuada divide-se em três tipos: fragmentação, brotamento e esporulação. a) Fragmentação: um micélio se fragmenta originando novos micélios. A fragmentação é a maneira mais simples de um fungo filamentoso se reproduzir. b) Brotamento: leveduras, como Saccharomyces Cerevisae, se reproduzem por gemulação. Os brotos (gêmulas) normalmente se separam do genitor, permanecendo eventualmente grudados, formando cadeias de células. c) Esporulação: nos fungos terrestres, os corpos de frutificação produzem, por mitose, células abundantes e leves, as quais são espalhadas pelo meio. Cada uma dessas células, ao cair em um material apropriado, é capaz de gerar sozinha um novo mofo, bolor etc.


No ciclo reprodutivo de alguns fungos aquáticos, há a produção de gametas flagelados, que se fundem e geram zigotos que produzirão novos indivíduos. Nos fungos terrestres, existe um ciclo de reprodução no qual há produção de esporos por meiose. Desenvolvendo-se, esses esporos geram hifas haploides que posteriormente se fundem e geram novas hifas diploides, dentro dos quais ocorrerão novas meioses para a produção de mais esporos meióticos. A alternância de meiose e fusão de hifas (que se comportam como gametas) caracteriza o processo como sexuado. Muitos fungos alternam a reprodução sexuada com a assexuada. Em outros, pode ocorrer apenas reprodução sexuada ou apenas a reprodução assexuada.

De modo geral, a reprodução sexuada dos fungos se inicia com a fusão de hifas haploides, caracterizando a plasmogamia (fusão de citoplasmas). Posteriormente, a cariogamia (fusão nuclear) gera núcleos diploides que, dividindo-se por meiose, produzem esporos haploides. Esporos formados por meiose são considerados sexuados (pela variedade decorrente do processo meiótico). Antes de ocorrer plasmogamia, é preciso que uma hifa "atraia" a outra. Isso ocorre por meio da produção de feromônios, substâncias de "atração sexual" produzidas por hifas compatíveis; em muitos fungos, após a plasmogamia decorre muito tempo (dias, meses, anos) até que ocorra a cariogamia; a produção de esporos meióticos, após a ocorrência de cariogamia, se dá em estruturas especiais, frequentemente chamadas de esporângios.


Classificar os fungos constitui-se em uma tarefa delicada. São mais de quinhentos e quarenta milhões de anos de processo evolutivo, fato que acaba corroborando para o surgimento de inúmeras dúvidas a respeito de sua origem e evolução. Outra razão para a dificuldade na classificação se dá devido aos corpos de frutificação dos fungos, os quais podem ser bastante efêmeros, tornando sua análise complicada. O tipo de classificação mais utilizado e aceito baseia-se principalmente nos tipos de esporos que eles formam. Os principais grupos são: quitridiomicetos, ascomicetos, basidiomicetos, zigomicetos e deuteromicetos.

Constituídos por cerca de 790 espécies, são os prováveis ancestrais dos fungos. A maioria dos fungos desse grupo é aquática e produz esporos com flagelos, chamados zoósporos. Há grande variação morfológica nestes fungos. Muitas espécies são unicelulares, porém, existem várias espécies que formam hifas cenocíticas. Diversos quitridiomicetos são decompositores e outros são parasitas. Parasitam especialmente anfíbios, sendo apontados por alguns especialistas como os responsáveis pelo declínio na população desses animais.


São caracterizados pela presença de estruturas reprodutivas chamadas de ascos. Os ascos são pequenas bolsas na ponta de hifas, geralmente agrupados em corpos de frutificação, formados a partir da fusão de duas hifas. O núcleo diploide no interior dos ascos sofre meiose, formando esporos haploides denominados ascósporos. O grupo dos ascomicetos reúne o maior número de espécies dentre os fungos. Neste grupo há espécies unicelulares, como as leveduras, e espécies que formam hifas.

São os fungos mais populares, pois formam corpos de frutificação (basidiocarpos) muito bonitos – os cogumelos e orelhasde-pau. Os basidiocarpos abrigam os basídios – estruturas produtoras de esporos, chamados de basidiósporos. Os basídios são formados a partir da fusão de duas hifas, formando um núcleo diploide que posteriormente sofre meiose formando os esporos haploides.


Alguns fungos basidiomicetos são comestíveis como o champignon. Outros são extremamente tóxicos ou alucinógenos, como os cogumelos do gênero Amanita. Algumas espécies podem ser parasitas, como os fungos que causam as “ferrugens” que atingem as plantas.

São fungos simples que possuem hifas cenocíticas (sem septos) e que formam zigósporos durante seu ciclo de vida. Os zigósporos são formados a partir da fusão das extremidades de hifas de micélios diferentes, os quais, geralmente, são haploides. Depois da fusão dos núcleos dessas hifas, há a formação de um espessamento da parede celular formando um envoltório rugoso e bastante resistente.

A formação de zigósporos ocorre quando o meio não apresenta condições adequadas à sobrevivência desses fungos (como uma seca, por exemplo). Quando o ambiente volta a apresentar condições adequadas, ocorre meiose no núcleo dos zigósporos, formando esporos haploides que são espalhados pelo vento e ao germinarem dão origem a novos indivíduos. Os fungos zigomicetos ocorrem no solo, sobre matéria orgânica em decomposição (como cadáveres de animais e plantas mortos) ou sobre alimentos. Um fungo bastante conhecido desse grupo é o mofo negro que parece sobre pães e outros alimentos. Algumas espécies de zigomicetos podem também ser utilizadas na produção de alguns alimentos, como o molho de soja (shoyu).


São fungos que não produzem zoósporos. A classificação dos deuteromicetos é artificial, pois não é um grupo monofilético Em muitos deles, a fase sexuada não é conhecida ou pode ter sido simplesmente perdida ao longo do processo evolutivo. De modo geral, reproduzem-se assexuadamente por meio da produção de conidiósporos. A esse grupo pertencem diversas espécies de Penicillium (entre as quais a que produz penicilina) e Aspergillus (algumas espécies produzem toxinas cancerígenas)


No oriente, o consumo de cogumelos ocorre desde a Antiguidade. A popularidade desses fungos vem crescendo gradativamente, espalhando-se por todos os cantos do globo terreste. Mas ainda há dúvidas quanto aos benefícios ou prejuízos à saúde, decorrentes do uso destes cogumelos pelas populações humanas. De aproximadamente dez mil espécies de cogumelos conhecidos, cerca de setecentos são comestíveis. Entre os comestíveis mais comuns, temos: Agaricus Bisporus: Popularmente conhecido como Champignon, são os cogumelos mais conhecidos cultivados e consumidos no mundo.

Lentinula Edodes: Conhecido popularmente como Shiitake, é o segundo cogumelo comestível mais produzido no mundo, estando atrás somente do Agaricus Bisporus.

Pleurotos: Os chamados Shimeji, são conhecidos por suas variedades Pleurotus ostreatus (cinza e branco), Pleurotus Eryngii e também Hiratake. São muito populares no mundo todo por causa do seu sabor, seu alto valor nutricional e sua versatilidade na composição dos mais variados pratos.


Agaricus Blazei: Originário da Mata Atlântica brasileira, tem sido alvo de pesquisas científicas em todo mundo, devido a sua grande quantidade de nutrientes, sendo conhecido popularmente como Cogumelo-do-sol.

Crimini e Portobello: Os criminis são dourados, colhidos quando ainda estão fechados, com as lamelas cobertas por uma espécie de véu; já os portobello são colhidos maduros, com o "botão" mais aberto, apresentando as lamelas escuras e esporos maturados.


Porcini: Seu sabor é descrito como semelhantes ao das nozes e sua textura é lisa e cremosa. O Porcini de Bordeaux, cujo nome científico é Boletus edulis é muito apreciado e o Boletus aereus é o mais raro e, sem dúvida, o mais caro. Enokitake: São cogumelos tenros, delicados, com estipes (talos) brancos e longos, e píleo (chapéu) pequeno e arredondado.

Ganoderma Lucidum: Conhecido como Reishi, é raro, pois não nasce espontaneamente. Existem seis espécies de cogumelo Reish, a mais comum e extensamente estudada e cultivada é a Red Reish (reish vermelho).


Trufa ou túbera: É a denominação genérica atribuída um grupo de cogumelos comestíveis (micorriza) que são subterrâneos. O ascoma, corpo frutificado das trufas são altamente valorizados como alimento.

Desenvolvem-se a uma profundidade de 20 a 40 centímetros abaixo da terra e estabelecem uma relação de simbiose com as raízes de árvores como o carvalho e a castanheira. A trufa, por ser incapaz de realizar a fotossíntese, captura nutrientes das raízes de árvore. Já ás árvores extraem os sais minerais vindos das trufas. Por isso é uma relação de simbiose, pois há benefícios em ambas as espécies. Essa relação associativa é um exemplo do mutualismo que estudamos em outro capítulo deste material.

O nome da casca da trufa é denominado Peridium e sua parte interna é chamada de Gleba, onde contém as sementes que recebem o nome de esporas. Para encontrar as trufas é necessário o auxílio de cães especialmente treinados que conseguem identificar a localização exata aonde se encontra o fungo.


Amanita caesarea: Conhecido como cogumelo dos césares, é nativo do sul da Europa. Tem os esporos brancos e seu nome comum deriva do fato de ter sido um dos cogumelos favoritos dos imperadores romanos. Coprinus comatus: Popularmente conhecido como coprino escabelado, são designados por decompositores pois se liquefazem após a esporulação, fato que lhes concede o apelido de "inkcap" ou tampa de caneta. Lactarius indigo: Facilmente identificável, devido a sua característica cor azul. Pode atingir 15 cm de diâmetro e sua superfície, pegajosa ao toque, tem faixas concêntricas com diferentes tons de azul. A face inferior do chapéu apresenta as lamelas. Inicialmente azuis, com o passar do tempo ficam mais pálidas e manchadas de verde pelo látex que escorre quando são danificadas.


Erinaceus hericium: Conhecido como “juba de leão” tem origem no Hemisfério Norte, principalmente na Europa, Ásia Oriental e América do Norte. Cresce principalmente nas frestas de faia e grandes troncos, podendo também troncos, podendo também ser encontrado em nozesser e encontrado em nozes e árvores árvores frutíferas. frutíferas. Morchella esculenta: Geralmente encontrados sob árvores, é conhecido popularmente como cogumelo esponja. Os corpos frutíferos de Morchella têm uma aparência altamente polimórfica, exibindo variações na forma, cor e tamanho. Gyromitra esculenta: É chamado popularmente de cogumelo cérebro e tem ampla distribuição na Europa e América do Norte, ocorrendo geralmente em solos arenosos, sob árvores de coníferas em meados da primavera ou início do verão. Embora comestíveis, não devem ser consumidos crus, pois in natura podem ser fatais Seu consumo deve ser feito em mínimas quantidades.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.