!MPAR Bauru como você nunca viu
Iniciativa
À Margem
Incógnitas
Ong’s e projetos sociais que fazem a diferença em Bauru
Favelas e condomínos fechados disputam espaços na cidade
Pessoas “invisíveis”; trabalhadores informais e necessários
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Expediente Reitor Julio Cezar Durigan Diretor da FAAC Nilson Ghirardello Coordenador do Curso de Jornalismo Francisco Rolfsen Belda Chefe do Departamento de Comunicação Social Juarez Tadeu de Paula Xavier Professores Orientadores Ângelo Sottovia Aranha Tássia Caroline Zanini Francisco Rolfsen Belda
Endereço Departamento de Comunicação Social Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01 Vargem Limpa, Bauru-SP Telefone: (14) 3103-6000 Ramal: 6063 Suplemento produzido pelos alunos do 4º termo do curso de Comunicação Social: Jornalismo do período diurno da UNESP. Agnes Guimarães Amanda Fonseca Bibiana Garrido Giovana Diniz Heloíse Montini
Lívia Lago Maria Esther Castedo Mariana Amud Marina Moia Tania Rita
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Editorial
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mpar tem como temática central falar sobre os assuntos menos abordados de Bauru, ou menos conhecidos. A intenção é colocar o que, geralmente, é excluído do cenário midiático tradicional. Incógnitas busca histórias não óbvias, mostrar quem faz a diferença e não tem o merecido reconhecimento. Pessoas que parecem invisíveis para o resto da sociedade e
que, como nós, está em busca de ser diferente. Iniciativa traz ao leitor novas propostas de projetos sociais. Nessas páginas todos que buscam novas maneiras de ajudar encontrarão seu lugar. Projetos pouco conhecidos, mas que estão fazendo grande diferença na vida de muitos. A mudança é aqui e agora. À Margem” debate e revela a situação das favelas em Bauru. Através de entrevistas
e pesquisa, conhecemos um pouco do cotidiano de seus moradores, suas dificuldades, o sentimento de afeto que os rodeia e suas reivindicações. Foi como sentir que éramos mais um membro dessa grande família. Alternativa C é um retrato do que acontece no carnaval bauruense, com foco especial para a escola de samba Acadêmicos da Cartola, a maior campeã dos desfiles da cidade.
Iniciativa
“Educar forma cidadãs” Aqui a única regra é ser diferente! A hora da mudança E aí, vamos conhecer?
À Margem
Uma família chamada favela Onde cabe um, cabem dois
Alternativa C
Samba no pé e #partiusambódromo: a Cartola vem aí!
Em Movimento
Um cinquentão de cabelos verde e roxo
Incógnitas
Incomuns, Informais e [In]satisfeitas! “Cê ajuda eu, moça?” Eaí, sou Chapa! Mas peixe pode?
Em Movimento trata do esporte bauruense, com foco no futebol amador da cidade. O time Independência, que está completando 50 anos agora, foi o personagem principal dessa editoria.
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“Educar forma Cidadãs” Entidade bauruense oferece futuro de oportunidades profissionais para meninas de origem humilde
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undada em 1972 pelo Lions Clube Bauru Norte e Lions Clube Bauru Sul, a Legião Feminina de Bauru é uma entidade que oferece programas de atendimento para garotas pertencentes à famílias de baixo nível socioeconômico que buscam um futuro melhor. A Legião executa programas que são voltados à educação profissional além de acompanhamento psicológico e de assistência social. O programa de treinamento dura 12 meses e após seu término
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as jovens são encaminhadas para entrevistas de emprego. A entidade atende meninas a partir dos 15 anos até completarem 17 anos e 11 meses. Entre as atividades programadas estão curso de informática, secretariado, desenvolvimento pessoal e jovem empreendedor ale de workshops de profissões. Como as garotas passam o dia todo em treinamento para o primeiro emprego, a entidade oferece café da manhã, almoço e lanche da tarde. Com o lema “Educar for-
ma Cidadãs”, a Legião Feminina de Bauru já mudou a vida de quase 8 mil mulheres em 42 anos de trabalho. É o caso de Gisele Cristina Quinalha e Emily Carolina Pereira, mãe e filha cujas vidas foram mudadas pela instituição. Jovem de família humilde, Gisele recebeu amparo da instituição há 20 anos. Hoje, com 33 anos de idade, trabalha como auxiliar de escritório. A história de Gisele inspirou a filha Emily que entrou para a Legião em 2009 com 15 anos de idade. Atual-
mente é funcionária efetivada de uma escola em Bauru. É válido ressaltar que as adolescentes inseridas no estágio de aprendizagem da Legião tem como apoio a Lei do Menor Aprendiz juntamente com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e o CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O programa também tem parceria com a Secretaria do Bem-Estar Social, Sebrae/SP, Senac e o projeto Mesas Brasil do Sesc. Lívia Lago
Aqui a única regra é ser diferente! Diversão e aprendizado na formação de alunos, que de deficientes não têm nada!
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uma tarde de sexta-feira, encontramos alguns dos alunos do Lar Escola Santa Luzia Para Cegos fazendo um piquenique. Acompanhado do violão, um antigo aluno anima o encontro enquanto seus colegas dançam embaixo da árvore, fugindo do sol. Lá encontramos Leila Romani, de 40 anos. Destes, dez se passaram com o trabalho de assistente social no Lar. Situada em um bairro afastado de Bauru, perto da Sociedade Hípica, a entidade vai além de seus limites físicos para atender a todos que necessitam de sua estrutura - e que também não podem ou não conseguem chegar até suas dependências. O Lar existe há mais de 40 anos e conta com o total apoio da Prefeitura de Bauru, especialmente da Secretaria da Educação, que contribui com recursos financeiros e também fornece veículos para
o transporte dos alunos. Mesmo assim, Leila afirma que, apesar de todo o apoio, é preciso organizar diversos eventos e festas para conseguir cobrir as despesas. Reabilitação em braille, informática e locomoção com a bengala são algumas das atividades proporcionadas pelo Lar, que apesar do nome, na verdade não é um abrigo, uma vez que os deficientes visuais ficam por lá apenas durante o período da tarde, das 13 às 17 horas. As “turmas” são compostas no máximo por 60 pessoas, sendo que não há um período específico para a habilitação do deficiente, ou seja, o aluno tem a liberdade de decidir quando - e se - está preparado para deixar o Santa Luzia. “Ninguém quer sair, eles acabam criando uma família aqui. A gente não pode criar prazos para os alunos, eles se sentiriam pressionados e não é essa a proposta do nosso trabalho”, compartilha Leila, lembrando-se de vários alunos que, depois de formados, ficaram no Lar como instrutores e/ou professores. Além das atividades oferecinessa categoria é composto exclusivamente por alunos do Santa Luzia, que têm, inclusive, uma parceria com o curso de Educação Física da Unesp de Bauru.
Fotos: Marina Moia das, os deficientes visuais também são capacitados para monitorar os visitantes no espaço do Jardim Sensorial do Jardim
Botânico, que contém plantas medicinais, placas em braille e piso tátil. Outra atividade extracurricular também ganha o co-
5 ração dos alunos do Lar Escola: o esporte. A prática é conhecida como Goalball, esporte criado especialmente para deficientes visuais. O único time bauruense nessa categoria é composto exclusivamente por alunos do Santa Luzia, que têm, inclusive, uma parceria com o curso de Educação Física da Unesp de Bauru.
Durante aquela tarde de piquenique foi possível perceber a harmonia presente na convivência entre as assistentes sociais, psicólogas, professores e os alunos do Lar. É através da socialização com as pessoas, com o mundo, com o esporte e com a música que os alunos conseguem romper barreiras e seus próprios
medos. “Muitos demoram para se identificar como cegos, têm a esperança de voltar a enxergar”, reconhece Leila. Os problemas são vários, de fato. Mas, a família construída no Lar Escola, muitas vezes, chega a ser até mesmo mais importante do que as que ficam dentro de casa, por estarem ali alunos com as mesmas
percepções e vivências no cotidiano. Emocionada, Leila interrompe sua própria fala ao olhar seus alunos, logo atrás de nós: “Eu amo isso aqui”, confessa. Bibiana Garrido Marina Moia
A hora da mudança Estudantes universitários que trabalham pelo próximo Estudar em uma universidade pública é o sonho de muitos, mas realizado por poucos. A vida acadêmica permite aos jovens grandes realizações e oportunidades únicas. Mas, e os outros cidadãos, que garantem a esses poucos jovens ensino de qualidade, o que ganham? Sim, porque são os impostos que mantêm as faculdades públicas. Gabriela Paschoeto pensou muito nessa questão e resolveu que apenas pesquisar, para descobrir novas soluções para a sociedade, não bastaria. Era preciso fazer mais. Criada em ambiente em que o trabalho voluntário fazia parte da
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rotina familiar, a estudante de engenharia da Unesp de Bauru cansou de ficar parada. Resolveu procurar um grupo de estudantes que intermediava ONGs e voluntários. O Centro de Voluntariado Universitário (CVU) era a resposta que Gabriela estava esperando: o meio pelo qual finalmente poderia fazer a diferença. Então, reuniu alguns amigos, que também queriam fazer a diferença, e deram início ao CVU em Bauru. Desde 2011, o CVU funciona em Ribeirão Preto. Em Bauru, o grupo é ainda mais novo: começou em outubro de 2013. Ainda pequeno,
o grupo vem crescendo na Unesp e a ideia é envolver as outras faculdades da cidade e promover o trabalho voluntário. O principal objetivo, e também a maior dificuldade, é formar parcerias com ONGs e instituições de Bauru, nas quais ações possam ser feitas pelos jovens. Em poucos meses, o grupo já arrecadou mantimentos para o projeto Formiguinha, na Pousada da Esperança, e para o Lar Vila Vicentina. Para mostrar que se importam com as crianças e os velhinhos, dedicam um bom tempo a eles. O começo é sempre complicado.
Poucos se interessam por doar seu tempo, mas isso não desanima os estudantes já engajados. Pelo contrário, os estimula a trabalhar cada vez mais e promover o CVU em Bauru, como conta Gabriela. Ela lembra que é preciso só ter vontade, e não dinheiro. Assim, todos podem fazer sua parte. Heloise Montini
E ai, vamos conhecer?
Um lugar onde se aprende a lutar a favor da vida, não contra uma doença
Associação de Apoio à Pessoa com AIDS de Bauru (SAPAB) é uma ONG que surgiu na década de 1980 para atender pacientes portadores do vírus HIV. Na sede da entidade, na vila Falcão, não há nenhuma faixada de destaque ou placa na entrada. É uma casa comum, amarela, como muitas outras da rua, identificável apenas pelo número e por um portão estreito. A casa é simples, prática e humanamente acolhedora - num ambiente onde predominam gargalhadas, olhos nos olhos e muita serenidade, a sisudez ficou apenas para as máquinas de escritório. Ana Paula Ramos Pavão é assistente social da ONG. Está lá desde o começo. Ela conta que a ONG foi criada com o intuito de dar apoio aos pacientes do Centro de Referência de Bauru que precisavam permanecer internados mais por problemas sociais do que clínicos: “Quando aquelas pessoas saíam do hospital, não tinham como retornar a suas casas porque a família estava em choque, tinham medo do contágio”.
No começo, a SAPAB atendia apenas homossexuais, pela grande procura desses pacientes. Depois, abriu espaço para heteros e crianças portadoras por transmissão vertical, quando a mãe passa para o filho na gestação, mostrando que a AIDS não se caracteriza por gênero, cor, religião ou qualquer outro diferencial. Reinserção social Até 2010, a SAPAB atendia apenas pacientes portadores do vírus, quando começou a desenvolver trabalhos específicos para todo o público engajado na causa. Há três programas básicos de atendimento: O Serviço Especial de Proteção Social para Pessoas com Deficiência, Idosos e suas Famílias, que atende diariamente 60 pessoas e suas famílias, cerca de 240 pacientes. Também existe uma equipe domiciliar que atende 15 pessoas em suas próprias casas. O NAP (A Casa Adulto) atende 12 adultos com o vírus HIV vivendo em situação de enfraquecimento ou rompimento do vínculo familiar. “Na Casa, acompanhamos o atendimento, encaminhamos ao médico, minis-
tramos a medicação e reencaminhamos para o mercado de trabalho”, explica Ana Paula. O Lar Social Cori atende cerca de 20 crianças e adolescentes portadores do vírus. As crianças atendidas são encaminhadas pela Vara da Infância e Juventude e acompanhadas por assistente social, psicóloga e pedagoga e depois são reinseridas na comunidadeatravés da saúde, educação, esporte e lazer. Por toda a Vida A SAPAB promove palestras nas escolas e comunidades, num trabalho que visa acabar com o preconceito. Segundo Ana Paula, “trabalhar o preconceito é muito complicado, principalmente com o portador do vírus, porque ele mesmo não se aceita”. Um grupo de apoio psicológico aos portadores ajuda na ministração dos remédios e trabalha contra a ideia da medicação que vai ser tomada pelo “resto da vida”. Ana Paula explica que o importante é incutir a ideia de “remédios que vão ser tomados ‘por toda a vida’, porque a não aceitação quase sempre é recorren-
te”. A troca da expressão “pelo resto” por “por toda” faz toda a diferença na eficácia do trabalho de apoio aos portadores. São explicados os efeitos colaterais, a questão familiar e a vida profissional. “Algumas vezes, o paciente não consegue seguir sua profissão devido aos efeitos colaterais do coquetel”, lembra Ana. Outro problema se refere aos portadores que são dependentes químicos. Nesses casos, a família geralmente abandona, não por causa do vírus, mas pelo vício em drogas. Na SAPAB, é desenvolvido um acompanhamento social para que esse paciente consiga se livrar do vício e se reinserir na família.
Tânia Rita
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Uma família chamada favela Como reflexo da desigualdade social e crescimento desenfreado da cidade, Bauru está atrás de soluções para conter a expansão de favelas
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anta Terezinha, Jardim Nicéia, Ilha de Capri, São Manoel, Jardim Marise ou Parque Jaraguá. Os nomes podem surgir por uma homenagem, localiz a - ção ou apenas uma brinca-
À M A R G E M
deira. Em Bauru não foi diferente. Ao todo, são 19 favelas que fazem parte da paisagem da cidade e nelas, segundo um levantamento de 2010 do IBGE, quase 7.000 pessoas se aglomeram. Os motivos para o surgimento são semelhantes ao restante do país. O êxodo rural, a histórica discriminação e segregação racial, o déficit habitacional, a especulação imobiliária, a desigualdade social e tantos outros fatores se somaram para o nascimento da vida nos morros. O último censo realizado pela Secretaria do Bem Estar Social (Sebes) foi em 2009 e no final do ano passado um novo mapeamento começou. As primeiras casa a receberem os agentes da prefeitura foram da maior favela de Bauru, Ferradura Mirim. O censo irá pesquisar dados sobre os moradores, se fazem parte de programas sociais, averiguar sobre a situação de assentamento, a renda mensal, se idosos moram no local, etc. Também está incluído no projeto a reurbanização das áreas, com um remanejamento dos moradores para novos lares ou se preferirem, no próprio bairro, mas após a completa urbanização e legalmente localizado. A ideia é ter um panorama geral de como está a situação das favelas na cidade, principalmente como seus moradores vivem e de que maneira os programas sociais do governo podem ajudá -los. Um exemplo é a empregada do-
méstica Valéria Silva Donato, 33 anos, que conta com o auxílio do Bolsa-Família. A moradora do Jardim Niceia disse que apesar do recente trabalho feito pela prefeitura, ela ainda sente que as favelas são esquecidas pelo poder público. “Aqui no Niceia já batalhamos muito para termos o bairro certinho, mas sempre há algum problema e sempre que pedimos a ajuda da prefeitura, ela só enrola a gente”, lamenta Valéria. E esse é apenas mais um problema que as favelas carregam. Seguindo os passos do mapeamento, a Sebes também irá trabalhar firmemente para a regularização das áreas. O instituto SOMA já afirmou no sua última pesquisa que boa parte das favelas podem ter sua situação legalizada, entretanto, o foco principal é realocar as famílias que se encontram em locais que ofereçam perigos. De acordo com a titular da Sebes, Darlene Tendolo, as famílas tem a opção de se mudarem para novas residências durante o período de reurbanização da favela e voltar ou permanecerem no local após a regularização. Apesar da inscrição de algumas famílias em programas como “Minha Casa Minha Vida”, os moradores reclamam da concorrência para ganharem uma casa. “Das poucos que conseguiram se inscrever, muitas poucos conseguiram ganhar a casa. Essa disputa desanima a gente, mas fazer o que”, desabafa o pintor Ednei Gonçalves, morador da favela São Manoel. Apesar dos obstáculos, há muita gente querendo melhorar a vida nesses bairros. A ONG AIESEC Bauru irá realizar o projeto, ou jogo como eles dizem, chamado OASIS no Ferradura Mirim. Consiste em revitalizar uma área, criando um ambiente de convivência e aproveitamento da comunidade, com o objetivo daquilo ser
um agente e símbolo de mudança que inspirem a todos. Entre as etapas, estão o planejamento, a criação de um vínculo forte com os residentes, o mão na massa, etc. A previsão é que em março, a comunidade receba os benefícios do projeto. Enquanto os outros bairros esperam por esses “milagres”, algumas pedras começam a serem tiradas do caminho. Algumas soluções, novos problemas Em abril de 2013, quatrocentas famílias se mudaram para o condomínio Três Américas, obra do projeto Minha Casa Minha Vida. Foi o fim de uma espera de muitos anos pelo ara obterem o benefício do governo federal. Meses depois da mudança das famílias, porém, a euforia tinha passado. “Muitos aqui ficaram decepcionados, pois esperavam uma casa de fato, e não um apartamento”, explica Renata da Costa. Ela e Neide Belíssimo são ex-moradoras do Pousada do Esperança, e assumiram a função de síndicas. “Temos dois grandes problemas: a conscientização do morador e a área de convivência”, lamenta Neide. Elas reclamam que os moradores não se acostumaram com a nova rotina, que envolve regras, como respeitar o silêncio e colocar o lixo no local escolhido pelas síndicas. Além disso, muitos não compreendem a importância do pagamento do condomínio. “Temos que pagar a água e outros serviços de manutenção, algo que o condomínio deve cobrir. Nós sabemos a melhor maneira de usá-lo, mas nossos moradores não entendem, e temos alguns casos de inadimplência”, reclama Renata. Mas enquanto os problemas não são resolvidos, é quase unânime, entre os moradores, que o projeto realizou um
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sonho que parecia impossível: “Muitos não teriam condições de ter uma casa própria, e agora o têm, e nossa comunidade é uma segunda família para cada morador”, comemora Renata. Pouca oferta, muita procura O projeto é apenas um pequeno passo para resolver um dos maiores problemas de Bauru: as condições precárias de mais de dois mil e trezentos barracos em dezenove pontos de ocupação, segundo dados da Secretaria do Bem -Estar Social (Sebes). Além dessas regiões, há aquelas que não entram no novo conceito de aglomerados subnormais (classificação para as “favelas”, criada pelo IBGE), mas não garantem a qualidade de vida dos seus moradores, o que justifica as 28 mil inscrições para a segunda fase do programa Minha Casa Minha Vida, da edição de 2013. Há cinco mil moradias disponíveis. Mariana De Campos Fattori é advogada e coordenadora da Comissão de Direito Imobiliário e Urbanístico da OAB de Bauru. Para ela, o projeto do governo federal deveria disponibilizar mais vagas na cidade: “Estamos passando por um momento estranho em Bauru: temos a construção de condomínios de luxo e a chegada de grandes redes hoteleiras, que não possuem tanta demanda quanto a das
moradias populares”, questiona. A advogada acredita que a cidade possui potencial para mais apartamentos do Minha Casa Minha Vida, mas lembra o problema das comunidades irregulares, que não são poucas e ao mesmo tempo contribuem para a continuação do processo de periferização das famílias mais carentes. “Há casos de condomínios construídos ao redor destas comunidades, e quando descobrem que os moradores estão ocupando um terreno que não são deles, além de não poderem resolver o impacto social que possam ter com a chegada do empreendimento, muitas vezes eles são obrigados a abandonar suas casas, e procurar lugares mais baratos e e também irregulares”, explica. É um círculo vicioso que aos poucos o setor público tenta resolver. O projeto Cidade Legal é uma dessas alternativas, mas há casos mais complexos que ainda estão longe de uma solução, como o do Núcleo Fortunato Rocha Lima. Arnaldo Jesus Souza é o representante dos moradores do Núcleo desde o seu início, em meados da década de oitenta, quando três proprietários cederam o terreno para a comunidade. Ele explica que a posse das glebas passou a ser da prefeitura e do CDHU, e nestas transações não houve a regularização das casas, e nenhum dos moradores pode ser considerado dono de sua pro-
priedade. Sobre o problema, Tendolo diz que ele não pode ser resolvido pela prefeitura, já que se trata de uma situação ilegal. Mas Fattori questiona: “Se o setor público não ajuda, a quem estas famílias recorrem?”. Ela sugere a solução encontrada pela prefeitura de São Paulo para prédios do Centro da cidade que, abandonados, foram ocupados por moradores em situação de rua: após a desapropriação dos imóveis, os apartamentos são reformados e depois vendidos a baixo custo para os ex-moradores. Agnes Sofia Cruz e Maria Esther Valdiviezo
Direitos Humanos
· Comissão dos
Assuntos Comunitários: Responsável pela regulamentação de associações de bairro, Fábio Simonetti é o coordenador.
· Comissão de Questões
Imobiliárias e de Desenvolvimento Urbano: A
advogada Mariana De Campos Fattori é a responsável por garantir a manutenção urbana do local onde estão inseridas as comunidades. m encaminhamentos para que os pedidos sejam avaliados pelo setor público.
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Onde cabe um, cabem dois O dia-a-dia da empregada doméstica Eliana revela se ainda existe disputa de espaço entre as favelas e os condomínios fechados de Bauru
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lguns metros e um portão dividem a vida de Eliana e seu trabalho em um condomínio de casas de luxo de Bauru. “Dividir” talvez não seja o melhor verbo pra expressar a diferença social entre esses dois espaços, até mesmo porque Eliana afirma não perceber diferença. “Pra mim acabou sendo bom, eu aprendi muito com o pessoal com quem trabalho.”. Eliana Ferreira é moradora do Jardim Nicéia, bairro considerado humilde por muitos anos, tem três filhos e trabalha como empregada doméstica em um condomínio fechado. Eliana, inicialmente, não sabia o que eu queria retratar. Talvez eu não tenha conseguido expressar bem a ideia, ou o problema que eu buscava não existia mais. A segunda opção foi dada como resposta: “pra mim não incomoda em nada os condomínios estarem aqui por perto, eu tenho amigos em
Foto: Amanda Fonseca sa pra os moradores dos condomínios, não faz diferença a gente estar aqui. Ninguém invade o espaço de ninguém.” A disputa de território entre a comunidade e os condomínios já não é mais enfrentada entre os moradores desses espaços. O muro do condomínio não é mais a divisão entre eles. O problema estar extinto mostra que ele já esteve por ali, incomodou moradores dos dois lados do muro e tentou tirar de suas casas aqueles que tinham menos poder de voz e financeiro. Eliana diz que o problema enfrentado era o “espaço” de um tomado pelo outro, “Antigamente os moradores dos condomínios queriam tirar a favela daqui. Eles queriam ter o espaço deles e que a gente não deixava ter. Espaço entre aspas, era a respeito de roubo que eles se preocupavam, que aconteciam muito logo que os condomínios chegaram por aqui.” A “novidade” gerou más impressões aos moradores do Nicéia. A comunidade que já era considerada carente, também passou a ser violenta, lar de bandidos e insegura para a região. Eliana disse que os moradores dos condomínios, assim que se mudaram para lá, não passavam em frente a comunidade. Davam a volta na cidade só pra não correrem algum perigo naquele caminho. “Uma coisa é certa, todo mundo acaba pagando pelos erros dos outros”, diz a moradora da comunidade.
Os dois lados da moeda Por outro lado, essa primeira impressão foi passageira. “No começo eles (moradores dos condomínios) perguntavam como é morar no Nicéia, se é perigoso, como eu me sinto lá, eles tem curiosidade. E eu falo que não é perigoso, pra quem é de dentro ou de fora do bairro”, conta Eliana. A curiosidade foi deixada de lado por seus patrões, que passaram a frequentar a comunidade nos fins de semana, deixam seus filhos na casa de Eliana. O perigo imposto pelos muros de segurança do condomínio não existem como era imaginado. Entrar em um ambiente desconhecido, interagir com novas pessoas que não tem os mesmo costumes que os de Eliana, também não fez com que o esteriótipo de que “quem mora na favela, é mau elemento” desaparecesse. “Ainda tem um certo preconceito. Porque você não tem amizade com o condomínio inteiro, não é todo mundo que sabe o que você faz. Tanto que nem todo mundo tem coragem de peitar e entrar na vila. A mesma coisa e se eu sair daqui da vila e não conhecer, eu não vou entrar. Eu tenho medo, porque Bauru é um lugar perigoso. É a mesma coisa entre eles.” Mesmo com os pré conceitos existindo, Eliana disse não ter sofrido com eles. “Todos me cumprimentam, conversam comigo, sem ver da onde eu sou. Talvez eu tenha dado
to não seja igual pra todos”. E Eliana é orgulhosa de seu trabalho, do que conquistou a partir dele, diz que não é porque você vem de um lugar considerado carente, que você é carente. “O Jardim Nicéia já não é mais um bairro pobre, era há 17 anos. A partir do momento que você tem água, esgoto, luz, tudo certinho, você se adapta. Mas as pessoas que são acomodadas usam o estereótipo de “coitado” pra serem ajudadas. Por isso que o bairro ainda é considerado humilde”. Como todas as histórias, sempre é possível ver o lado bom e o ruim. Ruim foi terem sido tachados por algum tempo de “bandidos”, “perigosos”. Mas bom foi ter ganhado visibilidade, espaço onde já estavam. “Aos poucos a prefeitura foi passando asfalto aqui nas ruas, abrindo o mato envolta da favela, construíram praça. Os condomínios acabaram valorizando o Nicéia”. Eliana, assim como muitos outros moradores de comunidades, viram uma oportunidade em um ambiente fora da realidade em que vivem, e nem por isso sofreram preconceito. Como a personagem dessa matéria disse em entrevista, “o respeito está na maneira como você trata o outro. A partir do momento que você invade um espaço que não é seu, você dá liberdade para que o outro faça o mesmo”. Mariana Amud
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Samba no pé e #partiusambódromo: a Cartola vem aí! A tradição está firmada e o desfile das escolas de samba promete animar o feriadão de carnaval dos cidadãos bauruenses
No ateliê do barracão as fantasias já estão ficando prontas!
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omeço de ano é sempre o mesmo esquema, festas em família e com amigos, praia, casa da vó, da tia, ou até uma visita ao exterior para os mais sortudos. Depois das merecidas férias, a rotina quase volta a se estabelecer, para logo dar lugar ao feriadão mais esperado do primeiro semestre: o carnaval. A tradição brasileira se tornou internacionalmente reconhecida, e atualmente adquiriu proporções inimagináveis para aquelas pessoas que antigamente apenas “pulavam carvanal” nas ruas e nas praças ao som das lendárias marchinhas. São Paulo e Rio de Janeiro são os pólos dos desfiles contemporâneos de escola de samba, uma das vertentes, ou estilos, da famosa festa brasileira. Com transmissão em rede nacional, os desfiles ga-
nham o coração das celebridades, que festejam em seus camarotes no sambódromo, e também do resto dos brasileiros, que acompanham a comemoração da tevê. Mas para que ficar dentro de casa se o carnaval também acontece na sua cidade? Seja em pequenos blocos carnavalescos, micaretas e outros tipos de festa, sempre tem alguma coisa para fazer! Em Bauru, o desfile das escolas de samba municipais acontece no sambódromo desde o ano de 1991. Antes disso, os blocos carnavalescos já ganhavam as ruas na década de 30. Se engana quem pensa que uma festa acaba com a outra! No ano passado a cidade lanche foi palco de diversas atrações além do tradicional desfile no sambódromo, como o bloco Pé de Cachaça, que passou pela Avenida Nações
Foto: Rodrigo Berni
Unidas arrastando o pessoal, além das baladas em casas noturnas e micaretas universitárias, é claro. Campeão pela décima vez em 2013, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos da Cartola (ufa!) prepara um desfile cheio de novidades para o carnaval que vem aí, tendo como tema principal Bauru e seus personagens. A Acadêmicos da Cartola marca presença nas comemorações bauruenses desde 1976, e, de acordo com Marcelo Madureira, diretor de comunicação da escola, tudo começou com o pequeno bloco carnavalesco chamado Nega Maluca. Ao lado da Coroa Imperial, Águia de Ouro, Azulão do Morro, Tradição e outras escolas de samba da cidade, a Cartola ainda, e infelizmente, enfrenta alguns problemas antes da festa começar. “Nossa maior
dificuldade é justamente a falta de apoio na divulgação dos desfiles”, desabafa Marcelo. Dentre as demais programações culturais do feriado, o sambódromo se inclui sem ganhar o merecido destaque, algo que está sendo mudado aos poucos e depende do interesse público antes de mais nada. O amor pelo carnaval é, sem dúvida, a maior motivação para continuar. “A rotina é dura, não sei mais o que é sábado e domingo faz tempo”, conta animado o diretor, sem tom de reclamação. “Aquela conversa de que sambista é tudo vagabundo anda meio fora de moda”, brinca, em referência à rotina pesada da época. Com ensaios todos os dias, ou melhor, todas as noites, começando sempre às 20h, a Cartola já está no ritmo do samba para o ano de 2014, em meio às fantasias e carros alegóricos que vão ganhando novas cores e formas em seu barracão. Bibiana Garrido
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Um cinquentão de cabelos verde e roxo Comunidade que apoia e torce o time que apaixona e criou uma identidade para o bairro
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ar de Paulinho, João Careca, Dadá, da Tia, Zé Cotoco, Pezão, Rincon. Gerações que contam os 50 anos de Independente Futebol Clube. É ali, na Vila Santa Inês, na quadra que o falecido João Careca descobriu ser da prefeitura e arranjou todo o necessário para fazer daquele lugar o lar o Indepa, e o segundo lar da comunidade Independência. O primeiro registro do time como Independência é datado na ata em 19 de janeiro de 1964, antes disso o time era conhecido como Tamandaré. Paulinho, membro de uma das primeiras diretorias do time, não deixa de par-
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ticipar do Indepa mesmo doente. “Eu ajudo como posso, compro convite de festa e dou pra outra pessoa, ajudo mesmo sem poder vir pra cá”. Para a comunidade, o Indepa vai mais além do que ser “o time de futebol amador”. É também o programa de fim de semana, a festa no bairro, a conversa que vai até tarde da noite. A Tia, assim chamada por todos lá na quadra, é uma das diretoras do Indepa, moradora da Vila Independência há 54 anos. Muito mais do que isso ela é que todo mundo cumprimenta e conversa, que faz os salgados em dias de jogo (tendo ou não dinheiro), ela é que já largou o marido (mas já voltou) por causa do amor time, ela é que vai à quadra nos dias que não tem jogo e fica sem saber o que fazer, porque o fim de semana é sempre reservado pro Indepa. Tem também o Dadá, ex-
Fotos, recortes e troféus decoram a quadra do Indepa.
jogador do Independência nos anos 88/89, e que ainda não engoliu o vice campeonato nesses dois anos, que mesmo sem ter vencido mostra com orgulho a foto daquele jogo, com a arquibancada cheia, que o faz encher a boca para dizer que hoje em dia isso não mudou. O envolvimento da comunidade com o time é trabalhado dentro e fora de campo. Nos jogos para torcer, apoiar, motivar o time. Na quadra pra comemorar as vitórias, organizar eventos e arrecadar fundos, confraternizar, mostrar que o Indepa não acaba dentro de campo. Tem o Pezão, que venceu com o Indepa no ano de 2002 como jogador, e em 2010 como técnico. Aquele que, agora como diretor, teve diferentes formas de contato com o time. Sofreu emoções diversas, mas todas igualmente apaixonantes. Marcelo entrou faz uns anos
para a diretoria, e de cara, em sua primeira gestão, conquistou o título em 2010. A conquista, para ele, foi a maior conquista do time. O faz ver e rever o DVD do jogo, e derramar umas lágrimas com o grito de campeão. Os nomes são muitos, o portão está sempre aberto pra que mais deles apareçam. Afinal, o time é do bairro e o que eles mais querem é que todos da comunidade se sintam parte dali. Espera-se que a história vá muito além dos 50 anos, que pra serem contados levariam uma noite toda, segundo Rincon. Então que muito mais noites sejam necessárias para contar essa história de família apaixonante, sempre regadas à música, uma cervejinha e pela gentileza de estar de braços abertos a quem quiser entrar, como fui recebida. Mariana Amud
Fotos: Mariana Amud
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INCOMUNS,INFORMAIS E [IN]SATISFEITAS! Duas personagens com empregos pouco usuais mostram o prazer por terem seus negócios “No Brasil não se sobrevive sem trabalho”
seu trabalho, Aline diz que ser personal chef, ou seja, cozinhar na casa das pessoas ou fazer entregas de comida indiana, é o primeiro passo para introduzir uma cultura pouco conhecida na cidade, o que, no futuro poderá render frutos, como seu line Dalalio está de fé- próprio restaurante indiano. rias no Brasil. Férias Aliás, antes de navios e comique, para ela, não das indianas, trabalhou em ressignificam descanso. Depois taurantes e hotéis pelo Brasil. de nove meses sem folga sendo Hoje, ao comparar seus antichef de cozinha em um nagos empregos com o atual, vio, o que faz há dois prefere o de hoje. O “O país pode anos, ela voltou ao emprego formal, sepaís para traba- se desenvolver gundo ela, não permais com os lhar ainda mais. mite flexibilidade de trabalhos Formada em Gashorários e não se pode informais” Aline Dalalio tronomia, a chef de fazer várias coisas ao 26 anos e seu namoramesmo tempo. Ao analisar do, um indiano, veio para o país as desvantagens da informalihá dois meses e criou um ser- dade, aponta a consequência viço de personal chef, especia- que o não pagamento do INSS lizado em culinária indiana, em pode ter em sua aposentadoria: Bauru, interior de São Paulo. “mas acho melhor ser informal. A ideia surgiu com a neces- Minha renda pode ser maior sidade de ganhar dinheiro du- que a de um trabalhador forrante sua estadia no Brasil. Sa- mal. O dinheiro que seria gasto tisfeita e mostrando prazer pelo em impostos, eu aplico em coi-
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sas que podem se tornar benefícios no futuro”. Aline faz parte da população economicamente ativa que é dona do próprio negócio e está feliz assim. “100% de importância”
Começou como uma brincadeira. É assim que Cristiane do Nascimento, de 28 anos, descreve a atividade que exerce há dois anos com todo o prazer e paixão. Cristiane é dona de um carro de telemensagens e acorda todos os dias às 6h30. Não tem hora para parar. Era atendente de telemarketing quando sofreu um acidente e pediu demissão. Então, resolveu trabalhar na cobrança de um serviço de telemensagens de seus parentes, até que lhe ofereceram o “kit completo de telemensagens” e ela criou seu próprio negócio. Das mensagens por te-
A informalidade também vem da falta de qualificação profissional. Em 2012, 44,2 milhões eram trabalhadores informais no Brasil.Cerca de 22% da população do país. (IBGE) Até 2020, 90 milhões de trabalhadores de baixa qualificação serão “desnecessários” no mundo. (Instituto Global McKinsey)
lefone até o carro de telemensagens, passou-se um mês. Hoje, grávida e com mais filhos para cuidar, Cris não se incomoda de trabalhar de domingo a domingo. Descansa quando está muito cansada, porque é sua própria patroa. Em relação ao emprego formal que tinha, não vê nenhuma desvantagem trabalhista: “eu pago INSS”.
Amanda Fonseca
“Cê ajuda eu, moça?” Moradores de rua: “encosto” para o poder público, celebridades para a população
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m sua maioria, eles andam descalços, não tem residência fixa, conhecem a cidade melhor do que ninguém e tem milhares de história para contar. Acostumados a serem ignorados, os moradores de rua aprenderam que as crises conjugais, os vícios, os problemas financeiros ou qualquer outra dificuldade podem resultar em dormir nas ruas. Segundo o IBGE e a Secretaria Municipal de Bem Estar Social, em 2012, eram 120 “marias” e “joãos” que vagavam pela cidade de Bauru. Dijaulma dos Santos, 37 anos, morador de rua há seis meses. Veio do Paraná em busca de trabalho e já na chegada foi levado para os canaviais. “Me cataram na rodoviária, um moço
me levou pra cortar cana. No final da tarde, eles davam quatro pingas. Uma vez teve briga e me machucaram aqui”, Dijaulma conta mostrando as marcas na costela. O salário não dava pra nada, 3 semanas resultavam em 70 reais, as plantações de cana tinham virado o que um dia foi a plantação de café no período escravo. Apesar do salário desumano, ele continuou a trabalhar e seu vício foi aumentando. Um dia resolveu vir pra Bauru, exatamente para embaixo do viaduto da Duque de Caxias que corta a Nações Unidas. “Vim de bicicleta e comecei a receber o Bolsa Família. Todo o dinheiro que eu ganho eu gasto com comida e pinga. Não uso droga, só pinga.” Outro morador, que não quis
se identificar, iremos chamá-lo de Luís. Luís conhece há 21 anos as ruas de Bauru e já esteve em Corumbá, Campo Grande, andou pelo mundo, como disse. Em todos os lugares que passou sentiu nos olhares e expressões os sinais de maltratos. “Somos discriminados pela polícia, pelas pessoas e não podemos ir pra nenhum lugar. Toda nossa alimentação é sempre roubada.” Luís é contra as tentativas de reabilitação que a prefeitura propõe em visitas, contou que nenhum de seus amigos que foram ficaram lá e a falta de liberdade atrapalha. “Tem também o problema do cigarro. Você volta pior por causa da abstinência.” Muitos deles, ao chegar para uma entrevista, foram contrários a dar relatos, já tive-
I N C Ó G N I T A S
ram a experiência de contar suas histórias e serem esquecidos como um jornal do dia anterior. Viraram mais um conto esquecido. Pediram ajuda, a todo momento, e, chegaram a me chamar de anjo, caso pudesse ajudá-los de alguma maneira. Moradores de rua são personagens sem fala onde o dinheiro dá a voz. E, ainda assim, me chamaram pra uma próxima conversa.
Maria Esther Valdiviezo
12 E aí, sou Chapa! Uma profissão sem grandes reconhecimentos, mas de muita importância econômica
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grande maioria dos consumidores não imagina o caminho que a mercadoria percorre antes de chegar às prateleiras, ignorando um dos mais importantes personagens da história: o chapa. “Se tirar o chapa, o que fica? Não dá pra fazer tudo sozinho, precisamos deles” Vagner, caminhoneiro, não se intimida, para ele o motorista só dirige, sem alguém pra retirar a mercadoria, ela jamais chegará às prateleiras. Esseshomensficamnabeirada estrada, próximos a uma das entradas de Bauru, esperando para trabalhar. O caminhão para e pede informação, eles indicam. Outras vezes eles montam e se dirigem ao local da descarga para auxiliar na retirada da mercadoria. Há também chapas que fazem um ponto fixo, e
nele ficam durante todo o período de chegada de mercadorias, esvaziando caminhões e empilhando tudo nos depósitos. Tanto um quanto outro, esses homens praticam um serviço sem o qual a demora e a fila nos pontos de descarga deixariam consumidores irados, no mínimo. O chapa Reginaldo resume, com uma simples e rotineira analogia, a importância do trabalho e o transtorno que seria se ele não existisse: “o que afetou no motorista de ônibus quando arrancaram o cobrador? É como o motorista (de caminhão) ficar sem o chapa”. O trabalho Uma profissão ignorada pela maior parte da população, mas importante para todos os consumidores. Os chapas, como são conhecidos, trabalham, em sua maioria, quando querem e colocam o preço em seu serviço. Um trabalho informal em que circula muito dinheiro. Luiz Carlos largou o emprego, em uma transportadora, e resol-
veu seguir suas próprias ordens. Ele fica em um ponto fixo, em um dos mercados atacadistas de Bauru. Chega cedo, faz seu preço e então descarrega todos os caminhões que param em seu ponto. Em um dia fraco, seu trabalho lhe rende R$ 50,00. Para ele esse trabalho é bom, consegue sustentar a família e dar condições para que o filho estude. No ramo há cinco anos, ele ganha mais do que com um emprego regular e consegue passar mais tempo com sua família do que com o emprego anterior. O único problema que ele aponta é a humilhação que sofre por não ter uma carteira assinada, principalmente por pessoas que não reconhecem a importância de sua profissão.
têm um chefe, salários e horários fixos. Mas eles consideram isso algopositivo. Para Paulo não há pontos negativos na profissão: ele possui mais liberdade, um horário mais flexível e um salário melhor, quando se considera outras empresas da cidade. Ele ainda fala da grande amizade entre os chapas e os caminhoneiros. Vagner, que é motorista, confirma isso. Sentados todos juntos, após descarregarem os caminhões, motoristas e chapas conversam e brincam, dando altas gargalhadas, provando a amizade deles. Heloise Montini
Informal, mas nem tanto Paulo trabalha há quatro meses como chapa, mas ele e seus colegas, que trabalham no Ceasa de Bauru, têm um diferencial: carteira assinada. Eles não vão atrás de qualquer caminham, recebem produtos específicos,
O trabalho começa cedo, mas antes da 9h a maioria dos chapas já está livre. Foto: Heloise Montini
Mas peixe pode? Cooperativas e mini empresas trazem opções veganas para Bauru
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ão é só de salada que eles vivem. Hoje os vegetarianos possuem várias opções de alimentação com um mercado crescente de produtos feitos especialmente para eles. Se antes poucas marcas se preocupavam em criar comidas sem ingredientes de origem animal, hoje já existem empresas com uma gama completa de produtos e refeições que imitam as versões com esses ingredientes. Em Bauru, pequenas empresas e cooperativas autônomas tentam preencher a falta de refeições do tipo na cidade.
Elas não possuem sede e sua produção é pequena e geralmente artesanal, o que faz com que muitas pessoa não saibam de sua existência. A empresa Bilanciare Hambúrguer Vegetariano, por exemplo, fabrica hambúrgueres vegetarianos à base de soja e trabalha apenas com entregas. Seus produtos são caseiros e sem conservantes também. Outra cooperativa que atua em Bauru é a recente Bike&Burguer, que vende desde produtos como queijo de batata e hambúrgueres a refeições como lanches, pizzas, sushis e marmitex de feijoada. Seu diferencial é sua entrega, que é feita de bicicleta. A cooperativa é adepta do veganismo - que exclui todos ingredientes de origem animal ou que
foram testados em animais. Liu Corte, criador da Bike&Burguer, também cozinha para eventos e festas na casa de clientes. Outras empresas conseguem um pouco de visibilidade. Esse é o caso da Respect Life, mercearia que vende alimentos veganos desde 2012. Sua especialidade são os doces e bolos, que são feitos especialmente para encomendas. Como as outras empresas citadas, a Respect Life também não utiliza conservantes e sua produção é caseira. Saiba mais sobre veganismo! O veganismo surgiu como uma filosofia para muitos vegetarianos estritos – que não consumiam nenhum alimento de
origem animal, excluindo assim carnes, ovos e leite – que queriam adotar o respeito aos animais em todas esferas da vida, não só como forma de dieta. Os veganos não utilizam nenhum produto que utilize peles e couros. Alguns também boicotam grandes empresas que se utilizam da exploração animal na forma de patrocínio a rodeios e circos ou fazendo testes em animais. Isso também como forma de valorizar as pequenas cooperativas e grupos autônomos que são declaradamente vegetarianas ou veganas. Giovanna Diniz