Ecos

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A Violência

cada

vez

mais

Perto

Se a violência parecia ameaçar só

os outros,

agora já ronda a vizinhança.


ECOS

Especial Violência

Expediente Equipe de Reportagem: Ana Carolina Costa Isabela Frushio Larissa Tomazini Marcela Elizabeth Antunes Otávio C´ésar Frabetti

Índice Everton Sylvestre Kelly De Conti Rodrigues Lucas Esteves Natã Crivari Vania Daiana Cristianini

Diagramação e design: Natã Crivari

Juiz recolhe jovens e reduz criminalidade

Expediente Página 2

Página 7

Editorial

Crianças brasileiras vivem realidades bem diferentes do que prevê a ONU

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Charge do dia Página 2

Um milhão e novecentos mil brasileiros são discriminados

Charges: José Eduardo Roberto Jornalistas Responsáveis: Angelo Sottovia Aranha (MTB 12.870) Renata Malta (MTB 34.600)

Suplemento especial produzido para as disciplinas de Jornalismo Impresso II e Planejamento Gráfico Editorial II. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Unesp/Bauru - Novembro de 2011

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Nem sempre é Bullying Página 4

Grosseria assusta professores Página 5

Toque de acolher é negado em Bauru Página 6

Um drama sem fim Página 9

Modelo de gestão pode ser violento Página 10

Pichadores usam códigos para assaltar Página 11

O que cada polícia faz Página 12 Charge: José Eduardo Roberto

Acesse: http://www.ecosdasociedade.blogspot.com

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Editorial

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Palavras ou ações podem machucar as pessoas. O uso abusivo ou injusto do poder e da força lhes trazem ferimentos, sofrimento, tortura e, em casos extremos, a morte. A violência manifestada nessas práticas não se limita a um lugar ou a uma situação; ela está ao nosso redor, em nossas cidades, empregos, escolas e casas. Isso significa que é muito superficial e limitante pensar nessa prática somente com base em um simples conceito. Afinal, algo muito mais complexo está envolvido; algo que envolve todos nós. As relações e problemas sociais devem permear a discussão em torno da violência, especialmente quando objetivamos apontar meios de re-

cuperar os seres humanos que, por diversos motivos, passam a praticar atos ilícitos. Isso também vale quando nos prestamos a proteger as vítimas. Não podemos falar de vilões e mocinhos, mas de pessoas que precisam conviver com outras de diversas classes sociais, crenças e ambições. Seria muito simples, por exemplo, apenas debater a respeito do tempo da pena que um indivíduo deve cumprir por determinado crime, ou julgá-lo por seus atos sem se levar em conta o contexto envolvido em cada caso. Isso não significa, no entanto, que devemos tirar a culpa dessas pessoas e colocá-las na posição de pobres sofredores que merecem a redenção. A questão é: o problema é mais

profundo, vai além do enfoque na índole desses indivíduos. Sobre isso, podemos lembrar as péssimas condições econômicas em que se encontra grande parte da população brasileira, ou então situações particulares, como no caso de pessoas que foram criadas em ambientes violentos. Essas circunstâncias podem motivar crimes e também influenciar a formação do caráter de cada indivíduo. Não se trata de uma tentativa de justificar as atitudes dos criminosos, mas de pensar o que os leva a tomá-las. Tal reflexão por parte da sociedade é de extrema importância, mas uma outra questão ainda deve estar presente: como as vítimas devem agir? São inúmeros os casos de

pessoas que sofrem violência, mas não denunciam os autores. Isso ocorre pelos mais diversos motivos, como dependência financeira, receio de correr o risco de não conviver mais com aquela pessoa, falta de informações sobre como realizar a denúncia e outros. Contudo, faz-se necessário apontar quem são os criminosos, uma vez que apenas dessa maneira existirá a possibilidade de se estudar e identificar os problemas sociais que levam à existência de determinada prática ilícita. A partir disso, além de facilitar a busca de alternativas de combate à violência e de recuperação daqueles que cometem esse delito, a identificação dos crimes também permitirá que se saiba quais são os mais co-

muns em cada região. Contudo, criar uma gradação que coloque uma forma de violência em um nível superior a outra não se faz muito relevante. O que se deve analisar é o lado humano, tanto daqueles que praticam quanto de quem sofre essa prática. É difícil precisar se a freqüência das agressões aumentou, já que nem todas entram nas estatísticas oficiais, ou se a facilidade de divulgação nos faz ter essa sensação. O certo é que o combate à violência deve ser uma prioridade. Com esse foco, será possível procurar as melhores maneiras de evitar que eles continuem a se repetir. Essa prevenção deve partir do governo, mas também da sociedade, na qual se incluem os veículos de comunicação.


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Especial Violência

Um milhão e novecentos mil brasileiros são discriminados Preconceito mascarado esconde sociedade homofóbica

Larissa Tomazini ra madrugada de sex- fóbicos sempre existem ao seu redor, mas ele não se deixa intita-feira. Pai e filho se midar com as brincadeiras. divertiam em uma Para a psicóloga Milena Oliveira, o preconceito contra festa agropecuária em São homossexuais pode causar consequências graves. “A homofobia João da Boa Vista, interior de pode gerar desconforto e desequilíbrio emocional, além de inseSão Paulo, quando um grupo gurança, medo e retraimento. Em casos mais extremos, é comum de homens se aproximou dos o ímpeto de suicídio porque o indivíduo não suporta a pressão dois e perguntou se eles eram e o preconceito”. Como forma de protesto à homofobia, a 4ª gays. A desconfiança surgiu Parada da Diversidade, com o tema “Eu amo a vida – Diga não pelo fato de pai e filho estarem à violência”, reuniu cerca de 40 mil pessoas em Bauru. O históabraçados. O pai respondeu rico das Paradas da Diversidade em Bauru mostra que a aceitaque não, eram gays, mas isso ção por esse tipo de manifestação tem aumentado; o número de não foi suficiente. O grupo de participantes da quarta edição do evento ultrapassou em 10 mil homens começou a agredi-los. o da edição anterior. “Bauru avançou muito nos últimos anos. O pai teve parte da orelha de- Realizamos um grande movimento de luta pelos direitos civis cepada, enquanto o filho levou dos LGBT, que acabou sendo a maior parada gay do interior do vários chutes e socos. Ao fim estado, só perdendo para a capital”, diz o professor João Winck, da sessão de espancamentos, conselheiro da ONG Bauru pela Diversidade, responsável pela os agressores fugiram e pai e organização da Parada da Diversidade de Bauru. filho foram levados ao hosQuando alguém assume que é homossexual, o apoio da fapital. Essa história tinha tudo mília é primordial porque ainda vivemos em uma sociedade prepara ser ficção, mas os perso- conceituosa, como afirma Winck: “estamos longe de sermos um nagens são reais e a violência país tolerante e isso com relação a todas as populações vitimagratuita realmente aconteceu. das, além dos homossexuais, sobretudo as mulheres, os negros, Nos últimos meses, fo- os velhos e as crianças”. A reação de cada família varia, podendo ram noticiados diversos ca- ser positiva ou não, mas, conforme explica Milena Oliveira, sosos de homofobia em todas mente com apoio e base familiar o indivíduo consegue superar as regiões do Brasil. O estado seus medos relacionados ao assunto. de São Paulo lidera o ranking Para Bruno Barros, assumir sua opção sexual não foi um de denúncias de problema. “Contei primeiramente a minha mãe, já agressão contra “Estamos longe não aguentava mais guardar pra mim. Depois de um homossexuais, se- de sermos um ano, contei ao meu avô. E depois de um tempo, ao guido pela Bahia país tolerante” meu irmão. Minha mãe chorou, disse que me respeie Piauí, confortava e que sempre iria me aceitar, que sempre soube. me pesquisa da Secretaria dos Mas que tinha medo, pois eu iria sofrer. Meu avô ficou quieto. Direitos Humanos. O jauen- Meu irmão teve a melhor reação. Ele disse que sempre soube e se Bruno Barros afirma que que me apoiava 100%”. Já o estudante bauruense C.E.O., que já sofreu preconceito por ser não quis se identificar, não contou à sua família que é homossegay; “antes eu era mais ‘fraco’ xual, embora acredite que já desconfiem. “Minha família ainda e deixava as pessoas, que digo não sabe. Acho que se soubessem, a reação seria de preocupaserem sem cérebro, me atingi- ção, pela grande violência e repúdio aos homossexuais”, explica. rem. Hoje, se existe preconceiApesar dos avanços e conquistas dos homossexuais, como to, realmente não sei, porque o a permissão para união estável, ainda não há uma lei que capreconceito é tão ridículo que racterize a homofobia como crime. Contudo, a Associação Brafinjo que não vejo”. Bruno sileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais conta que comentários homo- (ABGLT), juntamente com mais de 200 organizações afiliadas,

PL 122 - Criminalização da homofobia O projeto de Lei número 122, de 2006, foi proposto pela então deputada Iara Bernardi e tem por objetivo criminalizar a Homofobia no país. Atualmente o PL está na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, sob relatoria da Senadora Marta Suplicy. Veja abaixo as inteções dos Gays e da bancada evangélica:

Querem que os agressores e repressores dos homossexuais sejam julgados e punidos

Querem o direito de expressar a sua opinião sobre a homossexualidade sem serem punidos

Querem que os homofóbicos sejam Eles dizem que proibir a violência punidos com o mesmo rigor que os verbal contra gays é uma afronta à liberdade de expressão racistas e extremistas religiosos Os gays querem a mesma liberdade As lideranças políticas evangélicas defendem abertamente a tomada que os heterossexuais em do poder por outros da constituir família e proteger mesma religião seus direitos de cidadão Os homossexuais só querem res- A bancada evangélica quer impor seu estilo de vida aos outros peito e liberdade

Foto: Larissa Tomazini/Fotomontagem: Natã Crivari

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desenvolveram o Projeto de Lei 5003/2001, que mais tarde veio se tornar o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, propondo a criminalização da homofobia no Brasil. Caso esse projeto seja aprovado no Congresso Nacional, o PLC mudará a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, caracterizando crime a discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer discriminação por causa de sua orientação sexual poderá prestar queixa em qualquer delegacia policial e abrir um processo judicial. Um dos motivos que justifica essa lei, segundo a ABGLT, é o fato de que aproximadamente 10% dos brasileiros sofrem discriminação, como violência física e agressão verbal, e os agressores continuam impunes. Para o estudante C.E.O., a lei é importante, mas apenas isso não basta; “para o fim da homofobia teremos que ensinar, começando nas escolas, que deveriam tratar melhor os assuntos sobre diversidade. Mas, claro que os homofóbicos deveriam receber uma punição pela discriminação, como qualquer outro crime que temos descritos no Código Penal brasileiro”. Ainda que o debate sobre a homofobia na mídia esteja crescendo e a aceitação do assunto seja cada vez maior, os índices mostram que falta muito para que a homossexualidade seja aceita. De acordo com o Instituto Brasileiro de Ge-

ografia e Estatística (IBGE), 145 moradores de Bauru afirmaram viverem uniões homossexuais em 2010. Essa é a primeira vez que o censo faz esse tipo de contagem e revela dados interessantes, mas não surpreendentes, uma vez que esse número foi considerado, pelos coordenadores do censo em Bauru, um resultado ainda tímido, se comparado ao de outras regiões. A psicóloga Milena observa que a luta pela diversidade e contra a homofobia existe há tempos e só agora vem tendo real importância. Talvez por isso, ainda sejam poucos os que assumem fazer parte de uma relação homossexual. “É realmente importante que essa luta continue crescendo para que continue modificando pensamentos ou abrindo mentes”, acrescenta. “Preconceito é tão século passado que é ridículo ainda existir”. É assim que Bruno Barros define a homofobia. Em um país que passa a idéia de aceitação da diversidade, falta muito para o preconceito desaparecer, mas algumas mudanças já vêm ocorrendo. “Aprovamos a lei que institui a Semana de Combate ao Preconceito e à Violência, que se encerra com a Parada da Diversidade. Além disso, aprovamos na Câmara o Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual. Creio que avançamos bastante. Com certeza ainda não é o suficiente, mas o que já se fez coloca Bauru na vanguarda do movimento LGBT no estado de São Paulo”, finaliza Winck.

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Especial Violência

Nem sempre é Bullying

Isabela Frushio a manhã da quinta-feira, 7 de abril de 2011, um homem de 23 anos entrou em uma escola do Rio de Janeiro e atirou em alunos que assistiam à aula. Policiais chegaram ao local, um deles feriu o atirador que se suicidou logo em seguida. Wellington Menezes de Oliveira foi ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, onde ocorreu o atentado. Wellington deixou um total de 12 mortos e outros 12 feridos. Colegas de trabalho e vizinhos foram entrevistados inúmeras vezes e sempre diziam que Wellington era um jovem calado e solitário. Bruno Linhares, 23, ex-colega de escola do atirador, logo depois do ocorrido, afirmou que Wellington era motivo de piada entre os alunos, por sua personalidade introspectiva e pelo fato de mancar com uma perna. Durante as investigações, foram encontradas cartas e vários vídeos no computador de Wellington: “A luta pela qual muitos irmãos no passado morreram e eu morrerei não é exclusivamente pelo que é conhecido como bullying. A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem”, disse em uma das gravações. O caso de Realengo, como ficou conhecido o episódio no Rio de Janeiro, nos remonta a outros casos seme-

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Será brincadeira ou agressão? Superproteção ou violência real?

lhantes. No ano de 1999, a ci A criança que sofre dade de Littleton no Colorado bullying apresenta alterações Uma saída assistiu a uma das cenas mais em seu comportamento, torscolas da cidade de Kansas, nos Estados Uniassustadoras dos Estados Uni- na-se agressiva, irrita-se com dos, adotaram um novo programa, o No More dos. Dois alunos, Eric Harris e facilidade, apresenta queda Bullies. O projeto proporciona, durante uma hora, Dylan Klebold, atiraram con- no rendimento escolar, adoecinco vezes por semana, o contato de crianças com tra os colegas de escola, contra ce e perde o ânimo. O grupo cachorros. O programa foi desenvolido há cinco o professor e em seguida co- isola, agride e humilha um inanos pela ex-professora Jo Dean Hearn, e utiliza os meteram suicídio. No total, 15 divíduo mais fraco para se exianimais, pois, estudos mostraram que as crianças pessoas morreram e outras 23 bir e mostrar que tem poder. se identificam facilmente com eles e são capazes de ficaram feridas. O psiquiatra Outras vezes, um indivíduo reconhecer quando os bichinhos sentem dor ao seamericano Timothy Brewerton faz de tudo para se inserir em rem maltratados, assim como seus colegas. Os votratou alguns alunos que foram um grupo, procura se vestir da luntários tentam passar aos alunos lições de comvítimas dos atiradores e, em mesma forma ou se interessar paixão, autocontrole e responsabilidade. O projeto maio, ele apresentou no Rio de pelas mesmas bandas, mas o deu tão certo que há uma longa fila de escolas a Janeiro um estudo do Serviço grupo utiliza esse desejo do inespera para a implantação do No More Bullies no Secreto sobre atentados em es- divíduo de se integrar para faano que vem. colas do mundo todo. Ele con- zer piada ou exigir favores. Cacluiu que de 66 ataques ocorri- sos assim já foram retratados dos de 1966 a 2011, 87% deles nas telas do cinema, como é o caso da série “Gossip Girl” , que de uma brincadeira. O comerforam promovidos por alunos também mostra o esforço da jovem Jenny (Taylor Momsen) para ciante Felipe Tosi, 21, foi uma que sofriam bullying e deseja- se aproximar da garota mais popular do colégio. Ela faz favores, criança gordinha. Por volta vam vingança. é humilhada e obedece a tudo o que Blair (Leighton Meester) lhe dos 10 anos de idade, iniciou O Bullying é caracteriza- impõe, mas tudo é em vão. “Meninas Malvadas”, o longa é pro- um tratamento para a redução do como um comportamento tagonizado por Cady (Lindsay Lohan), que começa a estudar em de peso, com o apoio de uma agressivo físico ou psicológi- uma nova cidade, lá encontra o grupo mais popular de meninas e nutricionista e prática de exerco intencional do faz de tudo para se tornar parte dele. Uma professora cícios físicos. O fato de estar “Bullying é agressor, denodo colégio percebe que as notas de Cady estão bai- bem acima do peso nunca foi aquilo que minado bully. As xas e uma mudança brusca em seu comportamento problema em seu relacionaagressões são mo- deixa a pessoa e procura ajudá-la. Na vida real, a ajuda de educa- mento com outras crianças: tivadas por dispu- triste, que afeta dores também é fundamental para auxiliar crianças “as pessoas brincavam, mas tas de poder e esse e jovens que enfrentam situação semelhante. A co- nada de mais”. Mesmo sem desequilíbrio pode de algum jeito” ordenadora pedagógica Anne Kariny Lemos Rocha ter sofrido bullying, contou ser motivado pela aparência já notou comportamento semelhante entre os alunos da escola com o apoio de uma psicólofísica, diferença de idade ou estadual Rubens Pietrarróia, de Lençóis Paulista - SP, onde tra- ga no período de reeducação de classe social, entre outros balha: “você acompanha o aluno há anos e percebe quando ele alimentar. Anne procura semmotivos. Apelidar, fazer piada, está diferente, conversamos com ele, ele conta o que fez achando pre conversar com seus alunos, o que há alguns anos era visto que será aceito, parece que ele implora por isso”. Anne também eles fazem uma roda de discuscomo uma brincadeira, hoje ressaltou que o bullying que mais preocupa é aquele cometido são em que são apontados os pode ser diagnosticado como entre os bons alunos, os considerados nerds, os demais enxer- problemas de relacionamento bullying. “Quanto mais agres- gam o fato de alguns alunos terem notas mais altas como um na escola, eles relatam à educadora as brincadeiras que os siva for a ‘brincadeira’, quanto defeito e fazem disso um motivo para isolá-los. mais tempo ela durar e frePor outro lado, há os psicólogos e educadores que acredi- colegas fazem, os adolescenquente for, piores as possíveis tam que há um exagero ao se considerar certos comportamentos tes, principalmente, não levam sequelas psicológicas”, explica como bullying. Eles afirmam que, muitas vezes, crianças colo- a sério: ”eles colocam apelidos a psicóloga Karolini Rossini. cam apelidos ou fazem piadas das outras, mas tudo não passa nos colegas, muitas vezes eles não ligam mesmo. Acho que A pesquisa “Bullying no ambiente escolar”, realizada nas 5 regiões do país 70% dos alunos já pre- bullying é aquilo que incomosenciaram algum tipo de da, que deixa a pessoa triste, no ano de 2009, reuniu uma amostra em 20 instituições municipais de agressão. que você percebe que a afeta ensino e 5 particulares. Ao todo, foram ouvidos 5.168 alunos. Veja abaixo: A incidência é maior de algum jeito”. A educadora entre alunos de 11 a 15 acredita que alguns fatos e o modo com que são relatados anos. Porcentagem de fazem com que as pessoas conalunos entreEm 2009, meninos víti- fundam o conceito de bullying: vistados que já mas de bullying soma- “eu acho que é algo que semsofreram algum ram 12,5%. As meninas pre existiu, mas agora, como totalizam 23,9%. tipo de Bullying: está sendo muito divulgado na mídia, todo mundo presta mais 35% dos alunos já viram atenção”, observa. colegas serem maltrataOs pais e professores dos uma ou duas vezes. 10,1% viram colegas se- devem ficar atentos a mudanrem maltratados todos ças bruscas de comportamento das crianças e adolescentes, o os dias grau de sofrimento é determi19,1% dos entrevistados nado pelas características psijá maltrataram algum cológicas da vítima e o bullying colega pelo menos uma pode agravar e até mesmo cauvez. 2,7% admitiram já sar danos no futuro.

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ter maltratado colegas todos os dias

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Fonte: Plan Brasil


Grosseria assusta professores

Professores se dividem sobre nova lei e querem mais segurança no ambiente escolar Marcela Antunes ullying é o assunto do momento. Nunca se viu tantas discussões sobre o tema. O assunto é urgente, mas outro de igual importância acaba sendo deixado à sua sombra: a situação de professores submetidos diariamente à agressões verbais, físicas e psicológicas. Casos de violência contra professores são cada vez mais comuns. Os atos violentos são praticados por alunos de todas as idades e tipos de instituições, o mais comum é a agressão verbal. Professores vítimas de violência nas escolas entram em depressão, tiram licença ou abandonam a profissão. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) afirma em seu Título VI, Artigo 67, que “os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação” e que lhes devem ser asseguradas condições de trabalho. E o que seria dar aula sem se sentir ameaçado, se não uma condição básica de trabalho? O que seria um professor se sentir à vontade e realizado, se não a valorização do que faz? Pensando nesse outro lado da escola e inspirada por e-mails e depoimentos de professores, a deputada Cida Borghetti propôs o Projeto de Lei 267/11, que acrescenta um artigo à Lei que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a fim de estabelecer deveres e responsabilidades à criança e ao adolescente estudante. Se for aprovado, o novo artigo “sujeitará a criança ou adolescente à suspensão por prazo determinado pela instituição de ensino e, na hipótese de reincidência grave, ao seu encaminhamento a autoridade judiciária competente”.

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Não confio mais neles

Há 18 anos leciono Artes. Neste ano, em uma sala de 1ª série do Ensino Médio, estava explicando a matéria quando chegaram três alunos atrasados. Entraram sem pedir licença, rindo, mexendo com outros alunos e fazendo comentários irônicos. Adverti sobre o comportamento e disseram que estavam tomando água. Saí da sala para me acalmar e pegar um formulário de advertência. Depois dos envolvidos assinarem o formulário, peguei minha garrafa de água e bebi. Um aluno que não tinha nada com o ocorrido, rindo, me perguntou se a água estava gostosa. Ignorei o comentário e dei sequência à aula. Na saída para o intervalo, uma aluna me disse que achava que haviam colocado algo em minha água, ela me parecia satisfeita. Quando a questionei, disse não ter visto nada. Após o intervalo, perguntei sobre o ocorrido. Todos se calaram, por isso disse que faria uma ocorrência policial da sala toda. Aí, uma menina contou que um aluno cuspiu em minha água, o mesmo que achava que a água devia estar gostosa. Fiz uma nova ocorrência, um boletim de ocorrência policial e pedi encaminhamento para o Promotor de Justiça, exigi a presença da mãe na escola e o aluno foi suspenso três dias. Depois disso, entro naquela sala toda semana consciente de que minha aula é uma porcaria, não consigo ter prazer em estar ali. Minhas angústias já começam no domingo após o almoço, me sinto traída pela sala toda, acho que os outros alunos foram coniventes. Procuro ser justa e dar explicações como profissional, mas não sinto carinho por eles. No início, eu faltava nas segundas-feiras. Hoje, estou de licença-prêmio, volto na próxima semana e penso três vezes por dia em tirar uma licença-saúde. Não sinto saudade da escola. Acho que o fato me afastou de outros alunos, não consigo confiar mais neles. Parece que, se tiverem uma oportunidade de prejudicar um professor, eles o fazem. Meu trabalho nessa sala é muito diferente do que nas outras salas da mesma série. Para essa turma, me limito a transmitir o proposto no currículo, e para as outras elaboro mais trabalhos práticos, além do caderno de atividades.

J.P., professora

Fonte: http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/processolegislativo/fluxo/plTramitacao/plConclusiva

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Especial Violência

Cida Borghetti admite que o problema não será na resolução de conflitos pela mediação e seja resolvido apenas com esse artigo. Entretanto, estudioso”, observa a professora. Já Nilma da o objetivo seria criar uma consciência coletiva Silva afirma que educação, aluno e professor de cidadania e bom relacionamento na escola. são tratados como mercadorias; “se as políticas “Outro objetivo do projeto é identificar o alu- educacionais tivessem a intenção de socializar no agressivo, conhecer sua história e ajudá-lo, o conhecimento, nada disso seria necessário”. inclusive com previsão de tratamento psicológiAgressões verbais e desentendimentos co, se necessário”, afirma a deputada. muitas vezes soam apenas como desrespeito, Nilma Renildes da Silva, professora dou- mas podem se tornar agressões mais sérias e, tora do curso de Psicologia da UNESP, acha eventualmente, tragédias como a do menino de esse projeto de lei abusivo. O ECA já trata 10 anos que, em setembro, atirou em sua prodas relações sociais de crianças e adolescentes. fessora no interior de São Paulo. A professora “Não precisamos de mais leis, essa deputada é Ana Alves lembra que crianças e adolescentes que deve cumprir sua função e legislar para efe- são pessoas em desenvolvimento e que é dever tivar o real cumprimento das questões postas dos professores e funcionários – os adultos da há 20 anos no ECA. Além do mais, quem tem relação – evitar conflitos. “O dia-a-dia de uma que criar regras para a Educação são os traba- escola não é fácil, os conflitos são muitos e lidar lhadores da área”, explica Nilma. com diferentes pessoas é um desafio. Acima de A professora e diretora Ana Carolina tudo, é preciso respeitar e se colocar no lugar Garcia Alves, que já foi vítima de violência ver- do outro, que sofre, agride, enfrenta e que, muibal e psicológica e viu outros professores sendo tas vezes, é indiferente. Assim fica bem mais agredidos, concorda que o Projeto fácil conviver”, completa a docente. O respeito de Lei proposto não irá ajudar efeOutro fator importante é a fapelo outro tivamente nas salas de aula: “o promília. O que a criança ouve, obserjeto está na contramão da legislação não se impõe, va e o modo como é tratada em casa vigente, da Constituição Federal, do se conquista pode influenciar seu comportamento ECA, da LDB, acredito até que seja escolar. Apesar disso, a professora inconstitucional. A criança, o adolescente e o Nilma da Silva lembra que a violência tem suas jovem – estamos aguardando a aprovação do raízes na estrutura social e é desencadeada por Estatuto da Juventude – têm direito à educação, instituições, no caso, a escola. Para a professora além do mais, as medidas punitivas constam do Ana Alves, o melhor método para evitar agresRegimento das Escolas, e são aplicadas de acor- sões em sala de aula é se aproximar dos alunos. do com a gravidade do ato”. Segundo ela, quando um professor trata seus Mas como deve agir um professor ao alunos com respeito, ele será respeitado, pois o ser agredido? Em geral, é feita uma ocorrência respeito pelo outro não se impõe, se conquista. por escrito, o aluno é enviado à direção para Muito ainda deve ser feito para melhoser orientado, advertido e, em alguns casos, rar as condições de trabalho dos professores, suspenso, além dos pais serem chamados na para, assim, poderem formar jovens bem preescola. Em casos extremos, o professor faz parados. De acordo com Alves, apesar de alum boletim de ocorrência. Entretanto, muitos guns investimentos em materiais pedagógico e optam por não prestar queixa do estudante, por escolar, na manutenção de prédios e na formamedo ou por pena. ção continuada, é preciso melhorar a carreira Para tentar amenizar os problemas, algu- do magistério, torná-la mais atrativa. Para os mas escolas contam com professores-mediado- professores vítimas de agressões, lembra que é res, que ajudam na solução de impasses e na direito do professor se afastar de suas funções, formação do aluno. A professora Ana Carolina caso necessário, e que os professores estaduais se mostra satisfeita com essa proposta da Secre- recebem atendimento médico através do Institaria Estadual de Educação. Para ela, a presença tuto de Assistência Médica ao Servidor Público do mediador nas escolas faz diferença. O am- Estadual (IAMSPE). Sindicatos e Associações biente fica muito mais agradável. “Mas é funda- também oferecem apoio ao docente, como asmental que esse educador tenha perfil, acredite sistência médica e jurídica.

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ECOS

Especial Violência Natã Crivari

Na imagem, adolescentes se aglomeram em frente a um dos pontos de encontro da cidade, próximo à Praça da Paz

A medida, segundo o Coronel, não foi testada em nenhuma cidade grande, apenas em cidades pequenas, como Fernandópolis/SP.

A decisão do Juiz

No último dia 14 de setembro, o juiz da 4ª Vara Criminal e Anexo da Infância e Juventude de Bauru, Ubirajara Maintinguer, indeferiu a proposta do Comandante do 4º Batalhão da PM, Nelson Garcia Filho, que previa limitar o horário para a permanência de crianças e adolescentes nas ruas da cidade, “o que se convencionou chamar de Toque de Recolher ou Acolher”, segundo palavras do próprio juiz Medida que visa proteger adolescentes é indeferida pelo Juiz Maintinguer Maintinguer. Segundo o procedimenNatã Crivari to verificatório 10/2010, para lugar. Essa é a ser indeferida pelo juiz Ubirajara Maintinguer. A Firjan é vin- chegar à decisão pelo indeferiposição que a culada ao Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ), Serviço mento da proposta, o Ministécidade de Bauru Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de Aprendizagem rio Público requereu que fosocupa no Índice de Desenvol- Industrial (SENAI) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL). sem colhidas informações de vimento Municipal, estipulado O toque de acolher ou toque de recolher é uma medi- diversos órgãos municipais e pela Federação das Indústrias da que restringe a permanência de jovens e adolescentes, me- estaduais. Além disso, foi realido Estado do Rio de Janeiro nores de 18 anos, nas ruas e praças da cidade após as 23 ho- zada audiência pública e foram (Firjan), no ano de 2011. O ras. Depois desse horário, os menores poderão, sim, transitar colhidas informações também índice abrange 5.564 municí- por ruas, praças e estabelecimentos, porém, acomjunto à OAB. Em Antes do pios nas cinco regiões do país. panhados dos pais ou responsáveis. Segundo o Codocumento enviaBauru, com seus 115 anos, re- mandante do 4º batalhão da PM, a medida foi pen- Toque, outras do ao Cel. Garcia, cebeu nota 0,8882, numa esca- sada justamente para proteger esses jovens contra o alternatiavas o juiz aponta que a la de zero a um, onde quanto assédio da violência, seja pelo tráfico, consumo de Constituição Fededevem ser mais próximo de um é a nota álcool e drogas ou ainda a prostituição. ral atribui proteção testadas do município, maior seu deintegral à criança e O Coronel Nelson Garcia ingressou na polícia senvolvimento. A pesquisa militar em 1982 e aponta que os maiores motivos do assédio aos ao adolescente pela família e analisa três indicadores, sendo jovens e adolescentes são o tráfico de drogas e a prostituição. pela sociedade. Já ao Estado eles o da Saúde, da Educação e Segundo ele, a estrutura familiar mudou ao longo dos anos e cabe assegurar os direitos à do Emprego & renda, porém, se antigamente o pai era arrimo do lar, trabalhava enquanto a vida, saúde, alimentação, eduum dos índices que deveria mãe ficava em casa cuidando dos filhos, hoje é diferente. “O cação, lazer, profissionalização, ser analisado para o cálculo que aconteceu na sociedade mundial, e isso não poderia ser di- cultura, dignidade, respeito, lidas notas é o de violência, em ferente no Brasil, é que a mulher precisou fazer o trabalho fora berdade e à convivência. especial, o que se refere à vio- de casa e as crianças acabaram não tendo uma aproximação com No mesmo documenlência infantil. Pensando justa- a mãe”, diz o coronel. Esse não é, claro, o único motivo para to, o juiz entende como legal mente nas crianças, o Coman- que as crianças estejam mais vulneráveis ao crime. Hoje, não só a medida, diferentemente do dante do 4º Batalhão da Polícia na classe C, mas também nas classes A e B, o jovem sofre uma parecer dado pelo Promotor Militar, Ten. Cel. Nelson Gar- forte influência, por meio da propaganda, sobre a necessidade da Infância e Juventude Lucia Filho, elaborou a proposta de estar enriquecendo rapidamente ou demonstrar determinada cas Pimentel. “Quanto à ledo “Toque de Acolher” para posição social. galidade da restrição, em que menores de idade. A análise Em Bauru o Comandante defende o teste da medida; “a pese o parecer do Ministério do pedido foi uma verdadeira nossa proposta poderia ser adotada por seis meses para verificar Público em sentido contrário, “novela” em que, no capítulo o resultado e, depois, ser prorrogada por mais seis meses para somo a corrente doutrinária e final, o Coronel viu a medida uma nova avaliação. Não tem a necessidade de ser a vida toda”. jurisprudencial que a entende possível nos termos do artigo 149 do ECA, cujo rol não me

Toque de acolher é negado em Bauru

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Primeiro a família deve assumir o seu papel. O pai e a mãe devem saber onde o filho vai, controlar a presença do filho na rua. Os comerciantes também têm que ter responsabilidade, não podem deixar menor entrar, não podem vender bebida alcoólica pra menor. O Conselho tutelar tem que fiscalizar, tem que estar na rua, evitando que crianças cometam atos infracionais e estejam em situação de risco. O toque de acolher é uma medida genérica. Por ele pode-se, inclusive, impedir que uma criança que esteja em uma praça em condições sem risco algum, por exemplo em frente da sua casa, tenha esse momento de lazer, de convívio com a comunidade. Não vivemos uma guerrilha.

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Lucas Pimentel, promotor da Vara da Infância e Juventude de Bauru

parece taxativo e nem se tratar de medida genérica porque atende a situação determinada”, escreve o juiz. Em seguida, o juiz explica que, antes de se deferir uma medida desse tipo, deve-se, primeiro, utilizar todas as outras alternativas para a solução do problema e aponta as medidas que devem ser adotadas; “no entanto, tenho que deve ser observada a excepcionalidade da medida, esgotando-se os recursos existentes, antes de determiná-la. Assim, acredito que devem ser mapeados os pontos de vendas de drogas, bebidas alcoólicas e de aglomeração de menores para que seja intensificado o policiamento. O Conselho Municipal deve ser comunicado da deficiência estrutural quanto aos espaços de cultura e lazer (...).Todas as Conselheiras Tutelares devem trabalhar no horário do expediente e em plantões apenas à noite e nos finais de semanas para que possam visitar diariamente os locais a que me referi”. Ao fim, o juiz volta a reiterar que, referente às famílias, cabe aos pais a educação dos filhos, a limitação de horários para saírem e controle de frequência a locais públicos e espaços comunitários. Os filhos devem aos pais obediência e respeito. Em casos em que os filhos não cumpram essas obrigações, podem ser submetidos a medidas de proteção socioeducativas, a serem aplicadas pelo Conselho Tutelar e Poder Judiciário. Os pais podem sofrer sanções caso descumpram seus deveres, sendo que a guarda dos filhos pode até ser-lhes suspensa ou tirada. “Se cada um cumprir a sua parte, com certeza, o resultado será mais satisfatório e não será preciso a adoção da medida de exceção que, por agora, fica indeferida”, finaliza o documento.

Pesquisa Uma pesquisa realizada por alunos da Unesp, câmpus de Bauru, sob a supervisão da professora Doutora Célia Hetz, revela várias questões sobre os jovens bauruenses. 56,7% dos adolescentes saem de 2 a 3 vezes por semana, e 41,5% deles prefere sair aos sábados. Os lugares mais frequentados são os cinemas (32,9%) e as boates (21,5%). 45,1% dos jovens afirmam que ficam apenas até as 24h00 nas ruas. Já 30,7% ficam além desse horário nas ruas. A mesma pesquisa verificou a aceitação da medida do toque de acolher entre os adolescentes e adultos. 61,5% dos jovens disseram ser contra o Toque de Acolher. Já entre os adultos, 69,3% dos que moram na periferia são a favor da medida. A aceitação é maior ainda entre os adultos que moram no centro, com 72,8% de concordância.


ECOS

Especial Violência

Juiz recolhe jovens e reduz criminalidade

Otávio Frabetti ulho de 2005. O então recém-chegado juiz da infância e juventude de Fernandópolis (SP), Evandro Pelarin, hoje com 39 anos, recebe uma missão de alguns populares: conter o abuso desenfreado de menores de idade que ficavam soltos nas ruas de madrugada consumindo bebidas alcoólicas. O juiz pediu ajuda à PM e realmente as reclamações batiam. Em um plantão numa madrugada de domingo, 50 a 60 menores chegaram ao fórum com evidências de terem bebido, e alguns de terem usado entorpecentes. Logo após o fato, a polícia emite um estudo (parecer) alegando que a rua era um local perigoso para os jovens à noite. Era preciso proteger e prevenir esses jovens dos riscos noturnos. E Pelarin assim o fez. Recomendou prudência e cuidado aos pais para evitarem que seus filhos ficassem nas ruas sozinhos depois das 23 horas. Estava instituído o Toque de Recolher. Embora não faça escolha por nomenclaturas, Evandro prefere Toque de Acolher. Segundo ele, é isso que é feito. Acolher jovens em perigo e mandá-los em segurança para seus lares.

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Violência

Apesar da diminuição de muitos atos infracionais (crime cometido por menores), Pelarin se antecipa ao afirmar que a função do toque não é combater o crime. Para ele, a diminuição é lógica; ao se retirar das ruas pessoas em potencial risco de cometerem um ato, as estatísticas diminuirão. E reitera. Sua função é proteger o menor.

Trabalho

Essa é a palavra chave para entender o pensamento do juiz Evandro. Repetida várias vezes durante a entrevista, o juiz parece tratar o toque com muito carinho, como se fosse uma mãe mostrando o quarto arrumado do filho que regressa após tempos fora de casa. Ele frisa que o trabalho não é fácil, e nem perfeito, mas a diferença é que ele abraçou a causa e trabalha para valer. Quando o acusam de ser um homem midiático, o que segundo ele acontece sempre, Pelarin responde que quando houver mais atitudes similares à dele em outras localidades, a medida deixará de ser novidade. Para ele, o trabalho começou, está no meio, e poderá nunca ter fim. Não à toa, usa uma frase de Barack Obama, que parece ser seu lema. “Ao invés de combater nosso esforço, junte-se a nós”.

O juiz

Fonte: Vara Criminal de Fernandópolis-Anexo da Infância e Juventude

O juiz é um homem muito respeitado e benquisto na cidade. Com uma linha pop (mantém contas no Twitter e no Facebook) conversa com jovens a respeito da medida e sempre quando há shows na cidade é perguntado se menores poderão ir sozinhos. A resposta é bem divertida: “se estiver acompanhado do papai e da mamãe, sem problema”. [É permitida a permanência com outros responsáveis, como avós e tios]. A única exceção é a Expo Fernandópolis, tradicional festa da cidade, quando o toque deixa de ser cumprido até o término dos shows. No resto, não tem choro. Ou está acompanhado de responsáveis, ou fica em casa. Sozinho não. Os dois filhos do juiz, de 2 e 4 anos, também terão que se acostumar quando chegarem à adolescência.

Prefeitura Municipal de Fernandópolis/IBGE

Índice de furtos cai 87% em Fernandópolis, depois de decisão polêmica O pai acha que terão problema para se adequarem. Mas, terão que seguir a lei.

Apoio

“Quanto ao apoio, não somos hipócritas. Queremos sempre apoio. Mas não é nosso objetivo. Trabalhamos para cumprir a lei. Ficamos envaidecidos, mas também recebemos críticas pesadas, até caluniosas, e se fôssemos pesar os elogios e as críticas, entraríamos em uma crise existencial psicológica. Estamos aqui para trabalhar. Se a sociedade bate palma, ótimo. Se não bate, nós vamos continuar a trabalhar. Não tem saída”. Assim, Pelarin define o apoio dos pais, que na maioria das vezes, vão assustados ao conselho tutelar saber dos filhos.

Quem não gosta

“Estamos em um país de críticos. As pessoas mal leem, não sabem como funciona nosso trabalho, não conhecem as leis e mal querem conhecer e já se acham doutores para criticarem”. É essa sua resposta para críticos que consideram sua medida totalitária e que infringe o direito de ir e vir, assegurado pela constituição. Ao que ele responde: “Ninguém tem liberdade absoluta. Eu não posso entrar no banco agora (16h30). Não posso pegar meu carro e parar em qualquer lugar. Os menores são submetidos ao poder dos pais. Eles não têm condições para decisões complexas da vida. Não podemos deixar que um menino de 10,11 anos faça escolhas duas horas da manhã na rua”. Ele explana que não é ele quem faz restrições e sim a própria lei. E demonstra essas restrições apelando para um exemplo extremo: “Imagine

uma criança de 11 anos que queira ir sozinha à Votuporanga (30 km de Fernandópolis) para ver a vó e o vô. Ela não pode. A lei impede o amor de avós e netos? Claro que não.” E assim o jovem juiz vai trabalhando, seguindo as leis, cumprindo as regras e se mantendo forte com seu toque, que não é uma novidade no Brasil (há atitude semelhante em 72 cidades brasileiras espalhadas por São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e mais 14 outros estados) e muito menos no Mundo (Grande parte dos Estados Unidos possui restrições similares).

Respeito marca atuação das operações antirrisco de menores

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s operações são sempre aos finais de semana, sem dia definido, em uma média de três operações mensais. A PM age em companhia de conselheiros tutelares. O tratamento é respeitoso aos jovens em situação de risco. Dr. Evandro espera compor um quadro de voluntários para aumentar a frequência das blitzes e desonerar a polícia, que não tem como função vigiar menores e sim manter a ordem pública. A fiscalização acontece perto de bares, casas noturnas e lugares com potencial de risco. O objetivo não é realizar uma “caça às bruxas”. A fiscaliza-

ção é treinada para não levar estudantes uniformizados ou adolescentes saindo do cinema e voltando para casa. Apenas menores portando bebidas e entorpecentes, ou em situação de risco, que estão desacompanhados de seus responsáveis. Eles serão abordados, levados ao conselho tutelar ou à casa dos pais. Estes são advertidos na primeira vez, e podem receber multas de 3 a 20 salários mínimos e perda ou suspensão do poder familiar se os filhos reincidirem. Pelarin salienta que o Código Civil impõe a guarda e a companhia das crianças aos pais.

Toque escolar e trabalho infantil são propostas válidas

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m Fernandópolis há também o toque escolar. Dr. Evandro explica que todos têm direito à educação. Todavia, se pressupõe a frequência escolar. Ou seja, a falta de responsabilidade escolar fere um direito do próprio indivíduo. Dessa maneira, um estudante encontrado nas ruas em horário escolar será imediatamente recolhido pela PM e devolvido à escola, local em que ele deve estar “por bem, ou por um modo mais incisivo”, de acordo com o magistrado. Quanto ao trabalho infantil, Dr. Evandro Pelarin também se posiciona contrariamente. Sua opinião é que há incongruências grandes na lei, já que quando um menor comete um ato infracional ele pode ser condenado a prestar serviços à comunidade como medida sócio-educativa. Se ele

não cumprir, pode ser condenado a uma internação. “E o menor que não cometeu crime e quer trabalhar?”, questiona o juiz. Para Pelarin, é preciso acabar com a ideia de que o trabalho infantil é exploratório ou agressivo (como pensam o Ministério do Trabalho e o Ministério Público Estadual, nas palavras de Dr. Evandro); “nós tentamos mostrar o trabalho não como castigo, mas como prêmio. Se vai bem na escola, respeita professores, e quer trabalhar, é encaminhando ao mercado de trabalho com salário correto, sem ser um emprego insalubre, além de ser diurno”. Desde 2005, mais de 2000 autorizações foram dadas para adolescentes trabalharem, embora muitos nem comecem e outros parem no meio do caminho.

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ECOS

Especial Violência

Crianças brasileiras vivem realidades bem diferentes do que prevê a ONU

Everton Sylvestre onforme a Declaração Universal dos Direitos da intervém, há pessoas que se Criança, elas devem ser protegidas “contra toda for- dispõem a colaborar, mas dima de abandono, crueldade e exploração”. O Es- zem que não denunciaram tatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que antes porque o agressor é vio“têm direito a proteção à vida e à saúde”, bem como a “in- lento e tinham medo. Outro violabilidade da integridade física, psíquica e moral”. problema que relata são brigas Mas, na realidade, as coisas são bem diferentes. entre parentes ou vizinhos que Todos os dias, em torno de 18 mil crianças sofrem vio- resultam em denúncias falsas, lência no Brasil, de acordo com dados do Fundo das Nações além de casos em que a próUnidas para a Infância (Unicef). Cerca de cem crianças morrem pria criança liga, fazendo a no país, por dia, vítimas de violência, segundo pesquisa do La- denúncia. “Tem que realmenboratório de Estudos da Criança da USP. te tomar a decisão de ligar. A Para mudar os rumos dessa história, o Unicef atua a fim pessoa que é omissa também é de garantir às crianças “o direito a sobreviver, a ter uma certidão penalizada. Se não denuncia, é de nascimento, a receber cuidados e proteção e a desenvolver-se cúmplice”, conclui. integralmente”. Os Conselhos Tutelares também dão importanFernanda Sorrilha, tamte contribuição para garantir esses direitos. bém conselheira, enfatiza o Em Bauru, há quatro conselheiras na ativa. Isabel Dias papel do Conselho no combaMoita, que foi conselheira tutelar há uma década e está de volta te ao trabalho infantil e ao uso para a presente gestão, constata: “há dez anos, havia uso de dro- de drogas; “são feitas fiscalizagas entre adolescentes, hoje essas pessoas continuam usando e ções na região do shopping e seus filhos também usam”. em casas noturnas”. Destaca “Fazemos visitas domiciliares constantes, cada conselhei- ainda o Programa de Erradira faz em média três por semana”, conta Isabel, lem“O que me cação do Trabalho brando que o Conselho faz, por mês, em torno de Infantil e a impordeixa muito cem atendimentos caracterizados como orientação, tância da oferta de chateada mas atende também casos de maus tratos, omissão, atividades culturais negligência, advertência escolar e de abuso sexual. é o abuso e esportivas, o que “O aumento dos casos de abuso me impressiona. Em acompanhado dá às crianças outras Bauru, temos, em média, quatro casos por mês”, relaoportunidades e as de omissão” ta. A conselheira diz que, na maioria dos casos, quem aproxima; “fica mais pratica a violência é o padrasto, mas nem sempre. “Existem fácil conhecer sua situação”. alguns casos em que é o pai, inclusive tendo filho com a próAmbas lembram que pria filha. O que me deixa chateada é o abuso acompanhado de são feitas palestras em escoomissão”, afirma. Isabel diz que, ao descobrir, há pessoas que las, geralmente sobre o ECA, solicitam a polícia imediatamente; outras, no entanto, continu- e que um material educatiam convivendo com a situação. vo para conscientização está A conselheira ressalta ainda que depois que o Conselho sendo produzido. Fernanda

Everton Sylvestre

Conselheiras falam sobre o aumento dos casos de abuso sexual e da importância da denúncia

Vania Cristianini

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Menino faz malabarismo em esquina de Bauru; Conselho Tutelar tenta mudar essa realidade

ressalta que qualquer colaboração para edição desse material é bem-vinda. O Conselho Tutelar de Bauru fica na Rua Cussy Júnior, 13-55; denúncias podem ser feitas pelo telefone (14) 3227-3339 ou, em todo o país, pelo Disque 100. Não é preciso se identificar. A escola também pode colaborar A psicopedagoga Luciana Vecchi, professora de Educação Especial em Bauru, afirma que a escola sempre tem que estar atenta a sinais de violência. “Se notamos mudança de comportamento, chamamos os pais para conversar. A gente pergunta se ocorre algo, eles sempre negam”, conta. A escola encaminha o caso à assistente social, mas o processo é burocrático; “estamos frente a frente, mas o pai mascara. Até pegar, demora; às vezes, mais de ano e não há outra maneira”. Quanto às mães omissas, Luciana lembra que muitas vezes elas mostram marcas nelas também. “Às vezes, é melhor tirar a criança. Às vezes, tira-se o agressor e tem que dar assistência a mãe”, diz. Na escola, a criança recebe atendimento diferenciado; “com jogos, um ambiente lúdico, estimulador, para avançar e não pensar em tudo o que ocorreu. Tem adaptações, mas continua com o grupo para aprender e evoluir”, explica.

A violência contra a mulher...

doméstica Creusa Lopes Fagundes, das filhas. Creusa conta que foi avisada no trabalho e que deveria ir 49 anos, viveu maus momentos ao rapidamente para casa. “Ele tinha cavado uma cova”, lembra. A polado do marido, com quem se casou aos lícia foi chamada, mas o agressor fugiu na ocasião e ficou impune. 13 anos de idade por imposição do pai. Creusa conta que um dia foi trabalhar com um hematoma no O casal teve cinco filhos: quatro meni- rosto e mentiu dizendo que havia caído na rua, mas não conseguiu nas, uma delas falecida, e um menino. Os sete primeiros anos de enganar os colegas de trabalho. O marido trabalhava, mas todo o casamento foram harmoniosos e o casal tinha uma vida financei- dinheiro que conseguia usava para beber. Creusa chegou a pedir ra estável. Mas, a partir desse momento, o marido, que já bebia, esmolas na rua e pegar restos de alimentos na feira e conta que passou a beber mais e tornou-se muito violento. “Eu sabia que ele sentia medo e vergonha. bebia, mas não sabia que ele era violento”, lembra. A doméstica procurou a polícia em diversas ocasiões. “Briga As agressões foram muitas e não se limitavam a Creusa, de família, de marido e mulher, não tem nada não”, era a resposestendiam-se aos filhos. Ameaças e ferimentos com faca, ta que ouvia das autoridades para as suas denúncias. Na “Me sinto chutes no rosto e nas costas, puxões de cabelo, intimidaescola, os professores observavam os sinais de violência ção verbal, proibição para sair de casa e trabalhar, incluvisíveis nos filhos do casal, mas não interferiam. “A escola uma sive agressões enquanto estava grávida são algumas das e a polícia podiam ter ajudado e orientado mais”, ressalta. heroína” situações relatadas. Certa vez, o marido tentou cometer Certo dia, alertada pelos vizinhos, Creusa notou um suicídio e colocar a culpa na esposa. “Ele não me deixaolhar estranho do marido para uma das filhas e percebeu va pentear o cabelo, tomar banho e escovar os dentes para sair de sua intenção maliciosa. Foi a gota d’água. Creusa e seus quatro ficasa”, diz. lhos saíram de casa e contaram com a ajuda de amigos que os aco O casal perdeu uma filha com seis anos de idade; “ela mor- lheram até que arrumassem um lugar para viver. reu de fome porque ele não me deixava trabalhar. Se eu estivesse Ao sair de casa, Creusa perdeu o medo que sentia do marido trabalhando minha filha não teria morrido, ela estaria hoje junto e reconstruiu sua vida. Nunca mais sofreu nenhuma agressão e é com as outras”. Além disso, a criança teve complicações com pro- uma mulher independente. Já estão separados há vinte anos. blemas de saúde. A outra filha, o pai agrediu na cabeça e no mesmo “Eu estava dormindo, eu estava morta”, relata Creusa quando instante a menina expeliu sangue pelo nariz e pelos ouvidos. Pas- questionada sobre os anos que conviveu com a violência do marido. sou a ter dificuldade para ler, relata Creusa. “Sou super feliz”, diz ao terminar seu depoimento, com um Em outro fato marcante o marido tenta enterrar viva uma sorriso no rosto, após ter retomado sua vida.


ECOS

Especial Violência

Um drama sem fim

A violência contra a mulher é um ato covarde e deixa marcas físicas e psicológicas

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Maria da Penha

A Lei 11.340/06, a popular Lei Maria da Penha, foi sancionada pelo presidente da República em 7 de agosto de 2006 e está em vigor desde 22 de setembro do mesmo ano. A lei recebeu esse nome em homenagem à farmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, que protagonizou momentos terríveis de violência praticados por seu marido, o então professor universitário Marco Antônio Heredia Viveiros. Em 1983, Maria da Penha levou um tiro do marido enquanto dormia e, em decorrência disso, ficou paraplégica. A farmacêutica ficou internada por um longo período e, ao voltar para casa, o marido a submeteu a mais episódios de violência, chegando a mais uma tentativa de assassinato. Dessa vez, Marco Antônio tentou eletrocutar a esposa, o que a levou a sair de casa e procurar a ajuda da família. Em 1984, inicia-se um longo processo de busca por justiça. Anos depois, seu marido foi julgado e condenado a 15 anos de prisão, mas a defesa apelou da sentença e a condenação foi anulada. Em 1996, um novo julgamento condenou Marco Antônio a 10 anos, sendo que desses anos só dois foram cumpridos em regime fechado. Maria da Penha, juntamente com órgãos e ONGs, travou uma longa e trabalhosa luta até ser encaminhada uma proposta ao Congresso Nacional. Mais debates ocorreram até que o Congresso Nacional aprovou a lei por unanimidade. em Situação de Violência, ou Casa-Abrigo, inaugurada em Bauru em 2009. A Casa-Abrigo oferece moradia protegida para as mulheres, acompanhadas ou não de seus filhos, vítimas de violência doméstica, que estão ameaçadas de morte. “O serviço é de caráter sigiloso, temporário e visa auxiliar a mulher no processo de reorganização de sua vida e no resgate de sua autoestima”, esclarece a psicóloga. Somente neste ano, até o mês de setembro, 24 mulheres já foram acolhidas pela Casa-Abrigo.

...e contra crianças sob o mesmo teto A

pedagoga Lygia Bovo, 55, foi outra vítima da violência contra a a proibiu de ajudar a outra. De manhã, mulher. Casou-se aos 25, contrariando a família. Filha única, de trancou-os e foi trabalhar. “Ficamos lá o um casal que se amava incondicionalmente, nunca presenciou dis- dia inteiro, sem avisar ninguém”, relata. cussões entre os pais. Em seu casamento, a relação tomou outro rumo. Quem despertou Lygia foi o filho Tudo ia bem até o primeiro filho. A princípio, agressões ver- mais velho; “me chacoalhou literalmenbais; depois, espancamentos. “Ele me diminuía muito quando es- te e disse ‘a gente tá sofrendo, você não faz nada?’”. Ela ligou para távamos sozinhos”, conta. O casal teve três filhos; “o segundo, ele o pai que, com a polícia, salvou-os. rejeitava”. Antes da mais nova nascer, ele engravidou outra muNa polícia, Lygia diz que a aconselharam a arranjar uma lher. “Ele mesmo contou, na boa”, observa. arma, ofereceram serviços à parte para dar um jeito nele. “Uma A partir daí, viveu momentos de horrores; “foram anos, culmi- vez entregaram intimação a uma mulher arrebentada, pra nando com ele pondo fogo em mim na frente dos filhos”. ela levar pro marido”, relata. Lygia propôs tirar toA vítima ficou quatro meses internada, mas não o de- “A sociedade das as queixas desde que o ex-marido não perturnunciou. Com medo de ficar longe dos filhos, voltou para basse mais e ouviu: “Impossível, agora é o Ministéé omissa” rio Público contra ele”. No entanto, segue impune. casa. “Teve época que virava contra as crianças”, conta. O homem levou a mãe do outro filho para morar Lygia acredita que ele usava drogas. “As agressões com eles. “Ele achava lindo ter duas mulheres”, ressalta. Foram dez independiam de ter bebido. Dizia-se arrependido, mas voltava a anos de casamento e mais dois até ficar livre. Do alto do prédio em cometê-las”, conta. que morava, ele conseguia enxergar Lygia na locadora em que foi A escola ofereceu ajuda psicológica; “meus filhos ainda fazem trabalhar e ligava para intimidá-la. terapia, mas têm uma vida normal”. Lygia cuidava do outro menino. Uma vez, foram buscá-lo no Lygia é enfática quanto a não rotular a mulher que apanha. apartamento dela e ele agrediu a outra; “bateu tanto nela, na mi- “Não é que não queira sair. O medo é tanto. A gente vira um robô”, nha frente, na minha casa. Eu encolhida no sofá, ele falava ‘não afirma. Ela acredita que se tivessem ajudado, teria saído antes. abre a boca senão sobra pra você’. Quebrou as duas mãos dela. Ba- “Nenhum vizinho fez nada. A sociedade é omissa”, observa. teu da meia-noite às quatro. Meu apartamento ficou cheio de sanA pedagoga refez sua vida, agora exerce sua profissão e quer gue. Só conseguia ter medo”. O homem levou todos para o aparta- desenvolver um projeto para amparar vítimas de agressão. “Tem mento dele. Lá, obrigou Lygia a se sentar no chão, via-a da cama e que ter alguém para recorrer, pra apontar saída a elas”, finaliza.

Everton Sylvestre

Vania Cristianini s mulheres foram consideradas sexo número de ocorrências ainda não corresponde frágil por muito tempo e seus direitos fielmente à violência contra a mulher, seja por foram conquistados de forma lenta e medo, dependência emocional ou financeira ou gradual. Elas migraram para uma posição com mesmo por consideração aos filhos”, informa direitos semelhantes aos dos homens. Contudo, a delegada. Muitas retiram as acusações e soliainda vivem situações de desrespeito e a vio- citam o arquivamento dos autos, o que faz com lência é uma delas. Muitas ainda são vítimas de que o criminoso fique impune. Bauru deu um passo significativo na ajutruculência inclusive dentro de casa. Segundo a titular da Delegacia de Defesa da a mulheres que sofrem violência. Em 26 de da Mulher (DDM) de Bauru, Flávia Regina dos novembro de 2010, com o apoio da Secretaria Santos Ueda, os crimes mais praticados contra a Municipal do Bem Estar Social, foi inauguramulher são os de injúria, lesão corporal e ameaça. do o Centro de Referência de Atendimento à De acordo com a Secretaria de Estado Mulher em Situação de Violência. “Cessar a da Segurança Pública do Governo do Estado situação de violência vivenciada pela mulher de São Paulo, de janeiro a agosto Mais que redu- atendida, sem ferir o seu direito à autodeterminação, mas promodeste ano, já foram registradas na DDM de Bauru 890 ocorrências zir o número de vendo meios para que ela fortaleça de lesão corporal e 69 de estu- ocorrências, lei sua autoestima e tome decisões repro. Muitos dos casos de violência Maria da Penha lativas à situação de violência por ocorrem no âmbito doméstico ou valoriza direitos ela vivenciada”, são os objetivos pretendidos, segundo a psicólofamiliar e podem ser enquadrados das mulheres ga e coordenadora do Centro de na Lei Maria da Penha. “A lei traz aspectos conceituais e educativos que a qualifi- Referência, Cláudia Zanandrea. O Centro de Referência oferece atencam como uma legislação avançada, cuja ideia principal foi caracterizar a violência doméstica dimento psicológico, social e jurídico, por e familiar como violação dos direitos humanos. meio de parceria com a Defensoria PúbliEnquadra-se na lei qualquer ação ou omissão ca, além de desenvolver atividades de preque cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual venção e qualificação de profissionais. Desou psicológico, bem como dano moral ou patri- de o início do serviço até setembro deste monial à vítima”, explica a delegada. A lei prevê ano, 499 mulheres foram atendidas. A psicóloga explica que o serviço recebe que a vítima, no âmbito doméstico ou familiar, pode requerer medida protetiva para afastar o mulheres de toda a rede de atendimento públiagressor do lar e proibí-lo de se aproximar ou co e as que procuram espontaneamente, mas mesmo manter qualquer contato com ela a dis- a maioria delas chega ao Centro encaminhada pela DDM. tância determinada judicialmente. Outro ponto importante no enfrentaUm fator que dificulta a precisão dos dados sobre violência é que nem sempre as mento à violência contra a mulher é o Serviço vítimas dão queixa contra seus agressores. “O de Acolhimento Institucional para Mulheres

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ECOS

Modelo de gestão pode ser violento

Especial Violência

A violência no ambiente profissional se manifesta nas condições precárias, acidentes, doenças e relações degradantes de trabalho Carol Costa s suicídios de vários trabalhadores de uma fábrica em Shenzhen, na China, propriedade da empresa tailandesa Foxconn, ganharam o noticiário internacional em 2010. Maior fabricante de componentes eletrônicos e de computadores do mundo e empregadora de 400 mil pessoas, a empresa se viu obrigada a instalar redes de segurança em torno de suas instalações e a contratar psicólogos para prevenir novas tragédias. O que há por trás dessa situação é um cenário de violência no trabalho, que não está restrito a um país, um estado ou uma cidade. O caso da Foxconn é um retrato da degradação que as péssimas condições de trabalho, como as longas jornadas e a alta exigência em termos de produtividade, impõem aos trabalhadores. Mas essa é apenas uma das faces da violência no ambiente profissional, como explica a psicóloga Maria Dionísia do Amaral Dias, que atua na área de Saúde do Trabalhador: “o trabalho no capitalismo constitui-se como uma violência e engendra diversas formas de manifestações cotidianas dela nos ambientes de trabalho, podendo ser citadas a manutenção de condições precárias e acidentes de trabalho, doenças do trabalho, relações de trabalho degradantes, discriminações di-

Charge: José Eduardo Roberto

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versas, além de violências psicológicas e morais”. As consequências são inúmeras. Maria Dionísia aponta que essas formas de agressão se refletem na saúde do trabalhador, expressandose no sofrimento, nas doenças físicas e mentais e, inclusive, na morte, acarretada por suicídios, acidentes fatais ou doenças graves. Tal situação já é tratada, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma realidade que afeta milhões de trabalhadores. Os dados mais atuais da Gerência Regional do Trabalho em Bauru, referentes a 2010, mostram como a violência manifestada na negligência em relação à saúde e segurança dos trabalhadores está presente na região. Em uma área que abrange 55 municípios e cerca de 2 milhões de pessoas, foram realizadas 146 ações fiscais rurais, a maioria em frentes de corte de cana, informa o Gerente Regional do Trabalho, José Eduardo Rubo. O resultado foram 319 autuações referentes à segurança e 139 relativas à proteção dos trabalhadores. As principais infrações encontradas estão ligadas às irregularidades

nos refeitórios, no uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e na utilização de agrotóxicos. Também existem casos que não entram para as estatísticas oficiais, mas se caracterizam como agressão. Foi isso o que aconteceu com Carolina Matsuzaki, auxiliar administrativa em um escritório localizado na cidade de Lençóis Paulista. Ao sair do prédio onde trabalha, a funcionária teve seu dedo prensado por uma porta, o que acabou ocasionando uma lesão e perda parcial de mobilidade. As despesas com radiografias e remédios para o tratamento, no entanto, não foram assumidas pelo empregador, nem quando solicitado pela funcionária, que, inclusive, trabalha sem registro. O assédio no ambiente profissional é outra situação que atinge os trabalhadores como uma forma de violência, mas que nem sempre é vista com seriedade. A técnica em radiologia Maria passou por isso há cerca de três anos, no hospital onde trabalha. Ela prefere não divulgar seu nome. Tudo começou quando foi chamada durante seu plantão para fazer uma radiografia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ao passar pelo pronto-socorro a caminho da UTI, notou certo comportamento estranho de um médico residente e isso se confirmou quando ele passou a encará-la e a perguntar, sem motivo aparente, se a radiologista poderia ajudá-lo. O que se seguiu foi uma perseguição: “percebi que ele não estava normal, a pupila dele estava dilatada e sua atitude era

Você fica se sentindo culpada, procurando um motivo, se questionando se fez ou falou alguma coisa. Mas não, os culpados são eles. Maria, vítima de assédio no ambiente de trabalho

estranha. Com muito custo, queria que eu fizesse para ajuconsegui sair do local e me di- dá-lo com a paciente. Ele ficou rigi até a secretaria. Ele me se- totalmente possesso e comeguiu, veio para meu lado e me çou a me agredir verbalmendeu um beijo no rosto, mesmo te”, relata Maria. Nas semaeu tentando me esquivar. Sai nas seguintes, a frequência do médico no setor de correndo e me tranEu morria radiologia e sua atiquei na sala de exade medo dele tude estranha tornames”, conta. O episódio, fazer alguma ram-se assíduas, asno entanto, não coisa para sim como a angústia da funcionária: “eu acabou aí. Depois mim morria de medo dele de passar cerca de vinte minutos escondida den- fazer alguma coisa para mim. tro da sala, ao sair, a técnica se Quando ia dar plantão, eu saia deparou novamente com o re- de moto e ficava olhando em sidente, acompanhado de uma volta, desviava o caminho de paciente, que continuava insis- casa, fazia outros trajetos”. O tindo se ela não iria ajudá-lo: sofrimento só acabou meses “Tremendo muito, respondi depois, quando o médico foi que o médico ali era ele e que afastado pelo hospital, graças eu era uma simples técnica em às sucessivas reclamações soraios-X; perguntei o que ele bre seu comportamento.

As empresas devem oferecer: Equipamentos de Proteção Individual (EPI) em bom estado Instruções sobre prevenção de acidentes e doenças do trabalho Serviços especializados em seguran- ça e em medicina do trabalho Estratégias preventivas contra práticas discriminatórias A eliminação ou neutralização da insalubridade no ambiente profissional Como abrir um Comunicado de Acidente de Trabalho? O próprio trabalhador acidentado pode formalizar o comunicado de acidente de trabalho à Previdência Social, caso a empresa não o faça. A quem recorrer no caso de assédio? As vítimas de assédio devem recolher evidências e procurar aliados, assim como o sindicato e outras organizações de defesa de direitos do trabalhador, como o Ministério Público do Trabalho.

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ECOS

Especial Violência

Pichadores usam códigos para assaltar

Recurso identifica rotina dos moradores e facilita a ação dos criminosos

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mente. A pessoa deve pintar para tirar esses sinais”, aconselhou.

Lei contra pichações

A fim de ajudar a diminuir as pichações, a presidenta Dilma Rousseff sancionou, em maio deste ano, a Lei 12.408, que proíbe a comercialização de tintas em embalagens aerossol a menores de 18 anos. O texto ainda prevê que o comerciante identifique o comprador na nota fiscal. Para José Christino, tal medida não será muito eficaz para reduzir o número de pichações. “Um maior pode comprar o spray e repassar para um menor. Na verdade, é tudo uma questão de educação. Falta conscientizar a população”, opina. O que pode fazer a diferença no combate a esse delito, segundo Christino, é “a fiscalização e a denúncia. A polícia não adivinha onde está o crime”, orienta.

Fonte: Conseg

Kelly De Conti Rodrigues er pichações em muros é algo que não causa muito espanto. Até por esse motivo, a presidenta Dilma Russeff aprovou uma lei que permite a venda de spray apenas com a identificação do comprador. Contudo, essas pichações podem representar perigo para a população. Isso acontece quando tais marcas funcionam como códigos para assaltantes. Alguns deles foram decifrados por meio de estudos das Secretarias de Segurança Pública. Algumas marcas indicam, por exemplo, o melhor período para assaltar. Uma seta para cima significa que de manhã é mais fácil, enquanto na direção oposta quer dizer que o local está mais vulnerável à noite. Já uma seta para um dos lados mostra que à tarde é o melhor momento. Indicar o mês em que a residência fica vazia através de números é outro recurso dos assaltantes. Por exemplo, se uma casa fica fazia em agosto, o numeral oito seria pichado. Outros dois símbolos comuns são o asterisco (*) e o cifrão ($). O primeiro indica que pode haver arma na residência ou que o assaltante deve entrar armado. Já o cifrão mostra a eles que há dinheiro na casa. Segundo o diretor do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de Agudos (13 Km de Bauru), José Christino, há vários tipos de marcações, e algumas atitudes devem ser tomadas quando houver uma pichação na residência. Entre elas, Christino destacou que, apesar de algumas pessoas acharem que não cabe denúncia, é importante comunicar a ocorrência à Polícia Militar. Além dessa medida, o diretor afirmou que os moradores não devem deixar os sinais por muito tempo na parede. “É preciso apagar imediata-

Polícia espera ajuda para diminuir pichações esmo sabendo se tratar de um crime, muitas pessoas costumam não denunciar quando têm suas propriedades pichadas. Isso atrapalha o trabalho da polícia, a qual busca os pontos onde elas mais ocorrem e aposta na conscientização para diminuir esse ato de vandalismo. “A polícia age, nos casos de crimes graves, pelo acionamento, pelo trabalho de emergência. Nos menos graves, nós trabalhamos pela quantidade. Ou seja, onde há uma incidência, uma cultura negativa, a polícia fica sabendo e começa a atuar”, explicou o major do 4º Batalhão de Polícia Militar do Interior Flavio Jun Kitazume. Ele ainda afirmou que as denúncias ocorrem geralmente quando o pichador é pego em flagrante. “Por isso a policia ouve os trabalhadores noturnos, como taxistas e vigilantes, que conhecem a vida daquela região. Então, eles podem nos ajudar a identificar. E são eles que, muitas vezes, acionam a polícia. Os nossos flagrantes são em cima dessas denuncias”, contou. Por não se tratar de um caso emergencial, Kitazume recomenda que a polícia comunitária seja acionada. “Esse trabalho é muito mais ligado à base. É um trabalho de polícia comunitária. O 190 (telefone usado para contato com a PM

em caso emergência) é para os crimes que podem causar risco à vida e à integridade física das pessoas. E a pichação é algo mais de cunho so- denado das cidades, a falta de emprego e oportunidade geram delinqüência juvenil, que leva à marginalidade e deixa o jovem cial, comunitário”. Além de uma forma vulnerável ao assédio dos marginais. Começa com pequenos vícios (bebidas, cigarros, pichações) e depois passa de facilitar assaltos As penas para furtos”, contou o major. (vide matéria acirestritivas de A punição prevista em lei para os pichadores ma), as pichações são maneiras de liberdade vão é de seis meses a um ano de prisão e multa. Contualguns grupos mar- na contramão do, Kitazume afirma que prender esses criminosos carem território. do que pensa a não é a medida mais adequada para o caso. “Hoje, vemos que as penas restritivas de liberdade vão na Segundo o major justiça contramão do que pensa a justiça”. Um possível caKitazume, “quanto maior o grau de dificuldade minho, segundo ele, relaciona-se à educação e conscientização para pichar, o marco para eles dos cidadãos. “Nós vimos que atuar repressivamente é quase é maior. Então, isso só serve como enxugar gelo. Esse é um trabalho de convencimento, de de estimulo”, explicou. Outro descobrir o que leva as pessoas a fazerem, porque isso é uma problema relaciona-se ao fato maneira de se manifestar. Então, é preciso atacar a causa prinde que “o crescimento desor- cipal”, destacou o major.

Fonte: Conseg

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Lucas Esteves

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cidade de Bauru tem sido palco de situações de violência que se tornam cada vez mais freqüentes e trazem à tona a discussão em torno do tema Segurança. Só que essa discussão é pouco produtiva se as pessoas não tiverem as informações básicas sobre o funcionamento desse setor da esfera pública. Informações sobre as diferentes funções das polícias Federal, Civil e Militar, por exemplo. O artigo 144 da Constituição Federal atribui o dever de manutenção da segurança pública ao Estado. Entre os órgãos do governo que exercem tal função estão as polícias militar, civil e federal. Segundo a Cabo da Polícia Militar, Fabiana Piffanelli, “as funções são descritas na própria constituição”. A maioria das pessoas não sabe que funções cabem a cada tipo de órgão. A Polícia Civil é a que investiga atos ilícitos que já ocorreram, buscando constatar a autoria e as circunstâncias do crime. Essa atuação em nível da União, por outro lado, é responsabilidade da Polícia Federal. Em sua esfera de atuação estão as infrações que interessem à União ou que tenham repercussão interestadual ou internacional. “Também realiza funções de polícia

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O que cada polícia faz

É muito fácil alguém se enganar e errar ao chamar a polícia de fronteira, aeroportuária e marítima e de polícia judiciária, no âmbito da união”, acrescenta Piffanelli. Assim, fica com a Polícia Militar a responsabilidade de agir diariamente de modo a prevenir, coibir, reprimir ou dissuadir qualquer forma de eventos que perturbem a ordem pública. A cabo Piffanelli lembra que “quando há a eclosão de um ato contrário à norma, a Polícia Militar tem, por meio da repressão imediata, o dever de agir naquele momento a fim de coibir tal conduta para que a ordem pública seja preservada”. Apesar de a Constituição delimitar bem as funções das três instituições policiais, existem também órgãos responsáveis por fiscalizarem sua atuação. A Secretaria de Segurança Pública é responsável pela fiscalização da Polícia Militar e da Polícia Civil. Já a fiscalização da Polícia Federal fica por parte do Ministério da Justiça. Em contextos em que a segurança pública enfrenta situações que comprometem a ordem, esse tipo de informação é extremamente útil. Só a Secretaria de Segurança Pública pode investigar uma denúncia contra a PM, por exemplo, e não adianta procurar a Delegacia em casos de emergência. Aí quem atende é a PM.

Eu saí de casa por volta das cinco e meia, seis horas, para ir para o ponto de ônibus, para ir para a Unesp. O dia estava claro ainda. Eu fui descendo pela Henrique Savi, a rua do shopping. De repente, três pessoas vieram me cercando, me colocando contra o muro. Eram três caras. Me perguntaram se eu tinha celular. Eles foram focados no celular mesmo, não queriam outra coisa. Eles foram me empurrando e pegaram minha mochila. Eles não acharam porque eu tinha esquecido o celular em casa. Perguntaram quanto que eu tinha de dinheiro e me ameaçaram de agressão física. No fim, acabaram levando só trinta reais que eu tinha comigo naquela hora. O que eu achei mais estranho foi ter acontecido naquela rua, que é muito movimentada. E durante o dia, no fim da tarde. Eram bandidinhos, mesmo. Até perguntaram se eu tinha dinheiro pro ônibus. Eu acho um absurdo a gente ter que passar por isso, ainda mais durante o dia, em uma rua tão movimentada. Um amigo meu havia sido assaltado no dia anterior. A gente registrou boletim de ocorrência, mas não deu em nada. Guilherme Henrique, vítima de assalto à luz do dia

Fonte: Constituição Federal

ECOS

Especial Violência


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