Bauru, dezembro de 2012
Nerds: A cr铆tica aos estere贸tipos de The Big Bang Theory p. 3
Torcidas Organizadas: Um dia com a bauruense Sangue Rubro p. 4
Entrevista: Psic贸logo analisa o fen么meno das tribos urbanas p.11
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Qual é a sua
Página 3 De “Vida longa e próspera” até “Bazinga”!
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Tá no sangue
Good old times!
Página 6 Tendência da vez
Página 7 Voz aos que não têm
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TRIBO?
Qual é a sua tribo?
Faça você mesmo!
Página 9 Violão, camisa xadrez e muita festa
Zeca Baleiro cantava “Eu não sou cristão, eu não sou ateu, não sou japa, não sou chicano, não sou europeu, eu não sou negão, eu não sou judeu, não sou do samba, nem sou do rock, minha tribo sou eu”. É fato que as tribos urbanas são algo recorrente em nossa sociedade. E os protagonistas desse fenômeno costumam ser os jovens. Não é muito fácil definir o que são tribos urbanas. O conceito diverge em alguns casos, mas tribos urbanas, também chamadas de subculturas ou subsociedades, podem ser grupos de pessoas que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. Essas agregações apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir. Essa foi uma definição embasada nas teorias do sociólogo francês Michel Maffesoli, que cunhou o termo em 1985. Nós, d’O Interior das Tribos, partimos dela para mostrar esse que é um fato em nossa sociedade. Punks, skatistas, nerds e torcidas organizadas são alguns dos movimentos que foram alvo de nossa reportagem e que serão aqui retratados. A pergunta que fica é a do por que as pessoas terem a necessidade de aderir ao fenômeno. A psicóloga Luciana Gageiro, da Universidade Federal Fluminense, responde essa pergunta fazendo uma análise com base na cultura capitalista, que é fortemente marcada pelo individualismo. Ela explica que “em um período caracterizado pela fragmentação e pulverização de referências simbólicas que balizem a passagem do adolescente para uma nova inserção social no mundo, pode-se supor que as tribos representam espaços de encontro e partilha da experiência da adolescência. As tribos seriam, assim, tentativas coletivas de fazer valer um ideal coletivo, produzido pelos próprios jovens, diante da falência de grandes ideais sociais”. Neste suplemento traremos um pouco mais de cada uma dessas tribos. Tentaremos explicar como funcionam, quais os perfis dos jovens que a elas pertencem e a opinião de especialistas sobre o tema. Esperamos que você, leitor, possa desfrutar o máximo possível do conteúdo que a nossa equipe preparou. E aí, “qual é a sua tribo?”
expediente
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Em nome do shape, do truck, dos rolamentos e das rodinhas: Skate!
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Entrevista
INSTITUIÇÃO
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC)- Bauru/ 2012
REITOR
Julio Cezar Durigan
ATRIBUIÇÕES Página 12
Galeria
Planejamento Gráfico-Editorial, Jornalismo Impresso II Comunicação Social - Jornalismo
PROFESSORES RESPONSÁVEIS Angelo Sottovia Aranha, Tássia Zanini
EDITOR-CHEFE
Renan Moraes
EQUIPE DE REPORTAGEM
Ana Luiza Martins, Deivide Sartori, Larissa Roncon, Mayara Castro, Melanie Castro, Murilo Barbosa, Nathália Fontes, Renan Moraes
DIAGRAMAÇÃO E ARTE
Larissa Roncon, Murilo Barbosa
EDIÇÃO DE IMAGENS
Melanie Castro, Nathália Fontes
De “Vida longa e próspera” até “Bazinga”! “Eu não ligo pro que eles dizem sobre nós de qualquer forma. Eu não ligo pra isso” (Weezer, Buddy Holly)
Ana Luiza Martins e Renan Moraes
do empresário bilionário são munição de muito nerd que precisa se defender do preconceito sofrido por gostar de estudar e passar horas pesquisando algum tema. Que atire o primeiro Krypton o nerd que nunca profe-
ca, ficção científica, cinema, mas se eu for me considerar um nerd de verdade, vai ser por causa da literatura geral. É isso que mais me inspira essa obsessão”, analisa. O jornalista opina sobre a recente populariza-
dois lados da relação (o nerd extremo e a menina linda) a ponto de tornar isso uma ironia”, pontua o jornalista. Para Felipe Storino, editor - assistente do site nerd Mob Ground, as histórias de Dr. Cooper e seus amigos não são nada divertidas. “The Big Bang Theory é o seriado mais imbecil que surgiu nos últimos tempos e tenta reforçar um estereótipo que não existe no mundo real”, afirma. A editora de ficção do Mob Ground, Beatriz Paz, afirma que os nerds não são só o que a série mostra: “O nerd é uma mistura de preferências com comportamento. Falar sobre isso é complicado uma vez que as segmentações do movimento nerd crescem cada vez mais”. Essas segmentações surgiram para categorizar os diversos interesses que compõem o universo nerd. Igor Queiroz, do blog Who’s Nerd?, desde cedo tem forte afinidade com a cultura japonesa e com o universo dos games. Esses interesses permitem caracterizá-lo como um Otaku (aficionado por itens da cultura japonesa, como mangás) e Gamer (viciado em jogos). Além desses, temos os geeks, loucos por tecnologia, e os Fandoms, amantes de obras e sagas como Harry Potter. As caixinhas para rotular os nerds não param por aí. Mas, como afirma Igor, existe uma característica que parece suficiente para defini-los: “Eles não se satisfazem com informações rasas, precisam de informações aprofundadas, e acredito que isso seja inerente a todo nerd”. Ana Luiza Martins
C
omo já dizia a banda “Seminovos”, “o nerd de hoje é o cara rico, lindo e bom marido de amanhã”. O hit “Escolha já seu Nerd” bombou na internet e grudou na cabeça de muita gente. Mas as agruras da vida nerd têm outras razões para terem alcançado a fama: o seriado The Big Bang Theory é uma delas, por exemplo. Virou moda usar óculos enormes, roupa xadrez, vestir a camisa I love Nerds e o melhor: ser inteligente agora também é cool! Da exibição do clássico nerd Piratas do Vale do Silício até Sheldon Cooper virar herói muita coisa aconteceu. Muito preconceito, piadas com a tribo e exclusão social rolou até que os nerds pudessem protagonizar um seriado de TV de sucesso, ou fossem considerados um potencial público consumidor de jogos, filmes, seriados e eventos específicos. As curiosidades sobre essa tribo já começam pelo termo que a denomina. E as controvérsias também. Afinal, não há um consenso sobre a patente do nome “nerd”. Uma teoria afirma que foi nos anos 50, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), que os nerds começaram a ser chamados assim. Nerd também pode ser uma abreviação de Northern Electric Research and Development (Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da companhia Northern Electric do Canadá). Não dá falar sobre a história dos nerds e não citar o muso inspirador da tribo, nerd assumido e bem sucedido Bill Gates. As afirmações
Lojas da Galeria do Rock, em São Paulo, se rendem à cultura nerd riu as palavras de Gates que explicava por que o popular devia tratá-lo bem: ele viraria seu patrão no futuro.
Que a força (e a palavra) esteja com os nerds Otávio Cohen é repórter da revista Super Interessante e escreve sobre um assunto que domina bem, o nerdismo: Ele acredita que o que defina um nerd é o interesse obsessivo por um tema que exija dedicação e conhecimento. “Eu sou de humanas, estou mais para o lado da música do que para o lado dos números. Gosto de literatura fantásti-
ção do nerdismo: “Os “nerds clássicos” do passado se graduaram e começaram a abrir empresas, escrever livros e ajudar a criar os produtos que hoje fazem parte da cultura pop”. Quanto ao sucesso de The Big Bang Theory, Otávio acha o seriado divertido, mas condena o abuso de estereótipos utilizados pelos roteiristas. “A série mostra um grupo de ‘nerds das exatas’ com comportamentos social-awkward, tímidos, mas que namoram mulheres lindas. Não estou dizendo que um nerd não vai namorar uma mulher bonita, mas o seriado brinca com essas caricaturas e exagera os
Um pouco mais -Banda Weezer, música Smart Girls. Cd Hurley, lançado em 2010 pela Epitaph Records -Fime A Vingança dos Nerds (Revenge of the Nerds). Lançado em 1984, dirigido por Jeff Kanew.
Tá no sangue
“Muitos dizem que sou louco. Eu até concordo, mas na vida você tem que fazer o que gosta. E é disso que eu gosto, então é isso que eu faço”, Vitor Vieira
N
uma tarde ensolarada de sábado, José Roberto Pavanello, profissional autônomo, 58 anos, reúne a família e os amigos para um almoço comemorativo. Arroz, couve e farofa são os acompanhamentos de uma suculenta feijoada, servida ao som de um grupo de pagode que toca no quintal da casa acanhada. Entre os presentes, uma característica em comum: a vestimenta nas cores vermelha e branca. Num dado momento, a música para e Vitor Vieira, 18 anos, o presidente da família, grita: “Todo mundo tem ingresso?” Sim, essa família tem um presidente. A família que Vitor preside é a Sangue Rubro, torcida organizada do Esporte Clube Noroeste, de Bauru. Fundada em 13 de dezembro de 1986, a Sangue Rubro surgiu a partir da divisão de uma antiga torcida noroestina chamada Dragões Vermelhos - já extinta. Ex-presidente e atual diretor, Pavanello emprestou a casa para a fundação. Hoje, sua função é organizar eventos, cuidar das finanças e do patrimônio da Organizada. Já Vitor é o responsável por ser a alma da torcida na arquibancada. É ele quem puxa o coro, agita e coordena as manifestações dos torcedores. A paixão pelo que faz surgiu quando tinha cerca de 14 anos e entrou para a Sangue. Acompanhando os jogos, o fanatismo cresceu a ponto de tatuar o distinti-
vo do Noroeste nas costas. Além da feijoada, outro compromisso uniu os familiares naquele dia: ir para o Estádio Alfredo de Castilho apoiar o Norusca na estreia da equipe na segunda fase da Copa Paulista de Futebol, contra o Rio Claro. Uma hora antes do início do jogo, os cerca de 50 membros reunidos começam a caminhada rumo ao Alfredão. A saída antecipada é necessária em razão da vistoria que a Polícia Militar faz nos instrumentos de percussão e faixas levadas ao campo pelos integrantes. Com a entrada autorizada, os membros da bateria tomam seus lugares nos degraus mais altos da arquibancada, enquanto Vitor e parceiros amarram as faixas no alambrado atrás de uma das linhas de fundo. A maior faixa tem a inscrição “Sangue Rubro” e propositalmente é colocada de cabeça para baixo. “É uma maneira de protestar e, ao mesmo tempo, uma aposta entre nós [integrantes]. Se no ano que vem o time subir de divisão no Paulista, a faixa volta ao normal”, explica o diretor. Outras duas faixas desmentem a ideia de que o ambiente de uma torcida organizada é só para homens e hostil em relação aos adversários. Numa delas, a expressão “Comando feminino” chama a atenção para as cerca de 10 garotas, com idade entre 13 e 18 anos, que fazem parte da torcida.
“Elas participam sempre. Fazem eventos nas redes sociais para atrair outras meninas, viajam em caravanas. As meninas são fundamentais para que todos vejam que lá é o lugar delas também”, comenta Vitor. “Muitos pais trazem as garotas aqui e as deixam sob nossa responsabilidade. Num eventual problema, todos da torcida têm que defendêlas”, reforça Pavanello. Já a terceira faixa exVitor exibe sua põe a sigla FFT, que faz paixão pelo Norusca referência à Fiel Força Trimos alternativas. Entramos color, torcida do Botafogo de Ribeiro Preto (?!). O es- para nos defender”, abre o tranhamento ao ver faixas de jogo Pavanello. “Respeite equipes adversárias lado a para ser respeitado” é o que lado se desfaz quando o pre- Vitor se limita a dizer ao ser sidente explica a parceria perguntado sobre como é formada por algumas orga- a relação da Sangue Rubro nizadas do interior do Esta- com as demais organizadas. Com a bola em jogo, a do: “Nossas ‘alianças’, como chamamos, surgiram há al- organizada coloca em práguns anos e, de um tempo tica o papel de 12º jogador. para cá, formamos a ‘Famí- Sempre em pé, todos canlia Interior’. Quando vamos tam sem parar. Na verdade, para as cidades de nossos até ficam em silêncio após aliados somos bem recebi- uma chance perigosa a fados sempre. Estamos presen- vor do Rio Claro. A Sangue tes nas festas de aniversário estanca. Mas, não por muito deles e eles nas nossas”. tempo. Poucos segundos deSe o clima com os torce- pois, Vitor grita: “La, la, laia, dores “aliados” é de paz e No-rus-ca”. O coro volta mais sem atritos, o mesmo não forte. Variados cantos se se pode dizer em relação seguem, com um especialaos torcedores rivais. “Se mente emblemático: “Olê, eu dissesse que nós nunca lê, olá, lá, torcida organizanos envolvemos em confli- da não foi feita pra sentar”. tos, seria uma hipocrisia. Já Em tempo: a faixa viaconteceram brigas aqui em rou. O Noroeste foi camBauru e fora. Mas não tive- peão da Copa Paulista 2012.
Renan Moraes
Deivide Sartori
Casa Rubra: a concentração pré-jogo acontece na sede da torcida
Bola em jogo: organizada rioclarense (ao fundo) também comparece ao Alfredão
“Até a pé nós iremos”: três quadras separam a sede do estádio
Vermelhou! Vitor (sem camisa, ao centro) comanda a festa antes da entrada
Protesto: enquanto a partida não começa, dedicação aos últimos preparativos
Provocação: bandeira apontada para rivais relembra duelo histórico
Desespero sincronizado: chances perdidas pelo Norusca foram muitas, mas no fim...
Placar final: 3 a 0. Comemoração no alambrado para o terceiro gol noroestino
Ana L. Martins, Deivide Sartori e Renan Moraes
Lance a Lance: Um dia com a Sangue Rubro
Rockabilly: música, visual e hobbies dos anos 50 vem conquistando os jovens Melanie Castro
é muito agradável, as pessoas acabam realmente se conhecendo e ficando amigas, não é como nas outras baladas.” Esse clima de amizade se reflete e se repete no evento de Sorocaba. Famílias comparecem em peso para comer espetinhos e escutar as bandas que tocam o som temático. Uma das mais bem-sucedidas bandas de rockabilly do interior é a Bad Motors, também de Sorocaba. O vocalista, Creck Rocker, conta um pouco sobre como encontrou pessoas com gostos parecidos com os seus. “A partir de 1994 comecei a frequentar festas em São Paulo, Jundiaí, ABC, onde fiz muitos amigos que são meus amigos até hoje, montei um bar aqui em Sorocaba onde só se tocava Rockabilly, fiz o primeiro show com uma banda do gênero na cidade (Crazy Legs), e isso fez com que muita gente que curtia o estilo se juntasse e se conhecesse”, conta. Mas Creck acrescenta que o clima familiar não impede que hajam discordâncias: “Como em toda tribo, o rockabilly também tem suas vertentes e suas preferências. Alguns são do tipo purista, gostam do som como era feito na época; outros mais ecléticos gostam não só das bandas e músicas da época, mas também de novas bandas, como é o meu caso. Mas com todas as divergências e discussões todos se dão bem, cada um a seu modo.” Hoje Creck, cujo nome verdadeiro é Marcelo Figueiredo, trabalha numa oficina que restaura carros antigos e se dedica à Bad Motors, que tem grandes planos para o futuro: “Recentemente tocamos na Funarte, em Brasília, e fizemos dois shows no Chile, em Santiago e Valparaiso. Agora no próximo mês estamos entrando em estúdio pra gravar nosso próximo disco, que sairá no início de 2013 em CD e vinil, e a meta pro próximo ano é uma tour pela Europa.” Pela popularização das bandas e eventos na capital e no interior, parece que a onda nostálgica do rockabilly só tende mesmo a aumentar. Ivan torce para que a tendência se confirme: “Me alegra muito que cada vez mais venham pessoas novas que realmente gostam de tudo que envolve os anos 50 e o rockabilly. Ninguém é eterno, mas o rock’n roll nunca vai morrer!”. Cristina Romero
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odo segundo domingo do tos somados à nostalgia e à paixão mês a área sob o viaduto Jâ- pela época, por um tempo não vinio Quadros, em Sorocaba, é toma- vido pela maioria, mas conhecido da por carros antigos, grupos de e explorado por meio dos filmes, moto clubes de todo o Estado, fa- documentários, relatos de pessoas mílias e gente de todos os estilos. daquela geração e artistas que estaMas entre todos os frequentadores, vam na cena da época. É tudo muito chamam a atenção jovens com um simples: gostamos de ir a bares, baivisual bastante distinto: as garotas les e festas temáticas, de preferência usam vestidos rodados e bandanas com o carrão antigo ou a moto, com a na cabeça; os moços abusam do pessoa amada do lado, ouvir e dantopete e da jaqueta de couro. Isso çar rockabilly a noite toda, beber e porque o evento começou como conversar com os amigos, como era nos anos 50 e 60, com todo visual da um encontro rockabilly. Essa tribo teve origem nos época, é claro!”. Sua paixão pelo estilo vem da inanos 50, com os greasers, jovens da classe operária nos Estados fância. “Meu primeiro contato com o Unidos cujo estilo foi populari- rock dos anos 50 ocorreu quando eu zado e transformado em símbolo tinha apenas 5 anos, saindo de de rebeldia pelo filme Juventude Transviada (Nicholas Ray, 1955). Também era patente seu gosto pelos hot rods, carros antigos customizados, enquanto os rockers, no Reino Unido, tinham preferência pelas motos. O nome rockaAs Pin-Ups de hoje são donas de billy vem do estilo um visual menos conservador musical preferido por eles, um subgênero do um restaurante com meus pais no rock’n roll que tem influência centro da cidade ouvi um som difedireta do country (hillbilly). rente, forte e contagiante, era Elvis Os participantes ainda são Presley em um vinil que tocava na chamados de rockers. Para as loja de discos ao lado. Corri até a garotas, é comum a denomina- loja deixando meus pais para trás e ção pin-up, termo que signifi- ao entrar disse: ‘Eu quero essa música “pendurar”, em referência ca!’. Não teve jeito, meu pai teve que às garotas que, com poses ca- comprar o disco do Elvis, era o LP do racterísticas, estampavam os filme Loving You. Depois desse dia eu nunca mais fui o mesmo no quecalendários da época. Hoje, a música e a moda da sito música, o rockabilly entrou na época vêm sendo revividas minha vida pra ficar”, relembra. Ivan organiza a mais tradicional por cada vez mais jovens com algumas modificações, como festa rockabilly de São Paulo, a Pin as tatuagens (corações, ân- Up’s Party, com edições mensais. Os coras, laços, cerejas e outros rockers da capital contam também desenhos retrô), piercings com a casa The Clock, que segue a (principalmente “Marilyn” temática dos anos 50 e 60. No local e no septo) e cabelos colo- há até aulas de dança nos moldes ridos. Essa nova roupagem da época. A estudante Juliana Pinho caracteriza a tribo rocka- frequentou as aulas e desde então billy. Os participantes mer- dançar rockabilly se tornou uma de gulham de cabeça em todos suas paixões: “Eu conheci o rockaos aspectos das décadas de billy porque uma amiga minha da 50 e 60. faculdade me convidou para ir ao Ivan Ciola, um dos pre- The Clock. Fui, fiz a aulinha básica cursores do rockabilly no que eles dão lá mesmo e tentei danBrasil, explica o que defi- çar. Adorei, conheci muita gente e ne os rockers: “É uma sé- passei a frequentar sempre o lugar, rie de fatores e sentimen- e depois outras festas de rockabilly também. O clima no lugar
A tendência da vez
O que há por trás dos posts dos blogs de moda e a alienação que eles geram Nathália Fontes
www.blogueirashame.com
se mundo. Nos últimos anos, houve um “boom” de blogs de moda. O que vemos hoje é que a blogosfera sobre o tema só aumenta e todos querem ser consultores de estilo, mesmo que virtuais. Karla Lopes, de 20 anos, é dona do blog Hey Cute, criado em 2009 para compartilhar opiniões e experiências femininas. Em seus posts, ela mostra os produtos de beleza que usa e diz não se importar com preço ou marca, só recomenda se ela realmente gostar. A blogueira procura diferenciar sua página de
Com a onda dos blogs de moda, o importante é consumir cada vez mais a
marrom, por exemplo. A moda virou um universo que abrange muitos aspectos, estilistas que querem suas roupas nas passarelas e cobiçadas por todos, modelos que ficam milionárias por dar em alguns passos mostrando um produto e, é claro, as pessoas que assistem a tudo isso. Com a chegada da internet, e dos blogs, ficou mais fácil para as pessoas exibirem suas opiniões, suas roupas e o seu conceito sobre moda: os blogs. E como funciona? Cada um tem o seu próprio espaço para expressar suas opiniões. Os viciados em moda acharam a oportunidade que queriam para poder fazer parte des-
tantas outras que estão na internet. Por isso, não fala apenas sobre moda, mas escreve também sobre músicas, filmes e coisas que a inspiram. “Parece que todo mundo quer ter um blog que fala sobre moda. Eu tento trazer para as minhas leitoras a minha verdadeira opinião. Por mais que eu esteja ganhando produtos, não tenho medo de ficar queimada com a marca por ter falado o que achei do que foi testado. Acho que só assim as marcas podem melhorar o que fazem, vendo o que uma pessoa comum acha do seu produto”, explica Karla. Juntamente com o sucesso dos blogs, surge um as-
sunto polêmico: o referente aos anúncios veiculados em sites. Blogueiras que são pagas por marcas ganham produtos para darem uma opinião positiva sobre o que foi enviado, e com isso o propósito com que os blogs surgiram fica distorcido. Ou Um exemplo de tendência que Shame critica seja, em alguns casos os blogs acabam se tornando apenas perdendo muitas vezes o esmeios de ganhar dinheiro tilo próprio e usando peças pela publicação de opini- que não favorecem seu tipo ões falsas. O assunto é muito físico, faz isso para se adediscutido pelas pessoas que quar ao grupo. “As pessoas compõem a tão famosa “blo- estão cada vez mais vivengosfera” e foi tema de uma do de aparência, dominadiscussão no Youpix Festi- das pelo consumismo. Hoje val, um evento que reúne o importante é ter, e não ser. pessoas ligadas à internet. Pode ser prejudicial porque vemos meninas novas, adolescentes, se endividando para acompanharem o Enganação Online ritmo de compras das bloMotivada por esse surto gueiras, para terem o que de blogs de moda, Titia Sha- elas têm”, afirma Shame. Assim como a realeza em me, como gosta de ser chamada, criou o “Shame on you, uma monarquia, as blogueiblogueira”. A página é um ras vivem de aparência e de espaço no qual ela desaba- mitos e acabam por influenfa sobre a enganação que vê ciar os gostos e hábitos dos nos posts alheios e os looks “plebeus”. A jornalista Nina “cafonas”. Suas palavras são Lemos exemplificou esse feácidas e muitas vezes trazem nômeno ao comentar o cauma visão que as pessoas samento de uma blogueira que frequentam esses sites famosa, que foi chamada de não têm, ou simplesmente “princesa” pelas leitoras. “A ignoram. “As blogueiras pas- internet, como já disse muitas sam uma ideia de que a vida vezes, aumenta a imagem de delas é perfeita, que andam perfeição da vida das pessosempre penteadas, maquia- as. Comparar uma princesa das e em festas, que ganham com uma blogueira de moda por mês o que muita gente milionária pode parecer não ganha num ano. Só que absurdo, mas não é. Quem sabemos que não é bem as- mais pode ser uma princesa sim, que as roupas não são brasileira do que uma medelas, que elas não acor- nina linda, jovem, rica, que dam penteadas e maquiadas “se veste super bem” e é etc”, comenta Titia Shame campeã dos looks do dia?”. Quem copia cegamente as tendências mostradas, www.blogueirashame.com
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udo começou quando os seres humanos ainda moravam em cavernas e resolveram cobrir-se com peles de animais para se protegerem contra o frio. O que era uma forma de proteção, se tornou um objeto e também sinônimo de poder. Foi na Idade Média que surgiram os tecidos de algodão e a associação das roupas com o status social das pessoas; roupas vermelhas eram sinônimo de realeza, enquanto os trabalhadores podiam ser distinguidos por estarem vestindo cores como
Um pouco mais - Justlia – Escrito pela Lia, traz vários assuntos do universo feminino e ainda conta com a opinião masculina em alguns posts: http://www.justlia.com.br/ - Depois dos Quinze – Bruna mostra seu mundo, sentimentos e seu amor pela moda através do blog: http://www.depoisdosquinze.com/
Voz aos que não têm
A história do Hip-Hop e daqueles que encontraram nele o seu caminho
O
Hip-Hop não é só um estilo de música ou um modo de dançar. É principalmente um movimento cultural iniciado nos Estados Unidos, que valoriza a cultura das ruas, dos guetos, e que documenta os conflitos sociais e a violência urbana vivida pelas classes baixas. O Hip Hop se apresenta como uma reivindicação de espaço e de voz, o que é traduzido nas letras questionadoras, no ritmo forte e nas imagens grafitadas pelas cidades.
Os pilares grafitados A cultura Hip Hop é formada pelo rap, o grafite e o break. O rap se faz pelo ritmo e pela poesia, formando a expressão verbal do movimento. O grafite representa a arte plástica, expressada por desenhos coloridos impressos nas ruas e espalhados por diversos bairros da cidade. Já o break representa a dança que acompanha, muitas vezes, o rap. Juntos, esses elementos são responsáveis por chamar a atenção e dar voz aos que vieram da periferia e reivindicam suas necessidades perante as classes abastadas.
Do Bronx para o Brasil Nos subúrbios negros e latinos de Nova Iorque na década de 60, a rua era o único espaço de lazer para os jovens, que geralmente se reuniam em gangues que se confrontavam na luta pelo domínio territorial. Com o Hip-Hop, cada gangue encontrou na arte uma forma de canalizar a violência, trocando as armas por batalhas de rap e break. Seja como modo de demonstrar superioridade, como hobbie ou como estilo de vida, a tribo
Arquivo Pessoal / Bboy Bruxão
Mayara Castro
levou pouco tempo para ultrapassar as fronteiras do Bronx, região onde nasceu, e da comunidade negra norte americana, surgindo em meados da década de 80 como uma das correntes musicais mais fortes da indústria fonográfrica. No Brasil, o HipHop cresceu e ganhou seu espaço nas vozes de Planet Hemp, Racionais Mc, Emicida e Rashid, entre outros.
Preconceito pra lá e pra cá A falta de conhecimento e os estereótipos são os responsáveis pelos olhares virados que os rappers recebem. Infelizmente, ainda existe muita gente que vê nas calças largas, nas gírias e no estilo de vida de quem curte Hip-Hop apenas marginais que sujam as paredes, e vagabundos drogados. Como amostra desse preconceito, o rapper Dom Black comenta a dificuldade de superar o conceito alheio sobre o movimento Hip-Hop; “o mais engraçado é que, quando começamos em Bauru, existiam também as casas de forró, de samba e toda noite tinha briga, jogando garrafa etc. Com a gente não, e não tinha exatamente porque sabíamos que esse era o esperado. Qualquer coisa errada que rolasse, íamos afirmar o que pensavam da gente”. Ainda assim, Dom Black apresenta o outro lado da moeda: “O Hip-Hop também já foi racista”. Ao mesmo tempo que muita gente os discriminava, os julgava pela cultura e pela cor da pele, a tribo, por muitos anos, não aceitou brancos de classes de poder aquisitivo maior no movimento. Os rappers eram ignorantes também, tanto quanto aqueles que os apontavam o dedo. Porém,
Onde antes só havia negros, hoje há gente de todas as classes e cores. É o Hip-Hop dizendo não ao preconceito Dom Black afirma que essa situação mudou, já que “hoje todo mundo é bem vindo, quanto mais gente melhor. Não é a cor da pele ou a grana do cara que vai dizer o que ele já passou na vida”.
Na dança da vida Apesar de todos os estereótipos, o que realmente faz com que esses jovens continuem na estrada é a sua história de vida. “Eu mesmo sou prova viva de que o movimento me tirou de situações da vida que são desumanas. Eu, na minha adolescência, tive muito problema com droga, fui envolvido com o crime, até que conheci o movimento. Eu curti o rap desde o começo mas não tinha voz pra cantar”, recorda-se Bboy Bruxão, que trocou o crime e as drogas pela dança. Assim como Bruxão, muitos outros rappers correm atrás dos seus sonhos em busca de uma vida melhor. Victor Hugo, mais conhecido como Mc Vick Vileiro, conheceu o rap aos 9 anos. “O rap pra mim é uma saída do crime, é a distração dos problemas que a gente enfrenta, é a minha família e a minha verdade”, analisa.
Fama, por que não? Quando se discute uma manifestação cultural que busca reivindicar direitos ou dar voz aos reprimidos, a fama muitas vezes não é encarada como boa coisa. Isso ocorre porque há quem acredite que quando, no caso, um rapper é reconhecido pela mídia, acaba perdendo sua essência e seu papel de dizer a verdade e passa a produzir meros produtos, que buscam apenas agradar os consumidores. Ouve-se esse tipo de opinião frequentemente, mas Müller Alves Moraes, o Mc Conspira, mostra uma maneira diferente de se pensar: “Tem muita gente que fala que o Projota e o Emicida se venderam, mas eu acho que eles tão é fazendo a deles. Um monte de gente fala, no próprio rap, que quer ter dinheiro, aí aparece um que conquistou o que todo mundo quer e então falam mal. A gente só tá aqui pra correr atrás do que é nosso e do que a gente quer”.
Um pouco mais - Livro: Hip Hop - Dentro do Movimento, lançado em 2011 pela editora Aeroplano - Musica: A vida é desafio, Racionais Mc’s. Disco “Nada como um dia após o outro”, 2001, Unimar Music
Faça você mesmo!
“Faremos sempre à nossa maneira, por mais difícil que pareça. Faremos com as próprias mãos, não esperaremos que aconteça” (Underground, Inocentes) Ana Luiza Martins
Arquivo Pessoal / Stranger than Fiction
contra o poder e a crítica à ordem vigente são os pilares da ideologia punk, e certamente o espírito de revolta do movimento esteve presente nas duas ocasiões. Essa rebeldia é a respon-
Banda Stranger than Fiction homenageia um dos maiores ícones do punk rock da década de 80
foi além da Inglaterra e Estados Unidos e ultrapassou a década da sua criação. Sua ideologia, moda e comportamento ainda reverberam pelos quatro cantos do globo a revolta do movimento contra o autoritarismo, a desigualdade social e a repressão. Quase 40 anos depois da banda de Sid Vicious afrontar a monarquia britânica com o single God Save the Queen, em 2012 as russas do Pussy Riot fizeram algo bem parecido. O alvo foi o governo de Vladimir Putin. A execução de uma oração punk em plena Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, resultou na prisão das três integrantes do grupo punk. Mais ou menos o que aconteceu com o Sex Pistols em 1977, quando a banda tocou a sua “singela” homenagem à rainha em um barco no rio Tâmisa, em frente ao Palácio de Westminster. Além das cerca de quatro décadas que separam suas ações, as duas bandas contam com contextos históricos e motivações distintas para seus protestos. Mas os ingleses e as russas têm algo em comum. A luta
sável pela taxação dos punks como violentos e perigosos. O visual punk - composto por roupas de couro, moicanos e coturnos - é atrelado ao vandalismo, e os constantes embates com outras tribos, como os skinheads, não ajudam muito o movimento a se desvincular da marginalização. Marcelo de Oliveira, guitarrista da Teenage Lobotomy, cover do Ramones, fala sobre o preconceito que envolve a tribo. “Isso é distorção da mídia e de pessoas que não conhecem o movimento. Vandalismo e violência estão em todos os lugares”, opina. Para Marcelo, o senso crítico inerente aos punks é o responsável pela desconfiança com que a tribo é vista. Quanto ao que é ser punk, ele afirma que “é definir e estabelecer aquilo que você acredita de melhor não só para si, mas também em um contexto geral, respeitando as diferenças e divergências entre as pessoas”.
Uma loja fetichista em Londres, um bar em Nova York e um legado universal
O empresário Malcolm McLaren e a estilista Vivienne Westwood são, talvez, as figuras mais importantes da história da tribo. Malcolm era o empresário da Sex Pistols, precursores do punk rock inglês. Vivienne é a responsável pela estética visual da tribo. A loja Sex, fundada por ambos, é um dos palcos do desenvolvimento do punk. Foi lá que, em 1975, os Sex Pistols se reuniram. E na Sex as inspirações de Vivienne se concretizavam, em meio às roupas rasgadas, correntes, cores fortes e couro, elementos que foram as marcas registradas da estilista na época da criação da estética punk. A primeira fase do movimento foi caracterizada pela explosão de bandas inglesas, o surgimento dos Ramones nos Estados Unidos, a transformação do bar nova iorquino CBGB na Meca do punk rock, além da definição da ideologia da tribo, construída com base nos proble-
representantes da segunda fase da história do punk rock.
Punk is not dead Inspirada pela banda de Greg Graffin, a Stranger Than Fiction, que antes cover do Bad Religion, iniciou suas atividades no início de 2012. Dija Dijones, guitarrista da banda, opina sobre o que é um punk: “Punk é uma postura. Você não precisa adotar uma estética para ser punk. O punk, por essência, é um sujeito interessado e consciente, que não se conforma com o estado das coisas e tem disposição de lutar por algo melhor, mais justo e em prol de uma coletividade”, pontua Dija. O músico é otimista em relação ao futuro do movimento. “Assim como o fim dos anos 1970 precedeu a explosão do movimento no Brasil no começo dos 1980, creio que o momento atual antecede algo maior a surwww.ramonescover.com
Q
uem imaginaria que três acordes poderiam ser tão poderosos? O que bandas como Sex Pistols e Ramones iniciaram nos anos de 1970 foi mais do que música. A cultura punk
Objetivo da Teenage Lobotomy é recriar a atmosfera punk dos anos 70 e trazer os
Ramones de volta ao público
mas sociais e econômicos de uma Europa do pós-guerra, além de um mundo dividido pela Guerra Fria. A morte precoce de Sid Vicious, baixista do Sex Pistols, representa o fim da primeira etapa do movimento. No final dos anos 70 e início dos 80, o hardcore emergiu e lançou bandas como Dead Kennedys e Bad Religion,
gir em um futuro breve. É importante lembrar que o punk se estabeleceu no Brasil de forma definitiva a partir do começo da década de 80 e viveu certa ascenção depois disso. O punk ainda tem muito a oferecer nestes novos tempos e talvez, em breve, uma nova geração de bandas esteja dando as caras por aí”, analisa.
Um pouco mais
- CD Never Mind the Bollocks, lançado em 1977 pela Virgin no Reino Unido e pela Warner Bros Records nos EUA. - O filme Sid e Nancy, o amor pode matar. Lançado em 1986, com direção de Alex Cox.
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Violao, camisa xadrez e muita festa Mais que letra e música, um som que contagia
Murilo Barbosa e Larissa Roncon
Nos embalos do Sertanejo Jauense e de coração sertanejo, a calçadista Gabriela Rodrigues, de 19 anos, se encantou pelo gênero ainda na adolescência: “Ouço música sertaneja desde os meus 14 anos. Comecei a gostar pela música, pela voz, pela forma de agitar e o carisma, porque a música envolve a pessoa, e sempre tem nela alguma coisa com que me identifico”. Nos finais de semana em que marca presença nas casas noturnas de Jaú e região, Gabriela começa os preparativos cedo. A portaria libera a entrada às 23h, mas ela se maquia, escolhe a roupa e começa a fazer o cabelo perto das 20h. “A gente quer chegar lá e curtir, mas para isso também é preciso ficar bonita. Começo a me
Murilo Barbosa
“
De que me adianta, viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar. Adeus Paulistinha, do meu coração, lá pro meu sertão eu quero voltar.” A canção “Saudade de Minha Terra” certamente resgata lembranças e traz à tona as memórias de muita gente. Popularizada pela voz de Chitãozinho e Xororó, a música conta a história de um rapaz que deixou o sertão nordestino para conquistar a capital paulista, mas viu que de nada adiantava ser morador da ‘Selva de Pedra’ se a alegria estava na simplicidade das coisas do campo. Os anos passaram, o sertanejo se propagou e surgiram novas vertentes, com destaque para o sertanejo universitário. O estilo tomou força a partir dos anos 2000, com o ‘estouro’ de duplas como Cesar Menotti & Fabiano e Hugo e Tiago em meados de 2004. De lá pra cá, cantores solo, duplas e bandas têm feito sucesso por todo o país com hits animados cuja composição envolve, em sua maioria, temas como traição, bebida e baladas.
Nas noites jauenses, Villa Country é opção para os sertanejos de plantão arrumar bem cedo para minha única preocupação depois ser me divertir com as meninas”, revela. Na maior parte das vezes, Gabriela sai acompanhada de mais três amigas, mas conta que o círculo de amizades aumenta na porta da balada. “Nós vamos em umas quatro, cinco meninas, aí é só estacionar o carro, ficar perto da entrada e pronto, a festa começa ali mesmo! Sempre chega um pessoal com quem a gente estudou e não via há muito tempo, ou a galera com que fizemos amizade na semana anterior, ou o fã clube dos cantores que vão tocar”. E se é para se preparar, o esquenta é ali mesmo, na porta da balada. “É só ficar com o porta-malas aberto, ter umas bebidas pra acompanhar a música e amigos pra dar risada que a gente ‘mata’ quase uma hora em frente à casa e já entra no grau”, diz a sorridente Gabriela. Para quem quer curtir sertanejo universitário em Jaú, a loura recomenda as casas Villa Country, Cervejaria, Montana e Aldeia Banawá.
Coração Marcado Gabriela, que frequenta as casas noturnas de Jaú e região quase todos os finais de semana, já marcou presença em shows como os de Munhoz & Mariano, Jorge e Matheus, João Bosco e Vinícius, Fernando e Sorocaba, Trio Bravana e Michel Teló, e fala sobre a música que tem mais significado. “Incondicional, do Luan Santana. Essa música me marcou porque ouvi uma pessoa que jamais esperaria cantando ela pra mim, e depois disso prestei mais aten-
ção na letra, e por isso ouço sempre”, revela a jauense. E se é para marcar, Gabriela deixa um recado aos leitores que não apreciam ou ainda não tiveram oportunidade de ir a uma balada sertaneja. “Quem não gosta não sabe o que está perdendo. O sertanejo envolve o ritmo, a letra, e tudo isso mexe com o psicológico quando é escutado por alguém. A vontade de dançar, pular e curtir é imensa! Recomendo que escutem e provem uma balada sertaneja o quanto antes, não vão se arrepender!”
TRADICIONAL x UNIVERSITÁRIO
M
uito se fala sobre a discórdia entre o sertanejo tradicional e o universitário; qual tem mais público, quais se denotam pelas melhores canções e o que será deles em alguns anos. Com o pé na estrada desde 2008, a dupla Gustavo Moura & Rafael observa a evolução do gênero sertanejo e o ‘boom’ do universitário. “No estilo a galera renovou um pouco, como tudo que se renova também. Hoje acho que o sertanejo universitário não é diferente de nenhum ritmo, é simplesmente uma renovação,
uma mistura de ritmos que pegou muitas influências do forró, do axé e transformou isso em sertanejo”, observa Rafael. E sobre o que se diz acerca da rivalidade entre os cantores, Gustavo Moura desmistifica: “Na verdade, não existe rivalidade nenhuma. A gente é amigo de todo mundo. Caras como Zezé Di Camargo, Chitãozinho & Xororó e Sérgio Reis são ícones, ídolos de toda essa galera nova que está chegando agora. Quando a gente tem oportunidade de encontrar com eles é um privilégio”.
Em nome do shape, do truck, dos rolamentos e das rodinhas: Skate! “Quando eu vou descendo a rua, as pessoas me veem com calafrios e tremendo. Eu sou um prisioneiro do demônio. Eu acho que minha cabeça está para quebrar” (Suicidal Tendencies, Possessed to Skate) Ana Luiza Martins
que fazer se você mora na Califórnia e está cansado de pegar onda, mas quer sentir a adrenalina de se aventurar em uma prancha? E mesmo se você não estiver cansado de surfar, como se divertir naqueles dias em que a maré não está boa? Na década de 60, os californianos criaram uma solução para esse dilema: o sidewalk surf, mais tarde batizado como skate. Cheia de manobras e famosa pelo perigo e risco, a vida sobre as rodinhas não se limita ao esporte. Ser skatista é ter um estilo e um lifestyle próprios de uma tribo famosa também pelo incômodo que causa. A briga para retirar os estereótipos do mundo do skate está longe de ser ganha e, enquanto a sociedade ainda não está muito bem informada sobre esse esporte que tem o espaço urbano como palco de atuação, os amantes do skate precisam convencer chefes e famílias de que o skate não prejudica seus trabalhos, estudos e saúde - afinal, não é toda mãe que encara tranquilamente o fato de que seu filho pratica modalidades como a high jump (saltar passando por cima de obstáculos) ou a big air (descer de uma rampa em alta velocidade, realizar uma manobra e alcançar outra rampa). A tribo conta com vocabulário, trilha sonora e modo de vestir característicos. Carrinho e board são nomes para o skate, dropar é descer a pista e Maria Rolamento é o apelido carinhoso dado às garotas que frequentam as pistas para paquerar os skatistas. Ir para o treino é ir para a session e ir para a piscina pode significar ir para a pista de skate. Como trilha sonora, a maioria dos skatistas escolhe rock e hip hop. O jogo Tony Hawks Pro Skater, inspirado no maior ícone do esporte
no mundo, o próprio Tony, conta com faixas de bandas como Dead Kennedys e Rise Against. No hip hop, os skatistas gostam de Public Enemy e Cannibal Ox, por exemplo. O visual é composto por calça jeans larga, tênis e bonés. As meninas usam bermudas, babylooks e blusas de malha para montar o look. A Galeria do Rock, localizada no centro de São Paulo, é o shopping dos skatistas que buscam novos equipamentos, roupas e acessórios. Foi em um sábado à tarde que encontrei o estudante Marcos Silveira, um skatista de 25 anos, nas imediações da Galeria. Ele pratica o esporte desde os 12 anos, e afirma que o skate é tudo em sua vida. “Comecei andando de skate por causa dos meus amigos, mas ele me acompanhou pra sempre. Já passei por problemas no emprego por causa do skate, porque quebrei o braço e meu chefe queria que eu parasse com o esporte”, conta Marcos, que ressalta a relação do esporte com a música. “Comecei escutando bandas como Offspring, Bad Religion. Foi com certeza o skate que trouxe a música para a minha vida”. Também no centro paulistano está a Praça Roosevelt, cujo espaço foi direcionado à prática do esporte. Porém, os skatistas e os moradores da redondeza estão em um grande impasse. Os primeiros precisam de um lugar adequado para andar, e a Roosevelt é um dos seus espaços favoritos. Já a vizinhança se sente ameaçada pelo perigo das manobras, e reclama do barulho gerado pelos skatistas e seu equipamento. A Prefeitura, como mediadora do debate, determinou que os skatistas utilizem a Roosevelt entre 8h e 23h, em alguns espaços da Praça. Esse conflito mostra que os skatistas
precisam superar obstáculos não só nas manobras, mas também para conquistar seu espaço nas grandes cidades.
Vertical, Mega Rampa, Tony Hawk e Skate na terra do futebol Tony Hawk não é o maior skatista do mundo à toa. O californiano é o criador da modalidade vertical, uma das mais famosas no mundo das rodinhas, e que é praticada em uma pista com forma de U, a half pipe. Tony também é um dos responsáveis por mostrar que o esporte pode ser encarado de forma profissional. O XGames, vencido várias vezes por ele, e os campeonatos mundiais de Street Style são exemplos de competições em que atletas de alto nível mostram que o skate pode
ultrapassar os limites do lazer e virar uma profissão. Outros skatistas famosos nos EUA são Mitchie Brusco, um garoto de 15 anos que já compete na Mega Rampa; Tony Alva, conhecido pela agressividade com que andava de skate, e Stacy Peralta, o descobridor do talento de Tony Hawk. Mas quem pensa que o Brasil não tem representantes no esporte está errado. Bob Burnquist, herói da Mega Rampa; Sandro Dias, o Mineirinho, e Lincoln Ueda são skatistas brazucas que fazem bonito na gringa. Aliás, a Mega Rampa - cujo ponto mais alto tem 30 metros de altura - está brasileiríssima, sendo montada no Sambódromo do Anhembi para o Campeonato Oi Mega Rampa, vencido por Bob três vezes. Um feito não muito difícil para quem tem essa gigante no quintal de casa na Califórnia. Ana Luiza Martins
O
O esporte ultrapassa os limites de gerações
Um pouco mais
- Cd Tony Hawk’s Pro Skater vol 3, Vários artistas. Lançado em 2001 pela Warner Bros. Records.
De onde vem, para onde vai... Mayara Castro
F
ormado em Biologia pela UFSCar, com mestrado e doutorado em Psicologia Experimental pela USP, Sandro Caramaschi é docente do Departamento de Psicologia da UNESP em Bauru. O professor foca sua pesquisa em comunicação não verbal e tipos de relacionamento. Com toda a sua bagagem, ele explica um pouco mais a respeito do universo das tribos urbanas. É possível definir o termo “tribos urbanas”? Qual é a origem dessa denominação?
grande difusão científica acerca da evolução comportamental.
As pessoas são coagidas a fazerem parte de tribos ou essa formação se dá por instinto próprio do ser humano? Na verdade, apesar de existirem tribos urbanas mais visíveis, principalmente por suas vestimentas e hábitos bizarros, não podemos esquecer que todas as pessoas fazem parte de várias tribos simultaneamente, nas quais desempenham papéis sociais diferenciados. Por exemplo, quando alguém está em seu ambiente de trabalho pode se portar de forma diferente do que quando está com os amigos. Dessa maneira, queiramos ou não, pertencemos a diferentes tribos e nossa forma de ser é resultante dessas máscaras sociais utilizadas em diferentes contextos. No que diz respeito ao rótulo de “tribo urbana”, as pessoas podem se identificar mais ou menos com tais grupos estruturados. Isso ocorre principalmente entre jovens, que estão passando por um processo de identificação e de formação psicológica. O processo de identificação grupal faz parte da história evolutiva de nossa espécie, da mesma forma que os chimpanzés se organizam em grupos estruturados com coesão interna e oposição a outros grupos, os seres humanos também procuram características comuns que proporcionem a estruturação dos grupos sociais, nos quais alguns traços comuns são enfatizados.
A analogia nessa denominação está relacionada com as tribos indígenas ou quaisquer outros grupos étnicos, ou seja, um conjunto de pessoas relativamente pequeno que compartilha princípios, história, adornos corporais, alimentos, valores morais, religião e até mesmo o jeito de se vestir. Esses elementos traduzem a identidade do grupo. As tribos urbanas, além da característica óbvia de serem estruturadas em espaço urbano, também se diferenciam da sociedade em geral por alguns aspectos identificadores de pertencimento a um grupo específico. O estudo dos grupos urbanos se confunde com a própria história da Antropologia e Sociologia. Entretanto, ao que me parece, essa terminologia de “tribo urbana” ou mais especificamente de “espaço tribal” foi difundida na década de 1960 por Desmond Morris, um cientista que iniciou seus estudos
Agrupar-se em tribos é psicologicamente saudável?
com animais e depois se voltou para os comportamentos humanos, proporcionando
Na medida em que o ser humano é notoriamente gregário, a sensação de perten-
cimento a um ou vários grupos desempenha um papel primordial para as pessoas. Provavelmente, uma das piores coisas para o ser humano é a sensação de isolamento e abandono. Nesse sentido, estar inserido em grupos sociais é importante. O que pode ocorrer é que algumas tribos urbanas podem se envolver em comportamentos de risco (consumo de drogas, por exemplo) ou comportamentos socialmente indesejáveis (como os skinheads). Muitas vezes, os jovens podem se sentir coagidos a adotar condutas que não são decididas por eles, mas por pressão do grupo.
Por que determinadas tribos, para firmarem suas crenças e ideias, precisam bater de frente com outras? Parte da identidade dos grupos se forma em oposição a outros grupos e isso se verifica através de toda a história da humanidade. Ao passo que os indivíduos se juntam pelas semelhanças, procuram encontrar diferenças com relação a outros grupos, as quais passam a ser desqualificadas. Em menor escala, as tribos urbanas lutam para estabelecer e defender o seu espaço tribal. Junte-se a isso uma boa dose de testosterona e teremos uma combinação potencialmente perigosa do ponto de vista da violência grupal.
Em que ponto as tribos deixam de ser grupos com interesses em comum e passam a ser grupos políticos, filosóficos e/ou sociais? Não é possível fazer essa distinção. Na medida em que pensarmos nos grupos sociais como entidades dinâmicas, os fatores de agregação podem estar em
qualquer dimensão, desde a simples forma de cortar o cabelo até princípios ideológicos. Nesse sentido, também não podemos estabelecer limites rígidos entre uma tribo dos donos de fusca e de nações inteiras unidas por princípios. Durante a ascensão do nazismo, por exemplo, ficaram evidenciados os fatores de coesão tribal com um símbolo próprio (a suástica), cores e demonstrações de força.
Qual será o futuro das tribos com o advento da internet e, especialmente, das redes sociais? O que percebo de interferência das redes sociais no comportamento tribal se refere basicamente a duas dimensões. Em primeiro lugar, a internet possibilita que as pessoas com determinados interesses possam se encontrar (virtualmente ou pessoalmente) no intuito de compartilhar informações e experiências. Em segundo lugar, as redes sociais possibilitam que as pessoas se organizem em encontros, eventos ou mesmo para atividade política, como se verifica em alguns países árabes, onde a liberdade de expressão é limitada. Dessa forma, as pessoas têm maior flexibilidade para encontrar grupos de maior afinidade, as chamadas comunidades virtuais. Infelizmente, como todos os meios de comunicação, tais contatos podem ser proveitosos ou prejudiciais para a saúde (como os grupos de anoréxicas, por exemplo) ou para a sociedade (como torcidas organizadas violentas, por exemplo).