O DINHEIRO PÚBLICO E A INDÚSTRIA DE ONGs Apesar dos interesses, criatividade e iniciativa tornam ações sociais indispensáveis p. 6 e 7
ENSINANDO A PESCAR
DOAR E ACOLHER
CORRUPÇÃO, ONGs E ONU
Novas formas de empreendimento mostram ao trabalhador como caminhar sozinho
Doar sangue e adotar são gestos que mostram o viés positivo das ações sociais
Duas mulheres mostram como é possível mudar o mundo com gestos corajosos e ousados
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EXPEDIENTE
REITOR Julio Cezar Durigan DIRETOR DA FAAC Roberto Deganutti COODERNAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMO Angelo Sottovia Aranha ORIENTAÇÃO Angelo Sottovia Tássia Zanini ENDEREÇO Departamento de Comunicação Social Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01 Vargem Limpa, Bauru - SP TELEFONE: (14) 3103-6000 RAMAL: 6066 REPORTAGENS Felipe Altarugio Gabriel de Castro João Ernesto João Victor Lucas Loconte Mariana Torres Mayara Reis Paula Reis Pedro Borges Renan Fantinato REVISÃO Angelo Sottovia DIAGRAMAÇÃO Lucas Loconte Mariana Torres ILUSTRAÇÃO Felipe Altarugio Lucas Loconte Pedro Hungria Cabral
EDITORIAL
QUEM SE RESPONSABILIZA?
A
sociedade está mudada. O cenário atual é fruto da globalização, é fruto dos avanços tecnológicos, mas, acima de tudo, é fruto do capitalismo. Capitalismo esse que vem, ao longo de sua vigência, constituindo determinados valores e inserindo-os na cabeça da população. Lucro como objetivo maior, individualismo, consumismo. Todos esses conceitos são imprescindíveis em uma sociedade mercadológica e todos eles trazem à mente ideias egoístas. A questão a se frisar, no entanto, é que, ao contrário do que possa parecer, é sim possível deixar que a sociedade econômica se regre por esses princípios sem deixar que o mundo se regre pelo egoísmo. As ações e os projetos sociais são a mais
clara prova disso. Podem até chamar de tapa-buraco. As falhas da sociedade realmente precisam ser compensadas e não é nenhuma injustiça deixar essa compensação a cargo do setor terciário. Sabe-se que o foco de nosso capitalismo não é o governo. Não são os países, os estados e as cidades que controlam a economia, que mandam no dinheiro, mas sim as empresas, também conhecidas como fundo privado. São as empresas que lucram, que crescem e que movimentam o mercado, nada mais justo do que essas empresas devolverem isso à sociedade de alguma forma proveitosa. É claro que o governo ainda tem suas responsabilidades e usar os projetos como pretexto para não as exercer é inaceitável, mas
isso não significa que ninguém, além dos órgãos públicos, possa fazer nada para mudar a realidade social se necessário. Se existem projetos cujo único propósito é enobrecer a imagem de quem os cria, se existem projetos em que se faz mau uso das verbas recebidas (sejam privadas ou públicas), ou se existem projetos que atendem a interesses particulares não cabe a generalização. Todos esses casos são de fato problemáticos, alguns até mesmo ilícitos, mas a visão que se tem sobre projetos sociais não pode ser baseada nos cânceres do conceito. A imag em q u e p r e c is a s a lta r a o s o lh o s é a d e q u e to d o in v e s time n to f e ito e m p r o l d a s o c ie d a d e d e v e s e r v is to c o m b o n s o lh o s .
ÍNDICE
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Parceria, solidariedade e muito rock’n’roll Responsabilidade social: a ação da vez Nem tudo é frio e calculista Orgânicos combinam com negócio social Cooperação é uma nova moeda Feira estimula produção alternativa O micro e o macro em meio à ganância Quem investe nos projetos sociais de Bauru? Faltam projetos, sobra dinheiro Você vai limpar sua casa de 4 em 4 anos? Não são de sangue, mas são de coração A família que nos escolheu Um ato de alto impacto social As ONGs vão aonde o dinheiro está Os dois lados da moeda social Fala, Povo!
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por Mayara Reis
M
Show beneficente une iniciativa privada e projeto social desde 2007
ês de Abril. Um aniversário. Muitos convidados. Comes e bebes à vontade. Música boa. Tudo pelo preço de um “ingresso”. E o presente mais aguardado pelo aniversariante: apresentação das bandas Norman Bates e Os Corações Alados e Horne’s Band. Foi assim que surgiu o projeto social Solidary Rock (SR), que, hoje, tem toda renda revertida para pessoas carentes e é completamente dependente da iniciativa privada. Criado por Rogério Rocco, promotor de justiça que completou 39 anos em abril, o Solidary é um festival beneficente de rock com duração aproximada de 12 horas que acontece na Granja Cecília, em Bauru, sempre no mês de agosto. O bairro foi escolhido pela estrutura e facilidade: “A Granja Cecília é uma chácara
localizada dentro da cidade. Tem ampla área verde e estrutura adequada. Além disso, seu proprietário tornou-se nosso parceiro e não tem cobrado nada pela utilização do espaço”, afirma Rocco, presidente do Solidary Rock. A 6ª edição do Solidary Rock aconteceu no dia 25 de agosto e contou com a apresentação de seis bandas: Norman Bates e os Corações Alados, Legalê, Estação Primeira de Bluseira, Hell, Cavalo Morto e The Almighty Devildogs. Os conjuntos são selecionados por terem características muito especiais: “Qualidade, honestidade, humildade e solidariedade. Músicos com essas qualidades sempre estarão no palco do SR. Não queremos músicos que perderam o tesão de tocar, ou que só tocam por dinheiro, ou que se acham superiores aos outros”, acredita Rocco.
O projeto conseguiu arrecadar R$ 16.000 na 6ª edição, graças às 800 pessoas que prestigiaram o evento, que, além dos shows, também conta com um jogo de perguntas e respostas que acontece durante os intervalos das apresentações. Quem acertar as perguntas feitas pelo apresentador, ganha prêmios. Maria Cláudia Rosella, fisioterapeuta, adorou a iniciativa: “Foi uma festa admirável, com gincanas, som de excelente qualidade, diversão, respeito e organização exemplar. Que venha o Solidary Rock 6!”. O evento foi crescendo ao longo dos seis anos de existência e, pela grandeza atual, precisa do apoio da iniciativa privada, que participa com doações e empréstimos de estrutura; em troca, os patrocinadores têm suas marcas divulgadas no evento e du-
rante o ano todo através do facebook do projeto. Além disso, são vendidos convites – de R$20,00 a R$40,00 – e todo o lucro é todo doado para entidades, que devem informar qual a necessidade e aplicação do dinheiro recebido. Neste ano, duas entidades foram beneficiadas: a Associação dos Familiares, Amigos e Pais dos Autistas de Bauru (Afapab) e o Instituto São Cristóvão. Os organizadores do projeto tem o desejo de, no futuro, ampliar as atividades do Solidary Rock: “Algumas ideias estão sendo formatadas, mas precisamos de mais investimentos para que elas sejam efetivadas”, afirma Rafael Ribeiro, vice-presidente do projeto. Para ajudar ou saber mais sobre o Solidary Rock, acesse: www.solidaryrock.com.br.
Fotos: Denis TB
por Mayara Reis
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Investimentos em projetos sociais crescem, impulsionando a sustentabilidade
em-estar, motivação humana e boa imagem: são essas as palavras que fizeram com que a iniciativa privada se interessasse pelas ações filantrópica. E o interesse foi tanto que, só no Brasil, em 2005, cerca de 1074 empresas apoiaram projetos sociais – um aumento de 274% em relação ao ano de 2000 – segundo pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, entidade que orienta empresas sobre esse assunto. A Nestlé e o Mc Donald’s estão
entre as 100 melhores empresas para se trabalhar, de acordo com o Guia de Boa Cidadania Corporativa. A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ganhou grande visibilidade em 1960, principalmente no campo empresarial, e hoje é referenciada por órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). O incentivo para apoiar entidades filantrópicas ou a criar projetos comunitários surgiu a partir da necessidade
das empresas de aumentar a produtividade interna dos funcionários, através da garantia de bem-estar social, assegura o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE). Outro motivo apontado é a preocupação com a imagem do grupo privado: ao publicar a sua participação em projetos sociais, a instituição pode conquistar um número elevado de clientes por meio da identificação destes com a ação social da empresa. A atuação social das empre-
sas acontece de diversas formas: concentrando-se em um só projeto ou em diversos; por meio de doações esporádicas ou iniciativas de longa duração; e com formas diversas de gestão dos projetos, segundo pesquisa realizada por Fischer e Thompson, em 2000. Essa ajuda realmente contribui para a manutenção e desenvolvimento de ações comunitárias, que procuram melhorar, de alguma forma, a condição de vida de milhares de pessoas pobres.
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por Gabriel de Castro Hirabahasi
C
Movimento CHOICE introduz, já nas universidades, a ideia de Negócio Social
omércio justo. Impacto social. Uma nova forma de fazer negócios. Tudo isso podem ser associadas ao conceito de negócio social. Mas o que seriam de fato os negócios sociais? Negócios sociais são empresas que, com sua atividade principal, oferecem soluções para problemas sociais utilizando mecanismos de mercado. Atendem necessidades da base da pirâmide social, possibilitando à população de baixa renda o acesso a produtos e serviços que melhoram a produtividade ou reduzem os custos de transação. A CHOICE é um grupo que reúne universitários engajados em fazer negócios sociais no Brasil. Sua missão é criar novas formas de fazer negócios na universidade. A estudante de Engenharia Ambiental da Unesp de Presidente Prudente, Sayuri Matsumoto, faz parte da CHOICE. Ela
explica que os negócios sociais são diferentes das empresas que também tem um lado social. Sayuri diz que “o negócio social é voltado para resolver o problema social, é essa a alma do negócio. As outras empresas mantêm apenas um ‘braço’ social, é uma parte da empresa que poderia muito bem não existir. A embaixadora da CHOICE explica também como se dá o auxílio da Artemisia aos negócios sociais; “a Artemisia tem o programa de aceleração, que recebe os projetos já prontos. Ela então avalia e passa a acelerá-lo e auxilia a levá-lo à frente”. A CHOICE em si é bem recente. Para se ter uma ideia, a Artemisia, rede que engloba a CHOICE foi fundada em 2007. A CHOICE começou como uma simples conferência em 2011 e, a partir dessa reunião, surgiu o programa de embaixadores. A CHOICE realiza periodicamente seleções de novos em-
Em estudo realizado pelo ANDE Polo Brasil, Potencia Ventures, Avina e Plano CDE, foram identificados 140 negócios sociais no país. Destes, o estudo se aprofundou em apenas 50 para obter informações mais simples para a divulgação. O gráfico acima traz os setores nos quais esses 50 negócios sociais abordados atuam. A grande maioria trabalha com a parte de serviços, mas não se limita a apenas essa área. Quase um quarto dos negócios sociais estudados atuam na parte de atacadista de varejista. É bom lembrar que, para a construção do gráfico, um negócio social não precisa estar necessariamente vinculado a apenas um dos setores.
baixadores. Para se candidatar a uma vaga de embaixador, basta entrar no site www.choice.org. br e ir à seção dos embaixadores,
onde haverá um link que guiará até o cadastro ao programa. Em caso de dúvidas, o e-mail é choice@artemisia.org.br.
por Gabriel de Castro Hirabahasi
Sementes de Paz é um dos negócios sociais que prova que essa nova forma de fazer negócio dá certo
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om o intuito de criar uma forma de comércio justo e transparente, em 2007, dois irmãos criaram o grupo ComerAtivaMente, cujo objetivo era redirecionar o consumo de alimentos para pequenos agricultores independentes que praticam um modelo de agricultura ecológica e relações de trabalho justas. A partir das experiências obtidas com o ComerAtivaMente surgiu em 2008 a Sementes de Paz, criada para fortalecer a cadeia produtiva da agricultura ecológica, apresentando-se como um elo entre os produtores e os consumidores. Hoje, a Sementes de Paz já tem parceria com mais de 50 produtores, e já proporcionou uma alimentação mais saudável a mais de duas mil famílias na cidade de São Paulo. O negócio tem apenas uma loja online, disponível no site www.maisorganicos.com.br. O atendimento, por enquanto, é fei-
to apenas para a Grande São Paulo, com entregas de terça-feira a sábado. O sócio e líder de marketing Diogo Tolezano Pires diz que “a questão do preço é um tema bastante discutido no mundo dos orgânicos. Muitas pessoas olham apenas para o preço e não entendem o que está por trás dele. Para um alimento ser certificado como orgânico, não basta apenas estar livre de químicas e agrotóxicos. Existe uma série de exigências do Ministério da Agricultura, como a formalização dos trabalhadores e o cuidado com as condições do solo”, explica. O sócio da empresa também justifica o preço com a ineficácia da cadeia de produção e abastecimento: “é um trabalho quase artesanal”. Valores que antigamente chegavam ao dobro dos produtos “convencionais”, hoje estão em média 20% acima. Apesar dos poucos negócios sociais no Brasil, Diogo acredita
na mudança desse panorama. Segundo ele, muitos executivos vindos do mundo corporativo estão à procura de outros propósitos que não o dinheiro, e, assim, potencializam as ferramentas e formas de gestão dos negócios sociais. A intenção da empresa enquanto um negócio social pode ser vista nos recibos de compra. Neles, o cliente pode ver o quanto daquele pedido ficou para cada elo da cadeia. Além disso, a empresa contribui socialmente ao manter parcerias com pequenos produtores. O resultado da parceria são produtos mais saudáveis, sem nenhum tipo de produto químico, reduzindo os impactos negativos na saúde dos clientes a longo prazo. Para mais informações: www.sementesdepaz.com.br (11)3522-6232.
Foto: Diogo Pires
“A maioria dos negócios sociais tem o desafio em comum: atingir [um nível de] escala muito rápida para conseguir ampliar seu impacto”, disse Diogo Pires, sócio e líder de marketing da Sementes de Paz.
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por Mariana Torres
E
Revisitando um conceito antigo, a economia solidária ganha espaço na sociedade
se o mundo fosse menos competitivo? E se toda a ideia de capitalismo como a única forma de se reger uma sociedade caísse por terra? Surgidas na Inglaterra e na França no século XIX, as primeiras cooperativas e uniões de ofício serviam para unir grupos de pessoas em torno de um ideal econômico comum, todas elas na mesma hierarquia. Tempos depois, esse sistema econômico que visava valorizar o ser humano e não o capital deu sentido ao termo “Economia Solidária”, cunhado pelo estudioso da área Paul Singer. Rumando para uma sociedade mais igualitária e sem competição, essa ação social traz novos horizontes a um mundo dominado pelo consumo desenfreado e pelo status social. De família judaica e nascido em Viena, Singer veio para o Brasil em 1940 e radicou-se aqui com a família. É formado em economia e traz uma bagagem de lutas políticas nas costas. Em 2003, foi convidado para ocupar o cargo de titular da Secretaria Nacional da Economia Solidária (SENAES), criada pelo então presidente, Luis Inácio Lula da Silva, e é onde está até hoje. Foi a partir daí que a economia solidária começou a se solidificar no país. “A sociedade de mercado acaba por não dar chance às pessoas excluídas econômica e social-
mente, então se fazem necessárias ações sociais nesse sentido”, comenta Juliana Soares de Souza, formada em psicologia pela UEM e técnica do projeto de extensão INCOP, da Unesp Bauru. Juliana explica que a Incubadora, ou INCOP, tem uma proposta de assessorar grupos sociais que visem formas de produção nos moldes da economia solidária. E Foto: Marina Ling Wang
educar o trabalhador para que ele caminhe sozinho. E para isso utiliza matéria-prima ou força de trabalho disponíveis no microcâmpus social dos assessorados, além de valorizar a sustentabilidade. A incubação de empreendimentos é, por excelência, economia solidária. Ou, por assim dizer, uma maneira comum de colocar em prática esse sistema. No
O Atlas da Economia Solidária no Brasil indica que existem hoje quase 22 mil empreendimentos nesses moldes.
garante que o trabalho da Incubadora vai além do assistencialismo. A pequenos passos, a incubação procura passar ensinamentos, anteriormente estudados, que visam à formação de empreendedores. Ao invés de ajudar quem precisa fazendo o que eles precisam, a assessoria funciona no sentido de
Brasil esse processo começou em 1995, com a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), da UFRJ. Em 1997 surge a ITCP-USP, tendo como coordenador ninguém mais, ninguém menos, que Paul Singer. Formalmente, a INCOP, incubadora da Unesp, surgiu no ano de 2006.
Por ter à frente do projeto o professor e coordenador do curso de Design Cláudio y Goya, a INCOP está associada a esse departamento. No entanto, constitui-se de uma proposta multidisciplinar, que envolve alunos de Psicologia, Relações Públicas, Engenharia de Produção e Engenharia Civil. “A iniciativa tem mais potencial para contribuir no ensinamento da autogestão, que é o conceito chave da economia solidária. O objetivo principal é a transição de um modo de produção exploratório para outro em que as pessoas não valorizem tanto o dinheiro, mas valorizem as relações”, explica Juliana, que está há três anos no projeto. A competição está tão presente no mundo contemporâneo que é difícil estabelecer uma forma de empreendimento isenta disso. Conforme o pensamento marxista, o homem se constitui pelo trabalho. Se o trabalho é de exploração, a índole desse homem é voltada para a competição, inconscientemente. A intenção da economia solidária é mostrar que mais importante que uma formação técnica e profissional é a formação social e humana. Os interessados em participar da INCOP Bauru devem entrar em contato pelo e-mail bauruincop@gmail.com ou pelo telefone (14) 3103-6000, ramal 7229.
por Mariana Torres
O
Mostrando valores materiais e morais, a Feira de Economia Solidária dá espaço para esse modo de produção
portunidade e desenvolvimento. Esses foram os princípios que nortearam a Feira de Economia Solidária, que aconteceu no início de setembro e fez parte da programação do Festival Canja 2012, na cidade de Bauru. Algumas barraquinhas invadiram o Parque Vitória-Régia expondo e comercializando trabalhos que ganharam visibilidade com a iniciativa. Leonardo, ou Nô, esteve presente com seus encantadores artesanatos e sua poesia. Ele e sua esposa trouxeram ao evento um pouco da natureza com seus brincos de pena, colares
de pedras e pulseiras de fio encerado. “Acho legal a iniciativa do Canja por juntar várias pessoas que acabam interagindo no sentido da troca, tanto de experiências quanto de produção”, comenta Nô sobre a Feira. Outro tipo de produção encontrado por lá foi o de um grupo de artesãs, às quais deu voz Elenice Rodrigues Simonetti. “Economia solidária, para mim, é a possibilidade de juntar pessoas com talentos diversos”, define a artesã. Talita Davi, artista plástica, mostrou a produção de uma revista, a “Café Spacial”, que estava indo para sua 11ª edição e havia sido financiada com 5 mil reais,
conseguidos por meio do site da difundido, foi uma oportunidaCatarse. Nele os empreendedores de de mostrar essa produção. podem inscrever seus projetos Foto: Mariana Torres culturais e os internautas doam o quanto quiserem, se aprovarem. Já Natália Nogueira toca no ponto da sustentabilidade com o seu brechó. “Em vez de comprar roupas novas, a pessoa pode utilizar o que já existe. Uma calça jeans, por exemplo, gasta 11mil litros de água para ser feita, é isso que queremos mostrar”, explica. Pintando a economia solidária com várias cores, a Feira do Festival Canja teve grande aceitação do público bauruense. Apesar de trazer visões diferentes em torno do conceito, ainda pouco
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por João Ernesto Reis por Pedro Borges
Sociólogo e advogado apresentam visões diferentes sobre a importância das ONGs em uma sociedade de mercado empre que o debate sobre das por indústrias farmacêuticas os entraves sociais vêm à internacionais. Estas queriam que tona, levanta-se a questão aquelas, que se diziam autônosobre a importância das ONGs mas, defendessem a sua posição como agentes alteradores de uma dentro do país. O que se viu foi realidade. Será que elas são muito que essas ONGs ecoaram o disimportantes para a nossa socieda- curso das empresas que queriam de? Será que elas são capazes de continuar vendendo os seus reméresolver, realmente, algum pro- dios patenteados por altos valores blema social? para países pobres e emergentes. Elas, as organizações não-goMesmo acreditando que a atuvernamentais, compõem aquilo ação das ONGs é falha nesses que é chamado de terceiro se- aspectos, Ricardo ressalta a existor. Segundo tal conceito, são as tência de organizações autônoONGs as responsáveis por orga- mas que têm propostas políticas nizar os indivíduos de uma comu- de alteração da realidade social. nidade para resolver os problemas O exemplo citado é o MST, Mosociais de um determinado grupo. vimento dos Trabalhadores RuAfinal, o primeiro setor, o Estado, rais Sem Terra. é ineficaz para solucionar todos os gargalos sociais e o segundo, o TENDÊNCIA privado, visa atender somente os interesses privados. Nesse quesito, tanto Amilton O advogado Amilton Sobreira, quanto Ricardo concordam, mescoordenador da ONG SOS Cer- mo que por motivos diferentes. rado, concorda com essa visão. O advogado acredita que semPara ele, elas só são necessárias pre existirão pessoas de má fé porque o poder público não con- que se utilizarão das ONGs para segue cumprir os seus deveres. conseguir benefícios, ainda mais Deixa brechas em áreas funda- porque elas têm facilidades tribumentais como a saúde, o meio tárias. ambiente e a educação, obrigando O sociólogo vai por um camia sociedade civil a atuar. Ou seja, nho distinto e vê a questão no seu se o poder público cumprisse as âmbito mais geral. Na sua consuas obrigações, não teríamos cepção, o terceiro setor também ONGs. segue uma lógica de mercado e Ricardo Beltrão, sociólogo sempre haverá o desejo do lucro. formado pela USP, discorda de tal O fim dessa situação viria ou visão e relativiza a importância por uma fiscalização social maior, dessas entidades. Crê ser interes- tanto por parte do Ministério Púsante que se tenham instituições blico quanto da sociedade civil, que não pensem exclusivamente crê Amilton. Ou por uma maior no mercado, ainda mais em um politização dessas organizações ambiente em que a otimização do para que comecem a entender lucro é o imperativo máximo. que todos os entraves sociais esEle, porém, pontua que as tão ligados a falhas estruturais da ONGs oferecem soluções paliati- nossa sociedade, lembra Ricardo vas e não estruturais aos proble- Beltrão. mas. Não pensam em mobilizar Foto: João Ernesto Reis os oprimidos em prol de um sistema mais justo. Muitas, inclusive, praticam ações sociais porque são financiadas por indústrias que querem melhorar o seu marketing institucional e assim ampliar e agradar o seu mercado consumidor. A Folha de S. Paulo, no dia 18 de maio de 2008, divulgou uma matéria que mostrava como 9 ONGs brasileiras foram financiaRicardo Beltrão, sociólogo
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Verbas para projetos sociais existem, o problema é o acesso a elas
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as últimas décadas as ONGs vêm se destacando mundialmente como uma saída paralela à ação do Estado no que diz respeito a ações sociais. Isso se dá devido ao fato de que hoje os “projetos sociais” conseguem atuar mais incisivamente na sociedade. Sobretudo, quando entendidos como as ações das diversas organizações do terceiro setor voltadas para a melhoria da vida das pessoas que não têm acesso aos direitos básicos de cidadania. O economista e Secretário Executivo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo Federal, Sergio Mendonça, acredita que esse crescimento das ONGs se dá em um momento de diminuição do Estado e do fortalecimento da participação da sociedade e do mercado, de forma que beneficia toda a sociedade. Além disso, explicita que a participação das organizações não governamentais tem sua importância para a população. “As ONGs cumprem um papel complementar. Muitas vezes o Estado não tem capilaridade para atuar em regiões onde as ONGs podem atuar”. De toda forma, mesmo frisando que o papel das ONGs é importante, o economista acredita que o mesmo ainda é muito limitado e, portanto, não resolve nem de longe os problemas sociais do Brasil. A saída seria um investimento forte em áreas básicas, como educação e saúde. Além das organizações do terceiro setor estarem crescendo em uma brecha deixada pelo Estado, o entrevistado também indica que muito do capital injetado
Desenho: Frank
nas empresas se dá em função do investimento dos próprios governos federal, estadual e municipal nas instituições. Bauru, segundo o site da prefeitura, tem mais de 99% das empresas com atuação social recebendo verba das três instâncias governamentais e o investimento vem crescendo. No ano de 2008, o gasto da cidade com assistência social representava 3,05% do PIB municipal; hoje o gasto chega aos 3,47%. Bauru registra uma participação impressionante do Estado nas suas ONGs, e sempre que existe um estreitamento da relação Estado-Organizações, seja qual for o setor, já se pensa em corrupção. Sergio afirma que “em relação às ONGs o contrato pode, sim, ser interrompido e a verba suspensa se as exigências não estiverem sendo cumpridas. Isso, aliás, é muito comum ocorrer”. Ele ainda explicita que a cobrança é bem feita e segura pelo Governo Federal, para quem trabalha. Ricardo Beltrão explica que a fiscalização é bem feita. Existem, inclusive, portais que disponibilizam para toda a sociedade o uso da verba feita pelo Governo Federal. O que complica é o fato de que “quando a Federação repassa o recurso para os municípios, mesmo se destinados ao uso em uma área específica, ela perde o controle sobre o capital e é nesse momento que se perde a qualidade do serviço e acontece a corrupção”. Para maiores informações acesse: http://www.bauru.sp.gov.br. www.tcu.gov.br www.cgu.gov.br www.portaldatransparencia.gov.br
7 por João Victor de Oliveira
Verbas m projeto que tenta modificar a realidade da sociedade precisa, como qualquer outro, de financiamento e de qualificação profissional em sua gestão e em seu desenvolvimento. Ao contrário do que muitos possam pensar, no entanto, não é a parte do dinheiro que constitui o principal problema desses projetos. De acordo com o coordenador de captação de recursos de Bauru, Chico Maia, os maiores problemas do setor estão ligados à falta de capacitação para gerir os projetos e à falta de acesso às informações necessárias para torná-los funcionais. Questionado sobre uma possível escassez de verbas, o coordenador explica: “em linhas gerais, não posso dizer que as verbas para projetos são escassas, pois cada órgão tem um orçamento
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para projetos sociais existem, o problema é o acesso diferente. O que falta é acesso editais aptos a receber proposà informação adequada, recur- tas são divulgados. Segundo sos humanos qualificados para Chico, “há editais que são diselaborar os projetos, executá ponibilizados apenas no Portal -los e prestar contas de acordo de Convênios e aquelas insticom a legislação”. Chico Maia tuições que não mantêm um sefaz questão, no entanto, de não tor de elaboração de projetos e atribuir toda a responsabilidade captação de recursos não ficam ao terceiro setor e lembra que, nem sabendo da existência des“Por outro lado, os próprios sas oportunidades”. Outro problema que pode diórgãos governamentais têm carência de analistas de projetos”. ficultar a captação de recursos Quando se diz que as verbas é que, em alguns casos, a insreservadas aos projetos sociais tituição pode estar impossibinão são escassas não se con- litada de recebê-los. Para estar sidera apenas a verba privada. apta para receber verbas, uma Dezenas de editais são lançados das exigências que se faz é que para diversos segmentos anual- a prefeitura ou instituição que mente. Em Bauru, no âmbito da realiza o projeto esteja adimprefeitura, quase 1 bilhão de re- plente com os setores públicos, ais foram captados em 2012. O coisa que nem sempre acontece. problema é que nem todos esses Na região de Bauru e Marília, editais são públicos. Em 2008 80% dos municípios tem alfoi criado o Portal de Convê- gum tipo de inadimplência. As nios, por meio do qual muitos exigências existentes para que
a elas as verbas sejam aprovadas são grandes e elas continuam depois da aprovação. Para que o financiamento continue, a instituição deve prestar contas e executar suas metas, coisa que frequentemente não é cumprida. Todos esses fatores travam o desenvolvimento dos projetos e ações e impedem que a sociedade cresça em inúmeros aspectos. Uma prova da incapacitação na área de gestão dos projetos citada por Chico Maia é exatamente a verba desperdiçada. O representante da prefeitura disse que “há órgãos federais que conseguiram executar menos de 50% do orçamento no ano de 2011”. Isso acontece por falta de projetos inscritos nos editais ou porque nenhum dos inscritos poderia receber os recursos.
INVESTIMENTO PÚBLICO EM PROJETOS SOCIAIS
Foto: Gabriel de Castro, João Ernesto Reis, Lucas Loconte e Mariana Torres
Área Social - R$ 509 milhões Programa “Minha Casa, Minha Vida” - R$ 450 milhões Infraestrutura Urbana - R$ 17 milhões Cultura, trabalho, esportes, ciência e turismo - R$ 14 milhões Saúde e SAMU - R$ 13 milhões Dados referentes ao ano de 2012 FONTE: Coordenadoria de Captação de Verbas de Bauru
ENTREVISTA
“Você vai limpar sua casa só de quatro em quatro anos?”
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Projeto Bauru Transparente (Batra), criado em 2009, tem como objetivo conscientizar a população e fiscalizar os políticos da cidade. O presidente Alvérsio Santinoni que, há três anos no comando do projeto, comenta em entrevista sobre as dificuldades que enfrenta, o grau de engajamento da sociedade e o embate entre receber verbas e criticar os financiadores.
chamarem. Fazemos a fiscalização da câmara de vereadores, acompanhando os políticos da cidade, a fim de descobrir se os vereadores estão cumprindo mesmo a função deles. Temos também a Batra Jovem, que é uma parte do projeto organizada pelos jovens, com o objetivo de levar a cidadania às ruas. Por fim, produzimos um livro chamado “Cidadania Consciente”, que será distribuído nas escolas, para que os alunos Quem financia a BATRA? respondam questões sobre o conUma parte das despesas da BA- teúdo e os melhores colocados seTRA é custeada por alguns co- jam premiados. laboradores, mas a maior parte é nossa mesmo, dos diretores e A sociedade brasileira, em gepessoas que se empenham e con- ral, é engajada nas causas polítribuem mensalmente. Não temos ticas e sociais? uma fonte de renda, não recebe- Muito pouco ainda, quase nada. mos dinheiro público, temos que Você encontra poucos que esnos virar com pouca verba e do- tão lutando conosco e abraçando ações. nossa causa. O restante não quer saber de nada, só de futebol e carO que é realizado no projeto? naval. Isso está errado, você vai Realizamos palestras com o tema limpar sua casa só de quatro em “Cidadania e Voto consciente”, quatro anos? É preciso agir tamapresentamos o conteúdo de gra- bém entre esse tempo. A populaça e em qualquer lugar que nos ção é pouco esclarecida quando
por Renan Fantinato
o assunto é política. Muitos nem sabem em quem votaram. A gente tenta criar essa consciência com as palestras, mas o povo pouco se movimenta. Parece que nada está errado no país, que tudo está bem. Esse é o mal do cidadão brasileiro! Quais as maiores dificuldades para realizar os objetivos de um projeto? A principal dificuldade é a verba, a gente trabalha com pouco dinheiro e precisamos de parceiros que invistam. Além disso, é difícil achar pessoas com mão-de-obra e tempo disponível, interessadas em ajudar. O que há de negativo nos projetos sociais? Acho que existem algumas instituições que não têm o “social” como principal objetivo. Instituições privadas que também têm um projeto social só para dizer que estão devolvendo algo à sociedade. Usam o projeto como marketing. Sabemos que muitas
empresas fazem isso. Em relação aos parceiros que financiam projetos, não é criada uma obrigação de defender os financiadores? Não, se algum dia um deles fizer algo de errado que seja pertinente a nossa divulgação, nós iremos criticá-los, o problema é deles. Se isso acontecesse, nós cortaríamos a relação dessa empresa com o projeto, iríamos parar de receber verbas dela. Nós não podemos adivinhar quem é honesto e quem não é. Mas ao detectarmos que existe algo errado, nós denunciamos e paramos de receber a verba. Agiríamos dessa forma, para não perder a credibilidade. Foto: Renan Fantinato
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por Paula Reis
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Como funciona o processo de adoção em Bauru e as particularidades de cada caso
ríticas sobre a burocracia que envolve os processos de adoção no Brasil são muitas. Casais cheios de afeto, estáveis e dispostos a adotar crianças precisam passar por um criterioso processo para realizar seu sonho de ter um filho. É importante conhecer o procedimento e casos específicos para que se entenda como todo o cuidado é pouco quando se trata de vidas. Vidas ainda tão curtas, mas que, em muitos casos, já carregam consigo traumas profundos.
PROCESSO CUIDADOSO O processo de adoção é basicamente o mesmo em todo o país, havendo algumas variações na parte de preparação psicológica de quem quer adotar. Os interessados em adotar uma criança devem procurar o fórum da cidade em que residem. Com os documentos necessários em mãos e a entrada dos papéis no cartório, inicia-se a fase de preparação para se adotar. Em Bauru, há um curso e um acompanhamento psicológico, com discussões com os possíveis pais adotivos sobre as peculiaridades de cada criança, as suas fases de desenvolvimento e como deve ser revelada a adoção para a criança. Após a sentença do juiz, o interessado entra nos Cadastros de Adoção Local e Estadual. Depois da homologação, ele é inserido no Cadastro de Adoção Nacional e passa a fazer parte de uma fila de adoção, que segue a ordem de inscrição. Quando há uma criança disponível que atende ao perfil do interessado, este é contatado. A psicóloga judiciária Lúcia Maria Rodrigues de Almeida explica que esse momento é um pouco inDesenho: Pedro Hungria Cabral
certo: “às vezes acontece da gente se o procedimento envolver pescontatar o casal, mas ele não está soas de uma família diferente, ele no momento certo de adotar e passa a ser considerado crime, e a prefere nem conhecer a criança”. criança é recolhida. Havendo a aprovação, iniNos casos em que há a entrega ciam-se aproximações sucessivas espontânea da criança ao serviço de maneira lenta e cautelosa, até de adoção, a gestante pode manio momento em que ambos – tanto festar esse interesse logo na maa criança como o interessado – se ternidade. É feito o pedido para o sentem confortáveis para tornar a fórum e há o acompanhamento da situação definitiva. assistente social do hospital. Se O acompanhamento das crian- até o momento da alta o desejo ças, feito por assistentes sociais, de entregar a criança permanecer vai até o momento em que a ado- firme, a criança é dirigida direção é efetamente da tivada ou a “Nós somos responsáveis maternidade destituição para o abrida família por colocar crianças que go, ou para antiga é fina- já passaram por abandono, um casal inlizada. maus tratos, negligência, teressado. Sobre o Há tamtempo que em outras famílias. Temos bém os cademora esse que tentar minimizar as sos em que processo, a criança Lúcia expli- chances disso acontecer no- precisa ser ca que varia vamente, e apesar de toda a retirada da conforme o burocracia, a cena ainda se família por caso “se é conta de repete“. uma família maus tratos, que quer um negligência bebê até um ano de cor branca e ou abandono. Esse procedimensexo feminino, demorará de 5 a 6 to é denominado destituição e anos, se a família aceita uma fai- acontece após a ineficiência nas xa etária mais ampla, ou irmãos, tentativas de manter a criança na a adoção pode ocorrer em bem família biológica. menos tempo. Quanto mais a pes- *Irmãos: segundo Lúcia, prisoa fizer restrições no perfil da meiramente se tenta manter as criança pretendida, mais se reduz crianças em família. A separação a chance de adotar logo”. Segun- só ocorre em casos de numerosos do Lúcia, isso acontece pois há irmãos, mas procura-se manter o grande disponibilidade de crian- contato entre eles. ças mais velhas nos abrigos. *Adoção tardia: a adoção de crianças com mais de dois anos é CASOS ESPECÍFICOS considerada tardia. Segundo Lúcia, ela é recorrente em Bauru, Casos de adoção em que a onde o perfil dos interessados é criança vai para uma família dife- diferente do restante do país. Em rente, sem a participação da Justi- outras localidades, de 80 a 90% ça, já foram muito recorrentes. Se das pessoas querem crianças até a criança for entregue para algum dois anos de idade, enquanto em outro ente da família, a lei pre- Bauru, dos 168 cadastros ativê como extensão familiar. Mas, vos, apenas 30% desejam apenas após a criação da lei 12010/09, crianças nessa faixa. O restante
aceita crianças de 0 a 8 anos. *Adoção homoafetiva: nesse caso, o interessado passa por um processo exatamente igual ao direcionado aos heterossexuais. Lúcia completa: “não há diferenciação. O que a gente busca checar mesmo é a afetividade, o vínculo do casal, a estabilidade conjugal”. *Crianças com deficiência: Lúcia explica que infelizmente não há procura, e que em pouquíssimos casos há a aceitação. Em qualquer um dos casos citados, às vezes existe a devolução da criança adotada. As crianças que são devolvidas voltam para a entidade e são acompanhadas por psicólogos que irão prepará-las para serem recolocadas em novas famílias. Lúcia destaca que, nessas situações, a criança sofre uma lesão psicológica muito profunda, e alerta para a importância de um processo criterioso de adoção: “nós somos responsáveis por colocar crianças que já passaram por abandono, maus tratos, negligência, em outras famílias. Temos que tentar minimizar as chances de isso acontecer novamente, e apesar de toda a burocracia, a cena ainda se repete”.
CARINHO TEMPORÁRIO Em Bauru existem sete instituições especializadas em abrigar crianças enquanto elas ainda não são adotadas. Cada local é voltado para acolher crianças de idades e sexos específicos, além dos direcionados para grupos de irmãos e pessoas com deficiência. Além das instituições existem cinco famílias acolhedoras cadastradas. Elas se dispõem a abrigar uma criança que conviverá nesse ambiente familiar até sua situação ser definida e ela retornar para sua família biológica ou ir para o abrigo.
9 por Paula Reis
A
Uma história de quem ama sem se importar com os laços de sangue
o sair do aconchego do ventre, o choro estridente era o sinal do nascimento de duas novas vidas. Thiara e Thiago eram frágeis bebês recém nascidos e nem imaginavam que já estavam conhecendo nobres sentimentos como generosidade, coragem e amizade. Os filhos de Sebastião, caseiro de um rancho no Mato Grosso do Sul, não puderam conhecer a mãe biológica, pois Maria faleceu logo após o parto. Sebastião, pai de mais quatro meninas, era um homem muito simples, sem condições para criar mais duas crianças, e então contatou seus grandes amigos Lucia e Denil-
son Torres, que o acompanharam por uma semana buscando uma maneira de ajudá-lo. O casal decidiu então levar toda a família para sua casa em São João da Boa Vista- SP. Após um mês, o caseiro resolveu voltar para sua cidade e, atendendo ao pedido dos amigos, deixou Thiago e Thiara aos cuidados de Denílson e Lucia. O tempo passou, e o casal ficou com Thiara, enquanto o irmão de Denílson e sua esposa ficaram com Thiago. Os irmãos gêmeos sabem de seus passados desde pequenos. Thiara explica que nunca teve problemas com isso, e que sempre gostou de contar sua história aos outros:
“Eu acho que as minhas duas famílias sempre tiveram muita coragem, uma por adotar e a outra por entregar”. Thiara ainda completa que conhece suas irmãs biológicas e que tem muita curiosidade de conhecer o pai. A adoção oficial dos irmãos completou-se em 2007. Thiara comenta que recebeu muitas visitas da assistente social e da psicóloga do fórum, mas explica: “para mim, não havia muita diferença, já que a adoção oficial seria apenas uma modificação para a Justiça”. Thiara Correa Valin Torres e Thiago Correa Torres Rehder trazem consigo o sobrenome das famílias biológica e adotiva.
Foto: Mariana Torres
Thiara com sua filha Helena, de 2 anos.
por Felipe Altarugio
O
Unidades de saúde precisam combater antigos mitos para incentivar a doação de sangue
s procedimentos médicos que envolvem transfusão sanguínea demandam um estoque de sangue seguro e que forneça um abastecimento regular à unidade de saúde. Para a manutenção desse estoque, é preciso que voluntários façam doações sanguíneas. O grande problema, segundo médicos, são os mitos criados sobre doar sangue, e o receio que surge como consequência. Normalmente, os doadores não apresentam problemas durante a doação de sangue, mas podem ocorrer situações nas quais o voluntário apresente Infográfico: Lucas Loconte
algum mal-estar, variação de pressão e tontura, ente outros sintomas. Outro mito a ser vencido é o de que o sangue “engrossa” ou “afina” depois da doação. Na verdade, o volume de sangue retirado é reposto quase totalmente após 24 horas e o sangue de uma pessoa que tenha doou é igual ao de quem nunca doou. O processo de doação é bastante simples: antes de retirar o sangue, o doador passa por um processo de triagem, que envolve alguns exames e uma entrevista. Se considerado apto para a doação, serão colhidos 450 ml de
sangue do voluntário. Serão feitos exames para Hepatite B e C, Sífilis, Doença de Chagas, AIDS e exames para a detecção do vírus HTLV I e II no sangue coletado. Os resultados dos exames e a carteirinha de doação ficam prontos em cerca de 10 dias e devem ser retirados no posto de coleta. O sangue doado é armazenado separando seus componentes: hemáceas com validade de até 35 dias, plasma fresco com validade de até 1 ano, plasma preservado com validade de até 5 anos, crioprecipitado com validade de até 1 ano e plaquetas com validade
de até 5 dias. O material utilizado na coleta é totalmente descartável e esterilizado. Assim, o doador não corre nenhum risco de contaminação sanguínea. Para doar sangue, o voluntário deve portar documento com foto, ter idade entre 18 e 65 anos e pesar no mínimo 50 kg. Não é necessário jejum e a menstruação não afeta o processo. Em Bauru, o Hemonúcleo fica anexo ao prédio do Hospital de Base, na Rua Monsenhor Claro, 8-88. Mais informações podem ser obtidas no local ou pelo telefone (14) 3104 3518.
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por Lucas Loconte
Corrupção, crimes e ONGs fantasmas exploram a “indústria do voluntariado”. Hoje, um grupo restrito de pessoas trabalha para revelar isso e modificar a imagem do que é “fazer caridade”
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ecentemente, ouvi uma discussão sobre “marketing social”, um conceito que ficou meio dúbio por representar, ao mesmo tempo, o modo como as organizações públicas propagam suas ações e sua imagem, e também como a publicidade de um produto de determinada empresa reflete na sociedade. Toda essa discussão levou a uma reflexão final: que diferença eu faço? Até onde as minhas escolhas – do que vestir, do que comprar, do que usar, do que dar preferência – pode alterar um fluxo econômico ou social? Não é proposta dessa matéria trazer essas respostas, mas, a partir desse argumento, ter uma base para uma discussão que envolve duas mulheres, uma organização de serviços humanitários e outras um tanto menores.
A MENINA QUE BRINCAVA COM FOGO O papel que ela desempenha na sociedade não fez com que a policial norte-americana Kathryn Bolkovac aceitasse um trabalho temporário junto às Nações Unidades, organização criada num contexto do pós-Segunda Guerra, onde a comunidade internacional tinha um sentimento generalizado de que era necessário encontrar uma forma de manter a paz entre as nações, oferecendo inúmeros “serviços” sociais e lutando pela paz, igualdade, fraternidade e generosidade. Kathryn precisava mesmo era de dinheiro. Optou então por um serviço temporário oferecido pela DynCorp, uma empresa terceirizada pelo governo norte-americano para levar monitores à Bósnia para supervisionar o trabalho da polícia local e dos soldados pacificadores da ONU. Com esse trabalho, ela – recém-divorciada, endividada e querendo mudar um pouco de ares – resolveu ir para o lugar de onde veio a sua família. Devastado pela guerra, Sarajevo
não era apenas um centro de dor, local no tráfico das mulheres”, ela mas um lugar corrompido por disse em uma conversa realizada por Skype. gente de fora do país. Kathryn tem olhos que me Foi só em 24 de outubro de 1945 que a ONU começou a chamaram a atenção. Não só por existir oficialmente. Foi em 2 de serem acalentadores ou calmos, agosto de 2002 que toda essa his- mas por revelarem uma dor, um tória de pouco mais de 57 anos sofrimento. Talvez seja pelo que quase desmoronou com o maior ela passou na Bósnia ou em ouescândalo envolvendo membros tros momentos de sua vida, mas aquelas duas bolas azuis tinham das Nações Unidas. A Guerra na Bósnia talvez te- história para contar. Inclusive, um dos casos que nha sido um dos conflitos mais e M E mais a chocou foi complexos da acredito no B u E “ o relato de uma das história moComo uma po- moças durante as . L A M o n derna. Termifrentei e entrevistas postenado em 1995, licial, já en . Acho riores que realizou o conflito en- lidei com os dois volvia não só que o mundo precisa com as vítimas: r com “A história mais disputas polítiender a lida r p a a cas ou religioescolher um constrangedora e o s s i foi de uma josas, mas cultuora” força venced vem que descrerais também, o veu como um cliente do bar em que também foi a principal causa de vários emba- que trabalhava a forçou a dançar tes na África, como o de Ruanda, nua e colocou uma moeda de um quando, em 1994, guerrilheiros marco alemão [que é uma moeda da etnia hutu mataram cerca de grande] dentro de sua vagina. Ela 800 mil tutsis em praticamente se referia a ele como o ‘Médico’”. Para se ter uma noção, em um mês. Nos meses que passou na Bós- 2010, cerca de 60 mil brasileiros nia, Kathryn descobriu um sórdi- foram vítimas do tráfico internado esquema de tráfico de pessoas, cional de pessoas, segundo dados que incluía mulheres de vários pa- obtidos junto à Secretaria Nacioíses próximos, inclusive crianças nal de Justiça (SNJ), sendo que a de 12 anos. Essas mulheres pres- maioria das vítimas são mulheres tavam serviços sexuais em vários entre 18 e 25 anos, oriundas de bares de Sarajevo. Por sua desco- famílias de baixa renda e preberta, ela foi ameaçada pelos en- sas a uma rede internacional de volvidos no tráfico e se viu obri- prostituição, sujeitas a trabalhos gada a revirar arquivos e confiar forçados, em cárcere privado e nas pessoas certas para conseguir expostas a doenças sexualmente trazer a verdade à tona. “Foi cho- transmissíveis. O envolvimento cante descobrir as circunstâncias da ONU num escândalo dessa de como as mulheres eram trans- magnitude mostra que nem uma portadas para a Bósnia. Sabendo organização desse porte está livre que a situação econômica e social da corrupção. Hoje, Kathryn é responsável era desesperadora na época, dá para entender que a promessa de por uma série de medidas que dinheiro fácil era o chamariz para tentam prevenir esses casos, inas vítimas, levando essas garotas vestigando possíveis suspeitos a sofrerem as atrocidades que fo- e condenando aqueles que acoram relatadas inúmeras vezes. O bertam ou cometem tais crimes. que nunca consegui compreender “Nós devemos garantir que todas foi o que levou a participação dos as forças armadas, organizações, trabalhadores internacionais, dos corporações e governos assegufuncionários da ONU e da polícia rem que seus representantes tra-
balhem direito e que as investigações e processos decorrentes desses abusos sejam transparentes. Meu livro descreve ainda minha posição nesse assunto. Aqueles que acobertam esses crimes também devem ser apontados como responsáveis”, ela comenta. Kathryn encerra, dizendo que o seu trabalho é “garantir que todas as forças armadas, organizações, corporações e governos assegurem que seus representantes trabalhem direito e que as investigações e processos decorrentes desses abusos sejam transparentes”. E completa: “Eu acredito no bem e no mal”, enfazita, dizendo Foto: Tyler Anderson/PostMedia News/ZUMApress.com
que “como uma policial, já enfrentei e lidei com os dois. Acho que o mundo precisa aprender a lidar com isso e escolher uma força vencedora”.
A DEVASTADORA DOS CASTELOS DE AR Quando a ligação no Skype foi atendida, Linda Polman abriu um sorriso. “Você é tão jovem!”, ela comentou, dando início a uma conversa sobre o seu trabalho envolvendo a “indústria das ONGs” e a denúncia que faz a um boom de organizações que surgiram depois do final da Guerra Fria com o intuito de ajudar os países subdesenvolvidos que ainda enfrentavam vários conflitos internos. Os governos davam um auxílio financeiro para essas organizações, e muitas delas foram criadas com o intuito de arrecadar esse dinheiro e não fazer nada. Ela inclusive conta histórias do período em que ficou no Haiti após o furacão que devastou Porto Príncipe em 2010, onde existiam “casas fantasmas” que abrigavam as sedes de organizações criadas especialmente para receber a verba destinada ao trabalho voluntário. A jornalista alemã iniciou sua carreira de cobertura internacional em 1995, visitando Ruanda um ano após o genocídio tutsi. Ela recebeu um telefonema de um amigo fotógrafo e acabou indo para lá, noticiar como a população se encontrava naquele aniversário macabro. A partir de uma análise, ela viu que, das 40 organizações que existiam na década de 1980 e que agiam no Camboja, registrou-se um aumento para 250 operando na Iugoslávia na década seguinte e, em 2004, para 2.500 agindo no Afeganistão. Não era normal isso e não tinha um propósito aparente. Linda comentou que existe uma espécie de concorrência en-
tre as organizações para conseguir as verbas, e que, claro, também temos aqueles que estão lá apenas pelo dinheiro. E o que isso vira? “Uma competição por dinheiro que se torna uma disputa por zonas de guerra, sofrimento e refugiados. É um absurdo, não?”, ela disse apontando esse como um grande erro da parte das organizações. “As indústrias das ONGs se transformaram em algo milionário. Muitas delas não tem um objetivo claro quando se inscrevem para receber as verbas dos governos, e acabam nem fazendo direito o seu trabalho. As ONGs vão aonde o dinheiro está! Hoje, quase não existe mais aquela sensação de que o trabalho voluntário é algo recompensador, mas algo que gera lucro – e, infelizmente, é isso que a maioria das ONGs buscam”, ela disse, apontando a ganância dos captadores como uma das causas para esse tipo de corrupção. “Aqueles que conseguem, tiram o espaço de outros grupos que poderiam desenvolver trabalhos bem mais honestos e bem mais interessante do que quem pegou o dinheiro faz”. Linda já lançou quatro livros, todos inéditos no Brasil: The Floating City, sobre a sua viagem pela África; Bot Pippel, sobre a sua experiência no campo de refugiados no Haiti; We Did Nothing – Why The Truth Doesn’t Always Come Out When the UN Goes, que trata do trabalho dos pacificadores das Nações Unidas na Somália, Ruanda e Haiti; e, mais recentemente, War Games – The Story of War and Aind in Modern Times, em que ela discute o papel que a guerra tem no desenvolvimento das ONGs. Hoje, Linda continua nessa luta para expor o lado podre das ONGs. Ela sabe que não é um problema simples, mas disse que
nunca recebeu ameaças ou processos. O fator mais importante que ressalta são as conexões entre as escolhas, o trabalho voluntário e várias esferas da sociedade. “A escolha de você ir para o Afeganistão, Paquistão ou Irã não é pelo trabalho com os voluntários ou pela assistência que eles precisam, mas pelo dinheiro. Tudo é por causa do dinheiro. E isso envolve uma escolha política que os voluntários precisam fazer. A política define como vai ser o trabalho humanitário nessas áreas e é a partir dessas escolhas, que uma ONG decide se, financeiramente, é interessante prestar tal serviço lá”. A economista zambiana Dambisa Moyo comenta uma coisa importante na matéria intitulada Does Humanitarian Aid Prolong Wars?, publicada em 25 de abril de 2010 no jornal The Guardian, sobre esse problema da indústria das ONGs: muitos de nós nem nos importamos com o que acontece ao nosso redor; mas, diante de uma imagem de uma criança africana desnutrida, a caridade fala mais alto porque isso nos faz sentir melhor. Só que nunca ninguém pensa se realmente esse dinheiro chegou ao seu destino final. Os trabalhos de Kathryn e Linda provam que, mesmo num mundo em que é muito mais fácil questionar e criticar a atitude dos outros, existem aquelas pessoas que se veem obrigadas a sair da sua zona de conforto e trabalhar em prol da humanidade. Como disse uma vez Angelina Jolie, em um discurso como embaixadora da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), “O mundo precisa de atitudes, não de opiniões. Opinião nenhuma mata fome ou cura doença”.
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Foto: Patricia Hofmeester
“Tudo é por causa do dinheiro. E isso envolve uma escolha política que os voluntários precisam fazer. A política define como vai ser o trabalho humanitário nessas áreas, e é a partir dessas escolhas que uma ONG decide se, financeiramente, é interessante prestar tal serviço lá”
Foto: Anobel Odisho
Vista panorâmica do campo de Jaramana, Síria: em 2011, existiam mais de 42 milhões de refugiados no mundo. O trabalho das ONGs se torna muito importante ao tentar tornar a vida dessas pessoas o mais próximo da normalidade.
OPINIÃO
Q
uando o assunto é “Projetos Sociais”, várias questões polêmicas são levantadas. O palco da discussão se divide em dois grandes blocos: de um lado, estão aqueles que participam de projetos sociais (ou que se simpatizam com eles) e, do outro, se encontram os que não acreditam na validade das ações sociais. Os discursos costumam ser muito claros e bastante convincentes. O primeiro grupo afirma que as ONG’s e Projetos Sociais têm um papel importantíssimo na sociedade, cumprem aquilo que o governo e a iniciativa privada deixam de fazer e merecem ser exaltados. Já o segundo grupo acredita que essas instituições só existem para criar um marketing, que realizam medidas paliativas e que, diante do contexto capitalista que vivemos, todas as ações são voltadas para obter maior ou menor lucro. Diante desse cenário, é preciso tomar muito cuidado para não fazer exatamente o que eu fiz nos dois primeiros parágrafos: generalizar, rotular, colocar tudo de uma forma simplista. Afinal, essa questão não é nada simples. A solução está no terceiro bloco, que muitas vezes a gente nem percebe que existe. Ele é composto por uma minoria que tem uma visão um pouco mais crítica e consegue enxergar os dois lados da moeda. Os projetos sociais realizam um trabalho louvável na sociedade e colaboram com ações
FALA, POVO! “Eu conheço alguns projetos sociais, como creches e orfanatos e ajudei através de doações de alimentos e roupas. Para mim, faltam projetos nas áreas de educação, saúde e moradia”
por Renan Fantinato
que melhoram a vida de várias pessoas. Mas, não se pode negar que já foram detectados desvios de verbas em vários projetos, e que a grande maioria procura resolver problemas pontuais. A situação é complicada porque, na teoria, o terceiro setor está fundamentado em valores como o altruísmo e a caridade. Porém, na prática, existem pessoas com más intenções, que usam esses sentimentos para um bem próprio ou financeiro. Assim, existem projetos com grande validade e projetos que são puro marketing. Cabe à população tentar diferenciar um do outro. Mas como fazer isso? A melhor maneira é pesquisando bastante, levando em conta dois fatores fundamentais. O primeiro é a transparência do projeto. As doações que recebe e os valores gastos são divulgados ao público? Se não, é bom ficar com uma pulga atrás da orelha. O segundo aspecto o financiamento do projeto. Se é financiado ou até mesmo faz parte de uma empresa privada, é bom ficar com um pé atrás: isso cheira a marketing. Portanto, o melhor é analisar cada ONG ou Projeto Social separadamente. Para saber o quanto a instituição é válida, é preciso conhecer suas propostas, verificar se ela busca resolver problemas pontuais ou estruturais, conhecer seus financiadores e colaboradores e, acima de tudo, nunca generalizar e colocar tudo em um mesmo patamar.
Alessandra Aparecida, 37 anos comerciante
“Eu conheço projetos sociais, mas nunca cheguei a participar como voluntário. Acredito que a área da educação esteja defasada nesse sentido”. Paulo de Tarso, 43 anos comerciante
“A creche faz parte da minha vida há alguns anos. Minha filha fazia parte do grupo de crianças e, hoje, minha neta está lá. Eu já ajudei com dinheiro e, claro, também sou ajudada porque não podia olhar minha filha e ela não pode olhar minha neta, pois trabalha”. Rosemeire de Souza, 39 anos doméstica
Desenho: Felipe Altarugio
“Conheço, mas não de projetos sociais no sentido de ajudar pessoas carentes ou coisas do tipo, mas sim na área de integrar estudantes de fora, que vieram para estudar e fazer intercâmbio em minha universidade. É difícil falar em qual área faltam projetos, pois se for para enumerar, a lista vai ser bem grande. Mas para citar alguns, eu diria que faltam projetos na área de educação ambiental e na área de profissionalização da mão de obra.” Sidarta Fernandes, 22 anos estudante