Tabu (2ª edição)

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TABU ano 1 edição 02 novembro 2012

CAPA:

BODY

MODIFICATION

A arte que sobreviveu à queda de grandes civilizações, transcendeu eras e se firmou como movimento no século 20

ORGULHO

ASSEXUAL “Amor assexual é amor de verdade”

LIVROS

À CÉU ABERTO Tabu visita a maior feira de literatura ao ar livre da América Latina

E ainda: Visitamos um CINEMA PORNÔ1e conferimos as BALADAS pelo MUNDO


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expediente Revista realizada pelos alunos do sexto termo de jornalismo da UNESP para a disciplina de Jornalismo Impresso III e Planejamento Gráfico III, sob supervisão dos professores Mauro Ventura e Tássia Zanini. Idealização, Arte e Texto: Beatriz Haga Daniela Chiba Giovani Vieira Luciana Arraes Marcia Matsumoto Mariana Duré Millena Grigoleti Monique Nascimento Paula Monezzi Vitor Moura

Telefone: (14) 3103-6000

ano 1

A

edição 02

novembro 2012

Revista Tabu chega a sua segunda edição com a ideia de sempre trazer assuntos diferentes para as melhores leituras do dia. Nesse número, destacamos matérias que você talvez não encontre nas revistas que está acostumado a folhear. Nossos repórteres vivenciaram as mais variadas situações, sentiram na pele momentos inusitados e encontraram personagens especiais, tudo para garantir o novo conceito de revista que é a nossa Tabu. Você já pensou em fazer uma tatuagem? Quem sabe colocar um piercing ou bifurcar a língua? Destacamos nessa edição o movimento da body modification ou modificação corporal, para as tribos brasileiras. Para muitos é uma forma de arte, para outros uma forma de vulgarizar o corpo. A arte de modificar o corpo é uma tradição milenar, inspirada nas mais diversas tribos, e que ganhou novas formas de se manifestar no corpo das pessoas. Atualmente, os instrumentos para modificar o corpo vão além das tatuagens, piercings, implantes, alargadores, queimaduras, cicatrizes e/ou cortes. Procuramos adeptos do movimento, curiosidades e explicações

para a dor não ser uma barreira para a aparência do corpo e a confirmação de uma identidade. Que tal vivenciar um relacionamento longe dos desejos e taras sexuais? Conheça a rotina dos assexuados, pessoas que optaram por uma vida sem ter o sexo como opção. Ainda sobre sexo, nossos repórteres acompanharam uma sessão de filme pornô na cidade de Bauru, interior de São Paulo, e contam todas as sensações dessa experiência inusitada. E como não podia deixar de ser, aproveitando o best seller do momento, usaremos um tom de cinza todo especial para apresentar essa e outras experiências. Aproveite a Tabu deste mês para acompanhar o que aconteceu na 58ª Feira do Livro de Porto Alegre, que teve como patrono o escritor, compositor e publicitário Luiz Coronel. Neste ano, a tradicional feira reuniu mais de 1,7 milhão de pessoas em seus dezessete dias. Aproveite também para visitar nossa exposição temática deste e o nosso ensaio sobre o que há de melhor na terceira idade. Para relaxar, aproveite para fazer uma trilha de bike conosco, conhecer a vida noturna de jovens brasileiros em diferentes partes do mundo e também as novidades do universo dos quadrinhos brasileiros. Isso tudo, claro, com um jeito todo especial que só a Tabu é capaz de oferecer.

editorial

Vice-reitor no exercício da Reitoria Julio Cezar Durigan Diretor da FAAC Nilson Ghirardello Coordenador do Curso de Jornalismo Juarez Xavier Chefe do Departamento de Comunicação Social Ângelo Sottovia Professores Orientadores Mauro Souza Ventura Tássia Zanini

SEU NOVO CONCEITO EM REVISTA


Noite em Movi m e n

e p . 34

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A nova cara dos q uad rin ho sb ras ile ir

Assexualidad

os 6 2 p.

Capa: An oit e

Body Modification

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sexualidade Crônica: Um momento de liberdade p. 38

cultura Exposições p.6 5 opiniões sobre 50 tons de cinza p.33

comportamento Diferença de idade em relacionamentos p. 14

carreira ensaio Traços do tempo p. 23


exposições

sinta o rock...

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ai até 5 de dezembro a maior exposição internacional já feita sobre o rei do rock Elvis Presley no Brasil. Desde dia 5 de setembro, o The Elvis Experience vem encantando milhares de fãs e amantes da música. Localizado no estacionamento do Shopping Eldorado em São Paulo. Mais de 500 objetos pessoais estão dispostos nos 1200 metros quadrados da arena destinada à exposição. Entre eles estão desde suas famosas roupas utilizadas em shows até seu telefone e sua caixa de correio. Ao

entrar, o público é guiado cronologicamente pela vida do cantor. A mostra começa pela sua infância, passa pelo exército, fases de sua carreira como cantor e ator e termina com sua morte estampada nos principais jornais do mundo. É a primeira vez que a viúva do rei, Priscilla Presley concorda em montar uma mostra tão grande fora do país. Muitas ofertas de museus famosos foram recusadas até então. Consiste em uma oportunidade única de desfrutar o mundo de Elvis sem sair do país.

Divulgação

...prepare a pipoca... Para aqueles que perderam a 36ª Mostra Internacional de Cinema, está sendo realizado, em conjunto com o SESC, a Itinerância SESC da Mostra. Dez títulos selecionados do evento deste ano serão exibidos nas unidades do SESC do interior paulista. As cidades contempladas são Araraquara, Campinas, Piracicaba, Santos, Rio Preto, São José dos Campos, São Carlos e Sorocaba. Nada como desfrutar de outros ares em companhia À esq. Cena do Filme Bergman e Magnani <<

Uma dica: Ao entrar na exposição, cadastre seu facebook. Os ambientes estão portados de leitores de códigos de barras. Com o cadastro, você tem a opção de “curtir” a sala passando seu crachá no leitor. Juntamente com a exposição, aconteceu o Elvis Presley in Concert. Músicos que acompanharam a carreira de Elvis realizam um show que sintoniza a orquestra ao vivo com a voz gravada do próprio

de um bom filme. Fazem parte da programação os filmes: Dinotagia, de David Krentz; A Bela que Dorme, de Marco Bellocchio; A Caça, de Thomas Vinterberg; Arcádia, de Olívia Silver; Bergman & Magnani, de Francesco Patierno; Na Neblina, de Sergei Loznitsa; O Fim do Amor, de Mark Webber; O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira; Gente Fina, de Olaf De Fleur; e Liv & Ingmar, de Dheeraj Akolkar >>


Programação Mostra Internacional de cinema por cidade (do dia 20/11 em diante)

27/11 19h -ARCADIA 21h - GENTE FINA

ARARAQUARA

SANTOS 20/11 20h - O GEBO E A SOMBRA SÃO CARLOS 04/11 17h - A BELA QUE DORME 25/11 17h - ARCADIA 19h - GENTE FINA

23/11 20h - DINOTASIA 25/11 20h - O FIM DO AMOR RIO PRETO 21/11 20h - A CAÇA 22/11 20h - NA NEBLINA SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

PIRACICABA

CAMPINAS 23/11 19h - A BELA QUE DORME 21h - A CAÇA 24/11 19h - NA NEBLINA 21h - LIV & INGMAR – UMA HISTÓRIA DE AMOR 25/11 19h - DINOTASIA 21h - O FIM DO AMOR 26/11 19h - ARCADIA 21h - GENTE FINA 27/11 19h - BERGMAN E MAGNANI – A GUERRA DOS VULCÕES 21h - O GEBO E A SOMBRA

20/11 14h - DINOTASIA 16h - O FIM DO AMOR

Confira a premiação em www.hsauhsausahsausahushsau.com.br

23/11 21h - GENTE FINA 24/11 20h - BERGMAN E MAGNANI – A GUERRA DOS VULCÕES 25/11 18h - O GEBO E A SOMBRA 30/11 21h - LIV & INGMAR – UMA HISTÓRIA DE AMOR

...e diversifique No mês de novembro, Gays (e não cabras), lésbicas, bis, trans e simpatizantes receberam 10 dias de evento para chamar de seu na capital paulista. São Paulo recebeu entre os dias 08 e 19 a 20ª edição do festival Mix Brasil de cultura da diversidade. O festival existe desde a década de 90, e hoje ganha proporções e visibilidades muito maiores, “Muita coisa mudou no mundo - e no Festival - do começo dos anos 90 até hoje. A diversidade sexual deixou de ser vista como uma bizarrice para ocupar espaço central nas discussões sobre direitos humanos. No MixBrasil, cunhamos o termo

GLS que possibilitou uma aproximação mais tranqüila dos simpatizantes e abriu espaço para que os direitos LGBT fossem defendidos por todos aqueles sintonizados com os avanços sociais e boas causas”defende a página do evento. Espaços como o Itaú Cultural, o CCBB e diversos Sescs forma tomados por expoições, discussões lieterárias e exibições de peças, filmes e documentários a cerca da temática homossexual. Quem se declaresse homo, bi ou simpatizante, pagava meia entrada. O festival segue agora para o Rio de Janeiro, onde fica até dia primeiro de dezembro. Divulgação

Abaixo: o frânces Notre Paradis, sobre um prostituto em crise de meia-idade, uma das atrações do festival

No Rio de Janeiro: de 22/11 a 02/12. Programação comprleta: www.haushsaushuaHuhu

Textos da sessão

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Daniela Chiba Vítor Moura Imagens Daniela Chiba


carreira

O melhor

caminho

Quatro histórias de pessoas que mudaram suas carreiras depois de algum tempo – não se arrependem e mudariam de novo

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scolher uma carreira não é tarefa fácil. Há vários tipos de opções disponíveis. Há quem saiba o que quer desde que veio ao mundo, e têm sucesso logo na primeira tentativa, sendo sempre muito felizes. Seres raros. A maioria fica indecisa, e pode acertar ou não. E muitos têm que dar marcha a ré e rever a profissão, mesmo quando achavam que aquele era o seu destino. Seja por acaso, seja porque viram que, enfim, a estrada não era exatamente aquela. Comunicação pode ter um lado lógico Quem foi que disse que Exatas e Ciências Sociais não se misturam? Pelo menos na cabeça da professora Maria Cristina Gobbi, de 52 anos, elas são amigas. “Nunca perdi a Matemática de foco. Ela me ensina a lógica, a clareza, o certo e o errado (sem o meio termo), mas é na Comunicação que encontro a dúvida, a neutralidade, a possibilidade de não ter certeza”, afirma. A paulistana se instalou de vez em Bauru, interior paulista, após conseguir uma vaga como docente de graduação na Faculdade de Artes,

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Arquitetura e Comunicação. Maria Cristina concluiu a licenciatura em Matemática em 1986, e trabalhou na área por quase 20 anos, com processamento de dados. “Foi muito antes da microinformática chegar ao país. Foram tempos interessantes, poucos conheciam informática, trabalhávamos muito”, relembra. Quando resolveu buscar outros rumos, a família se surpreendeu. “Diria que pressão eu não sofri, mas ficaram espantados, pois estava largando uma área que me dava uma renda muito boa, por outra mais ligada às minhas ideologias”. Ela veio para a Comunicação porque achou que precisava de uma formação em Ciências Sociais. “A complexidade da área, a não-lógica do processo e o envolvimento da Matemática em todo o processo (pois a origem do processo de comunicação é por meio de um sistema matemático) foram os pontos essenciais para minha escolha”, explica. Ela trabalhou em jornal, revista, deu aulas. E se diz apaixonada pela sala de aula e pela pesquisa. “Aprendo muito em cada aula, em cada encontro de orientação. Adoro o que faço.”, ressalta.


Maria Cristina Gobbi na época da faculdade de Matemática. Hoje, ela dá aulas no curso de Jornalismo >> Disposição para mudar Formado em Engenharia, Marcelo Concário atualmente dá aulas de Língua Inglesa para o curso de Comunicação Social. Mas já fez muita coisa – e não descarta a possibilidade de fazer outras. “Não posso dizer que sempre quis esse curso. Sempre tive facilidade com exatas, meu pai é engenheiro e foi uma opção boa. Acho difícil que um jovem de dezessete ou dezoito anos escolha a carreira com convicção”, opina Antes de terminar a faculdade, fez estágio em departamentos de projetos, engenharia e manutenção. Em 1994, deixou o emprego e foi estagiar em universidades húngaras e alemãs durante sete meses. Ao retornar, trabalhou mais dois anos em uma empresa que fabricava turbinas a vapor para geração de energia. “Desde o primeiro ano da faculdade trabalho como professor de inglês, comecei em escola de idiomas”, conta. Em 1997, deixou o emprego e se tornou sócio de uma escola de línguas. “Fiquei com ela até 2004. Neste ano, no doutorado e com a escola vendida, comecei a trabalhar em uma universidade como professor de Língua Inglesa e coordenador do instituto de línguas local”, relata. Ele afirma nunca ter sofrido nenhum tipo de pressão da família ao mudar o curso da carreira. “Não posso responder se valeu a pena porque mudei, entende? Não tenho como avaliar como seria minha vida se não tivesse mudado”. Ele diz que não se arrepende e que não veria problema algum em mudar de novo. “Gosto hoje do que faço hoje. Costumo dizer que saí da Engenharia, mas ela não saiu de mim. Estou feliz com as escolhas”, complementa. Arquivo Pessoal

Números, linhas e agulhas

Cláudia Repizo tem 44 anos. Aos 21, se formou em Matemática. Sempre gostou da área de Exatas. E começou a dar aulas como substituta. “Durante cinco anos eu dei aula o ano todo. Estava aparecendo bastante substituição, coincidentemente. Mas depois, elas foram diminuindo”, conta. Ela achou que não compensava deixar sua casa e as filhas Isabela e Amanda, na época duas crianças pequenas, para dar poucas aulas. “Às vezes, minha secretária não chegava e eu não tinha com quem deixar as meninas”, lembra. Sempre teve vocação para fazer trabalhos manuais e artísticos. Antes de

terminar a faculdade, fazia decorações para festas. Quando parou de dar aula, sem nunca ter feito um curso de Corte e Costura, começou a fazer uniformes para vender. “Não conseguia ficar parada, aí parti para esse ramo. Para mim é uma terapia”, diz. Atualmente, Cláudia corta e suas ajudantes costuram uniformes para escolas, fábricas e empresas de Tanabi, interior de São Paulo, e região. Cláudia não sofreu nenhum tipo de objeção por parte da família ao deixar as salas de aula. “Valeu muito a pena. Criei minhas filhas perto de mim, ajudando-as desde a base. Trabalhei em casa dando reforço para elas”, afirma.

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“Gosto do que faço hoje. Costumo dizer que saí da Engenharia, mas ela não saiu de mim”


Essa vida daria um show – de humor Em 2002, Zé Neves foi aprovado no vestibular para o curso de Tecnologia da Informática. Após um curso técnico e a possibilidade de continuar trabalhando na área, ele entrou na universidade. Viu, no entanto, que não queria fazer aquilo para o resto da vida. Durante o curso, montou uma empresa de ônibus fretado. “Estava mais envolvido com a linha do que com a faculdade”, diz. Por fim, acabou jubilando. Mesmo com os conselhos da mãe para que ele fizesse uma faculdade, acabou se tornando humorista. “O ônibus era um lugar onde a gente brincava muito. Eu falo que para mim foi até um estágio do humor. Era bem divertido”, conta. Ele afirma que sempre gostou de fazer piadas. Quando trabalhou como bancário, sempre participava dos teatros que aconteciam nas festas de fim de ano da empresa. Zé sempre quis trabalhar em rádio, mas era difícil conseguir uma oportunidade sem nunca ter feito um curso na área. Por fim, conseguiu um programa na Clip FM, rádio da cidade de Indaiatuba, fazendo durante três meses um programa matutino chamado “A Hora da Vaca”. Apresentou o programa durante dois meses. Ele partiu para o stand-up após tentativas frustadas de trabalhar com rádio. Por um tempo, trabalhou com o grupo humorístico Limão e Gelo, com outras quatro pessoas, se apresentando principalmente em barzinhos. “A coisa começou a ficar tão profissional que começou a exigir de mais de todo mundo. Todos os outros integrantes tinham outras carreiras”, relata. Por fim, ele continuou no ramo e largou seu emprego no banco.

“Limão e Gelo ficou junto por cerca de seis meses naquela formação de cinco integrantes. E depois ficamos só eu e Fábio Lima. Estamos nessa formação há mais ou menos quatro anos”, afirma. Hoje a dupla faz shows em barzinhos e eventos, mas também se apresentam individualmente. “Valeu muito a pena ter mudado de área porque hoje eu faço o que gosto. Consegui arrumar um emprego na rádio que sempre quis, tenho um programa de segunda à sexta. Também faço um trabalho ligado à internet para um time de futebol. A gente sempre busca formas de trabalhar com humor. Escrevendo, atuando, participando”, comemora. E aconselha: “não perde tempo na vida, não. Vai buscar fazer aquilo que você ama. Porque quem trabalha com aquilo que gosta realmente não trabalha”. Coragem para mudar No fim das contas, não importa o motivo que inspira a mudança. Insatisfação, dificuldades financeiras, falta de tempo, falta de vocação. O que realmente interessa na hora de fazer uma mudança deve ser aquilo que motivou a escolha inicial. A vontade, a esperança de se encontrar naquilo que se faz. Por pressão da família ou puro medo, muita gente adia o sonho de se encontrar e crescer na carreira. E aí fica estagnado. Em pleno 2012, quando tudo tem que evoluir, isso é até uma contradição. Vale a pena arriscar. Se não der certo, sempre dá para pegar o caminho de volta – ou mudar mais uma vez T Texto Millena Grigoleti

or-acao.blogspot.com

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ivendo em outros países, brasileiros apresentam suas cidades e suas impressões sobre a vida noturna de cada uma delas.

A Noite do

mundo segundo BRASILEIROS

“Até mesmo eu que nunca gostei de balada passei a freqüentar em LONDRES!

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Moeda: 1 Libra + - 3,27. Metrô: 3,00 (unidade) 100,00 (bilhete mensal) Balada: de 32,00 a 64,00. Cerveja: 8,00 a 11,80 . (500ml) Bebida mais popular: Cerveja. (todos os valores da matéria foram convertidos para reais).

“A vida noturna no Porto é muito variada e muito rica!” s festas na segunda maior cidade de Portugal podem não ser tão animadas quanto as do Brasil, mas a variedade de opções noturnas é muito grande. “Os programas culturais são muito ricos: sempre há música ao vivo, um festival de música ou uma festa culturalmente tradicional rolando na cidade. A Casa da Música também tem eventos diários que vão desde a apresentação de orquestras até música solo”, conta Larissa Maine, que por seis meses participou de um programa de intercâmbio na cidade. Moeda: Euro (1 euro +- 2,60 reais) Metrô: de 2,99 a 4,68 (variando de acordo com a zona) Balada: cerca de 13,00. Cerveja: 3,90. (fino) Bebida mais popular: Sangria, Vinho do Porto.

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comportamento

a capital londrina, a maioria dos clubes se encontra na região central, mais precisamente perto da estação King Cross. Os pubs também são uma das marcas do lugar “A variedade de gostos e os valores torna a vida noturna atrativa”, diz Julian Cicone, que morou na cidade por seis meses. Em comparação ao Brasil ele afirma que “aqui as baladas custam uma fortuna, tocam musicas terríveis e as pessoas só interagem por interesses sexuais. Ninguém está interessado pela personalidade de ninguém”.


“Quando estamos sem opção, a pedida é comer e beber em algum lugar bonito de PARIS sem hora pra ir embora!”.

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a noite parisiense as boates perdem espaço para bares e cafés. “Acredito que o forte de Paris não são as baladas. Existem coisas muito mais tradicionais e prazerosas de se fazer. O espírito da cidade está muito mais ligado a passeios ao ar livre, aos lugares turísticos, a caminhadas no rio Sena, piqueniques, parques, etc”, defende Alice Zeitune que atualmente faz intercâmbio na cidade. O transporte funciona bem, e aos finais de semana, a maioria dos lugares fica aberto até as 2h da manhã, hora que o metro fecha. O costume, portanto, é sair um pouco mais cedo e pegar o metrô ainda aberto. Mas fique atento às finanças, Paris é uma das capitais mais caras da Europa. Moeda: Euro Metrô: bilhete unitário 4,94; dez unidades 33,02. Passe ilimitado mensal: de 78,00 a 156,00. Balada: (geralmente a entrada é franca) Cerveja: de 7,80 a 13,00 (250ml) e 13,00 a 18,20 (500ml). Bebida mais popular: Vinho.

“Pode não haver um numero imenso de opções em QUEBEC, mas as baladas são ótimas e as pessoas gostam de se divertir”.

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s pubs são muito famosos na pequena cidade na parte francesa do Canadá. Baladas de pop e rock também são presença garantida. Os turistas devem estar prevenidos ao clima; no inverno as temperaturas podem chegar a -30°C. No outono, a paisagem de folhas amareladas confere um atrativo à parte. A cidade não dispõe de metrô e os horários do transporte noturno são restritos. Renato Carvalho, 23 anos, atualmente faz mestrado no país. Já viveu em Portugal e compara; “Aqui existem muitas opções, porém não é tão “efervescente” como em Lisboa. São vibes diferentes”.

Moeda: Dólar Canadense (1 dólar +- 2,00 reais) Ônibus: Bilhete unitário aprox. 6,00. Passe mensal ilimitado: aprox. 105,00. Metrô: Não possuí. Balada: em média 10,00. Cerveja: 4,00 a 6,00. Bebida mais popular: cerveja.

“Em BUDAPESTE as pessoas são menos pretensiosos e os preços são mais baixos”

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lita Barbosa passou três meses estagiando na Hungria. A escolha pode parecer estranha a primeira vista, mas esse estranhamento se dissolve à primeira vista da capital dessa ex-nação soviética que virou livro da ilustre autoria de Chico Buarque. Além das opções históricas a cidade conta com excelentes bares e danceterias, e preços muito atrativos.

Moeda: Euro. Metrô: 3,00 (unidade) 100,00 (bilhete mensal). Balada: de 0,00 a 10,00. Cerveja: 3,00 a 7,00. (500ml). Bebida mais popular: Palinka e Cerveja. 12


“Manhatan é o melhor lugar do mundo! Tem de tudo!”

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os três meses que passou estudando nos Estados Unidos, Tainá Goulart se apaixonou pela agitação da cidade que nunca dorme, “Nova Iorque não é conhecida por um lazer em especial por que tem de tudo um pouco”. Os inúmeros pubs costumam fechar cedo, mas as baladas seguem até altas horas. “As baladas não são de pista como no Brasil, são sofás formando círculos e tem que reservar antes”, explica. Entrar em um club pode ser um problema; Se vc conhece um agente da balada.. ele te põe de graça, se não, não sai por menos de 50 dólares” Moeda: Dólar (+ - 2,00 reais). Metrô: (24h) 4,50 Balada: 100,00. Cerveja: 4,00 a 6,00 (500ml) Bebida mais popular: Cerveja, Vodca.

“Apesar dos idiotas e viciados, eu gosto muito da vida noturna em NÁPOLES”. iovanna Merolla considera a noite Napolitana uma boa pedida pra quem, como ela, gosta de uma boa cerveja (a um custo baixo) e também uma boa massa. Para isso, indica o centro histórico de Nápoles. A única linha de metrô de Napoles não funciona à noite e a linha noturna de ônibus é ineficiente. Quanto à segurança, Giovanna diz nunca ter passado por apuros; “Me sinto segura na minha cidade, os mafiosos se matam entre eles. Nunca tive problemas, acho que tenho muita sorte”.

“Em MADRI, a festa não para!”

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osana Soares, 24 anos, é originária de Brasília. Quando a mãe foi se aventurar na Espanha, ela a seguiu e não voltou mais. Ela sai todos os finais de semana e o lazer noturno envolve bares e restaurantes; “os madrilenos costumam “ir de tapas”, que consiste em tomar cervejas com petiscos. A tradição é ir a diferentes bares na mesma noite e provar uma “tapa” em cada lugar”. Como vive no centro, não tem problema com transporte, mas diz que os ônibus e metrô funcionam muito bem até mesmo durante a noite.

Moeda: Euro. Metrô: Até o centro; 3,20. Dentro do centro; 2,40. Balada: de 20,00 a 60,00 com um drink incluso. Alguns lugares fazem uma assinatura anual no valor de 20,00 a 30,00. Cerveja: 3,00 (500ml) Bebida mais popular: Cerveja e vinho.

Moeda: Euro. Metrô: (unidade) 3,90 (cartão mensal) 135,20. Balada: entrada normalmente franca até às 3h da manhã. Cerveja: 3,90 a 6,50 (500ml) Bebida mais popular: Sangria.

Uma noite em Amsterdã

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s sentidos alterados, estou leve, meus braços se movem como que por si mesmos. O frio holandês já não é mais um problema. Nas ruas, só o som do vento e das águas dos córregos chama a atenção, o turbilhão das ruas já não importa mais. À frente, a fachada de um coffe-shop, um verdadeiro lugar de família. Aqui drogas não são sinônimo de criminalidade, apenas uma forma de entretenimento, não diferente do álcool ou tabaco. Avanço e avisto uma figura solitária em uma vitrine. Trajando apenas suas roupas de baixo, ela brinca, dança, bate no vidro, me convida a entrar. Mas por trás da mascara de sensualidade, percebo sua tristeza. Tenho pena dela, de sua condição. Mesmo assim, sigo em frente. O ar gélido da noite me chama, e eu, sem hesitar, atendo seu chamado. Texto

Vítor Moura

Imagens

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Arquivo Pessoal


“não posso falar que ela me amadureceu, ou que eu a rejuvenesci”

“No começo foi mais complicado, porque ele era bem mais novo, tive que ter paciência”

Tem diferença? Casais com grande diferença de idade contam quais são as vantagens e os desafios de seus relacionamentos

“E

u trabalhava com ela, num buffet em SP. Ela era minha gerente”. Foi assim que começou a história de Sérgio da Paz, 38 anos. No começo ele achava que não podia ser amor, a diferença era grande, 27 anos. Mas o menino de 21 anos se apaixonou. Histórias como essa se tornam, a cada dia, mais comuns e aceitas na sociedade, mas o preconceito ainda existe. Sérgio acredita que, no seu caso, as pessoas olham mais, se assustam e tem mais curiosidade, pelo fato de ele estar com uma mulher mais velha, e às vezes essa reação não fica só nos olhares. “Por diversas vezes tive que responder a perguntas como, “é sua mãe?”, principalmente no começo quando eu era mais jovem e a diferença de idade mais perceptível”. Com certeza o preconceito

ainda é maior em relação a mulheres mais velhas com parceiros mais novos, mas o contrário também acontece. No começo de seu relacionamento, Sheina Rescalli chegou a sofrer preconceito por parte de alguns familiares, do pai e até sua mãe ficou insegura com a relação. Sheina e o marido se conheceram através do pai dela e de uma amiga dele. “Ele tinha acabado de se separar e eu também, no começo eu não gostava dele, mas com o tempo ele se aproximou, viramos amigos e começamos a namorar escondido”. Hoje, três anos depois, os dois estão casados e se divertem com a diferença de 9 anos de idade entre eles. “É engraçado quando começamos a conversar sobre coisas que fazíamos quando criança, brincadeiras, desenhos, pois alguns eram bem diferentes”. 14


Já Sérgio, que está casado há 17 anos, afirma que quando ele era mais novo outro ponto também era diferente, o sexo. “No começo, ela era bem mais experiente, hoje não mais. Quando eu era novinho eu era mais bobinho, não conseguia expressar coisas que eu queria. Tomei uma aula.” Fora isso, o relacionamento é como qualquer outro. “Não tem diferença. As brincadeiras entre a gente são as mesmas, tudo. Também não posso falar que ela me amadureceu, ou que eu a rejuvenesci”, além disso, Sérgio e Sheina concordam que não passam por nenhuma situação diferente do que casais que não possuem essa diferença de idade. Entre as vantagens de se relacionar com um homem mais velho, Sheina cita o fato de agora ele já ter certeza do que quer. “Ele já aprontou tudo o que tinha que aprontar em relação a ser homem, então agora está na fase do sossego, sabe bem o que realmente quer, com isso conseguimos construir algo firme sem medo”. Já a fotógrafa Fernanda Vecchi, de 37 anos, diz ser exatamente esse o problema de se relacionar com homens mais novos. Ela namora há oito anos com Iodir Ribeiro, que tem 10 anos a menos do que ela. “No começo foi mais complicado, porque ele era bem mais novo, tive que ter paciência. E ainda tem o problema de ele querer novas experiências. O homem já é meio mulherengo, e quanto mais novo mais difícil, porque por mais que o homem goste de você, ele cai em tentação, e sendo mais novo é mais fácil disso acontecer”. Ela conta que por isso já chegou a ser traída pelo namorado, mas que para superar essa situação coube aos dois conversarem e decidirem se valia a pena perdoar. “Eu acho que vale super a pena quando a pessoa é digna de perdão, porque a pessoa também tem que melhorar. Quando há mudança, quando é algo positivo, tem que por na ba-

lança, e bola pra frente”. Para Sérgio o principal desafio foi em relação aos filhos dela. “Ela tem três filhos, todos mais velhos que eu. Quando viemos morar juntos em Maresias teve aquele medo de, ‘o que será que eles vão falar? ’, mas eles sempre me trataram muito bem e todos acharam muito legal, gostavam de mim, tanto que hoje eu sou padrinho dos filhos deles”. Para Sheina, o desafio é com a ex do marido. “Tem que se ter bastante bom senso e responsabilidade, pois sei que ele sempre terá um contato com essa pessoa, por causa da filha que eles têm juntos, então é preciso confiar em quem está ao seu lado e ter muito diálogo”. Fernanda ainda cita um último desafio, a gravidade. “O maior desafio, pra mim, é a força da gravidade. Porque a mulher envelhece, e a gente tem que se cuidar muito mais pra acompanhar o ritmo dele. Eu não tenho mais o mesmo corpo de 10 anos atrás. Eu com 30 tinha um corpo muito bonito, mas com 40 anos é difícil manter. Então estou correndo atrás do prejuízo, faço musculação, vou correr. Porque a mulherada fica pensando ‘ele vai arrumar uma mais nova e me trocar’. Eu já pensei isso, principalmente, quando ele me traiu com uma menina 10 anos mais nova do que ele. Mas se você é uma mulher que se curte, se cuida, essa questão física não influencia tanto”. Acompanhar o ritmo do parceiro pode ser complicado, mas no fim todos afirmam que se relacionar com alguém mais velho ou mais novo não importa, o importante é o diálogo, o companheirismo e o amor entre o casal. Esses continuam sendo os elementos essenciais para um relacionamento duradouro e feliz, como em toda e qualquer relação T Texto

“O que será que eles -vão falar?”

Luciana Arraes

Imagens

Arquivo pessoal


“V

ocê é livre para diminuir a velocidade a qualquer momento”. Raul, meu instrutor de última hora, diz durante a maior descida de todo o trajeto de 15 km. A bicicleta parece ter vida própria e fugir do controle e minhas mãos seguram o guidão com uma força que eu duvidava que tinha. Mas não é aqui que o percurso começa. Tudo começa com Edenilson Veríssimo, conhecido como ‘D’ (40), dono da loja ‘De Bike’, contando como o grupo Night Biker’s foi ‘fundado’ em 1991. ‘D’ foi ciclista por dez temporadas (19881998) e quando teve um problema no joelho, abandonou o esporte, mas não a paixão pela bicicleta. Comprou a loja que trabalhava quando menino e continuou estimulando outros a viverem o hobby. “A bicicleta faz parte de mim. É meu trabalho, meu hobby, meu meio de transporte, minha maneira de conhecer pessoas e fazer amigos”, ele comenta, enquanto separa o material. O olhar de descompromisso e diversão é visível em cada minuto que ‘D’ fala sobre o passatempo. Começa a escurecer e os demais participantes vão se aproximando em bicicletas muito bem preparadas, mochilas minúsculas nas costas, capacetes, garrafas de água. Todos se reúnem à frente da loja de D, e as pessoas ao meu redor se cumprimentam como velhas amigas. Depois de meia hora de espera (são 19:40), os ciclistas chegam de minuto em minuto. Volto para o interior da loja, dando uma boa olhada em cada uma das bicicletas à venda com valores muito além da minha imaginação. Matheus Mecca (17) interrompe minhas indagações sobre o equipamento e diz que para o trajeto não precisamos de bicicletas de primeira linha, como as que a maioria dos frequentadores têm. Matheus é o mais novo da noite (e o mais alto). Ele conta que ajuda na ‘De

Bike’ sempre que pode, já que o escritório da mãe fica do lado da loja. “Eu comecei com 14 anos aqui no Biker’s. Sempre via o movimento da loja e achei que seria legal me juntar ao grupo”, ele completa. “Moça, você está intimidando os rapazes”. Reginaldo Rodship (59) me diz, interrompendo as fotos e uma entrevista com um dos participantes. Rodship brinca, falando que devo me preocupar menos e viver a experiência. Com seus cabelos grisalhos e um físico invejável, o técnico de informática freelancer conta que gosta mesmo é de fazer viagens de bicicleta. “Já fiz trajetos internacionais pelo Chile e Peru, passeios de uma cidade para outra aqui no Brasil mesmo. É incrível e te anima a participar de mais trilhas”. Conversando com os outros participantes, todos falam das melhorias na saúde – apesar de fumarem e beberem, como venho a descobrir depois da trilha, numa mesa de bar – mas o principal é a diversão e as amizades feitas. “O mais importante para o grupo é a questão de estarmos juntos e sermos amigos. Eu sei de casamentos entre o pessoal, amizades de mais de 20 anos até as crianças parecem mais próximas dos pais”, ‘D’ conta enquanto entrega uma bicicleta aos meus cuidados. Admito para Monique Veríssimo, esposa de ‘D’, que estou com um pouco de receio do passeio, mais pelo medo de cair do que pela extensão do trajeto. Ela comenta que acidentes acontecem, mas o grupo é sempre muito atencioso se algo assim ocorrer. “Já aconteceu de gente se machucar e quebrar pernas ou braços, romper um ligamento, mas nada além disso”, Monique me conta, ensinando o básico sobre marchas e freios. O passeio não segue rotas fixas. Vai da vontade de nosso condutor. Quando ele se sente à vontade para um passeio mais difícil, com subidas e descidas, esse tra16

jeto. Durante dias estressantes, a trilha tem mais descidas e áreas planas. Tenho a sorte de pegar um dia sem muitas subidas, mas que não deixa de ser intenso. As ruas que parecem planas, exigem um esforço que faz você admirar os participantes. Raul Vieira (45) passa a ser meu instrutor por conta própria. “Todo mundo precisa de ajuda no primeiro dia. Eu vou ser essa ajuda”, ele fala num tom inconfundível de quem poderia ser um professor. Coloca a mão em minhas costas, me empurrando até que eu consiga uma velocidade aceitável para acompanhar o restante do grupo. O problema não é exatamente pedalar, mas sentir os músculos, aos poucos, desistindo do esforço e o calor tomando conta. Água nunca é um problema no grupo. Tampouco as palavras de apoio. Em mais de um trecho, outros participantes me passam, fazendo brincadeira ou pedindo para que eu acelere, num tom de humor único. Costela, um dos funcionários da ‘De Bike’, passa sentando no guidão da bicicleta e falando que sou ‘muito mole para continuar a trilha’. É triste, mas concordo com as palavras. Cogito desistir quando vejo um relance de minha casa, mas faltam só três quilômetros. Raul me empurra até passar à frente do grupo e chegar ao bar que é a parada final. Preciso me sentar. Respirar. Minhas pernas não podem mais segurar meu peso. Uma rodada de cerveja ameniza o calor. Falo por cinco minutos com o grupo, agradecendo o apoio e as piadas. Sou convidada a voltar. Mas não sei se minhas pernas podem repetir a experiência tão rapidamente. Texto

Márcia Matsumoto Imagem Julia Germano Travieso


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Origens e InfLuências

CORPO AO EXTREMO Da dor ao prazer, eis o body-mod

A

plicar chifres de silicone na testa, cortar o lóbulo da orelha e alargá-lo até que ele sirva de porta-latinha, dividir a língua ao meio, voar suspenso por ganchos de aço na pele, implantar esferas no pênis, dilatar mamilos, operar o lábio e as maçãs do rosto para ganhar feições felinas. Esses são só alguns exemplos do que uns definem como movimento, outros como um desvio: body modification, ou bod-mod para os íntimos. Gustavo Agier, professor de Antropologia do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que o termo refere-se a uma lista extensa de práticas realizadas de forma consciente e voluntária que alteram a forma, a fisionomia ou o funcionamento do corpo, a maior parte delas, irreversíveis e dolorosas. “A onda de modificação corporal veio da Europa e dos EUA e é praticada por quem já não se contenta em pintar a pele e aplicar piercings nos lugares tradicionais”, esclarece. Os motivos que levam pessoas a transformar sua aparência são bastante diversificados e nem por isso possuem vidas e rotinas completamente diferentes das suas. Mas o que a modificação do corpo revela sobre a sociedade em que vivemos? São os novos padrões de beleza? Ou o contentamento de quebrar mais um tabu?

Agieir conta que as origens da modificação corporal nasceram em conjunto com as Grandes Navegações, quando os europeus passam a ter contato com tatuagens da Oceania, escarificações da África, enfeites perfurantes e rituais de suspensão da Ásia e da América. “Tudo isso chegou à vela na Europa, mas até então meados do século 20 eram coisa de prostituta, marinheiros e outros frequentadores das zonas portuárias”, frisa. Nos anos 1960 houve maior aceitação das tatuagens devido à maior valorização da cultura oriental e também ao surgimento da onda “bicho grilo”. “A sociedade alternativa, os hippies e demais movimentos da época foram responsáveis pela difusão de valores que antes eram renegados e mal vistos pela sociedade”, endossa Agier. No final dos anos 1970, os punks ingleses e os denominados gurus californianos introduziram as técnicas de perfurações. Dez anos mais tarde, os yuppies, os jovens que conseguiram determinada ascensão econômica na década de 1980, decretaram tudo um nojo e só no início dos anos 1990 que o movimento começou a ganhar corpo novamente. Mas, segundo o professor de Antropologia, havia algo maior do que um renascimento da tatuagem e dos piercings estava acontecendo. “A body art não é um fenômeno atual por mais estranha que soe aos olhos da grande maioria das pessoas, é sim a modernização de técnicas milenarmente utilizadas por diversas culturas, como a chinesa e a das tribos maoris, por exemplo, e que pela modernização dos procedimentos médicos e biotécnicos asseguram e possibilitam ampliar a prática de técnicas de intervenção corporal”, escreveu a escritora Beatriz Ferreira Pires no livro “O corpo como suporte da arte”. Segundo ela, na época de expansão dessa cultura, coincidiram a explosão de estilos e performances, a ascensão de estúdios especializados e o surgimento de revistas, websites, exposições e livros celebrando e debatendo essas práticas. Tudo isso, segundo Beatriz, resultou no surgimento de um movimento, a body modification. 18



As tendências Dentro do movimento, Beatriz destaca três tendências principais: gays e lésbicas, que usam suas modificações para sublinhar sua opção sexual; “modernos primitivos”, que desejam alcançar transcendência espiritual por meio de provações físicas; e “ciberpunks”, que buscam romper fronteiras tecnológicas usando o próprio corpo. Fora desses três grupos, sobra a motivação de melhoria da aparência bem maior que o medo de encarar agulhas, ferros quentes e tesouras. Eis Thiago Costa Barros. Técnico em enfermagem e estudante de veterinária. Até aí um rapaz discreto de 22 anos. Isso se não fossem os dois cornos na testa, os vários implantes no braço que dão relevo as suas tatuagens e língua foi bifurcada. “Queria um semblante mais maléfico, sempre fui ligado a coisas mórbidas. Não é só pela estética. Eu me sinto melhor, me completa”, esclarece o jovem. Thiago não pensa em parar e já pensa em colocar cinco esferas metálicas no seu pênis e extirpar os mamilos. “ Dizem que aumenta o prazer da mulher em 40%. Minha namorada vai gostar”, acrescenta. Como Thiago, Nelson Pereira também adora esculpir o corpo e trabalha como piercer. Pereira está dilatando seu mamilo, juntamente com seis esferas que colocou na genitália. Ele planeja ainda perfurar o saco escrotal e a concha do ouvido. “Tenho medo da dor. Só ela me impede de fazê-lo”, confessa o rapaz de 28 anos. “Eu queria ficar diferente. E uma coisa leva a outra. Hoje é uma necessidade”, explica Pereira a razão de sua metamorfose. Para completar, ele também é praticante da suspensão. Nessa atividade, um sistema com gancho de aço cirúrgico e cordas ergue a pessoa a partir de perfurações na pele das costas. “É melhor do qualquer droga. Bate uma endorfina que você só sente dor quando volta para o chão”, relata.

slodive.com


CARA DO FUTURO Línguas bipartidas são sexy, escarificações dão inveja e implantes bem-feitos despertam admiração. Isso é o que prega o site canadense “Body Modification Ezine”. Esse é um webespaço onde os modificados de todo o mundo podem trocar experiências e imagens. Os participantes contam a história de cada alteração e os planos para investidas futuras. A cirurgiã plástica Priscilla Davanzo explica que há uma diferença fundamental entre quem encara uma cirurgia para conseguir o corpo perfeito e os integrantes do movimento bod-mod. No primeiro grupo, estão pessoas dispostas a se inserir nos padrões impostos pela sociedade. No segundo, pessoas dispostas a desafiá-los. “É essa diferença que faz emergir diversas críticas aos adeptos da body modification”, reforça. Para muitos psicólogos, as práticas dolorosas e pouco convencionais são formas de agressão física, de automutilação, que refletem uma insatisfação da pessoa com ela mesma. “O que fazemos na superfície quase sempre tem uma relação profunda com o que está por dentro”, revela professor de psicologia da Unesp, Sandro Caramaschi. Mas aonde isso tudo vai parar? Será que as body modifications serão um dia tão normais quanto tatuagens e piercings?

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1. Bifurcação de língua

Procedimento cirúrgico que divide parte da língua em duas metades, dando a aparência de uma língua de lagarto ou cobra.

2. Piercing

Junto com as tatuagens, são os mais populares, mas há tipos menos convencionais como os de clitóris, no pênis, nas pálpebras e até mesmo de hímen.

3. Implante

Inserção de objetos de variáveis materiais e formatos diretamente na pele, criando a sensação de relevo.

4. EscarifIcação

É a fabricação de cicatrizes com intenções espirituais ou estéticas. Literalmente, é uma tatuagem de cicatriz, daí a derivação de scar, em inglês.

Texto e Imagem Giovani Vieira

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Traรงos do tempo A vida na melhor idade

ensaio

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Fotos

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Mariana DurĂŠ


cultura

A Nova Cara dos Quadrinhos no

Brasil

Uma nova geração de autores mostra a evolução e as características do mercado nacional


N

Danilo Beyruthe

os últimos anos, os quadrinhos nacionais têm experimentado um aumento crescente em quantidade de publicações, qualidade e também popularidade. O antigo e obsoleto pensamento de que os quadrinhos são coisas apenas para criança está caindo por terra. Novas obras e novos quadrinistas estão abrindo espaço para uma nova visão. Entre esses nomes emergentes na chamada nona arte está Danilo Beyruth, que recentemente lançou o elogiado Astronauta – Magnetar. A graphic novel faz parte do projeto Graphic MSP, que tem o objetivo de trazer novos quadrinistas para reinventar personagens clássicos de Maurício de Souza. Mas se engana quem pensa que Astronauta – Magnetar se trata de uma obra voltada para o público infantil, Danilo aborda a ficção científica e dramas como a solidão do protagonista para atrair um público adulto. O autor já era conhecido por outros trabalhos, como Necronauta e Bando de Dois. Esse último obteve financiamento do ProAC – Programa de Ação Cultural, da Secretaria da Cultura de São Paulo. A obra possui influência do western spaghetti e conta a história de dois cangaceiros, os últimos sobreviventes de seu grupo. Bando de Dois

Danilo Beyruthe

recebeu boas críticas e venceu em três categorias do Troféu HQ Mix, como melhor desenhista nacional, melhor roteirista nacional e melhor edição especial nacional, além de um prêmio Ângelo Agostini como melhor lançamento de 2010. Danilo acha que o distanciamento do leitor brasileiro com quadrinhos não se trata de preconceito: “acho que tem muita gente que não lê quadrinhos por pura falta de costume. Essa coisa de preconceito está acabando”. Outro quadrinista que está emergindo nesse contexto efervescente do quadrinho atual é Vitor Cafaggi. Para ele a visão sobre os quadrinhos nacionais está cada vez mais positiva: “o público está começando a entender que quadrinhos não são só super-heróis, mangás e Turma da Mônica. Tem muita coisa alem disso. Basta o leitor procurar, que ele vai encontrar um quadrinho que ‘foi feito pra ele’”. Segundo o jornalista, professor e pesquisador da área, Paulo Ramos, o crescimento da nona arte no Brasil começou a ser mais bem percebido a partir de 2006. Ele elenca alguns dos fatores responsáveis: “podem ser citados o fato de os quadrinhos serem publicados em livro, o maior interesse das editoras pelo segmento e a iniciativa dos autores nacionais em produzir as próprias obras”.

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Um exemplo dessa iniciativa de autores nacionais é o blog mantido por Vitor Cafaggi, o punyparker.blogspot. com. Nele o autor, publica suas tiras do personagem Valente, um cãozinho com problemas amorosos, e do Puny Parker, a versão “mini” do Homem-Aranha, Peter Parker. “Quando eu comecei a fazer as tiras semanais do Puny meu objetivo principal era me condicionar a desenhar sempre. Comecei colocando as tirinhas no meu álbum de fotos do Orkut e avisei aos amigos que ia fazer uma tirinha nova toda semana. Meus amigos mostravam as tirinhas para os amigos deles e, com o tempo, mais gente foi conhecendo o personagem. Muita gente me pedia pra fazer as tirinhas em português e, por isso, criei o blog”, comenta Vitor. Ele também comenta o benefício da proximidade que o blog trouxe com seus fãs: “adoro essa proximidade que a internet traz. Adoro o retorno que as pessoas me dão. Tem sempre uma pessoa nova que acabou de conhecer as tirinhas e me manda e-mail ou comenta com os elogios mais legais que eu poderia receber. Sinceramente nunca imaginei que teria esse tipo de retorno fazendo tirinhas”. Valente já tem dois volumes publicados de forma independente e, além de manter o blog, Vitor publica semanalmente suas tiras no jornal O Globo.


Paulo Ramos também ressalta como fator a inclusão de histórias em quadrinhos na lista do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), do governo federal. Esse programa promove a distribuição de obras de literatura, de pesquisa e de referência nas escolas de todo o país. Essa iniciativa tem sido uma porta de entrada para muitas obras de quadrinhos na sala de aula, mas em especial para adaptações literárias feitas em quadrinhos. “Os responsáveis pela seleção das obras, bem como o edital, tendem a preferir tais publicações”, completa o jornalista. Como já citado por Paulo, o interesse das editoras tem crescido. Danilo Beyruth concorda e afirma: “hoje em dia todas as grandes editoras tem um

selo de quadrinhos, a maioria publica material nacional e as livrarias já tem espaço reservado. As oportunidades estão se multiplicando”. Vitor complementa e ainda ressalta o papel do meio independente: “o mercado editorial está bem mais atento aos quadrinhos, está procurando por bons profissionais. O quadrinho independente é ótimo pra quem quer se lançar no mercado de quadrinhos. E uma coisa não exclui a outra. Se o quadrinho independente de um determinado autor for bem sucedido, a chance é enorme de que esse autor seja procurado por editoras”. Seja publicando por uma editora ou de forma independente, seja uma obra infantil ou voltada para adultos, o Bra-

sil têm mostrado que a produção nacional de quadrinhos está se pluralizando. “O quadrinho no Brasil é uma mistura muito grande. Muitas influências, muitos estilos diferentes. Muito trabalho autoral, para todos os gostos”, afirma Vitor Cafaggi. Danilo Beyruth reforça: “acho que não tem uma só cara, acho que não dá pra limitar a uma só vertente. Tem muito humor sendo produzido, muito infantil também. Mas acho que aos poucos alguns autores têm se estabelecido. E talvez, por conta do quadrinho no Brasil ser tão rico em referências, desde os álbuns europeus, os comics americanos e o mangá japonês, a gente tenha, como sempre acontece aqui, uma mistura geral” T

MONSTROS! Assim como o Astronauta de Danilo Beyruth, Monstros!, de Gustavo Duarte, tem recebido elogios de leitores e crítica. O quadrinista é ganhador do prêmio HQ Mix, o mais importante da área com suas obras anteriores, Có, Taxi e Birds. Apesar de monstros gigantes preferirem cidades como Tóquio ou mesmo Nova Iorque, é em Santos que a história se passa. Com essas três criaturas destruindo a cidade, o simpático Pinô, um velhinho dono de bar, decide por um fim no caos que assola a cidade. Gustavo saiu do meio independente para uma grande editora, a Quadrinhos na Cia., selo da

Companhia das Letras. “Para ser sincero o processo é parecido. A diferença ficou por conta da parte gráfica, o livro foi extremamente bem impresso e está presente em todas as livrarias. É possível chegar a vários lugares”, conta. Além de estar presente em todo o país, Monstros! também viajou internacionalmente. Gustavo levou o livro para um lançamento na NY ComicCon. “Desde o primeiro trabalho minha ideia não é só publicar no Brasil. Lancei a Có e Birds na San Diego ComicCon, lancei Taxi e agora Monstros! na Nova Iorque ComicCon. Vou pra mostrar meu trabalho, pra que ele ande mais e conheça outros lugares.” Texto

Monique Nascimento

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Chá de cultura, mar de livros

A visão de oquem passou pela 58 Feira do Livro de Porto Alegre, a maior feira aberta das Américas

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C

omeçou tímida e sob protestos de muita gente que pensava ser decadente vender livros como carne de açougue. O ano era 1955. A ideia veio do jornalista Say Marques, que foi a uma feira na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Impressionado, Marques levou aos pampas o desejo de se fazer algo naquele estilo. A proposta agradou aos livreiros, que procuravam uma forma de ampliar o mercado literário. Nascia então a Feira do Livro de Porto Alegre. Inicialmente era catorze bancas, um espaço aberto e um slogan: “Se o povo não vem à livraria, vamos levar a livraria ao povo.” No dia 16 de novembro, deu-se início ao que viria a ser o maior evento do gênero nas Américas, mas não caiu no gosto popular. “As pessoas rejeitaram a ideia de vender livro a céu aberto, numa feira. Era algo totalmente novo tirar a cultura dos espaços elitizados e levar para o centro da cidade”, comenta o vice-presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro e membro da organização da Feira, Isatir Antonio Bottin Filho. Insistir foi a chave do sucesso. A resistência ao evento caía ano a ano. A segunda edição da Feira trouxe 49 bancas e a sessão de autógrafos, que chamou a atenção do público. “Grandes autores como Érico Veríssimo passaram pela Praça

durante a Feira”, conta. A Sessão de autógrafos se tornou uma tradição e hoje somam-se mais de 800 sessões, reunindo desde autores regionais até autores internacionais. Neste ano, por exemplo, Juan José Benítez lotou a praça dos autógrafos, onde uma fila gigantesca esperava pela oportunidade de ter um dos volumes de “Cavalo de Tróia” autografado. Mas não só o espanhol fez sucesso. Luiz Coronel, patrono da feira, também “moveu multi-

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dões” e gastou muita caneta. Outros autores, como Eliane Brum, Martha Medeiros, Luis Fernando Veríssimo também passaram pela edição de 2012 da Feira. E as novidades não pararam por aí. A partir da década de 1990, o Cais do Porto passou a ser um dos palcos da Feira, hospedando a ala infantil. “Depois dessas novas instalações, a Feira deu um salto de quantidade e qualidade”, ressalta o vice -presidente. Hoje em dia, a ala se destaca como um dos setores que mais lucram com o evento. Outra novidade aconteceu em 1980, quando os sebos passaram a integrar a Feira. Nessa época, apareceram também os primeiros estandes de países vizinhos formando a Área Internacional. O governo fez sua parte e, lá nos anos de 1990, as leis de incentivo à cultura trouxeram verbas para auxiliar o evento. “As leis incorporaram à Feira programações culturais e artísticas, como cinema, exposições, música e teatro, enriquecendo-a”, diz. E a tornaram gigante. Hoje, sem contar os espaços utilizados durante o evento – Memorial do Rio Grande do Sul, Santander Cultural e Casa de Cultura Mário Quintana – a Feira ocupa 19 mil m²,dos quais 11,5 mil m² são cobertos – 8 mil m² com cobertura de lona e 3,5 mil m² referente às áreas do Cais do Porto, que já possuem cobertura. Algo que resume a Feira: céu aberto.


Claro que nem todos os eventos são assim, mas a intenção é exatamente essa: tirar dos grandes espaços a cultura e coloca-la num local público. “É totalmente gratuita e democrática. Qualquer pessoa pode participar e o convite vai para todos. Aqui todas as pessoas são iguais: cidadãos em busca de conhecimento e cultura. Esse é o grande diferencial de nosso evento em relação a outros, que já barram muitas pessoas cobrando entrada”, pontua Isatir. Mais que patrono, um padrinho Uma diferença notável da Feira de Livro de Porto Alegre é a presença de um homenageado, que recebe o título de Patrono. “Até o ano de 1984, eles eram póstumos. Então a Câmara Rio-Grandense do Livro pensou: porquê não homenagearmos nossos escritores vivos? E desde então, o título de patrono passa pelas diversas personalidades da literatura gaúcha”, conta Isatir. Neste ano, o Patrono é Luiz Coronel, homem apaixonado pela literatura. Publicitário, escritor, poeta, compositor e amante das letras, Luiz Coronel é uma personalidade carinhosa, presente e contagiante. Já publicou mais de 52 livros e ainda sabe de cabeça seu primeiro poema, que trata das pernas de uma professora. Sempre poético, parece dedilhar a vida com leveza e humor. Pelo “posto” de patrono já passaram Caio. F. Abreu, Erico Veríssimo, Mario Quintana, Monteiro Lobato, Moacyr Scliar, Lya Luft, Luis Fernando Veríssimo entre outros grandes talentos. Leitores, sempre leitores Dia após dia, uma chuva de leitores atravessa a Praça da Alfândega. Alguns apressados, correm para seus expositores favoritos, compram seus livros e se perdem em meio à multidão. Outros, totalmente entregues, vasculham cada estande, cada livro, em busca de novas preciosidades para suas coleções. Alguns vão mais adiante e se lançam às programações culturais, e numa ação de tietagem, (re)descobrem leituras e autores. O aposentado

Jorge Kruel joga no time dos que se maravilham e se perdem no meio de tanta opção. “Confesso que fiquei vários anos sem vir à feira. Vim nas primeiras edições, 40 ou 50 anos atrás e depois parei não sei por quê. Agora estou aqui me perguntando: quando aquela velha feira se transformou nisso tudo? Não há espaço para nostalgia, tudo é tão novo e diferente. É lindo e encantador”, diz. Mas nem só de autores formados vive a feira. Renan de Souza, de nove anos, está no espaço pela primeira vez. Leitor desde os seis, veio em busca de novas leituras.“Comecei a ler na primeira ou segunda série. Sempre leio livros religiosos e é o que estou procurando , junto com a minha mãe”, conta o pequenino. Para a estudante do terceiro ano Anelize Rosa da Silva, a feira é um espaço tranqüilo, mas que devido suas proporções, dá aos porto alegrenses certa responsabilidade. “Um espaço tão multicultural, localizado no centro da cidade implica quase que uma obrigação a nós, moradores da cidade. Todo mundo passa aqui por perto, então, porque não aproveitar? Eu, por exemplo, escapo para cá nos intervalos da escola, que é aqui perto”, confessa. É gente de outras cidades e estados, gente que veio curtir a programação, gente que veio buscar livros específicos. É criança chorando porque quer tal livro. É adulto rodando os estandes em busca do melhor preço. É leitor enfrentando fila para conseguir autógrafo. Um mar de gente, um mar de livros. “Viemos aqui para tomar um chá de cultura”, brinca o agricultor forasteiro Luis Stalte, que viajou 320 quilômetros para passar um fim de semana visitando a feira. Porque o espaço é aberto, não se sabe com exatidão quantas pessoas passam pelos 17 dias de feira. No ano passado, de acordo com a brigada militar, o número chegou a um milhão e setecentas mil pessoas, que levaram para casa 460 mil livros, um número recorde de vendas. Para o vice-presidente da feira, o número de pessoas deve aumentar em 2012: “A economia está melhor, as pessoas estão podendo comprar mais e todo ano a feira cresce um pouco mais e atrai mais gente”. 31


Programação: para todos os gostos e tamanhos

A mulher que não Por que a Feira se difere das Bienais do precisava dos homens... eixo Rio-SP? “Diferentemente das Bie-

As vendas variam de setor para setor, de dia para dia. No geral, as vendas alcançaram as expectativas. Luciana Rosa, vendedora de um estande de literatura infantil pondera: “o movimento estava um pouco fraco. Vendíamos cerca de 50 livros ao dia. No dia de Finados, as vendas alavancaram. Está tudo uma loucura”. Maria Ferreira é representante do estande da Universidade de Santa Cruz do Sul. Ela conta que a universidade possui muita diversidade literária, mas a grande procura é por cultura alemã: “A região de Santa Cruz tem uma descendência alemã muito forte. Os livros mais procurados aqui são sobre a língua e os costumes alemãos”.

Edson Luis trabalha numa expositora infantil, que supera toda e qualquer expectativa. “Tá uma loucura aqui. Vendemos uma média de mais de 1000 livros por dia e os que mais saem são os de meninas. Livros castelo, livros de contos, Disney: elas comandam”. Visitando os estandes, a “disputa” pelas vendas é acirrada. Alguns se sobressaem, como o estande de Edson, outros tem lucros tímidos. O certo é: há lugar para todos. E há dias em que a sensação é de muita gente para pouco livro. Parece que o mar de gente vai levar cada livro que está nas prateleiras e nos balcões para casa, sonho de todo vendedor.

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nais que fazem um evento de cunho mais mercadológico, a Feira do Livro prioriza a programação cultural. Lá não tem palestras, oficinas, bate-papos, exibição de filmes ou mostras. É mais um evento que visa atrair novos lojistas e editoras ou atualizar os já existentes. Aqui, nossa proposta é fazer um evento voltado para a cultura”, fala Isatir orgulhosamente. Há programação para todos. Funciona assim: cada um dos 17 dias tem um tema central, em que diversas atividades convergem. Mas, outros temas são abordados, gerando diversidade e inclusão. Além das sessões de autógrafos e da Feira propriamente dita – que por si só já é um show que inclui estátuas vivas, promoções e pasme, cover do Chaves passeando pela feira com seu brinquedo de latinha. Tem contação de história; poesia. Tradutor de idiomas, de libras. Tem até pedido de casamento inusitado durante palestra sobre amor – dois “namoridos” resolveram sair do contrato falado e oficializar a relação num cartório durante a palestra! Tudo num só palco: a boa e velha Feira de Livro de Porto Alegre T Texto e Imagens Paula Monezzi


Sobre o muro...

5 opiniões sobre 5o tons de cinza

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ocê com certeza já ouviu falar do livro Cinquenta Tons de Cinza, seja muito bem ou muito mal. O romance que parece dividir opiniões vendeu, em menos de dois meses, cerca de 300 mil cópias no Brasil e 40 milhões no mundo. A obra conta a história de Anastásia Steele, uma jovem de 22 anos desajeitada e virgem que se apaixona pelo milionário Christian Grey, misterioso, lindo, sedutor e excêntrico. Conforme a história se desenrola, ele propõe um contrato que revela sua tendência sadomasoquista a Anastásia. A questão é: quais fatores tornaram o livro Cinquenta Tons de Cinza um Best-seller internacional? A revista Tabu entrevistou cinco leitores para tentar desvendar o repentino sucesso do romance. A técnica administrativa educacional Gheysa Corbari achou o livro maravilhoso e diz ter ficado descabelada com a história de amor por trás do erotismo. Em sua opinião, a razão do sucesso é a “necessidade feminina de um homem que a acolha, a proteja, que lhe dê amor e faça tudo por ela e, é claro, satisfaça seus desejos sexuais (mesmo que insanos)”. Vanessa Vital, corretora de imóveis, concorda com a qualidade do livro e também se encantou com o romance, mas destaca seu lado erótico. Segundo ela, o Best-seller é como um conto de fadas regado de sexo, e a incitou a buscar outras obras embasadas no erotismo. A aluna de jornalismo de Cuiabá, Nickolly Vilela, tinha receio de ler Cinquenta Tons de Cinza por conta do sadomasoquismo, mas se rendeu às matérias publicadas a respeito e adorou. Para ela, 33

a imensa vendagem do livro se deve ao suspense que rodeia a vida de Grey e seus dramas psicológicos, prendendo o leitor do começo ao fim. Já Lucas Gouvêa, que achou a história fraca e cheia de clichês de apelo comercial, encara o sucesso do livro de outra maneira: “A autora acertou a geração que leu crepúsculo e agora está com vinte e poucos anos, no começo da vida sexual. A prova é que ela criou uma história erótica na fanfic do Crepúsculo com os protagonistas vampiros antes de escrever o romance sadomasoquista, como um teste de aceitação do público”. Ainda assim, a autora E. L. James vem conquistando leitoras apaixonadas, como Vanessa: “Ao terminar de ler me senti mal, pois não conviveria mais com meu querido Grey. Aos poucos fui transpassando o portal do erotismo e lendo outros livros no mesmo estilo, mas não consegui me desvencilhar do espírito da Ana (Anastásia). Ou ainda Nickolly, que afirma fazer qualquer coisa para ter um dia de Ana com Christian Grey. Opinião da repórter Embora a linguagem seja leve e a leitura flua rápido, o livro é o romance é bem fraco e também deixa a desejar nas partes sexuais. Para mim, o sucesso se explica pela abordagem de um tema até então pouco explorado: o sadomasoquismo. Quando as pessoas veem a oportunidade de ler sobre isso e percebem que todos estam lendo, a vendagem explodie e toma proporções astronômicas. Além disso, é um livro visivelmente direcionado para o público feminino. É como se as mulheres mais velhas se sentissem bem resolvidas ao mostrarem que leem livros eróticos e as mais novas expusessem a liberdade sexual de hoje em dia ao exibirem a obra no metrô. Texto

Mariana Duré

Imagem

Vítor Moura


sexualidade

sexo não é sinônimo de

felicidade

Assexuais buscam visibilidade e legitimação da orientação sexual

A

assexualidade não é celibato e nem doença, é uma orientação sexual. Por ser um termo ainda pouco conhecido, sua menção causa equívoco e curiosidade. Os assexuais são pessoas que não sentem atração ou desejo sexual por nenhum gênero e são comumente confundidos com aqueles que optam por não ter uma vida sexual ativa, que possuem alguma disfunção hormonal ou sofreram algum tipo de trauma. Mas o que a maioria desconhece, é que 1% da população mundial se define como assexual, segundo estudo realizado na Universidade de Brock, no Canadá, o que representa hoje mais ou menos 70 milhões de pessoas. A maior comunidade do movimento assexual no mundo é a AVEN (The Asexual Visibility and Education Network), criada nos Estados Unidos em 2001 pelo ativista David Jay. Ela funciona através de um site, que possui aproximadamente 40 mil cadastrados e já está disponível em treze idiomas. O principal objetivo da comunidade é tornar a assexualidade visível para a sociedade. A conexão entre os participantes é feita, principalmente, através de fóruns que permitem levantar discussões entre assexuais, seus amigos e familiares. No Brasil, as informações sobre o assunto ainda são muito escassas. O estudante e empresário, Júlio Neto, 21 anos, se identifica como assexual desde 2009 e criou o site Comunidade Assexual (A2), pois não havia um espaço que apresentasse conteúdos em português. A demanda no site foi crescendo, mas ele diz que a adesão é baixa. “É interessante notar que os espaços virtuais são espaços de comunicação. Ou seja, não há uma “sociedade assexual”, mas apenas pessoas que chegam e conversam”, explica Júlio. 34


anemoneprojectors

Grupo de assexuais e simpatizantes marca presença na London Gay Pride 2010 <<

O estudante conta que as pessoas tem dificuldade em compreender a assexualidade e perguntam sobre coisas “práticas”, como ter uma ereção ou já ter tido relações sexuais. “Minha experiência com o sexo é muito superficial para extrair disso qualquer concepção concreta. Nessas tentativas eu busquei o que seria o “normal” de uma relação sexual, por um lado prazer e, por outro, sentimentos. Mas não consegui nenhuma das duas coisas, apenas fragmentos sem forma”. Júlio fala que os assexuais são pessoas comuns, mas são criados estereótipos que não correspondem com a realidade. A pedagoga e doutoranda em sociologia, Elisabete Oliveira, foi a primeira pesquisadora a tratar da assexualidade como orientação sexual no país. Sua pesquisa, iniciada em 2010 e com previsão de término para 2014, tem como perspectiva a educação e a diversidade sexual, além da tentativa de dar maior visibilidade ao tema no âmbito acadêmico. “Os primeiros estudos sobre assexualidade são de 2004

na área da psicologia. Pelo mundo, devem ter mais ou menos 30 artigos, o que é muito pouco. Não existe uma produção científica vasta. E somente esse anofoi publicado o primeiro livro sobre o assunto, o Understanding Asexuality, no Canadá”, observa Elisabete. O foco da pesquisadora é conhecer a trajetória, o histórico e o processo de autoidentificação dos assexuais, com base nas experiências dos brasileiros. O método utilizado na pesquisa é o de entrevistas e, no momento, ela conta com 25 colaboradores: “Até agora eu tenho percebido muitas semelhanças entre as experiências dos assexuais com outras orientações sexuais como homossexuais e bissexuais. Em geral a pessoa assexual assim como, por exemplo, a homossexual em algum momento na adolescência, ou até mesmo antes disso, percebe que tem interesses diferentes das outras pessoas”. Mas, ainda assim, há uma diferença fundamental. A assexualidade ainda é desconhecida e não possui legitimação 35

social. “Existe um movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) há mais de 40 anos no Brasil. É um movimento que vem caminhando historicamente na construção de direitos e principalmente de visibilidade homossexual. Então, um jovem que chega a seus 13, 14 anos e percebe que é homossexual tem referências. Mas no caso do assexual não. Como ninguém sabe, ninguém fala, ninguém conhece, só agora eles começaram a se juntar em movimentos para tentar descobrir o que eles tem em comum”, compara Elisabete. O estudante Leonardo Figueiredo, 22 anos, mantém um relacionamento com vida sexual ativa há mais de um ano. Mas, aos 17 anos, ele contou a uma amiga e a alguns colegas da universidade que era assexual: “[As pessoas] perguntavam exatamente o que queria dizer e eu explicava que não sentia atração nem por homens e nem por mulheres. Elas aceitavam, já que eu não mantinha relações com ninguém de fato”, Pouco tempo depois, Leonardo


Jels Photography

teve sua primeira interação sexual com um homem e passou a se reconhecer como homossexual. “Não atribuo minha sexualidade a nenhum fator específico, muito menos conscientemente adquirido, pois para mim não se tratou de uma escolha, ao contrário, esta é uma das poucas certezas que eu tenho”. A principal ressalva da pesquisadora é que ninguém escolhe a orientação sexual e ela não deve ser comparada às patologias. “Uma pessoa com distúrbio sexual sente desejo a vida toda e de repente acontece algum problema de ordem fisiológica, psicológica, um trauma, ou outros motivos, e ela para de sentir. Já o assexual nunca sentiu desejo sexual ou não o direciona às pessoas, liberando, por exemplo, com a masturbação”. Quanto à comparação com o celibato, Elisabete afirma que os assexu-

ais podem fazer sexo, mas só não o fazem por não sentirem vontade. Ela conta também que muitos deles são pressionados pela sociedade a ter relacionamentos amorosos e sexuais e acabam interpretando a falta de interesse sexual como algo ruim. “Não existe nenhum diagnóstico que diga que uma pessoa é assexual. Ela é quem vai se denominar nesse sentido. Inclusive, para eles a falta de desejo é muito natural e não veem isso como algo que precisa ser tratado”, observa a psicóloga e sexóloga Andreza Buzaid. Porém, há casos de homossexuais que possuem homofobia internalizada, que são aqueles indivíduos que buscam uma “cura”. Isso também pode acontecer com assexuais que não conseguem se autoidentificar como tais. “Eu já tive vários pacientes que falaram “eu não quero mais sentir isso, eu 36

não quero mais ser homossexual”, como se isso pudesse reverter, e não acontece, porque não é patológico”, conta Andreza. Para ela, o papel do psicólogo nesses casos é trabalhar questões que o paciente vai apresentando, como angústia, conflito e aceitação. Outra questão muito levantada sobre a assexualidade é a separação entre amor e sexo. Existem assexuais que não buscam um envolvimento amoroso durante toda a vida, mas a maioria quer um relacionamento sem a prática sexual. “A falta de desejo não interfere em sua capacidade de amar. Tem muitos assexuais que fazem sexo, porque estão com pessoas que não são assexuais. Então eles decidem fazer, abrem mão de sua vontade, para manter o relacionamento, por exemplo”, aponta Elisabete. Há casos mais raros de não as-


sexuais que deixam de fazer sexo ou possuem um relacionamento poligâmico, em que fazem sexo com outras pessoas, mas mantém o relacionamento amoroso com o parceiro assexual. Além disso, os assexuais podem se identificar com outras orientações como homossexual e bissexual.

“As pessoas ainda tem uma cabeça muito fechada para o relacionamento e o sexo, e costumam propagar que o desejo sexual é universal, biológico em todos os seres humanos. Agora vemos que não, há uma variação”, comenta Elisabete. A pesquisadora aponta que os assexuais que

estão em relacionamentoa são, em geral, menos cobrados, pois as pessoas imaginam que elas estão fazendo sexo: “O sexo é privado, já o relacionamento é público. Muitos assexuais arrumam uma namorada ou um namorado somente para não serem julgados pela sociedade” T

Entrevista A TABU conversou com uma webdesigner*, 28 anos, que contou suas experiências e sua trajetória de autoidentificação como assexual. TABU: Com quantos anos você percebeu que sentia algo diferente em relação ao sexo? E há quanto tempo você se identifica como assexual? Não teve uma idade em que senti algo diferente em relação ao sexo. Fui percebendo aos poucos durante os anos. A compreensão de si mesmo vai ocorrendo durante toda a vida. No início desse ano que descobri a existência da assexualidade e me identifico como assexual desde então.

entenderiam e isso geraria conflitos. Talvez achem que sou lésbica, mas não tocam no assunto. Não falo de intimidade com eles, nem eles comigo. Ainda não vi necessidade de contar para amigos, talvez no futuro. T: Você acha que as comunidades virtuais são importantes para a legitimação da assexualidade? As comunidades de assexuais ajudam na legitimação da assexualidade sim. A AVEN tem enquetes que mostram que os assexuais não são assim por causa de tramas. Nós lidamos bem com o sexo, só não gostamos de ter a obrigação de fazer. Ninguém é questionado se não gosta de algum esporte por exemplo. Você simplesmente não gosta e então não pratica.

T: Quantas vezes você já teve relações sexuais? O que você sentiu? Tive um relacionamento breve há muito tempo atrás. Ele não era assexual. Eu não tinha vontade de fazer sexo com ele e achava que isso era devido à timidez ou à falta de maturidade, já que eu era muito nova. Mas hoje, depois de tanto tempo, continuo sem interesse. Nunca relacionei sexo com amor e procuro um assexual para namorar.

T: Os assexuais conseguem diferenciar claramente amor e sexo. Mas e amor e amizade? Você consegue explicar essas relações para os assexuais? Um relacionamento romântico sem sexo com um homem, para mim, é um namoro como o de qualquer outra pessoa. Você quer morar junto, tem ciúme e tudo mais. Com uma amizade, eu posso passar um ano fora, viajando, e quando voltar, a amizade será a mesma. No amor, não.

T: Quando você se identificou como assexual, você recorreu a alguém para pedir conselhos? Se sim, qual foi a reação dessas pessoas? Não recorri a ninguém. Procurei mais informações na web e não contei para minha família, pois acredito que eles não *identidade preservada

Texto

37

Beatriz Haga


crônica

Um momento de

liberdade

A

o declarar que gostaria de entrar no estabelecimento, o funcionário me alertou com receio: “Mas só tem homens lá, tudo bem?”. Não me espantei, afinal, já era o esperado. Entrei na grande sala e tudo se enegreceu. Procurei uma fileira e me sentei na poltrona de couro. Aos poucos, comecei a me acostumar com o escuro. O ambiente era um mix de rústico com o moderno: enquanto os filmes eram exibidos por meio de um projetor de alta performance, a sala parecia um imenso sótão coberto de cortinas e ventiladores. Apesar de não ser um ambiente familiar, achei-o aconchegante. Entre tantos homens, em sua maioria, senhores de idade, um menino me chamou a atenção. Vestia roupas descoladas e tinha o cabelo loiro descolorido. Tinha porte de adolescente. Felipe conta ser um homossexual, que, reprimido pela família, busca lugares em que possa ser verdadeiro. Lá, no cinema, ele desfrutava de um momento de liberdade. Percebi grande movimentação. Pessoas se dissipavam de seus lugares frequentemente. Eles iam e vinham detrás de uma cortina com o logo “Sala VIP” em neon. Fiquei tentada e resolvi entrar. Era uma sala menor. O filme, dessa vez gay, era transmitido por uma televisão de 29”. Ao me verem entrar, todos fecharam seus zíperes e saíram da sala. A princípio, não sabia se isso fora devido ao pudor ou se minha presença os incomodava. Tempo depois, um senhor

“Só tem homens lá, tudo bem?” mais desencanado entra e começa a se masturbar. Logo percebi que o pequeno cômodo era um espaço para o descarrego de energia. Muitos deles acabam entrando lá, não por conta do estilo do filme, mas por encontrarem mais privacidade. Como queria deixa-los a vontade, voltei para a sala principal. Um homem bem vestido surge na surdina e começa a acariciar minhas costas: “Você é muito bonita. Gosta de um pinto?”. O filme pornô fez o clima do cinema: incentiva fantasias e encoraja os excitados. Rejeitei educadamente e me distanciei. Resolvi passar no banheiro, mas o feminino encontrava-se trancado. Pelo jeito, mulheres não fazem parte de seu público alvo. Do outro lado da telona, ficava o banheiro masculino. Quando perguntei para um amigo que fora comigo como era o banheiro, ele me aconselhou a não ir. Atrás da telona estava um casal que encontrara o local perfeito. Texto

Daniela Chiba

Fotomontagem Vítor Moura


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