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Capítulo Vinte e Sete
As fortes luzes da sala de emergência eram cegantes, deixando pouco espaço para esconder a realidade da situação. Tudo que conseguia fazer era encarar essas luzes até que halos se formassem em volta delas.
Deitada no colchão inconfortável enquanto a enfermeira arrumava o jaleco do hospital e o fino lençol, eu não disse nada enquanto o médico se afastada da ponta da cama, fazendo um som com as luvas de borracha, como um trovão. Agua foi ligada. Eu não estava esperando que ela fosse falar, porque eu já sabia o que ela iria dizer.
Eu não lembrava de ter dirigido até o hospital, o que provavelmente significava que eu não deveria ter dirigido até ali, mas eu lembrava do sangue que tinha ensopado a calça do meu pijama, e o sangue que começou a aparecer na calça de moletom que eu tinha me trocado. Eu lembrava das roupas quando me sentei no banheiro, eu lembrava...
Mordi meu lábio enquanto a cólica voltava. Minha mão fechava em volta do lençol. A sombra da enfermeira caiu sobre mim e sua mão gelada cobriu a minha. Eu queria afastar minha mão. Eu não queria que ela nem ninguém me tocasse agora, mas não me movi.
“Srta. Keith?”
Meu olhar mudou para a médica. Ela era jovem. Poderia ter a minha idade. Sua sobrancelha levantou enquanto ela empurrava o banquinho para a cama, perto da minha cintura e se sentava. Seu olhar sério encontrou o meu. Seu olhar me lembrava o do técnico de ultrassom que havia estado no quarto antes dela. O enfermeiro tinha se introduzido, mas uma vez que ele começou a trabalhar, ele parou de olhar para mim. Quando saiu do quarto, eu nem sabia se ele tinha falado qualquer coisa. Eu pensei que tinha. E eu pensei que essas palavras não faziam sentido.
“Me desculpe,” a médica disse. Eu respirei pelo nariz enquanto mudava minha tensão para o teto de novo. Meu maxilar doía do quão forte eu o estava apertando, mas eu não conseguia me forçar a soltar. A médica – qual era seu nome? Williams? Williamson? – estava falando de novo e eu perdi uma parte.
“... o ultrassom confirmou o que suspeitávamos devido aos sintomas que você está apresentando agora,” ela estava dizendo e eu ouvi um papel sendo passado como se ela estivesse passando as páginas do prontuário. “Quando você chegou, você disse que estava na decima terceira semana?” Minha boca estava seca quando falei. “Sexta... sexta eu faria treze semanas.”
A enfermeira apertou minha mão.
“E você tinha acabado de ter sua primeira consulta com o OB:GYN?” “Há um mês,” eu disse. Os papeis foram passados de novo e, quando ela falou dessa vez, suas palavras foram cuidadosas. “Baseado no ultrassom e no exame de sangue que pedimos, parece que o feto já foi abortado e o que está acontecendo agora, com o sangramento...” “Espere.” Passei a língua sobre meus lábios. “O que você – o que quis dizer que eu já abortei?” “O ultrassom e o exame apontaram que não há mais feto. Quando você começou a sangrar, você reparou em algum coagulo maior?” ela perguntou
Claro, os lençóis... eu sabia disso. Eu tinha lido sobre os sinais em um dos vários fóruns, mas eu não tinha pensado...
Eu não tinha pensado que isso iria acontecer.
Deus.
Eu fechei meus olhos. A cólica tinha começado quando eu estava... eu nem mesmo consegui terminar essa linha de pensamento. Como eu pude não saber o que estava acontecendo naquele momento?
dor? E se eu tivesse vindo ao hospital no exato momento em que eu senti
A médica estava falando de novo. “É bem comum nesse estágio da gravidez para o feto parar de se desenvolver sem você saber. Às vezes pode aparecer dias ou semanas antes do corpo começar a se curar. Isso é o que está acontecendo agora.” Meus olhos se abriram. O bebê já tinha ido há dias? Semanas? E eu nem sabia?
Ela estava falando comigo sobre opções o que esperar, as consultas seguintes que eu precisava marcar e sintomas que precisava ficar de olho no caso de... algo der errado. Ela estava falando sobre todas essas informações e a porra da enfermeira ainda estava apertando minha mão, e eu queria...
Eu queria minha mãe.
“Por que?” eu disse com a voz rouca. Pelo canto do olho, eu vi a médica se levantar. “Isso nunca é algo fácil de se ouvir ou entender, mas as vezes, não tem motivo, Srta. Keith. Apenas acontece. Não significa que você nunca vai conseguir engravidar de novo, mas eu sugiro que você veja seu médico, fale com ele sobre suas preocupações...” Não tinha motivo? Não. Isso não fazia sentido, poderia? Meus pensamentos estavam girando em torno de coisas que eu li, e sim, a parte logica em mim percebeu que o corpo humano era uma coisa louca e que fazia coisas loucas, mas eu queria um motivo. Uma dor tão forte e tão real estava expandindo do meu estomago para meu peito. Eu queria saber o que eu tinha ou não feito...
A dor expandiu e as lágrimas subiram para minha garganta, inchando meus olhos. A gravidez não foi planejada, mas eu a queria. E Nick não estava esperando isso, mas ele a queria. Nós íamos tentar tirar o melhor proveito disso e, em poucas semanas, iríamos descobrir o sexo. A dor aumentou, queimando cada célula. E se o bebê fosse um menino, nós...
Eu interrompi esses pensamentos e eu desliguei, desliguei tudo. Me tranquei. Afastei tudo porque eu não podia... não podia lidar com isso agora. Só não podia.
“Você tem alguém para quem ligar?” A enfermeira perguntou. “O que?” Eu olhei para ela e percebi que a médica não estava mais no quarto. Era apenas nós. Quando ela tinha saído? Cólica começou de novo e eu lutei contra a vontade de rolar.
O rosto da enfermeira estava cheio de simpatia. “Eu perguntei se tem alguém que você quer ligar?” Sim. Era isso que estava sendo dito de novo e de novo na minha cabeça. Sim. Havia pessoas para se ligar. Havia uma pessoa para ligar, mas não foi isso que eu fiz.
Eu nem sei porque.
Não foi isso que eu fiz.
Pela sugestão do médico, eu liguei para o trabalho e disse que não ia e com isso, eu consegui descansar o resto da semana. Eu disse q Deanna que era gripe, mas se Marcus precisasse de qualquer coisa imediatamente, eu poderia fazer de cada. Tudo que ele precisava fazer era ligar ou me mandar e-mail. Depois do que tinha acontecido ontem com Rick, eu não tinha certeza do que Marcus pensaria sobre eu faltando no trabalho, mas não tinha outra opção.
Foi uma boa ideia não tentar ir trabalhar depois de tudo que aconteceu. As cólicas e o sangramento não foram nada parecido com qualquer coisa que experienciei antes. Uma hora depois que falei com Deanna, eu me enrolei no sofá, minhas mãos em meu estomago e meus joelhos para cima depois que troquei os lençóis da cama, removendo os vestígios do... incidente.
Eu não pensei em nada.
Nada.
Horas se passaram e no momento que meu cérebro começou a divagar para o que tinha acontecido, eu rapidamente forçava minha atenção na TV. Por volta da hora do almoço, meu telefone tocou e a pressão em meu peito aumentou. Era Nick.
Eu congelei a um segundo de atender. O que... o que eu iria dizer a ele? Então eu peguei o celular e, me sentando, trouxe ele perto do meu peito e fechei meus olhos. Deus, ele já tinha perdido tanto em sua vida, ele ficaria tão desapontado, e eu...
Sem atender a chamada, eu larguei o celular no sofá e pressionei minhas mãos na testa. “Pare com isso.”
Eu sabia que não tinha nada que pudesse fazer sobre isso. Já tinha acontecido. Ficando de pé, eu fui até a cozinha para pegar um copo d’agua. Eu passei pela geladeira e congelei.
Segurado por um ima em forma de coração estava o ultrassom. Por um momento eu estava apenas presa ali, sem me mover, mal respirando, enquanto encarava a imagem. Se a médica não tivesse apontado o bebê, eu não teria sido capaz de encontra-lo. O bebê era tão pequeno, do tamanho de uma cereja.
Esse era algum tipo de punição porquê... porque eu não queria ter engravidado? Como um tipo de karma cósmico desde que isso não tinha sido
planejado e eu tinha surtado tanto no começo? Me preocupado por não poder viajar pelo mudo e coisas estupidas e sem motivo como essas?
A pressão voltou para meu peito e eu me movi, tirando a foto da geladeira.
Eu queria que tudo isso terminasse.
Corri de volta para o quarto, ignorando a dor no estomago enquanto abria meu armário, colocando a foto entre duas caixas de sapato. Andei de volta para a sala e peguei o celular.
Minha mãe atendeu no terceiro toque. “Hey querida.” “Oi.” Meus dedos apertaram mais o celular. “Está ocupada?” “Claro que não,” ela respondeu com uma risada. “Não está no trabalho?”
Eu comecei a ofegar. “Não. Eu tenho hoje e sexta de folga porque não estou me sentindo bem.”
“Oh não.” Houve uma pausa e eu pude ouvir Loki latindo no fundo. Minha mãe brigou com o cachorro. “O que tem de errado? É o bebê?” É o bebê?
Apertando meus olhos fechados, eu inalei profundamente. “Um, eu...” As palavras eram incrivelmente difíceis de serem ditas. “Eu tive uma dor estranha ontem à noite no meu estomago, mas ela passou. Eu pensei que fosse algo que comi, então fui para cama.” “Oh,” Minha mãe sussurrou no telefone e eu pensei... eu pensei que ela já sabia. “Oh, querida.” Eu pressionei minha mão em meu estomago, logo abaixo do meu umbigo. “Eu voltei a dormir. Provavelmente não deveria ter feito isso. Eu só não pensei que havia algo de errado, mas eu acordei algumas horas mais
tarde, e eu estava... estava com cólicas e tudo mais. Então fui para o hospital.” Abri meus olhos e comecei a ofegar de novo. “O médico disse que o be – que provavelmente parou de se desenvolver. Que isso poderia ter acontecido há semanas atrás, acho. Eu não sabia.” “Querida,” Minha mãe se engasgou. “Me desculpe. Você está...?” “Estou bem.” Eu interrompi, colocando um braço sobre minha cintura. “Estou bem, na verdade.” “Querida...” “Estou bem. Eu só vou descansar hoje e amanhã então usar o final de semana para relaxar, mas estou bem. Eu disse no trabalho que estava com gripe. Acho que foi uma coisa boa que eu não contei antes para eles. Quero dizer, isso provavelmente foi algo bom, né?” Eu estava balbuciando nesse ponto, mas não consegui parar. “Algo estava errado e essas coisas... essas coisas acontecem.”
Houve uma pausa e, então, minha mãe disse. “Eu estou indo para aí. Eu vou colocar Loki em uma casinha de viagem e nós vamos ir aí e...” “Não precisa. Estou bem e não tem nada que alguém possa fazer.” Eu disse a ela. “Eu só preciso passar os próximos dias relaxando.” “Mas...”
“Mãe, eu estou bem. Prometo. Você não precisa vir, okay? Eu te vejo no natal.”
Ela não respondeu imediatamente. “Se mudar de ideia, estou apenas a um telefonema de distância, okay?” “Okay,” eu murmurei. “Como Nick está lidando com isso?” ela perguntou.
Meu peito apertou enquanto eu forçava as palavras. “Eu não contei para ele ainda.” Silêncio.
“Eu... acabou de acontecer e ele estava no trabalho, então eu dirigi até o hospital ontem à noite.” “Stephanie,” ela suspirou. Minhas juntas doíam. “Eu vou desligar, okay? Te ligo mais tarde.” Eu desliguei meio que na cara dela e me senti uma merda por querer sair logo do telefone, mas eu não queria dizer algo que a deixaria com vontade de ignorar meu pedido para não vir, e eu não queria falar sobre isso mais, porque eu sabia que eu teria que falar sobre isso de novo.
Olhando para o relógio, eu sabia que eu tinha tempo para falar com Nick antes que ele fosse ao trabalho. Parte de mim queria amarelar e ligar para ele, porque vê-lo cara a cara era algo que eu não tinha certeza se poderia fazer.
Mas essa não era a conversa para se ter pelo telefone.
Mandei uma mensagem para ele, perguntando se poderia passar por aqui. Depois de algumas mensagens – Nick perguntando porque eu estava em casa e eu sendo vaga – ele disse que estava a caminho. Sentava na cadeira junto a pequena mesa, eu esperei enquanto os nós se formavam em meu estomago. A cólica não era tão ruim agora, mas de vez em quando parecia que alguém estava enfiando uma faca em mim. Parte de mim abraçava a dor, porque era algo em que focar.
Quando Nick chegou, não tinha passado tempo suficiente. Uma primeira olhada nele me disse o porquê. Usando calça de nylon e uma blusa térmica por baixo de sua jaqueta, ele provavelmente estava na academia. Seu cabelo estava adoravelmente bagunçado.
Ele deu uma olhada em meu rosto pálido e sua mão apertou mais o capacete. “Você está doente. É por isso que está em casa.” Colocando o capacete na mesa, ele se virou para mim.
Eu dei um passo para trás, fora do alcance de seus braços. “Não estou doente. Não de verdade. Um...” Fugindo do seu olhar preocupado, eu me virei e passei minha mão pelo meu cabelo. Os fios com nó prendendo meu dedo. “Eu preciso falar com você.” “Estou aqui.” Sua mão passou em minhas costas e eu saí do seu alcance. “O que está acontecendo, Stephanie?” Andando até o sofá, me sentei no braço dele. Como eu já tinha contado para minha mãe, foi mais fácil dizer as palavras dessa vez, talvez fácil demais. “Eu... eu o perdi.” “O que?” Nick se aproximou. “O bebê,” Eu disse encarando minhas mãos – meus dedos. “Tive um aborto. Eu não sei por quê. Aconteceu ontem à noite. Eu nem sabia o que estava acontecendo no começo. Achei que fosse dor de estômago. Foi estupidez.” Eu olhei para cima e encontrei Nick de pé, perto do sofá, rígido como uma estátua. “Eu não seu se foi algo que fiz ou deixei de fazer, mas eu não... estou mais grávida.” A expressão de Nick estava tensa enquanto ele fechava seus olhos. Sua mão levantou e ele a passou em seu cabelo. “Stephanie...” Meu nome soou ríspido em sua língua, e eu voltei a olhar para minhas mãos. “Sinto muito” eu sussurrei.
“O que?” Essas palavras ditas tão rápido chamaram minha atenção. Ele estava me encarando. “Babe, você não tem nada para se desculpar.” Um passo o trouxe mais para perto da onde estava sentada, e ele estava agachado na minha frente, suas mãos em volta das minhas, e eu acabei pensando na enfermeira de ontem à noite segurando minha mão. “Deus, Stephanie, não peça desculpas. Não...”
“Eu sei que está desapontado. Você não achou que teria um... bem, eu sei que você queria isso.” Seu olhar procurou o meu. “Eu sei que você queria isso também, mas... acontece. Deus.” Ele abaixou sua cabeça enquanto trazia nossas mãos juntas para sua testa. “Porra. Eu não sei o que dizer.” Minha respiração estava falhada. Eu não sabia o que dizer também. Seus ombros ficaram tensos e, então ele levantou sua cabeça. Aqueles olhos extraordinários estavam brilhantes, brilhantes demais, e meu coração quebrou.” “Okay. Tudo bem.” Ele inalou profundamente. “Nós precisamos ir para o hospital? Eu posso...” “Eu já fui ao hospital.” Os lábios de Nick se afastaram vagarosamente enquanto ele me encarava, seus olhos arregalando.
“Não tem mais nada que possa ser feito agora. Quero dizer, não agora. Eu vou marcar uma consulta de acompanhamento para saber que está tudo bem, mas não precisa ser agora.” Essa era a verdade, eu não precisava contar a ele os outros detalhes do que acontecei. “Você não precisa pegar folga no trabalho nem nada. Eu vou apenas ficar... uh, relaxando...” engoli forçadamente “...até segunda.” Ele soltou minhas mãos. “Quando... quando isso aconteceu?” “Ontem à noite.” Eu já não tinha dito isso? Não conseguia me lembrar.
Nick colocou suas mãos em suas coxas. “E você foi para o hospital ontem à noite?”
Eu concordei, esfregando minhas mãos sobre minhas pernas.
“Por que não me ligou?”
sei.” Seu rosto ficou embaçado enquanto eu balançava minha cabeça. “Não
Houve uma pausa. “O que?” Por que eu não tinha ligado para ele? Ele deveria ter sido a primeira pessoa a se ligar. Bom, eu tinha entrado em pânico quando fui ao hospital, mas eu deveria ter ligado uma vez que estava lá ou quando a enfermeira perguntou. Eu ainda não sabia porque não fiz isso. Pressionei meus dedos em minha testa e balancei minha cabeça. “Eu não quis te incomodar.” “Me incomodar? Você está...?” Ele se levantou de repente, dando um passo para trás. Passou uma mão de novo por seu cabelo. “Okay. Por que você pensaria isso?” Eu balancei minha cabeça.
Nick deu um passo para o lado, suas mãos em sua cintura. “Nós estamos tendo uma conversa de verdade?”
Eu apertei meus olhos fechados. “Eu não...” “Você não o que?” Eu não queria desaponta-lo, porque ele já tinha perdido tanto. Eu não queria machuca-lo, porque ele já tinha sofrido o suficiente. E eu não sabia como lidar com isso – o bebê, estar em um relacionamento, perder o bebê e, então, Nick. Eu não sabia como fazer isso e eu tinha feito errado, tudo errado.
Enquanto eu levantava meu olhar, eu sabia que esses não eram os únicos motivos. Eu tinha me apaixonado por Nick, tão profundamente, e esse bebê foi o que nos aproximou – o que nos prendeu, e agora ele não estava mais aqui. Ele nunca disse que me amava. Nenhum plano para o futuro foi feito que não incluísse o bebê. O que éramos sem aquilo que nos unia?
Eu sabia que iria perdê-lo.
Uma cólica me atingiu, me pegando de guarda baixa. Minha mão voou para meu estomago enquanto a dor passava por mim.
Nick imediatamente se ajoelhou na minha frente. “Você está bem?” “Yeah,” eu respondi. “O que posso fazer?” ele tocou meu braço? “Nada. Eu apenas...” a dor aumentou e eu a afastei enquanto me levantava. “Eu só preciso relaxar um pouco.” Suas mãos afastaram. “Tem algo que posso pegar para você?” Balancei minha cabeça. “Não. Eu só queria te contar. Só isso.” “Só isso?” Ele cambaleou para trás como tivesse sido empurrado, e eu queria olhar para longe. Eu queria me esconder, porque isso... tudo isso era culpa minha. “Stephanie, eu não sei o que dizer.” Me diga que você ainda quer estar aqui.
Me diga que você ainda vê um futuro para nós.
Me diga que você me ama.
“Não tem nada a se dizer,” eu sussurrei, olhando para longe. “Você está errada,” ele disse e a esperança cresceu em meu peito. “Nós perdemos um bebê...” “Eu não estava nem com treze semanas,” eu disse porque era mais fácil não pensar além disso. “A médica disse que ele provavelmente parou de se desenvolver a semanas.”
“Semanas?” ele murmurou, se contraindo. “Tudo que estou tentando dizer é que pelo menos aconteceu agora e não a semanas daqui, não quando...” Não quando eu estivesse aparentando ou quando fosse ser muito mais difícil de aceitar e entender isso.
Exceto que era difícil aceitar e entender. Eu não entendia. Eu não sabia o porquê tinha acontecido e eu não estava apenas desapontada. Eu estava arrasada, e eu...
“Eu deveria ter estado lá, Stephanie. Não apenas para que pudesse ficar ao seu lado, mas porque eu poderia estar. E nada a se dizer? Tem muitas coisas a se dizer sobre isso. Eu só não sei as palavras agora. Eu nem mesmo quero pensar, mas... porra.” Ele passou suas mãos sobre seu rosto. Seu braço tremendo. “Por que não me ligou, Stephanie?” Eu pisquei. “Eu...” “Sabe o que? Essa não é hora para se ter essa conversa.” Meu estomago revirou. “Por que não?”
nada.” Ele me atirou um olhar, incrédulo. “Você não precisa lidar com mais
E lá vem, eu pensei. “Estou bem,” eu disse a ele, endireitando meus olhos. “Que conversa você quer ter?” “Você está bem?”
“Sim.”
Seus olhos queimaram. “Você não pode estar bem. Você acabou de perder um bebê, Stephanie. Quero dizer, vamos lá. Você é humana. Você não...”
“Estou bem.” Meu coração estava pulando. “O que você quer conversar?”
Balançando sua cabeça, ele começou a andar até a mesa – para seu capacete. Ele estava indo embora e o pânico cresceu na beira do meu estômago. Eu dei um passo na sua frente. “Por que você não quer me dizer o que queria falar?”
“Por quê?” Suas bochechas coraram. “Porque eu estou tentando ser um ser humano descente agora, Stephanie. Eu estou tentando não descarregar mais merda na sua cabeça quando você não precisa. Eu...” “O que?” Eu retruquei, frustração e confusão girando em mim até que se transformaram em raiva. “Você o que?” “Estou puto! Estou desapontado,” ele respondeu e eu me contraí. “Como você pode ter lidado com isso sozinha?” Ele deu um passo na minha direção, suas mãos fechadas ao seu lado. “Como você pode ter pensado que eu teria – eu teria largado tudo para estar lá. Quero dizer, você sequer pensou em mim quando isso estava acontecendo? Será que passou na sua cabeça que eu iria querer estar lá por você? Por mim?” Minha boca abriu mas não haviam palavras. “Eu... não pensei quando comecei a ter as dores. Eu dirigi até o hospital e eu...” “Eu entendi. Okay? Eu posso entender essa parte, mas você esperou até hoje para me pedir para vir, e pediu pela porra de uma mensagem, você está brincando – Okay.” Ele se endireitou, inalando profundamente enquanto seu corpo todo ficava tenso. “Eu farei o certo agora. Você não precisa disso,” ele disse, passando por mim. “Eu não preciso fazer isso agora. Okay? Eu preciso limpar minha cabeça. Você precisa limpar sua cabeça.” Eu cruzei meus braços sobre minha cintura. “Me desculpe.” Nick passou por mim de novo. “Pare de se desculpar, Stephanie. O que aconteceu não é culpa sua.” Ele se aproximou e meu corpo teve vontade própria. Ele se contraiu por causa de suas palavras, porque como isso não seria culpa minha? Suas mãos tocaram o ar e a pele em volta dos seus lábios esbranquiçou. “Mas que...” “Por favor, apenas vá embora,” eu sussurrei. “Por favor, só vá.” “Steph...”
“Por favor.” Meu controle estava escapando, afinando e, então, ele apenas... ele apenas quebrou. “Por que você ainda está aqui?” Nick parou de se mover. Ele pode até mesmo ter parado de respirar e, por um longo e tenso momento não havia nada além do silencio. Eu fechei meus olhos, ouvindo o capacete sendo arrancado da mesa e, num segundo depois, a porta da frente bateu, fechada.