
14 minute read
APAT no FIATA HQ Meeting 2022
from Edição 135
by Apat
Depois de dois anos de interrupção forçada pela pandemia, a FIATA retomou a sua reunião anual Fiata HQ, ainda em formato híbrido.
A sessão decorreu no Centre International de Conférences Genève, naquela cidade suíça. Durante os três dias de trabalho (17 a 19 de maio), em que a APAT marcou presença, as sessões abordaram temas fundamentais para o futuro do setor.
Advertisement
No primeiro dia, após a tomada de posse do novo presidente da FIATA, Ivan Petrov, foi aberta a Sessão das Regiões com a presença dos quatro representantes - RAME (África e Médio Oriente), RAM (Américas), RAP (Ásia-Pacífico) e REU (Europa) - para resumo das principais questões prioritárias em cada região.
O foco dirigiu-se para os problemas sentidos no comércio internacional e a necessidade de desenvolvimento de soluções locais para facilitação dos processos a nível global.
Vários membros notaram que os fretes elevados são uma boa oportunidade para os transitários.
Por outro lado, todos concordaram que atrair recursos humanos qualificados continua a ser um problema, ao qual se junta o desafio representado pelos ciberataques.
Os oradores convidados – Azhar Jaimurzina, da UNESCAP, Christina Wiederer, do Grupo do Banco Mundial, Mohammad Saeed, do ITC, e Lukasz Wyrowski, da UNECE – partilharam as suas perspetivas sobre os atuais desafios globais enfrentados pelos transitários. Mohammad Saeed considerou que sem tarifas competitivas os transitários, que representam 10% do PIB mundial, não podem crescer.
A eficiência produtiva e logística (especialmente no comércio transfronteiriço) influenciam ambos igualmente a competitividade de um produto.
Apelou a que os transitários se assumam como os motores da mudança, apostando em maior interação, digitalização, sustentabilidade.
A sessão foi também uma excelente oportunidade para as Regiões tomarem conhecimento do Relatório do Índice de Desempenho Logístico do Grupo do Banco Mundial (LPI) publicado bienalmente, que teve um hiato de quatro anos devido à pandemia.
Seguiu-se a Sessão Advisory Body on Legal Matters, em que começou por ser destacada a cooperação com o ABIT (Advisory Body on Information Technology) nos aspetos legais do e-FBL e o trabalho de desenvolvimento, a nível internacional, do enquadramento legal subjacente, que constituiu o foco da sessão.
A sessão contou com importantes contribuições dos oradores Regina Asariotis (UNCTAD), Luca Castellani (UNCITRAL) e Christian Gyntelberg (DCSA).
Regina Asariotis destacou que o quadro jurídico relativo aos conhecimentos de embarque eletrónicos ficou aquém dos rápidos desenvolvimentos tecnológicos, bem como a necessidade de uma maior uniformidade e reconhecimento em todo o mundo.
Luca Castellani registou a adoção da Lei Modelo sobre Registos Eletrónicos Transferíveis em mais de 100 estados, e a sua implementação em sete jurisdições, proporcionando novas perspetivas sobre a posse e transferência de bens.
Da perspetiva do setor privado, Christian Gyntelberg partilhou informações conduzidas pela Aliança FIT, da qual a FIATA faz parte, e a importância de disponibilizar normas digitais abertas para todos.
Apesar do advento do correio eletrónico, notou-se que 99% do processo continua a ser físico atualmente, sendo apenas 1% dos conhecimentos de embarque emitidos eletronicamente.
Com a multiplicidade de plataformas, a interoperabilidade foi citada como crucial.
O segundo dia, iniciou-se com a Sessão Multimodal Transport Institute: “O Ano de Todos os Perigos - Impactos para as Cadeias de Abastecimento Globais?” Nesta sessão, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir Jean-Marie Paugam, Diretor-Geral Adjunto da Organização Mundial do Comércio (OMC), sobre as relações frutuosas que as duas organizações têm tido nas cadeias de abastecimento globais, particularmente desde a mudança da FIATA para Genebra, com enfoque nos impactos para os países em desenvolvimento, países sem litoral e na facilitação do comércio.
A OMC partilhou que a perspetiva global é difícil, com a pandemia a ressurgir na Ásia, o aumento das taxas de juro e a guerra na Europa.
Os impactos dos recentes acontecimentos ameaçam fragmentar o comércio global, observando que as restrições governamentais durante a pandemia tornaram o comércio fronteiriço impossível em muitas regiões e afetaram negativamente o crescimento.
No entanto, prevê uma recuperação de 4,7% para este ano. Sublinhou a importância de um diálogo entre as partes interessadas internacionais, públicas e privadas, e que a colaboração é fundamental para o comércio global, bem como para abordar o futuro à luz da necessidade de digitalização e descarbonização. J
ames Hookham, do Global Shippers’ Forum (GSF), sublinhou a falta de serviços no setor, causando o caos a nível global, salientando que uma possível reestruturação das cadeias de abastecimento seria necessária para continuar o crescimento.
Defendeu dever manter-se a pressão sobre os governos com representantes regionais e globais, para assegurar que as respostas dos transporta dores são adequadas e contribuem para o objetivo do comércio global. Philip van der Bosch, da União Internacional dos Caminhos-de-Ferro (UIC), partilhou a perspetiva do transporte ferroviário, que também foi duramente atingido pela pandemia devido às limitadas travessias fronteiriças e restrições sanitárias.
Contudo, sublinhou que este modo de transporte foi também muito resiliente e tratou de responder rapidamente às restrições.
Observou que, com o corredor norte a chegar a um impasse, os fluxos têm vindo a deslocar-se para o corredor sul, e que é necessária mais colaboração para facilitar esta situação.
Sublinhou a necessidade de colaboração para apoiar a cadeia de abastecimento, que é em última análise multimodal, e a necessidade de interoperabilidade dentro e entre modos.
Kazem Asayesh, em representação da União Internacional de Transportes Rodoviários (IRU), descreveu a situação do transporte rodoviário, que não está imune aos problemas causados por pandemias, nomeadamente as condições sanitárias deploráveis dos motoristas, as passagens de fronteira caóticas (com as exigências de testes a causarem atrasos que se fizeram notar durante semanas), perdas no setor na ordem dos dois mil milhões de dólares durante a COVID-19, maior imprevisibilidade dos prazos de entrega, necessidade de novos corredores – fatores exacerbados pela guerra na Europa.
O principal desafio experimentado pelo setor rodoviário nos últimos tempos tem sido a crise de combustível durante a guerra da Ucrânia, e espera-se que as PME sofram particularmente devido a este facto.
Oportunidades relativas a corredores que tinham sido anteriormente ignoradas foram notadas, e em particular a mudança para os corredores do meio e do sul.
Todos os oradores reiteraram a importância da digitalização e da colaboração na superação dos desafios do setor multimodal.
A facilitação do comércio, a digitalização e a descarbonização serão cruciais para preparar o futuro.
A seguinte Sessão ABIT (Advisory Body on Information Technology) - “O que é necessário para alcançar a digitalização da cadeia de abastecimento? Enfrentar os Desafios Técnicos e Operacionais: Propriedade de Dados, Governo de Dados e Necessidade de Infraestruturas de Segurança Fortes” começou com uma rápida atualização sobre as prioridades estabelecidas por este órgão, de que se destacam a Digitalização do FBL e a Interoperabilidade.
Seguiu-se uma discussão com a participação de peritos da indústria: Anil John, do Departamento de Segurança Interna dos EUA, Christian Gyntelberg, do DCSA, Henk Mulder, da IATA, e Guy de Pourtales, da FIATA.
Foram discutidos tópicos-chave como a adoção de conhecimentos de embarque eletrónicos, intercâmbio de dados e governo/propriedade de dados.
A falta de reconhecimento legal foi identificada como o principal obstáculo à adoção de conhecimentos de embarque eletrónicos, enquanto o principal desafio que impede as empresas de partilharem dados com terceiros é a confiança.
Embora o reconhecimento legal de documentos eletrónicos seja ainda um grande problema em muitos países, o facto de o Reino Unido estar a avançar com a sua Lei de Documentos de Comércio Eletrónico é encorajador, uma vez que grande parte do comércio mundial se baseia na lei inglesa.
A urgência de os atores do setor entrarem na era digital foi salientada como a chave para permanecerem relevantes.
Foi ainda notado que os profissionais das novas gerações são nativos do digital e, como tal, provavelmente manifestarão relutância em lidar com processos baseados em papel.
Na Sessão ABSS (Advisory Body on Safety and Security) - “Medidas Práticas para Melhorar a Safety and Security na Cadeia de Abastecimento: Promoção da Segurança no Transporte de Contentores e os Desafios do Crime relacionados com a Carga”, o corpo de oradores constituiu o maior painel de oradores de alto nível nesta reunião da sede, com Asli Çalik, da IRU, Nicole Quijano Evans, da UNODC, Peregrine Storrs-Fox, do Clube TT, Lukasz Wyrowski, da UNECE, e Bill Brassington, da ICHCA (este a participar online).
A primeira parte da discussão centrou-se na segurança na cadeia de abastecimento e, em especial, nos incidentes com mercadorias perigosas, identificando os sérios desafios colocados pela falta de compreensão e conhecimento, principalmente no procedimento de embalagem.
A segunda parte da discussão centrou-se nos desafios da security da cadeia de abastecimento, com particular ênfase no crime de carga dada a sua crescente sofisticação, com a recente infiltração bem-sucedida na cadeia de abastecimento – como tal, a indústria tem de estar ainda mais atenta aos diversos modi operandi quando se trata de roubo de carga, o que mais frequentemente ocorre durante o trânsito – de facto, o Clube TT e a IRU relataram que 76% do roubo de carga é proveniente de armazéns de carga.
Trabalhar na redução do tempo de trânsito seria uma das soluções para combater estas atividades criminosas.
O caminho a seguir para mitigar esta grave ameaça reside numa maior e melhor colaboração com diferentes agências, incluindo os setores público e privado.
Como comentário final, os membros do painel salientaram a importância crucial de criar confiança e abrir um melhor diálogo entre os vários intervenientes, e em particular entre o setor privado e as autoridades, para partilhar o máximo de informação possível.
Na Sessão AFI (Air Freight Institute) - “Recuperação de Empresas (e-Commerce, Digitalização, COVID, etc.)” e PLACI, com Brendan Sullivan, Chefe Global de Carga da IATA, Cortney Robinson, Oficial de Transportes Aéreos da ICAO, Glyn Hughes, Diretor-Geral da TIACA, e James Hookham, Secretário-Geral do Global Shippers Forum, o aumento dos custos do combustível, a contribuição rápida e significativa da indústria da carga aérea na distribuição de vacinas e na manutenção de fornecimentos críticos durante a pandemia, e a necessidade de digitalização foram temas-chave discutidos. Foi sublinhada a importância da digitalização e da safety and security.
Os líderes do setor foram encorajados a tomar nota e a prepararem-se para as mudanças regulamentares esperadas num futuro próximo, no que diz respeito à informação avançada sobre carga, que entrará em vigor na Europa em março de 2023 e que é esperada numa série de outras jurisdições.
O terceiro e último dia incluiu mais 4 sessões: a Sessão da CAI (Customs Affairs Institute) - “Aproveitar as lições aprendidas com a Pandemia da COVID para uma Maior Facilitação do Comércio”, a Sessão ABIA (Advisory Body on International Affairs) - “Capacitar as Associações Membro da FIATA na implementação de acordos de facilitação do comércio”, a Sessão FLI (FIATA Logistics Institute) - “A escassez de recursos humanos na logística: capacitação global”; e a Sessão YLP (Young Logistics Professionals) - Foco na Nova Geração com os Vencedores do Prémio YIFFYA 2020.
O painel da primeira sessão foi composto por peritos da Organização Mundial das Alfândegas (OMA) e da IATA, abordando temas-chave como o futuro das alfândegas, a facilitação do comércio, o comércio eletrónico e o papel da digitalização pós-pandémica.
Observaram a necessidade de uma abordagem mais orientada para os dados.
Dados necessários para o cumprimento de sistemas avançados de informação sobre cargas que entrarão em vigor na UE em março próximo, seriam replicados para as declarações aduaneiras, reduzindo a carga de trabalho se os sistemas fossem harmonizados.
O painel destacou a história de sucesso da indústria de carga a funcionar eficientemente e a demonstrar grande agilidade em conjunto com departamentos aduaneiros em vários países para assegurar o rápido transporte de vacinas, EPI e outros bens médicos essenciais no auge da pandemia.
Os membros da FIATA sublinharam a necessidade de manter o foco e os avanços feitos pelos departamentos aduaneiros durante a COVID-19 como o novo normal, e evitar retrocessos das melhorias alcançadas durante o período de contingência.
Outra questão importante foi o aumento dos custos de detention & demurrage numa cadeia de abastecimento já tensa, que foi exacerbado por atrasos no processamento aduaneiro.
A redução da burocracia, a não utilização de papel e a abertura de corredores verdes reduziria o custo de fazer negócios e ajudaria os governos a cumprir as suas obrigações no âmbito do Acordo de Facilitação do Comércio da OMC.
Os oradores encorajaram as Associações Nacionais a comunicar mais com os reguladores, ajudar a assegurar assistência técnica e a partilhar entre si as melhores práticas da indústria.
Houve consenso de que o setor deve trabalhar com todos os intervenientes relevantes para estabelecer um plano de negócios de contingência e sistemas de gestão de crises para uma futura resiliência.
Na segunda sessão, todos os participantes destacaram as vantagens esperadas do TFA, que tem a ver com a simplificação e modernização dos procedimentos, que em última análise beneficiam as PME, que são frequentemente as mais afetadas por exigências fronteiriças complexas e onerosas.
De facto, o TFA trata de reduzir a burocracia, que soma em média 15% ao custo das mercadorias, ainda mais no caso dos países em desenvolvimento - isto tem um efeito adverso na competitividade dos exportadores, o que tem impacto em toda a cadeia de abastecimento, incluindo os transitários.
Foi salientado que os primeiros se encontravam verdadeiramente entre os principais beneficiários das reformas trazidas pela implementação do TFA. Foi, contudo, notado que colher esses benefícios levará tempo - uma vez que a implementação da reforma é um processo a longo prazo.
Os participantes fizeram um apelo claro ao envolvimento do setor privado e dos transitários no seu Comité Nacional para a Facilitação do Comércio (NCTF) e à participação ativa em grupos de trabalho associados - que são plataformas importantes onde o trabalho está a ser realizado.
A adesão ao NCTF significa uma oportunidade para os transitários moldarem o ambiente empresarial que irá condicionar o seu sucesso nos próximos anos. Foi também salientado nas discussões que fortes ligações com o setor privado, participação plena do governo/agência, e uma liderança clara com imperativo político estavam entre as práticas bem-sucedidas no seio do NCTF.
A terceira sessão foi uma grande oportunidade para discutir um importante tópico da atualidade no setor: a escassez de recursos humanos na cadeia de abastecimento.
Trata-se de um desafio para os transitários – compreender as causas e encontrar formas de a ultrapassar era o objetivo desta sessão, que mais uma vez contou com oradores de elevado nível no panorama internacional.
Em suma, realçaram três valores fundamentais para superar a escassez de mão-de-obra: flexibilidade, responsabilidade e cuidado.
A quarta sessão foi dedicada aos Jovens Profissionais de Logística. A FIATA e o Clube TT aproveitaram a oportunidade para convidar os Vencedores Regionais 2020 do Prémio Jovem Transitário Internacional do Ano (YIFFYA) para mostrar o seu talento e oferecer-lhes a visibilidade que merecem com uma audiência ao vivo.
E, definitivamente, a espera valeu a pena! Vimbai Loreen Manyumbu (RAME/SFAAZ), Anastasia Tulek (RAM/ CIFFA), Umair Aamir Sheikh (RAP/PIFFA), e Femke Marie Fürst (REU/DSLV) tiveram cada um sete minutos para contar o seu caso de importação ou exportação da dissertação que os levou à final de 2020 - locomotivas, carros, um barco e produtos de exposição de defesa foram as cargas tratadas nas apresentações.
E tendo esta sido a última sessão, o evento foi encerrado pelo Presidente da FIATA. Na sexta-feira, 20 de maio, pudemos ainda participar da terceira e última parte do evento sobre a crise no setor marítimo, com uma reunião exclusiva de representantes da Comissão Marítima Federal dos EUA, Comissão Europeia, Comissão da União Africana e Centro de Investigação para o Desenvolvimento do Conselho de Estado, na China.


