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Sérgio Fernando da Silva Costa – Presidente da CM Guarda A Guarda tem muito para dar a Portugal e à Europa
from Revista APAT 133
by Apat
SÉRGIO FERNANDO DA SILVA COSTA - PRESIDENTE DA C.M. GUARDA
Em entrevista à Revista APAT, o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, fala do “trabalho de casa” que a autarquia vem fazendo para atrair investimento e posicionar a Guarda no centro do mapa logístico ibérico, e das expectativas relativamente aos novos desenvolvimentos, nomeadamente o Porto Seco. Sem esquecer a aposta na capacitação dos recursos humanos.
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A Guarda tem muito para dar a Portugal e à Europa
APAT - O que é que motiva o interesse da C.M. Guarda pelo desenvolvimento das atividades logísticas? Sérgio Costa - A Guarda quer afirmar-se cada vez mais no Mapa Ibérico e Europeu da Distribuição e Logística, desenvolvendo um verdadeiro hub logístico. O Concelho da Guarda conta hoje com uma forte presença de grandes unidades industriais e de logística/distribuição, vocacionadas para a exportação, sendo dos maiores empregadores privados da Região. O Município da Guarda quer ser o incentivador e dinamizador da implementação de alguma estratégia comum de desenvolvimento, não só de toda a Raia, mas também do mapa logístico ibérico. A Guarda poderá ser o laboratório de uma nova estratégia, porque temos mercado. A Guarda deve assumir naturalmente a sua localização estratégica em relação ao País, 200 km ao Porto, Leixões e Valladolid, 150 km a Aveiro e Salamanca, 350 km
a Lisboa, Madrid e Vigo e 600 km a Valência, bem como a proximidade à A23, A25 e IP2 a Norte, tal como as linhas férreas da Beira Alta e da Beira Baixa e as ligações rodoferroviárias a Espanha. Estamos numa posição privilegiada que nos coloca numa proximidade ímpar ao mercado Espanhol e Europeu. A Guarda é a mais bem posicionada para se afirmar no panorama logístico nacional e ibérico. A Guarda quer inverter o despovoamento e a consequente falta de geração de riqueza do nosso território e da região raiana espanhola. A Guarda quer ser a porta de entrada e saída de mercadorias de um Portugal novamente globalizado.
APAT - A C.M. Guarda está a investir/já investiu na ampliação da Plataforma Logística (PL) da Guarda. No essencial, em que consiste a intervenção, qual o montante do investimento envolvido e quais os timings para a realização? Sérgio Costa - A Câmara Municipal da Guarda está a fazer o trabalho de casa. Está finalmente a cumprir a componente logística da sua plataforma empresarial. A Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) conta com 197 lotes, correspondendo a uma área de 96 ha de terreno. A terceira fase da PLIE, já em obra, irá infraestruturar 41 lotes num valor de cerca de um milhão de euros. O sucesso da PLIE determinou a infraestruturação do terreno disponível, havendo cada vez mais procura, o que obrigou a Câmara Municipal da Guarda a pensar no futuro e nas necessidades dos futuros investimentos empresariais, que com a progressiva marca logística do concelho irão proporcionar. Por outro lado, a Guarda foi um dos 10 municípios do País que viu aprovado um investimento ao abrigo do PRR, dirigido a áreas de acolhimento empresarial de nova geração. Preparando o nosso Parque Industrial, PLIE e as empresas aí localizadas, para as transições verde e digital e garantir uma melhoria da competitividade das empresas. Estes fundos irão apoiar investimentos na autoprodução e armazenamento de energia renovável, ilhas de qualidade energética A+, soluções de carregamento de viaturas elétricas e abastecimento a hidrogénio, cobertura de Banda Larga Rápida (5G). Estamos, portanto, no caminho certo para que a nossa PLIE seja ainda mais atrativa a novos empreendedores.
APAT - Quantas são as empresas instaladas na PL e os respetivos setores? Sérgio Costa - Não queria especificar em pormenor as empresas localizadas na nossa PLIE, porque consideramos todas elas importantes. Da mais pequena à multinacional, todas elas criam riqueza para a nossa região. No entanto, o setor da logística tem uma forte presença, mas também gostaria de realçar os componentes automóveis, que conferem e representam um enorme valor acrescentado à nossa PLIE, tal como o maior armazém de frio do país.
APAT - Entretanto, o projeto do Porto Seco está a ganhar um novo impulso. Como avalia, e o que espera, da transferência da gestão do terminal rodoferroviário da IP para a APDL? Sérgio Costa - O Porto Seco da Guarda tem de ser uma prioridade para o País. A Guarda tudo fará para não deixar fugir esta enorme oportunidade. A questão das Plataformas Logísticas/ Portos Secos é inquestionável, bem como a sua necessidade e importância para alargar a área de influência dos portos de mar e promover mais Coesão Territorial, aproximando o mar do interior, proporcionando colocar os produtos e bens nas mesmas condições de igualdade em todo o território nacional e ibérico. Acreditámos e trabalhámos desde a primeira hora para que o Porto Seco fosse uma realidade no nosso Concelho. Com a transferência da gestão do terminal rodoferroviário da IP para a APDL, temos a confiança que a sua gestão será mais ativa e ágil.
A APDL tem demonstrado proatividade e know how, permitindo um crescimento sustentado da sua operação e uma performance admirável na generalidade de todos os seus segmentos de carga. Mesmo em tempos de pandemia provou a sua resiliência e capacidade, movimentando em 2021, no Porto de Leixões, 15,2 milhões de toneladas de carga. No Porto de Viana do Castelo registou um acréscimo de 5,5%, movimentando 377 mil toneladas. São números que só nos podem conferir confiança na futura gestão da APDL na gestão do Porto Seco da Guarda.
APAT - O que é que a C.M. Guarda está disponível para fazer para viabilizar o Porto Seco? E que complementaridade com a PL? Sérgio Costa - Acho que já todos podemos ter certezas da viabilização do Porto Seco na Guarda. A Guarda está, como sempre esteve, disponível para que a operação do Porto Seco seja implementada no mais curto espaço de tempo. A PLIE da Guarda é a plataforma ideal e complementar, para que as empresas tenham mais agilidade no escoamento da sua produção e comercialização das suas mercadorias. Sabemos que uma irá fazer crescer a outra e vice-versa. São realmente investimentos complementares que necessitam da vitalidade dos atores que se estão a posicionar na Guarda. APAT - Considerando a PL, o Porto Seco e os melhoramentos na rede ferroviária nacional em curso, como perspetiva o papel e a importância da Guarda na logística nacional, e da logística na atividade económica da Guarda, no médio prazo? Sérgio Costa - O exemplo da Autoeuropa, que começou a utilizar a Linha da Beira Baixa como via de eleição para as suas exportações, mostra o caminho certo para o futuro. E esse caminho passa pela Guarda. A Guarda é servida pelos corredores ferroviários da Linha da Beira Baixa, da Linha da Beira Alta e da Linha de Concordância entre estas, sendo esta localização primordial para uma maior mobilidade e rapidez, afirmando-se como um ponto nodal da Rede Ferroviária futura, nunca colocando em causa a dinâmica e a centralidade da Estação Ferroviária da Guarda, privilegiando assim o desenvolvimento dos corredores nacionais e internacionais de mercadorias, contribuindo para a promoção de mais e melhores ligações a Espanha e ao resto da Europa. E como todos sabemos que a logística e as empresas são complementares, esta estratégia logística terá de ser complementada com uma estratégia de localização de novos investimentos empresariais na nossa Plataforma Logística. O Interior, a Guarda e a nossa área transfronteiriça verão a sua atividade económica ser alavancada, reindustrializando esta nossa região, contribuindo para a tão propalada coesão territorial do nosso País. A Guarda tem muito para dar a Portugal e à Europa.
APAT - Em linha com estes desenvolvimentos, a C.M. Guarda tem estado muito empenhada, com o IPG, mas também com a APAT (entre outros), na promoção de formação especializada em logística e transportes. Que expectativas tem relativamente a tais iniciativas, em termos de capacitação dos recursos humanos e das empresas e da atração de uns e outros para a região? Sérgio Costa - A Guarda é neste momento uma região de praticamente pleno emprego. Por isso desafiámos e incentivámos os players para criar condições académicas de formação superior que permitissem às empresas capacitar os seus recursos humanos para os desafios que a Guarda precisa de ganhar nesta década, para que o futuro seja o que todos almejamos para o nosso território. O IPG, a APAT e outros agentes cumpriram a missão e conseguiram criar a Pós-Graduação em Logística para Profissionais e Executivos em tempo recorde. Não existe excelência na gestão sem formação adequada. Mais uma vez a Guarda fez o seu trabalho de casa, preparando-se para o futuro que aí vem. Temos todas as condições para estar preparados para os desafios do futuro da logística da Guarda.