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“Os hospitais têm um papel fundamental na estruturação dos sistemas de saúde e na edificação de sociedades mais justas”

XAVIER BARRETO Presidente da APAH

Qual a importância da realização, em Portugal, do 46º Congresso Mundial dos Hospitais (da Federação Internacional dos Hospitais), em outubro próximo?

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O Congresso Mundial dos Hospitais, da Federação Internacional de Hospitais (IHF), remonta a 1929, quando foi realizado pela primeira vez em Atlantic City, EUA, como um evento bienal. Desde 2015, realizase anualmente, de forma rotativa, em vários locais do mundo.

O Congresso é um fórum global único que conecta líderes de hospitais, serviços de saúde e organizações de saúde para: partilhar conhecimentos e boas práticas em liderança/gestão; partilhar novas ideias e inovações; interagir com outros executivos seniores de toda a comunidade internacional de saúde.

Será o maior evento de gestão em saúde realizado em Portugal nos últimos anos e uma oportunidade única para todos os Portugueses que procuram a oportunidade e o ambiente para se envolverem numa experiência de aprendizagem e networking de 360 graus com pares globais.

Quais as temáticas que considera mais relevantes a serem discutidas neste encontro maior dos hospitais e porquê?

O congresso terá 5 grandes temas: liderança, bem-estar e futuro dos nossos profissionais de saúde, novos modelos de cuidados, transformação digital e sustentabilidade ambiental.

Cada um destes temas será discutido em diferentes painéis, com os melhores especialistas de todo o mundo, quer em sessões plenárias, como em sessões paralelas dedicadas a subtemas.

Destaco a sessões paralela que será dedicada aos CPLP, onde procuraremos discutir de que forma as ferramentas digitais (telemedicina, teleconsultas, telemonitorização), têm contribuído para uma melhoria do acesso a cuidados de saúde.

O lema do evento é “Global Learning, Local Action”. Qual a importância desta temática e como vai ser debatida?

Por todo o mundo existem variadíssimos tipos de sistemas de saúde diferentes, com diferentes problemas e constrangimentos. Não existem soluções one size fits all mas a partilha de experiências e a discussão com pares de todo o mundo, ajuda-nos a perceber o rumo que devemos seguir. Essencialmente, o que pode ou não funcionar. Global learning, local actions, remetenos para essa necessidade de discutir problemas e soluções com profissionais experientes provenientes de sistemas de saúde de todo o mundo, procurando encontrar aí o que de melhor possamos transpor para o nosso País. Todos procuramos qualidade e eficiência na prestação e é nesse terreno comum que o debate se proporciona.

Sendo um debate muito virado para um futuro incerto, que papel podem ter os hospitais de todo o mundo na definição de regras para um mundo e uma saúde melhor?

Os hospitais têm um papel fundamental, tanto na estruturação dos sistemas de saúde, como na edificação de sociedades mais justas e equitativas.

Os hospitais têm um papel único na investigação e desenvolvimento de novas terapêuticas. Contribuem para o avanço do conhecimento médico, para o desenvolvimento de novas tecnologias, e para a definição de melhores práticas em saúde.

Xavier Barreto

Pós-graduação em Administração Hospitalar, pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA)

Pós-graduação em Gestão e Direção de Serviços de Saúde, pela Escola de Gestão do PortoUniversidade do Porto

Especialista em Produção Lean pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho

Membro do Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar

Diploma de Estudos Avançados em Investigação em Ciências da Saúde, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona

Vogal do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Alto Ave EPE

Diretor do Centro de Ambulatório do Centro Hospitalar e Universitário de São João

Membro da Direção da European Association of Hospital Managers

Docente convidado da Universidade do Porto Presidente da APAH

Administrador da Unidade Autónoma de Gestão de Medicina, do Centro Hospitalar de S. João EPE

Coordenador do Projeto de investigação “Análise da evolução da mortalidade infantil em Portugal e sua relação com a evolução da assistência maternoinfantil e demais determinantes”, na Fundação

Francisco Manuel dos Santos

Gestor do Centro de Genética Médica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, I.P

Destaque

Os hospitais podem também fornecer informações valiosas para moldar políticas de saúde, tanto ao nível regional/nacional, como a nível global. Com base na sua experiência, podem produzir informação única sobre as necessidades da população, suportando políticas que melhorem os sistemas de saúde.

Desempenham também um papel crucial na formação de profissionais de saúde (de todos grupos profissionais, incluindo administradores), mas também no aumento da literacia em saúde dos seus utentes.

Os hospitais têm ainda a responsabilidade de garantir que todos os cidadãos tenham acesso equitativo a cuidados de saúde adequados. Será talvez a nossa principal missão. Podem contribuir para iniciativas que reduzam as desigualdades de saúde, especialmente para populações vulneráveis.

Assim e sem prejuízo da importância de todos os níveis de cuidados, é justo dizer que os Hospitais podem desempenhar um papel central na criação de um mundo e de uma saúde melhores.

Os temas que preocupam os responsáveis dos hospitais europeus são os mesmo que preocupam os gestores hospitalares portugueses? Quais?

Em larga medida sim. Todos se preocupam com o envelhecimento da população e com a sobrecarga de procura que isso gera, com a escassez e com o bem-estar dos nossos recursos humanos, com a sustentabilidade financeira, com a tecnologia e a inovação (designadamente sobre como podemos incorporar a inovação sem fazer perigar a sustentabilidade financeira), bem como com o acesso a cuidados de saúde. Diria que este é ponto que mais preocupa grande parte dos países europeus: como garantir o acesso a cuidados de saúde num contexto marcado por um forte aumento da procura, que não tem sido acompanhado por um correspondente aumento da oferta. Convoca-nos a todos para refletir sobre como podemos redefinir percursos assistenciais, integrando novos prestadores de cuidados, novas profissões em saúde, mantendo a qualidade dos cuidados e melhorando o acesso. Será a principal discussão nos próximos anos: que mudanças devemos introduzir nos modelos de prestação de cuidados, para garantir acesso aos nossos doentes.

O papel dos administradores hospitalares vai ter um destaque específico?

O papel dos Administradores Hospitalares é transversal a toda a gestão e governação da saúde e, consequentemente, estará presente em todas as temáticas do congresso. O congresso terá também sessões especificamente dedicadas à liderança e ao papel que o Administrador hospitalar deverá desempenhar nos hospitais do futuro.

A organização que dirige vai ter encontros específicos com os dirigentes internacionais? Com que objetivos?

Sim, conforme tem acontecido nos últimos Congressos mundiais. Alguns formais, para análise de possíveis projetos em comum e outros informais essencialmente para trocar de impressões sobre os nossos hospitais e sistemas de saúde. Em todo o caso, são sempre momentos muito enriquecedores e que deixam pontes para o desenvolvimento futuro da administração hospitalar portuguesa.

Como está a correr o trabalho entre as três associações responsáveis pela organização do evento em Portugal (APDH, APAH e APHP)?

Muito bem. Existiu, desde o início do projeto, uma sintonia clara entre Associações. Os objetivos, a forma, o propósito de realçar o que de melhor se faz no sistema de saúde, são pontos que nos unem a todos. Isso, e o facto de trabalharmos com interlocutores que nos merecem estima e consideração, torna o trabalho mais fácil.

Podem já desvendar algumas ideias que vão ser relevantes neste encontro e que podem fazer a diferença para o futuro dos hospitais em todo o mundo?

Destacaria 2 ideias. Por um lado, será colocado um foco maior na sustentabilidade ambiental. Em todas as temáticas, mas também nas próprias operações do congresso. Teremos um responsável pela sustentabilidade (Prof. Doutor Queiroz e Melo), que nos dará a honra de ajudar nessa tarefa. Nas semanas précongresso formaremos um conjunto de portugueses neste tema em concreto (com apoio do Centro de Sustentabilidade do IHF), que depois formarão outros colegas de língua portuguesa durante o congresso. É um tema que será cada vez mais central para a gestão e estará muito presente no congresso de Lisboa.

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