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28 CONTROVÉRSIAS
from Revista "O Hospital" | Nº 33
by APDH
EUTANÁSIA: DEMOCRACIA FINALMENTE!
Portugal tem uma maioria parlamentar favorável à despenalização da morte assistida desde 2015. O parlamento já votou 4 vezes favoravelmente. Na sociedade, de acordo com uma sondagem recente da Aximage, publicada pela TSF, 61% dos portugueses são a favor da despenalização da morte assistida e apenas 17% são contra! Há uma enorme maioria no país, há uma enorme maioria no parlamento! Deveria ter sido fácil legislar nestas condições. Mas não foi.
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Do Presidente da República ao Tribunal Constitucional, há indivíduos e instituições que tudo fizeram para cortar a autonomia dos doentes. Mesmo sabendo que estão em minoria. E isso não é aceitável em democracia, sobretudo quando estão em causa pessoas concretas. Os vários projetos-lei que foram propostos, foram modificando detalhes na lei, no entanto, o essencial manteve-se: despenalizar a eutanásia e o suicídio assistido, em condições muito concretas e bem definidas. Foi assim desde o início. Chegou a hora da regulamentação e de nos focarmos nas condições concretas para a sua implementação, com a participação das várias profissões técnicas, utentes e instituições.
Vale a pena lembrar o essencial desta discussão: quem não concorda com a eutanásia não é forçado a recorrer a ela ou a praticá-la. Os opositores da morte assistida têm toda a legitimidade para tentarem convencer a restante sociedade a não recorrerem à eutanásia. O que não podem é querer criminalizar quem vê o mundo e a vida de maneira diferente. E é isso que fazia o quadro legal que agora cai.
Disseram-nos que há uma “rampa deslizante”. O mesmo argumento que utilizaram contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e que a realidade desmentiu – há hoje menos 15% de abortos, do que havia em 2008 ou 2009. O mesmo argumento que utilizaram contra a despenalização do consumo das drogas, que a realidade também desmentiu - em Portugal, por overdose, morrem 3 pessoas em cada milhão por ano, muito abaixo da média Europeia que se situa nos 17,3%. O mesmo argumento que em tempos utilizaram contra a distribuição da pílula contraceptiva, (iria promover a promiscuidade entre as mulheres e o disseminar de doenças) e que (imagine-se só!), a realidade também desmentiu - a pílula é hoje utilizada, de forma segura e eficaz, por milhões de mulheres Portuguesas, permitindo-lhes autonomia sobre a sua vida reprodutiva.
E a direção da Ordem dos Médicos disse-nos que os médicos estão contra a eutanásia. Uma mentira e um abuso autoritário. Uma mentira, porque a Ordem sabe que há um estudo da Faculdade de Medicina do Porto, que mostrou que 60% dos médicos são favoráveis à despenalização da morte assistida. E já em 2019, a própria Ordem dos Médicos realizou outro estudo no norte do país demonstrando o mesmo. Um abuso autoritário porque desrespeita a maioria dos seus associados e usa-os para influenciar politicamente órgãos de poder e instituições.
Pelo respeito e pela tolerância daqueles que mais sofrem, precisamos de regulamentar esta nova lei com rigor científico, recorrendo às melhores práticas. Chegou a hora de todos participarmos neste processo longo, que agora vê a esperança de se concretizar.