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Prémio
ENTREVISTA – COM INÊS RODRIGUES VENCEDORA DA QUARTA EDIÇÃO DO PRÉMIO FARIA FRASCO DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE CERÂMICA E VIDRO
Kéramica – Começando pelo início, quando e como foi o seu primeiro contacto com o mundo da cerâmica?
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O mundo da cerâmica já está presente no meu dia-a-dia há cerca de sete anos. Tudo começou com a entrada na Universidade de Aveiro, mais especificamente no curso de Engenharia de Materiais. Apesar do curso ser bastante abrangente, tive bastantes Unidades Curriculares relacionadas com cerâmica que me impulsionaram para um maior interesse nesta área.
Kéramica – A sua escolha no curso Mestrado Integrado em Engenharia de Materiais da Universidade de
Inês Rodrigues
Aveiro foi devido a alguma ligação familiar com o sector ou teve outros motivos? Pode contar-nos o que influenciou esta opção?
Desde cedo que ponderei ir para a Universidade e tirar um curso ligado às engenharias. Não tinha nenhum familiar ligado a este setor e muito menos à cerâmica. Foi algo que surgiu naturalmente com o percurso que fui desenvolvendo ao longo dos últimos anos. Inicialmente desconhecia completamente o curso. “Engenharia de Materiais? O que é isso?” Ainda era um curso recente na altura e descobri-o através de colegas que, por sorte, já tinham ouvido falar. Pesquisei, informei-me e interessou-me! A partir daí foi uma descoberta do mundo dos materiais e da cerâmica.
Kéramica – Qual a sua atividade profissional no momento? A frequência e conclusão deste curso, irá ter impacto na sua atividade profissional?
Neste momento, trabalho num grupo empresarial multinacional em Aveiro que se dedica a fornecer produtos, serviços, soluções e tendências de futuro no setor da cerâmica, do vidro e do plástico. Atualmente, as minhas funções estão relacionadas com o desenvolvimento de vidrados para revestimento e pavimento, assistência ao cliente e marketing. Sinto que o curso foi essencial para me impulsionar para o mercado de trabalho de uma forma natural e rápida, uma vez que me encontro a trabalhar no mundo da cerâmica e sinto que as Unidades Curriculares lecionadas foram uma excelente base de conhecimento para iniciar a minha vida profissional.
Kéramica – Fale-nos da importância do seu trabalho 'Decoração digital e processamento de radiação laser de loiça em grés' que mereceu a atribuição do Prémio Faria Frasco.Sente que este prémio também a ajudou no seu percurso profissional?
Este trabalho teve como objetivo principal o desenvolvimento de uma tinta para aplicação por impressão digital e posterior tratamento térmico com radiação laser. Pretendia-se utilizar esta tinta para marcar a identificação do produtor na superfície vidrada de peças cozidas em grés, em substituição da tinta polimérica aplicada atualmente com carimbo. Apesar de serem necessários testes e estudos adicionais, a tinta desenvolvida tinha também o potencial de poder ser utilizada na decoração personalizada de peças. Na realidade, a implementação de um sistema de impressão digital, combinado com tratamento com radiação laser permitiria à empresa receber, por meios digitais, o motivo pretendido pelo cliente, enviá-lo imediatamente para a linha de decoração, onde seria aplicado de uma forma automática e muito expedita em peças já prontas e armazenadas. Esta alteração contribuiria para aumentar a competitividade da empresa no contexto atual da Indústria 4.0. Concorri ao Prémio Faria Frasco numa altura em que já tinha entrado no mercado de trabalho, mas certamente que me impulsionará para novos desafios na área.
Kéramica – Pretende continuar a desenvolver investigação neste setor?
Após terminar a Universidade planeava trabalhar no mundo da indústria, perceber como funcionava e poder fazer a comparação com a realidade da Universidade e da Investigação. Era algo que nunca tinha feito e que sabia que me ia fazer crescer tanto a nível profissional como pessoal. Assim, hoje em dia, quero continuar neste registo, mas sim, gostaria de voltar à investigação num futuro próximo.
Kéramica – A Indústria 4.0 é um desígnio que a indústria deve atingir. Será uma mudança fácil? Qual a sua perspetiva?
Ao longo das últimas décadas, a indústria sofreu uma transformação tecnológica brutal em vários setores. A cerâmica foi um deles e continua a crescer a olhos vistos. Não tenho dúvidas de que chegaremos ao desígnio da Indústria 4.0, não será uma mudança fácil mas acredito que, com o tempo, irá acabar por se tornar uma realidade.
Kéramica – Sente que os jovens que estudam no ensino superior são incentivados a desenvolver investigação neste sector?
Há cada vez mais jovens interessados na investigação e considero que as Universidades têm um papel fundamental nesse aspeto. O ensino tem vindo a ser progressivamente acompanhado por atividades de investigação que levam os jovens a desenvolver curiosidade e interesse por esta vertente.
Inês Rodrigues
Kéramica – Como é vista a indústria cerâmica pelos jovens hoje em dia? Tem argumentos de atratividade para escolherem este sector para a sua vida profissional?
A cerâmica é das tecnologias mais antigas produzidas pelo homem e, por isso, para quem não conhece a área pode ser interpretada como algo que ficou parado no tempo. O que é um pensamento totalmente errado! Mesmo tendo a cerâmica muitos anos, é um setor que continua em constante evolução. Pessoas que estudaram cerâmica e que se encontram a trabalhar na área acabaram por perceber que a cerâmica é caracterizada por duas palavras: inovação e tecnologia.
Kéramica – Como acha que o sector é visto a nível nacional e a nível internacional?
Neste momento, não tenho uma opinião devidamente formada, uma vez que me encontro há pouco tempo no mercado de trabalho e não tenho uma visão geral de todos os mercados que a cerâmica engloba.
Kéramica – Por fim, vê-se daqui a 10 anos a trabalhar neste sector?
Engenharia de Materiais é um curso bastante abrangente e deu-me a oportunidade de descobrir diversas áreas, mas sem dúvida que a cerâmica me surpreendeu pela positiva quando comecei a trabalhar neste setor. Por isso, sim! Vejo-me a trabalhar na área por vários anos.