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EDIÇÃO
aquaculturebrasil.com
Março/ abril 2017
ISSN 2525-3379
P i s c i c u lt u r a n o Paraná:
rumo as 100 mil toneladas!
Especialistas em arames para piscicultura. E no que mais você precisar.
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Arames Belgo: uma marca da Belgo Bekaert Arames
AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Editorial A partir desta edição, literalmente, “caímos na estrada”. Nossa equipe imergiu em um dos principais polos de produção de peixes de água doce do Brasil. O Estado será o primeiro a atingir a marca histórica de 100 mil toneladas de peixes cultivados em um único ano. Foram duas semanas de Parte de tudo isto transformamos no artigo de capa desta 5ª edição. Fomos super bem recebidos e ciceroneados por pessoas muito solícitas e super dispostas a compartilhar informações com a nossa redação, as quais agradecemos todo o carinho e a atenção concedidos durante as duas semanas que nos deslocamos para o município de Palotina e região. A região, me arrisco a dizer, é um modelo de cadeia produtiva de piscicultura de água doce não apenas para o Brasil, mas para o mundo! Disseminar informação aquícola de qualidade. Esse é um dos compromissos assumidos com você leitor, assinante, parceiro e colaborador, aliás, sempre batemos nesta tecla. Nossos cursos online e ao vivo alcançaram recentemente a marca de 200 pessoas capacitadas, motivo de muito orgulho para nossa equipe e também para os instrutores. Deixo aqui um agradecimento especial aos amigos Maurício Emerenciano, Artur Rombenso e Andre Muniz, os “pioneiros” a ministrar cursos online e ao vivo sobre aquicultura no Brasil. O mês de abril também marcou o aniversário de um ano de nosso portal online (www. aquaculturebrasil.com). Ao completar o primeiro ano de nossa página, atingimos também o maior número de acessos em nosso site: Aproximadamente 20 mil pessoas visitaram nosso portal em abril de 2017. Gratidão a todos pelos acessos. Lógico, nossos anunciantes também agradecem!
Fanpage. Com números crescentes de acesso desde sua inauguração, uma pesquisa recente, revela que, em nossa categoria, já estamos entre as 200 fanpages com maior alcance no Facebook no mundo (Fonte: LikeAlyzer). A responsabilidade com os nossos seguidores aumenta a cada dia! e barreiras. Entretanto, acredito que temos acertado mais do que errado nestes primeiros dois anos de serviços prestados à aquicultura. Muito obrigado a você que tem acreditado em nosso trabalho!
Giovanni Lemos de Mello Editor
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AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
Fala Gringo!
Dedicado aos leitores aquicultores O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA!
EDITOR:
Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com
E stou
COLABORAÇÃO:
completando, em 2017, 30 anos de
Jéssica Brol
atividades rolaram juntas desde meus primeiros
jessica@aquaculturebrasil.com
igualmente importantes na minha vida. Quando cheguei em Florianópolis, aos 25 anos, com a prancha e a mochila nas costas já conhecia a meca do surf brasileiro.
Diego Molinari
GERENTE COMERCIAL:
Minha primeira viagem atrás das ondas foi no ano 79 à Saquarema. pai e por último aquicultor. A inversão de valores foi sempre consciente. A energia do mar me impulsionou e me impulsiona para viver alegre e sonhando. O resto é consequência. Trabalhar com reprodução de organismos marinhos me deu uma certeza: teria uma onda perto do trampo, se não for na minha frente. Todo mundo que trabalhou comigo nestes 30 anos sabe do que estou falando: a prancha sempre esteve do meu lado. Nunca estive nem aí para os preconceitos de minha geração. Chegava com ela a qualquer lado. Seriam milhares de exemplos e histórias “surfaquícolas” impossíveis de caber neste editorial. Hoje surfo com meus alunos no quintal do nosso curso e vejo o brilho nos olhos deles. Somos milhares espalhados pelo mundo. O que eu posso lhes deixar de recado é: “Corram atrás de seus sonhos. Tudo está interligado. Não deixe nunca de surfar de madrugada, não deixem nunca de se informar, de curtir a aquicultura, de trabalhar duro, e de ler a AQUACULTURE BRASIL”.
diego@aquaculturebrasil.com DIREÇÃO DE ARTE:
Taiane Lacerda taiane@aquaculturebrasil.com COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Alex Alves dos Santos, Alex Augusto Gonçalves, André Bezerra dos Santos, Andre Muniz Afonso, Anízio Neto da Silva, Bruno Ricardo Scopel, Diego Molinari, Dircelei Sponchiado, Eduardo Luis Cupertino Ballester, Fabrício Martins Dutra, Franscisco Suetônio Bastos Mota, Jéssica Brol, Katt Regina Lapa, Milton Rönnau, Oscar Pacheco e Verônica Oliveira Vianna. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Luís Alejandro Vinatea Arana Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen Santiago Benites de Pádua As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores.
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Boas ondas!
NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA:
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A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação bimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379). www.aquaculturebrasil.com
Av. Senador Galotti,329, Mar Grosso, Laguna/SC, 88790-000.
G-Land 2014 - Indonésia Rodolfo Petersen Co-Editor AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
A AQUACULTURE BRASIL não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros.
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Bem-vindo screvo essa nota editorial no voo a caminho de Boston para cobrir o evento SeaFood Expo North America 2017 com exclusividade para você leitor e apoiador da Aquaculture Brasil. Saindo do clima tropical-temperado (22-25˚C) de Ensenada (Baja California, México) em direção ao frio (-1˚C) de Boston (Massachusetts, EUA), admito que não estou muito animado nesse sentido. Mas tudo pela nossa paixão e pela Aquaculture Brasil! Brincadeiras à parte, estou bastante animado para esse grande evento internacional. Estarão presentes acima de 1.000 empresas de mais de 40 países, clientes de mais de 112 países, e acredito que será um divisor de águas.
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Nessa 5˚ edição da Aquaculture Brasil apresentamos uma revista em evolução com um conteúdo cativante e relevante para a indústria aquícola brasileira através de artigos, colunas e seções únicas, modernas e inovadoras. Como sempre, preparamos essa edição com muito carinho, dedicação, paixão, seriedade e atenção ao nosso público crescente. A leitura desse exemplar da revista nos mostra o nível da aquicultura no Brasil e como a atividade se expande, pouco em relação ao seu potencial, mas para alcançarmos nossos objetivos é só uma questão de tempo. Estamos num ponto onde existe conhecimento, inovação, vontade, dedicação e visibilidade, entre outros pontos-chave. Nunca vi a atividade aquícola como hoje! Temos universidades e centros de pesquisa com projetos interessantes e importantes para a atividade, produtores focados, associações ativas na causa e empresas de várias áreas que contribuem nos aspectos de implementação de projetos, produção, gerenciamento, entre outros. Pode-se dizer que formamos a cara da aquicultura no Brasil. Sinto muito orgulho em fazer parte desse movimento e agradeço a todos vocês que como os da Aquaculture Brasil disponíveis para os futuros líderes da aquicultura brasileira. Quem dera tivéssemos tido essa acessibilidade nos tempos de estudante, não é? Espero que estudantes e iniciantes na área aproveitem essa oportunidade! BEM-VINDO à 5˚ edição da revista Aquaculture Brasil e ótima leitura.
Artur Nishioka Rombenso Co-Editor
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Opinião “CARNE
L
F R A C A ” : O P O R T U N I D A D E S PA R A U M P E S C A D O F O R T E ?
ogo após o lançamento da quarta edição da Aquaculture Brasil o país receberia mais uma “ducha de água fria” para sua economia: escândalos relacionados ao suposto
Agricultura, Pecuária e Abastecimento) liberando a comercialização de carnes adulteradas e/ou com qualidade duvidosa. No entanto, passados poucos dias a mídia especializada traria a tona a real situação: todo este tumulto tratava-se de mais um “papagaio de pirata”. Isso para ofuscar os holofotes e tirar o foco dos brasileiros para aquele que seria o maior escândalo da história do país envolvendo o monopólio da carne com favorecimentos e facilidades para às gigantes do setor. Infelizmente parece que funcionou. Nada mais foi dito. Eu, particularmente, como zootecnista, criado no oeste paranaense e maluco por um bom churrasco continuo e continuarei saboreando com enorme tranquilidade a carne brasileira. Sabemos que a carne nacional, na sua grande maioria, é rigorosamente inspecionada e atende aos mais altos padrões de qualidade do comendo carne?”. Claro que sim! seria este o momento de divulgar e fomentar ainda mais o consumo do pescado nacional? Será que todos os brasileiros reconhecem as qualidades e vantagens de consumir a proteína oriunda do pescado? Se sim, a quem caberia este papel? Governo ou iniciativa privada? Ambos? Quem seriam os órgãos representativos do setor que poderiam levantar essa bandeira e promover o representativo está de “mudança”. Estamos enfrentando um momento de transição com a saída da pasta da “Aquicultura e Pesca” do MAPA para o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Mesmo em meio a tantas mudanças, com certeza ainda é um bom momento de frisar o quanto é saudável consumir peixes, camarões, ostras, mexilhões, entre tantos outros. Entre as diversas qualidades, essas “carnes” trazem proteínas de altíssima qualidade e gorduras que fazem bem ao coração. Em meio a tantas emoções, com certeza devemos separar “o joio do trigo”. A alimentação do brasileiro é coisa séria e empresas que fraudam e ainda por cima denigrem a imagem do Brasil devem ser punidas. Neste sentido, faço votos de uma aquicultura fortalecida em nosso país. Um setor que por tantas vezes foi esquecido, merece sim seu lugar de destaque. “Carne fraca” nunca mais. Por um pescado nacional forte para sempre! Ótimas despescas e boa leitura!
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Co-Editor
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SUMÁRIO AQUACULTURE BRASIL
10 FOTO DO LEITOR 12 MÉTRICAS DA FANPAGE 14 A utilização de berçários e raceways em fazendas de camarão marinho Litopenaeus vannamei no Brasil II – Desinfecção e fertilização 22 “Ostra de Florianopolis”: A Indicação Geográfica que vem do mar » p.14
26 Desreguladores endócrinos: uma nova abordagem em pesquisas na aquicultura 32 Alta Tecnologia em Sistemas de Recirculação Aquícola 38 Piscicultura no Paraná: rumo as 100 mil toneladas!
» p.22
» p.26
48 Amônia e nitrito: Efeito sobre a estrutura branquial do camarão-da-amâzonia 54 Produção comercial de crocodilianos e quelônios também é aquicultura! 58 a mídia como ferramenta esclarecedora ou desorientadora: como fica a integridade do pescado após o escândalo da carne?
» p.32
» p.48
66 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR 67 CHARGES
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» p.84
» p.86
68 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 70 GREEN TECHNOLOGIES 71 empreendedorismo aquícola 72 nutrição 74 atualidades e tendências na aquicultura » p.38
76 aquicultura latino-americana 78 Recirculating aquaculture systems 79 SANIDADE 80 aQUICULTURA DE PRECISÃO 81 rANICULTURA 83 Piscicultura Marinha
» p.58
84 tECNOLOGIA DO PESCADO 86 defendeu 88 entrevista - francisco das chagas medeiros 93 novos livros 94 eles fazem a diferença
» p.54
96 espécies aquícolas 98 pescado no varejo AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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FOTO DO LEITOR Bijupirá de 3,5 kg da safra 2016/17 (Ilhéus, BA) Autor: Pedro Kerber
Avaliação de Pós Larva (Acaraú – CE) Autor: Augusto César
A certeza da continuação da espécie (Fazenda Rio Grande - Guarapari Espírito Santo Brasil) Autor: John Lenon Ribeiro
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Colheita de sangue de pacus (Piaractus mesopotamicus) Palotina, PR Autor:Willian Franco Carneiro
Alfred-Wegener-Institut – RAS Bremerhaven, Alemanha Autor: João Cunha
Amanhecer no Centro do Pescado Continental Instituto de Pesca (São José do Rio Preto - SP) Autor:Luiz Henrique C. David
Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia-a-dia e participe desta seção.
redacao@aquaculturebrasil.com AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Métricas Aquicultura dá dinheiro?
Lançamento 3° edição
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Tilápia - carro chefe da piscicultura .
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23 de Janeiro
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17 de Janeiro
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12 de Janeiro
03 de Janeiro
Criação de peixes no Brasil cresce 10% em 2016
da Fanpage Curso Online Ranicultura Módulo Básico
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Coluna: O que é – Aquicultura em Sistema de Recirculação de Água?
31.964 Pessoas alcançadas 240 comentários 150 compartilhamentos 827 curtidas 30 amei 273 haha
Piscicultor nutella!
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20.569 Pessoas alcançadas 32 comentários 137 compartilhamentos 841 curtidas 17 amei 04 uau
34.726 Pessoas alcançadas 19 comentários 258 compartilhamentos 1.302 curtidas 09 amei 11 uau
25 de Fevereiro
13.321 Pessoas alcançadas 25 comentários 58 compartilhamentos 546 curtidas 4 amei 6 uau
15 de Fevereiro
11 de Fevereiro
63.262 Pessoas alcançadas 107 comentários 544 compartilhamentos 1.946 curtidas 35 amei 11 uau
10 de Fevereiro
08 de Fevereiro
Anuário Peixe BR 2016
“Sambando” nesse carnaval
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A utilização de berçários e raceways em fazendas de camarão marinho Litopenaeus vannamei no Brasil II – Desinfecção e fertilização Bruno Ricardo Scopel Eco Marine Aquicultura Phibro Aqua Int. scopel@ecomarinebr.com
Anízio Neto da Silva
Aquacultura Integrada Ltda anizio@aquaculturaintegrada.com.br
Em nosso primeiro artigo sobre o tema, publicado na 4ª edição da Revista Aquaculture Brasil (jan/ fev-2017), abordamos questões gerais do histórico do uso dos berçários e raceways no Brasil, as diferentes estruturas que estão atualmente sendo utilizadas e as vantagens da implementação de sistemas bifásicos e
raceways em alta densidade ainda são escassos. Desta forma, pretendemos contribuir com informações técnicas importantes para a operação destas estruturas através de revisões de conceitos básicos e experiências práticas adquiridas nos últimos anos no Brasil.
Desinfecção da Água de Cultivo Como em qualquer cultivo, o tratamento da água pré-povoamento tem uma elevada importância, principalmente na situação de brotes de doenças nas fazendas, onde deseja-se excluir por completo, ou ao máximo, os microrganismos patogênicos e seus vetores, como forma de biosseguridade. Assim, uma das vande sedimentação e oxigenação, podem auxiliar como primeiro tratamento da água, eliminando boa parte de
muito forte sobre os microrganismos, principalmente quando o ambiente estiver seco (quando o tanque estiver vazio). Equipamentos de UV, muito utilizados para tratamento de água em larviculturas e hatcheries também podem ser implementados em sistemas de berçários nas fazendas, porém ainda não são equipamentos usuais nestes empreendimentos, principalmente devido ao preço de instalação quando necessita-se tratar grandes volumes de água.
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Artigo
© Cacau Studio
Tratamentos químicos da água são muito comuns na aquicultura, entre eles destacam-se (Boyd & Tucker, 1998; Aldays-Sanz, 2010): · Hipoclorito de cálcio; · Hipoclorito de sódio; · Óxido de cálcio (cal virgem); · Hidróxido de cálcio (cal hidratada); · Amônia quaternária; · Gás ozônio; · Ácido fórmico; · Formalina; · Iodo; · Alguns tipos comerciais de crustacidas.
Em cultivos de camarão o hipoclorito de cálcio (65%) é o desinfetante mais comum. De forma geral se utiliza 10 ppm de cloro livre para a eliminação de bactérias e a maior parte de vetores, e 30 ppm de cloro livre para a eliminação de vírus, entretanto a utilização do cloro como desinfetante necessita de atenção em alguns pontos. maneira a aplicação de cloro deve ser sempre feita antes do povoamento e com total segurança que não haverá cloro residual na água. O cloro é um radical que perde elétrons e começa a oxidar-se, ou seja, é um agente re dutor. Em reação com a água forma um ácido forte (ácido clorídrico) e um ácido fraco (ácido hipocloroso ou HClO). O ácido hipocloroso (HClO) é o agente desinfetante e tem relativa facilidade em penetrar na parede dependendo do seu valor facilita a dissociação do ácido hipocloroso (HClO) nos íons H + e OCl -, entretanto, o OCl cloro residual livre oxida a matéria orgânica presente na água, perdendo seu poder de desinfecção, assim como o cloro residual em reação com a amônia formam as chamadas cloraminas, as quais são altamente tóxicas aos animais cultivados. Resumidamente, quanto maior a quantidade de matéria orgânica na água, mais elevada a temperatura e maior o pH da água, menor o poder desinfetante do cloro, necessitando aplicações mais elevadas do produto 2001; Aldays-Sanz, 2010).
Fertilização e Startup da água Depois de cumprido todos os procedimentos de esterilização da água, deve-se dar início à fertilização, uma vez que comprovadamente águas ricas em produtividade natural, microalgas e zooplâncton, são mais adequadas ao crescimento de pós-larvas de camarão. Águas de abastecimen to já fertilizadas (sem esterilização) ou com uso de inóculo de uma água utilizada em cultivo anterior, necessitaram menos ou nenhum tipo de fertilização inicial. O conceito básico de fertilização é a aplicação de compostos inorgânicos à base principalmente de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) para promover o crescimen to de algas e de compostos orgânicos a base principalmente de carbono (C) e nitrogênio (N). Entretanto, todos os micror ganismos necessitam de outros macro elementos, como por exemplo magnésio (Mg), potássio (K), enxofre (S), sódio (Na),
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Resumidamente, quanto maior a quantidade de matéria orgânica na água, mais elevada a temperatura e maior o pH da água, menor o poder desinfetante do cloro, necessitando aplicações mais elevadas do produto para que sua eficiência na eliminação de patógenas seja satisfatória.
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© Bruno Scopel
cálcio (Ca), cloreto (Cl) e microelementos como ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn) etc. Estes elementos de forma geral estarão em quantidades águas com maiores salinidades. Muitos produ tores utilizam materiais à base de sílica (Si) para promover microalgas diatomáceas. Uma fertilização adequada deve ser ini ciada entre 4 a 10 dias antes do povoamento, de pendendo das condições da água e do ambiente de cultivo, até que se atinja o bloom de microal gas desejado. Fatores como incidência luminosa, temperatura, pluviosidade, concentração total de nutrientes, biomassa estocada e tipo de fertili zante irão impactar fortemente na qualidade da fertilização inicial. Uma água está pronta para o bidez da água estiver composta basicamente por microalgas e zôoplancton, uma vez que compostos inorgâni cos argilosos podem interferir na leitura da transparência. Um microscópio pode ser usado para se ter uma melhor segurança no que está compondo a turbidez da água.
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sistema, em qualquer tipo de cultivo, salvo em sistemas realizados sem luz, o que inibe a fotossíntese. O cresci mento de microalgas pertencentes aos grupos Clorophyta e Chrysophyta (diatomáceas) na água no início dos
sistemas intensivos e superintensivos com baixa troca de água, há uma tendência das bactérias predominarem ano. Essa dinâmica microbiológica é de fato muito importante para a manutenção de qualidade de água e está fortemente relacionada com a fertilização inicial e controle dos parâmetros físicos e químicos da água.
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A visualização do efeito dos fertilizantes sobre a água e a experiência do técnico que está operando o sistema ajudarão no refinamento das práticas de fertilização, assim como a criação de protocolos específicos para cada condição.
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Quantidade de fertilizantes na aplicação
© Bruno Scopel
A quantidade de fertilizantes utilizada em tanques berçári os e viveiros de camarão não pode ser padronizada como “receita de dade de água reagirá de uma forma diferente. Concentrações altas de cálcio causarão precipitação do fósforo, inibindo seu poder de fertilização, assim como águas com baixa alcalinidade (< 80mg/L CaCO3) serão mais limitadoras na ação dos fertili zantes. Desta maneira, a visualização do efeito dos fertilizantes sobre a água e a experiência do técnico que está namento das práticas de fertilização, assim como a criação de protocolos Organismos marinhos têm uma relação 106:16:1 de carbono, nitrogênio e fósforo, respectivamente. Relações N:P (Nitrogênio:Fósforo) para promover bloom de microalgas têm sido relatadas por diferentes es pecialistas entre 2:1 até 16:1, depen dendo de quanto a água já disponibi liza destes nutrientes e o quanto eles farão o efeito desejado na água. As frequências de aplicação variam de 1 vez por semana até a cada 2-3 dias. As relações de C:N utilizadas para a promoção e bactérias variam de 6:1 até 20:1. Melaço de cana contém cer ca de 0,3 kg (30%) de carbono/kg de melaço e suas aplicações normal mente são acompanhadas do pro bióticos. Quantidades de 10-50g/ m 3 de melaço têm sido utilizadas para fertilização inicial. As frequências podem ser 1-2x/semana ou diárias até o povoamento. Dependendo do tempo disponível para as fertilizações. Ressaltando que aplicações elevadas de melaço reduzem consideravelmente as concentrações de oxigênio e aumentam a quantidade de matéria orgânica na água.
Conclusão Os protocolos de tratamento e fertilização para berçários e raceways são variados e são ajustados conforme cada situação, tipo de cultivo, tempo disponível para a fertilização e a qualidade de água presente. As recomendações descritas neste artigo podem servir de base para que cada operador do sistema de cultivo faça sua “receita de bolo” conforme a observação de resultados e experiência prática.
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Artigo Artigo
© EPAGRI © Zaira Matheus
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O. insularis Fernando de Noronha AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
“Ostra de
Florianopolis”: A Indicação Geográfica que vem do mar Alex Alves dos Santos
Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca – CEDAP Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI alex@epagri.sc.gov.br
Introdução A ostreicultura cataforço resultou em um salto na da Propriedade Industrial rinense tornou-se, ao longo produção e comercialização 9.279/1996”, dando ao Instidos seus 27 anos de existênestadual que, de 762 t em 2000 tuto Nacional da Propriedade cia, uma importante atividade culminou em um recorde de Industrial (INPI) a competêneconômica e promotora do 3.670 t em 2014, gerando uma cia para ordenar o registro desenvolvimento sustentável das IGs no Brasil. Tal lei condas comunidades tradicionais ta de 27,6 milhões de reais sidera duas modalidades de litorâneas. Nos dias de hoje, a para 129 produtores. ostra catarinense é conhecida Contudo, durante cação de Procedência” (IP) e e reconhecida em todo teresse período de ascensão da a “Denominação de Origem” ritório nacional, onde atingiu cadeia produtiva, tais marcas (DO). A IP vincula um proum status de grife com as mar- passaram a ser utilizadas in- duto ao seu local de produção, cas “Ostras de Florianópolis” devidamente por outros esde extração, de fabricação e/ou “Ostras de Santa Catari- tados, que comercializavam ou prestação de determinana”, sinônimas de qualidade e suas ostras dizendo serem, do serviço. A DO é conferide iguaria com sabor diferen- equivocadamente, originárias da a produtos ou serviços ciado. de Santa Catarina, em virtude cujas características podem Estas marcas surgida grande aceitação pelo pú- ser atribuídas a sua origem ram “espontaneamente” entre blico consumidor. o público consumidor, sem o Frente a isso e, aliado Dessa forma, o muacompanhamento de nenhum à percepção de que a proteção nicípio de Florianópolis trabalho de marketing especializado. Foram muitos os uma importantíssima alavanpasso além, ou seja, ao invés ca de desenvolvimento do de obter apenas um Selo de dade, tais como a legalização Agronegócio, ou melhor, do IP, poderia evoluir para um das fazendas marinhas por Aquanegócio de Florianópomeio do ordenamento dos lis, estudos foram realizados ca de Denominação de Oriparques aquícolas municipais, entre os anos de 2003 a 2007 gem (DO), em função das o monitoramento ambiental para candidatar a marca “Osdos mesmos, a mecanização tra de Florianópolis” a um prodos processos produtivos, a cesso de obtenção de um selo vo das ostras (Baía Sul e Baía formalização do comércio e o Norte), que supostamente, Os selos de IG foram investimento em marketing, conferem características únidentre outros. Todo esse es- instituídos através da “Lei cas ao molusco. AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Mas para isso, seria necessário comprovar essa diferenciação da “Ostra de Florianópolis” em relação àquelas produzidas para a agregação de valor a esses produtos, tornando o negócio mais competitivo, com maior visibilidade e lucratividade aos atores envolvidos. e de sabor da “Ostra de Florianópolis” e compará-las com outras regiões produtoras, um estudo vem sendo conduzido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) desde 2015 com ostras originárias de 8 localidades de Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro. As características das ostras oriundas das diversas regiões foram investigadas por meio das seguintes análises:
1. Sensorial
Avaliação das amostras através dos parâmetros: Aspecto, cor, aroma, sabor e umidade.
O município de Florianópolis verificou que poderia dar um passo além, ou seja, ao invés de obter apenas um Selo de IP, poderia evoluir para um selo de Indicação Geográfica de Denominação de Origem (DO), em função das condições oceanográficas específicas do local de cultivo das ostras (Baía Sul e Baía Norte), que supostamente, conferem características únicas ao molusco.
© SENAC
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2. Bromatológica Minerais (Potássio, Cálcio, Selênio, Zinco e Magnésio); Contaminantes inorgânicos (Arsênio, Cádmio, Chumbo, Mercúrio, Estanho). © MAPA
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3. Microbiológica
Avaliação das amostras através dos parâmetros: Salmonella sp. Coliformes 45º C (indicadores de contaminação fecal em alimentos). As amostragens foram conduzidas de maio de 2015 a maio de 2016, com 5 coletas realizadas para cada estação do ano (primavera, verão, outono e inverno), totalizando 20 episódios de coleta nas 8 localidades, gerando 26.581 dados que estão sendo analisados. A proposta deste mente, as características exclusivas da Ostra de Florianópolis, como pré-requisito indispensável de Denominação de Origem, constituindo-se, no primeiro do gênero no Brasil para um organismo aquático. Mas, além disso, as ostras originárias de
© MAPA
4. Índice de Condição (IC)
Avaliação das amostras através da relação carne X concha das ostras.
do ano. Isso permitirá, por exemplo, estabelecer quais as melhores épocas para consumir as ostras dessas regiões, ou seja, quando elas se encontram consumo, com altos teores de glicogênio. O glicogênio é o material de reserva das ostras e o seu teor aumenta quando as células sexuais atingem a maturação, momento da expressão máxima de seu sabor, ideal para o consumo e para o comércio. Essas, dentre outras questões, poderão ser consideradas em uma fase comercial, fortalecendo a cadeia produtiva de ostras no Brasil, onde os consumidores, cada vez mais exigentes, procuram por produtos de qualidade, que ofereçam segurança alimentar e que despertam o prazer sensorial em seu consumo.
© EPAGRI
5. Estágio Gonadal de Maturação gônadas.
Fotos: © Escritório do mar
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Artigo
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Desreguladores endócrinos: uma nova abordagem em pesquisas na aquicultura
Oscar Pacheco Departamento de Engenharia de Pesca Universidade Federal do Ceará passosneto.op@hotmail.com
André Bezerra dos Santos PhD em Environmental Sciences pela Wageningen University, Holanda. Professor Associado do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC
Franscisco Suetônio Bastos Mota Doutor em Saúde Ambiental. Professor Titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental
Introdução lizadas para caracterizar desreguladores endócrinos. Os conceitos têm evoluído ao longo do tempo na medida em que novas descobertas são feitas acerca de suas origens e das ações que desem penham nos organismos que afetam. Segundo a United States Envi ronmental Protection Agency (US EPA, 1998), desreguladores endócrinos são agentes exógenos que interferem com a síntese, a secreção, o transporte, a ligação, a ação ou a eliminação de hormônios naturalmente produzidos pelo indivíduo.
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Interfere no funcionamento natural do sistema endócrino de espécies animais, incluindo os seres hu manos. (WHO, 2002; Birkett & Lester, 2003; Bila & Dezotti, 2007; Ghiselli & Jardim, 2007).
Na literatura internacional, es sas substâncias são denominadas de endocrine disruptors (ED), endocrine dis rupting compounds or chemicals (EDC) ou ainda exogenous endocrine-active chemicals (EAC) (Birkett & Lester, 2003; Ghiselli & Jardim, 2007; Vadja et al., 2011). A tradução para a língua pordesreguladores endócrinos com base nos tuguesa tem gerado algumas denomi seus efeitos, pois são substâncias quími- nações diferentes e ainda não padronizacas que, mesmo presentes em concen - das, uma vez que há poucos grupos de -1 , ng pesquisadores brasileiros trabalhando L-1), são capazes de interferir no funcio - com essa temática (Ghiselli & Jardim, 2007). Podem ser encontradas denomi namento natural do sistema endócrino, causando câncer, prejudicando os siste - nações como disruptores endócrinos (Silva et al., 2005), desreguladores endócrimas reprodutivos e provocando outros nos (Bila & Dezotti, 2007), interferentes efeitos adversos (Phillips & Harrison, 1999; Lintelmann et al., 2003; Ghiselli & endócrinos (Ghiselli & Jardim, 2007) e estrogênios ambientais (Baird, 2002). Jardim, 2007). Por fazer parte de um grupo de compostos coletivamente conhecidos que se possa apresentar, podem-se ob como poluentes emergentes, os desreguservar alguns pontos em comum: ladores endócrinos ainda são pouco es Trata-se de uma substância quími - tudados e suas ações sinérgicas no meio ambiente são totalmente desconhecidas ca exógena; Está presente em concentrações ex- para a maioria dos compostos (Niemuth & Klaper, 2015). tremamente baixas;
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Breve histórico das pesquisas com desreguladores endócrinos Os primeiros indícios de que substâncias com potencial de desreguladores endócrinos afetavam a vida
femininas, indivíduos de ambos os sexos observação de características femininas em espécimes com desenmacho de aves que colonizam a região dos Grandes La- volvimento gogos que ocupam parte do território dos Estados Uninadal atrasado, redução da quantidade de esperma e dos e do Canadá (Reis Filho et al., 2006). Desde enelevação dos níveis de vitelogenina no plasma sanguíneo tão pesquisadores ao redor do mundo têm observado em peixes machos, além de outras anomalias em testícuefeitos semelhantes em outros tipos de animais como los e ovários. Estes pesquisadores informam ainda que crocodilianos e peixes (SETAC, 2000; Jobling et al., 1998; a diferenciação sexual por desreguladores endócrinos Mills & Chichester, 2005; Woodling et al., 2006). pode contribuir para um menor número de indivíduos Peixes com gônadas intersexo têm sido obsermachos de peixes a jusante de uma ETE. vados em amostras coletadas a jusante do ponto de descarga de estação de tratamento de esgoto (ETE) em dimado a ação feminilizante ou redução do desenvolviversas regiões do mundo, incluindo Itália (Viganò et al., mento testicular em diversas espécies de peixes desde 2001), Estados Unidos (Woodling et al., 2006) e Canadá meados da década de 1990, como por exemplo, Oncorhynchus mykiis (Jobling et al., 1996), Oryzias latipes (Tetreault et al., 2011). (Patyna et al., 1999), Carassius auratus (Bjerselius et al., Woodling et al. (2006) e Vadja et al. (2011), 2001), Poecilia reticulata (Kinnbergi et al., 2003) ePimeobjetivando avaliar os efeitos de desreguladores endócrinos em peixes da espécie Catostomus commersoni , phales promelas (Niemuth & Klaper, 2015). nativos de rios do Estado do Colorado, Estados Unidos, divíduos com gônadas intersexo, Lange et al. (2001), coletados a jusante do ponto de descarga de uma ETE. encontraram malformações severas em Pimephales promelas expostos a baixas concentrações de 17 α-etiEram principalmente indivíduos machos com gônadas apresentando desenvolvimento de células germinativas nilestradiol (16 e 64 ng L -1) durante seu ciclo de vida.
Classificação e mecanismos de ação dos desreguladores endócrinos Os desreguladores endócrinos podem ser classintéticos (Bila & Dezotti, 2007) ou quanto a sua ação biológica em agonistas e antagonistas (Ghiselli & Jardim, 2007). A ação de um determinado hormônio inicia-se interior da célula. O complexo resultante ativa regiões (Ghiselli & Jardim, 2007). A alteração no sistema endócrino ocorre quando o desregulador interage com os reA ação agonista ocorre quando um composto químico se liga ao receptor hormonal e produz uma resposta, atuando então como um mimetizador, ou seja, imita a ação do hormônio. A ação antagonista, por outro lado, ocorre quando a substância química exógena se liga ao receptor, mas não produz qualquer resposta, neste caso ela age como um bloqueador, ou seja, impede a interação entre o hormônio natural e seu respectivo receptor (Baird, 2002; Lintelmann et al., 2003; Ghiselli & Jardim, 2007). A Figura 1 representa de forma esquemática os mecanismos de alteração no organismo pela ação de desreguladores endócrinos. Muitos desreguladores endócrinos competem com o estradiol (hormônio sexual feminino produzi-
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Por fazer parte de um grupo de compostos coletivamente conhecidos como poluentes emergentes, os desreguladores endócrinos ainda são pouco estudados e suas ações sinérgicas no meio ambiente são totalmente desconhecidas para a maioria dos compostos.
do naturalmente pelo organismo) pelos receptores de estrogênio, enquanto outros competem com a diidrotestosterona (hormônio sexual masculino produzido naturalmente pelo organismo) pelos receptores de androgênio. Portanto, estas substâncias exercem efeitos de feminilização (desreguladores endócrinos de ação estrogênica) ou de masculinização (desreguladores endócrinos de ação androgênicas) sobre o sistema endócrino (Birkett & Lester, 2003; Lintelmann et al., 2003).
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Fonte: Adaptado de Ghiselli & Jardim (2007).
Figura 1. Alterações no sistema endócrino pela ação de desreguladores endócrinos: a) Resposta natural, b) Efeito agonista, c) Efeito antagonista.
Principais fontes de desreguladores endócrinos
Uma das principais fontes de desreguladores endócrinos, principalmente substâncias estrogênicas, no ambiente aquático, são os efluentes de águas residuárias municipais (Sowers et al., 2009).
Tanto os desreguladores endócrinos como outras classes de poluentes ambientais apresentam uma variedade de fontes que podem ser agrupadas em dois grandes grupos: pontuais e não pontuais (ou difusas). As fontes pontuais apresentam um ponto de entrada bem caracterizado no meio ambiente, geralmente por meio
Em países europeus foi
não pontuais (Birkett & Lester, 2003). Essas substâncias são encontradas nas águas
ETE (Desbrow et al., 1998; Jobling et al., 1998; Rodgers-Gray et al., 2001). Os estrogênios estrona, 17 β-estradiol e 17 α-etinilestradiol são continua e diariamente lançados no esgoto, não sendo completamente removidos nas ETE pelos métodos tradicionais de tratamento, recebendo, assim, uma atenção especial. Desta forma, podem
estrogênios naturais (17 β-estradiol e estrona) e sintéticos (17 entes industriais e esgotos domésticos (Birkett & Lester, α-etinilestradiol) 2003). são responsáveis pela maior parte tes que não apresentam um ponto de entrada bem carac- da atividade esterizado no meio ambiente. As deposições atmosféricas e trogênica detecta-
e lodo biológico das ETE e água potável. São continuamente introduzidas no meio ambiente em concentrações detectáveis e podem afetar a qualidade da água, a saúde dos ecossistemas e, potencialmente, impactar o suprimento de água potável (Bila & Dezotti, 2007). Uma das principais fontes de desreguladores endócrinos, principalmente substâncias estrogênicas, no municipais (Sowers et al., 2009), tendo sido demonstra-
utilizadas como suprimento de água potável (Bila & Dezotti, 2007). sas substâncias químicas com potencial de desregulador
mensuráveis produtos farmacêuticos, produtos para Região Metropolitana de Fortaleza (CE). Dentre estas cuidados pessoais e hormônios naturais e sintéticos, to- substâncias merecem destaque o 17 β-estradiol (E2), a dos potenciais desreguladores endócrinos (Nakada et al., estrona (E1) e o 17 α-etinilestradiol (EE2). 2004, 2006; Snyder, 2008). AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Pesquisas em andamento Em um esforço conjunto entre o Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (DEHA) e o Departamento de Engenharia de Pesca (DEP), ambos da Universidade Federal do Ceará (UFC), pesquisadores estão investigando o efeito da ação do 17 β-estradiol (E2) e do 17 α-etinilestradiol (EE2) em espécies de peixes que são comumente encontradas em corpos hídricos na Região Metropolitana de Fortaleza. A pesquisa consiste em expor os indivíduos durante o período de diferenciação sexual a concentrações
-1 controladas de E2 e EE2 da ordem de ng L-1 . Como resultados preliminares, os pesquisadores encontraram que concentrações da ordem de 250; 500 e 1.000 ng L-1 de ambos os hormônios foram capazes de induzir o desenvolvimento de gônadas intersexo (Figura
tuabilidade em pós larvas de tilápia do Nilo expostas a estes desreguladores endócrinos durante os primeiros 28 dias de vida. Deformações na região da cabeça e ventre retraído foram as condições mais observadas (Figura 3).
Figura 2. Oreochromis niloticus ) submetidos a diferentes concentrações hormonais, 17 β-estradiol e 17 α-etinilestradiol, durante os primeiros dias de vida. Testículo (A), ovário (B) e intersexo (C).
Figura 3. Principal tipo de deformação encontra em juvenis de tilápia do Nilo ( Oreochromis niloticus ) submetidos a diferentes concentrações hormonais, 17 β-estradiol e 17 α-etinilestradiol, durante os primeiros dias de vida.
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Alta Tecnologia em Sistemas de Recirculação Aquícola Katt Regina Lapa Departamento de Aquicultura Universidade Federal de Santa Catarina kr.lapa@gmail.com se trata de cultivos aquícoQ uando las em sistemas fechados de recir-
na aquicultura e que atrai a atenção de capital de risco considerável. Atenta a culação de água sabemos que a este setor, a Pentair Aquatic Eco-System imaginação humana projeta e executa vem oferecendo workshops projetados diferentes composições de unidades de para amplo público, desde produtores cultivo com tratamento de água para inexperientes em RAS que desejam reuso. A tecnologia conhecida como conhecer, estudar e implementar essas Sistemas de Recirculação Aquícola unidades de cultivo modernas em suas (chamada de RAS –Recirculating Aqua- fazendas, até pesquisadores interesculture Systems) promove o recondi- sados em interagir com a indústria da cionamento da água para que a mesma recirculação aquícola. Pensando nisso e permaneça nas unidades de cultivo por na reciclagem de conhecimentos eu fui tempo determinado ou mesmo inde - conferir de perto um desses workshops. terminado. Este é o setor mais recente
Detalhes do workshop Em março deste ano estive em Apopka (Florida – EUA), no centro de pesquisa e treinamento da PAES W.A.T.E.R. (Pentair Aquatic Eco-Systems World Aquaculture Technology, Engineering and Research). Durante quase uma semana tive aulas teóricas e práticas neste recém construído espaço para demonstração e investigação em RAS, que conta com instalações modernas dotadas de equipamentos de ponta para tratamento de água doce e salgada de forma 100% automatizada. O espaço
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oferece ao participante a oportunidade de ver os sistemas em operação com todos os componentes e métodos utilizados em projetos de RAS. Quem ministrou o curso foi o Dr. Raul H. Piedrahita, professor emérito do Departamento de Engenharia Biológica e Agrícola da Universidade da Califórnia. Dr. Piedrahita tem ampla trajetória na área de engenharia de aquicultura, no qual trabalhou duran te mais de 40 anos com tratamento de água para aquicultura, especialmente AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
© Pentair
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com controle de sólidos, hidrodinâmica de sistemas aquícolas e desenvolvimento de modelos matemáticos destas unidades de tratamento. Além disso, ele é membro fundador e ex-presidente da Aquacultural Engineering Society. Poder estar presente em sala de aula com um mestre como ele é sem dúvida uma grande experiência MSc. Dennis DeLong, biólogo e gerente de serviço ao cliente da Pentair Aquatic Eco-Systems. Sua vasta experiência já lhe permitiu projetar, construir e operar diversas instalações de RAS. Atualmente ele coordena os cursos e workshops oferecidos nesta unidade de treinamento. Todo o material utilizado no curso foi produzido por eles com a participação intensa do chefe de engenharia da Pentair Aquatic Eco-Systems pesquisador muito experiente, com mais de 40 anos de © Katt Regina Lapa Figura 1. Unidades de bombeamento da planta piloto da Pentair.
© Katt Regina Lapa
© Katt Regina Lapa
Figura 2. Fachada daPentair e a pesquisadora Katt Regina Lapa da UFSC.
Figura 3. Participantes do curso visualizando na prática um material suporte do leito móvel.
Conteúdo ministrado Durante o curso foram vistos diversos temas como: Razões para uso de tecnologias de recirculação aquícola; A falta de água em quantidade e qualidade para a produção; Considerações críticas a se observar antes de projetar um RAS; Impacto do alimento sobre o crescimento e metabolismo do animal e na qualidade de água; Hidráulica dos tanques, geração e remoção de sólidos e nutrientes, consumo de oxigênio e controle de enfermidades; Dimensionamento de RAS baseado em balanço de massa com incorporação de oxigênio, aquecimento ou esfriamento da água, remoção de amônia, CO ; 2 Manejo do RAS com automação em diversos pontos do sistema como a variação da vazão de recirculação, medição continua de parâmetros de qualidade de água e alimentadores automáticos ultramodernos; E ainda considerações econômicas sobre custos de investimento.
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Todo o conteúdo teórico pôde ser observado na prática na unidade experimental. Para cada capítulo ministrado, os alunos eram levados as instalações para entrar em contato com os equipamentos, manejá-los e observar na prática seu funcionamento. O que vi nesses dias foram instalações modelos de RAS para todos os tipos, como pequenas unidades de produção até grandes tanques com capacidade de cultivo ainda não encontrados aqui no Brasil. As instalações são ultramodernas e construídas de modo impecável para realmente impressionar o espectador. Confesso que sou crítica e não consegui achar problema algum nos dias que estive por lá. Tudo instalado de modo simétrico, limpo, organizado e em perfeito funcionamento. Projetado e executado para impressionar.
Dicas importantes
© Katt Regina Lapa
Foi possível constatar a importância em dimensionar os sistemas de tratamento de água de modo a suportar a carga de de vazão de recirculação para possíveis ajustes no manejo. Isto é obtido com uso de conjuntos motobombas com inversores de frequência acoplados, no qual o operador ajusta rapidamente a vazão de recirculação que deseja operar... Uma maravilha! Também foi destacado a necessiFigura 4. Filtro de tambor rotativo e skimmer vistos durante o workshop.
ciente e em quantidade adequada para o
vantajosa para grandes adensamentos. Os sistemas de backups também são de suma importância. Além do gerador de oxigênio, a unidade piloto possuía os cilindros de oxigênio puro e os sopradores de ar. Sendo este a última opção em caso de falha dos dois primeiros. Outro destaque do curso foi para o sistema de remoção de sólidos. Primeiro que o projeto do tanque rápido possível ao centro do tanque. Os tanques de cultivo possuem sistemas de dupla drenagem (Figura 5). Um para captura do material que se deposita no fundo do tanque (sólidos sedimentáveis) e outro para capturar as partículas em suspensão na água. Para isto, cada tanque tem instalado um sedimentador de pequeno diâmetro tempo de detenção hidráulica tal que favoreça a sedimentação da maior parte dos sólidos em suspensão. Isto quentes.
A
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B
Figura 5. Sistema de dupla drenagem dos tanques de cultivo. A: Vista geral; B: Vista interna.
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tos motobomba e o avanço nas pesquisas e desenvolvimaterial suporte para adesão microbiana de pequeno
leito móvel passaram a ser competitivos e estes devem ser considerados em novos projetos de RAS. A PAES W.A.T.E.R. está aberta à visitação e vorecido a conversão de altas concentrações de amônia ao desenvolvimento de projetos inovadores em RAS. nos cultivos de grande densidade de peixes, principal- Pelo que pude perceber eles criaram um modelo de mente de tilápias. Até pouco tempo atrás, projetava-se informação de ponta aos produtores através dos treinamentos e vendas de produtos e equipamentos. to, pois estes não necessitavam de aeração extra para Para aqueles que desejam fazer o curso sugiro que seu funcionamento adequado. Acontece que, para ga- naveguem antes pelo site criado para visitação virtual chamado www.paeswater.com. Nele é possível o recalque da água para níveis tais que o incremento conhecer e ler sobre tudo que está instalado na unidade de demonstração. cativo. Agora com o avanço da tecnologia dos conjun-
Visitas O curso incorporou várias visitas ao laboratório de investigação e demonstração de RAS. Esta instalação forneceu aos participantes a oportunidade de ver os sistemas operacionais, equipamentos, produtos e métodos utilizados pela empresa. Foi uma reciclagem de conhecimento incrível, uma oportunidade de estar
Conclusão
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O Brasil está despertando para o reuso da água em cultivo aquícola, seja pela escassez ou pela qualidade de água disponível. Os laboratóridiversas universidades do país estão investindo em unidades de pesquisa com Sistemas de Recirculação Aquícola e ensinando seus alunos sobre essas novas tecnologias e as diversas formas de lidar com a água, promovendo o desenvolvimento da aquicultura. Penso que é questão de tempo, informação e desenvolvimento de equipamentos de custo acessível para que tenhamos RAS instalados comercialmente e em operação
Figura 6. A professora Katt Regina Lapa, do Departamento de Aquicultura da UFSC, recebendo workshop das mãos do Dr. Raul H. Piedrahita (à esquerda) e Dennis DeLong (à direita).
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ras brasileiras.
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P iscicu ltura no Par aná: rumo as 100 mil toneladas!
Jéssica Brol Diego Molinari AQUACULTURE BRASIL www.aquaculturebrasil.com jessica@aquaculturebrasil.com
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Introdu ção O Brasil produziu no ano de 2016 cerca de 640 mil toneladas de peixes de água doce, um crescimento pouco expressivo, menor que 0,5% em relação ao ano anterior (Peixe BR, 2017). Em parte, esse crescimento foi freado pela atual situação econômica do país, que ainda vive momentos de recessão. Por outro lado, houve também a falta de água em grandes reservatórios responsáveis por volumes expressivos de tilápia produzidas em tanques-rede.
Apesar das adversidades no País, a produção de peixes no Paraná despontou com um dos melhores desempenhos entre os estados, obtendo crescimento de 17% em relação à 2015, atingindo 93.630 mil toneladas de peixes produzidos, segundo dados da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR). Mas, de onde vem toda essa força? Como está organizada a produção? A Aquaculture Brasil foi até o Paraná conferir e traz informações com exclusividade para você!
Evolução da produção total de peixes e a participação da tilápia na produção total. (Adaptado de Emater, 2017).
P olos parana enses d e produ ção A produção cresce em todo o Estado, porém de forma mais intensa em dois grandes polos de produção: Norte e Oeste do estado. O polo situado no Norte é constituído por 65 municípios divididos em três regiões de atuação da Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural): Londrina, Cornélio Procópio e Santo Antônio da Platina. Em 2015 esta região foi responsável por 14% da produção, o equivalente a 11.599,7 toneladas de peixes, sendo que destes, a tilápia foi a espécie mais produzida, representando 82% do total. O sistema de produção é predominantemente realizado em tanques-rede, comumente com volume de 6 m³, nas represas do rio Paranapanema. A produtividade média chega a 100 kg/m³ e o percentual de crescimento produtivo da região foi de 11% quando comparado a 2014 (Emater, 2016). O polo situado no Oeste abrange 48 municípios, que pertencem às regiões de Toledo e Cascavel. No ano de 2015, a produção cresceu 21% em
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relação ao ano anterior, gerando um volume de 55.598 toneladas de peixes produzidos, dos quais, 96% foi tilápia. Esse volume total representou 69% da produção paranaense de peixes daquele ano. Os cultivos nesta região são todos realizados em viveiros escavados e contam atualmente com alto nível de geradores, quanto no arraçoamento que é mecanizado em muitas propriedades, principalmente de médio e grande porte. De acordo com o extensionista da Emater, César Ziliotto, para a realidade da região, são consideradas pisciculturas de grande porte aquelas com área superior a 5,0 hectares de lâmina de água, médias propriedades aquelas com área entre 1,0 a 5,0 ha e pequenas propriedades áreas inferiores a 1,0 ha de lâmina de água. Estima-se que atualmente os grandes, médios e pequenos piscicultores da região se enquadram nessas categorias em um percentual de 3,0%, 45%, e 52% respectivamente.
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Entre os municípios com maior produção de tilápia, destacam-se Maripá, Assis Chateaubriand e Nova Aurora, todos estes localizados no polo Oeste. Maripá é um dos municípios com a maior produtividade em tanques escavados do Paraná e possivelmente a maior produtividade do Brasil. No ano de 2016, este município de pouco mais de 5 mil habitantes obteve uma produtividade média de 54,2 t/ha/ano, realizada por 94 piscicultores, em uma área de 133 ha de lâmina d’água. Segundo dados do Instituto Emater, do município de Maripá, a produtividade vem crescendo e mais do que dobrou nos últimos 10 anos. Ainda, cerca de 90% das propriedades do município são licenciadas. A atividade da piscicultura gerou para o Estado do Paraná em 2014 um valor bruto de produção de quase meio bilhão de reais, mais precisamente, R$ 425,6 milhões, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural do Paraná. Somente o núcleo da região de Toledo, que abrange 20 municípios do Oeste, correspondeu por 33% desse valor. Já consolidado em outros segmentos da região, como na produção de Maripá é um dos muaves e suínos, o nicípios com a maior sistema de inprodutividade em tantegração com ques escavados do as cooperaParaná e possivelmente tivas é um dos a maior produtividade do pontos fortes do Brasil. No ano de 2016, Oeste. Segundo o este município de pouco extensionista da mais de 5 mil habitantes Emater, existem obteve uma produtividade na região duas média de 54,2 t/ha/ano, cooperativas que realizada por 94 pisciculem uma área de 133 trabalham com tores, ha de lâmina esse modelo, uma d’água. delas com sistema de integração total na piscicultura (Copacol) e outra (Copisces) com sistema de integração parcial. Juntas, abrangem aproximadamente 20% do total dos piscicultores, sendo a Copacol com o maior número de integrados. Para 2017 mais uma cooperativa irá adotar o modelo de integração total (C.Vale), e nos próximos 3 a 5 anos deverá abranger outros 15 a 20% dos produtores. No sistema integrado total a cooperativa for-
© Daniel Fuziki
Figura 1. Tanque-rede na bacia do rio Paranapanema. © Aquaculture Brasil
Figura 2. Arraçoamento em viveiro de tilápia com alimentador automático. © Aquaculture Brasil
cultivo recolhe os peixes para destinar ao abate. Por sua vez, o produtor fornece estrutura e mão-de-obra para manutenção do cultivo. A remuneração ao piscicultor é baseada na produtividade, e este tem uma margem de lucro sobre o quilo de tilápia. Figura 3. Viveiros na propriedade do Sr. Ilídio Dalbosco – Toledo-PR.
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Sistem a de Integr ação Total
Evolução da produtividade média (t/ha) da produção comercial de tilápias no município de Maripá entre os anos de 2002 a 2016 (Adaptado de Emater, 2017).
Detalhes d o processo produtivo do Paraná Segundo dados do IBGE (2015), a produção brasileira de alevinos foi de 955.614 milhões de alevinos. A região sul foi a maior produtora, com 29,3%, sendo que destes, 22,6% foram produzidos no Paraná (215.924 milheiros), principalmente nas cidades de Toledo (51.050 milheiros) e Palotina (40.000 milheiros), as quais no ranking nacional aparecem em primeira e segunda colocação, respectivamente, entre as cidades que mais produziram alevinos no Brasil. A produção de alevinos revelou-se bas-
© Nicanor Sanches
Área (ha)
% do total
< 1,0
52,0
Médios produtores
1,0 – 5,0
45,0
Grandes produtores
> 5,0
3,0
Pequenos produtores
Tabela 1. estimativa do percentual de produtores em cada categoria (Emater, 2017).
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cação de tamanhos e uso de estufas principalmente para enfrentar os períodos de inverno e frentes frias. Os alevinos dos 30 municípios produtores atendem a toda demanda do Paraná, havendo também vendas para praticamente todos os estados brasileiros. A linhagem predominante nas pisciculturas comerciais é GIFT, mas há também outras linhagens no estado: como Supreme, Tailandesa, Bouakê e Cruzas (Emater, 2016). Os alevinos são entregues com peso de uma ou duas gramas aos produtores de juvenil, que fazem a despesca quando os peixes chegam em média a 30 e 35 gramas. Esse período leva cerca de 60 dias e é possível a realização de cinco ciclos ao ano, segundo Cezar Bulttini, um dos produtores de juvenis de tilápia em sistema intensivo, com até 80 peixes/m². Na engorda, o povoamento é feito com 2,5 a 5 peixes/m² em sistema semi-intensivo, 5 a 10 peixes/m² em sistema intensivo e acima de 10 peixes/m² em sistema superintensivo. Os produtores comerciais adotam os modelos semi-intensivos e intensivos de produção, tendo alguns poucos casos com sistemas superintensivos.
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Os frigoríficos absorvem 90% da produção e o peso final varia de 650 a 800g por indivíduo.
© Aquaculture Brasil Figura 5.
© Aquaculture Brasil
Linhagens GIFT Supreme Tailandesa Bouakê Cruzas Figura 6. Tilápia linhagem GIFT.
outros mercados como peixarias, CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) do ocorre o povoamento com juvenis de 20 gramas ou mais, e entre 80 e 90% com o povoamento de juvenis menores. A produtividade média da região, de acordo com a Emater, é superior a 20 t/ha/ciclo e a conversão o quilo de tilápia. Assim a rentabilidade depende do tamanho da propriedade e do volume produzido.
© Aquaculture Brasil
© Aquaculture Brasil
Figura 7. Estufas para produção de alevinos no município de Palotina, PR. Propriedade: Piscicultura Sgarbi.
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Unidades d e Processamento O crescimento da produção tem levado uma expansão das unidades de processamento no Paraná e vice versa. Atualmente existem 29 unidades em operação, entre pequenas, médias e grandes empresas que se dedicam ao processamento de peixes da aquicultura. Cerca de 95% © Aquaculture Brasil Figura 8. Juvenis da propriedade do Sr. Cezar Buttini, em Palotina, PR.
ter, 2016). A cooperativa C.Vale, que até então no segmento da aquicultura, atuava apenas no fornecimento de rações,
construção e ainda em 2017 pretende entrar em operação, com abate inicial de 75 mil tilápias por dia. A estrutura física do abatedouro será preparada para permitir a duplicação do processamento com apenas a instalação de uma segunda linha de produção. A cooperativa também adotará o sistema de integração total, e pretende trabalhar com aproximadamente 300 integrados em até cinco anos. Além disso, está apostando em um sistema diferenciado de produção para melhorar o desempenho da atividade e assim a produtividade dos seus cooperados. Questionada pela Aquaculture Brasil se o atual volume de produção do estado atenderia a demanda do dos associados que já possuem açudes, mas que já possui também cooperados que não atuam nesse segmento, e que estão interessados em investir na piscicultura. A Copacol, cooperativa com um dos maiores © Aquaculture Brasil Figura 9. Produtora Ivete S. Beck do município de Nova Santa Rosa - PR “Cultivamos o ano todo, inclusive no inverno. Monitoramos sempre os parâmetros e a alimentação ocorre conforme a temperatura. No inverno abaixo de 15°C por exemplo, não ocorre o trato”.
Nova Aurora, também no oeste do estado, abate 90 mil tilápias por dia e investiu em adequações, implantando uma segunda planta processadora. O objetivo é abater 140 mil tilápias por dia ainda em 2017. A cooperativa busca ainda a expansão da comercialização dos produtos para outros países.
Tabela 2. Densidade de peixes/m² utilizada na engorda de acordo com o sistema de produção adotado (Emater, 2017).
Sistemas de engorda Semi-intensivo Intensivo Superintensivo
Densidade (peixes/m²) 2,5 - 5,0 5,0 - 10,0 > 10,0
Tabela 3. Índices produtivos da piscicultura no Oeste do Paraná
Valores médios Produtividade 20 t/ha/ciclo Conversão alimentar 1,4 -1,5:1,0 © C.Vale Figura 10.
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Ex tensão O estado do Paraná conta com a Emater, que trabalha com os projetos de piscicultura. O órgão tem como objetivo propiciar a melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais através da implementação das pisciculturas como forma de incremento de renda para estas famílias. Além da implementação, visa ações pritrabalharem com a aquicultura, promoção de melhorias nos sistemas de produção, entre outros. Dessa forma, vem contribuindo em mais de 50 municípios do estado, com 9 técnicos que executam o trabalho nos três polos de produção (Oeste, Norte e Leste), atendendo a 1850 produtores. O apoio técnico tem sido fundamental e garantido maior produtividade.
Form ação esp ecia lizada O estado conta com seis cursos entre nível técnico e superior na área de produção de organismos aquáticos (Tabela 4). O mais antigo deles é o curso de Engenharia de Pesca, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), implantado no ano de 1996 em Toledo. Já o mais recente é o oferecido na Universidade Federal do Paraná, Centro de Estudos do Mar (UFPR – CEM), que a partir de 2015 deixou de ser Tecnólogo em Aquicultura e passou então a ser Engenharia de Aquicultura. Existem também os cursos de pós graduação, que são oferecidos pela UFPR, campus de Palotina, na área de Aquicultura e Desenvolvimento Sustentável, e também na UNIOESTE, com mestrado e doutorado em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca.
Instituição UNIOESTE UFPR UFPR - CEM
Consid erações fina is Como podemos observar, a piscicultura no estado do Paraná vem se desenvolvendo em ritmo acelerado, principalmente no polo Oeste, onde o setor demonstra-se consolidado, e a cada dia novos projetos dão entrada no IAP (Instituto Ambiental do Paraná) para obtenção da licença ambiental. Vimos o despertar de um gigante, que com água em abundância, apesar de um inverno rigoroso, conseguiu tornar-se o estado com a maior produção nacional de peixes, segundo dados levantados em 2016 pela Peixe BR. Para o ano de 2017 o volume produzido deve ultrapassar as 100 mil toneladas, sendo o primeiro estado a bater essa marca de produção. A alta demanda por peixe não somente dos no-
UFFS IFPR IFPR
Cidade Toledo Palotina Pontal do Paraná Laranjeiras do Sul Foz do Iguaçu Paranaguá
Curso Engenharia de Pesca Engenharia de Aquicultura Engenharia de Aquicultura Engenharia de Aquicultura Técnico em Aquicultura Técnico em Aquicultura
elevar a posição do estado no ranking nacional de produção. O desenvolvimento da piscicultura só não é maior em virtude da falta de assistência técnica para da licença ambiental e a falta desta também impede o maior desenvolvimento da atividade, uma vez que sem o licenciamento ambiental o crédito rural não é concedido para custear os investimentos e o pequeno produtor não consegue aumentar seu negócio. O polo produtivo da região Norte do estado, principalmente,
de supermercados localizadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, faz com que ciamento ambiental para os cultivos em tanques-rede. empreendimentos. A piscicultura tem atraído também produtores que antes apostavam somente na agricultura e hoje veem na atividade uma forma de aumentar sua fonte de renda. O sistema de integração com as cooperativas permite algo bastante importante, que é a assistência técnica aos produtores cooperados. Os técnicos dão o auxílio necessário para o monitoramento da taxa de arraçoamento, parâmetros de qualidade de água e crescimento dos lotes. Resultando assim em uma maior produtividade e consequentemente tem contribuído para
ainda existem, porém pudemos sentir a vontade em produzir e ampliar os empreendimentos, que muitos produtores tem. A piscicultura é o agro da vez, também no Paraná!
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Agradecimentos: Nedyr Chiesa – Trevisan Equipamentos Cesar Ziliotto – Extensionista Emater /Maripá,PR Alexandre Marcelo Baumann– C.Vale A todos os produtores citados ao longo do artigo
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Amônia e nitrito: Efeito sobre a estrutura branquial do camarão-da-amâzonia Dr. Fabrício Martins Dutra
Laboratório de Patologia Veterinaria, Universidade Federal do Paraná-Setor Palotina (UFPR-Palotina), Palotina, PR. ronnau@ufpr.br
MSc Dircelei Sponchiado
Prof. Dr. Eduardo Luis Cupertino Ballester
Laboratório de Carcinicultura, Universidade Federal do Paraná-Setor Palotina (UFPR-Palotina), Palotina, PR. dirceleis@gmail.com
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Prof. Dr. Milton Rönnau
Laboratório de Carcinicultura, Universidade Federal do Paraná-Setor Palotina (UFPR-Palotina), Palotina, PR. fabricio.m.dutra@gmail.com
Laboratório de Carcinicultura, Universidade Federal do Paraná-Setor Palotina (UFPR-Palotina), Palotina, PR. elcballester@ufpr.br
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o Brasil há muitas espécies nativas com N grande potencial para produção aquícola.
No entanto, a grande maioria delas necessita
cos. A espécie nativa de camarão de água doce Macrobrachium amazonicum vem apresentando grande potencial para produção, devido ao seu crescimento rápido, fácil manutenção em cativeiro e rusticidade. Esta espécie também tem importância ecológica como componeneconômica, sendo um dos principais recursos explorados na região Norte e Nordeste do Brasil (Figura 1). No entanto, para manter a espécie M. amazonicum em sistemas de produção, requisitos básicos para alcançar bons níveis de produtividade devem ser observados, dentre estes, a qualidade de água.
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Compostos nitrogenados A qualidade de água apresenta grande importância devido a facilidade de alterações em suas variáveis físicas e químicas. Entre estas variáveis, as concentrações de amônia e nitrito estão entre as variáveis que mais afetam a saúde dos organismos aquáticos, atingindo rapidamente concentrações tóxicas em sistemas de produção intensivos. A amônia é um composto nitrogenado que ocorre naturalmente no ambiente, sendo comproto, alimentação, sobrevivência e susceptibilidade a parasitos e doenças em camarões e outros organismos aquáticos. Sua presença está relacionada ao processo de catabolismo proteico da maioria dos organismos aquáticos, decomposição de alimentos não digeridos e outros resíduos orgânicos, bem como gerado por ações antrópicas (poluição). O nitrito ocorre naturalmente em ecossistemas aquáticos e sua presença no ambiente é um problema em potencial. O composto também pode apresentar alta toxicidade, dependendo de sua concentração no meio e do estágio de desenvolvimento do organismo. Além disso, apresenta um importante papel no metabolismo de muitos organismos, por estar envolvido na resposta imune de vertebrados e invertebrados. O nitrito também é conhecido por se difundir na hemolinfa de crustáceos, prejudicando a respiração e levando os camarões a morte por hipóxia.
A espécie nativa de camarão de água doce Macrobrachium amazonicum vem apresentando grande potencial para produção, devido ao seu crescimento rápido, fácil manutenção em cativeiro e rusticidade. 50
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Figura 1. Exemplar do camarão-da-amazônia Macrobrachium amazonicum.
Estrutura e funções das brânquias A brânquia apresenta-se como órgão vital para crustáceos, desempenhando diversas funções importantes como trocas gasosas, equilíbrio ácido-básico e excreção de compostos nitrogenados. Por estarem em contato íntimo com a água e estando sujeitas a ação de agentes tóxicos, podem sofrer danos em seus tecidos. Portanto, quando as brânquias são expostas a determinadas concentrações de um composto tóxico em determinado intervalo de tempo (horas ou dias), lesões como dem caracterizar uma reação básica de defesa, por dimunir da brânquia e/ou aumentar a barreira de difusão ao contaminante. Portanto, para avaliar os danos provocados a um organismo submetido
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a agente tóxico, a histopatologia vem sendo comumente utilizada. Ao avaliar as estruturas branquiais, observamos que estas são formadas principalmente por células pilares, epitélio lamelar e hemócitos. As células pilares apresentam base e extremidades apicais largas em formato de “I” alongado. Estas células têm a função de sustentação do órgão, bem como, formam espaços por onde circunda a hemolinfa. O epitélio lamelar apresenta cundada por uma cutícula quitinosa, espessando na porção basal e distal do hemócitos apresentam forma arredondada, tendo função de transporte gasoso e de defesa imunológica.
Principais resultados obtidos Através da análise histológica das brânquias de M. amazonicum submetidos a diferentes concentrações de amônia total (0; 5; 10; 20; 40 e 80 mg.L-1 de amônia total), observou-se que na concentração de 0 mg.L-1 de amônia total (controle) não ocorreram alterações (Figura 2-A). Em 5 mg.L-1 de amônia total já se observa baixa presença de al-
bém é observado nesta concentração a presença de danos progressivos (hiperplasia) (Figura 2-D). Em 40 mg.L-1 as alterações são bem representadas pela presença de danos regressivos (inchaço lamelar e espessamento do epitélio lamelar e necrose).
hemocítica) e danos progressivos (hiperplasia) com presença moderada (Figura 2-E). Na concentração de 80 mg.L-1 de amônia total há uma prevalência de danos regressivos com a presença de muitas necrogressivos como descamação de epitélio lamenar, in- ses e descamação do epitélio, além de fusão lamelar e espessamento do epitélio lamelar. Entretanto, o alterações mais encontradas em 10 mg.L-1 de amônia que chama bastante a atenção são os edemas encontotal (Figura 2-C). A concentração de 20 mg.L-1 de trados na estrutura branquial, como pode ser obamônia total teve maior prevalência de descamação como inchaço da lamela, espessamento do epitélio
Figura 2. Brânquias de M. amazonicum expostas a amônia total. Lamena (L); hemócito (H); células pilares (CP); espaço inter lamenlar (EIL); inchaço (HP); e edema (E). A) M. amazonicum exposto 0 mg.L-1 de amônia (controle) (20x, 10x H&E). B)M. amazonicum exposto 5 mg.L-1 de amônia (20x, 10x H&E). C) M. amazonicum exposto 10 mg.L-1 de amônia (20x, 10x H&E). D)M. amazonicum exposto 20 mg.L-1 de amônia (20x, 10x H&E). E)M. amazonicum exposto 40 mg.L-1 de amônia (20x, 10x H&E). F)M. amazonicum exposto 80 mg.L-1 de amônia (10x, 10x H&E).
A mortalidade observada entre as concetrações de amônia total foi correspondente ao aumento do dano na estrutura branquial do juvenil de M.amazonicum (Figura 3). Juvenis expostos a concentrações de amônia total de 80 mg.L-1 apresentaram mortalidade de 100% em 48 horas de exposição. Em 40 mg.L-1, a mortalidade de 100% foi observada em 72 horas de exposição. Após 96 horas observou-se mortalidades -1 de 8 ± 5%, 10 ± 8%, 20 ± 8% e 48 ± 10% nos tratamentos com 0; 5; 10 e 20 mg.L de amônia total, respectivamente. AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Figura 3. Média ± DP da mortalidade (%) de juvenis deM. amazonicum expostos à amônia total, durante o intervalo de tempo (96 h). -1 Ao observar brânquias expostas às concentrações de nitrito (0; 1; 2; 4; 8 e 16 mg.L ), observa-se que em 0 mg.L-1 de nitrito as estruturas brânquiais se encontram dispostas de maneira uniforme, não sendo observada degeneração das estruturas da lamela (Figura 4-A) e, quando ocorre, estão em irrisórias quantidades, com -1 de nitrito são observadas presença de danos regressivos como inchaço lamelar e espessamento do epitélio lamelar, bem como, a ocor-1 4-B e C). Em 4; 8 e 16 mg.L foi visualizado alto grau de degeneração às estruturas das brânquias, provocado principalmente por distúrbios circulatórios (aglomeração de hemócitos), danos regressivos (inchaço lamelar,
e F). B
Figura 4. Brânquias de M. amazonicum expostas ao nitrito. Lamena (L); hemócito (H); células pilares (CP); espaço inter lamenlar (EIL); inchaço lamenar aglomeração de hemócitos; e edema (E). A) M. amazonicum exposto 0 mg.L-1 de nitrito (controe) (20x, 10x H&E). B) M. amazonicum exposto 1 mg.L-1 de nitrito (20x, 10x H&E). C) M. amazonicum exposto 2 mg.L-1 de nitrito (20x, 10x H&E). D) M. amazonicum exposto 4 mg.L-1 de nitrito (20x, 10x H&E). E) M. amazonicum exposto 8 mg.L-1 de nitrito (20x, 10x H&E). F)M. amazonicum exposto 16 mg.L-1 de nitrito (10x, 10x H&E).
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As alterações visualizadas nas brânquias correspondem claramente à mortalidade observada em juvenis expostos ao nitrito, onde mortalidade de 100% são observadas nas concentrações de 4 a 16 mg.L-1. Em concentrações de 2 e 1 mg.L-1 de nitrito a mortalidade média observada é de 40 ± 8% e 27 ± 6% para 96 horas, respectivamente. Na concentração de 0 mg.L-1, sem presença de nitrito a mortalidade média foi de 5 ± 6%, pos-
Figura 5. Média ± DP da mortalidade (%) de juvenis deM. amazonicum expostos a nitrito, durante o intervalo de tempo (96 h).
Conclusões Podemos notar através dos resultados da análise histológica, que quanto maiores as concentrações de amônia total e nitrito maiores são os danos causados à estrutura da brânquia, corroborando com o efeito observado na mortalidade destes animais quando expostos a amônia total e nitrito. Também é possível observar quando comparamos o efeito da amônia total e do nitrito, concentrações mais baixas de nitrito causam danos tolerar este composto. Os produtores devem monitorar e controlar as concentrações destes metabólitos tóxicos no ambiente positivos na produção.
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Produção comercial de crocodilianos e quelônios
também é aquicultura!
Verônica Oliveira Vianna
Chefe Adjunta do Departamento de Zootecnia Coordenadora do Laboratório de Fauna Silvestres e Aquicultura Universidade Estadual de Ponta Grossa jrvero@uol.com.br
A aquicultura atividade
é uma extensa e congrega vários organismos aquáticos, então porque não olhar a criação de crocodilianos e quelônios como uma atividade aquícola? Talvez por sua liberação estar ligada à órgãos governamentais como o IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. Entretanto, o interesse do mercado pela carne, pele, produtos manufaturados e “pets” vem de longa data. Desta maneira, é importante pensar na criação comercial destes animais como uma atividade aquícola
capaz de desenvolver e consolidar a cadeia de produção que a envolve. Os répteis ocupam lugar de destaque na indústria de couro e nos pet shops em vários países do mundo. No
No Brasil, os primeiros criadouros de
da década de 70, com objetivo de produção de pele. A carne ainda era considerada um dos subprodutos da criação. Atualmente a Cooperatifoi estimado que entre va de Criadores de Jacaré 25.000 e 30.000 unidades do Pantanal (COOCRI de peles, compostas de JAPAN) utiliza nove 66% de jacaré-do-pan- cortes funcionais de jacatanal (Caiman crocodilus yacare) e 34% de jacaré-de-papo-amare lo (Caiman latirostris ), ras, ponta da cauda, coxa, foram contrabandeadas isca, sobrecoxa (Ferda Argentina (Micucci e nandes, 2011), que chegam a custar no Mercado Waller, 1995). Municipal de Curitiba R$ 75,00 o quilo (Vianna, observação pessoal).
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Segundo Romanelli (1995) estudos realizados com aplicação de análise sensorial, destacaram a aceitação da carne de jacaré com os adjetivos de maciez, sabor suave, paladar agradável e muito gostosa. Ainda, associadas a estas características, esta carne tem boa aparência visual e cor que varia do branco ao levemente rosa, tornando-a atraente aos consumidores. Além dos crocodilianos, os quelônios também fazem parte do comércio ilegal. Muitos são abatidos e seu casco comercializado como objeto de decoração, a gordura como remédio, a carne e os ovos para o consumo humano e os shops internacionais. Um exemplo comum é o alto comércio clandestino do tracajá ( Podocnemis na Amazônia Central
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(Pritchard e Trebbau, 1984; Bager, 1999). Existem registros de que no século XVIII a exportação da manteiga de tartaruga atingiu no Amazonas 8.168 kg, sendo que para conseguir 1 kg dessa manteiga são necessários 275 ovos (Narchi, 1978). Segundo Soini (1977)apud Pritchard e Trebbau (1984), em Iquitos, no Peru, ovos e carne de tracajá são consumidos principalmente na época de desova, sendo provenientes da coleta de ovos e abate indiscriminado de matrizes. cou que o Amazonas é o estado com maior número de criatórios comerciais de quelônios do Brasil com demanda crescente, passando de 11 criatórios registrados no IBAMA em 1997 para 33 em 2000, com cerca de 400.000 animais em
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cativeiro. Em 2011 eram 89 criadores, com 250 mil animais em cativeiro e uma produção de três toneladas mensais de quelônios legalizados no mercado de Manaus (Andrade, 2011). Com base no exposto observa-se que as ordens Crocodilia e Chelonia despertam interesses econômicos de formas variadas (pet, carne e pele) e que este deve ser amplamente discutidos com a área, indústrias, órgãos ambientais tanto governamentais, como não governamentais, para que se possam desenvolver ações que visem planejamento da cadeia produtiva, crédito, além da conservação das espécies em questão.
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A mídia como ferramenta esclarecedora ou desorientadora: como fica a integridade do pescado após o escândalo da carne? Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves
Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC) Centro de Ciências Agrárias (CCA) Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA), Mossoró, RN, Brasil alaugo@gmail.com
No
último dia 18 de março
OPERAÇÃO CARNE FRACA pela Polícia Federal, que investigou empresas suspeitas de participação no esquema de pagamento de propide adulteração e irregularidades em alguns produtos de origem animal comercializados. O impacto negativo da referida operação cresceu de forma exponencial e rapidamente informações inverídicas se espalharam como vírus nas redes sociais. Ao mesmo tempo, os consumidores, leigos, e levados pelo referido escândalo, deixaram de consumir os produtos cárneos envolvidos (bovinos, aves e suínos) e passaram a consumir mais o pescado, achando que não existiria nenhum problema, uma vez que a grande maioria dos produtos industrializados apresentam-se na forma de peixe inteiro eviscerado congemarão inteiro congelado, camarão
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descascado congelado, anéis de lulas congelados, mexilhões congelados, polvo inteiro e tentáculos de polvo congelados etc. Mas será que o setor do pescado é isento de fraudes? E é nesse sentido que iniciamos o presente artigo, mostrando que a integridade do pescado comercializado no Brasil não somente pode ser afetada negativamente por escândalos envolvendo o setor pesqueiro (fraude econômica), mas também pelas informações inverídicas, caluniosas, e sem embasa-
Prof. Dr. Andre Muniz Afonso Setor Palotina Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR, Brasil amafonso@live.com
credibilidade e, ao mesmo tempo, nosso pescado e seus produtos derivados podem também ter a sua imagem abalada e deixarem de ser consumidos. Em junho de 2013, foi criado um portal na internet (http://
desmentir informações espalhadas nos mais diversos veículos midiáticos sem qualquer comprovação ou compromisso com a verdade. No entanto, não é hábito comum da grande maioria dos usuários acessar esse canal ou outros similares quando estão diante de uma notícia alarmista. disseminam pela mídia virtual, seja Outra questão refere-se à forma nas redes sociais representadas por irônica como o brasileiro lida com as “Facebook”, “Instagram”, “Twitter” e situações do cotidiano, uma vez que similares ou por meio de “Hoaxes”, prefere apressar-se para criar uma notícias falsas encaminhas por anedota ao invés de aprofundar-se e-mail ou hospedadas em sites não no tema em discussão, aproveitando para extrair dali algo que lhe seja Nota-se que a fragilidade útil, ainda que a piada denigra a imado meio virtual e a facilidade de gem do país perante a opinião públidisseminação de quaisquer infor- ca global. mações fazem com que as empre-
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Nota-se que a fragilidade do meio virtual e a facilidade de disseminação de quaisquer informações fazem com que as empresas fiquem vulneráveis à perda de credibilidade e, ao mesmo tempo, nosso pescado e seus produtos derivados podem também ter a sua imagem abalada e deixarem de ser consumidos.
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De forma comparativa, o Ministério da Saúde, divide os alimentos em categorias, posicionando a carne e os produtos cárneos na chamada Categoria 8 que possui vasta lista de Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade (RTIQ), a saber: produtos frescais embutidos ou não (almôndegas, quibes, linguiças, empanados, hambúrgueres etc.); produtos secos, curados e/ou maturados embutidos ou não (linguiças, carnes desidratadas, presunto cru, salames, copa, “jerked beef ”, charque etc.); produtos cozidos embutidos ou não (mortadela, salsicha, pastas, linguiças, apresuntados etc.); produtos salgados crus (carne de sol, miúdos etc.); produtos salgados cozidos (mortadela, salsichas, morcela, chouriços, lombo de suínos etc.); e conservas cárneas, mistas e semiconservas cárneas (picadinho de carne, carne em conserva, apresuntado, língua de
pouquíssimas legislações (RTIQ para Peixe Fresco, Conservas de sardinhas, Conservas de atum e Conservas de peixes; RDC nº 149/2017, que trata do uso de aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia e, por último, ainda não publicada, a RTIQ para Peixe congelado) o que demonstra fragilidade e possibilidade do surgimento de irregularidades. Nesse sentido, como o que aconteceu com a Categoria 8, fraudes na comercialização do pesem ritmo acelerado, sendo uma das ações mais comumente noticiadas no que tange à Inspeção do Pescado no Brasil.
da a OPERAÇÃO POSEIDON pela Polícia Federal, em conjunto com técnicos (Auditores Fiscais Federais Agropecuários) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cujo objetivo era o combate às fraudes na tratos de carnes etc.). Existe, ainda, comercialização do pescado no estado de Santa Catarina. Os mesmos Carcaças Bovinas; Padronização dos agentes públicos, no ano seguinte, Cortes de Carne Bovina; Regulamento Técnico de Atribuição de Aditivos, OCULTA, destinada a reprimir a e seus Limites; e a uniformização da nomenclatura de produtos cárneos contendo o selo público do Serviço não formulados em uso para aves de Inspeção Federal no estado do e coelhos, suínos, caprinos, ovinos, Espírito Santo. Em 2016 e 2017 eles bubalinos, equídeos, ovos e outras espécies de animais, dentre outras, que são seguidos pelas indústrias pro- fraude no pescado à venda em sucessadoras. permercados de vários estados do Já, a Categoria de Alimen- país (espécies diferentes das declaratos 9 (Pescado e Produtos da Pes- das no rótulo). Essas ações demonstram
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Na perspectiva do MAPA, a fraude é um problema que demanda medidas urgentes de otimização dos processos de fiscalização. que, o MAPA vem 2014, os esforços e meno combate à fraude no pescado (o excesso de água, o excesso de glaciamento, o peso não compensado, a troca de espécies, a importação clandestina, dentre outras). A intenção é, além de elevar o padrão em toda a indústria de produção e importação pesqueira, combater à fraude praticada no pescado. “O maior problema que temos em relação ao pescado não é o risco à saúde pública, é a fraude”. Na perspectiva do MAPA, a fraude é um problema que demanda medidas urgentes de otimização dos processos de dos novos critérios para que este controle seja realizado de maneira
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O primeiro passo foi a categorização da indústria em um iii) Desempenho da empresa: O critério Desempenho escopo de notas, de acordo com os seguintes critérios: depende da existência prévia de violações cometidas pela empresa, do padrão de identidade e qualidade dos proi) Volume de produção: As empresas são categorizadas dutos. Este vai de acordo com as análises microbiológicas entre pequeno ou médio porte de acordo com a quantidade de pescado produzido/processado (em toneladas/ano) na indústria em questão. Pequeno porte (até desempenho pelas possíveis ocorrências de reclamações, 400.000 kg por ano) e médio porte ou mais (mais de denúncias ou demandas por parte de consumidores. 400.000 kg/ano); ii) Produto elaborado: As diferentes categorias de proInterna N°06/DIPOA/SDA de 10 de dezembro de 2014, conta a existência de problemas que representam posque determina o padrão de nomenclatura e a categoriasíveis perigos à saúde pública. A partir desses critérios, dos produtos de origem animal registrados no Serviço os estabelecimentos recebem uma nota de 1 a 4. Para que de Inspeção Federal (SIF) de acordo com seus padrões essa categorização seja possível, é imprescindível que as de processamento. As categorias dos padrões de nomen-empresas tenham implantadas ferramentas de autoconclatura são: produtos com adição de inibidores; produtos trole em seu sistema da qualidade. São elas que tornam compostos por diferentes categorias de produtos cárneos,possível o estabelecimento se auto gerenciar bem ou não. acrescidos ou não de outros ingredientes; produtos emA nota é calculada da seguinte forma: o risco referente natureza; produtos não submetidos a tratamento térmi- ao volume de produção + o risco da natureza do produto co; produtos processados termicamente – esterilização + o desempenho da empresa. O desempenho tem peso comercial; produtos submetidos a tratamento térmico; 2. Soma-se esses 4 pontos alcança-se a média de risco produtos submetidos a tratamento térmico – cocção. estimado do estabelecimento, sendo dada então a nota. Essas notas são: 1 PONTO (É o estabelecimento que não possui nenhuma reclamação, nenhum desvio nas análises laboratoriais e 2 PONTOS (É o estabelecimento que não possui indicações de não-conformidades nas análises laboratoriais e não 3 PONTOS (São estabelecimentos que não oferecem risco à saúde pública, mas que apresentaram problemas nas 4 PONTOS (É o estabelecimento que apresenta todos os problemas citados acima). NOTA 1 NOTA 2 NOTA 3 NOTA 4 Obs.: Estabelecimentos que já tiverem sido interditados total ou parcialmente serão tirados do cálculo e receberão de problema.
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Figura 1. O panga, Pangassius hypophthalmus
Duas perguntas ainda permanecem no ar: O que poderíamos fazer para seguir um caminho diferente? Que lições o setor do pescado pode tirar da operação carne fraca? Antes de respondermos a essa pergunta, vamos discutir um pouco o exemplo da cadeia produtiva do Pangassius hypophthalmus ou, como é mais comumente conhecido, “Panga” (Figura 1), o peixe asiático que vem despertando a curiosidade de pessoas que pertencem ao segmento e de consumidores de pescado, em geral. Nenhum peixe foi mais vítima de “hoax” do que o Panga (Figura 2). Notícias de que ele era produzido em águas contaminadas e poluídas, de que sua cadeia produtiva fazia uso de métodos contrários ao bem-estar animal e de trabalho infantil, de que era o peixe mais impróprio ao consumo, entre outras circularam nas redes sociais nos últimos anos. A pressão de algumas cadeias produtivas contrárias ao Panga era enorme e vários foram os pedidos para que o então Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) impedisse a sua entrada no país. Cabe ressaltar que, em vários países os órgãos envolvidos com a inocuidade alimentar, tais como o “Food and Drug Administration” (FDA/Estados Unidos da América) e a “European Food Safety Authority” (EFSA/EU), também foram submetidos a essa pressão. No Brasil, por conta de uma comunicação interna entre o DIPES (Divisão de Inspeção de Pescado e Derivados) e a SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária), ambas do MAPA, ocorrida em outubro de 2011, questionou-se a qualidade do referido produto que entrava cada vez mais no mercado brasileiro, principalmente quanto ao risco sanitário envolvido. Figura 2. Imagem comumente encontrada em e-mails falsos A título de informação, o MAPA reiterou que em dezembro de 2009 (“hoaxes”) a respeito do peixe Panga (http://www.estimulanuma missão do órgão foi ao Vietnã, até então único país fornecedor do et.com/2014/05/peixe-panga-e-perigoso-para-saude.html). peixe para o Brasil, e considerou a inspeção como sendo equivalente àquela praticada aqui, porO Brasil possui, hoje, duas fazendas certivessem encontrado algumas características de não conformidade nas cargas recebidas em seus países ou mesmo nas missões in loco, tificadas para a pronão impediram a entrada e permanência do peixe, uma vez que todução de tilápia, endas as adequações sugeridas foram solucionadas de modo que os proquanto que o Vietnã dutos atendessem aos padrões de qualidade exigidos pelos compradores. possui 36 para o Portanto, ainda que os boatos sobre o peixe continuassem a crescer, Panga a indústria vietnamita foi se adequando aos mais diversos padrões existentes e não tardou em melhorar seus processos, desde a produção a cam(ASC, 2017). po até o processamento e a distribuição do pescado. Dentre algumas das demonstrável por meio de uma rápida consulta no site da ASC (Aquaculture Stewardship Council), uma das Dados recentes da Associação Vietinamita de Exportadores e Produtores de Pescado (VASEP) demonstraram que, o Brasil é um dos principais países importadores do Panga, atingindo em janeiro de 2014 a marca do país que mais cresceu, percentualmente. Nesse mesmo ano, o MPA, órgão responsável pela análise de risco de importação do pescado, atividade também ligada aos programas de defesa sanitária animal existentes, solicitou a suspensão da importação do pescado proveniente do Vietnã, o que gerou a criação de uma norma pelo DIPOA/MAPA (Circular nº 767/2014), um mês antes das eleições presidenciais, impedindo a emissão de novas licenças de importação do Panga por parte das indústrias de pescado brasileiras. Curioso é que, assim que as eleições terminaram, as importações foram novamente retomadas.
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Conforme relatório referente ao primeiro trimestre de 2016, emitido pelo departamento responsável pelas informações do mercado de pescado da “Food and Agriculture Organization” (FAO/ GLOBEFISH, 2016), ainda que os preços internacionais do pescado viessem apresentando pequena queda, a criação do Panga permanecia em expansão, inclusive fora do Vietnã, maior país produtor. Outro dado interessante foi que a América Latina, liderada pelo México, seguido de perto pelo Brasil, importou 120 mil toneladas de Panga (in2015. Mesmo diante de um cenário de queda de preços gerais no mercado internacional e em meio a boatos que colocaram em cheque sua resistiu bravamente e segue presente nos mais variados mercados internacionais. Esse é um exemplo perfeito de cadeia produtiva de sucesso. A busca pelo mercado exterior foi a mola mestra que incentivou
sa agir rápido, pois a maior preocupação dos europeus se deve às questões de saúde pública, ainda que a imagem dos produtos brasileiros seja boa por lá (Villela, 2017). Além da segurança alimentar, que está ligada à garantia de alimentos aos habitantes, a segurança dos alimentos, ligada à inocuidade e saúde pública, como anteriormente citado, já faz parte
A busca pelo mercado exterior foi a mola mestra que incentivou a profissionalização do segmento! do protocolo de importação de produtos alimentícios pelos europeus há muitos anos. Prova disso foi a exigência do cumprimento da Diretiva 178/2002, a partir de 01/01/2015, que trata da rastreabilidade dos produtos a partir da matéria prima utilizada, bem como de todos os insumos e seus componentes (Moura & Gonçalves, 2012). E o pescado? Será que temos condições de atender essa demanda? Quando se trata do pescado oriundo de criações comerciais (aquicultura), a cadeia, do campo ao consumidor, é mais facilmente mapeada do que o pescado de captura (pesca), por razões óbvias, mas
Poderíamos buscar o exemplo nas cadeias produtivas dos animais de açougue nacionais, que trilharam o mesmo caminho. Tanto é que, notícias mais recentes mostram que os mercados que estavam se fechando para as carnes brasileiras, devido às notícias alarmantes veiculadas, já estão tranquilizados e voltaram a abrir suas portas aos produtos nacionais, inclusive Hong Kong e China, os mais importantes em termos de volume e capital. Em recente visita ao Brasil, o comissário da União Europeia para Saúde e Segurança todo ainda é grande e motivo de Alimentar, Vytenis Andriukaitis, foi preocupação mundial, pois vários enfático em dizer que o Brasil preci- países ainda estão desenvolvendo
seus próprios protocolos, de maneiacessível no menor espaço de tempo possível, tanto para o consumidor como para as autoridades competentes. fragilidade do setor de pescado frente às informações inverídicas que circulam no meio virtual, bem como Categoria de Alimentos 9 (Pescado e Produtos da Pesca e da Aquicultura), quando comparado com a Categoria de Alimentos 8 (Carne e Produtos Cárneos), e, principalmente, o mercado informal (que incentiva a fraude econômica), podemos enxernovos rumos. Todos os envolvidos na cadeia produtiva (pesca, aquicultura, indústria, importadores, supermercadistas), bem como o consumidor caminho diferente, evitando a fraude econômica (setor produtivo) e intendiferente com o produto adquirido (consumidor), pois é inevitável que em algum momento possa ocorrer algum deslize. Existem empresas sérias e comprometidas com o setor e principalmente com o consumidor, mas também existem empresas que não se preocupam muito com o que acontece ao seu redor. A Operação Carne Fraca, bem como as demais operações fazem pensar que podemos mudar, e para melhor, seguindo um caminho diferente e com o foco no crescimento do setor pesqueiro. www.aquaculturebrasil.com/artigos
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A RTIGOS
PA R A C U R T I R E C O M PA R T I L H A R Em primeiro lugar na lista dos artigos com maior número de AQUACULTURAL ENGINEERING (Elsevier), apresentamos o artigo “Evaluation
pended solids and phosphorus from intensive recirculating aqua”. O trabalho, publicado originalmente em 2003, de autoria dos pesquisadores James M. Ebeling, Philip L. Sibrell, Sarah R. Ogden & Steven T. Summerfelt, elucida uma importante contribuição para um dos maiores problemas dos sistemas fechados e intensivos de produção: o acúmulo do sólidos suspensos e ortofosfato. Principais resultados encontrados: respectivamente, a uma dosagem de 90 mg/L; - A remoção ótima da turbidez foi alcançada na concentração de 60 mg/L para ambos sulfato de alumínio e cloreto férrico; tanto para o ortofosfato quanto para os sólidos suspensos; partir de apenas 5 minutos.
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CH
A R G E S
O STRAS P ERLÍFERAS
A QUICULTURA
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CIGANA
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Co mp osto s bioativo s d e microalgas para uso n a aqu icu ltu ra Dr. Rober to Bianchini Der ner - rober to.der ner@uf s c .br
Laboratório de Cultivo de Algas, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC.
do uso direto das microalgas na alimentação/nu A lém trição de moluscos, camarões, alguns peixes, artêmia,
rotífero etc., e do auxílio na manutenção da qualidade de água (produção de oxigênio e assimilação de compostos nitrogenados, p. ex.), as células microalgais numa cultura podem ser estimuladas a direcionar seu metabolismo para a biossíntese de compostos que têm grande aplicabilidade em aquicultura. Tais compostos, usualmente denominados compostos bioativos, em geral estão relacionados ao metabolismo secundário. Cabe esclarecer que o metabolismo primário se refere aos processos (fotossíntese, respiração e assimilação dos nutrientes, p. ex.) de síntese de macromoléculas essenciais às células microalgais (proteínas, carboidratos e lipídios, p. ex.), sendo que estes processos/ moléculas têm distribuição universal, enquanto, os processos/moléculas relacionados ao metabolismo secundário não são comuns a todas as microalgas, uma vez que não são obrigatoriamente necessários durante todo o cultivo ou ciclo de vida. É certo que nas células microalgais estes compostos bioativos não são sintetizados para utilização na aquicultura, de forma geral, os metabólitos secundários são sintetizados em condições adversas/estressantes para as microalgas, podendo estar relacionados: à defesa contra herbivoria, organismos patogênicos e até outras espécies de microalgas; contra os efeitos danosos do excesso de luz (através da síntese de pigmentos para a atenuação da luz que transpassa a parede/membrana celular e/ou de pig mentos com função antioxidante) ou de algum composto poluente (metais pesados, p. ex.); e ainda como resposta à falta de nutrientes no meio de cultivo. As questões fundamentais para a obtenção dos compostos bioativos das miacumular e, em muitos casos, secretar estes metabólitos no meio de cultura, bem como, a percepção do momen bientais (estressantes) levem à potencialização da síntese do(s) composto(s) de interesse. Nesta linha de estudo, um
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© Roberto Derner
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BIOTECNOLOGIA DE ALGAS
trabalho interessante sobre o uso de compostos bioativos obtidos de culturas de microalgas foi desenvolvido numa parceria entre o Laboratório de Cultivo de Algas e o Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC. Culturas da microalga Porphyridium cruentum foram desenvolvidas até que fosse estimulada a biossíntese de polissacarídeos sulfatados, os quais são produzidos pelas células e secretados no meio em grande quantidade durante a fase estacionária do crescimento das culturas. Após o processo de obtenção do extrato bruto dos polissacarídeos, este material foi adicionado a uma ração comercial de camarões marinhos. Juvenis de Litopenaeus vannamei foram alimentados durante quatro semanas com dietas contendo diferentes concentrações do extrato de polissacarídeos, sendo que, nos camarões alimentados com dietas contendo entre 0,5 e 1,5% de extrato
dos parâmetros imunológicos: conta gem total de hemócitos (CTH) e atividade da fenoloxidase (PO); indicando um efeito imunoestimulatório. Além através da injeção de Vibrio alginolyticus cada maior sobrevivência nos animais que foram alimentados com dieta suplementada com o extrato bruto de polissacarídeos da microalga Porphyridium cruentum , comprovando o aumento na imunocompetência dos camarões. Para maiores informações, este trabalho pode ser acessado a partir deste link: https://repositorio.ufsc. br/handle/123456789/107359
© Roberto Derner
OZÓRIO, Renata Ávila. Desempenho zootécnico, enzimas digestivas e imunocompetência em camarões Litopenaeus vannamei alimentados com dieta suplementada com extrato de polissacarídeo da microalga Porphyridium cruentum. 2013. 94 p. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Florianópolis, 2013.
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G r e e n Te c h n o l o g i e s Ser ou não ser: sólida questão!
Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano - UDESC, Laguna, SC mauricioemerenciano@hotmail.com
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ia após dia cresce o interesse nos cultivos de bio- as tilápias, a faixa ideal é entre 20 a 50 mL L-1 meedição aborda um tema frequentemente discutido didos nos cones. Uma dica entre aqueles que já realizaram ou realizam esta importante e vivida na modalidade de cultivo: a importância de se manejar (e prática é não ultrapassar os bem) os sólidos! 10 mL L -1 para tilápias nas De uma maneira resumida, os famosos “sóli- fases iniciais (de 0,1 a 20g). dos” são partículas orgânicas e inorgânicas monitoradas E uma vez nos sistemas BFT que podem estar suspensas na coluna detectado níveis elevados, da água, sedimentadas no fundo dos viveiros e tanques como controlar? Den(quando em excesso ou quando ocorre uma má dis- tre as diversas técnicas tribuição da aeração formando os lodos ou “sludge”) ou disponíveis, certamente a em frações muito reduzidas (<45µm) chamadas de só- que vem chamando mais lidos dissolvidos. Existem outras frações, mas na prática são estas que detém maior atenção. Em outras palavras, ciência com baixo custo de operação/construção São vários os motivos para monitorar e controlar é o uso dos sedimentadoos sólidos, dentre eles podemos destacar: res (também chamados de
1 Evitar uma respiração excessiva no ambiente de culti-
vo e consequentemente a queda dos níveis de oxigênio dissolvido; 2 Diminuir a formação de amônia, nitritos e nitratos; 3 Diminuir a formação do CO 2 e a queda excessiva de pH; 4 Diminuir a queda da alcalinidade; 5 Evitar o acúmulo de fósforo; 6 Evitar o recobrimento de brânquias de peixes e camarões, no qual pode resultar em estresse, proliferação de agentes patogênicos e aumento de mortalidades. Como costumo dizer, pouco sólido (ou bioemerge a pergunta óbvia: como monitorar e quais os níveis ideais? Respondendo a primeira pergunta são basicamente duas maneiras de monitorar: 1) via a técnica de “TSS” (do inglês para “sólidos suspensos totais”); e via “SS” ou sólidos sedimentáveis. A técnica do TSS é muito mais precisa. No entanto, na prática é demorada e mais onerosa. Se a fazenda puder e quiser, ótimo! Caso contrário, uma opção mais prática e rápida é a técnica dos sólidos sedimentáveis (Figura 1) utilizando-se Em relação a segunda pergunta, a maioria da literatura especializada cita que para camarões marinhos o ideal é não ultrapassar 400-500 mg L-1 de TSS ou manter-se entre 5 a 15 mL L-1 medidos nos cones . Para
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Particulamente tenho uma © Maurício Emerenciano alegria especial de men- Figura 1. Detalhe dos sólidos sedimenem um cultivo de cionar esta técnica pois tados no cone tilápia no México. participei no ano de 2008 de um estudo considerado um clássico neste sentido, desenvolvido pelo amigo Dr. Andrew Ray no Waddell Mariculture Center-EUA (Ray et al. 2010). E foi notória a diferença de crescimento e qualidade de água quando os sólidos são controlados. Atualmente outra técnica que vem chamando a atenção no cultivo de camarões é a circulação de água para bacias de sedimentação com ou sem o uso de tilápias. Independente da técnica adotada, monitorar e controlar os sólidos deixou de ser uma necessidade futura para virar um manejo obrigatório nos cultivos BFT. Mãos a obra!
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Figura 2. Controle de sólidos via sedimentadores em um tanque experimental de cultivo de camarões marinhosLitopenaeus vannameina Universidade Nacional do México (UNAM).
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Empreendedorismo Aquícola M o e d a t r o c a
d e
André Camargo Escama Forte andre@escamaforte.com.br
A
importantes da economia brasileira. Por seu
pesca e por sua cadeia produtiva possui vínculo com a agropecuária. Isso em qualquer país do mundo traz os benefícios de ambas as estruturas existentes em cada uma das atividades, porém no Brasil o fruto é a insegurança conjuntural a qual o setor se expõe. No dia 14 de março de 2017 a sociedade brasileira foi surpreendida com a publicação no diário ferir a Secretaria de Pesca e Aquicultura, antes lotada no MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para o MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Neste ato passou a ser responsabilidade do MDIC “a política nacional, o fomento à atividade, a organização da cadeia produtiva e a proposição das diretrizes da Pesca e Aquicultura”. Neste mesmo momento, até o mais o mais rePor conta do balanço das cadeiras da política brasileira e simplesmente para garantir apoios irrestritos entre os partidos que compõem a base de nosso governo, nosso setor muda de casa sem ser perguntado. Ao maior especialista em desenvolvimento setorial ou a qualquer envolvido com a cadeia da aquicultura a dúvida e a incerteza pairam
no ar e os questionamentos são a reação imediata. pensa apenas no setor produtivo é: para a aquicultura é mais importante o vínculo com a pesca ou com a agropecuária? Com certeza, pensando friamente o lugar da aquicultura é junto ao MAPA e junto às demais atividades zootécnicas que regem as políticas e diretrizes da agropecuária nacional. Porém, temos o “umbigo” colado à pesca que, devido às suas peculiaridades sociais, possui capital eleitoral extenso e interessa bastante aos diferentes grupos políticos do Brasil. Respondendo a este questionamento precisamos lembrar da pequena representação política que possui nossa aquicultura, pois mesmo correndo sério risco de retrocesso histórico ao setor, em nenhum momento os governantes brasileiros se importam com a prima © André Camargo jovem e pobre da agropecuária nacional e a transferem para qualquer “cofrinho” de grupos políticos. Por outro lado, a paralisação causada por tal mudança estrutural virá devido à falta de preparo e capilaridade do MDIC, que tecnicamente não está desenhado para esta recepção. Talvez tenhamos chegado ao momento de como setor produtivo respondermos em voz alta: somos mais próximos da pesca ou da agropecuária?
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NUTRIÇÃO
Extrusão Na coluna dessa 5˚ edição vou abordar um tema bastante relevante para todos os participantes da indústria aquícola que é a Extrusão. Acredito que a maioria das pessoas já deva ter escutado esse termo, que é utilizado em várias situações, mas será que realmente sabemos o que é extrusão? Quais são suas vantagens e desvantagens? Qual é o seu valor para o produtor? Será que devo utilizar uma ração extrusada na minha fazenda aquícola? O objetivo dessa coluna é esclarecer essas e outras questões sobre esse importante processo de fabricação de alimentos. Esta será a primeira de muitas colunas sobre o tema. ©Artur Rombenso
volvimento em extrusão é um dos fatores que possibilita e impulsiona essa expansão. Pode-se dizer que a indústria grando muitos conceitos, ideias, protocolos, entre outros fatores. Dentre as várias vantagens da extrusão podemos citar a grande variedade de produtos fabricados através da seleção e combinação de diferentes ingredientes e processos de fabricação. Também podem ser determinados a forma, cor, textura, comportamento na água e cluem a redução da degradação nutricional do produria dos fatores anti-nutricionais, enzimas indesejáveis e microrganismos. Tais benefícios são bem utilizados para satisfazer a grande variedade de características de alimentos das espécies aquícolas. Pense em como são diferentes os alimentos fabricados para peixes, camarões e moluscos. Um alimento para camarão, por exemplo, deve afundar
ar 100%, ou afundar rápido ou devagar. Esse processo de fabricação possibilita a existência dessa vasta gama de produtos aquícolas e muito mais está por vir. Em termos de desvantagens, pode-se listar o elevado custo de investimento, manutenção e operação quando comparado a outros processos como o de peletização (muito utilizado por universidades e centros de pesquisa), e a necessidade de mão de obra especializada. Em termos comerciais, no A extrusão é um processo de cozimento através de entanto, a adoção do sistema de extrusão é um rápido aquecimento com altas temperaturas e pressão viável uma vez que o maquinário funciona (em inglês, high temperature with pressure with a short 24 horas todos os dias. Porém, isso implica time heating process). Esse processo de fabricação já é utilizado há muitos anos em várias indústrias, como a ali- novos alimentos aquícolas. Atualmente, enmentícia (humanos e animais) e a de materiais, e está cada vez mais popular na indústria de alimentos aquícolas. Os para peixes marinhos e novas espécies produtos extrusados estão presentes no nosso cotidiano: a aquícolas. Na minha visão, para espécies maioria das guloseimas que comemos, por exemplo, são extrusadas, incluindo bolachas, biscoitos, etc. Outro bom mação publicada para uma formulação exemplo são os alimentos dos animais de estimação, como adequada, e o que muitos pensam ser a própria ração e também os prêmios (biscoitos). Aliás, a problema de formulação inadequada ou indústria de alimentos para animais de estimação é uma falta de conhecimento, na verdade é um das que mais cresce no mundo e a tecnologia e desen-
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Dr. Ar tur Nishioka Rombenso Universidade Autônoma de Baja California, Ensenada, México. artur.nishioka@uabc.edu.mx
problema logístico. Uma empresa de fabricação de ração utiliza seu maquinário 24 horas todos os dias, produzindo várias toneladas por hora, porém, fabricar uma dieta nova, que os técnicos não dominam por completo, e produzir mente viável. Essa é uma das razões dos preços de dietas comerciais para espécies aquícolas pouco produzidas serem tão elevados. Sou um grande fã do processo de extrusão e quanto mais me aprofundo nesse mundo, nado, pois ele nos oferece inúmeras possibilidades e a cada ano vemos avanços no desenvolvimento de alimentos aquícolas. Atualmente, em nosso laboratório de Nutrição e Fisiologia Digestiva de Organismos Aquáticos da Universidade Autônoma de Baja California, desenvolvemos uma patente de alimento extrusado úmido para espécies aquícolas, principalmente para grandes pelágicos. Os benefícios desse tipo de ali©Artur Rombenso mento são:
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Sendo úmido, o alimento é mais atrativo para os organismos (principalmente para espécies menos alimento natural.
Por ser extrusado, possui grande digestibilidade, funcionalidade, é sustentável pois diminui a dependência de recursos naturais limitados e é livre de microrganismos e fatores indesejáveis. Sua is através de um alimento adequado em termos de forma, cor, textura, funcionalidade e composição para peixes em cativeiro, como os grandes pelágicos (atum) e outras espécies muitas vezes encontradas em aquários.
Como mencionei anteriormente, essa é a primeira de muitas colunas sobre a extrusão e espero ter conseguido mostrar a importância e potencial desse tema, bem como despertado sua curiosidade para se aprofundar mais. Nas próximas edições escreverei sobre os benefícios desse tipo novos avanços, oportunidades, entre outros pontos. E para os interessados, gostaria de destacar que os cursos de Nutrição online da Aquaculture Brasil abrangerão em detalhes esse tema e muitos outros.
©Artur Rombenso
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#AGROBR FORTE Fábio Rosa Sussel - Zootecnista, Dr.; sussel@apta.sp.gov.br
AgroNegócio
brasileiro
ini-
o ano de 2017 apanhando. O ciou Primeiro foi o samba enredo
da escola de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. E depois a operação da Polícia Federal so-
primeiro caso, desnecessário e total desconhecimento por parte dos autores do samba enredo. No segundo, necessário e louvável a iniciativa de usar inteligência investigativa para apurar possíveis fraudes em alimentos. Porém, não da forma como foi divulgada, especialmente ao considerarmos que a amostragem investigada não é representativa de toda a cadeia produtiva da carne. Bem como não terem apresentado um lau do conclusivo onde realmente os consumidores estivessem sendo lesados. Mas o que ambos os fatos têm em comum? Possuem em comum opinião distorcida que os grandes centros urbanos têm sobre o agronegócio brasileiro. Mas e qual seria esta opinião? Em resumo: produtor rural é sinônimo de devastador ambiental, latifundiário a custas de grilagem de terras, utiliza mão de obra escrava e infantil, produz alimentos por meio de fraudes e uso massivo de agrotóxicos e, claro, ganha dinheiro fácil. Você, leitor da Aquaculture Brasil, pode estar achando um absurdo imaginar que parte considerável da sociedade pensa isto
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sobre o agronegócio. Mas lembre-se E as movimentações no camque: se você está lendo a AB, é porque po da aquicultura já dão sinais de não faz parte desta sociedade a qual que 2017 será um ano de mudanças positivas. Mas como assim, se nem Justo o segmento mais im- mesmo tem-se observado notícias portante da economia brasileira é o otimistas relacionadas ao milagre da que mais leva cacetada. Talvez possa multiplicação dos peixes? Ótimo, pois ser uma espécie de tendência natural é exatamente disso que precisamos: do velho ditado “Pé que dá fruta é o menos conversa e mais ação! Parafraque mais leva pedrada” ou então algo seando meu amigo André Camargo: do tipo “fogo amigo” onde já que não “Fala de mais quem não tem nada a podemos ser tão competitivos quanto dizer”. Não precisamos de qualquer “Pirotecnia” para sermos grandes e acreditar na primeira situação, onde fortes na produção de pescado. Mais para se manter no topo realmente é do que ninguém, o aquicultor sabe do necessário enfrentar e vencer grandes potencial que tem e não precisamos de ninguém para alardear isto. enfraquecer, escolheram o caminho Mas Fábio, de onde então errado, pois, certamente sairemos extremamente fortalecidos desta. 2017 será um ano de grande cresciA curto prazo, os produtos mento para a aquicultura brasileira? cárneos afetados amargarão pre- Bom, na história recente da atividade, juízos. Principalmente o setor que está observa-se uma produção aquícola na base da cadeia produtiva, ou seja, brasileira sustentada pela tilapiculos produtores de aves, suínos e bovi- tura e carcinicultura marinha. No nos. Mas a médio prazo, a tendência caso da tilápia, entre problemas com natural é de retomada de crescimento. crise hídrica no sudeste (2013-2014) e, mais recentemente, crise hídrica Mesmo que o setor de pesca- no nordeste (2013-2016), ainda foi do não tenha sido alvo destes recentes possível observar algum crescimento ocorridos, não há dúvidas que o mes- da atividade. Os cultivos intensivos mo também perde. Não faz qualquer de tilápias em tanques escavados no sentido vibrar com possibilidades de oeste do Paraná foram determinantes ganhar mercado a custas de perdas para manter este crescimento. Já no de outros setores. O que faz sentido é caso do camarão marinho, o vírus da mancha branca manifestou-se com dia-a-dia, vencê-los e seguir no trilho força, implicando em mortandades cada vez mais forte.
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ATUALIDADES & TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA
© Aquaculture Brasil
e, consequentemente, queda expressiva dos volumes produzidos. Após a tempestade, sempre vem a bonança. No âmbito da tilapicultura, os níveis dos reservatórios na região Sudeste voltaram à normalidade e novos grupos de investimento se formaram e, já no ano de 2016, houve aumento considerável da produção. No Oeste do Paraná, o sistema de produção intensiva, amparado e incentivado pelo cooperativismo, ganha cada vez mais força. A recente inclusão do camarão de água doce gigante-da-Malásia junto à produção de tilápias tem proporciona do renda extra aos piscicultores. No Nordeste, a boa quantidade de chu vas observada no início de 2017 dá sinais de recuperação dos grandes reservatórios, Orós e Castanhão principalmente. A carcinicultura marinha vem encontrando soluções que conciliam convivência com o vírus da mancha branca e produção in tensiva. O sistema de produção em estufas, onde os viveiros são revestidos com geomembrana e uso intensivo de aeradores, requer investimentos consideráveis. Apesar disso, o retorno tem sido compensador e este novo modelo de produção tem se mostrado uma das formas mais sustentáveis de se produzir alimentos. Primeiro é porque não
há descarte de água para o ambiente. Já o segundo está relacionado à capacidade de produzir grande quantidade de proteína animal em pequenas áreas de produção e em regiões onde, seja pelo excesso de sal no solo ou na água não é possível a produção de nenhum outro alimen to, seja animal terrestre ou vegetal.
As movimentações no campo da aquicultura já dão sinais de que 2017 será um ano de mudanças positivas.
As expectativas em relação à retomada de crescimento da carcinicultura marinha são grandes e, para viabilizar as produções no sistema intensivo, é fundamental que os atuais preços do camarão sejam mantidos. Para não colocar em risco os grandes investimentos que estão sendo feitos por empresários brasileiros, é fundamental manter a proibição da importação de camarão, bem como alcançar maior dida.
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Voltando a piscicultura, deve-se ressaltar o vigoroso crescimento da produção de peixes nativos (pintados, tambaqui e pacu, principalmente) no Norte e Centro Oeste do Brasil. Sem sombra de dúvidas, este é o setor que mais cresceu nos últimos dois anos. Destaque para o estado de Rondônia, onde a produção de tambaqui aumentou e continua crescendo vigorosamente. Aliás, não será novidade alguma se nos próximos levantamentos estatísticos a produção de peixes nativos já responder por mais de 50% da produção, considerando que atualmente o que predomina é a produção de tilápias. Em resumo, mais do que nunca o setor aquícola está preparado para um novo momento. Sem sim organizado em sua base produtiva. Além de estar fortalecido pelas associações e com questões climáticas normalizadas. Independente dos rumos da economia brasileira, o AquaNegócio atravessará um ano singular em sua recente história. Mas se o fator econômico como um todo voltar à normalidade (que o grande desejo de todos), o setor aquícola agradece.
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Aquicultura Latino-americana
Aquicultura & Futebol Dr. Rodolfo Luís Petersen - Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontal, PR. rodolfopetersen@hotmail.com
hoje que o continente sul-americano é exportaN ãodorédedejogadores e técnicos de futebol. Começou com
Brasil e Argentina, sendo que hoje tem jogadores e técnicos de toda a região atuando pelo mundo.
A variação ambiental, os patógenos e a falta de controle. Em inúmeras situações não sabemos o porquê de determinada mortalidade. Resultado: troca de diretor técnico. O
E aí, o que tem a ver o futebol com a aquicultura Latino-americana?
to ou às vezes o tempo transcorrido entre sua contratação e a realização do ajuste, a causa da mortalidade cessa, e a pinta entra em campo com a grama arrumada. GOLLLLLLLLL, produz bem, o paparicam, o levam para jantar em restaurantes caros, e... ao tempo, outro surto severo de mortalidade e pronto, troca de país.
A resposta é simples: quando os animais estão morrendo, o primeiro que “dança” é o responsável técnico. Assentado neste paradigma, o técnico sempre tem a culpa de tudo. A diferença do futebol, os equatorianos são os campeões mundiais. Tem equatoriano em Senegal, Arábia, Brasil, Índia, Filipinas, Taiwan, Moçambique, e até no Oriente Médio. As bombas são com eles. Outros países como Colômbia, México, Chile e Panamá têm se tornado exportadores e importadores de técnicos aquícolas. Geralmente não vão sozinhos, e como os de futebol, levam sua equipe técnica. Estes colaboradores os auxiliam em determinados setores cruciais com o intuito de não sofrer atentados locais e abrir con-
pulando de galho em galho.
tudo, em qualquer empreendimento aquícola, o time é tudo, ninguém faz nada sozinho.
E pensar que você achava que não tínhamos nada a ver com o FUTEBOL.
Mas... no caso da aquicultura, qual é a causa desta dança de cadeiras?
E pensar que eu achava que a genética poderia auxiliar em algum aspecto da variação...
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Novas tecnologias de controle sanitário, produtos probióticos e biorremediadores, assim como o crescimento dos dem a equilibrar o ambiente de cultivo) estão melhorando um pouco a situação. Uns poucos fazem uma grana e conseguem seus próprios negócios ou entram em sociedade com o investidor (o que não é garantia de
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Recirculating Aquaculture Systems
O RAS que queremos (e precisamos) Dr. Marcelo Shei - Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos. Santos, SP. shei@altamar.com.br www.altamar.com.br
aquicultura é um ótimo exemplo de multidisciA plinaridade, onde para o estabelecimento de uma
cadeia produtiva, se faz necessário o conhecimento e desenvolvimento de várias áreas do conhecimento. A medida em que melhoramos os métodos de produção, consequentemente também precisamos melhorar em disciplinas como: a nutrição e o seu manejo; genética das formas jovens; conhecer melhor os patógenos e as outras áreas que auxiliem no aperfeiçoamento da produtividade. Naturalmente, disciplinas como nutrição e reprodução são tradi© Marcelo Shei cionalmente mais estudadas e estabelecidas, pois são a base de qualquer ideia de se produzir pescado. estão a utilização de grandes quantidades de cascalho ou Os sistemas de tratamento e de recirculação de água, são áreas que começam a ser cada vez coluna com esses materiais irá reter sólidos que saíram mais demandadas, à medida que as produções pas- dos tanques e proverá superfície para abrigar bactérias, mas a posterior remoção desses sólidos e manter toda a necessidades antes não estabelecidas. Ainda com um superfície oxigenada, que são os objetivos diretos, se torstatus de novidade, nos encontramos em um período nam tarefas muito mais complicadas do que deveriam ser. de transição, onde muitas empresas tradicionais cresceram replicando estruturas e materiais ainda bastan- de limpar e com determinação do tamanho dos sólidos te rudimentares e que agora precisam ser atualizados. que são retidos. Filtros biológicos precisam ter a superDentre os materiais que precisam ser atualizados compatíveis com o que o sistema exige. A utilização de sistemas de desinfecção por ul© Marcelo Shei travioleta e ou ozônio sem o conhecimento das doses aplicadas e requeridas faz com o que, na prática, muitas das instalações recebam doses praticamente homeopáticas, com grande risco de se tornar um prejuízo, ao invés de investimento em segurança. Para os que possam pensar que métodos artesanais e rudimentares para tratamento e recirculação de água resultam em vantagem e economia perante aos vemos pensar que a aquicultura cresce quando as fazendas utilizam de gerenciamento de produção, alevinos com características genéticas padronizadas, rações balanceadas para a espécie, condição e fase de e etc…
As instalações de tratamento e recirculação, nos
dade de água quando melhorarmos a nossa nota nessa disciplina.
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SANIDADE Piscinodiníase Dr. Santiago Benites de Pádua AQUIVET Saúde Aquática, São José do Rio Preto, SP.
A
piscinodiníase, também conhecida como doença do veludo, é uma doença parasitária ocasionada Piscinoodinium pillulare . Este parasito possui ampla distribuição territorial, cuja ocorrência já tem sido registrada nos principais polos de piscicultura de água doce do Brasil, acometendo principalmente os peixes redondos, tais como o tambaqui, tambatinga e tambacu, bem como matrinxã, piauçu, curimatã, pintado amazônico e espécies exóticas como americano. Por outro lado, a tilápia do Nilo o possui notável resistência a este parasito, sendo raro os episódios de surtos de © Santiago Benites de Pádua mortalidade na tilapicultura relacionada a este parasito. A biologia deste di-
ganhar novos hospedeiros. Entre as principais alterações patológicas ocasionadas por esta parasitose, está a destruição das células forma, os peixes se tornam mais sensíveis às oscilações dos níveis de oxigênio dos viveiros, bem como apreoriundos do seu metabolismo. Geralmente a evolução da doença é crônica, podendo demorar meses até levar a um quadro de mortalidade. Poucos fármacos disponíveis no mercado
conhecida. No entanto, sabemos que águas ácidas (pH menor que 7) e com baixo poder de tamponamento (baixa alcalinidade total) são fatores de riscos importantes associados à ocorrência desta doença. Além disso, o
para o tratamento desta parasitose, o que torna
desta doença. A forma mais adequada para conviver com este problema é o monitoramento da infestação desde as fases iniciais de criação dos animais e altas dendo peixe, associado a sidades de estocagem são periódicos ajustes na alcalinidade da água, a parFigura 1. Trofontes de Piscinoodinium pillulare observados à susceptibilidade dos peixes em microscopia óptica no exame a fresco de raspado de pele. tir de calagens, para disàs parasitoses diversas, espeponibilizar um ambiente Aumento de 400x. cialmente à infestação por desfavorável ao parasito. P. pillulare. Além disso, o uso de denEste agente acomete principalmente as brân- sidades de estocagens adequadas, aliadas à boas rações quias, pele e nadadeiras dos peixes, sendo, portanto, um ectoparasito. Possui ciclo de vida trifásico, composto por os de criação são medidas de boas práticas de criação trofonte, tomonte e dinósporo, na qual a fase parasitária essenciais. Atualmente o uso de produtos algicidas, tais que é diagnosticada nos hospedeiros é o trofonte; que como o sulfato de cobre, tem sido amplamente utilizado possui formato arredondado a piriforme, sem estrutu- no combate a esta doença. Contudo, é importante resras de locomoção e apresenta coloração castanha escura saltar que se trata de um metal pesado, que gera acumuquando observado em exames a fresco no microscópio lação no ambiente aquático e nos animais, podendo coóptico (Figura 1). O tomonte é a fase de vida aquática locar em risco a segurança alimentar dos consumidores do parasito que sofre sucessivas divisões, enquanto o e a saúde ambiental. AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Aquicultura de Precisão Falta de energia elétrica Dr. Eduardo Gomes Sanches - Instituto de Pesca de São Paulo, Ubatuba, SP esanches@pesca.sp..gov.br
escrevendo a coluna desta edição quando meu E stava celular tocou. Era o sistema remoto de alarme de fal-
© Eduardo Gomes Sanches
ta de energia elétrica no Laboratório de Piscicultura Marinha. Em outros tempos o pânico começava só em Então, corria até o laboratório, ligava um pequeno gerador manual e começava a oração para a energia voltar... Já com os poucos cabelos que me restaram mento. Investimos em um sistema automatizado, que faz o gerador entrar automaticamente solucio nando a falta de energia elétrica e ainda lembra de telefonar a pelo menos cinco pessoas avisando do problema. Paralelamente toda quinta-feira o siste- de energia elétrica. Ciente desta dependência, quantos ma simula uma falta de energia elétrica e execu- de nós investiram em geradores de energia e sistemas auta a rotina, visando evitar falhas de procedimento. tomatizados para ampliar a segurança na aquicultura? Acompanhando o noticiário é fácil ouvirmos precisão é dependente de energia elétrica. Pensem em de apagões, faltas generalizadas de energia elétrica e quantos equipamentos vocês utilizam diariamente em a demora no restabelecimento da mesma. Por outro seus empreendimentos e quantas vezes já ouviram es- lado, não são poucos os casos de acidentes com enertórias de mortalidade de organismos aquáticos por falta gia elétrica resultantes da velha prática do “faça você mesmo”. Então deixo um bom con© Eduardo Gomes Sanches selho: se pretendem criar organismos aquáticos (principalmente os de água salgada), antes de pensar em comprar mais uma bomba, ou novo tanque, pensem em adquirir um sistema auxiliar para energia elétrica, preferencialmente automatizado e com a garantia de uma empresa idônea e que forneça instalação, manutenção e assistência técnica. Posso dizer a vocês, com muita experiência, que agora uma tempestade associada a ventanias não me tira mais o sono e nem me faz ir, em plena madrugada, debaixo de chuva, ao laboratório ligar um gerador (isto dor é uma máquina temperamental...). Tecnologia a serviço da aquicultura!!!
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A RANICULTUR DENSIDADE E ENFERMIDADES:
EXISTE RELAÇÃO? Dr. Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR. andremunizafonso@gmail.com primeira coluna para o portal AquaculE mturenossa Brasil, publicada em maio de 2016, abordamos o
acasalar. Isso faz com que as enfermidades infecciosas sejam muito assunto: “A criação de rãs nos meses de outono e inverno”. menos frequentes, pois são breves Procuramos enfatizar algumas das características mar- os momentos de contato entre indivíduos, ainda que comcantes desses meses, principalmente nas regiões onde há partilhem um mesmo corpo d’água ou microrregião. Nós, humanos, somos seres mais sociáveis e podemos usar como Nordeste brasileiros elas são menos sensíveis que no Sul, no exemplo a mudança das estações mais quentes para as mais Sudeste e em parte do Centro-Oeste. No entanto, podemos frias. Há uma tendência em permanecer em ambiente mais explorar mais o assunto, principalmente no que se refere à densidade e ao surgimento de enfermidades. estamos facilitando o aparecimento das doenças de ordem infecciosa. fermidades infecciosas, ou seja, que são causadas por agentes infecciosos ou patogênicos, tais como vírus, bactérias, Quando as estações mudam, os ritmos circadiafungos e parasitos, e enfernos também o fazem, © Andre Muniz Afonso midades não infecciosas, de pois a luminosidade natureza diversa (doenças (fotoperíodo) estimula autoimunes, mal formações essas mudanças perprovocadas por carências cebidas pela glânduou excessos alimentares, tula pineal. Nos animores, entre outras). Quando mais de sangue frio estamos diante de um quadro ( p e c i l o t é r m i c o s) , infeccioso, num ranário isso representa uma comercial, é necessário rediminuição no metabolismo e seus enfermidade, que se faz persistemas tendem a ceptível pela ocorrência de trabalhar num ritmo mortalidade ou de sinais clínimenos acelerado. Por cos aparentes, como letargia, isso as doenças surgem: o sistema imunológico locomoção, ou seja, perceber a os agentes patogênicos anormal está acontecendo. permanecem no ambiente. O que fazer? Figura 1. Baia semisseca de engorda de rãs-touro em alta densidade. Em animais de rebanho, quando o quadro A prevenção sugere uma infecção, não podemos considerar que exista sempre é o melhor caminho! Temos de nos preparar para (apenas) um animal doente, pois, pela relação íntima daque- enfrentar esse período com boa alimentação (quantidade e la comunidade, o agente infeccioso está em contato com qualidade), não ultrapassando as densidades recomendadas todo o grupo (sugere-se a leitura de artigos sobre os temas para cada fase, descartando ou tratando os animais lesio“herd factor” e “herd immunity”). Se é assim, por que alguns nados, conforme o caso, e, principalmente, tentando tornar animais apresentam sinais e podem evoluir ao óbito? o ambiente o mais favorável possível para que o processo de crescimento e desenvolvimento continue. Se pudermos No seu hábitat de origem, as rãs estão sujeitas aquecer um pouco o ambiente, veremos que isso fará uma grande diferença na sobrevida dos animais. to constantemente, fugir de predadores, abrigar-se do sol, porém, em função do seu hábito de vida livre, o contato SAUDAÇÕES RANÍCOLAS! mais íntimo que ocorrerá será no momento em que o animal estiver à procura por um indivíduo do sexo oposto para AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Piscicultura Marinha PRODUÇÃO DO PEIXE PALHAÇO AMPHIPRION SP. Dr. Ricardo Vieira Rodrigues - vr.ricardo@gmail.com Estação Marinha de Aquicultura (EMA), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS © Mário Carneiro
passada da Aquaculture Brasil quanNadoedição escrevi sobre produção de peixes marinhos,
Figura 2.
coincidentemente foi publicada a matéria “Desenvolvimento de tecnologia para produção de peixes ornamentais marinhos no LAPOM/UFSC” de autoria de Ozório e colaboradores. A matéria e a edição trazem aspectos muito semelhantes sobre os peixes ornamentais marinhos (mais detalhes nas páginas 48-51 da 4°ed da revista Aquaculture Brasil). Dando continuidade ao tema, nessa edição vou abordar a produção de peixes palhaços do gênero Amphiprion . Os reprodutores de peixe palhaço são mantidos em casais em aquários de 30L com um substrato para que ocorram as desovas (Figura 1). Comparado a outras espécies de peixes ornamentais, eles aceitam com facilidade uma grande variedade de alimentos, como ração seca, uma variedade de alimentos congelados (pedaços de peixe ou camarão, artêmia) e ração úmida.
damente 1500 ovos a cada desova. A incubação dos ovos é realizada junto aos casais e horas antes da eclosão esses ovos que são demersais aderentes eclodem em tanques ou aquários de pequenos volumes (10-20L) na mesma noite em que foram retirados dos casais. O período de incubação com os reprodutores é de 8 a 9 dias, dependo da temperatura em que os casais são mantidos, geralmente entre 26 a 28ºC. Após a eclosão das larvas, a larvicultura pode ser realizada em sistemas de recirculação de água ou excelente resultado nas desovas, podendo ser intercala- em sistema semi-estático, com renovações parciais para das com fornecimento de rações secas. A partir de uma manter a qualidade da água e renovação do alimento boa manutenção da qualidade de água e um alimento de vivo no tanque de larvicultura. A larvicultura é realizada qualidade, um mesmo casal de reprodutores apresenta em sistema de “água verde” que consiste da inoculação desovas a cada 15 dias. Quanto à fecundidade, esta varia Nannochloropsis sp .) junde acordo com a espécie, mas são de 500 até aproxima- tamente com a adição do rotífero ( Brachionus sp.). Logo Figura 1. após a alimentação com rotíferos as larvas são alimentadas com náuplios de artêmia e artêmias enriquecidas, cialmente deve conter entre 300 e 500 micrômetros. Toda transição alimentar deve ser realizada com um período de co-alimentação entre ambos alimentos, como mostra o Protocolo de alimentação (Figura 2). Existem muitos protocolos diferentes de larvicultura, para mais detalhes
© Rafael Medeiros
Após a larvicultura que tem duração de 15 dias, em 3 meses os juvenis já estão entre 2-3 cm, tamanho mais comumente comercializado. Nesse período os juvenis são geralmente mantidos em sistemas de recirculação de água, onde são alimentados de 3 a 4 vezes ao dia. Além das 30 espécies de peixes palhaços existentes, atualmente existem disponíveis no mercado uma grande variedade de híbridos destes peixes. Os híbridos possuem um padrão de coloração completamente diferenciado como o “ ”, “picasso” e “platinum ”, entre outros. Consequentemente, o custo desses exemplares é mais elevado, com um peixe podendo ser comercializado com valores superiores a 300 reais. AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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TECNOLOGIA DO PESCADO
PESCADO DEFUMADO:
UM TÍMIDO PRODUTO COM GRANDE POTENCIAL Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC) Centro de Ciências Agrárias (CCA) Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA), Mossoró, RN, Brasil alaugo@gmail.com Qual o motivo do pescado defumado ser considerado um “tímido produto” ou manter-se escondido nas gôndolas dos supermercados brasileiros? Apesar de encontrarmos poucos produtos disponíveis no mercado nacional, internacionalmente está ganhando cada vez mais espaço na mesa dos consumidores. Mas o que é a defumação? A combinação da fumaça, sal e secagem é um dos mais antigos métodos de preservação de alimentos, conhecido como “Defumação” ou “Preservação por fumaça”. Para a operação de defumação de pescado, existem três fases distintas e imprescindíveis à boa qualidade
serragem e posterior limpeza dos defumadores. Tanto o pescado defumado a frio ou quente são preservados principalmente pelo controle da atividade de água (aW ) e da temperatura durante o armazenamento e distribuição. A ação bactericida da fumaça pode ser atribuída principalmente ao aldeído fórmico (além de outros aldeídos, fenóis e ácidos alifáticos). A ação micostática é menos positiva do que a bacteriostática, pois ela tem maior atuação sobre as bactérias, do que sobre os fungos. Entretanto, esse efeito bactericida não é total, pois a fumaça com temperaturas menores que 40°C tem sua ação antisséptica bastante reduzida. Ambos os produtos devem ser refrigerados. desidratação) e a defumação propriamente dita. Os fenóis são a classe reconhecida que mais contribui Antes de iniciar o processo de defumação do pes- para o aroma de fumaça, enquanto que o sabor e odor da fucado, deve-se investigar e conhecer as características físi- maça são devidos à presença de guaiacol, 4-metilguaiacol e siringol, respectivamente. A coloração do produto conferio processo objetivando a manutenção da sua qualidade nutri- da pela fumaça é devida primeiramente à sedimentação de cional, evitando-se perdas indesejáveis. substâncias colorantes voláteis do grupo dos fenóis, os quais O tipo de defumação a ser utilizado leva em conta promovem escurecimentos por polimerização ou oxidação. diferentes necessidades para a estabilidade do produto, bem Alguns autores mencionam que a causa principal da coloração como os diversos hábitos alimentares (características senso- reside nas reações químicas da superfície dos alimentos com riais que a população deseja que o produto tenha). O pescado substâncias pertencentes ao grupo dos carboidratos (escurecidefumado pode ser incluído em duas categorias de defuma- mento não enzimático de Maillard). ção: defumação a frio (≤ 30°C, que tem a exclusiva função de Os produtos resultantes da defumação a quente aplicar fumaça ao produto), e defumação a quente (≥ 60°C, não duram muito, mas podem ser consumidos sem necessicom aplicação do calor, o que proporciona o cozimento do temente durante o processo (ocorre simultaneamente uma produto). A produção da fumaça recomendada é a partir da pasteurização e cozimento). Os produtos resultantes da defucombustão incompleta da madeira (serragem ou aparas), mação a frio têm longa duração, mas exigem cocção antes de devendo-se evitar as madeiras resinosas, que podem desen- serem consumidos. Concluindo, a defumação do pescado avançou de volver sabor desagradável ao produto. Outra opção que está crescendo é a substituição da fumaça tradicional pelo aroma seu propósito original de preservação para produzir um pronatural da fumaça (extratos líquidos de fumaça, preparações duto popular no mercado global, oferecendo uma variedade aromáticas de fumaça, condensados da fumaça, fumaça líqui- de sabores que satisfazem o crescente interesse dos clientes. da saborizante, aroma líquido de fumaça, aroma natural de A tendência no mercado mundial de produtos defumados infumaça ou conhecido comercialmente como fumaça líquida), cide nos atributos sensoriais de cor, odor, e principalmente na mudança da aparência geral, ou seja, a inclusão de especiarias fumaça tradicional, porém, livre de substâncias indesejáveis sobre os produtos defumados, deixando-os mais atrativos, e (cancerígenas) como o alcatrão e os hidrocarbonetos policí- a inclusão de novas espécies de pescado, como camarão, lula, clicos aromáticos (3,4-benzo[a]pireno), além de proporcionar polvo, mariscos (mexilhão, ostras), algas, dentre outros. uma uniformidade de sabor e cor, sem o inconveniente uso de GONÇALVES, A. A.; OLIVEIRA, A. C. M. Defumação do pescado (Capítulo 2.1.5 – p. 166-180). In: Gonçalves, A. A. (Ed.). Tecnologia do pescado: ciência, tecnologia, inovação e legislação. São Paulo, SP: Atheneu, 608 p., 2011 (ISBN: 978-85-388-0197-9).
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DEFENDEU!
Novidades em teses e dissertações
Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de pós-graduação contribui com novas informações para nossa aquicultura.
Acadêmico: Andre Muniz Afonso
Orientador : Sergio Borges Mano Co-orientadores: Eliane Teixeira Mársico e Mônica Queiroz de Freitas.
Programa: Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária Dou-
torado em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal, Universidade Federal Fluminense-UFF/RJ.
Título da tese: Desenvolvimento de produtos alimentícios a partir da musculatura da cauda de girinos de rã-touro americana (Lithobates catesbeianus Shaw, 1802).
A ranicultura, um dos ramos da aquicultura, pode ser uma forma de fornecer nutrientes importantes em países que sofrem de desnutrição sem danos ecológicos (EFENAKPO et al., 2015). Sua fase larval, caracterizada pela criação dos capazes de gerar animais maiores e mais resistentes ao processo de produção (CRIBB et al., 2013). O BJETIVO : A partir do presente estudo objetivou-se produzir um alimento nutritivo, em curto espaço de tempo, de baixo custo, usando-se a rã como matriz.
© Andre Muniz
M ETODOLOGIA : O trabalho foi dividido em três etapas, que posteriormente geraram três capítulos/ belecer as diretrizes para a produção de girinos em larga escala, com baixos custos e de forma rápida. O capítulo 2 (AFONSO et al., 2016) caracterizou-se abate, realizado na Coopercrãmma (RJ), de modo a aproveitamento das partes não comestíveis. Já no capítulo 3 enfatizou-se a tecnologia de produção de óleo e ao molho de tomate) e de uma farinha a partir da parte não comestível. Todos os produtos foram
Figura 1. não comestível (coproduto) (AFONSO et al., 2017).
sensorial. A metodologia de abate (Figura 2) foi desenvolvida baseando-se em parâmetros nacionais e internacionais para
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o abate e processamento de rãs e peixes e se mostrou satisfatória, obtendo-se um rendimento médio para a parà recordes de temperaturas no período do experimento, a metamorfose avançou muito além do esperado. Ainda assim, o rendimento obtido está em conformidade com aquele da parte nobre da rã, suas pernas, que representam 30% do peso do animal.
Figura 2. Fluxograma de abate de girinos desenvolvido por AFONSO et al. (2016).
Figura 3. Filé de cauda de rã pronto para ser limpo e embalado (AFONSO et al., 2016).
demonstrou que o produto possui 93,84% de proteína, estando acima de todos os produtos à base de proteína animal concentrados, exceto quando comparado ao “whey protein”, que pode variar de 80,25% a 95,39% (HOLT et al., 1999). A farinha obtida da parte não comestível apresentou bons valores nutricionais, demonstrando sua viabilidade futura para utilização na indústria de rações média para a aceitação global e 6,43 para a intenção de consumo, ambos estruturados em escala hedônica de nove pontos. O custo total de produção (custos de US$ 1,10 (lata de 170g). A versão com molho de tomate saiu a US$ 1,26.
C ONSIDERAÇÕES
FINAIS · Os modelos desenvolvidos para a criação de girinos de rã-touro resultaram na produção de animais maiores em escala comercial, com baixo custo de produção e em curto espaço de tempo;
Figura 4. (AFONSO et al., 2017).
(FTF) e parte não-comestível (NEP); · A composição do FTF aproximou-se de outros concentrados proteicos encontrados no mercado, podendo ser incluído em dietas hiperproteicas e hipocalóricas ou mesmo no enriquecimento de outros produtos alimentícios; · As conservas enlatadas foram aprovadas tecnológica e sensorialmente, constituindo boas alternativas de comercialização do FTF; · A NEP apresentou-se como uma boa matéria-prima para a indústria animal na forma de farinha; · Toda a tecnologia desenvolvida é de fácil reprodução, podendo dar agilidade à cadeia do pescado e contribuindo para a alimentação de populações humanas, principalmente aquelas que sofrem de desnutrição e/ou estão ligadas à extrema pobreza.
A GRADECIMENTOS
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F r a nc i sco das Chagas Medeiros Aproveitando a valiosa oportunidade de estarmos juntos à PeixeBR na Seafood Expo North America, em Boston (EUA), a A Q U A C U LT U R E B R A S I L e n t r e v i s t o u F r a n c i s c o d a s C h a g a s M e deiros, Secretário Executivo da PeixeBR e nome forte da piscicultura nacional. AQUACULTURE BRASIL:Francisco, comece nos contando como foi sua formação acadêmica e atu-
construímos um tanque de 12 x 12 m. Nele testamos o híbrido tambacu, depois o pintado e a matrinxã e os resultados foram totalmente diferentes, levando-me a acreditar que realmente tínhamos uma solução para Francisco: Sou médico veterinário, atuei durante mui- os peixes nativos em tanque-rede, desde que estes to tempo na área com pequenos e grandes animais, fossem de grandes dimensões e volumes. A partir mas logo que comecei como veterinário, passei a ter daí comecei a investir em uma empresa, porque não uma produção de peixes e acabei me apaixonando. Fui tínhamos tecnologia no Brasil para produzir tanques professor da Universidade Federal do Mato Grosso como estes. Tempo depois, em 2015, a Peixes BR foi durante quatro anos, terminando esse período voltei fundada e fui convidado para ser o secretário executipara iniciativa privada e comecei a investir mais na vo, sendo esta uma função que exerço até hoje. piscicultura. Passei a me dedicar exclusivamente à atividade, inicialmente com uma produção pequena, AQUACULTURE mas também iniciei na área de consultorias e as coisas BRASIL:Qual a sua moOs lagos das foram evoluindo. Em 1997 tive uma palestra em São tivação para acreditar hidroelétricas são Paulo, mostrando a tecnologia dos tanques-rede de e investir na aquicultura como se esses pioneipequeno volume e grandes densidades. Achei aquilo brasileira? ros chegassem para fantástico, voltei e comecei a fabricar os tanques para produzir peixes e a produzir peixe dentro daquele contexto. Sempre tra- Francisco: É uma conta “terra” estivesse prepabalhando com peixes nativos, durante muitos anos rada, necessitando cultores de Minas Gerias, de apenas comprar equiem função dos resultados que havia conseguido, es- uma região onde começou pamentos. crevi um livro, cuja segunda edição foi distribuída a aplicação de tecnologia pelo SEBRAE nacional. Continuei procurando uma na agricultura. Quando solução para a produção de peixes nativos em tan- criança, meu pai plantava, que-rede, e em 2008 quando fui para o Chile, conheci e tinha uma plantadeira animal de duas linhas, ou os tanques-rede de grande volume. Retornei de lá e seja, aquilo era bem o início do que é hoje. MudeiAQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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me para o Mato Grosso, onde hoje há a melhor tecnologia para produção de grãos no mundo, tanto é que existem empresas especializadas no turismo tecnológico, trazendo produtores do mundo todo para visitar as fazendas. Portanto vi essa transformação, que tínhamos as hidroelétricas, e o governo estava com uma legislação para uso e ninguém ocupava. Comecei a no Mato Grosso, e a aquicultura, ou seja, os pioneiros encontraram um cerrado sem infraestrutura, prepararam esse solo e hoje são bilionários. Os lagos das hidroelétricas são como se esses pioneiros chegassem para produzir peixes e a “terra” estivesse preparada, necessitando apenas comprar equipamentos. Portanto, não tem como dar errado, o principal, que é o recurso hídrico e as condições para a produção já estão prontas, falta o investimento – essa é a primeira conta. A outra, é que o principal player de proteína animal é o pescado e nós temos uma demanda não atendida, diferente de outras supre o mercado mundial com insumos para fabricação de ração somos nós, Brasil. Portanto não tem como dar errado. É um negócio com muito a crescer, e um crescimento fora da realidade e percepção que temos hoje. Por isso das universidades, uma serie de empresários que querem fazer um novo investimento na atividade. Talvez essa conversa daqui há 10 anos terá outro contexto, totalmente diferente, por que cada dia novas pessoas estão enxergando essa oportunidade que está a sua frente. É uma questão de “caducar” um pouquinho e começar a produzir. AQUACULTURE BRASIL:Muito interessante seu ponto de vista agroindustrial relacionando à aquicultura. Você acredita que o Brasil tem potencial para seguir no mesmo cenário, com pessoas do mundo todo vindo para ver o desenvolvimento da aquicultura brasileira? Francisco: Com certeza! Isso inclusive já acontece, não com a vinda de outros países, mas dentro do Brasil. No Mato Grosso onde estão instalados esses primeiros projetos de tanque-rede de grandes volumes com peixes nativos, temos recebido pelo menos uma vez por mês produtores e governantes de diversos estados do país. Portanto acredito ser tecnologia em sistemas tropicais. AQUACULTURE BRASIL:Falando um pouco da Peixe BR, ela surgiu com a fusão da Associação Brasileira de Indústria de Processamento de Tilápia e Associação Brasileira de Produtores de Tilápia. Acreditamos que o maior intuito foi abranger todo o setor, nesse sentido Francisco, você acredita que esse objetivo foi atingido conforme o planejado? Quais foram os benefícios dessa fusão para a piscicultura brasileira? Francisco: Esse arranjo da Peixe BR, como espécie de um guarda-chuva, onde abaixo abrangemos toda a cadeia que era extremamente necessário, o setor estava crescendo há uma taxa superior a 10% ao ano e totalmente desorganizado. Na minha terra temos um ditado “Caititu fora do bando é comida de onça”, portanto, as empresas estavam mercado. Então em um primeiro momento juntou-se as associações para se estabelecer políticas internas, comerdeterminar para onde o governo deve seguir. Um desses exemplos é o projeto estruturante para a piscicultura brasileira, desenvolvido pela Embrapa Pesca e Aquicultura, de mais de 50 milhões. Sendo que nos anos de 2015 e 2016 tivemos a oportunidade de nos reunirmos várias vezes com a Embrapa, fazendo os direcionamentos de pesquisa, porque até então a Embrapa não tinha nem com quem conversar. Portanto, criou-se um porta-voz para o setor. Antes os grandes produtores e as grandes indústrias falavam por si só em nome do setor e nós estamos tentando mudar isso. Andando junto você anda mais devagar, mas vai mais longe.
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negócio de perguntar para o cliente o que ele quer, pode não ser a melhor solução. Temos que oferecer soluções novas para o cliente. Vou usar como exemplo, Henry Ford. Henry falava que não gostava de pesquisa por que se ele fosse pesquisar para seus potenciais consumidores o que eles queriam, eles iam falar que queriam cavalos mais velozes. Então os chineses levaram nossos peixes redondos toda a cadeia produtiva, envolve os fabricantes de ração, os como tambaqui, caranha e pirapitinga, olhando para o
AQUACULTURE BRASIL:Quais as principais áreas de atuação da Peixe BR? Francisco: Todas as ações que tomamos são ações que consideramos estruturantes, então não fazemos uma ação para um produtor ou para um estado, todas são no sentido
etc. A Peixe BR iniciou suas ações principalmente com a para o peixe redondo a partir de 600 a 900g no máximo, questão relacionada ao licenciamento ambiental e a im- e produzem esse peixe em grandes volumes, evisceram portação de pescado. Quanto à importação de pescado, e vendem extremamente barato (dois dólares o quilo). Quando olhamos isso, vemos uma grande oportunidade em virtude de termos, ainda que em menor escala, a im- para os peixes brasileiros, em especial os redondos. O portação de produtos de baixíssima qualidade. Como re- africano nunca ouviu falar de pacu, tambacu e come hoje sultado, acabamos de ter uma instrução normativa sobre a muito peixe vindo da China. Ou seja, isso demonstra que qualidade do pescado congelado, de forma que o pescado somos aprendizes nesse processo de comercialização de que vem de fora, passe pelas mesmas exigências do pesca- pescados, daí a importância de estarmos presentes em uma do nacional, tendo assim uma uniformidade na qualidade feira como a Seafood Expo North America, para aprender e, portanto, poderemos competir de igual com qualquer a vender peixe, por que achamos que sabemos e na realipescado que entrar. Sobre o licenciamento ambiental, de- dade sabemos muito pouco. pois da criação da lei complementar n° 140, onde cada estado cria a sua legislação, nós começaAQUACULTURE BRASIL:Falando sobre o mos a atuar com ações pelos estados, consumo de peixes no Brasil, sabemos que o começando com os que tinham maior brasileiro consome em média 10 quilos por Hoje sobra importância na produção. Iniciamos ano. O que esse valor representa? dinheiro nos principalmente no Mato Grosso do Francisco: Bom, primeiro a única certeza que Sul, São Paulo, Goiás e agora, mais temos é que o consumo per capita de peixe culmento, mas como o recentemente em Tocantins. Em produtor não tem licen- tivado é na ordem de 3,2 kg/habitante/ano e o cada estado buscamos sempre forconsumo per capita de peixes importados é de ciamento ambiental, necer medidas para que se tenha uma 2 kg/habitante/ano. Portanto, tenho certeza que legislação que traga ao produtor comnós consumimos 5,2 kg/habitante/ano. Quanto captar esses aos números de consumo de pescado oriundo recursos. consequência disso é que resolvemos de capturas, não sabemos, porque não existe outro gargalo, que é falta de dinheiro. nenhum dado. Qualquer número que seja colocado estará errado. O grande consumo nas nanciamento, mas como o produtor não tem licenciamengrandes redes de supermercados hoje é de peixe de cultivo, keting nacional para o peixe cultivado, ou seja, ainda há muita dúvida se o peixe é do rio, se o peixe é importado, se o peixe é cultivado, o que é esse peixe cultivado, então nós vamos começar esse ano de 2017 com uma campanha de esclarecimento para o consumidor, trazendo novos cortes, novos produtos para que a gente possa aumentar a nossa base de consumo.
número de empresas é de peixes de cultivo, então aonde que está esse peixe de captura?
AQUACULTURE BRASIL:Em relação ao marketing do peixe de cultivo, em termos mundiais percebe-se que a aquicultura está tentando mudar essa imagem de que o peixe de cultivo não é tão bom quanto o da pesca. Em termos de Brasil qual é sua visão? Francisco: O que acontece com relação ao mundo é que AQUACULTURE BRASIL:Tem alguns produtores da se está valorizando muito o peixe. Esse é um processo que China produzindo uma espécie nativa brasileira, que é a começou principalmente lá no Alasca com a denominação pirapitinga, o que você tem a dizer sobre isso? de origem do salmão como um produto sustentável, um Francisco: É um detalhe extremamente interessante. No produto top e sabemos que conseguimos produzir um Brasil o produtor que produz peixe redondo pensa em pro- peixe de cultivo com muito mais condições. Para atender a duzir um peixe grande, porque o cliente segundo ele quer demanda mundial há a necessidade de cultivo. Não temos comprar um peixe grande. Aí voltamos a questão de que as como atender com manejo sustentável toda uma popupessoas estão produzindo o que se gosta e muitas vezes esse lação com peixes oriundos de captura, é impossível. Esses
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E N T R E V I S TA peixes então se tornaram gourmet, atendendo determi nados nichos de mercado. Porém, aquela população que vive abaixo de 7 dólares por dia, e que é maioria no mundo, tem um pensamento e necessidade de comer, e para atender essa demanda, a proteína animal tem que vir do cultivo. A aquicultura, portanto, acaba tendo um papel de responsabilidade com a sociedade.
são casos isolados. Não é uma realidade ainda. Temos uma questão ideológica nas universidades brasileiras, principalmente públicas, onde o pesquisador acha que fazer uma pesquisa para o produtor ganhar dinheiro é trabalhar para o capital, e por questões ideológicas não faz isso. Mas a universidade poderia ser uma grande parceira, geradora de tecnologia. Nesse momento importamos tecnologia, o produtor está se capitalizando e AQUACULTURE BRASIL:Sabemos que a nutrição de vai para fora do país comprar o pacote tecnológico. Mas peixe de água doce é até certo ponto bem avançada. esse é um aspecto negativo, porque comprar pacote tecProduzimos com pontos bem competitivos, porém nológico custa muito caro, aumenta o custo de investitem sempre algumas questões que podemos apri- mento. Porém acredito que estamos em um momento morar, quais seriam? de ruptura desse fato, em que empresa e universidade já Francisco: Acredito que temos que aprimorar em várias estão olhando um para o outro e pensando “nós temos questões, por exemplo, relacionadas à genética. Os peixes que andar juntos para que possamos chegar em um fu nativos que trabalhamos hoje, são em maioria animais turo que seja importante e bom para ambas as partes”. selvagens, o que é um caso raro no mundo e, portanto, - AQUACULTURE BRASIL:Em termos de futuro, quais tante é relacionado ao manejo, temos que melhorar as são seus planos, o que podemos esperar do Francisco técnicas de manejo, não temos como ir muito adiante Medeiros e da Peixe BR em 2017 e nos próximos anos? sem usar tecnologia. O modelo adotado pela China e Vietnã, com baixo nível tecnológico e grande utilização Francisco: Estamos no olho do furacão, que nesse mode mão de obra, não funciona no Brasil porque nossa mento é a transferência da secretária de pesca e aquilegislação trabalhista impossibilita esse processo. Temos, cultura do MAPA, onde durante um ano estávamos nos portanto, que reduzir mão de obra e melhorar o proces - adaptando com este ministério e este com o setor, para so, para que seja possível reduzir custos. E principal- agora uma mudança abrupta para o Ministério da In mente, temos que melhorar o nosso processo nutricio de Pesca e Aquicultura no Brasil não tem como fazer a tilápia, por exemplo, então temos que trabalhar com planejamento a médio e longo prazo, quando em função - de acordos políticos, porque essa não é uma demanda do. Isso é um trabalho que já existe, mas que deve evoluir do setor, o governo cria uma série de estruturas e tammuito mais e de forma mais rápida. São de forma geral, bém desmancha uma série de estruturas. Portanto, é esses os patamares que precisamos evoluir para chegar- um momento bastante delicado, de tentarmos construir mos em um peixe com competitividade e poder atender junto ao MDCI essa nova estrutura de gestão. Em 2017 as demandas dos compradores. o projeto que eles têm para o setor e tentar mais uma AQUACULTURE BRASIL:Como podemos incentivar vez contribuir para que se mantenham projetos com ou integrar a universidade com a produção no sentido soluções de continuidade. de minimizar esses gargalos e aprimorar a produção? Francisco: Precisamos criar uma cultura no Brasil de AQUACULTURE BRASIL: universidade conversar com setor produtivo e vice-ver- mensagem para todos os participantes da cadeia sa. Essa discussão é extremamente difícil, temos algumas aquícola brasileira. universidades que estão começando a fazendo isso, mas Francisco: Acredito que esse é o principal agronegócio brasileiro dos próximos anos. Essa é a fronteira do agronegócio nesse momento, nós tivemos a fronteira do grão, © Peixe BR fronteira da proteína animal (bovinos, suínos e aves), e agora é o momento da fronteira do peixe. Esse é fruto de uma geração, ou seja, os resultados vão acontecer no mínimo daqui a uns vinte ou trinta anos, como aconte ceu nas outras cadeias. Quem nos anos 70 ou 80 investia no cerrado para plantar grão era considerado louco. tão nas universidades hoje, se formando, que invistam nesse segmento, que é um investimento com grande perspectiva de negócio. Os empresários da indústria, e dos mais diversos setores, invistam nesse negócio. O pescado no Brasil é o agro da vez!
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NOVOS LIVROS Water Quality Editor: Hlanganani Tutu Editora: InTech Idioma: Inglês - 426 páginas Lançamento: Janeiro de 2017 As preocupações em relação à escassez de recursos hídricos e ao papel das atividades antropogênicas sobre o meio aquático faz com que estudos sobre a qualidade da água sejam cada vez mais importantes. Dessa forma, este livro, disponibilizado em PDF no site da InTech, reúne 18 capítulos com estudos que avaliaram diferentes impactos e uso da água, conduzidos em escalas locais e globais ao longo dos anos. Os capítulos podem ser baixados separadamente, e segundo o site, o mais baixado atualmente é intitulado “ Quality Management in Aquaculture ”.
Aquaculture Technology: Flowing Water and Static Water Fish Culture
Autor: Richard Soderberg W. Editora: CRC Press Idioma: Inglês - 284 páginas Lançamento: Maio de 2017
Este livro é o primeiro a fornecer, simultaneamente, as ferramentas para criar peixes em água elogiados, este trabalho se destaca por fazer o leitor realmente entender a teoria de cada tipo de sistema aquícola; ele vai ensinar o usuário “como pensar” ao invés de “o que pensar” sobre estes sistemas.
Aquaculture Perspective of Multi-Use Sites in the Open Ocean: The Untapped Potential for Marine Resources in the Anthropocene Editores: Bela H. Buck & Richard Langan Editora: Springer Idioma: Inglês - 404 páginas Lançamento: Maio de 2017 Esta publicação aborda o potencial de combinar na aquicultura marinha de grande escala macroalgas, moluscos, crustáceos e peixes, com estruturas primariamente aquelas associadas à produção de energia, como turbinas eólicas e plataformas de petróleo. O volume oferece uma visão abrangente e inclui capítulos sobre política, ciência, engenharia e aspectos econômicos para tornar este conceito uma realidade. A compilação dos capítulos escritos por pesquisadores reconhecidos internacionalmente aborda aspectos teóricos e práticos do uso múltiplo e apresenta estudos de caso
de instalações de pesquisa, desenvolvimento e unidades demonstrativas nos EUA e na UE.
DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL! redacao@aquaculturebra sil .com AQUACULTURE BRASIL - MARÇO/ABRIL 2017
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Eles fazem a diferença! N cultura brasileira. Apesar do 1,93 m de altura e de um “vo-
zeirão” que às vezes “intimida” quem não o conhece, o sorriso fácil e o carinho, atenção e respeito com que trata todos que o procuram, Sempre disposto a ajudar, grande incentivador da assistência técnica e da extensão rural, apresentamos aos leitores da AQUACULTURE BRASIL o Engenheiro de Pesca Ricardo Campos, sócio proprietário da empresa Aquanordeste Consultoria e Assessoria Ltda. Formado pela UFC, em 1999, Ricardo sempre se dedicou bastante a tratos, prestando consultoria a aquicultores, investindo em produção própria, comercializando produtos e atuando com capacitação e treinamento. sil por ter criado a lista de discussão “AQUANORDESTE”, uma incrível ferramenta de troca de experiências e disseminação de informação aquícolas via e-mail. Em 2012, encarou um grande deo cargo de Secretário de Pesca e Aquicultura do Governo do Estado do Ceará, ocupando a pasta até setembro de 2013, quando saiu por motivos políticos. Em sua gestão, fez o possível para levar assistência técnica aos pescadores e aquicultores cearenses, priorizando a contratação de técnicos experientes, além de batalhar incansavelmente junto ao MPA por recursos para projetos da Secretaria e da Universidade Federal do Ceará. Atualmente, Ricardo é consultor sênior do censo da carcinicultura da ABCC no litoral oeste do Ceará, além de estar desenvolvendo seu projeto próprio de carcinicultura em sistema intensivo e atuar como consultor técnico pela Aquanordeste.
Como a aquicultura entrou na vida do Engenheiro de Pesca Ricardo Campos? “Ingressei no curso de Engenharia de Pesca interessado realmente na pesca, sempre fui um apaixonado pela atividade. Mas mudei o rumo para aquicultura após ter o privilégio de assistir às aulas de Aquicultura I de quem considero uma das maiores autoridades em aquicultura no Brasil, o professor José William Bezerra e Silva, o Bezerrinha. Suas aulas eram aquicultura”.
Um líder nato “No próprio curso de Engenharia de Pesca já participava como diretor de entidades representativas e de pesquisa, como o Centro Acadêmico, Associação Atlética do Centro de Ciências Agrárias e Centro de Pesquisa dos Estudantes de Engenharia de Pesca. Atualmente, sou diretor tesoureiro da Associação dos Engenheiros de Pesca do Ceará (desde 2009) e conselheiro do CREA-CE na gestão 2017-2019. Através dessas entidades participamos de comissões, câmaras, comitês, de TUDO que envolva AQUICULTURA e PESCA, e assim ajudamos um pouco no desenvolvimento e defesa da atividade. Posso até dizer que essa defesa da aquicultura, pesca
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Sobre a atual crise da aquicultura no Ceará principalmente no Ceará, onde essa produção é realizada em açudes abastecidos exclusivamente com água da chuva, haja vista que não temos rios perenes. Vários reservatórios estão com menos de 10% de sua capacidade, e nessas uso da mesma, que é o abastecimento humano. A WSSV, ou mancha branca, entrou com força no ano passado e diminuiu a produção de camarão no Ceará, mas a exemplo de outros Estados que foram acometidos com essa doença, resistência dos animais não só à mancha branca, como também à NIM e outras doenças que porventura venham a aparecer”.
E cultivos intensivos e biosseguros de camarão marinho? disso, a biossegurança será palavra de ordem nesse projeto. Não há novidade em biossegurança, a questão é aplicá-la. E para isso a ABCC faz diversos cursos junto aos produtores. Cabe a nós transformar nosso ambiente de trabalho em um local seguro e livre de patógenos, dentro do possível”.
De saída do AQUAMERCANTIL? “O AQUAMERCANTIL é uma grande sacada e foi uma honra ser convidado pelos idealizadores, Rafael Belo, Cristóvão Amarante e Luiz Vilaça. Mas com o desenvolvimento das minhas atividades aqui no Ceará não deu para acompanhar o ritmo, faço várias coisas ao mesmo tempo e isso poderia mais atrapalhar do que ajudar na empresa. Considero que será uma forma do lucro na cadeia da aquicultura. Acredito que esse formato de leilão reverso de pescado vai ter sucesso”.
Onde vamos encontrar o “Ricardão” daqui há 10 ou 20 anos? “Daqui a 10 ou 20 anos me encontrarão na beira de um tanque ou de um viveiro, podem ter certeza. De preferência da minha produção. Quero envelhecer trabalhando na produção de proteína animal. Tem atividade mais nobre do que essa? ”.
Uma mensagem final “O que posso deixar para os amigos leitores é somente um desejo, de que a população brasileira e autoridades governamentais um dia descubram o potencial que o Brasil tem para ser um dos líderes mundiais na aquicultura. E que ao descobrir esse potencial dêem um local adequado no governo para serem tratadas as políticas públicas para o setor, com gestores e técnicos competentes e com conhecimento. Pode ser uma utopia, mas talvez as mudanças pelas quais o país está passando contribuam para isso, para que tenhamos gestores competentes cercados de técnicos mais competentes ainda. Invistam na aquicultura, mesmo com todas as adversidades burocráticas, comerciais, sanitárias que passamos”.
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Quero envelhecer trabalhando na produção de proteína animal. Tem atividade mais nobre do que essa?
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Spirulina platensis © algae-lab.com
spirulina Creditada por muitos como o “alimento do futuro”, spirulina é uma denominação generalizada que se refere a cianobactérias dos gêneros Spirulina e Arthrospira. Estas microalgas (não considerando o enquadramento taxonômico) - são também chamadas de algas verde-azuladas - e ocorrem naturalmente em vários ambientes aquáticos, particularmente naqueles com condições alcalinas. As espécies mais exploradas e utilizadas como alimento são Arthrospira platensis e A. máxima. Conhecida pelo seu elevado valor proteico (até 70%), a biomassa de Spirulina também contém quantidades interessantes de ácidos graxos, aminoácidos essenciais, vitaminas, minerais e pigmentos antioxidantes. Desta forma, sua produção comercial ganhou atenção mundial, sendo produzida comercialmente em diversos países para uso como suplemento alimentar humano e animal e para uso na indústria farmacêutica, por exemplo.
Enquadramento taxonômico Ordem Oscillatoriales Família Microcoleaceae Gênero Arthrospira As células desta microalga são multicelulares, geralmente na forma de espiral (tricomas). Depois de muitos anos de discussão sobre a questão taxonômica em relação aos gêneros, em 1989 estes micro-organismos gêneros (Spirulina e Arthrospira ), sendo aceita. Spirulina maxima © algae-lab.com
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Sistema de cultivo mais utilizado
Uso na aquicultura
Esta microalga tem sido usualmente cultivada em tanques rasos (tipo raceway, nos quais as culturas são agitadas pelo uso de paddle wheel) com ou sem revestimento, construídos a céu aberto, aproveitando as condições naturais de iluminação e temperatura. Alguns cultivos também têm sido desenvolvidos em sistemas fechados e superintensivos (fotobiorreatores), constituídos por tubos transparentes que podem ser de plástico (policarbonato) ou vidro.
Tem sido usada como aditivo alimentar para peixes e camarões, melhorando o crescimento e as respostas imunológicas de algumas espécies. No trabalho de Abdel-Tawwab et al. (2009) por exemplo, foi demonstrada uma melhora na sobrevivência de juvenis de Tilápia-do-Nilo alimentados com dietas contendo Spirulina desaAeromonas hydrophila. Além do uso de spirulina diretamente na alimentação de larvas de peixes e camarões, as larvas de peixe podem ser alimentadas com spirulina através de rotíferos e artêmias enriquecidos com a microalga, ou através de dietas formuladas e microparticuladas.
Produtividade em biomassa
Spirulina platensis Spirulina maxima
Produtividade em biomassa por volume (g / L / dia) 0,06-4,3 0,21-0,25
Produtividade em biomassa por área (g /m² // dia ) 1,5-14,5 / 24-51 25
Fonte: Microalgal Biofuel, Chapter 6.
*Cabe esclarecer que a enorme variação dos dados de produtividade se deve às diferentes condições de cultivo, considerando os sistemas de cultivo (tanques ou fotobiorreatores), volume das culturas, cepas de microalgas, condições ambientais (temperatura e iluminação) etc.
Produção no BRASIL
Condições ótimas de cultivo (pode depender da cepa cultivada) Temperatura: mínima de 20,
melhor entre 30-35 °C pH: entre 8 e 11 Salinidade: 0 -30
Entraves/desafios na produção
Há poucas informações sobre o cultivo comercial no Brasil, entretanto, é possível relacionar a produção desta microalga pelo Instituto Fazenda Tamanduá (Paraíba) e pela OLSON Microalgas, Macronutrição (Rio Grande do Sul).
Pela facilidade de cultivo desta microalga, em relação a outras espécies, a abertura do mercado pode ser o maior entrave em nível nacional. Fotobiorreator © Schott
Características positivas Altamente nutritiva: a biomassa de Spirulina maxima pode apresentar entre 60–75% de proteínas, 13–16 % de carboidratos e 6–7% de lipídios; Teor proteico de alta digestibilidade (8595%); Pode crescer sob condições ambientais extremas, diminuindo a possibilidade de contaminação do cultivo por outros micro-organismos competidores.
© Nutrex Hawaii
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Fontes: Roberto Bianchini Derner; Silvana Ohse; Maurício Villela; Sabrina Matos de Carvalho; Roseane Fett. 2006. Microalgae, products and applications. Ciência Rural, 36(6), pp.1959-1967 Nitin Raut.; Talal Al-Balushi, Surendra Panwar, R.S. Vaidya and G.B. Shinde. 2015. Microalgal Biofuel, Status and Perspective. Disponível em: <https://cdn.intechopen.com/ pdfs-wm/48181.pdf > Pesquisador Dr. Roberto Bianchini Derner.
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P e s c a d o no Va r e j o APRESENTANDO O
O
PESCADO
CONSUMIDOR
PARA
FINAL
Nosso co-editor Artur Rombenso participou da Seafood Expo North America, a “Feira de Boston”, que ocorreu de 19 a 21 de março de 2017 em Massachusetts (EUA), e registrou com exclusividade para a Aquaculture Brasil as mais variadas formas de apresentação dos produtos aquícolas nas gôndolas das principais empresas mundiais presentes no evento. Tivemos inclusive a exposição do nosso Arapaima gigas. 2
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