Fatos da Rua - 1ª Edição

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A REALIDADE QUE BAURU NÃO VÊ

Nome do Vendedor:________________________ Jornal de moradores de rua de Bauru

Ano I

Edição 1

Outubro de 2016

Quem tem medo de morador de rua? Preconceito impede reinserção desse grupo na sociedade página 7

Giovana Amorim/Fatos da Rua

Denúncia

Poemas das ruas

E depois da eleição?

Você conhece os serviços que a cidade oferece a moradores de rua? Hoje são insuficientes

"Em quem acreditávamos? Era mesmo em Deus? Ou o Deus daquela terra só era cultuado aos domingos?"

O que os bauruenses esperam dos políticos nos próximos quatro anos?

página 3

página 8

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Fatos da rua

outubro de 2016 Arthur Finati/Fatos da Rua

Editorial

H

oje Bauru não tem nenhuma publicação para seus moradores de rua, apesar de mais de 150 pessoas estarem nessa situação na cidade. Tudo o que é publicado sobre a população de rua é escrito por pessoas que estão em uma situação bem diferente da que ela se encontram. Apesar disso, a comunicação é um direito de todos os seres humanos. Está na Declaração Universal dos Direitos do Homem que todo indivíduo "tem direito a receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”. Por que, então, os moradores de rua não tem um veículo para mostrar de que forma enxergam o mundo e quais são as suas demandas? Foi com esse tipo de questionamento que fundamos o Fatos da Rua. Trimestralmente você poderá comprar de nós exemplares que trazem um outro olhar da cidade: o olhar da população de rua de Bauru. Na primeira edição, você poderá ver como está o Centro POP, uma instituição pública que atende moradores de rua. Vai também poder ler sobre a dificuldade da população de rua para conseguir um emprego por conta do preconceito. Conheça quem faz o jornal, ao lado, e confira a sessão de poemas, na página 8. Boa leitura! Equipe Fatos da Rua

Reunião de pauta da equipe, que acontece semanalmente no Centro POP

Apoio:

Segurança e rapidez. Agradecemos a preferência!

Fatos da rua

Jornal feito por moradores de rua de Bauru e estudantes de Comunicação Social- SP Projeto de extensão universitária Jornalista responsável: Francisco Rolfsen Belda Equipe: Ana Adélia, Ana Carolina Moraes, Ana Carolina Ribeiro, Ariádne Mussato, Arthur Finati, Cristiano Machado, Daniela Arcanjo Rodrigues, Éderson de Oliveira, Giovana Amorim, Laura Botosso, Luís Henrique da Silva, Stephany Sodré. FAAC - Unesp Bauru Departamento de Comunicação Social Endereço: Av. Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01,Vargem Limpa, Bauru/SP Tiragem: 1000 exemplares

Impressão: Full Graphics


outubro de 2016

Fatos da rua

Quem faz o jornal? Desde junho deste ano, a nossa equipe vem se reunindo para fazer um jornal que tenha uma outra visão da cidade. Confira aqui os jornalistas e jornaleiros do Fatos da Rua! Fotos: Arthur Finati

ÉDERSON HENRIQUE DE OLIVEIRA FREDERICO, 34 ANOS Atualmente, É (apelido pelo qual é chamado) trabalha como rodeiro nas esquinas de Bauru. Tem um filho e uma filha, frutos de seu casamento de 10 anos, época em que era técnico agrícola. Dentre um de seus muitos talentos está o RAP. Com dezenas de letras escritas, já cantou bastante, ganhando o primeiro lugar no evento “Quilombo do Interior”, junto com o grupo RR16 – Revoltados e Revolucionários. Quando foi para rua, sua maior dificuldade era a alimentação. Hoje, fica feliz em ajudar quem passa pelo mesmo aperto.

LUÍS HENRIQUE DA SILVA, 26 ANOS Embora ainda não tenha profissionalização, Luís é um escritor. Gosta muito de ler e desenhar, habilidades que aprendeu quando criança, “vendo minha mãe fazer receita para bolo”, explica ele. O reggae é o estilo de música que Luís mais gosta de ouvir, e o rei Bob Marley ocupa o lugar de seu cantor favorito. O que o escritor mais gosta nele são suas ideologias de paz. Um dia Luís encontrou um grande homem que o incentivou a ler "a história do mundo", e desde então se dedica bastante a esse tipo de leitura.

ANA ADÈLIA, 51 ANOS Mora na rua há 5 anos. É mãe, tia e avó. Em seu tempo livre, Ana gosta de tocar violão – instrumento que aprendeu a tocar “sozinha, de ouvido”. Curte também atividades manuais, como fazer crochê, tricô e pintura. Na hora de ouvir um som Ana vai de música romântica, e quando o papo é cinema, seus filmes marcantes são “E O Vento Levou” e “Ghost”. Ana sonha em ser secretária ou médica veterinária. “Adoro animais, gosto de cuidar”, afirma ela. Ana diz sentir falta da sua vida anterior à rua e quer muito poder voltar a estudar.

STEPHANY SODRÉ DE ALMEIDA, 32 ANOS Stephany é uma travesti que nasceu em Bauru e vive em situação de rua há mais ou menos cinco anos. Passou bastante tempo em casas de passagem, onde aprendeu diversos tipos de artesanato, como crochê e tricô, além de praticar a função de cabelereira, habilidade que aprendeu com Vitinho, seu tio falecido. “Eu fazia o cabelo de todas as meninas. Cortava, fazia escova, alisava, fazia progressiva, megahair”, conta ela. Seu sonho, inclusive, é ser a maior cabeleireira do estado: ela quer muito voltar a trabalhar para se autossustentar.

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Fatos da rua

outubro de 2016

denúncia

"Quem não tem casa sua, anda sempre na rua" Precarização de abrigo e acolhimento limitado: onde está quem não tem moradia? Ana Carolina Moraes Daniela Arcanjo Éderson de Oliveira

Em janeiro de 2015, uma pesquisa realizada pela prefeitura de Bauru divulgou que a população de rua no município triplicou em quatro anos. Em 2010 foram registradas 52 pessoas nessa situação, e, em 2014, 152. Esses dados são os mais recentes sobre a quantidade de pessoas em situação de rua na cidade. O Centro de Referência Especializado em População em Situação de Rua (Centro POP) foi aberto para atender essa demanda em crescimento. O POP é uma instituição pública que tem como objetivo acolher moradores de rua durante o dia. Foi feito com base em uma ordem do governo federal, em 2009, que determinou a construção de Centros POP em municípios com mais de 250 mil habitantes. De acordo com o documento com orientações técnicas do serviço, todas as unidades deveriam ter “iluminação, ventilação, conservação, salubridade e limpeza”. Além disso, consta que todo o espaço deve prezar pela acessibilidade, com banheiros adaptados, um refeitório e uma lavanderia com espaço para a secagem de roupas dos morarores de rua.

Hoje o Centro POP, em Bauru, está em um galpão. O espaço fica aberto das 8h até às 17h. No local não há um refeitório, apenas algumas cadeiras improvisadas e poucas mesas. Alguns ventiladores tentam dar conta do calor bauruense no verão, mas uma reclamação constante dos moradores de rua e funcionários é que, por não ter forro, fica muito difícil permanecer no espaço quando as temperaturas sobem. Já no inverno, o que ficava difícil até um tempo atrás era o banho. Apenas recentemente os chuveiros estão esquentando a água. Quem entra no local após o horário de banho se depara com o espaço alagado por conta da falta de escoamento de água. As orientações para o Centro POP apresentam a necessidade de uma avaliação da cidade em que será implementado para que a sede possa ficar em um local apropriado e nas proximidades do espaço em que moradores de rua ficam. No caso de Bauru, grande parte dessa população fica na praça Rui Barbosa, na Rodoviária e na antiga estação Ferroviária. O Centro POP, no entanto, localiza-se hoje no Falcão, perto da Secretaria de Bem Estar Social (SEBES). Com pouco mais de quatro anos, a

Em Bauru, a SEBES é a secretaria responsável pela implementação do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

O Centro POP é um objetivo federal dentro do Plano Nacional para a População em Situação de Rua, no decreto 7.053/2009.

Centro POP

Deve oferecer atividades que estimulem a organização, mobilização e a participação social

É um espaço de convivência em grupo e sociadade.

Para ter acesso aos serviços basta dirigir-se a uma unidade. Não precisa de um cadastro ou documentação!

Fontes: Observatório Crack (hp://migre.me/v11y5) Ícones desenhados por Freepik.com

instituição já passou por mais de quatro endereços. Em todos esses locais houve um desconforto da vizinhança por conta do preconceito com os moradores de rua. Precarização Paulo Vieira de Freitas é funcionário do Centro POP e afirma que o serviço caiu muito de qualidade nos últimos anos. “Cada vez está ficando pior. O alimento não é bom, o banheiro não é bom e faz muito calor. Quando chove temos

que tirar os alimentos do armário porque chove aqui dentro. As atividades diminuíram muito também. Quando tinha mais funcionários, na casa da Joaquim da Silva Martha, por exemplo, tinha várias atividades todos os dias”, comenta. O quadro de funcionários atesta isso: no início, o Centro POP tinha treze servidores públicos. Hoje tem apenas quatro. Não houve cortes, mas os pedidos de transferência dos funcionários não foram repostos. A quantidade de


outubro de 2016 profissionais está abaixo da exigida pelo documento com orientações técnicas da instituição. Para uma capacidade de atendimento de 80 pessoas por mês, o Centro POP deve contar com 13 funcionários. A secretária do Bem Estar Social, Rosa Maria Pereira, afirmou em entrevista que, em um dia apenas, 50 pessoas são atendidas pelo POP. A SEBES é a responsável direta pelo funcionamento e manutenção do POP em Bauru. O (não) acolhimento Bauru não possui um serviço totalmente público de acolhimento noturno. A secretária da SEBES, Rosa Maria Pereira, conta que “a Prefeitura e a secretaria tem uma série de serviços que são destinados às pessoas que estão em situação de rua”. Mas nenhum é totalmente público para abrigar moradores de rua à noite. Segundo a secretária, serviço público é o que tem execução direta, como o Centro POP; os outros, são convênios entre a prefeitura e organizações privadas da cidade. As casas de passagem da cidade são conveniadas. Podem hospedar moradores de rua, porém em determinadas condições. Nesta proposta, Bauru possui três serviços: o Esquadrão da Vida, que recebe homens maiores de 18 anos encaminhados pelo Centro POP, dispondo de 30 vagas para reabilitação, a 12 km do centro da cidade; a Comunidade Bom Pastor, uma casa de passagem voltada ao acolhimento exclu-

Fatos da rua sivo de mulheres, e o Centro Espírita Amor e Caridade – CEAC –, também conhecido como Albergue, com 60 vagas para homens e mulheres. O CEAC é o serviço mais viável para os moradores de rua. Além de estar bem localizado, pois fica perto da rodoviária, a instituição não exige intermédio para receber essa população. Porém, a recepção baseia-se na conduta dos interessados: quem só quer um lugar seguro para passar a noi- O Centro POP já mudou te, e não gostaria de participar das outras atividades dispo- versou quando foi questionada nibilizadas pela organização, por um de nossos repórteres: “não é assim, a pessoa tinha tem acesso limitado. O problema é que o CEAC interesse de ficar em uma casa é o único espaço que poderia de passagem, não tinha vaga acolher pessoas nessa condi- e por isso ela não foi, não é ção na cidade. Moradores con- assim. Tudo o que vocês gostam a dificuldade em usufruir tariam, que vocês precisarem, do atendimento: “Eu precisa- nós estamos à disposição para va sair mais cedo do Albergue conversar, verificar e conciliar para trabalhar, entregar folhe- para que a pessoa possa ir.” Está previsto, há dois anos, to. Aí, um dos funcionários a construção de brigou comigo quando eu saí. "Nós somos um outro local para o Centro Agora tô proiabandonados POP. A grande bido de ficar lá por um tempo”, aqui no POP. diferença desse conta o morae Política novo espaço seria a sede pródor de rua Brasil, de passagem pública faz pria, que evitano POP. No dia diferença" ria as constantes mudanças de lu16 de setembro deste ano, por exemplo, havia gar que hoje o Centro POP souma lista de 20 pessoas que fre. Quando questionada sonão poderiam entrar no alber- bre possíveis melhorias nesse gue por querer apenas o aco- novo local, a secretária Rosa afirma que não teria nada de lhimento noturno. Com número de casa de pas- mais “apropriado”, apesar das sagens reduzidos, a disponi- constantes queixas de funciobilidades de vagas também é nários e usuários do serviço. A baixa. Sobre a lotação desses única vantagem seria ter uma espaços, a secretária descon- sede fixa, segundo ela.

5 Arthur Finati/Fatos da Rua

de endereço quatro vezes O documento das orientações técnicas para o Centro POP também propõe o aumento do período de funcionamento da instituição, “a partir de uma avaliação local e de forma a garantir o maior acesso pelos usuários”. No entanto, não há previsão para que o serviço seja 24h em Bauru porque, segundo Rosa, não há condições para fazer isso agora. “Na verdade nós já temos outros atendimentos que subsidiam esse atendimento 24h”, afirma a secretária. O atual funcionário público do POP, Paulo, foi abandonado na rua quando nasceu e permaneceu nela até os 14 anos. Ele diz que, se tivesse conhecido um local adequado para ficar nesse período, sua vida teria sido muito diferente. “O ideal é que eles tivessem um local 24h disponível, com cursos para fazer dentro dessa casa mesmo, com uma comida melhor. Nós somos abandonados aqui. Política pública faz diferença na vida de um morador de rua, sim”, afirma.


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Fatos da rua

Na boca

outubro de 2016

do povo

Que mudança você quer ver com os novos políticos dos próximos quatro anos? Daniela Arcanjo Giovana Amorim Laura botosso Stephany Sodré

Acho que tem que mudar muita coisa: a rua, o asfalto, a segurança de Bauru - principalmente no centro. Poderiam também abrir mais locais de dança, de eventos culturais, esse tipo de coisa. Valter Santiago, 18 anos

Queria ver mudanças no que a gente precisa. Saúde, educação, segurança. O povo precisa disso. Mas para mim a cidade está boa. Para os moradores de rua acho que poderia dar mais apoio né? Dar mais segurança, porque eles não têm, dar coisas para eles fazerem. É isso que precisa. Darlei Bertinotes, 53 anos

Acho que tinha que mudar muita coisa, a começar pelo salário dos políticos. Deveria ser um salário menor. Tem que entrar na política pelo amor, lutar pela cidade por amor e não entrar lá para ganhar dinheiro. Teria que ser assim, entrar em um projeto para recuperar Bauru. E dá para fazer muita coisa para mudar a situação dos moradores de rua. Mais casas de sopa, casas de recuperação, ajudar mesmo, sabe? E não se desfazer deles que nem eu vejo acontecer. Tem muita gente de idade na rua, passando frio e fome. Vera Lúcia Martins, 49 anos

Eu espero uma mudança na saúde, no emprego, mudar a cidade mesmo. Ninguém está ligando mais. Os buracos no asfalto, por exemplo, não arrumam. Eu queria ver esse tipo de mudança. Aparecida Ramires, 68 anos

Eu gostaria de ver uma mudança na geração de empregos. O emprego caiu muito. Mas outras coisas poderiam mudar: a questão de moradia mesmo, as pessoas que moram na rua. O governo tem condições de tirar sim, mas não tira. Alan Santos, 22 anos Fotos: Daniela Arcanjo/Fatos da Rua


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Fatos da rua

outubro de 2016

sociedade

Preconceito impede contratação de moradores de rua População de rua sofre por não conseguir uma renda fixa e estabilidade financeira Ana Adélia Arthur Finati Giovana Amorim Laura Botosso Stephany Sodré

O Brasil hoje encara um momento delicado na economia. Os altos níveis de desemprego são uma realidade em todo o país. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 11,6 milhões de brasileiros estavam sem ocupação no segundo trimestre de 2016. Esses números representam mais de 11% da população ativa do Brasil e é a maior porcentagem registrada pela Pnad Contínua desde sua criação, em 2012. Se as dificuldades para conseguir um emprego já são grandes para a população em geral, alguns setores da sociedade tem ainda mais problemas para conquistar uma fonte de renda. Candidatos que não apresentam alguns pré-requisitos considerados básicos (como experiência ou comprovante de residência fixa) são ainda mais prejudicados no processo de seleção. O motorista de caminhão Claudinei Cristiano Marques, é um exemplo desses afetados. Desempregado, é a primeira vez que não possui um endereço fixo para registrar na

Você contrataria um morador de rua? Principais justificativas para a recusa:

37,5% 62,5%

Contrataria Não Contrataria

Aparência do candidato

Falta de confiança

Antecedentes criminais

Dependência de drogas

Pesquisa realizada com 32 empresas em Bauru, em áreas como Vila Cidade Universitária, Avenida Vargas, Avenida Rodrigues Alves, Pesquisa realizada com Getúlio 32 empresas emBairro Bauru,Falcão, em áreas como Vila Universitária, entreGetúlio outras. Estatísticas possuem fins científicos e representam somente Vargas, Falcão,não Rodrigues Alves, entre outras. Data: setembro/2016 a opinião da amostragem entrevistada pela equipe.

procura por um emprego. “Eu de possuir antecedentes critenho minha carteira de traba- minais causa apreensão aos lho, tudo pronto pra trabalhar. empregadores . “A minha diSó que, no currículo, vou colo- ficuldade é que, quando vou car o endereço de quem? Te- procurar, eles pedem meu paslefone de contato de quem?”, sado. Infelizmente, nessa vida, indaga. Marques acredita que eu já errei. Eles não têm cona burocracia contratual é um fiança porque veem que eu já fator que contriroubei alguma bui muito para coisa”, explica. "Quando que a população A apuração procuramos da equipe conem situação de rua não consiga firmou essa emprego, alcançar uma impressão dos mandam a estabilidade fimoradores de gente catar rua. Angelo Di nanceira. Outro fator Pascalle, dono latinha" pode atrapade um pequelhar esse grupo social: o pre- no mercado em Bauru, afirconceito. Ricardo de Oliveira mou que moradores de rua Bernardes, é morador de rua "não possuem interesse real e acha difícil conquistar um em arrumar uma ocupação" emprego. Ele já atuou como e, como patrão, não conseguicabeleireiro e possui curso ria estabelecer uma relação técnico na área, mas o fato de confiança. “Se for o caso

dele querer trabalhar, provavelmente terá o objetivo de dar prejuízo, esperará ganhar confiança para depois dar um golpe, roubar”, afirma. A resistência dos empregadores bauruenses frente à população de rua não é uma exceção. A equipe do Fatos da Rua perguntou a 32 estabelecimentos sobre a possibilidade de admitir alguém nessa situação e poucos comerciantes disseram, prontamente, que sim. Algumas empresas se mostraram flexíveis de acordo com o caso. A comerciante Lídia Ribeiro, gerente de uma loja de roupas infantis em uma área nobre de Bauru, se preocupa com a forma que esse possível funcionário seria recebido. “O nosso público é classe A, então é complicado porque talvez reduziria nossa clientela. A gente trabalha com imagem e o vendedor é a imagem da loja”. Lídia parte do pressuposto de que os próprios clientes teriam resistência. O morador de rua e frequentador do Centro Pop Milton César, também sente os obstáculos sociais quando sai em busca de emprego. Ele afirma que costuma não ser bem recebido nos estabelecimentos comerciais. “Falam que não tem vaga, mandam a gente ir catar latinha”, afirma.


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Fatos da rua

Poemas

outubro de 2016

Por Luís Henrique da Silva

A grande fábrica de corpos decaptados Você chora mas chora por dentro Tenta observar o mundo de cabeça pra baixo Tenta desvendar o cubo mágico em pouco tempo Mas o seu desespero é total Pois se vê numa sala ensanguentada Desvendando o cubo mágico em uma cadeira Onde abaixo de ti há mais 900 mil crocodilos famintos Lhe observando e desvendando o seu erro A sua frente há um homem de preto Encapuzado e com um rifle nas mãos No chão, os corpos que não passaram na prova Ao mesmo tempo em que pensa no êxito Pensa na família

Todos estão sobre o chão O diabo caminha Com sua botina Lentamente Em uma janela de vidro tomando um gole de vinagre Dá gargalhadas dizendo Aqui nem Jesus Cristo foi aprovado A folha acaba e me avisa Bum! Mais um gole de veneno

Um coração misericordioso Às vezes eu me perguntava O que tínhamos em nossos corações Como se estivesse perdido Em meio àquela multidão toda Ouvindo e vendo todos os dias Cada um correndo atrás de um objetivo próprio O fato é que às vezes a confusão Era maior do que eu mesmo imaginava Em quem acreditávamos? Era mesmo em Deus? Ou o Deus daquela terra só era cultuado aos domingos? Ah, como é bom um abraço do seu próximo Sem primazias Sem ao menos se importar Com seus defeitos e erros cometidos Com o decorrer do tempo ali A terra era farta em alimentos Espetáculos esplêndidos Aos nossos olhos

E com força espiritual bastante Para ajudarmos uns aos outros com amor E realmente finalizarmos nossos dias De consciência limpa Se discutirmos por qualquer motivo fútil estaremos perdidos Não bastaria você olhar realmente ao seu semelhante? E imaginar o quanto ele já deve ter sofrido Para chegar até o presente? Ao invés de julgá-lo iria correndo lhe dar um abraço Pararia até mesmo o teu carro e iria lembrar Aquele é teu irmão! E muitos dos teus irmãos, aonde estão? Em cadeias, em calçadas, sem alimento Ah, se pudéssemos dar-nos as mãos E seguir adiante com fé e coragem Olharíamos aos céus e contemplaríamos grandes feitos E purificaríamo-nos por dentro Cada um em uma grande libertação


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