33ª Edição do Voz do Nicéia

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Jornal Comunitário do Bairro Jardim Nicéia

Bauru Ano VIII Edição nº 33 Dezembro de 2016 Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia

Demarcação de terreno próximo ao bairro gera boatos de desocupação Pág. 4 Campeonato de futebol é sucesso no bairro no último domingo! Pág. 3

Paralisação do "Cidade Legal" dificulta pavimentação Pág. 6 Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia

Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia

A história de luta de Tatiana Pág. 8

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2 Dezembro de 2016 Editorial O fim de mais um ano está chegando. 2016 foi difícil para todos, mas o Jardim Nicéia seguiu em parceria com o Voz do Nicéia que, ano que vem, entra no seu nono ano. Começamos 2016 com uma edição que relembrava a história do bairro e fechamos com uma que fala um pouco dos planos futuros do Nicéia. No último domingo, cobrimos um torneio que juntou moradores de seis comunidades de Bauru. O evento animou os organizadores: os projetos incluem montar um novo time para o bairro! Em meio a essa ótima notícia, uma incerteza que está tirando o sono de alguns

Unip / Makro Horário de saída do CENTRO - Dia útil 05h35 05h50 06h14 06h48 07h16 08h10 08h48 09h23 10h07 10h42 11h27 12h05 12h51 13h29 14h10 14h23 14h49 15h32 16h04 16h46 17h22 18h05 18h15 18h42 18h50 19h18 19h50 20h20 21h23 22h35 Sábado 05h45 06h10 08h38 09h13 12h19 12h49 16h31 17h45

06h28 09h46 13h29 19h00

06h59 10h22 14h03 20h11

07h33 10h57 14h20 21h21

08h05 11h38 15h17 22h30

Domingo/Feriado 06h20 07h24 08h32 09h40 10h48 11h56 13h04 14h12 15h20 16h28 17h36 18h44 19h52 21h00 22h08

Fale com a gente! Departamento de Comunicação Social da Unesp 3103-6063 3103-6066 E-mail jornal.vozdoniceia@gmail.com

moradores: a Rua 6 corre o risco de ser desocupada? Nossa equipe foi atrás de cobrar respostas das autoridades. Por fim, não deixamos de cobrar a pavimentação, o problema mais relatado pelos moradores aos nossos repórteres este ano. Confira na página 6! No "Fala, Morador!", perguntamos: "o que vocês esperam de 2017?" Nós já sabemos o que nós queremos: mais 9 anos de Voz do Nicéia, pelo menos. Boa leitura! Equipe Voz do Nicéia

Horário de ônibus Câmpus /CTI: Horários saída do Campus - CTI - Dia útil 06h20 06h40 07h20 07h40 08h20 08h40 09h02 09h39 10h00 10h30 11h00 11h20 12h16 12h36 12h56 13h16 13h33 13h56 14h26 14h56 15h26 16h20 16h26 17h16 17h36 18h00 18h22 18h36 18h56 19h36 20h00 20h36 21h00 21h26 22h00 22h27 23h05 Sábado 06h25 07h17 07h45 08h10 08h35 09h30 10h20 11h15 12h32 13h00 13h25 14h17 15h10 16h02 18h40 19h33 20h25 21h18 23h03

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Dezembro de 2016

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Torneio de onze horas reúne 14 times de Bauru O último domingo foi dia de suar a camisa. Um campeonato ferveu o Nicéia!

O sol bauruense de dezembro não foi capaz de tirar as dezenas de pessoas que estavam em torno do campo de futebol do Jardim Nicéia. Acontecia, no último domingo, 18, um campeonato que reuniu 14 times de seis bairros da cidade. A estrutura montada parecia profissional: um árbitro de fora cuidava para que nenhum time fosse injustiçado, o campo estava limpo e com marcações e uma grande caixa de som cuidava da música. Porém, foram três amigos do próprio Jardim Nicéia que cuidaram de todo o evento. A ideia surgiu em outubro, depois de uma festa que eles haviam preparado para as crianças do bairro. A partir daí, começou a correria: eles precisavam de patrocinadores, estrutura para o evento e divulgação. Um dos organizadores, Gustavo Campos, 21 anos, conta como foi conseguir verba para realizar o campeonato: “nós conseguimos a doação dos troféus, e cobramos 30 reais e 3 litros de leite na inscrição de cada time. O leite vai ser doado na creche”. Com esse dinheiro, deu para pagar o juiz e dividir os prêmios entre os três primeiros lugares. O primeiro lugar foi para um time do Tangarás, o segundo para o Parque das Nações e o terceiro foi dividido entre o Jardim Nicéia e outro time do Parque

Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia

Daniela Arcanjo

A montagem da trave não foi fácil: anoiteceu e os organizadores ainda estavam trabalhando das Nações: não deu tempo res ou arrumar a praça. “O de jogar a última partida. time ajuda a vila e a vila ajuda o time”, resume. Vem novidade por aí! Para Carlos, um time Depois do sucesso do pode ajudar na identidade campeonato, os organizado- do bairro. “A gente quer leres pensam em montar um var o pessoal do Jardim Ninovo time para o bairro: o céia para fora, para conheJardim Nicéia Futebol Clu- cerem a nossa vila. Como é be. “A gente adora o Operá- difícil trazer as pessoas aqui, rio, mas agora a gente quer então você leva para fora. caminhar com as próprias Porque muita gente acha pernas, com a ajuda do bair- que aqui só tem bagunça, ro”, explica Carlos Roberto mas tem muita gente de Junior, 32 anos. Ele é realista bem. Nós queremos fazer o e lembra de todos os gastos time para mostrar que o Nie dedicação que um time céia não é só isso que os ouprecisa. Para isso, já pen- tros falam”. Ele afirma que sou em soluções: continuar o torneio deu mais gás para fazendo campeonatos para eles fundarem o clube. ajudar nas despesas. Eles pretendem ajudar Drible na desunião o bairro. Carlos explica que Alan Carlos da Silva, de no caso de sobrar dinheiro 12 anos, estava aproveitanno caixa do time, por exem- do o dia. “Gosto de futebol plo, eles poderiam ajudar a porque ele não deixa a gente fazer uma festa de fim de ficar tanto na rua, a gente faz ano para todos os morado- ‘campeonatinho’ na quadra,

chama outras pessoas”. O Parque das Nações conseguiu montar dois times para o torneio. De lá veio o Jonas da Silva, de 26 anos. “Eu achei a iniciativa muito legal. As crianças nos assistem e acaba sendo uma opção para eles não irem para o mundo do crime”, explica. Ele ressalta a importância da união das comunidades de Bauru. Fabiano Pereira, 29 anos, explicou o motivo de tantos eventos no bairro: na opinião dele, os moradores devem se unir mais. Ele afirma que o crescimento do bairro acabou causando o afastamento dos moradores. “O futebol une todo mundo, é um imã. Ninguém se conhece aqui, por exemplo, mas todo mundo se entende. A gente esquenta a cabeça em campo, mas fora de lá a amizade continua”, conclui.


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Suposta construção de prédios ao A construção seria feita pela MRV no terreno lateral ao bairro,

Trabalhar duro, construir sua casa com dificuldade, investir nela e fazer de um bairro um lar, onde seus filhos crescerão e seus laços de amizade se formarão, parece direito de qualquer cidadão. No entanto, para muitos dos moradores do Jardim Nicéia, esse direito é constantemente ameaçado pela possibilidade de terem seus terrenos e casas tomados pelo governo ou por empresas. Um exemplo é um acontecimento recente no Nicéia: corre no bairro um boato sobre a desocupação das casas da Rua 6. Segundo os moradores, uma placa foi colocada no terreno próximo à rua em que moram, indicando uma suposta nova construção de um condomínio de prédios pela MRV. No entanto, a placa foi retirada do local recentemente após ter sido danificada por uma tempestade, aumentando ainda mais o clima de incerteza sobre o assunto. Em entrevista para o Voz do Nicéia, a Seplan, Secretaria de Planejamento da Prefeitura, explica que não tem conhecimento de nenhuma obra futura da MRV no local em seus registros. A MRV Engenharia respondeu em nota que “a área em questão não

pertence ainda à empresa, está em fase de prospecção”. Foi explicado à equipe do jornal que a construtora tem interesse na área, mas ainda está em fase de negociação. Portanto, ainda não há nenhum projeto para que se possa afirmar com certeza sobre a desocupação de parte da Rua 6, nem qual empreendimento seria feito ali. Não foi confirmado se a compra desse terreno iria afetar o Jardim Nicéia, mas o clima de insegurança que se instala especialmente na Rua 6 dá margem para esse pensamento. Os moradores relembram a desocupação que foi feita anteriormente, quando moradores que tinham construído suas casas na lateral do bairro tiveram que se mudar dali após a reintegração de posse do dono. Preocupações atormentam Há quem considere positiva a construção de prédios no local, para aumentar a visibilidade do bairro em relação ao poder público. A moradora Camila Barros, da Rua 6, mora no Nicéia há 5 anos e afirmou que construções naquela área podem aumentar o desenvolvimento do bairro e valorizar os terrenos. Ela confirma os boatos de desocupação, mas não acredita que seria possível ocorrer algo assim: “uma vez, há muito tempo, chegou na gente que algumas pessoas da Rua 6 poderiam

Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia

Ana Cristina Marsiglia Douglas Françoza Giovanna Castro

Bruno da Paz construiu essa casa há cinco anos, mas sua história com o Nicéia começou há 28 anos perder parte do terreno. Eu ficaria sem o meu quintal, por exemplo. Mas depois a CPFL veio, mediu, uma pessoa falou até onde eu poderia construir. Eu segui as ordens, então não tenho essa preocupação de que vão me tirar daqui". Já a moradora Pâmela da Paz, de 21 anos, teme o que pode acontecer com o bairro. “Se for mesmo ter um condomínio, como que o Nicéia vai ficar aqui no meio? Não vão deixar. Vão colocar a gente na rua?”, questiona. A preocupação do seu pai, Bruno da Paz, 55 anos, é por estar na parte que foi mais recentemente ocupada: “é bem suspeito, né? Eu moro há 28 anos aqui no bairro e até hoje fica esse jogo de ‘vai tirar, não vai’. Essa parte da rua em que eu moro está mais vulnerável”.

Outra questão que vem preocupando os moradores do bairro é quanto ao suposto fim do programa “Cidade Legal”. Criado no ano de 2007, o programa tem o intuito de facilitar o processo de regularizações fundiárias em núcleos habitacionais que estão presos em questões judiciais, caso do Jardim Nicéia, que se localiza em um terreno disputado por duas famílias tradicionais de Bauru. Esse projeto acaba impactando os moradores do Jardim Nicéia, pois é um dos bairros que estão nas Zonas Especiais de Interesse Social. Isso significa que o bairro tem mais evidência no programa e, assim, poderia ter suas terras regularizadas mais facilmente, além de permitir maiores investimentos até em infraestrutura.


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lado do bairro assusta moradores conforme anunciava placa de sinalização derrubada pela chuva De acordo com informações dadas por representantes do programa do governo federal “Minha Casa Minha Vida”, o programa “Cidade Legal” não foi encerrado, mas se encontra paralisado por falta de verbas públicas. No entanto, o Jardim Nicéia continua constando como uma das áreas de preferência mapeadas pelo projeto para que, assim que possível, o "Cidade Legal" seja reiniciado. E a regularização? A regularização dos lotes é uma das reinvindicações mais antigas dos moradores do Jardim Nicéia. O bairro ainda não foi legalizado porque a área em que se encontra é um local

disputado na justiça por duas famílias. O morador Bruno se atenta para uma situação que pode se agravar com a chegada de mais condomínios: a valorização da área e o preconceito de pessoas de fora em relação ao bairro. “Se fecham um condomínio aqui, não vão querer que o Nicéia fique onde está. O rico pode falar que a gente é igual, mas nós não somos. Eles não vão aceitar a gente no meio deles. Aqui é uma área nobre. Um lote de terreno nessa região é caro, e com o Nicéia aqui desvaloriza a terra deles. E eles vão querer isso? A corda vai arrebentar pro lado mais fraco”, afirma. Segundo os moradores, quando o Nicéia foi ocu-

pado, antes dos empreendimentos imobiliários que tomaram conta da região, não havia rede de esgoto, iluminação ou asfalto em nenhuma das ruas. Todas essas conquistas foram fruto da união dos moradores. Para Bruno, essa união deveria ficar ainda mais forte neste momento. “Aqui estamos sem presidente do bairro e é tudo particular. Se a gente vai na prefeitura, não temos um grupo pra fazer parte. A gente tem medo de entrar com usucapião porque se um perde, todos perdem. Se nós tivéssemos um advogado, um representante, a gente ia ganhar força”, afirma o morador. Quando questionado sobre suas inseguranças,

Bruno da Paz lembrou de uma promessa antiga: “ultimamente estavam falando que ia regularizar e não ia tirar ninguém, o Agostinho até falou na TV, mas não aconteceu”. Já o morador da Rua 6, Ivan, não pareceu tão otimista. “Aqui só vai de pior a pior. Esperamos que o Gazetta faça tudo o que ele prometeu. Ele disse que ia terminar de asfaltar isso aqui e que ia fazer uma rede de esgoto”. Outra promessa do futuro prefeito, registrada na última edição do jornal, foi a regularização do bairro, juntamente com o recebimento do título de propriedade de forma gratuita. Seu mandato começa no dia 1º de janeiro. Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia

O contraste da arquitetura mostra o avanço dos condomínios sobre a área que, há mais de 40 anos, é do Jardim Nicéia


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Dezembro de 2016

?? Tira Dúvidas

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?

Giovana Moraes

Dezembro é época de fazer um balanço do ano, relembrar tudo o que aconteceu de bom e o que poderia ter sido melhor. Assim como as pessoas, os órgãos públicos também fazem essa análise. Para o Ministério da Saúde, 2016 não foi tão positivo: houve crescimento no número de casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), em especial os de sífilis. O aumento no número de casos foi tão rápido que caracterizou a doença como epidemia. A sífilis pode ser transmitida de duas ma-

neiras: por relações sexuais ou da mãe infectada para o bebê, durante a gestação ou na hora do parto. A principal causa da epidemia foi a diminuição do uso de preservativos na hora do sexo. O tratamento é feito pelo antibiótico penicilina benzatina e deve ser tomado pelo parceiro ou parceira sexual também, não só pelo portador da doença. No caso da transmissão da mãe para o bebê, o acompanhamento pré-natal é muito importante: o tratamento, também com penicilina, deve ser iniciado o quanto antes. A médica pós-graduada em doenças sexualmente transmissíveis Daniela Gar-

Epidemia de Sífilis

dioli tira algumas dúvidas chas vermelhas pelo corpo sobre a doença. e até verrugas na região genital, que desaparecem deQuais exames detectam a pois. Aí a doença entra em sífilis? silêncio e os sintomas só reO exame é o VDRL, um aparecem anos depois e são exame de sangue comum. mais graves, com alterações Esse exame está disponí- nos sistemas nervoso e do vel na rede pública e pode coração. ser pedido pelo médico do posto de saúde. E em casos de transmissão da doença da mãe para o Quais os principais sinto- bebê, como ele é afetado? mas e consequências da O bebê pode nascer com doença, se não for tratada? alterações ósseas, cegueira, A sífilis é uma doença que microcefalia, podendo letem várias formas. Logo no var até à morte. início da infecção aparece uma ferida no órgão geni- Como se prevenir? tal, mas a ferida desaparece A prevenção deve ser sozinha, mesmo sem tratar feita com o uso do presera doença. Depois de algu- vativo sempre, em todas as mas semanas surgem man- relações sexuais.

Suspensão de programa dificulta pavimentação

Programa Cidade Legal visava facilitar investimentos em áreas como o Nicéia Beatriz Lima Beatriz Ribeiro

No ano de 2012, a Prefeitura de Bauru junto com a Associação de Moradores fechou uma parceria com o programa Cidade Legal, do Estado de São Paulo, para acelerar melhorias no bairro Jardim Nicéia. O programa tem o objetivo de agilizar e desburocratizar as ações e processos de legalização dos terrenos ocupados pela população. Por meio do programa, o bairro oficialmente passa a ser de responsabilidade da prefeitura. Antes disso, qualquer investimento feito pela prefeitura no bairro

seria considerado caso de corrupção, por oficialmente ser propriedade privada. Recentemente o programa foi suspenso por falta de verbas públicas, o que dificulta ainda mais melhorias no bairro, como a implementação de asfalto e de rede de esgoto. Há muitos anos os moradores vêm sofrendo com a não pavimentação do bairro e sendo prejudicados pela poeira e pelo barro nas ruas. Os moradores da Rua 6 são os mais prejudicados, pois, em épocas de chuva, a locomoção, tanto de automóveis, quanto de pessoas fica muito difícil. Além da dificuldade, as

ruas de barro trazem situações perigosas para o bairro, como relata a moradora da Rua 6 Benedita Tarda, de 61 anos: “um motoqueiro já caiu aqui por causa da chuva e do barro, o pneu da moto escorregou”. Benedita atenta para o fato da dificuldade que teria uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para chegar até o local. Já seu Narciso da Silva Ferreira, 54 anos, relata que a falta de uma guia na rua faz com que entre água e barro em sua casa quando chove. Ele, que é dono de um depósito de reciclagem, reclama da dificulda-

de para transportar o material, muitas vezes tendo que carregar tudo nas costas porque o barro dificulta o transporte em carrinhos; as rodas enterram e fica impossível puxá-los. Para Maria Madalena das Dores Pereira, 67 anos, a falta de asfalto atrapalha a melhoria da própria casa. Ela também reclama da distância do ponto de ônibus que, para ela que já é idosa, é um trajeto difícil. “Quando a gente vai para o centro, suja a saia e o sapato no caminho. Só levando uma garrafa de água para se limpar quando chegar lá, por causa da lama”, completa Maria.


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"O que você espera de 2017?"

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Ana Carolina Montoro Ariely Polidoro

No fim de cada ano a gente começa a pensar nos planos para o próximo, o que pode ser feito, que sonho poderemos realizar. Veja o que alguns moradores do bairro esperam de 2017: Fotos: Maria Gabriela Zanotti

“Vai ser meu último ano na escola. Então, pretendo começar a trabalhar no ano que vem. No bairro, bastante coisa está melhorando, o ônibus começou a passar na Rua 1 agora, por exemplo. A frente do Nicéia podia melhorar também, por ser a entrada do bairro.” Matheus Soares, 16 anos "Quero melhorias no bairro. Mas um sonho meu, é que meu filhos estivessem empregados. Porque tem que trabalhar. Se não trabalhar, não come. O meu desejo é esse, de estar tudo empregado o ano que vem, que tudo fosse melhor que esse ano.” Maria Madalena Pereira, 67 anos “Eu espero mudança de vida e felicidade, tanto pra mim quanto pra os outros. Pra quem está longe da família, no álcool e nas drogas, que reencontre seu caminho.” Ivan da Silva, 31 anos

“Tomara que seja melhor. Boas melhorias para a criançada, asfalto, rede de esgoto e saúde.” Sara Roberta Leão, 29 anos

“Todo mundo reclama da vida, que as coisas estão difíceis e que está tudo piorando. Mas eu acredito que se eu fizer minha parte, vou conquistar meus objetivos, eu batalho para isso. Eu trabalho de empregada doméstica num condomínio, faço salgados para vender e ano que vem pretendo fazer um curso de gastronomia.” Deizenete Maria Braga, 53 anos

“No ano que vem eu espero ter saúde, primeiramente, e mais dinheiro. E eu quero que o Nicéia melhore. Precisa terminar o asfalto, por exemplo." Gabriel Aparecido Prado

“Não aguento mais este ano, essa crise. Tem que melhorar, as coisas estão muito caras. Para o bairro, eu espero que asfalte porque, quando chove, isso aqui vira uma ‘lamaceira’, não dá nem para passar.” Laleska Querubim, 20 anos


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Dezembro de 2016 Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia

Perfil Vitor Soares

O filho de Tatiana aponta uma casa ao longe. "Minha mãe trabalha lá". Nós vamos. Todos os dias, ela desce a Rua 5, de bicicleta, e atravessa a passarela sobre a rodovia para cuidar de uma casa de universitários. Depois, não volta para sua casa: tem outro apartamento para limpar. Aos 40 anos, ela segue sempre com alguma preocupação. Às vezes com os filhos, outras com o próprio Nicéia e, muitas vezes, com os jovens. Sempre assim. "Vou por aí: conversando com os meus pensamentos". Quando chegamos, ela ficou um pouco confusa. É quase hora de ir para o próximo trabalho, mas, gentilmente, nos recebe. Fazemos a entrevista na cozinha da casa de estudantes em que trabalha. Ali já passaram outras gerações de moradores. Os estudantes se formam, vão embora, mas Tatiana continua. "Os pais me ligam, pedindo pra cuidar dos seus filhos", conta. Em 2008, pouco depois de chegar ao Jardim Nicéia, Tatiana ti-

Tatiana Chilio nha dificuldades para terminar a construção de sua casa. Quando chovia, a água do barranco dos fundos descia e invadia o cômodo que ela dividia com o marido e três filhos. Os meninos da república em que trabalhava organizaram uma festa, em segredo, e conseguiram dinheiro para terminar a construção. Aquilo deu esperança. Tatiana agora só pensava em melhorar a vida dos filhos. Quando falamos da infância, os sentimentos se misturam e as lágrimas enchem os olhos. Ela lembra de quando era pequena, dos tempos em que as diversões eram simples. "Vamos brincar na chuva", ela dizia para o irmão. Tatiana teme pelo futuro dos jovens do bairro: "não tem nenhuma atividade para eles, ficam sem nada pra fazer". Tatiana fez o ENEM. Quer o diploma do ensino médio. Na adolescência, casou-se e

não continuou estudando. Ainda assim, com o pouco tempo de escola, ela se dedicou a ensinar crianças do bairro. Passava o bê-á-bá como nos tempos antigos: as crianças juntavam as letras e aprendiam. Quem fizesse tudo direitinho, ganhava cachorro-quente. "Estudar assim é mais legal. Foi como eu aprendi". Houve um momento em que não era mais possível dar aulas, por conta do trabalho. E ela cobra as autoridades. "Eu não sei como ensinar direito", explica. Ela sente que esqueceram da juventude. Quando o assunto são os próprios sonhos, Tatiana é tímida, por conta das responsabilidades com a família. "Meu sonho era ser enfermeira". Há um ano, se tornou avó. Sem os cuidados do pai da criança, ela e a filha se dividem na criação. A menina cuida em casa, Tatiana sai todo dia para poder trazer o que comer. Com a dificuldade do marido para conseguir trabalho, a renda de Tatiana se torna indispensável. Tatiana espera que, em breve, a mais velha entre na faculdade e que a mais nova volte a estudar. Faz promessas a Deus, acreditando sempre que as coisas vão dar certo. Nos despedimos com a certeza de que ali vive a força de um Brasil inteiro de sonhadoras.

Mural Torneio de Futebol

Fotos: Daniela Arcanjo/Voz do Nicéia


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