A Ordem
Fundação Paz na Terra Ano XLIV - Nº 11 Natal-RN / Março de 2017 / R$ 7,00
Convivência com o Semiárido Práticas incentivam famílias da zona rural a produzir mesmo com escassez de água
MONSENHOR EDILSON Bispo eleito de Oeiras (PI) fala sobre expectativas para assumir Diocese
LITERATURA
Conheça o cordel, expressão genuína do Nordeste
SÍNODO
Juventude será tema de encontro dos bispos no Vaticano
a ordem | Assunto
2 | Fevereiro de 2017
Outubro de 2016 | 3
a ordem | Editorial
Vidas entrelaçadas “Nossos problemas históricos de destruição da natureza e dos povos originários começaram no passado – como se fossem nosso pecado original – e atravessam a nossa história, estão no presente e se projetam para o futuro”. A afirmação é do filósofo, teólogo, escritor e compositor Roberto Malvezzi, numa matéria publicada na revista Vida Pastoral, da Paulus, edição de março-abril de 2017 (páginas 3 a 10). Destruir parece ser, de fato, o pecado original dos povos, e que muitos brasileiros fazem questão de continuar praticando, apesar do apelo do Deus Criador em defesa da criação e da vida: “cultivar e preservar a vida” (Gn, 2,15).
Expediente
Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689
A matéria principal desta edição aborda esse problema e os apelos da Igreja aos povos para preservarem do meio ambiente, focando o tema da CF 2017 – “Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida”. A Igreja, mais uma vez, lança um “grito” em defesa da vida, em todas as dimensões. Você deve ouvir este apelo. Preserve o ambiente em que você vive. Ele é um pedacinho de um dos Biomas Brasileiros – A Caatinga – rico em diversidade de vidas humanas, vegetal e animal, todas entrelaçadas, e interdependentes. Lembre-se do que diz Pe. Zezinho, na música Em prol da vida: “Se a terra morrer, também morrerás!”.
Conselho curador: Pe. Charles Dickson Macena Vital Bezerra de Oliveira Fernando Antônio Bezerra Conselho editorial: Pe. Carlos Sávio da Costa Ribeiro Pe. Paulo Henrique da Silva Luiza Gualberto Adriano Charles Cruz, OFS Cione Cruz Hevérton Freitas Josineide Silveira Edição e Redação: Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) Luiza Gualberto (DRT-RN 1752)
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FOTO DA CAPA: José Bezerra Revisão: Milton Dantas (LP 3.501/RN) Colaboradores: José Bezerra (DRT-RN 1210) Adriano Cruz (DRT-RN 1184) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal Projeto e diagramação: Terceirize Editora (84) 3211-5075 www.terceirize.com
Comercial: RN Editora Idalécio Rêgo (84) 98889-4001 Impressão: Unigráfica - (84) 3272-2751 Tiragem: 2.000 exemplares Assinaturas: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 - Tirol - Natal/RN - (84) 3615.2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br
Rivaldo Júnior
Sumário | a ordem
Da infância na fazendA a Arcebispo de Natal Celebrando 70 anos de vida, Dom Jaime Vieira Rocha fala sobre sua história e anseios para o futuro
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Sustentabilidade
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Artigo
18
Paróquias
28
Para conhecer
Água, bem finito e essencial da vida
Nesta edição você vai conhecer as comunidades paroquiais de São José de Campestre e Rocas
Grupo conscientiza sobre o cuidado com o meio ambiente por meio da coleta seletiva
34
Nova Jerusalém (PE)
Fevereiro de 2017 | 5
a ordem | Palavra da Igreja
Mensagem do Papa para a Quaresma “A Palavra é um dom. O outro é um dom.” Este é o título da mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2017. O texto é trabalhado em torno da parábola do homem rico e o pobre Lázaro. A partir dessa parábola, o Pontífice estabelece três pontos temáticos: “O outro é um dom”; “O pecado cega-nos”; e “A Palavra é um dom” Ele inicia a mensagem, lembrando que a Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016). Noutro ponto, o Pontífice destaca que a Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. “Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-
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Papa francisco Chefe de Estado do Vaticano
-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão”, enfatiza. Francisco encerra o texto, afirmando que a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. “O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir”, escreve. E continua: “Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.” A mensagem, que foi publicada pela Santa Sé no dia 8 de fevereiro, está disponível no site do Vaticano, no endereço http://w2.vatican.va.
A voz do pastor | a ordem
Como viver a Quaresma
Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal
Queridos irmãos e irmãs! No primeiro dia do mês de março, iniciamos o Tempo da Quaresma. É um tempo especial de graça, de reflexão e de conversão. A Quaresma, quarenta dias de preparação para a celebração da Páscoa, traz para toda a Igreja a oportunidade de revisão de vida e torna os nossos corações mais abertos e prontos para a alegria pascal. A Igreja vive este tempo lembrando a todos a experiência do jejum, da esmola e da oração. São práticas já vividas no Antigo Testamento, retomadas por Jesus, no Novo Testamento, e continuadas na tradição da Igreja. O Papa Francisco, na Mensagem para a Quaresma deste ano, expressou o seu desejo para toda a Igreja: “A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão”. Explicando a parábola do homem rico e do pobre Lázaro, o Papa afirma que o outro é um dom: Lázaro
ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. Este, portanto, é o primeiro modo de viver bem a Quaresma. Reconhecer o valor do outro. Como necessitamos disso, numa sociedade que descarta, que quer resolver os problemas sociais sem olhar para o outro como primeiro valor a ser defendido, a Quaresma nos lembra: o outro é um dom. Viver a Quaresma é sair de si para encontrar o outro e assim recebem o dom que vem de Deus. O outro modo de viver a Quaresma é reconhecer que o pecado cega-nos e é preciso deixar-se conduzir pela Palavra de Deus. Já o papa emérito Bento XVI afirmava, na Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini: “Muitas vezes encontramos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a descrição do pecado como não escuta da Palavra, como ruptura da Aliança e, consequentemente, como fechar-se a Deus que chama à comunhão com Ele (n. 26)”. A Palavra é um dom, afirma o Papa Francisco: “A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão”. Para nós, essa mensagem do papa Francisco se une ao nosso compromisso de pensar a Campanha da Fraternidade como preocupação com os biomas brasileiros para cuidar do futuro da terra como lugar para o bem do ser humano.
EDUCAÇÃO INFANTIL | FUNDAMENTAL I | FUNDAMENTAL II | ENSINO MÉDIO
projetos interdisciplinares | aulas em campo | Robótica jogos internos | jerns | olimpídas recreativas | esportes
Rua Brasília, 712 - Alecrim - Natal/RN - (84) 3222-3539 | 3221-6033 contato@institutoreismagos.com.br / www.institutoreismagos.com.br Fevereiro de 2017 | 7
Brunno Antundes
a ordem | Entrevista
Da infância na fazenda a Arcebispo Metropolitano de Natal
8 | Fevereiro de 2017
Entrevista | a ordem
No dia 30 de março, o Arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, celebra 70 anos de vida. Nascido em uma fazenda, no município de Tangará, viveu a infância de forma simples e em contato com a natureza. Aos 14 anos, passou a residir na cidade de Santa Cruz, para continuar os estudos e, ao mesmo tempo, se preparar para ingressar no Seminário. Paralelo aos estudos específicos para o sacerdócio, como Filosofia e Teologia, cursou Sociologia e Política. “Escolhi Sociologia e Política, porque via que o conteúdo do curso me ajudaria muito a compreender as relações sociais e políticas. Eu acreditava que era o curso que iria mais contribuir para a minha vida de padre junto às comunidades”, justifica a escolha do curso. No mês em que festeja sete décadas de vida, Dom Jaime afirma que só tem a agradecer a Deus tudo o que viveu, tudo o que interiorizou como experiência humana, as alegrias e as tristezas, os nossos dons, as nossas virtudes, os nossos defeitos… O que o senhor recorda da sua infância? Recordo-me das referências físicas, o ambiente, a região… Tudo se resumindo na Fazenda Cruzeiro, perto do município de Tangará. Ali eu nasci e vivi até os 14 anos de idade. Meu pai era o administrador da Fazenda e nós vivíamos ali, muito felizes. Agora, estamos sempre recorrendo à situação da estiagem prolongada e, nos dias atuais, estamos vivendo a alegria das chuvas que retornam. Daí, recordo-me de como era belo, no final da tarde, na fazenda, olharmos para o horizonte e vermos as nuvens escuras, os relâmpagos, o verde no pátio, os animais… Tudo aquilo trazia alegria, esperança e componha um cenário muito bonito. Posso dizer que a minha origem e a minha infância passou por aí. No aspecto da família, meus pais, sobretudo minha mãe, era muito católica. Ela rezava aquelas orações antes do almoço, à tarde, e, à noite, recitava o terço. Quando havia missas, na cidade, sempre participávamos. Recordo-me também um pouco da evolução do País. Quando alguém ia de carro à fazenda, era naqueles carros antigos, importados. Os caminhões que iam buscar algodão, eram fabricados nos Estados Unidos. Depois, fomos vendo a evolução dos fazendeiros, que começaram a adquirir jeeps. Depois, veio a rural, um carro mais confortável. Era uma evolução interessante. Saí da fazenda aos 14 anos de idade e fui para Santa Cruz, residir com o Monse-
nhor Hémerson Negreiros e ali me preparei para ingressar no Seminário, em 1961. Como era a criança, adolescente e, depois, jovem estudante Jaime Vieira? As primeiras alfabetizações foram feitas pela minha mãe, em casa. Já, os primeiros anos primários foram na escola da fazenda. Daí, fui para Santa Cruz, para estudar a quarta série primária e fazer o curso de admissão. Era um livro bastante denso, com todas as matérias. Lá, comecei a me preparar para ingressar no Seminário, fazendo o curso ginasial. Foi um tempo muito bom, no Ginásio Quintino Bocaiúva, e ainda hoje encontro com professoras daquele tempo, pessoas muito queridas. Nesse período da sua vida, o que mais o senhor gostava de fazer? Pelo fato de eu estar residindo em Santa Cruz, ali a minha vida era em torno da paróquia. Eu ajudava nos serviços de manutenção da Igreja. Na época, a Igreja estava em construção e, na tarde da sexta-feira, eu ajudava a fazer a limpeza para as celebrações do final de semana. Eu gostava de cumprir com minhas obrigações. Também eu acompanhava o padre nas visitas às comunidades. Ele passava o tempo todo confessando, almoçava ao meio dia, às duas
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horas voltava para celebrar o batismo e a missa. Era um tempo muito bom, tudo era novidade. Recordo-me que a Paróquia prestava um serviço muito evidente da promoção humana, sobretudo salvando vida de crianças recém-nascidas. O Monsenhor Hémerson era muito enérgico e quando ele me chamava, eu tinha que atendê-lo prontamente. Tudo isso serviu muito para a minha formação. Na época do Seminário, o senhor cursou também Sociologia. Por que quiser fazer esse curso? Com a abertura do Concílio Vaticano II, houve crise de identidade do padre, devido ao protagonismo dos leigos. Os padres começaram a perceber que o que eles faziam, os leigos também podiam fazer, como as celebrações da Palavra; numa comunidade sem padre, o leigo, com a devida licença, podia até batizar. Então, aquele momento foi muito importante. Falava-se num novo tipo de padre, que deveria ser profissionalizado, que teve ter outro curso laico, que lhe desse garantia de sobrevivência. Então, fizemos vestibular e eu escolhi Sociologia e Política, porque via que o conteúdo do curso me ajudaria muito a compreender as relações sociais e políticas. Eu acreditava que era o curso que iria mais contribuir para a minha vida de padre junto às comunidades. No início, o curso não era reconhecido pelo MEC. Depois, foi reconhecido e meu diploma é de ‘Ciências Sociais’. Como padre e como bispo, quais foram e são suas maiores inquietações? Como padre, nós começamos a refletir e viver aquilo que vivemos durante a formação superior de Teologia, em São Paulo, numa época em que o Brasil passava por uma situação muito delicada: o regime militar. A expectativa como padre era muito a partir dos estudos bíblicos, dos profetas, da mensagem do Apocalipse. Para nós, era o máximo identificar, na estrutura social, a besta apocalíptica. Era um estudo bonito, aprofundado, que fazia relação com a realidade que vivíamos. Eu era bastante questionador e um professor meu, de Bíblia, dizia que certamente quando eu me ordenasse iria viver brigando com as autoridades. Não sabia que ele que foi tudo totalmente diferente. Eu não brigava, mas cooperava com tudo aquilo que fosse a serviço do bem comum. Como bispo, as inquietações vêm do processo de mudanças muito rápido, em que precisamos sempre estar atentos e fazer a leitura dos fatos. É preciso ter cuidado para não nos despersonalizarmos e nem perdermos o rumo da vida. É funda10 | Fevereiro de 2017
LOservatore Romano
a ordem | Entrevista
mental perseverarmos naquilo que é base e fundamental para nossa vida: o Evangelho. É preciso ver também como podemos viver de modo mais coerente com aquilo que o povo de Deus espera de um bispo, não esquecendo da nossa condição humana e de pecadores. Fico inquieto quando vejo que a Igreja pode fazer tanto para transformar a realidade e nem sempre ela assume este papel, não de ocupar o lugar do Estado e nem de impor ideologias, mas fazer com que a força do Evangelho, o interesse pelos outros, o despojamento de si mesmo e se colocar inteiramente a serviço do bem e da promoção humana. Hoje, como bispo, me preocupo muito quando vejo, na Igreja, uma tendência muito forte a um retorno a si mesmo, um distanciamento da realidade. Jesus manda que sejamos luz do mundo e sal da terra e nós temos uma tendência a nos fechar, a nos isolar e a dizer ‘o mundo lá fora’ e não ser presença que edifique nesse mundo. O que significa celebrar 70 anos de vida? Significa uma graça muito grande. Peço a Deus que me dê esta bênção de viver 70 anos. É a idade normal do homem. Diz o Salmista ‘fato notável quando chega aos 80’. Nós estamos convivendo, hoje, com as pessoas que chegam aos 90 e mais anos. Eu, celebrando 70 anos, só tenho a agradecer a Deus tudo o que vivi, tudo o que interiorizei como experiência humana, as alegrias e as tristezas, os nossos dons, as nossas virtudes, os nossos defeitos… E isso é muito importante para que você tenha serenidade, olhe para si mesmo e diga ‘Eis-me aqui, Senhor’. Como dizia o grande Apóstolo Paulo, ‘eu sou o que sou pela graça de Deus’.
Homenagens | a ordem
Cacilda Medeiros
Depoimentos
Elpídio Júnior
Josineide Silveira – Socióloga Vejo Dom Jaime como um homem que se caracteriza pela atitude do acolhimento, capaz de aguçar os sentidos para compreender a inteireza da pessoa humana. Um salmista da criação divina que devota o ministério sacerdotal às causas da esperança e da justiça.
Cacilda Medeiros
Pe. José Freitas Campos - Pároco da Pár. São Sebastião – Alecrim “Forsam et haec olim meminise iuvabit – Um dia será bom relembrar essas coisas”. Reporto-me ao poeta latino Virgílio para rememorar os bons anos de convivência feliz com o nosso arcebispo Dom Jaime. Cada experiência outrora vivenciada tem a marca do presente que nos faz vislumbrar tempos novos de frutos colhidos. Encontramo-nos pela vez primeira no adro do quase centenário casarão do Tirol. Vínhamos de cidades próximas. Ele de Tangará uma cidade que cresceu às margens de um afluente anônimo do rio Trairi. Eu proveniente de Elói de Sousa. A partir dali, fevereiro de 1961, um longo caminho nos foi traçado por Aquele que nos chamou primeiro: “Eu vos escolhi”. O Seminário de São Pedro, a vida universitária e o Seminário Central do Ipiranga, constituía o tripé de uma formação presbiteral numa Igreja pós-conciliar. Os anos se passaram. Dom Nivaldo nos ordenou diáconos e presbíteros em Serra Caiada e Natal. Após as primícias sacerdotais abraçamos a causa maior: o pastoreio do povo de Deus. Permaneci com Dom Jaime por um ano e ele por mais de uma década buscou identificar-se com a realidade sócio-pastoral do Vale do Açu. Tempos depois foi chamado para cuidar diligentemente dos que se preparavam para o sacerdócio, e foi nesta labuta pastoral que o Papa João Paulo II, o escolheu para reger respectivamente as Dioceses de Caicó e Campina Grande. Nem as pedras do Seridó, nem a altura e a planura da Borborema nos separaram da mesma causa comum: anunciar ao povo de Deus a alegria do Evangelho. Dom Jaime, com sua tranquilidade e harmonia “ab origene” veio assumir a grei de Natal para dar continuidade a nossa “koinonia” que suscita cada vez mais a certeza de que a sua missão se explicita e se fundamenta Naquele “em quem sempre acreditou”. Parabéns Dom Jaime. Ad multos annos.
Virgínia Coelli – jornalista e sobrinha Dom Jaime se mostra, ao longo dos anos, um sacerdote ímpar pelas missões que abraça. Como padre, bispo e arcebispo ele pratica, através da evangelização , o amor a Deus e defesa dos mais carentes. Dom Jaime é um pastor e um religioso de muitas obras. Sua sensibilidade e o espírito pacificador marcam a passagem dele na igreja e também na família. os Valores praticados enchem de orgulho todos nós, seus familiares. Parabéns tio Jaime pelos 70 anos de vida.
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Fotos: José Bezerra
a ordem | Capa
Barreiro Trincheira
Conviver com o Semiárido é preciso e preservar o meio ambiente é vital
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Capa | a ordem Por José Bezerra Debruçar-se sobre as riquezas naturais, os imensos problemas gerados pela falta de preservação e os desafios para reverter o processo de destruição da Natureza nos biomas do território brasileiro é o desafio lançado pela Igreja Católica a todos os cristãos e pessoas de boa vontade, neste ano, com o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. A abordagem proposta pela Campanha da Fraternidade 2017 tem com base fundante o apelo de Deus Pai às criaturas de “cultivar e guardar a Criação” (Gn, 2,15). Faz-se necessário perguntar o que as pessoas, em geral, e os gestores públicos estão fazendo para preservar a obra da criação com que Deus presenteou o País e o povo brasileiro. Vale lembrar que a obra da criação que Deus legou ao Brasil é composta pela natureza vegetal, animal e humana – os povos originários desta Terra Brasil. “Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos, traziam arcos com suas setas”. Essa foi a descrição feita por Pero Vaz de Caminha, ao Rei de Portugal, sobre os habitantes encontrados no dia em que a Esquadra aportou em terras brasileiras. Um presente de Deus O Brasil é conhecido no mundo por suas belezas e riquezas naturais, como as florestas, as águas, a fauna, enormes extensões de terras planas e férteis e o clima. É uma dádiva de Deus pela diversidade da vegetação, dos solos, dos povos e dos animais que habitam o território brasileiro. Esse presente de Deus tem características as mais diversas, a ponto de se definir, claramente, a existência de seis biomas: Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Amazônia, Pantanal e Pampa.
A definição científica do termo “bioma” é: “um conjunto de vida animal e vegetal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria”. O território brasileiro tem, portanto, seis regiões com características próprias, tal como cientificamente é definido o termo “bioma”. Esta palavra, por sua vez, é formada pela junção de dois termos gregos – “bio”, que quer dizer vida, e “oma”, que quer dizer “massa, grupo ou estrutura de vida”. A Caatinga Este bioma está inserido na região do Semiárido brasileiro, que abrange 8 estados do Nordeste, mais o Norte de Minas Gerais, com 1.135 municípios e uma população de 27 milhões de pessoas. O bioma Caatinga cobre uma área de 844.453 km², que corresponde a mais de 90% do território do Semiárido, que tem uma área de 969.589,5 km². “Caatinga é uma palavra originária do tupi-guarani, que significa mata branca” e é o único bioma exclusivamente brasileiro (cf. CF 2017, pág.32). O Semiárido brasileiro é o mais chuvoso do Planeta Terra. Em média, a precipitação das chuvas no semiárido variam entre 300mm e 800mm ao ano. Isso significa dizer que, por ano, caem cerca de 750 bilhões de metros cúbicos de água no Semiárido brasileiro. O que chama a atenção, nesse fato, é a quase insignificante capacidade de estocagem de água no Semiárido. Atualmente, essa capacidade é de apenas 36 bilhões de metros cúbicos, apesar da construção de grandes, médios e pequenos reservatórios. Isso significa uma perda de aproximadamente 700 bilhões de metros cúbicos de água, anualmente.
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a ordem | Capa Conviver é preciso As perdas de água de chuva refletem na qualidade de vida do povo e dos animais do semiárido. As dificuldades de viver com a escassez de água geraram um agir diferente do povo da região em relação à antiga proposta dos gestores públicos, de ‘combate à seca’. Os povos do semiárido aprenderam que é preciso “conviver” com a seca, no Semiárido, já que é impraticável e impossível combater um fenômeno natural. Esse novo paradigma gerou a gestação de propostas de políticas públicas que criaram estruturas hídricas de estocagem de água, como cisternas de água de beber, cisternas de de água de produção, barreiros trincheiras, barragens subterrâneas, perfuração de poços, entre outros. São definidas como “tecnologias sociais de convivência com o Semiárido”. Com essas pequenas estruturas hídricas, as famílias aumentaram a capacidade de estocagem de água no quintal das casas e elas tiveram melhores condições de permanecer no campo, convivendo pacífica e produtivamente com o Semiárido Brasileiro. Mesmo com uma sequência de 5 anos de seca no Semiárido, a maioria das famílias permaneceu no campo. A água das poucas chuvas que caíram no sertão ficou estocada no quintal de casa, na cisterna de água de beber, ou nas outras tecnologias de estocagem de água de produção (cisternas de 54 mil litros, barreiros trincheira de 500 mil litros e barragens subterrâneas”. Para o Agrônomo José Procópio de Lucena, essas fontes de água são elementos importantes para a natureza. “Porque elas ajudam a criar uma biodiversidade e fortalecimento da fauna. Nos barreiros trincheira e no calçadão, onde ajunta água, chegam muitos animais para saciar a sede”, lembra. Outro fator que o Seapac vem discutindo e trabalhando é o reuso de água. “Além da captação da água de chuva, o reuso de água é de grande relevância e já iniciamos algumas
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experiências e estamos propondo a elaboração de alguns projetos”, disse Procópio. Trabalhando na linha de convivência com o Semiárido, no último Projeto Trienal, o SEAPAC implementou milhares de tecnologias sociais. Essas tecnologias levaram vida mais digna a milhares de famílias do campo, no Rio Grande do Norte, nos anos de 2013, 2014 e 2015. Nesse período, foram implantadas 4.535 cisternas de água de beber, beneficiando igual número de famílias, em 56 municípios potiguares; 1.208 tecnologias sociais de água para produção, beneficiando igual número de famílias, em 13 municípios potiguares; 11 capacitação de agricultores para formação de 120 cisterneiros (construtores de cisternas); 168 capacitações de famílias em Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH), Gerenciamento de Água para Produção de Alimentos (GAPA) e em Sistema Simplificado de Manejo de Água (SSMA), totalizando 4.769 pessoas; implementação de 83 cisternas em igual número de escolas rurais, em 10 municípios potiguares, envolvendo 454 pessoas capacitadas em gerenciamento de água e em Educação Contextualizada. Preservar é vital Junto com as políticas públicas de construção de estruturas hídricas, surgiram novos saberes na convivência com o Semiárido. As famílias que conquistaram o acesso às terras e às tecnologias sociais de convivência com o Semiárido também assimilaram conhecimentos sobre como preservar o meio ambiente, como usar a água de forma racional, como produzir alimentos de forma agroecológica, usando adubos e defensivos orgânicos. A ausência de veneno nas plantações aumenta a segurança alimentar, evita doenças nas pessoas e animais e preserva a qualidade do solo e das reservas hídricas. Esses saberes de produzir sem uso de venenos vêm sendo disseminados pelo SEAPAC e várias outras
Capa | a ordem
Quintal produtivo de Francisco Avelino de Souza - Chico Vitório (Asset. P. São Pedro - Sítio Novo)
organizações da rede Asa Potiguar, junto às famílias da agricultura familiar. “A nossa atuação é muito focada na Agricultura Familiar. Pela sua natureza multidisciplinar e multifuncional, a Agricultura Familiar já preserva, porque ela é diversa, é plural, lida com vários elementos da fauna, da flora e da produção; não pratica a monocultura, e esse fator tem uma incidência muito positiva para a natureza”, afirma o Agrônomo José Procópio de Lucena, articulador estadual do SEAPAC. No campo da produção da agricultura familiar, o trabalho valoriza a pequena criação, que são os caprinos, ovinos, galinhas, o porco, entre outros, embora também o gado, que é uma tradição no Seridó. “Também discutimos a preservação com os agricultores. Nessa discussão, entra a preservação das matas ciliares, evitar as queimadas e o uso intensivo dos tratores. Discutimos, ainda, o uso da Caatinga sem derrubar. Os agricultores que mantiveram a vegetação da Caatinga em pé ultrapassaram a seca com os animais, que tinham uma alimentação proteica melhor”, explica Procópio. O Seapac desenvolve atualmente um projeto de reuso de águas cinzas (das pias e chuveiros), em uma comunidade familiar, como experimento. A proposta é replicar a experiência em outras famílias do campo. O Comitê da Bacia Hidrográfica Piancó-Piranhas-Açu também está discutindo o reuso de águas em cidades,
na tentativa de criar um “cinturão verde” em torno das cidades pequenas, com a participação dos agricultores. “Estamos com reunião agendada visando a elaboração de um projeto neste sentido, para buscar financiamentos”, informou o Presidente do Comitê José Procópio de Lucena. Para ele, esse conjunto de ações lidam com a biodiversidade, com a realidade da Caatinga, com o tipo de solo, com a vegetação e com o clima. As ações do Seapac também chegam à educação rural, através do programa Cisternas nas Escolas. Além de conquistar uma cisterna, a escola rural também se insere nos debates e saberes da Educação Contextualizada. Esse trabalho leva os professores e alunos a entender o Semiárido e a trabalhar pela preservação ambiental, a partir da educação das crianças. A proposta é inserir na grade curricular da escola o item Educação Contextualizada. Como representante da Asa e do Seapac, José Procópio também participa do Conselho Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte; da Comissão Nacional de Combate à Desertificação e nos territórios da cidadania, além de articulação com Universidades e com o Instituto Nacional do Semiárido (INSA). Nesses espaços são discutidas questões de preservação ambiental e combate às práticas que provocam a desertificação.
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a ordem | Artigo
Água,
bem finito e essencial da vida
Somente há cerca de 50 anos o ser humano começou a se preocupar com as questões ambientais e os recursos disponíveis na Terra. A “Declaração de Estocolmo”, de 1972, foi um marco na preservação e conservação do nosso planeta. Estudos técnicos interdisciplinares vêm sistematizando a nossa relação com os recursos naturais. As pesquisas evidenciam as consequências da degradação ambiental, que se torna mais acentuada e preocupante, como por exemplo, o aquecimento global e a redução da disponibilidade de água no planeta, que estão entre os fatores mais contundentes. Nas últimas cinco décadas a Terra aqueceu quase 0,5°C e não é à toa. O consumo de energia no mundo cresce 4% ao ano, sendo 80% dessa energia proveniente da queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural e carvão mineral. A água, batizada por Friedrich Nietzche como elemento matriz de todas as coisas, ameaça há tempos entrar em um processo de escassez relativa, pela ausência de políticas de gestão adequadas e sustentáveis quanto ao uso dos recursos hídricos e, principalmente, com relação à preservação de reservas naturais que possam garantir a integridade dos ecossistemas aquáticos. Mesmo com a existência de órgãos gestores destes recursos hídricos, as práticas deixam a desejar. Talvez pela confiança de que temos bastante água: 12% da reserva hídrica superficial de água doce mundial. Mas a
Novembro de 2017 de 2016 16 | Janeiro
Isaías Costa Filho Engenheiro da Caern, especialista em saneamento e professor aposentado da UFRN e UnP
realidade é que vivenciamos uma crescente escassez em qualidade e quantidade da água. Ressalte-se a situação gravíssima de degradação em que se encontram nossas bacias hidrográficas, em um processo relativamente acelerado pela ação do homem, com o assoreamento, descarte inadequado de lixo e esgotos, processos químicos, erosão e desmatamento, dentre outros. Por isso, a educação ambiental é necessária em todos os níveis – do cidadão comum à indústria, passando pela agricultura irrigada, que é responsável pelo uso de 70% da água disponível - para a utilização racional da água, sem desperdícios e degradação de mananciais, sejam superficiais ou subterrâneos. Economizar para não faltar!
Rivaldo Júnior
a ordem | Paróquias
Igreja Matriz de São Miguel
São José de Campestre:
terra de devoção a São José A devoção a São José, na comunidade de Campestre, é antiga. Segundo relatos do livro “Paróquias potiguares – uma história”, do Padre Normando Pignataro Delgado (in memoriam), em 19 de março de 1890, o Padre Tomás de Aquino Maurício, retornava à sua Paróquia de Nova Cruz, voltan-
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do de Santa Cruz, quando, passando pela comunidade de Campestre, foi convidado pelo senhor José Antônio, para celebrar uma missa em honra de São José. “No sermão da missa, Padre Aquino pediu que ali fosse construída uma capela em honra de São José e que o lugar, dali por diante, deveria se
chamar São José de Campestre”, relata Padre Normando, no livro. A Paróquia de São José, de São José de Campestre, foi criada em primeiro de janeiro de 1952, por Dom Marcolino Dantas, desmembrando-a da Paróquia da Imaculada Conceição, de Nova Cruz, sendo o primeiro vigá-
Paróquias | a ordem
Rivaldo Júnior
rio o Padre Geraldo Ribeiro de Almeida. Os moradores antigos do município recordam fatos que marcaram a devoção a São José e a ampliação da Igreja Matriz. Um deles é o aposentado Agenor Ribeiro, 88 anos. Seu Agenor carrega consigo muitas histórias de acontecimentos do município e da própria Paróquia. Ele recorda, por exemplo, as obras de melhoria na Igreja Matriz, realizadas na década de 1930, além das antigas festas do padroeiro. “Eu me lembro de uma família que morava aqui, em São José de Campestre, a família Andrade, que ajudava muito à Igreja, até carregando pedras para as obras”, conta. “Antes, tinha uma igreja pequena, na rua do Mercado. Depois é que foi construída essa”, diz seu Agenor, se referindo à Matriz. Pe. Wilson Alves, administrador paroquial
Nos dias atuais Com 65 anos de história, a Paróquia de São José, em São José de Campestre, já foi administrada por cerca de dez padres. O atual administrador paroquial é o Padre Wilson Alves de Oliveira. De acordo com ele, para melhor realizar o trabalho pastoral e missionário, a Paróquia é dividida em setores. “Nós temos várias pastorais e movimentos que atuam nas comunidades. São as Pastorais da Criança, da Família, Dízimo e da Catequese, além do Terço dos Homens, Terço das Mulheres, Movimento da Mãe Peregrina e Ministério de Música”, relata o padre, que está à frente da Paróquia há quase três anos.
Festa de São José No período de 10 a 19 de março, a comunidade de São José de Campestre festeja o padroeiro, São José. Diariamente, às 5 horas, há caminhada penitencial; às 6h30, bênção de São José e café comunitário; e, às 19h30, missa. Os festejos serão encerrados no dia 19, com a seguinte programação: 6h, missa; às 12h, pipocaço; 16h, procissão pelas principais ruas da cidade, seguida de missa.
ENDEREÇO: Praça São José, s/n – Centro 59275-000 – São José de Campestre/ RN SECRETARIA PAROQUIAL Funciona às quartas e sextas-feiras, das 8 às 12 horas MISSAS (Igreja Matriz) . Domingo – 6h, 19h30 . Terça-feira – 19h30 . Primeira quinta-feira – 19h . Primeiro sábado – 7h SAIBA MAIS www.facebook.com/Pascomcampe
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Rivaldo Júnior
a ordem | Paróquias
Igreja matriz da Sagrada Família
Uma Paróquia dedicada à Sagrada Família Situada em um dos bairros mais conhecidos de Natal, a Paróquia da Sagrada Família, nas Rocas foi criada no dia 1º de maio de 1982. Mas, antes dessa data, a comunidade já vinha passando por um processo
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forte de evangelização. Segundo informações registradas nos livros paroquiais, antes da atual construção, a Igreja era de palha e abrigava aos domingos os fiéis para participarem da celebração da Santa Missa, como
também, aulas de catecismo. No espaço, também funcionava uma escola de alfabetização para adultos e crianças, tendo como professor, o sacristão da época, João Carlos de Souza.
Paróquias | a ordem
Festa de Santos Reis Além das atividades realizadas na Igreja matriz, lugar de forte devoção da população das Rocas, a Paróquia conta com o Santuário de Santos Reis, situado no bairro de mesmo nome. A tradicional Festa Litúrgica dos Santos Reis acontece desde 1598, data da construção da Fortaleza que leva seu nome. As imagens hoje veneradas na Capela do bairro dos Santos Reis chegaram à capital potiguar no ano de 1753 e permaneceram na Fortaleza até 1901, como presente do então rei de Portugal Dom José I. Os santos Reis Magos são considerados co-padroeiros da cidade do Natal e o ponto alto da festa acontece no dia 06 de janeiro, reunindo milhares de fiéis na procissão e missa de encerramento.
dedicou-se a evangelização dos moradores das Rocas. Após sua morte, em 23 de janeiro de 1969, os trabalhos da Igreja foram assumidos por padres da Arquidiocese de Natal. Atualmente, a Paróquia tem como pároco, o padre Cláudio Luiz. Ele assumiu os trabalhos pastorais no último mês de fevereiro. Segundo o sacerdote, a Paróquia é dinâmica e seu principal foco de atuação será no aspecto administrativo. “Desejo manter o trabalho já conquistado pelo padre Ednaldo Virgílio, meu
Rivaldo Júnior
Construção da Igreja A Igreja matriz da Sagrada Família foi construída no dia 23 de agosto de 1925, tendo à frente do projeto, o padre polonês, Teodoro Kohhe, responsável também pela evangelização da comunidade, naquele período. Por muitos anos a Igreja da Sagrada Família esteve sob a administração dos padres alemães da Congregação da Sagrada Família, merecendo destaque, o trabalho do Pe. Frederico Pastors, que por mais de duas décadas,
antecessor, mas quero dar uma atenção especial na parte administrativa. A Paróquia é bem dinâmica e exigirá de mim muita atenção e acompanhamento. Há vários serviços e pastorais e, consequentemente, é preciso bem orientar e acompanhar essas atividades”, diz. A Igreja da Sagrada Família foi elevada à Paróquia em 1° de maio de 1982, tendo como primeiro Pároco o Pe. José Freitas Campos que administrou a Paróquia até o ano de 1993.
Endereço: Rua São Sebastião, s/n, Rocas, NATAL/RN Telefone: (84) 3615-2812 Horários de missa Igreja Matriz da Sagrada Família - Quarta a domingo, 19h Santuário de Santos Reis - Sexta-feira, 06h30min e Domingo, 17h
Pe. Cláudio Luiz, pároco
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a ordem | Especial
“Devemos ir aonde a
Fátima Melo
Igreja pede”
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Especial | a ordem
A manhã do dia 20 de dezembro de 2016 certamente vai ficar marcada para sempre, na vida do Monsenhor Edilson Nobre. Um dia como os outros dias comuns, com expediente na cúria metropolitana de Natal, na função de Vigário Geral. Naquela manhã, ele recebeu uma ligação do secretário da Nunciatura Apostólica no Brasil comunicando que o Papa Francisco havia nomeado-o bispo da Diocese de Oeiras (PI). “A ligação estava meio ruim. De princípio, pensei até que fosse um trote. Até que entendi ele falar: ‘O Santo Padre, o Papa Francisco, está lhe nomeando bispo da Diocese de Oeiras, no Piauí’. Fiquei sem saber o que dizer, perdi as palavras, faltou chão. Pedi um prazo de 24 horas para dar a resposta. Quando desliguei o telefone, senti a necessidade de conversar com Dom Jaime. Recordo-me que quando contei, Dom Jaime disse: ‘graças a Deus’. De fato, para Dom Jaime é motivo de alegria, na gestão dele como arcebispo de Natal, poder oferecer um bispo para a Igreja. No dia seguinte, no mesmo horário, o secretário da Nunciatura ligou novamente, e eu confirmei minha resposta”, relata o Monsenhor Edilson, sobre como ele recebeu o convite do Papa. Monsenhor Edilson conta que não criava nenhuma expectativa sobre a possibilidade de ser nomeado bispo. “Talvez pelo fato de eu estar muito perto do arcebispo, acreditava que já havia chegado ao topo da minha missão, como vigário geral”, revela.
Como é feita a escolha O processo para a escolha de um bispo é longo e feito de forma sigilosa. “Cada bispo, a cada cinco anos indica o nome de seis padres como potenciais candidatos ao episcopado. Esses nomes são encaminhados para a Nunciatura Apostólica. Quando uma diocese fica vacante, a Nunciatura vê, entre aqueles nomes enviados, alguns que tenham o perfil para aquela diocese”, explica o Vigário Judicial da Arquidiocese, Padre Júlio César. A partir daí, inicia o processo de consulta junto aos bispos do Regional onde a diocese está inserida. Depois de feita a consulta aos bispos, alguns clérigos e leigos também são consultados. “Após as consultas, o Núncio Apostólico faz uma lista tríplice, também chamada de ‘terna’, e envia-a para a Congregação para os Bispos, na Santa Sé. A Congregação apresenta a lista ao Papa, que faz a escolha final e a nomeação”, esclarece Padre Júlio César. Da turbulência à serenidade Como se sente um padre, quando recebe o comunicado de que o Papa o nomeou bispo? Monsenhor Edilson conta que está vivendo etapas, após a nomeação. “Os primeiros dias foram de turbulência, de ansiedade, porque se trata de uma mudança radical em minha vida. Esses dias também foram marcados por uma grande quantidade de mensagens e ligações que recebi, inclusive de bispos dos Regionais Nordeste 2 e Nordeste 4”, diz.
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a ordem | Especial
Para ele, o padre precisa estar aberto às necessidades da Igreja: “Eu me preparei para ser padre no território da Arquidiocese de Natal. Sair de uma paróquia para outra, sempre me fazia sofrer, porque a gente se apega às pessoas. Mas era um sofrimento que eu entendia ser para o meu crescimento e que era algo superável. Como Vigário Geral, sempre disse aos padres, quando em tempos de transferências, que precisamos estar abertos às necessidades da Igreja. Devemos ir aonde a Igreja pede. Agora, vivo esse desafio.” Segundo Monsenhor Edilson, um dos grandes desafios que ele está passando nesse período é o fato de saber que vai ficar distante da família. “Meus pais estão em idade avançada, com 80 anos, e minha mãe tem alzheimer. Por causa da doença da minha mãe, meu pai está muito fragilizado. Mas, com o passar dos dias, eu entendi que quando eu saí de casa para ingressar no Seminário, eu deixei a família para abraçar a missão da Igreja, que está presente no mundo inteiro”, diz. Passadas as primeiras semanas após o anúncio, feito no dia 11 de janeiro, Monsenhor Edilson diz que vive o momento da serenidade. “O que me ajudou a ter essa serenidade, foram os contatos que tive com padres e leigos da Diocese de Oeiras. Há poucos dias, recebi a visita de um grupo de padres de Oeiras e percebi um sentimento fraterno muito bom, por parte deles. Isso me tranquilizou”, comenta.
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Especial | a ordem
Ordenação e posse A ordenação episcopal do Monsenhor Edilson Nobre acontece dia 20 de março, às 17 horas, na Catedral Metropolitana de Natal. O ordenante principal será o Arcebispo Metropolitano, Dom Jaime Vieira Rocha, e os co-ordenantes, os arcebispos eméritos, Dom Heitor de Araújo Sales e Dom Matias Patrício de Macêdo. A celebração será transmitida pelos meios de comunicação da Arquidiocese. A celebração também será em ação de graças pelos 70 anos de vida de Dom Jaime. A posse canônica acontecerá dia primeiro de abril, às 17 h, na Catedral de Oeiras. Familiares, amigos e ex-paroquianos do Monsenhor Edilson estão organizando caravanas para ir até Oeiras, para participar da solenidade de posse. Missão do bispo O bispo recebe uma tríplice missão: santificar, ensinar e governar. “Como bispo, recebemos a plenitude do grau da Ordem, para exercer o ministério a serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo, como dispensador dos mistérios de Deus, para garantir a unidade da Igreja”, comenta Mons. Edilson. Ele explica como se dá a tríplice missão: “Na verdade, santificar não deve ser uma missão específica do bispo. Todos nós devemos ser corresponsáveis por isso, buscando a santificação. Ajudar os outros a buscar a santificação eu vejo como algo que está na índole de quem procura o serviço da Igreja. Sobre a missão de ensinar, acre-
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Como Vigário Geral, sempre disse aos padres, quando em tempos de transferências, que precisamos estar abertos às necessidades da Igreja. Devemos ir aonde a Igreja pede. Agora, vivo esse desafio”. dito que vivemos um processo no qual se aprende todos os dias. Mas, como o bispo geralmente é alguém que já tem uma certa maturidade, então ele deve ensinar aos seus colaboradores e aos fiéis, para que possam caminhar como Igreja. Sobre governar, há dois aspectos: do ponto de vista administrativo mesmo, de patrimônio, mas também de gestão de pessoas.” Expectativas para a missão Após primeiro de abril, o novo bispo de Oeiras diz que pretende, primeiramente, conhecer a Diocese, conhecer os padres e saber com quem vai poder contar, e conhecer os leigos, porque entende que o protagonismo do leigo é indispensável para a missão da Igreja. “Primeiro quero conhecer a realidade, para, depois, dar o meu direcionamento”, afirma.
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a ordem | Para conhecer
Turismo & Cultura Brejo da Madre de Deus, Cidade Teatro, Fazenda Nova, Nova Jerusalém, muralhas,
Paixão de Cristo...
Por Milton Dantas
Com estas palavras me estimulo a falar de um espaço que me traz um sentimento de religiosidade e vivência da fé que pulsa em meu ser e adentra ao mundo geográfico da criação artística e vivencial. Tudo inspira religiosidade e bem estar, num Brejo em meio a uma árida caatinga; Mãe de Deus e nossa se eleva e faz das muralhas um espaço de vivência de um sentimento que traduz a individualidade dentro da coletividade. Falo do maior teatro ao ar livre do mundo (uma cidade teatro), no Pernambuco, réplica da cidade de Jerusalém. Neste chão árido, porém fértil de religiosidade, nasce a Nova Jerusalém que atrai homens e mulheres sedentos de arte, sedentos de vida, desde o ano de 1968, primeiro espetáculo de encenação da Paixão de Cristo,
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ideia de Plínio Pacheco: cidade teatro de Nova Jerusalém. São 45 anos de apresentações dentro das muralhas construídas neste sentimento de fé e vida, arte, dor, amor e desejo de participação de quem conhece o espaço natural do Nordeste brasileiro. A Nova Jerusalém é uma cidade teatro com 100 mil metros quadrados, que equivale a um terço da área murada da Jerusalém original, onde Jesus
viveu seus últimos dias aqui na terra. É cercada por uma muralha de pedras de quatro metros de altura e com 70 torres de sete metros. No seu interior, 9 palcos-plateias que reproduzem cenários naturais, vilas e palácios. Aí se realiza o espetáculo da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus que atrai pessoas de todo o Brasil e do mundo. O espetáculo acontece na semana santa, a cada ano, período em que a cidade Brejo da Madre de Deus recebe cerca de 250 mil pessoas e 60 mil destas vão assistir ao espetáculo. A cada ano, a mesma Paixão, a mesma Morte, a mesma Ressurreição, mas o Novo ardor e sentimento de pertença como fala Papa Francisco “Sair de si mesmo para se unir aos outros faz bem”. Vou ao árido espetáculo e vivencio o desejo de estar em comum ao mundo de fé regada pelo ardor.
Espaço infantil | a ordem
Teatro reforça o aprendizado da criança em sala de aula Atividade lúdico-artística, baseada na proposta educativa marista, o teatro integra o universo da cultura, um dos pilares do instituto, que expressa o jeito marista de educar e evangelizar. “Aqui, nós formamos pessoas e não atores”, costuma dizer Sandro Saraiva, professor de teatro da Unidade Educacional, referindo-se às aulas de teatro. No Marista de Natal, a escolinha de teatro atende estudantes dos 2º e 3º anos (iniciação) e dos 4º aos 7º anos (escolinha). Para esta faixa etária, dos 7 aos 12 anos, Sandro revela que há um trabalho muito mais educativo, em sintonia com as atividades pedagógicas. “Há uma conexão com o pedagógico, através da adoção de temas relacionados aos (livros) paradidáticos”, explica Sandro. Desta forma, segundo ele, os estudantes conseguem levar ao palco o que aprendem em sala de aula. A iniciação aos 7 anos deve-se ao fato de que nesta idade a criança já domina a leitura. Nas primeiras aulas do ano, o professor faz um mapeamento dos grupos para identificar a habilidade e comportamento de cada aluno. “No segundo momento, utilizamos o teatro como ferramenta de comunicação, de expressão, com exercícios práticos que identificam as habilidades de cada criança”, ensina Sandro. A partir daí, são formados os grupos que encenam nos espetáculos apresentados no fim do ano pelo Setor de Arte e Cultura do Colégio.
Para este ano, serão trabalhadas obras de Câmara Cascudo, que ainda está em fase embrionária. No ano passado, as crianças que participaram das escolas de teatro do Colégio interpretaram os ‘Contos de Grimm’, uma coletânea de contos de fada. Quem deseja continuar fazendo teatro ainda passa por duas fases, de acordo com a faixa etária e habilidades cênicas: grupo Musas e Sátiros (intermediário) e Habeas Ars (avançado). Ao assimilarem mais rapidamente aspectos como senso crítico, memorização, criatividade e vocabulário, os estudantes que passam pelas turmas de teatro conseguem se destacar em sala de aula. Sandro se orgulha, por exemplo, do alto índice de aprovados no ENEM.
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a ordem | Artigo
A mulher no pensamento de Papa Francisco Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, cabe uma reflexão sobre o pensamento de Papa Francisco sobre a mulher, pois em vários momentos o Papa latino-americano expressou sua consideração, respeito e até mesmo sua revolução em favor da mulher. No primeiro ano de seu pontificado, já na segunda Audiência Geral da quarta-feira, dia 3 de abril, afirmou sobre a missão da mulher, comentando as aparições do Ressuscitado: “Esta é um pouco a missão das mulheres: mães e mulheres! Dar testemunho aos filhos e aos pequenos netos, de que Jesus está vivo, é o Vivente, ressuscitou. Mães e mulheres, ide em frente com este testemunho!”. Ainda em 2013, no discurso aos participantes do Seminário sobre a Carta Mulieris dignitatem, de São João Paulo II, na comemoração do 25º aniversario de sua publicação, assim se expressou Papa Francisco: “[a Carta Mulieris dignitatem] um documento histórico, o primeiro do Magistério pontifício dedicado inteiramente à temática da mulher. Aprofundastes de maneira particular aquele ponto onde se afirma que Deus confia o homem, o ser humano, de modo especial à mulher”. Continuando sua reflexão, o Papa Francisco chama a atenção para o significado dessa “entrega especial”: “O que significa esta «entrega especial», a entrega singu-
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Pe. Paulo Henrique da Silva Professor de Teologia e Vigário Geral
lar do ser humano à mulher? Parece-me evidente que o meu Predecessor se refere à maternidade. Muitas coisas podem mudar, e com efeito mudaram, na evolução cultural e social, mas permanece um dado: é a mulher que concebe, que traz no seu seio e que dá à luz os filhos dos homens. E este não é simplesmente um dado biológico, mas encerra em si uma riqueza de implicações quer para a própria mulher, em virtude do seu modo de ser, quer para as suas relações, em função da sua maneira de se colocar em relação à vida humana e à vida em geral. Chamando a mulher à maternidade, Deus confiou-lhe o ser humano de forma inteiramente especial”. A mais recente palavra de papa Francisco sobre a mulher mostrou sua sensibilidade, chegando à repulsa a uma desvalorização da mulher. Essa palavra aconteceu na homilia da missa matinal do dia 9 de fevereiro. Assim se expressou o Pontífice: “Quando não há mulher, falta a harmonia. Nós dizemos, falando: mas esta é uma sociedade com uma forte atitude masculina, e isto, não? Falta a mulher. ‘Sim, sim: a mulher é para lavar a louça, para fazer…’ Não, não, não: a mulher é para trazer harmonia. Sem a mulher não há harmonia. Não são iguais, não são um superior ao outro: não. Só que o homem não traz harmonia: é ela. É ela que traz a harmonia, que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bela”.
#SELIGAAI Um sínodo sobre os jovens Por Edvanilson Lima Nos últimos anos, a Igreja Católica tem buscado aproximar-se cada vez mais dos jovens. E um grande passo foi dado: bispos do mundo inteiro estarão reunidos em um sínodo para tratar sobre a juventude. Mas, o que seria um sínodo? A origem da palavra “sínodo” vem de duas palavras gregas: “syn”, que significa “juntos” e “hodos”, que significa “estrada ou caminho”. O Sínodo dos Bispos pode ser definido como uma reunião do episcopado da Igreja Católica com o Papa para discutir algum assunto em especial, auxiliando o Santo Padre no governo da Igreja. O Sínodo foi instituído em 15 de setembro de 1985, pelo então Papa Paulo VI, através da publicação do Motu proprio “Apostolica sollicitudo”. Desde que foi instituído, já foram realizados vários sínodos, onde foram tratados diversos temas. Após a realização de cada sínodo, o papa emite uma Exortação Apostólica, na
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qual resume e aprova as principais conclusões dos bispos. O último sínodo foi realizado em 2014 e teve como tema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”, e deu origem a exortação apostólica Amoris laetitia: sobre o amor na família. A 15ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos será realizada em outubro de 2018, e terá como tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. A escolha da temática, demonstra uma preocupação pastoral da Igreja, com os jovens. No dia 13 de janeiro, o Vaticano divulgou um documento preparatório para o sínodo, que está dividido em três partes: “Os jovens no mundo de hoje”, “Fé, discernimento, vo-
cação” e “Ação pastoral”. Os jovens brasileiros poderão ter acesso a este documento, através de versão impressa, lançada pelas Edições CNBB, ou a versão digital, através do portal www.vatican.va. Um fato importante, que merece ser destacado, é que antes do sínodo, haverá uma consulta aos jovens de todo o mundo. Essa consulta será feita através de um questionário on line, onde jovens poderão falar sobre suas expectativas e suas vidas. As perguntas foram elaboradas especialmente para os jovens de cada continente. Segundo o documento preparatório, “as respostas aos dois questionários constituirão a base para a redação do Documento de trabalho, ou Instrumentum laboris, que será o ponto de referência para o debate dos Padres sinodais.” Então, fique atento para responder ao questionário, divulgue entre os jovens do seu grupo, fale sobre o sínodo nos pós-encontros. É muito importante abraçar esta oportunidade que a Igreja está dando, em nos ouvir. *Com informações de: http:// noticias. cancaonova.com/especiais/sinodo-da-familia/sinodo-dos-bispos-entenda-o-que-e-e-como-funciona/
Liturgia daPalavra
Notas
Mons. Lucas Batista Neto Pároco da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório – Mirassol
Arrependei-vos
e crede no evangelho
Muita gente pensa que não existe mais pecado e que se confessar caiu da moda. Ilude-se quem pensa assim. O que diz o Apóstolo João? “Se dissermos: Não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós”. O que veio fazer Jesus? João Batista o apontou, dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o Pecado do mundo”. Jesus iniciou a sua evangelização fazendo um convite à conversão: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. Durante a sua vida terrena ensinou nas sinagogas, pregou às multidões dizendo: “O Filho do Homem veio buscar e Salvar o que estava perdido”. Mostrou a necessidade do perdão: “Se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos outros, vosso Pai também não perdoará as vossas faltas”. O perdão passou a ser uma necessidade de pertença à graça de Deus. Quando a mulher pecadora lavou os pés de Jesus com as lágrimas, Ele disse: “Os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, pois ela mostrou muito amor. Aquele,
porém, a quem menos se perdoa, ama menos”. A Igreja recebeu de Jesus o poder de perdoar os pecados. O Sacramento da confissão ou penitência é de instituição divina. Para o Evangelista João, assim que Jesus ressuscitou, aparecendo aos Apóstolos, Ele soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo; aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (cf. Jo. 20, 22 – 23). O Papa Francisco, na sua mensagem quaresmal, interpela-nos, dizendo: “A Quaresma é um novo começo. É um forte convite à conversão: O cristão é chamado a voltar para Deus de todo o coração. Jesus, mesmo quando pecamos, espera parcialmente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão”. Diante do exposto, aproveitamos para lembrar aos fiéis que as confissões não podem ser improvisadas. Sentimos a necessidade, conforme o cân. 986, que se dê a eles oportunidade de se confessarem individualmente em dias e horas marcadas para sua conveniência.
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a ordem | Em ação Por Luiza Gualberto
Grupo de jovens realiza coleta seletiva em comunidade de Ceará-Mirim
Iniciativa surgiu como fruto da Campanha da Fraternidade 2016, que abordou questões ligadas ao Saneamento Básico
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A sustentabilidade e o cuidado com o meio ambiente vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões e práticas sociais. Na Comunidade Caiana, pertencente à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Ceará-Mirim, um grupo da Pastoral de Juventude vem realizando, desde o ano passado, uma ação de coleta seletiva. Segundo Paulo Sérgio, idealizador do projeto, a iniciativa surgiu como um gesto concreto da Campanha da Fraternidade 2016, que teve como tema “Fraternidade – Casa comum: nossa responsabilidade”. “Vimos a importância e os ganhos que estamos tendo em nossa comunidade com relação à conscientização para a reciclagem. E até mesmo as pessoas aprenderam a separar corretamente o próprio lixo”, enfatiza. Ainda de acordo com Paulo, a ação acontece quinzenalmente na comunidade. “Há cada 15 dias, fazemos um mutirão de arrecadação de material reciclável na própria comunidade. Atualmente, estamos trabalhando somente com plásticos. Durante a semana, recomendamos que os moradores da comunidade juntem esses materiais, que recolheremos nas visitas que fazemos quinzenalmente”, conta.
| a ordem Cedida
Grupo em atuação da Comunidade Caiana
Para Risoneide Victor, coordenadora da comunidade, o principal objetivo do trabalho é alertar a comunidade sobre a importância de contribuir com a preservação do meio ambiente. “Queremos ter um ambiente limpo e livre da proliferação de insetos que possam causar danos maiores à nossa saúde. É bonito ver os jovens engajados nesta iniciativa. A cada ação que fazemos, conseguimos reunir cerca de 12 pessoas, que percorrem às ruas da comunidade em busca desses materiais e isso para nós não é motivo de vergonha e sim, de felicidade, por poder contribuir com o nosso planeta”, reforça. Paula Victor, que também integra o grupo, conta que desde o início da atividade, só perdeu uma vez a ação de coleta seletiva. “Entendo que esta é uma atividade muito importante e fico ansiosa
Rivaldo Jr.
Da esq.: Paula Victor, Risoneide Victor, Ivani Odete e Paulo Sérgio, integrantes do grupo
pelos momentos quinzenais, em que podemos coletar esses materiais, além de poder sensibilizar as pessoas sobre o cuidado com o nosso meio ambiente. Entendo que este cuidado é um dever de todos nós”, pontua. Mesmo realizado há mais de um ano, o grupo diz que a consciência coletiva em relação ao cuidado com o meio ambiente e compreensão da importância desta prática é algo que deve ser reforçado constantemente. “Ainda enfrentamos algumas dificuldades no que diz respeito à compreensão das pessoas sobre a importância de colaborar conosco, mas é um trabalho constante e que devemos reforçar sempre. Para isso, estamos buscando parceria com outras instâncias, como escolas e instituições diversas”, ressalta Paulo Sérgio.
Entendendo o processo A atividade acontece em duas etapas. A primeira é de sensibilização e a segunda de coleta, a partir de escala definida entre os grupos da comunidade. O que se arrecada é vendido para um reciclador e o recurso é revertido para as obras da capela da comunidade. Em comunhão com o marco referencial Segundo o padre Bianor Júnior, esta iniciativa também será levada como exemplo para outras comunidades. “Assim como pede o nosso marco referencial, na meta 02 sobre a setorização paroquial, nas reuniões dos articuladores das comunidades levamos ideias exitosas para que a Paróquia possa desenvolver atividades conjuntas. Se deu certo em uma comunidade pode funcionar para as demais”, fala.
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Direito & Cidadania
A imunidade tributária de qualquer templo Tramita no Senado Federal, sob a relatoria do Senador José Medeiros (PSD-MT), uma proposição oriunda de Sugestão Legislativa (ferramenta do Portal e-cidadania) que visa retirar a imunidade tributária dos templos. A justificativa se baseia na ideia de que num país laico “não faz sentido dar imunidade tributária a uma parcela de instituições do Brasil apenas porque são de cunho religioso”. Os argumentos partem de uma premissa equivocada e devem ser, com respeito, rebatidos. A imunidade tributária dos templos de qualquer culto é prevista nas Constituições Brasileiras desde a Carta de 1946. Não se trata de um favor do Estado Brasileiro, mas de uma garantia constitucional. Ora, o fato de o Estado Brasileiro ser laico não impõe somente a inexistência de uma religião oficial. Num Estado Laico é necessário que haja igualmente o direito fundamental de liberdade religiosa. Corolário deste direito fundamental, a Constituição Federal assegura a imunidade tributária dos templos de qualquer culto, que abrange apenas os tributos do tipo imposto. Assim, conforme disciplina a Carta Magna, a imunidade compreenderá os impostos relativos somente ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com as finalidades essenciais dos entes religiosos. Além disso, a imunidade tributária tem um caráter de fomento, pois visa desonerar as instituições religiosas que, em seu trabalho pastoral, muitas vezes substitui o Estado na oferta e garantia de direitos básicos, individuais e coletivos, para as camadas sociais mais vulneráveis, sempre fundado nos princípios da subsidiariedade e cooperação, igualmente albergados para Lei Suprema. Trata-se, portanto, de uma garantia constitucional que visa dar efetividade a um direito fundamental. Assim, os fiéis congregados nas diversas igrejas,
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Ernesto Teixeira sócio da F. Teixeira Advogados Associados
que atuam no Brasil, não podem assistir de braços cruzados a tramitação desse projeto de lei. Entendemos não ser possível esta imunidade ser suprimida por meio de uma proposta legislativa, como quer a autora da sugestão, porque a Constituição Federal impede que haja supressões de direitos e garantias fundamentais por meio de emenda. São as chamadas “cláusulas pétreas”. Contudo, o momento político que atravessa o País exige vigilância e atenção. Combater essa agressão à missão de igrejas e denominações religiosas que atuam em nosso País, não significa que desconhecemos os abusos cometidos por alguns segmentos, sob o manto da imunidade tributária ora discutida. Contudo, a supressão da imunidade não é um caminho aceitável para contornar esse problema. Para enfrentá-lo, visando separar o “joio do trigo”, os órgãos de controle do Estado já dispõem de instrumentos de fiscalização para verificar se o patrimônio, bens e receitas das igrejas e organizações religiosas estão sendo aplicados na concretização dos fins para os quais foram criadas. As igrejas e organizações religiosas jamais se opõem aos controles e exigências de maior transparência na gestão dos bens e recursos que angariam vinculados à missão institucional, decorrentes das obrigações acessórias advindas do gozo da imunidade tributária, por parte do Estado.
José Bezerra
Espiritualidade
Pe. Severino Neto Pároco da Paróquia de São José - Angicos
A espiritualidade de São José
Entre todos os santos existentes na Igreja Católica nenhum contribuiu de modo tão direto e sublime para o plano divino da salvação como São José; é o santo entre os santos. Ele é o único santo que goza da protodulia, ou primeira das venerações. Sabemos que na Igreja Católica existem duas formas de culto: latria e dulia. O culto de latria é destinado somente a Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. A Ele toda honra e toda a glória pelos séculos sem fim. O culto de dulia é destinado a Virgem Maria e aos santos, sendo que à Virgem Maria é destinado o culto da hiperdulia que quer dizer a grande veneração por ela ser a Mãe de Deus e nossa mãe. Já São José goza da primeira das venerações chamada protodulia por ser chamado o Pai adotivo de Jesus Cristo. São José teve na terra a nobilíssima missão de guardar o que Deus tinha de mais precioso, o menino Jesus e sua divina Mãe, Maria Santíssima. Este grande Santo viveu de modo oculto ou velado, mas o seu testemunho de fé perpassou as ondas do tempo e chegou até nós como um tesouro que deve ser preservado. As Sagradas Escrituras pouco falam sobre São José, porém o que fala é o suficiente para adornar este grande homem com a mais alta dignidade: “José era um homem justo” (Mt 1,19). Eis o mais extenso e completo elogio que o evangelista Mateus faz ao nosso santo. Justo é aquele que faz a vontade de Deus, e este santo, por ser um homem de bem, sempre procurou praticar os ensinamentos divinos e se notabilizou por viver a justiça, temendo a Deus, e procurou fazer em tudo a vontade do Pai Celestial, renunciando a sua própria vida para proteger, guardar e zelar a sua esposa e o Menino Jesus. Outra virtude muito acentuada na vida de São José é a obediência; procurou em tudo obedecer a Deus que o constituiu chefe da Sagrada Família; “um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: levanta-te toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matar. José levantou-se durante a noite tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito.” (Mt 2, 13-14). Vemos como São José foi disponível; ouvindo o apelo do anjo do Senhor, põe-se a caminho do Egito, permanecendo ali cerca de sete anos até ouvir mais uma vez a mensagem do anjo: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, pois já morreram os que tramavam contra a vida do menino. José levantou-se, tomou o menino e sua Mãe e foi para a terra de Israel.” (Mt 2, 20-21). José volta prontamente para a sua casa em Nazaré para o trabalho em sua humilde carpintaria e, ali para, como um simples operário, trabalhar para o sustento de sua família. Por conseguinte, podemos afirmar que São José procurou fazer em tudo a vontade de Deus sendo ornado com as mais elevadas virtudes; por isso, a Igreja Católica honra, com um culto muito particular e íntimo afeto, o ilustre patriarca São José.
Direito Canônico Por Diác. Francisco Teixeira - Coordenador da Pastoral de Acesso Justiça Atenção Aposentados e Pensionistas do INSS A Pastoral de Promoção da Justiça partilha com os leitores de nossa coluna a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) divulgada na segunda-feira – 9 de fevereiro - que garante o aumento das aposentadorias, além de uma quantia em atrasados, para os aposentados entre 5 de outubro de 1988 e 5 de abril de 1991, período chamado de buraco negro, que tiveram seus benefícios limitados ao teto da Previdência, quando a aposentadoria não tinha índice de correção definido — e ficaram de fora do acordo administrativo em 2011 para pagar correção e atrasados. Essa determinação do Supremo confirmou o entendimento do ministro-relator, Roberto Barroso, garantindo o aumento a todos os segurados que tiverem esse direito. A boa notícia é que a decisão tem repercussão geral, o que significa que serve de modelo para as outras ações sobre o tema. O entendimento vale só para ações na Justiça. O INSS não pagará esse aumento automaticamente. Ações do buraco negro estão entre as mais vantajosas porque os atrasados são bem altos. Especialistas calculam que de 300 a 400 mil pessoas estejam nesta situação e podem ter o benefício revisto em até 42%, além de atrasados. Para verificar se o aposentado e o pensionista se enquadram na revisão que o Supremo Tribunal Federal permite que seja requerida na Justiça, é preciso procurar se, na carta de concessão do benefício, consta a inscrição ‘limitado ao teto’. Quem não tem o documento deve ir a uma agência do INSS para pedir a emissão da segunda via da carta de concessão. Fevereiro de 2017 | 37
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O cordel como expressão genuína
da literatura nordestina Por Cione Cruz
“Sou poeta brasileiro Por cordel apaixonado Rimando rima com rima Tudo bem metrificado Os meus versos têm a cara Do sertão do meu estado”. Com esses versos, Abaeté do Cordel explica como funciona a poesia de cordel, ou simplesmente o cordel que, para ele “é literatura 100% brasileira”. O cordel tem regras: é feito para ser cantadO como toada, samba ou forró. Ou como diz o cordelista José Acaci, “o cordel é poesia, é cultura popular, é história narrativa...” Na verdade, trata-se de uma expressão literária genuinamente nordestina, característica de estados como Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Ceará, mas com origens nas tradições medievais da literatura europeia, enquanto “o libreto europeu, trazido para o Brasil pelos portugueses, pode ser apontado como uma espécie de ancestral do folheto de cordel”, conforme foi publicado na Enciclopédia Itaú Cultural, disponível no endereço http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo9658/ 38 | Fevereiro de 2017
literatura-de-cordel. No Nordeste, a tradição dos cordelistas é originária das feiras livres, onde os agricultores eram seu público cativo. Os temas são variados e em grande parte estão relacionados a histórias tradicionais, narrativas de épocas passadas conservadas pela memória popular e transmitida através do cordel. O próprio Abaeté, 56, que nasceu no sertão de Pernambuco (Sertânia), conta que começou a fazer cordel aos dez anos, quando ia às feiras, especialmente para ver o vendedor de cordel. Na época, ao invés de colecionar “figurinhas”, ele colecionava cordéis. Encantou-se desde cedo pelas estórias do Pavão Misterioso e da Princesa Teodora. Sabia tudo de cor e declamava em reuniões dos jovens de sua cidade. Além de cordelista, Abaeté é incentivador dessa expressão popular da poesia nordestina. Ele lamenta que essa expressão literária não tenha o devido valor, embora o “cordel esteja na moda”, reconheceu. Mas sempre foi vista como uma literatura menor, feito por analfabetos, disse. Em Natal há 31 anos, Abaeté, ou Erivaldo Leite de Lima, fundou há 10 anos a Casa do Cordel Potiguar e há
2 anos a Associação Cultural Casa do Cordel, que tem entre seus associados, advogados, juízes, engenheiros e até padres. O criador da Casa do Cordel conta que hoje, dedicado exclusivamente à literatura de cordel, tem mais de mil folhetos (cordel) publicados, alguns feitos por encomenda, mas confessa que deixar sua inspiração fluir é o que mais gosta de fazer. Também cordelista, Padre Hugo Marcel Marcelino Galvão, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Parnamirim, começou a fazer cordel em 2001, quando estava na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, durante o festival de inverno, quando percebeu que seria possível escrever algo da cultura nordestina, que ele chamou de “uma experiência simples, mas muito feliz”. O cordel, segundo o padre Hugo, é muito importante para a literatura e cultura nordestina, “por ser algo bem original do nosso povo, especialmente da zona rural”, enfatizou. Infelizmente, continuou, não é valorizado como devia. “A cultura contemporânea não mais valoriza o que é antigo, que vem do interior e é tradição”, afirmou Padre Hugo, que alimenta um sonho de utilizar o cordel em suas missas.
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